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A Insolvência Formulação restrita – o processo de insolvência é uma sequência ordenada de atos, que tem

início com a apresentação da insolvência ou com o pedido para a sua declaração e que termina
Na tradição portuguesa, a insolvência era reservada para o não-comerciante, enquanto a com o pagamento a todos os credores (ou por alguma das demais causas de extinção do
falência era um instituto de comerciantes. A falência era a situação qualitativa do comerciante processo – art 230º CIRE).
incapaz de honrar os seus compromissos, enquanto a insolvência traduzia a situação
quantitativa do não-comerciante cujo passivo superasse o ativo. Formulação ampla – o processo de insolvência abrange também as tramitações estruturalmente
autónomas que surgem na dependência do processo de insolvência. A formulação ampla é a que
No caso português, começam a aparecer algumas regras nesta matéria aquando do período das é expressamente consagrada pelo legislador, ainda que Lebre de Freitas diga que esta é menos
Ordenações. Foi, mais tarde, reformada por Marquês de Pombal, mas seria apenas no período rigorosa que a primeira.
das reformas liberais que se assistia a uma verdadeira codificação sobre o tema. Esta aparece já
no Código Ferreira Borges, sendo retomada pelo Código Veiga Beirão. O tema evolui no sentido A insolvência é, de facto, um processo que visa a satisfação do direito do credor sobre o
de passar do Código Comercial para o Código de Processo Civil, onde se tem mantido. Como património do devedor.
grandes reformas da insolvência temos a reforma francesa de 1985, que havia de ser depois
corrigida pela reforma de 2005. Breve referência, também, à reforma alemã de 1994/2001. Apesar de neste processo existirem várias ações declarativas, este é um processo executivo – a
sua finalidade é a obtenção da realização coativa de uma obrigação. Mais, é uma execução
Introdução: coletiva, pois o seu fim é a satisfação de todos os credores de um devedor (se fosse singular,
não haveria um tratamento igualitário de todos os credores). Note-se, ainda assim, que é
A insolvência traduz a situação daquele que está impossibilitado de cumprir as suas obrigações, possível o recurso à insolvência quando apenas exista um credor.
normalmente por ausência da necessária liquidez naquele momento, ou porque o total das
responsabilidades (passivo) excede os bens que poderia dispor para lhes fazer face (ativo). A insolvência é também um processo de execução universal, dado que abrange todo o
Reconhecida a legitimidade para assumir obrigações com cumprimento diferido para o futuro, há património do devedor, ainda que nem sempre seja necessária uma liquidação integral desse
espaço para que essas venham a não poder depois ser cumpridas. património – o processo de insolvência pode acabar tão só com a aprovação de um plano de
insolvência que assegura outra forma de satisfação das dívidas aos credores.
Assim, o Direito de Insolvência surge para regular as consequências resultantes dessa
impossibilidade de cumprimento pelo devedor. Regula, ainda, as chamadas situações de pré- A insolvência é, ainda, uma forma de execução para pagamento de quantia certa – o rateio do
insolvência – dá-nos, nestes casos, medidas de recuperação do devedor. Pode, com isto, dizer- património do devedor não é realizado em espécie, envolvendo um processo de liquidação que
se que o Direito da Insolvência é o complexo de normas jurídicas que tutelam a situação do converte os bens do devedor em dinheiro.
devedor insolvente ou pré-insolvente e a satisfação dos direitos dos seus credores.
É, por fim, o processo especial, visto que se afasta do regime comum das execuções.
Há quem defenda que este ramo do Direito não merece, na verdade, qualquer autonomização, Diferenciando-se do processo comum, apresenta, em relação a este, alguns desvios:
visto que acaba simplesmente por ser um conjunto de normas de diferente natureza. Para
MENEZES LEITÃO, essa posição é exagerada: embora sejam recolhidos elementos de outras O princípio do inquisitório é aqui expressamente consagrado (art 11º CIRE), em derrogação do
áreas, o Direito da Insolvência possui dogmática própria, sendo essencialmente direito regime do art 5º CPC; Admite-se o afastamento do princípio do contraditório, se a dispensa de
substantivo, de natureza privada. audiência prévia for possível com base no art 12º CIRE; Apenas existe um grau de recurso, não
se admitindo regra geral o recurso de acórdão da Relação (art 14º CIRE). O processo de
Este assenta sobretudo numa responsabilidade patrimonial, característica do Direito das insolvência tem sempre carácter urgente e goza de precedência sobre todo o serviço ordinário
Obrigações, tendo também uma forte vertente processual – é exigida a intervenção do tribunal. É do Tribunal – art 9º, nº 1 CIRE. Para efeitos o processo de insolvência, o valor da causa é fixado
precisamente dessa componente processual que resulta a redação do art. 1º CIRE. pelo valor do ativo do devedor indicado na petição inicial.

O chamado processo de insolvência pode ser formulado de forma ampla ou de forma restrita: A situação de insolvência:
empresariais. Quanto à referência às pessoas coletivas, esta engloba não só associações e
Ser insolvente é ser incapaz de cumprir as respetivas obrigações. No entanto, essa incapacidade fundações, mas também sociedades comerciais, sociedades civis sob forma comercial e as
tem de ser certificada, o que é feito através da declaração de insolvência (art. 36º). Para que se cooperativas. Regra geral, a declaração de insolvência de uma pessoa coletiva acarreta a sua
averigue essa incapacidade, há que adotar certos critérios avaliativos. Estes são, dissolução.
essencialmente, dois:
b) A herança jacente – a herança jacente é aquela que já foi aberta, mas ainda não foi aceite ou
Critério do fluxo de caixa (cash flow) – o devedor é insolvente assim que se torna incapaz de declarada vaga para o Estado. Esta declaração de insolvência da herança jacente não será, em
pagar as suas dívidas no momento em que estas se vencem, por falta de liquidez. Neste caso, é princípio, de interesse para os herdeiros, pois que estes podem ainda repudiar. Poderá, no
irrelevante que o ativo seja superior ao passivo, pois que a insolvência se verifica assim que se entanto, ser requerida por qualquer credor da herança, de modo a que esta seja liquidada. O
verifica a impossibilidade de pagar as dívidas existentes. problema que se coloca é, depois, o de saber o que acontece em caso de aceitação da herança
insolvente. Do CIRE resulta que a aceitação da herança não extingue a autonomia patrimonial da
Critério do balanço ou do ativo patrimonial – a insolvência resulta do facto de os bens do mesma, prolongando-se essa até à conclusão do processo. Até lá, esta é indivisa. Note-se que,
devedor serem insuficientes para o cumprimento integral das suas obrigações. Aqui, apenas é mesmo após a aceitação da herança, esta pode ser declarada insolvente.
insolvente aquele cujo conjunto dos bens não chega para fazer face às respetivas
responsabilidades. Este critério tem a dificuldade de exigir que se analisem com a devida C)As associações sem personalidade jurídica e as comissões especiais – aqui, as pessoas
atenção os bens do devedor. singulares que as compõem respondem ilimitadamente pelas dividas que estas contraírem. No
entanto, sendo essa responsabilidade subsidiária, a declaração de insolvência abrange antes
No Direito nacional, o art. 3º/1 CIRE estabelece o critério do fluxo de caixa. Este, diz MENEZES diretamente essas entidades.
LEITÃO, deve ser interpretado no sentido de se ter a insolvência como a impossibilidade de
cumprir pontualmente as respetivas obrigações por carência de meios próprios e por falta de
crédito. Afastado o critério do balanço, a insolvência não pode corresponder tão só à d) As sociedades civis.
insuficiência patrimonial.
e) As sociedades comerciais e as sociedades civis sob a forma comercial até à data do registo
Ainda assim, a lei chega a admitir a adoção do critério do balanço – a insuficiência patrimonial definitivo do contrato pelo qual se constituem.
funciona como um critério acessório da definição de insolvência, aplicável às pessoas coletivas e
aos patrimónios autónomos (art 3º/2 CIRE). Aqui, o critério do balanço funciona em alternativa ao f) As cooperativas, antes do registo da sua constituição.
critério do fluxo de caixa, de modo a facilitar o pedido de insolvência por partes dos credores
destas entidades. Esta disposição é limitada pelo previsto no nº3. A insolvência atual, para g) O estabelecimento individual de responsabilidade limitada – o CIRE veio revogar uma
efeitos da lei, é equiparada à insolvência iminente, caso o devedor se apresente à insolvência disposição do DL 248/86, de 25 de agosto. Agora, a insolvência do estabelecimento individual
(art 3º/4 CIRE). Isto faz com que o devedor possa declarar-se insolvente ainda antes do não afeta automaticamente o seu titular, se não se verificar em relação a ele o requisito da
vencimento das dívidas, através de um juízo de prognose do qual resulta a suposição de que, impossibilidade de cumprimento das suas obrigações vencidas. h) Quaisquer outros patrimónios
nessa altura, se verificará uma impossibilidade de cumprimento. autónomos – aqui, a insolvência não diz respeito ao devedor, mas sim a uma parte específica do
seu património, sujeita a um regime especial de responsabilidade por dívidas.
Sujeitos passivos da declaração de insolvência:
h) Quaisquer outros patrimónios autónomos – aqui, a insolvência não diz respeito ao devedor,
São sujeitos passivos da insolvência aqueles que constam do art. 2º/1 CIRE: mas sim a uma parte específica do seu património, sujeita a um regime especial de
responsabilidade por dívidas.
a) Quaisquer pessoas singulares ou coletivas – as pessoas singulares podem sempre ser
declaradas insolventes, independentemente de serem ou não economicamente independentes O art. 2º/2 CIRE vem excluir do regime comum da insolvência as pessoas coletivas públicas e as
ou sequer terem capacidade jurídica. Se a pessoa singular for empresária, não haverá qualquer entidades públicas empresariais. Também empresas de seguros, as instituições de crédito e
distinção entre o seu património e o património da empresa – todo ele responderá pelas dívidas sociedades financeiras são excluídas, sempre que o regime geral for incompatível com o regime
especial que a essas entidades são sujeitas. A exclusão total de aplicabilidade do CIRE surge créditos sobre a insolvência (arts 46º e ss. CIRE).
perante as pessoas coletivas públicas e as entidades públicas empresariais.
a) Dívidas da Massa Insolvente
i. Pessoas coletivas públicas – aqui se integram pessoas coletivas públicas de base territorial,
bem como associações públicas e institutos públicos. As dívidas da massa insolvente são aquelas que resultam da própria situação de insolvência. O
art. 51º CIRE procede a uma enumeração das dívidas consideradas dívidas da massa insolvente,
ii. Entidades públicas empresariais – incluem-se as pessoas coletivas de direito público com às quais se poderão juntar outras assim classificadas ao longo do CIRE (p.e. alimentos ao
natureza empresarial criadas pelo Estado (DL 133/2013, de 3 de outubro). Já quanto à insolvente e aos trabalhadores – art 84º; dívida relativa a custas judiciais do autor e exequente –
aplicabilidade condicionada à inexistência de disposição especial, esta afeta empresas de art. 140º/3; crédito resultante da perda da posse de um bem a restituir pela massa – art. 142º/2).
seguros, instituições de crédito e sociedades financeiras, empresas de investimento que
prestem serviços que impliquem a detenção de fundos ou de valores mobiliários de terceiros e, As dívidas da massa insolvente são sujeitas a um regime mais favorável ao seu pagamento, uma
ainda, organismos de investimento coletivo. vez que são satisfeitas antes da satisfação dos créditos sobre a insolvência. Estas não estão
sujeitas ao processo de verificação e graduação de créditos, não tendo por isso de ser
A massa insolvente: reclamadas – arts. 128º e ss. Assim, os seus credores podem exigir diretamente o seu
pagamento ao administrador da insolvência. Se a massa insolvente não chegar, o administrador
A massa insolvente destina-se à satisfação dos credores da insolvência, depois de pagas as será presumivelmente responsável por essas dívidas. A sua responsabilidade é, no entanto,
suas próprias dívidas, e, salvo disposição em contrário, abrange todo o património do devedor à ilidível, através da demonstração de que a insuficiência da massa insolvente era imprevisível (art.
data da declaração de insolvência, bem como os bens e direitos que ele adquira na pendência do 59º/2 CIRE).
processo. Os bens isentos de penhora só são integrados na massa insolvente se o devedor
voluntariamente os apresentar e a impenhorabilidade não for absoluta (art. 46º CIRE). b) Créditos sobre a Insolvência

De acordo com o art. 120º, podem ser resolvidos em benefício da massa insolvente, os atos Os créditos sobre a insolvência são aqueles que impendem sobre o insolvente e que tenham
prejudiciais à massa, praticados dentro dos 2 anos anteriores à insolvência. natureza patrimonial, ou sejam garantidos por bens integrantes da massa insolvente e cujo
fundamento seja anterior à declaração de insolvência ou surja no decurso do processo.
Devem considerar-se integrados na massa insolvente os bens dos responsáveis legais das
dívidas do insolvente (pessoas que respondam pessoal e ilimitadamente pela generalidade das Os créditos sobre a insolvência são:
suas dívidas, ainda que a título subsidiário – art 6º/2). Se o insolvente for casado em regime de
comunhão geral ou de comunhão de adquiridos, a massa insolvente também engloba a meação Garantidos – aqueles que beneficiam de uma garantia real ou de privilégios especiais. Em causa
dos bens comuns. Se o outro cônjuge não for parte no processo de insolvência, este ganha o estão, então, créditos que beneficiam de consignação de rendimentos, penhor, hipoteca ou
direito de separar os seus bens da massa insolvente e a sua meação nos bens comuns – art. direito de retenção. As garantias pessoais não relevam para esta classificação. O seu pagamento
141º/1 b). é feito depois de serem pagas as dívidas da massa insolvente. A penhora, apesar de ser uma
garantia real das obrigações, não faz parte dos créditos garantidos para efeitos do processo de
A classificação dos créditos: insolvência. O mesmo se passa com a hipoteca judicial. Tenha-se em atenção que há garantias
que se extinguem com a declaração de insolvência (art. 47º CIRE), situação na qual os
Correspondendo a situação de insolvência a uma situação de desequilíbrio entre o ativo e o respetivos titulares deixarão de integrar a classe dos credores garantidos.
passivo do insolvente, cabe determinar que bens e direitos integram de facto o elemento ativo,
bem como quais as obrigações que integram o passivo, ou seja, que o ativo pode ser chamado a Privilegiados – aqueles que beneficiam de privilégios creditórios gerais, os quais não constituem
satisfazer. O passivo representará, assim, o conjunto de créditos que podem ser exercidos garantias reais por não incidirem sobre coisas determinadas. O seu pagamento surge com base
contra o insolvente, sendo suposto que a massa insolvente responda por todos eles. Ainda nos bens não afetos a garantias reais prevalecentes, sendo feito com respeito pela prioridade e
assim, visto que esta se destina primordialmente a satisfazer as suas próprias dívidas, primeiro proporção. Comuns – são aqueles que não beneficiam de garantia real, nem de privilégio geral, e
satisfazer-se-ão as dívidas da massa insolvente (art. 51º CIRE), e só depois se os chamados não são objeto de subordinação. O seu pagamento surge depois da satisfação dos créditos
privilegiados, respeitandose prioridade e proporção dos respetivos montantes se a massa for a sociedade, ou de uma convenção de diferimento dos créditos daquele sobre esta que, em
insuficiente para o pagamento integral. ambos os casos, atribua ao crédito carácter de permanência. Estão previstos no CSC. O
pagamento dos créditos sobre a insolvência só pode ser feito depois de estes serem
Subordinados – nova categoria, presente no art. 48º, corresponde ao conjunto de créditos que reconhecidos por sentença transitada em julgado, feito sempre com base no disposto no art 174º
são satisfeitos depois dos restantes créditos sobre a insolvência. Serão pagos se ainda restar CIRE.
saldo após o pagamento dos créditos comuns. Apesar de darem legitimidade para requerer a
insolvência, não conferem geralmente direito de voto na assembleia de credores (art. 73º/3 Os créditos sobre a insolvência são satisfeitos, de acordo com o art. 47º/4 CIRE:
CIRE), nem conferem ao titular assento na comissão de credores (art. 66º/1).
Primeiro as dívidas da massa insolvente e só posteriormente o pagamento das dívidas aos
Estes créditos dividem-se em várias categorias: credores;

• Créditos detidos por pessoas especialmente relacionadas com o devedor, bem como aqueles Os créditos serão assegurados pelos bens da massa e para que sejam considerados terão de ser
que tenham sido transmitidos por estas a outrem – o conceito de pessoas especialmente constituídos antes da declaração de insolvência.
relacionadas com o
devedor é tratado no art. 49º CIRE. Para o Professor Menezes Leitão, as enumerações que aí são 1º Créditos garantidos e créditos privilegiados – os garantidos gozam de uma garantia real e,
feitas são meramente exemplificativas, destinadas a concretizar o art. 48º. portanto, são pagos em primeiro lugar; os privilegiados beneficiam de privilégios creditórios
gerais (ex: dívidas de doenças) e, por isso, são pagos também em primeiro lugar; 2º Créditos
• Juros de créditos não subordinados constituídos após a declaração de insolvência – os juros comuns; 3º Créditos subordinados – os mais “fracos”, pagos após os restantes terem sido
que se vençam após a declaração de insolvência podem ser reclamados no processo, ainda que, assegurados. Arts.
sendo considerados créditos subordinados, o seu pagamento só possa ocorrer depois de 47º/b) e 48º.
satisfeitos os créditos comuns. Excecionam-se desta classificação os juros de créditos
abrangidos por garantias reais ou privilégios creditórios gerais. c) Órgãos da Insolvência

• Créditos cuja subordinação tenha sido convencionada pelas partes – a convenção de O processo de insolvência implica a ação de vários órgãos, dotados de competências no âmbito
subordinação é legalmente admissível com base na autonomia das partes. Note-se que a dos efeitos da insolvência sobre a massa insolvente, sobre os credores e sobre o devedor.
possibilidade de convenção de enfraquecimento dos créditos em relação aos outros credores
não pode ser encarada como renúncia aos direitos do credor, para efeitos do art 809º CC. 1) Tribunal

• Créditos que tenham por objeto prestações do devedor a título gratuito – compreende-se que, São competentes para julgar em processos de insolvência e de revitalização as secções de
dado o facto de terem sido adquiridos a título gratuito, estes créditos não possam ser satisfeitos comércio dos tribunais de instância central. Em matéria de competência do tribunal, há que
em prejuízo dos créditos adquiridos a título oneroso. recorrer ao art 7º CIRE.

• Créditos sobre a insolvência que, como consequência da resolução em benefício da massa 2) Administrador da Insolvência
insolvente, resultem para o terceiro de má fé – esta classificação funciona como penalização do
terceiro de má fé que praticou atos onerosos em prejuízo da massa insolvente, e que por isso É a figura central do processo de insolvência, tendo o seu estatuto regulado no CIRE (arts. 52º e
tiveram que ser objeto de resolução em benefício da massa. ss) e na Lei 22/2013 de 26 de fevereiro.

• Juros de créditos subordinados constituídos após a data da declaração de insolvência – sendo O administrador da insolvência é um administrador, autónomo do devedor, a quem é atribuída
os juros acessórios dos créditos, a solução compreende-se. competência para administrar a massa insolvente, sendo que os poderes de administração são
excluídos da esfera do devedor – art. 81º/1 CIRE. Há, no entanto, exceção a esta regra, nos arts.
• Créditos por suprimentos – são aqueles que resultam de um contrato de mútuo entre o sócio e 223º e ss. CIRE, que estabelecem que, em determinados casos, a administração pode ser feita
pelo próprio insolvente, com fiscalização do administrador da insolvência. Se se mantiver o funcionamento do estabelecimento, o administrador terá responsabilidade
sobre as obrigações fiscais do mesmo, enquanto a sua administração durar. Em caso de infração
Escolha: dos seus deveres, este poderá ser responsabilizado por via disciplinar e contraordenacional.
Mais, a lei estabelece ainda a responsabilidade civil do administrador da insolvência – art 59º
A sua nomeação é feita pelo juiz – art. 52º CIRE – de forma aleatória (informática) de entre os CIRE + Lei 22/2013.
administradores inscritos na lista oficial. Pode ainda o juiz, se assim se justificar ou se requerido
por algum interessado, nomear mais que um administrador de insolvência. Nesses casos, cabe Exoneração do passivo restante – terminado o processo de insolvência, o devedor pode,
ao interessado propor a pessoa a nomear, pagando este a sua remuneração se a massa passados 5 anos, voltar à sua vida normal, sem que aquelas dívidas pairem sobre ele a vida
insolvente não chegar para tal. A escolha pode ainda ser feita por assembleia, de acordo com o inteira. A obrigação converte-se em natural: sendo cumprida, não pode ser repetida.
procedimento presente no art. 53º CIRE.
Como pode o administrador da insolvência cessar funções?
O administrador da insolvência pode, a todo o tempo, ser substituído pelo juiz, se houver para
isso justa causa. O conceito de justa causa é um conceito vago e indeterminado, mas que (1) O encerramento do processo;
abrangerá naturalmente quaisquer situações de violação grave dos deveres do administrador,
bem como quaisquer outras circunstâncias que tornem insustentável a sua manutenção no (2) A renúncia ao cargo;
cargo. Em caso de substituição do administrador, a assembleia de credores pode indicar
substituto, tendo este de ser aceite pelo juiz se não se verificar nenhuma das situações previstas (3) A destituição pelo Juiz.
no art 53º/3 (art. 56º/2 CIRE). Os credores só podem recusar o administrador se houver uma
razão justificada. NOTAS:

Funções: (1) Artigo 17º-A a J – processo especial de revitalização (PER), que visa permitir uma
determinada empresa, que se encontra numa situação económica precária, negociar com os
As suas funções, assim como o modo de exercício do seu cargo, são essencialmente descritas seus credores um plano de revitalização. O mesmo terá efeito paralisador, uma vez que impede,
no art. 55º CIRE, estando depois várias outras dispersas ao longo do presente Código. Tem, enquanto perdurar este processo, a interposição de ações para pagamento.
nomeadamente, competência para proceder à venda dos bens no âmbito da liquidação, para
pagar as dívidas da massa e os créditos sobre a insolvência, para apresentar proposta de um (2) Quem pode requerer a insolvência será o devedor e o credor e, neste sentido, o art. 22º CIRE
plano de insolvência, assim como frutificar a massa insolvente. determina que um recurso infundado será alvo de responsabilidade civil, mas apenas em caso de
dolo
Ao exercício da função de administrador da insolvência corresponde certa remuneração (art. 60º
CIRE), seguindo essa regras distintas consoante o administrador seja escolhido pelo juiz ou pela – o Prof. MC critica esta solução, dizendo que deve ser alvo de interpretação integrada e incluir
assembleia de credores. A remuneração do administrador da insolvência consubstancia uma negligência grosseira.
dívida da massa, sendo paga em segundo lugar (art. 51º/1 b) CIRE). Temos de consultar os arts.
22º e ss. da Lei 22/2013 de 26 de fevereiro. 3) Comissão de Credores

A sua atividade será fiscalizada nos termos do art. 58º CIRE. Este deverá prestar contas do A comissão de credores não é um órgão obrigatório, dado que o juiz pode determinar a sua
exercício do cargo, devendo essa prestação ocorrer no termo de funções – art. 62º/1 CIRE. Ainda inexistência (art. 68º/1 CIRE). Ainda assim, este é o órgão essencialmente destinado a
assim, pode a mesma ser solicitada pelo juiz ou pela comissão de credores, bem como resultar representar as diversas classes de credores da insolvência, permitindo a fiscalização pelos
de espontânea vontade do administrador, a qualquer momento. A falta dessa prestação de credores da atividade do administrador da insolvência e prestando-lhe a sua colaboração.
contas, quando requerida, permite ao juiz tomar as diligências que achar adequadas (art. 63º
CIRE). Deve ainda prestar todas as informações necessárias à comissão de credores – art. 55º. A comissão é nomeada pelo juiz, sendo composta por três ou cinco membros efetivos e dois
suplentes. O presidente será o maior credor, devendo os restantes membros ser escolhidos por
forma a atingir uma adequada representação das várias classes de credores, (bancos,
fornecedores, trabalhadores, etc.) com exceção dos credores subordinados. As funções da assembleia de credores resultam de vários preceitos do Código. Entre estas
encontram-se as funções de prescindir da existência da comissão de credores, de alterar a todo
Os trabalhadores terão de ser obrigatoriamente representados, com base no art. 66º/3 CIRE. o momento a composição da mesma, de revogar quaisquer deliberações da comissão e de
aprovar o plano de insolvência apresentado. A convocação da assembleia é feita de acordo com
O Estado e as instituições da segurança social, mesmo que sejam o maior credor, não podem o previsto no art 75º CIRE, sendo a mesma presidida pelo juiz.
presidir a comissão de credores (art 66º/5 CIRE). A assembleia de credores pode alterar as
decisões judiciais relativas à comissão de credores – art 67º/1 CIRE. ! O pedido de declaração de insolvência O processo de insolvência tem início com o pedido de
declaração de insolvência, do qual tratam os arts. 18º e ss. do CIRE.
As suas funções, por sua vez, resultam essencialmente do art. 68º CIRE. Deste retira-se que a
comissão de credores tem sempre uma função de fiscalização da atividade do administrador da A legitimidade para apresentar este pedido é:
insolvência, colaborando também no exercício da sua função. Destas funções de fiscalização há
que distinguir aquelas em que a fiscalização se baseia num mero acompanhamento da atuação (a) Em primeira linha, do próprio devedor.
do administrado ou aquelas em que se exige mesmo o consentimento da comissão para a prática
de certos atos por parte do administrador da insolvência. Fora essas, a comissão exerce ainda (b) Se este for incapaz, terá legitimidade o seu representante legal.
funções de colaboração com o administrador da insolvência e funções consultivas em relação a
decisões do tribunal. (c) Se o devedor não for uma pessoa singular, a legitimidade recairá sobre o órgão social
incumbido da sua administração ou sobre a entidade incumbida da administração ou liquidação
Relativamente à assembleia de credores, pode a comissão solicitar ao juiz a sua convocação (art do património.
75º/1), tendo aí direito e dever a participar. A comissão de credores reúne sempre que
convocada – art 69º, nº 1 CIRE. A sua atividade não é remunerada, apenas tendo direito ao (d) Para além do devedor, tem legitimidade para apresentar o pedido de declaração de
reembolso das despesas estritamente necessárias. Podem ser responsabilizados nos termos do insolvência qualquer credor, independentemente da natureza do crédito e do vencimento do
art. 70º CIRE. mesmo, bem como o Ministério Público.

A cessação das suas funções pode ocorrer por: É, ainda assim, necessário que se tenha interesse na respetiva declaração. Da petição inicial terá
de constar, no caso do credor, a natureza e o montante do crédito, tendo este de fazer prova do
(a) Encerramento do processo de insolvência (art 233º/1 b)); mesmo através de qualquer meio.

(b) Em qualquer momento anterior – dar-se-á em momento anterior se a assembleia de credores a) Apresentação da insolvência pelo devedor
prescindir da sua existência.
Excetuando-se as pessoas singulares que não sejam titulares de uma empresa na data em que
(c) Se for aprovado um plano de insolvência, a cessação das funções da comissão pode dar-se incorram em situação de insolvência (art. 18º/2 CIRE), impende sobre o devedor o dever de
depois do encerramento do processo. requerer a declaração da sua insolvência dentro dos 30 dias seguintes à data do conhecimento
da situação de insolvência (nº1).
(d) Os membros da comissão podem ser individualmente destituídos pela assembleia de
credores, independentemente da existência ou não de justa causa – art 67º/1, in fine. Se houver incumprimento deste dever de requerer a declaração, a insolvência será declarada
culposa (art. 186º CIRE). Para além disso, o devedor incorre em responsabilidade aquiliana, por
4) Assembleia de Credores A assembleia de credores é o local onde se reúnem todos os violação de disposição legal destinada a proteger interesses alheios.
credores da massa insolvente, o que se justifica pelo carácter coletivo da execução. Daí decorre
a necessidade de coordenação das pretensões dos vários credores, que exercem aqui o seu Os insolventes e os seus administradores incorrem solidariamente na obrigação de indemnizar
direito de voto de acordo com o montante dos seus créditos – art. 73º CIRE. os danos sofridos pelos credores, em consequência do atraso na apresentação à insolvência:
de solvabilidade do devedor, o que é redundante aos olhos de MENEZES LEITÃO. A ausência terá
Créditos já constituídos no momento em que a apresentação deveria ter sido feita – dano de ser injustificada, sendo essencial que não haja designação de substituto idóneo.
consiste na maior frustração dos créditos, com o agravamento da situação patrimonial do
devedor. Haverá assim que atender ao que os credores deveriam ter recebido se a insolvência d. Realização de atos de onde resulta o empobrecimento voluntário do devedor, na intenção de
tivesse sido oportunamente decretada; Créditos que apenas se constituíram após essa data – prejudicar os seus credores.
serão indemnizados pelos danos sofridos em resultado da celebração dos contratos. Abrange-
se apenas o interesse contratual negativo (envolve os investimentos feitos na negociação, que e. Insuficiência de bens do devedor para satisfação do crédito do exequente, verificada em
coloca a parte lesada numa situação como a que existiria se as negociações não tivessem processo executivo. Continuará a verificar-se, presumivelmente, a insuficiência da massa
sequer começado). Poderá haver ainda responsabilidade criminal. insolvente para pagamento dos créditos.

Sabe-se já que a insolvência iminente é equiparada à insolvência atual, do que resulta que o f. Incumprimento das obrigações incluídas no plano de insolvência, a que se referem os arts.
devedor pode declarar insolvência ainda antes do vencimento das obrigações. Resta saber se a 192º e ss., ou no plano de pagamento, a que se referem os arts. 251º e ss. Tal resulta de o
insolvência iminente determina, então, o início da contagem do prazo para efeitos do art 18º/1 incumprimento desses planos não poder ser resolvido no âmbito do próprio processo de
CIRE. insolvência, que normalmente se encerra com a sua aprovação.

MENEZES LEITÃO defende que o prazo apenas se conta a partir do momento em que ocorre a g. Trata do incumprimento generalizado, nos seis meses anteriores, de obrigações de natureza
insolvência atual (“o art. 18º/1 remete apenas para o art. 3º/1 e não para o nº 4, aliado ao facto de específica.
ser extremamente insegura a determinação do momento em que se verifica a insolvência
iminente”). h. Destina-se às pessoas coletivas e patrimónios autónomos, traduzindo a manifesta
superioridade do passivo em relação ao ativo, ou o atraso superior a nove meses na aprovação e
Já no caso das pessoas singulares que não sejam titulares de uma empresa, a estes não cabe o depósito das contas legalmente obrigatórias.
dever de apresentar declaração de insolvência. Não tendo este de o fazer, a situação cairá no
âmbito do art. 186º/5 CIRE. A petição inicial deverá obedecer ao disposto no art. 23º CIRE, exigindo-se em conjunto os
documentos estabelecidos no art. 24º do mesmo diploma. Se o requerimento for feito por outro
b) Requerimento da insolvência por outros legitimados legitimado, rege a situação o art 25º CIRE.

A declaração de insolvência pode ainda ser requerida pelos responsáveis legais das dívidas, pelo O requerente da declaração de insolvência pode desistir do pedido ou da instância até ser
credor ou pelo Ministério Público. A estes caberá produzir prova relativa à sua condição de proferida sentença, nos termos do art. 21º CIRE – a desistência apenas é permitida em relação
interessados na declaração, exigindo-se a verificação de uma das circunstâncias do art. 20º. aos outros legitimados referidos no art 20º.
Estas circunstâncias são índices da situação de insolvência, sendo qualquer uma delas condição
suficiente para a declaração de insolvência, se a presunção que a elas se associa não for, O próprio devedor não o poderá, naturalmente, fazer, pois que a apresentação do pedido implica
entretanto, ilidida: o reconhecimento da declaração de insolvência – art. 28º CIRE.

a. Trata-se de uma não realização generalizada dos pagamentos no momento do vencimento, A desistência deixa de ser permitida se a sentença for proferida, mesmo que não tenha ainda
independentemente da fonte ou natureza dessas obrigações; transitado em julgado – proferida a sentença, passa a estar em causa um interesse geral, não
podendo ser afastado por mera iniciativa do requerente.
b. Incumprimento de apenas uma ou várias obrigações, do qual se possa inferir a impossibilidade
de o devedor satisfazer a generalidade dos seus créditos; Do art. 22º resulta a aplicação do regime da responsabilidade civil, em caso de dolo, quando
estiver em causa um pedido infundado de declaração da insolvência. MENEZES CORDEIRO
c. Fuga do titular da empresa ou dos administradores, ou abandono do lugar em que a empresa critica este preceito, dizendo ser inaceitável que a lei apenas consagre responsabilidade civil em
tem sede ou exerce a sua atividade principal. Exige a lei que essa fuga se relacione com a falta situações de dolo, fugindo à regra geral, na qual se inclui também a negligência. Também a nível
processual esta é atendida, no regime geral da litigância de má fé. Assim sendo, não se justifica separação de patrimónios.
um regime mais liberal neste âmbito. O preceito deve assim ser alvo de interpretação integrada e
incluir negligência grosseira. (2) Os negócios obrigacionais – o devedor pode contrair dívidas, mas estas não
responsabilizarão a massa insolvente.
c) A sentença de declaração de insolvência e seus efeitos
(3) Os administradores (representantes legais e mandatários no caso das pessoas singulares;
A sentença de declaração de insolvência deve obedecer ao disposto no art. 36º CIRE. Já do art encarregados da administração e liquidação do património ou titulares de órgãos sociais no caso
37º decorrem as regras de notificação da sentença e consequente citação. A declaração de de pessoas coletivas). Ainda assim, o administrador de insolvência não vê a sua atividade
insolvência e a nomeação do administrador da insolvência são registadas oficiosamente, nos limitada por possíveis condições pessoais que sejam impostas por lei ou por decisão judicial ao
termos do art. 38º CIRE. devedor. Assim, se este for interdito ou inabilitado, essa condição não afetará o administrador de
insolvência.
Se o juiz concluir que o património do devedor não é presumivelmente suficiente para satisfazer
as custas do processo, o que ocorre sempre que o património seja inferior a 5000€ (art. 39º/9 Há situações de exceção na retirada ao devedor dos poderes de administração e disposição –
CIRE), e essa satisfação não seja garantida por outra via, poder-se-á dar o fim do processo p.e. tribunal concluir pela insuficiência da massa insolvente e nenhum credor requerer o
assim que a sentença transite em julgado. Nesse caso, aplica-se o art. 39º/1, que exclui a complemento da sentença ou aprovação da administração da empresa pelo próprio devedor.
aplicação de várias alíneas do art 36º/1 CIRE. Nesta segunda possibilidade, são impostos os limites decorrentes do art 226º, nº 2.

Ainda assim, qualquer interessado pode requerer que a sentença seja complementada com os
restantes elementos precisados no art. 36º, do que se conclui que a dispensa condicional do O segundo dos efeitos sobre o insolvente é a apreensão dos bens. Este decorre do art. 36º/1, g)
concurso de credores não transita em julgado. Nesse caso, o requerente do complemento da CIRE. A apreensão abrange todos os bens suscetíveis de penhora, mesmo que já penhorados,
sentença será responsável pelo garantir do pagamento das custas e dívidas. Adquire, em troca, arrestados ou por qualquer forma apreendidos ou detidos noutro processo.
o direito a exigir o reembolso dessas quantias nos termos do art 39º./5 CIRE.
Apenas serão excluídos os bens insuscetíveis de penhora (arts. 822º e ss. CPC). Vigora ainda
Não sendo requerido o complemento da sentença, ocorre o disposto no art 39º/7. O disposto no um regime especial para o caso de apreensão da casa de morada de família: se arrendada, o
art. 39º não se aplica quando o devedor, sendo pessoa singular, tenha requerido, anteriormente arrendamento não pode ser apreendido – este é um direito inalienável e, por isso, absolutamente
à sentença da declaração de insolvência, a exoneração do passivo restante – nº 8 do mesmo art. impenhorável. Se for habitação própria, pode o insolvente requerer o diferimento da
desocupação com fundamento em razões sociais imperiosas.

Efeitos da sentença de declaração de insolvência sobre o insolvente Se os bens já tiverem sido vendidos, a apreensão terá por objeto o produto da venda (art. 149º/2
CIRE). A entrega dos bens é feita de acordo com o previsto no art. 150º.
O primeiro dos efeitos sobre o insolvente é a transferência dos poderes de administração e
disposição dos bens da massa insolvente para o administrador da insolvência. Este efeito é
regulado pelo art. 81º CIRE, do qual resulta, portanto, que a declaração de insolvência implica a Efeitos da sentença de declaração de insolvência sobre as ações judiciais
privação do devedor dos seus poderes de administração e disposição do património. Perde-se,
assim, a posse material e as faculdades de administração e disposição, quer dos bens que São vários os efeitos que a declaração de insolvência tem sobre as ações judiciais.
possui aquando da declaração, mas também dos bens e rendimentos futuros (realidade que
deriva do próprio conceito de massa insolvente – art. 46º CIRE). Desde logo, o facto de serem restringidas as faculdades de administração e disposição do
insolvente faz com que este deixe de poder instaurar ou prosseguir ações em que estejam em
Excluídos do âmbito desta privação estão: causa bens compreendidos na massa insolvente – art. 85º/1.

(1) Os bens excluídos da massa insolvente (bens impenhoráveis) ou abrangidos por uma Mais, a declaração de insolvência leva à suspensão de quaisquer diligências executivas que
atinjam os bens integrantes da massa insolvente – o processo de insolvência gera assim a
proibição de instauração ou prosseguimento de ações executivas, qualquer penhora ou arresto A regra geral é a de garantir ao administrador da insolvência a possibilidade de optar pela
sobre os bens. execução do negócio ou, antes, pela recusa do seu cumprimento – art. 102º. Assim sendo,
procede-se à suspensão dos contratos, como resultado da declaração de insolvência, até que o
O insolvente perde também a possibilidade de submeter questões a decisão arbitral. administrador da insolvência comunique a sua opção. A outra parte reserva para si a
possibilidade de fixar um prazo, findo o qual a não comunicação se tem como recusa ao
O regime especial relativo às dívidas da massa insolvente (art. 51º) está presente no art 89º/2. cumprimento – art. 102º/2. Este regime é justificado pela necessidade de adotar medidas de
proteção dos credores, pois que forçar o devedor a cumprir com todos os seus negócios faria
com que este tivesse de optar por cumprir uns negócios em detrimento de outros.
Efeitos da sentença de declaração de insolvência sobre os créditos
Note-se que a opção pela recusa por parte do administrador da insolvência não prejudica o
Sendo o objetivo do processo de insolvência o de fazer com que todos os credores possam direito à indemnização pelos danos causados à outra parte pelo incumprimento, ainda que essa
exercer os seus direitos perante o devedor, seria de esperar que os efeitos da sentença de seja fortemente restringida.
declaração de insolvência sobre os créditos fossem significativos.
Já a opção pelo cumprimento do contrato garante-lhe o direito a exigir as prestações
Durante a pendência do processo, desde logo, os credores apenas poderão exercer os seus contratualmente acordadas, tendo a outra parte igualmente o direito de exigir esse cumprimento,
direitos no âmbito do mesmo (art. 90º), pelo que não podem instaurar ações independentes ou o qual constituirá uma dívida da massa, nos termos do art. 51º/1º f).
continuar a prosseguir outros processos à margem deste.
d) Resolução em benefício da massa insolvente
Mais, a declaração de insolvência gera o vencimento imediato de todas as obrigações (inclui
obrigações puras, obrigações a prazo e obrigações sujeitas a cláusulas cum potuerit ou cum O processo de insolvência tem como objetivo a satisfação igualitária dos direitos dos credores.
voluerit) do insolvente (art. 91º/1), com exceção dos créditos tratados no art. 50º. Esta Assim sendo, não é admissível a concessão de vantagens especiais a qualquer um deles, a partir
antecipação do vencimento prende-se com a falta de confiança dos credores na solvabilidade do do momento em que a situação de insolvência do devedor é conhecida.
devedor. Assim sendo, as obrigações passarão a vencer juros legais a partir do momento da
declaração. Com base nisto, a lei permite que o administrador da insolvência determine a resolução de atos e
omissões em benefício da massa insolvente, nos casos em que o devedor tenha concedido
Mais, a sentença de declaração de insolvência gera a suspensão de todos os prazos de alguma vantagem desse tipo no período suspeito anterior à declaração. Tal decorre dos arts.
prescrição e caducidade oponíveis pelo devedor, durante o processo – art. 100º CIRE. 120º e ss.

Dá-se também a extinção de certas garantias – art. 97º CIRE. A resolução em benefício da massa insolvente obedece a vários requisitos, podendo desde logo
distinguir-se entre requisitos gerais – art. 120º – e requisitos em relação a certas categorias de
Existem também consequências para o regime da compensação. A partir do momento da atos – art. 121º.
sentença, os credores apenas podem compensar os seus créditos com dívidas da massa se se
verificar uma das situações previstas no art. 99º CIRE. A compensação não é admissível nos Requisitos gerais
termos do nº 4. Admitida a compensação, esta faz extinguir tanto o crédito do declarante como o
do insolvente. Assim, o declarante vê o seu crédito satisfeito por inteiro, pelo que deixa de ser Realização pelo devedor de determinado ato – não é já possível a resolução por omissões, ainda
necessário que reclame o seu crédito. Terá de o fazer, somente, se o valor do seu crédito que essa possibilidade continue a constar nos arts. 120º e 126º.
ultrapassar o montante do crédito do insolvente (caso em que reclamará o remanescente).
Prejudicialidade do ato em relação à massa insolvente – exige-se que os atos do devedor
frustrem, diminuam, ponham em perigo ou retardem a satisfação dos credores da insolvência.
Efeitos sobre os negócios em curso Do art. 120º/3 decorre ainda uma presunção iuris et de iure: certos atos, presumem-se
prejudiciais à massa.
Relembre-se que, neste processo, não vale o princípio do inquisitório, pelo que a decisão do juiz
-Verificação desse ato nos dois anos anteriores à data do início do processo de insolvência – apenas se pode basear em factos alegados pelas partes.
apenas podem ser resolvidos em benefício da massa insolvente os atos que tenham decorrido
nos dois anos anteriores ao início do processo, pois que só este período é considerado como Reclamação de créditos – os credores da insolvência apresentam a reclamação dos respetivos
suspeito para efeitos de resolução. créditos, como previsto no art. 128º CIRE. Apenas são reclamáveis os créditos sobre a
insolvência relativos a prestações patrimoniais. Ainda assim, a reclamação não é essencial para o
-Existência de má fé do terceiro – está em causa o conhecimento por este de várias reconhecimento do crédito, pois que o administrador da insolvência tem o dever de reconhecer
circunstâncias, enumeradas no art. 120º/5. A má fé é presumida nos termos do nº 4. todos os créditos que constem dos elementos da contabilidade do devedor (art. 129º/1, parte
final). Os credores da massa insolvente não estão sujeitos ao dever de reclamação de créditos.
-Requisitos da resolução incondicional – são vários, estando todos eles expressos no art. 121º. A
enumeração presente neste artigo é absolutamente taxativa, pelo que qualquer ato que não Saneamento do processo – esta inicia-se com a marcação pelo juiz de uma tentativa de
esteja aqui previsto só poderá ser resolvido em benefício da massa insolvente se verificado o conciliação, a realizar nos termos do art. 136º.
disposto no art. 120º.
Instrução do processo – se existirem diligências probatórias a realizar antes da audiência,
Note-se que há atos em relação aos quais a lei exclui a possibilidade de resolução em benefício compete ao juiz ordenar as providências necessárias para o efeito (art. 137º).
da massa. Desde logo, os que estão previstos nos arts. 120º/6 e 122º.
Discussão e julgamento da causa – após a produção das provas, a audiência de discussão e
Quanto à legitimidade para o exercício deste direito, cabe distinguir a legitimidade ativa e a julgamento é marcada (art. 138º). A audiência ocorre em respeito pelo disposto no art. 139º.
legitimidade passiva:
Sentença – é proferida pelo juiz a sentença de verificação e graduação dos créditos, nos termos
→ Legitimidade ativa – art. 123º: legitimidade exclusiva do administrador da insolvência; → do art. 140º.
Legitimidade passiva – a mesma deve ser dirigida contra ambas as partes no ato que se
pretende resolver. Restituição e separação de bens:

Quanto à forma de exercício da resolução, a mesma pode ser feita por simples declaração à Esta matéria é regulada pelos arts. 141º e ss. Esta é admitida nas situações enumeradas no nº 1,
outra parte (regime geral do art. 436º/1 CC). Esta terá de conter os respetivos fundamentos, sob correspondendo este a um meio específico de oposição para os casos em que o terceiro tem
pena de nulidade. uma pretensão de natureza real, a separar da massa de bens de que o insolvente não é o dono
efetivo.
O prazo para a resolução é o de seis meses após o conhecimento do ato pelo administrador da
insolvência art. 123º/1. Esta difere da reclamação de créditos, na medida em que estão aí em causa créditos sobre a
insolvência, mas ocorre no mesmo período (ou seja, em simultâneo). Exemplo: meação dos bens
! Reclamação e verificação de créditos: comuns no caso dos cônjuges; situação na qual determinado imóvel é integrante da massa
insolvente, mas tem em si elementos que não fazem parte dessa (por serem propriedade de
Após a sentença, tem lugar a fase de verificação do passivo – processo declarativo, que corre terceiro).
em anexo ao processo de insolvência. Nesta influem-se as fases de reclamação de créditos,
saneamento, instrução, discussão e julgamento da causa e sentença. Verificação ulterior:

Quem são as partes na verificação de créditos? Tendo em conta o atual regime previsto no CPC, Tanto os créditos sobre a insolvência como o direito à separação ou restituição de bens podem
SALVADOR DA COSTA defende que assumem parte principal do lado ativo os credores, estando ser exercidos em momento posterior – art. 146º/1. As ações decorrentes dessa realidade correm
do lado passivo o insolvente, representado pelo administrador da insolvência. por anexo aos autos da insolvência, seguindo os termos do processo comum (art. 148º).
dos credores é feita por outra via. A possibilidade está prevista no art. 171º/1, podendo ser
dispensada pelo juiz, no todo ou em parte, sempre que o devedor seja uma pessoa singular e na
Reclamação de créditos – a verificação ulterior está limitada pelo nº 2 do art. 146º. Proposta a massa insolvente não esteja empreendida uma empresa. Para esse efeito, o devedor tem de
ação, deve verificar-se o disposto no número seguinte. O nº 4 trata, por sua vez, da extinção da entregar ao administrador da massa insolvente uma quantia em dinheiro que não seja inferior ao
instância. Restituição e separação de bens – este direito pode ser exercido a todo o tempo, com valor que resultaria da liquidação. A dispensa tem de ser solicitada pelo administrador, com
base no art. 146º/2, primeira parte. acordo prévio do devedor, ficando a decisão sem efeito se a quantia referida não for entregue; →
Suspensão – a liquidação tem início, mas o seu decurso é temporariamente paralisado, enquanto
Assembleia de credores de apreciação do relatório: decorre certa situação a que se atribui esse efeito.

A assembleia de apreciação do relatório é um momento importante do processo de insolvência, • Conferido ao administrador o encargo de elaborar um plano de insolvência – art. 156º/3.
podendo verificar-se ainda antes da liquidação. A mesma não é já obrigatória, pelo que pode o
juiz prescindir da mesma em declaração fundamentada, como disposto no art. 36º/1 n). • A requerimento do proponente do plano de insolvência, se tal for necessário para não pôr em
risco a execução desse plano – art. 206º/1.
Se o juiz prescindir da assembleia, qualquer interessado pode, no prazo da reclamação de
créditos, requerer ao tribunal a sua convocação – art. 36º/3. • Atribuída ao devedor a administração da massa insolvente, pois que o art. 255º determina que,
nesse caso, a liquidação só tem lugar depois de retirada ao devedor essa administração. Note-se
Serve esta assembleia para que se aprecie o relatório do administrador da insolvência (dever seu que a suspensão da liquidação não obsta à venda antecipada dos bens da massa insolvente
decorrente do art. 155º/1). Desse relatório terá de constar o inventário e a lista provisória de suscetíveis de perecimento ou deterioração.
credores (nº 2).
→ Interrupção – também aqui a liquidação tem início, mas a verificação de determinada situação
provoca o encerramento do processo, sem a conclusão da mesma.
Inventário – indica os bens e direitos que integram a massa insolvente, e qual o seu valor,
natureza, características, localização, ónus que sobre eles incidam e eventuais dados de • Administrador verifica que a massa insolvente é suficiente para satisfazer as custas do
identificação registal Lista provisória de credores – enumera por ordem alfabética os credores processo e as restantes dívidas – art. 232º/4. Este regime decorre do presente no art. 39º. O
que constam da contabilidade do devedor, que hajam reclamado os seus créditos ou que estes administrador da insolvência dará conhecimento desse facto ao juiz, podendo este conhecer
sejam por outra via conhecidos. igualmente oficiosamente da situação.

Na assembleia de apreciação do relatório, deve ser dada ao devedor, à comissão de credores, à A liquidação pode também ser objeto de regime especial, afastando-se das linhas do CIRE, se
comissão de trabalhadores ou aos representantes respetivos a oportunidade de se pronunciarem for aprovado um plano de insolvência – art. 192º/1. Nesse caso, o plano terá de indicar quais os
sobre o mesmo – art. 156º/1. preceitos legais aplicáveis.

Liquidação da massa insolvente: Antes da fase de liquidação propriamente dita, o administrador da insolvência pode já encerrar
os estabelecimentos do devedor, desde que obtenha parecer favorável para tal da comissão de
Esta é das fases mais relevantes do processo de insolvência. A mesma destina-se a satisfazer, credores. Se esta tiver sido dispensada, tal poderá acontecer se o devedor não se opuser ou,
ainda que por vezes meramente parcial, dos créditos sobre a insolvência. Através da liquidação, independentemente disso, se o juiz o autorizar – art. 157º.
o património do devedor é convertido em dinheiro, para que esse possa ser repartido pelos
credores. Vigora, neste âmbito, o presente nos arts. 156º e ss. Transitada em julgado que esteja a sentença declaratória da insolvência, pode o administrador
proceder à alienação dos bens apreendidos para a massa insolvente.
A liquidação não é obrigatória – a mesma pode ser dispensada, suspensa ou interrompida:
Em caso de contitularidade, indivisão ou litígio sobre a titularidade, isto que só podem responder
→ Dispensa – caso em que a mesma nem sequer tem início, pelo que a satisfação dos créditos pelas dívidas do insolvente os seus próprios bens, torna-se necessário acautelar direitos de
terceiros. A hierarquização dos créditos sobre a insolvência implica que comecem por ser liquidados os
créditos garantidos – art. 174º – e depois os privilegiados – art. 175º. Seguem-se os créditos
A liquidação dos bens é sempre limitada pelo direito que o devedor tem sobre esses bens – art. comuns – art. 176º apenas podendo haver satisfação dos créditos subordinados depois disso –
159º. art. 177º.

A lei estabelece ainda um regime específico para os atos de especial relevo. O conceito de ato As dívidas da massa insolvente são as que constam do art. 51º. A sua liquidação dá-se antes da
de especial relevo é concretizado no art. 161º/2 e 3. das restantes, devendo a mesma ocorrer na data do vencimento das dívidas, qualquer que seja o
estado do processo – art 172º/3. Primeiramente, as dívidas em causa devem ser imputadas nos
Também específico é o regime tocante à alienação de empresa compreendida na massa rendimentos da massa. Não sendo possível a sua satisfação com esses rendimentos, a
insolvente – a mesma deve ser realizada como um todo, a não ser que não haja proposta imputação é efetuada na devida proporção ao produto da venda de cada bem móvel ou imóvel.
satisfatória ou se reconheça vantagem na liquidação ou alienação separada de certas partes – Tal é o que resulta do nº 2 do artigo mencionado supra.
art. 161º/1. A violação destas disposições não prejudica a eficácia dos atos que se pratiquem.
Ainda assim, o administrador responderá pelos danos causados ao devedor e aos credores da
insolvência e da massa insolvente – art. 59º/1. Pode ainda dar-se a sua destituição com justa Créditos garantidos, privilegiados, comuns e subordinados
causa.
Liquidadas que estejam as dívidas da massa insolvente, poderá dar-se início ao pagamento dos
A alienação dos bens é livremente escolhida pelo administrador da insolvência, pois que este créditos que beneficiem de garantias reais, o que inclui também os privilégios creditórios
pode optar por qualquer das formas admitidas em processo executivo (art. 164º/1). A venda está especiais – art. 47º/4 a).
sujeita ao regime dos arts. 811º e ss. CPC, por via do art. 17º CIRE. Ainda assim, se estiverem em
causa créditos que gozem de garantia real, os respetivos titulares terão de ser ouvidos sobre a O pagamento é realizado com base no produto da alienação dos bens objetos de garantia,
modalidade de alienação – art. 164º/2. Em caso de atraso na alienação do bem sujeito a garantia abatidas que sejam as correspondentes despesas e o valor de 10% destinado à liquidação das
real, o credor deve ser compensado pelo retardamento da alienação – art. 166º/1. dívidas da massa insolvente (art. 174º/1). Se as garantias reais forem a favor de vários credores,
o pagamento será realizado de acordo com a hierarquização dessas garantias, feita em princípio
Para além disso, a lei proíbe ao administrador da insolvência a aquisição de bens ou direitos tendo por base a ordem da sua constituição. Note-se, no entanto, que “os privilégios imobiliários
compreendidos na massa insolvente – art. 168º/1. O incumprimento dessa disposição gera a especiais são oponíveis a terceiros que adquiram o prédio ou um direito real sobre ele e
obrigatoriedade de o administrador restituir à massa o bem ou direito ilicitamente adquirido, sem preferem à consignação de rendimentos, à hipoteca ou ao direito de retenção, ainda que estas
direito a reaver a prestação efetuada. garantias sejam anteriores” – art. 751º CC.

O produto das vendas deve ser depositado em conta à ordem da administração da massa – art. Já no que toca aos créditos privilegiados, estes são aqueles que beneficiam de um privilégio
167º. creditório especial:

A liquidação deve ser concluída no prazo de um ano, contado da data da assembleia de Privilégio mobiliário geral dos trabalhadores – art. 333º CT.
apreciação do relatório, o qual pode ser estendido por seis meses. O incumprimento deste prazo
resulta em justa causa de destituição do administrador da insolvência – art. 169º. Privilégios mobiliários gerais do Estado e das autarquias locais, para garantia dos créditos de
impostos – art. 736º CC.
Pagamento:
Privilégios mobiliários e imobiliários gerais das instituições de segurança social, referidos nos
O pagamento dos créditos é regulado pelos arts. 172º e ss. Ainda está, desde logo, prevista a arts. 244º e 245º CRCSS.
liquidação prévia das dívidas da massa insolvente, apenas se procedendo ao pagamento dos
créditos sobre a insolvência depois dessa liquidação. Privilégios por despesas de funeral, doença ou obrigações de alimentos, nos termos do art. 737º
CC.
Privilégio mobiliário geral, a graduar em último lugar, relativamente aos direitos de crédito não 2. A graduação dos créditos faz-se pela ordem seguinte:
subordinados de que seja titular o credor requerente da declaração de insolvência, até ao limite
de 500 unidades de conta – art. 98º/1. a) O crédito com privilégio mobiliário geral é graduado antes de crédito referido no n.º 1 do art.
747º CC;
Note-se, ainda assim, o disposto no art. 97º, que trata da extinção de privilégios creditórios
gerais e garantias reais. Essa extinção faz com que os créditos em causa se transformem em b) O crédito com privilégio imobiliário especial é graduado antes de crédito referido no art. 748º
créditos comuns. CC e de crédito relativo a contribuição para a segurança social.

O pagamento dos credores privilegiados é feito segundo o disposto no art. 175º. Vale também o → Créditos do Estado e das autarquias locais – estas entidades beneficiam de privilégios
disposto no art. 178º. especiais (art. 744º CC) e gerais, mobiliários e imobiliários, quer de hipoteca legal, para tutela de
vários dos seus créditos. Note-se que, para tentar restringir o acentuado peso que estes
Segue-se o pagamento dos créditos comuns, previstos no art. 47º/4 c). O pagamento é feito créditos podem assumir no processo de insolvência, os mesmos se extinguem nos termos das
através do rateio na proporção do valor normal dos respetivos créditos, se se verificar que a alíneas a) e b) do art. 97º CIRE. → Créditos das instituições de segurança social – vale também o
massa é insuficiente para a respetiva liquidação integral (art. 176º). Também aqui se pode aplicar disposto na alínea b) do art. 97º CIRE.
o disposto no art. 178º.
Estes créditos são garantidos por um privilégio mobiliário geral e por um privilégio imobiliário
Pagos os créditos comuns, torna-se possível o pagamento dos créditos subordinados, referidos geral, nos termos dos arts. 204º e 205º CRCSS.
no art. 48º. Este é feito pela ordem disposta nesse artigo, salvo no caso de subordinação
convencional (art. 177º/2). A partir do momento em que a massa insolvente se torna insuficiente Encerrada que esteja a liquidação da massa insolvente, o processo é remetido à conta,
para cobrir os créditos subordinados de uma das alíneas, é efetuado o rateio entre os respetivos seguindo-se a distribuição e o rateio final realizados pela secretaria – art. 182º.
titulares, deixando de ser pagos os credores abrangidos pelas alíneas seguintes.
Incidente de qualificação da insolvência:

A tutela específica de certos créditos: O procedimento previsto nos arts. 185º e ss. CIRE constitui uma fase do processo que se destina
a averiguar quais as razões que conduziram à situação de insolvência, de modo a que se possa
→ Credores de obrigações solidárias – obedece ao disposto no art. 179º. concluir se essas foram meramente fortuitas ou, antes, resultado de intuitos fraudulentos do
devedor.
→ Créditos sob condição suspensiva – vigora o art. 181º, conjugado com o art. 182º, que trata do
rateio final. Há então que se determinar se a insolvência deve ser qualificada como fortuita ou como dolosa –
art. 189º/1. Essa qualificação depende, assim, do grau de culpa do devedor.
→ Créditos emergentes do contrato de trabalho – estes beneficiam de garantias especiais,
constantes dos arts. 333º e ss. CT: A insolvência culposa corresponde à situação do art. 186º. Sempre que essa não se verifique, a
insolvência é qualificada como fortuita. O nº 2 do art. 186º estabelece uma presunção, pelo que
1. Os créditos do trabalhador emergentes de contrato de trabalho, ou da sua violação ou a verificação de uma das respetivas alíneas é suficiente para qualificar a insolvência como
cessação gozam dos seguintes privilégios creditórios: culposa. A lei permite ainda presumir culpa grave, nos termos do nº 3. Estas presunções podem,
com as devidas adaptações, ser aplicadas à atuação de pessoas singulares insolventes.
a) Privilégio mobiliário geral;
Qualificada como culposa, são várias as consequências:
b) Privilégio imobiliário especial sobre bem imóvel do empregador no qual o trabalhador presta a
sua atividade. a) Inibição das pessoas afetadas pela qualificação para administrarem patrimónios de terceiros
por um período de 2 a 10 anos – efeito que remete para os arts. 152º e 156º CC, e que comporta
algumas dúvidas a nível constitucional. O plano de insolvência determina o encerramento do processo, com o trânsito em julgado da
decisão que o homologa, se a isto não se opuser o conteúdo dele – art. 230º.
b) Inibição das mesmas pessoas para o exercício do comércio durante um período de 2 a 10
anos, bem como para a ocupação de qualquer cargo de titular de órgão de sociedade comercial O encerramento do processo dá-se nos termos dos arts. 230º e ss.
ou civil, associação ou fundação privada de atividade económica, empresa pública ou
cooperativa – não estamos perante uma incapacidade em sentido técnico, mas antes perante
uma incompatibilidade resultante do estado de insolvência culposa.

c) Perda de créditos sobre a insolvência ou sobre a massa insolvente detidos pelas pessoas
afetadas pela qualificação e a sua condenação na restituição dos bens ou direitos já recebidos
no pagamento desses créditos.

d) Indemnização aos credores do devedor insolvente no montante dos créditos não satisfeitos
até às forças dos respetivos patrimónios, sendo solidária tal responsabilidade entre todos os
afetados ocorre nos termos gerais do art. 483º CC, sendo a responsabilidade solidária nos
termos do art. 497ºCC.

O plano de insolvência:

A satisfação dos credores deve ocorrer, preferencialmente, através da aprovação de um plano de


insolvência. Este encontra-se previsto nos arts. 192º e ss.

A aplicação do plano de insolvência será em princípio universal, pelo que pode ocorrer em todos
os processos de insolvência que abrangem qualquer dos sujeitos passivos referidos no art. 2º/1.
Ainda assim, estes não podem ser aplicados a pessoas singulares que não sejam empresários ou
titulares de pequenas empresas (pois que para esses vigora o plano de pagamentos, presente
nos arts. 251º e ss.).

Quanto à legitimidade para apresentar a proposta de plano de insolvência, esta abarca o


devedor, o administrador da insolvência, qualquer pessoa que responda legalmente pelas dívidas
da massa insolvente e qualquer credor ou grupo de credores cujos créditos representam pelo
menos um quinto dos créditos não subordinados reconhecidos (art. 193º/1).

O conteúdo do plano de insolvência é estabelecido pelo art. 195º. Ainda assim, este é limitado
pelo disposto no art. 192º/2. Este plano obedece ao princípio da igualdade dos credores da
insolvência, apesar de ainda assim se admitirem diferenciações, se justificadas por razões
objetivas. Na falta de estipulação em contrário, o plano de insolvência não afeta as garantias
reais e os privilégios creditórios, os créditos subordinados consideram-se objeto de perdão total
e o cumprimento do plano exonera o devedor e os responsáveis legais da totalidade das dívidas
da insolvência remanescente – art. 197º.

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