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DR.

FERNANDO HENRIQUE VIOLA DE ALMEIDA


OAB/SP 355.024

ADVOGADO CRIMINALISTA. ESPECIALISTA EM DIREITO PENAL E


DIREITO PROCESSUAL PENAL PELO COMPLEXO EDUCACIONAL
DAMÁSIO DE JESUS – SÃO PAULO/SP. GRADUADO PELO CENTRO
UNIVERSITÁRIO UNITOLEDO – ARAÇATUBA/SP.

fer_nandoviola@hotmail.com

nandoviola
Ementa: Atos de Comunicação
Processual: citações e intimações.
Sentença. Procedimentos.
Nulidades. Teoria dos Recursos.
Recursos em espécie. Ações
Autônomas de Impugnação:
Revisão Criminal, Habeas Corpus e
Mandado de Segurança.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Bibliografia Básica:
LOPES JR., Aury. Direito Processual Penal.
São Paulo: Saraiva.
OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de
Processo Penal. São Paulo: Atlas.
RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal.
São Paulo: Atlas.
TÁVORA, Nestor. ALENCAR, Rosmar
Rodrigues. Curso de Direito Processual
Penal. Salvador: JusPodivm.
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa.
Processo Penal. São Paulo: Saraiva.
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR:

LIMA, Renato Brasileiro de. Manual


de Processo Penal, vol. I. Niterói.
Impetus
NUCCI, Guilherme de Souza. Código
de Processo Penal Comentado, São
Paulo: RT
PACHECO, Denílson Feitosa. Direito
Processual Penal. Uberaba: Impetus.
NULIDADES

Conceito: É a inobservância da tipicidade


processual na prática do ato processual que gera
consequências.

Em ordem a evitar o desatendimento às


fórmulas da matriz legal, criou-se uma
consequência jurídica para a inobservância da
tipicidade das formas, que é a possibilidade de
invalidação do ato imperfeito, sanção essa que
recebe a denominação de nulidade.
 Muitas vezes, porém, o vocábulo é empregado para designar, não a
consequência que advém do desrespeito ao modelo legal, mas o
próprio defeito do ato. É de acordo com essa última concepção, por
exemplo, que se diz que “ocorreu uma nulidade” em determinado
ato processual.

 Os atos processuais viciados são considerados válidos até que


tenham a ineficácia declarada por órgão jurisdicional competente.

 A nulidade pode alcançar todo o processo, parte dele ou apenas


determinado ato, mas sempre derivará da inobservância do
modelo legal quando já instaurada a ação penal, uma vez que
eventuais irregularidades ocorridas na fase da investigação não
atingem o processo.
ATENÇÃO:

“A orientação desta Corte é no sentido de que ‘eventuais vícios


formais concernentes ao inquérito policial não têm o condão de
infirmar a validade jurídica do subsequente processo penal
condenatório. As nulidades processuais concernem, tão
somente, aos defeitos de ordem jurídica que afetam os atos
praticados ao longo da ação penal condenatória’. Precedente”
(STF — ARE 868.516 AgR/DF — 1ª Turma — Rel. Min. Roberto
Barroso — julgado em 26.05.2015 — DJe-121 23.06.2015)

O reconhecimento da ilicitude de determinada prova produzida


durante o inquérito não gera a nulidade da ação penal, e sim o
desentranhamento de referida prova dos autos.
PROBLEMAS

A jurisprudência brasileira nessa matéria é


caótica, fruto de uma má sistemática legal e da
indevida importação de categorias do processo
civil, absolutamente inadequadas para o
processo penal – Aury Lopes Jr.

Também existe ainda uma grande oscilação do


“humor” jurisprudencial, sensível que é aos
influxos sociais e às pressões dos discursos
repressivistas em voga.
ESPÉCIES DE NULIDADE

a) INEXISTÊNCIA | NÃO ATO: tamanha é a desconformidade com o modelo


legal que o ato deve ser desconsiderado pelo ordenamento jurídico. JAMAIS
SE CONVALIDA E NÃO HÁ PRECLUSÃO.

b) NULIDADE ABSOLUTA: Quando a atipicidade do ato viola norma


(constitucional ou legal) garantidora de interesse público. Não se convalida,
razão pela qual a possibilidade de arguição não é atingida pela preclusão, de
modo que a nulidade poderá ser decretada a qualquer tempo e grau de
jurisdição e, em caso de sentença condenatória, até mesmo depois do
trânsito em julgado.
 A nulidade absoluta pode ser decretada de ofício pelo juiz ou pelo
tribunal, com observância das regras de hierarquia e mediante a utilização
dos instrumentos processuais adequados.
 Súmula n. 160 do Supremo Tribunal Federal: “é nula a decisão do Tribunal
que acolhe, contra o réu, nulidade não arguida no recurso da acusação,
ressalvados os casos de recurso de ofício”.
c) NULIDADE RELATIVA: Ocorre nas hipóteses de desrespeito a
exigência estabelecida pela lei (norma infraconstitucional) no
interesse das partes.
 Para que seja reconhecida, é imprescindível que haja arguição
oportuna pelo interessado, pois, em regra, não é passível de ser
decretada de ofício pelo juiz, além do que se convalida se a parte
prejudicada não se desincumbir do ônus de comprovar o prejuízo a
ela acarretado pelo ato alegadamente nulo.

d) IRREGULARIDADE: vício que decorre da desobediência ao modelo


legal que, no entanto, não tem qualquer repercussão para o
desenvolvimento do processo e, por isso mesmo, não enseja a
ineficácia do ato.
PRINCÍPIOS

Princípio da instrumentalidade das formas


O postulado inscrito no art. 566 do Código de Processo Penal, segundo
o qual “não será declarada a nulidade de ato processual que não
houver influído na apuração da verdade substancial ou na decisão da
causa”.

 Em razão disso, se o ato, apesar de imperfeito, atingir o fim a que


for destinado, não haverá espaço para a decretação de nulidade
(art. 572, II, do CPP).

Princípio do prejuízo
“nenhum ato será declarado nulo, se da nulidade não resultar
prejuízo para a acusação ou para a defesa” (art. 563 do CPP).
 pas de nullité sans grief.
Nulidade Absoluta:
Corrente 01: O prejuízo é sempre presumido (Fernando Capez e
Vicente Greco Filho).

Corrente 02: Ambas as turmas do Supremo Tribunal Federal têm


proclamado, reiteradamente, que a ocorrência de prejuízo é essencial
também ao reconhecimento dessa espécie de invalidade:

“A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é de que a


demonstração de prejuízo, nos termos ‘do art. 563 do CPP, é essencial
à alegação de nulidade, seja ela relativa ou absoluta, eis que (…) o
âmbito normativo do dogma fundamental da disciplina das nulidades
— pas de nullité sans grief — compreende as nulidades absolutas’.
Precedente” (STF — ARE 868.516 AgR/DF — 1ª Turma — Rel. Min.
Roberto Barroso — julgado em 26.05.2015 — DJe-121 23.06.2015);
Princípio da causalidade (ou da consequencialidade)

Esse postulado rege o alcance dos efeitos da decretação de invalidade


de determinado ato, estabelecendo que “a nulidade de um ato, uma
vez declarada, causará a dos atos que dele diretamente dependam ou
sejam consequência” (art. 573, § 1º, do CPP).

ATENÇÃO: A nulidade derivada será decretada, portanto, apenas


quando o ato posterior tenha relação lógica com o vício ocorrido
anteriormente, ao passo que, em consequência, devem
remanescer íntegros os atos cronologicamente posteriores que
não tenham ligação com o ato nulo.
É por esse motivo que a lei determina que o juiz que pronunciar a
nulidade deverá,concomitantemente, declarar os atos a que ela
se estende (art. 573, § 2º, do CPP).
“O Supremo Tribunal Federal tem entendimento de
que nulidade quanto à dosimetria da pena ‘não vicia
inteiramente a sentença e o acórdão das instâncias
inferiores, mas diz respeito apenas ao critério adotado
para a fixação da pena. Tudo o mais neles decidido é
válido, em face do princípio utile per inutile non
vitiatur’ (HC 59.950/RJ, Rel. Min. Moreira Alves, DJ
01.11.1982)” (STF — HC 94.888/SP — 2ª Turma — Rel.
Min. Ellen Gracie — DJe -232 11.12.2009).
Princípio do interesse

O princípio em estudo veda a arguição de nulidade pela parte que a


ela deu causa, ou que para ela tenha concorrido, e também àquela
referente à formalidade cuja observância só à parte contrária
interesse (art. 565 do CPP).

O Superior Tribunal de Justiça já proclamou que viola o duty to


mitigate the loss a tardia insurgência, manifestada pela defesa
somente após a realização de diversos atos processuais, como
o interrogatório, alegações finais e sentença, contra a dispensa
da oitiva de testemunha por ela arrolada, de modo a afastar o
reconhecimento da nulidade.
Procedimentos em que devem ser alegadas as nulidades relativas:
a) as da instrução criminal da primeira fase dos processos da
competência do júri, no momento das alegações orais em audiência
(art. 411, § 4º, do CPP);
b) as da instrução criminal dos processos de competência do juiz
singular e dos processos especiais, por ocasião das alegações finais,
orais ou escritas (art. 403, caput, e § 3º, do CPP);
c) as do processo sumário, nas alegações orais (art. 534 do CPP);
d) as ocorridas posteriormente à pronúncia, logo depois de
anunciado o julgamento e apregoadas as partes;
e) as ocorridas após a sentença, nas razões de recurso (em
preliminar), ou logo depois de anunciado o julgamento do recurso e
apregoadas as partes, se posteriores aos arrazoados;
f) as do julgamento em plenário, em audiência ou em sessão do
tribunal, logo depois de ocorrerem.
Mecanismos de convalidação
do ato imperfeito

O art. 567 do Código prevê que “a incompetência do juízo anula


somente os atos decisórios”, conduzindo à conclusão, a contrario
sensu, de que os atos instrutórios podem ser convalidados pelo juízo
competente, por meio do instituto da ratificação (art. 108, § 1º, do
CPP).

 Para Ada Pellegrini, somente nos casos de incompetência


relativa é que poderia haver aproveitamento dos atos
instrutórios, pois a incompetência absoluta fulminaria de
nulidade todo o processo.
 No mesmo sentido, considerando a impossibilidade de
aproveitamento (convalidação) dos atos praticados por juízo
absolutamente incompetente, Fernando Capez296, Tourinho
Filho297 e Guilherme de Souza Nucci 298 afirmam que têm de
ser, necessariamente, refeitos perante o juízo natural.
O Supremo Tribunal Federal, no entanto, passou a aceitar a
ratificação como modalidade de convalidação de atos
instrutórios e também de certos atos decisórios, como a
decretação da prisão preventiva e o de sequestro de bens,
inclusive no que diz respeito àqueles praticados por juízo em
situação de incompetência absoluta: “Conforme posicionamento
hodierno sobre a matéria, este Supremo Tribunal Federal, nos
casos de incompetência absoluta do juízo, admite a ratificação de
atos decisórios pelo juízo competente” (STF — HC 123.465/AM —
1ª Turma — Rel. Min. Rosa Weber — j. 25.11.2014 — DJe-032
19.02.2015)

ATENÇÃO: salvo quando se tratar de sentença de mérito.


SUPRIMENTO: completa-se o ato com aquilo que lhe faltava para
adequar -se ao modelo legal e é nisso que tal forma de convalidação
distingue -se da ratificação.

SUBSTITUIÇÃO: refazimento passa a ser desnecessário quando


fato ulterior tiver ensejado o alcance da finalidade do ato viciado
ou inexistente - art. 570, 2ª parte, do CPP.
“HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO E OUTROS CRIMES.
MATERIALIDADE. EXAME DE CORPO DE DELITO. AUSÊNCIA DE
CADÁVER. PRESCINDIBILIDADE FRENTE A OUTRAS PROVAS. O
exame de corpo de delito, embora importante à comprovação
nos delitos de resultado, não se mostra imprescindível, por si
só, à comprovação da materialidade do crime. No caso vertente,
em que os supostos homicídios têm por característica a
ocultação dos corpos, a existência de prova testemunhal e
outras podem servir ao intuito de fundamentar a abertura da
ação penal, desde que se mostrem razoáveis no plano do
convencimento do julgador, que é o que consagrou a instância a
quo. Ordem denegada” (STJ — HC 79.735/RJ — 6ª Turma — Rel.
Min. Maria Thereza de Assis Moura — julgado em 13.11.2007 —
DJ 03.12.2007 — p. 368).
SÚMULAS DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
SOBRE AS NULIDADES

Súmula n. 155 — É relativa a nulidade do processo criminal por


falta de intimação da expedição de precatória para inquirição de
testemunha.
Súmula n. 156 — É absoluta a nulidade do julgamento, pelo júri,
por falta de quesito obrigatório.
Súmula n. 160 — É nula a decisão do tribunal que acolhe, contra
o réu, nulidade não arguida no recurso da acusação, ressalvados
os casos de recurso de ofício.
Súmula n. 162 — É absoluta a nulidade do julgamento pelo júri,
quando os quesitos da defesa não precedem aos das
circunstâncias agravantes.
Súmula n. 206 — É nulo o julgamento ulterior pelo júri com a
participação de jurado que funcionou em julgamento anterior
do mesmo processo.
Súmula n. 351 — É nula a citação por edital de réu preso na
mesma unidade da Federação em que o juiz exerce a sua
jurisdição.
Súmula n. 366 — Não é nula a citação por edital que indica o
dispositivo da lei penal, embora não transcreva a denúncia ou
queixa, ou não resuma os fatos em que se baseia.
Súmula n. 431 — É nulo o julgamento de recurso criminal, na
segunda instância, sem prévia intimação, ou publicação da pauta,
salvo em habeas corpus.
Súmula n. 523 — No processo penal, a falta de defesa constitui
nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver
prova de prejuízo para o réu.
Súmula n. 564 — A ausência de fundamentação do despacho de
recebimento de denúncia por crime falimentar enseja nulidade
processual, salvo se já houver sentença condenatória.
Súmula n. 706 — É relativa a nulidade decorrente da inobservância da
competência penal por prevenção.
Súmula n. 707 — Constitui nulidade a falta de intimação do denunciado
para oferecer contrarrazões ao recurso interposto da rejeição da denúncia,
não a suprindo a nomeação de defensor dativo.
Súmula n. 708 — É nulo o julgamento da apelação se, após a manifestação
nos autos da renúncia do único defensor, o réu não foi previamente
intimado para constituir outro.
Súmula n. 712 — É nula a decisão que determina o desaforamento de
processo da competência do júri sem audiência da defesa.
Súmula Vinculante n. 11 — Só é lícito o uso de algemas em casos de
resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física
própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a
excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil
e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato
processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do
QUESTÕES

(Ministério Público/SP — 2010) É considerada nulidade


relativa, que pode ser sanada:
a) a falta de concessão de prazos à acusação e à defesa.
b) a ilegitimidade de parte.
c) a falta de nomeação de defensor ao réu presente,
que o não tiver.
d) a violação à incomunicabilidade dos jurados.
e) a suspeição do juiz.
No processo penal, nenhuma das partes poderá
arguir nulidade a que haja dado causa, ou para
que tenha concorrido. Tal enunciado refere-se
especificamente ao princípio:
a) da convalidação.
b) da causalidade.
c) do prejuízo.
d) do interesse.

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