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1. Conceito de nulidade
O Código de Processo Penal (CPP) apresenta resquício desse sistema, como se verifica
na redação do art. 564.
b) o exame do corpo de delito nos crimes que deixam vestígios, ressalvado o disposto
no Art. 167;
g) a intimação do réu para a sessão de julgamento, pelo Tribunal do Júri, quando a lei
não permitir o julgamento à revelia;
m) a sentença;
Parágrafo único. Ocorrerá ainda a nulidade, por deficiência dos quesitos ou das suas
respostas, e contradição entre estas. (Incluído pela Lei nº 263, de 23.02.1948.) (Grifos
nossos.)
O juiz avaliará se o ato praticado, antes de ser invalidado, atingiu a sua finalidade.
Então, o julgador possui liberdade para decidir se o ato inválido deve, ou não, ser
invalidado, conforme tenha ou não atingido a sua finalidade e influenciado na verdade
ou na decisão da causa. Sua previsão é encontrada no art. 566 do CPP que orienta: “Art.
566. Não será declarada a nulidade de ato processual que não houver influído na
apuração da verdade substancial ou na decisão da causa.”
c) Sistema misto (ou sistema da equidade): “faz uma menção genérica à nulidade,
sem indicar em quais casos concretos ela se verificaria, dando ensejo ao risco
decorrente da vasta possibilidade de interpretação da norma” (CUNHA, 2020). Nestor
Távora e Rosmar Rodrigues (2019) sustentam que o sistema brasileiro é o misto,
adotando-se tanto o sistema da certeza legal quanto a instrumentalidade das formas,
permitindo-se que o juiz analise as prescrições legais e investigue a influência da
nulidade nos resultados dos autos.
Tem razão o autor, já que, mesmo nos casos em que a lei processual prevê uma
nulidade grave, como a absoluta, o juiz poderá deixar de anular o ato caso ele atinja a
sua finalidade, que é a sua razão de existir. Por isso, adota-se plenamente a
instrumentalidade das formas.
Em regra, todo ato processual tem sua forma prescrita em lei, cuja inobservância pode
dar ensejo à decretação de sua nulidade.
A tipicidade das formas corresponde à ideia de que o ato processual deve ser praticado
em consonância com a Constituição Federal de 1988 (CF/1988) e com as leis
processuais penais, assegurando-se, assim, não somente às partes como a toda a
coletividade a existência de um processo penal justo e em consonância com o devido
processo legal.
De todo modo, nem toda inobservância da forma prescrita em lei é capaz de acarretar a
invalidação do ato processual. De fato, a depender do ato processual viciado e do grau
do vício, o ordenamento jurídico pode simplesmente desprezar a irregularidade
cometida, impor uma mera consequência extraprocessual, sujeitá-lo à declaração de
sua ineficácia, ou considerá-lo inexistente.
O princípio do prejuízo também é chamado de pas de nullité sans grief, ou seja, se não
há nulidade/prejuízo, não haverá reclamação possível de ser feita. É a inteligência do
art. 563 do CPP: “Art. 563. Nenhum ato será declarado nulo, se dá nulidade não
resultar prejuízo para a acusação ou para a defesa.”
A tipicidade prevê um molde legal dentro do qual o ato processual deve ser praticado;
além disso, esse molde não é um fim em si mesmo, ou seja, ele apenas existe para que o
Direito seja bem e corretamente aplicado, isto é, sua existência está vinculada ao
atingimento de uma finalidade legal.
Na mesma linha, segundo o art. 572, II, do CPP: “As nulidades previstas no art. 564, III,
‘d’ e ‘e’, segunda parte, ‘g’ e ‘h’, e IV, considerar-se-ão sanadas: se, praticado por outra
forma, o ato tiver atingido o seu fim; 9...)”.
O dispositivo deixa entrever que, inobstante o vício constante do ato processual, não há
motivo para se declarar a nulidade se sua finalidade tiver sido atingida, ou seja, se não
tiver acarretado qualquer prejuízo às partes.
Ainda sobre o princípio do prejuízo, a Lei nº 9.099/1995, que versa sobre os Juizados
Especiais Criminais, prevê em seu art. 65, caput, que “Os atos processuais serão
válidos sempre que preencherem as finalidades para as quais foram realizados,
atendidos os critérios indicados no art. 62 desta Lei”, quais sejam, oralidade,
simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade.
Como bem assentou o STJ, “A jurisprudência desta Corte Superior é firme em assinalar
que o reconhecimento de nulidade, relativa ou absoluta, exige a indicação em tempo
oportuno e a demonstração do prejuízo, a teor do art. 563 do Código de Processo Penal
(STJ, AgRg no AREsp. nº 699.468/PR, rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 16.05.2017)”.
Assim, o princípio pas de nullité sans grief se aplica tanto à nulidade relativa quanto à
absoluta, já que ambas exigem comprovação de prejuízo para que se declare uma
nulidade (STJ, RHC nº 76.777/PR, rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j.
13.12.2016) (COSTA; ARAÚJO, 2018).
Conforme Grinover, Gomes Filho e Fernandes (2001), entende-se que uma forma legal é
tão somente um instrumento para que o ato atinja o seu objetivo, que é a correta
aplicação do Direito.
Logo, não haverá razão para se anular os atos do processo apenas por falta de citação
se o objeto desta foi alcançado, inclusive com a aparição pessoal do réu nos autos como
Outra previsão está contida no art. 572, II, do CPP, ao dispor, por exemplo, que haverá
nulidade por falta de intimação da testemunha, que, todavia, estará sanada se,
praticada de outra forma, atingir o seu objetivo.
No direito privado, um ato nulo não produz quaisquer efeitos. Em outras palavras, a
nulidade é automática, ou seja, não há necessidade de prévia decisão judicial
declarando-a expressamente.
Nos termos do art. 573, § 1º, do CPP, “A nulidade de um ato, uma vez declarada,
causará a dos atos que dele diretamente dependam ou sejam consequência.”. Então, “O
juiz que pronunciar a nulidade declarará os atos a que ela se estende.” (§ 2º).
Em síntese, somente deverão ser anulados aqueles atos que, não obstante produzidos
validamente em momento posterior, encontram-se afetados pelo vício da nulidade
originária, que a eles se transmite, contaminando-os, por efeito de repercussão causal
(LIMA, 2019).
Em contrapartida, por força do princípio da conservação dos atos processuais, deve ser
preservada a validade dos atos processuais que não dependam de ato anterior
declarado inválido.
Como se percebe, esse princípio da conservação dos atos processuais aplica-se aos atos
complexos. Portanto, a parte inválida de determinado ato processual não prejudica as
outras partes válidas do mesmo ato.
Essa regra, todavia, não se aplica à sessão de julgamento pelo Tribunal do Júri, que é
Nenhuma das partes pode arguir nulidade relativa referente à formalidade cuja
observância só interesse à parte contrária (art. 565, parte final, do CPP). Esse princípio
também pode ser extraído do art. 572, III, do CPP, que prevê que as nulidades previstas
no art. 564, III, “d” e “e”, segunda parte, “g” e “h”, e IV, do CPP, considerar-se-ão
sanadas se a parte, ainda que tacitamente, tiver aceito os seus efeitos.
Outro exemplo, seria “defensor dativo deve ser intimado pessoalmente, não bastando a
simples publicação pela imprensa; todavia, se o próprio defensor nomeado assinou
termo firmando compromisso de ser intimado pela imprensa, não há que se falar em
nulidade posterior, nos termos do art. 565 do CPP” (STJ, RHC nº 68.886/SP, rel. Min.
Ribeiro Dantas, j. 27.09.2016).
Por mais que um ato processual tenha um vício, haverá o confronto com outros dois
princípios: o da economia processual e o da instrumentalidade das formas. Não é
porque o ato é atípico, por ter desrespeitado a fórmula legal, que ele será inutilizado e
nada dele poderá ser aproveitado. De acordo com Renato Brasileiro (2019), a palavra
convalidar tem o significado de remover o defeito, remediar a falha, sanear o vício, a
fim de que um ato processual inicialmente imperfeito possa ser considerado válido,
apto a produzir os efeitos legais inerentes ao ato perfeito.
Quanto às nulidades absolutas, em regra, elas não se convalidam nem se sanam, salvo
no caso de nulidade absoluta com consequente trânsito em julgado de sentença
absolutória própria, já que não se admite revisão do julgado benéfico ao acusado em
favor da acusação.
Renato Brasileiro (2019) e Fábio Roque e Klaus Costa (2018) trabalham várias formas
de convalidação de uma nulidade, quais sejam:
b) Coisa julgada: a imutabilidade da sentença contra a qual não caibam mais recursos
A coisa julgada funciona como uma causa de saneamento geral, pois a imutabilidade da
decisão alcança as irregularidades não alegadas ou não apreciadas durante a
tramitação do processo. Especial atenção deve ser dispensada, todavia, às nulidades
absolutas em favor da defesa. Isso acontece porque, como visto anteriormente, em face
da existência de instrumentos processuais adequados, as nulidades absolutas em favor
da defesa podem ser arguidas inclusive após o trânsito em julgado de sentença
condenatória e/ou absolutória imprópria, seja por meio de habeas corpus, seja por meio
de revisão criminal.
Destarte, conclui-se que a coisa julgada só funciona como sanativa geral em detrimento
da acusação, visto que o ordenamento jurídico pátrio não admite a revisão criminal pro
societate.
c) Prolação de sentença: nos termos do art. 282, § 2º, do Código de Processo Civil
(CPC), aplicado analogicamente ao processo penal (art. 3º do CPP), “Quando puder
decidir o mérito a favor da parte a quem aproveite a decretação da nulidade, o juiz não
a pronunciará nem mandará repetir o ato ou suprir-lhe a falta.”.
Dessa forma, entende-se que a decisão de mérito em favor do prejudicado pela prática
de um ato processual inválido é considerada um fato novo, de modo a afastar o
retrocesso do processo, já que a sua finalidade foi alcançada: decidir o mérito.
É nesse sentido o teor do art. 568 do CPP, que prevê que a nulidade por ilegitimidade
do representante da parte poderá ser a todo tempo sanada, mediante ratificação dos
atos processuais.
g) Renovação: caso um ato processual não respeite a fórmula legal, será possível o seu
refazimento, agora se observando o devido modelo previsto no ordenamento. Exemplo:
a rejeição da denúncia por vício formal (art. 395 do CPP) autoriza que a acusação
recorra (art. 581, I, do CPP) ou, então, poderá ser oferecida uma nova inicial
acusatória, agora respeitando-se as exigências legais e afastando os vícios outrora
existentes.
b) Ato inexistente: o ato inexistente é aquele que, porque possui um vício de tamanha
gravidade, nem chega a ingressar no mundo jurídico, por não reunir elementos para
existir. Assim, nem mesmo é necessária uma decisão que o reconheça como inexistente.
É o chamado “não ato”. Como exemplos poderiam ser lembrados a sentença sem
assinatura do juiz, que não passa de um mero pedaço ou aquela proferida por um juiz
absolutamente incompetente (CUNHA, 2020).
O prejuízo que a nulidade absoluta gera é presumido, o que não significa que ele não
A lei presume que, em dada situação, o ato causa um prejuízo, mas, mesmo assim, a
parte precisará demonstrar, de fato e concretamente, o prejuízo que sofreu, cabendo ao
juiz a aferição da nulidade alegada.
5. Nulidades em espécie
O art. 564 do CPP traz um rol exemplificativo, no qual o legislador elenca diversas
causas de nulidades, ora de natureza absoluta, ora de natureza relativa.
5.1. Incompetência
Trata-se de vício de validade, não de existência, já que o juízo possui jurisdição (o juízo
está investido corretamente na função judicante), apenas existe irregularidade quanto à
sua competência. Caso se tratasse de decisão proferida por pessoa sem estar investida
na judicatura, aí, sim, ter-se-ia a inexistência do ato processual. De acordo com Fábio
Roque e Klaus Costa (2018), é preciso diferenciar os diversos tipos de incompetência:
Como dispõe o art. 567 do CPP, “A incompetência do juízo anula somente os atos
decisórios, devendo o processo, quando for declarada a nulidade, ser remetido ao juiz
competente.”.
5.2. Suspeição
A suspeição é uma causa que gera a parcialidade subjetiva do julgador, gerando uma
nulidade absoluta, justamente por demonstrar que o juiz não é isento para julgar. As
hipóteses de suspeição estão previstas no art. 254 do CPP.
No impedimento, retira-se do juiz sua jurisdição, de modo que os atos praticados serão
considerados inexistentes, tanto que o art. 252 do CPP assevera que “O juiz não poderá
exercer jurisdição (...)”.
De acordo com o art. 564, I, do CPP, a nulidade também ocorrerá nos casos de suborno
do juiz. Em face da evidente violação ao devido processo legal e à garantia da
imparcialidade do juiz, trata-se de espécie de nulidade absoluta.
A expressão “suborno”, por não ter delimitação técnica e jurídica, abrange a prática
dos crimes funcionais relacionados à corrupção, em sentido amplo, como os crimes de
concussão (art. 316 do Código Penal – CP), corrupção passiva (art. 317 do CP) e
prevaricação (art. 319 do CP).
Logo, a expressão suborno não abrange apenas a chamada “propina”, ou seja, não tem
apenas natureza monetária, abrangendo também qualquer vantagem que o juiz receba
em proveito próprio ou alheio, tais como um emprego a um parente, favores sexuais
etc.
Quanto à legitimidade ativa no processo penal, temos que, nas hipóteses de ação penal
pública, por força do art. 129, I, da CF/1988, o titular da ação penal será o Ministério
Público; nas hipóteses de ação penal de iniciativa privada, será legitimado a agir o
ofendido ou seu representante legal (art. 30 do CPP).
Por outro lado, em se tratando de crime de ação penal pública, não se pode admitir o
oferecimento de queixa-crime pelo ofendido ou por seu representante legal, salvo se
caracterizada a inércia do órgão ministerial, hipótese em que a própria CF/1988
ressalva o cabimento da ação penal privada subsidiária da pública (art. 5º, LIX, da
CF/1988).
É o que ocorre com um ofendido menor de 18 anos, que não tem capacidade processual
para oferecer queixa-crime, razão pela qual tem sua incapacidade suprida por seu
representante legal.
O CPP enumera alguns casos em que haverá nulidade por típico vício formal, relativo
ao desrespeito ao modelo legal.
O disposto no art. 564, III, “a”, do CPP, prevê que haverá nulidade pela falta das
fórmulas ou dos termos seguintes, tais como “a denúncia ou a queixa e a representação
e, nos processos de contravenções penais, a portaria ou o auto de prisão em flagrante;”
Essa segunda parte não foi recepcionada pela CF/1988, considerando que não mais
existe o chamado processo judicialiforme, que autorizava o início de um processo penal
simplesmente por meio de prisão em flagrante ou portaria do delegado de polícia,
independentemente da apresentação de uma inicial acusatória formal pelo Ministério
Público ou pelo querelante.
A nulidade absoluta a que se refere o art. 564, III, “a”, do CPP, ocorrerá apenas na
hipótese de ausência das peças processuais aí elencadas. Quando tais peças, embora
presentes, não preencherem os requisitos legais, deve ser aplicado o disposto no art.
564, IV, do CPP, que se refere à omissão de formalidade que constitua elemento
essencial do ato.
De acordo com Fábio Roque e Klaus Costa (2018), acrescente-se a essas hipóteses, a
requisição do Ministro da Justiça, que não consta do texto legal, tendo em vista que se
trata de uma condição de procedibilidade, ao lado da representação.
De acordo com o art. 158 do CPP, “Quando a infração deixar vestígios, será
indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a
confissão do acusado”.
De acordo com Renato Brasileiro (2019, p. 1650), convém destacar que, “ainda que não
conste dos autos exame de corpo de delito direto, é possível não só o oferecimento de
denúncia, como também a própria condenação do acusado, desde que a materialidade
do delito esteja evidenciada através de outro meio de prova”.
Com efeito, segundo o art. 167 do CPP, “Não sendo possível o exame de corpo de delito,
por haverem desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta”.
Por isso, se houver prova testemunhal robusta e coesa, afirmando ter presenciado o
crime ou visto os vestígios, será suficiente para suprir o exame direto.
Pelo contrário, poderá o juiz receber a peça inicial acusatória, inclusive, podendo
condenar o agente com base no conjunto probatório constante dos autos. Assim, se
houver, por exemplo, prova testemunhal confirmando o delito, a ausência de exame de
corpo de delito não será apta a gerar nulidade.
Nesse sentido, portanto, haverá nulidade absoluta caso tramite um processo sem
defensor constituído pelo acusado ou sem que o juiz nomeie um defensor dativo, por
grave afronta à ampla defesa (STJ, HC nº 357.515/ES, rel. Min. Maria Thereza de Assis
Moura, j. 18.10.2016).
Aliás, dispõe a Súmula nº 523 do STF que, “No processo penal, a falta da defesa
constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de
prejuízo para o réu.”.
Somente caso não o faça, deve ser nomeado advogado dativo (ou remetidos os autos à
Lembre-se, ainda, que o STJ recentemente se pronunciou sobre o tema: “Não afronta o
princípio da inércia da jurisdição a decisão do Juízo penal que determina seja designado
Defensor Público para réu hipossuficiente economicamente, sem sua prévia
solicitação. Isso porque o dever do magistrado de zelar pela regularidade do
andamento do processo, com o fim de evitar nulidade processual, manifesta-se de
forma maias destacada no bojo do processo penal, quando voltado para a verificação da
efetiva obediência às garantias constitucionais do devido processo legal substantivo e
do direito ao contraditório e à ampla defesa do réu que não está devidamente
representado e/ou não tem condições financeiras de constituir um patrono” (RMS nº
59.413-DF, 5ª Turma, rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 07.05.2019 –
grifos nossos).
De igual modo, eventual discordância entre a atuação dos operadores do Direito – como
o advogado dativo anterior e o defensor público atual – deve ser resolvida do âmbito de
suas corregedorias, não havendo que se falar em nulidade (STJ, RMS nº 49.902/PR, rel.
Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 18.05.2017).
Quanto à parte final do art. 564, III, “c”, do CPP, convém lembrar que não há mais
necessidade de nomeação de curador para o indiciado menor de 21 anos. Isso se dá
porque, por força do Código Civil – CC (art. 5º), a menoridade cessa aos 18 anos
completos.
Ademais, o art. 194 do CPP, que previa a necessidade de nomeação de curador para o
menor de 21 anos por ocasião do interrogatório judicial, foi revogado pela Lei nº
10.792/2003.
Segundo o art. 564, III, “d”, do CPP, haverá nulidade no caso de não intervenção do
Ministério Público em todos os termos da ação por ele intentada e naqueles da
intentada pela parte ofendida, quando se tratar de crime de ação pública. O dispositivo
De acordo com Fábio Roque e Klaus Costa, será preciso verificar o caso concreto, se o
Ministério Público não comparece à audiência, mas o querelante exerce plenamente a
função acusatória, não haverá nulidade, por outro lado, se o querelante não
comparecer, haverá nulidade, haja vista que, nos casos de inércia do querelante, cabe
ao Ministério Público retomar a ação como parte principal, conforme o art. 29 do CPP
(COSTA; ARAÚJO, 2018, p. 1126).
De acordo com o art. 564, III, “e”, do CPP, a nulidade ocorrerá por falta de citação do
acusado, de interrogatório, quando presente, e de prazos concedidos à acusação e à
defesa. O dispositivo cuida de três possíveis situações:
Haverá, portanto, nulidade absoluta. Todavia, se, mesmo com o vício de citação, o
acusado tomou conhecimento do processo e compareceu aos autos, não haverá
nulidade, conforme o art. 570 do CPP.
Conforme o STJ, ainda que o réu tenha constituído advogado antes do oferecimento da
denúncia (para acompanhar o inquérito policial, por exemplo), é nula a ação penal que
o condenou sem sua citação, ainda mais estando ausentes provas de que o réu tomou
conhecimento efetivo da denúncia oferecida (REsp. nº 1.580.435/GO, rel. Min. Rogerio
Schitti Cruz, j. 17.03.2016).
Pode ocorrer que o juiz designe o interrogatório e o réu opte por não comparecer;
entretanto, tempos depois, o acusado requeira ao juiz que seja interrogado. Nesse caso,
entende-se que o juiz não estará obrigado a designar uma nova data para que o
interrogatório seja feito (STJ, HC nº 108.939/PI, rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j.
15.03.2012).
f) Pronúncia
A previsão do art. 564, III, “f”, do CPP, na sua segunda parte, referente ao libelo, não
mais subsiste, diante da sua extinção pela Lei nº 11.689/2008, o que acaba por reforçar
a importância da pronúncia, que delimitará a acusação em plenário.
Ponto a ser observado, principalmente, nas provas de defensoria pública diz respeito ao
momento de se arguir as nulidades existentes na decisão de pronúncia. Nesse sentido,
é a orientação firmada na Tese nº 15 do Enunciado nº 69 do STJ: “15) As nulidades
existentes na decisão de pronúncia devem ser arguidas no momento oportuno e por
meio do recurso próprio, sob pena de preclusão”.
A previsão do art. 564, III, “g”, do CPP, dispõe que haverá nulidade diante da falta de “a
intimação do réu para a sessão de julgamento, pelo Tribunal do Júri, quando a lei não
permitir o julgamento à revelia;”.
Art. 457. O julgamento não será adiado pelo não comparecimento do acusado solto, do
assistente ou do advogado do querelante, que tiver sido regularmente intimado.
§ 2º Se o acusado preso não for conduzido, o julgamento será adiado para o primeiro
dia desimpedido da mesma reunião, salvo se houver pedido de dispensa de
comparecimento subscrito por ele e seu defensor.
Prevê o art. 564, III, “h”, do CPP, que haverá nulidade em razão da ausência de “a
intimação das testemunhas arroladas no libelo e na contrariedade, nos termos
estabelecidos pela lei; (...)”.
Como sabido, não existe mais o libelo, diante da reforma processual promovida pela Lei
nº 11.689/2008. Por isso, o dispositivo deve ser reinterpretado.
O momento para se arrolar testemunhas do plenário está previsto no art. 422 do CPP,
que é com a intimação, pelo juiz, da defesa e da acusação para, em cinco dias,
apresentarem rol de testemunhas, requererem diligências e juntarem documentos.
Havendo ou não cláusula de imprescindibilidade (art. 461, caput, do CPP), as
testemunhas devem – sempre – ser intimadas, sob pena de nulidade relativa.
Para que o juiz presidente possa declarar instalados os trabalhos no Tribunal do Júri,
anunciando o processo que será submetido a julgamento, há necessidade da presença
de pelo menos 15 dos 25 jurados convocados, valendo ressaltar que aqueles excluídos
por impedimento ou suspeição são considerados para a constituição do número legal
exigível para a realização da sessão. “Comparecendo, pelo menos, 15 (quinze) jurados,
o juiz presidente declarará instalados os trabalhos, anunciando o processo que será
submetido a julgamento” (art. 463, caput, do CPP).
Se, mesmo que não estejam presentes pelo menos 15 jurados, deliberar o juiz
presidente pela realização da sessão de julgamento, esse ato processual estará
contaminado por nulidade absoluta, nos termos do art. 564, III, “i”, do CPP.
De acordo com o art. 467 do CPP, “Verificando que se encontram na urna as cédulas
relativas aos jurados presentes, o juiz presidente sorteará 7 (sete) dentre eles para a
formação do Conselho de Sentença”.
Destarte, se por acaso o julgamento vier a ser realizado sem que tenha havido prévio
sorteio dos jurados para a composição do Conselho, há de ser declarada a nulidade
absoluta do referido ato.
Importante lembrar que não poderá funcionar no Conselho de Sentença jurado que
participou de julgamento anterior do mesmo processo.
É nesse sentido, aliás, o teor do art. 449, I, do CPP, com redação determinada pela Lei
nº 11.689/2008, segundo o qual “Não poderá servir o jurado que: I – tiver funcionado
em julgamento anterior do mesmo processo, independentemente da causa
determinante do julgamento posterior; (...)”.
Ainda nessa hipótese, considerando que as votações dos jurados são sigilosas, exige-se
a incomunicabilidade dos jurados a respeito dos fatos em julgamento. Em virtude do
“Os quesitos são perguntas formuladas aos jurados para que se pronunciem quanto ao
mérito da acusação” (LIMA, 2019, p. 1661).
Tendo em vista que os jurados permanecem incomunicáveis e que apenas votam “sim”
ou “não”, ou seja, como os jurados não fundamentam seu voto, pois vigora o sigilo das
votações, há necessidade de elaboração de quesitos para que se possa colher, por
maioria de votos, o veredicto do Conselho de Sentença.
Consoante o art. 564, III, “k”, do CPP, haverá nulidade pela falta dos quesitos e de suas
respectivas respostas; e conforme o parágrafo único do art. 564 do CPP, “Ocorrerá
ainda a nulidade, por deficiência dos quesitos ou das suas respostas, e contradição
entre estas.”.
Encerrado os debates, “(...) o presidente lerá os quesitos e indagará das partes se têm
requerimento ou reclamação a fazer, devendo qualquer deles, bem como a decisão,
constar da ata.” (art. 484 do CPP).
Vê-se, então, que o momento oportuno para a parte impugnar algum vício da quesitação
é exatamente após a sua formulação, imediatamente após a leitura e explicações em
plenário (art. 484, parágrafo único, do CPP). Por exemplo: quesito incompreensível,
dúbio, equivocado etc. Assim, trata-se de nulidade relativa, que, se não suscitada nesse
momento, gerará preclusão (STJ, HC nº 342.239/SP, rel. Min. Reynaldo Soares da
Fonseca, j. 18.04.2017).
Neste sentido, a falta de quesito obrigatório não é mera irregularidade, mas causa de
nulidade absoluta e irremediável (STJ, HC nº 232.236/SP, rel. Min. Laurita Vaz, julgado
em 28.05.2013).
Ainda no que se refere à quesitação, afirma a Súmula nº 162 do STF que “é absoluta a
nulidade do julgamento pelo júri, quando os quesitos da defesa não precedem aos das
circunstâncias agravantes”.
Por outro lado, tratando-se de ação penal privada subsidiária da pública, a ausência do
advogado do querelante é tida como desídia, ensejando a retomada da ação penal pelo
Ministério Público, conforme dispõe o art. 29 do CPP.
Já o Ministério Público, como sabido, não pode abandonar ou desistir da ação penal em
curso (art. 42 do CPP). Embora tenha independência funcional (art. 127, § 1º, da
CF/1988), ele deve estar sempre presente e bem exercer a sua função. A ausência do
Ministério Público gera nulidade absoluta.
m) Sentença
Dispõe o art. 564, III, “m”, do CPP, que haverá nulidade absoluta se ausente sentença
no processo. Não se trata de ausência de requisitos da sentença, pois nesse caso será a
hipótese do art. 564, IV, do CPP (omissão de formalidades); trata-se, literalmente, da
ausência de sentença no processo (AVENA, 2017).
Embora pareça praticamente impossível essa hipótese, Klaus Costa e Fábio Roque
Araújo (2018, p. 1130) afirma que “poderá ocorrer, por exemplo, em casos de engado
do juiz, que determina o arquivamento de um processo ao invés de sentenciá-lo,
confundindo-se em razão da pluralidade de ações contra o mesmo réu”.
n) Recurso de ofício
Quanto ao recurso de ofício, é sabido que o art. 574, caput, primeira parte, do CPP
estabelece a voluntariedade como regra geral dos recursos. Essa regra, todavia, é
excepcionada pelo próprio dispositivo, que prevê situações de reexame necessário, ou
seja, hipóteses em que, ainda que não haja a interposição de recurso voluntário pelas
partes, deverá o juízo prolator da decisão submeter sua decisão à revisão pelo Tribunal
competente.
De acordo com Renato Brasileiro (2019), o reexame necessário só pode ser conceituado
como recurso de forma imprópria, porquanto falta a ele o pressuposto básico da
voluntariedade.
Por isso, o recurso de ofício é tratado como condição necessária à preclusão ou trânsito
em julgado de uma decisão ou sentença. Assim, enquanto o Tribunal não reexaminar e
confirmar a decisão, não ocorrerá sua preclusão ou trânsito em julgado.
O recurso de ofício funciona, portanto, como providência imposta por lei para que se
aperfeiçoe a preclusão ou o trânsito em julgado de determinadas decisões judiciais.
Nessa linha, como prevê a Súmula nº 423 do STF, “não transita em julgado a sentença
por haver omitido o recurso ex officio, que se considera interposto ex lege”.
A falta do recurso de ofício (reexame necessário), nos casos em que a lei o tenha
estabelecido, figura como causa de nulidade absoluta, nos termos do art. 564, III, “n”,
do CPP.
Nos exatos termos do art. 564, III, “o”, do CPP, haverá nulidade na falta de “intimação,
nas condições estabelecidas pela lei, para ciência de sentenças e despachos de que
caiba recurso”.
Daí a natural preocupação do CPP e da legislação especial com a comunicação dos atos
processuais, isto é, com a forma pela qual os sujeitos do processo são informados sobre
os acontecimentos sucedidos ao longo de toda a marcha procedimental.
A falta de intimação acerca de decisão recorrível gera nulidade absoluta, por ferir o
contraditório e a ampla defesa, nos moldes do art. 564, III, “o”, do CPP. Se a decisão
houver transitado em julgado, deverá ser invalidada, com a consequente reabertura de
prazo para que a parte possa recorrer (STJ, HC nº 106.042/PR, rel. Min. Jorge Mussi, j.
07.10.2008).
Por fim, consoante o STF, não há nulidade no julgamento de apelação interposta pelo
Ministério Público se a defesa, intimada, não apresentou contrarrazões, não devendo se
falar em cerceamento de defesa (RHC nº 133.121/DF, rel. p/ acórdão Min. Edson
Fachin, julgado em 02.08.2016).
O quórum para julgamento é o número de julgadores que devem estar presentes para
que o julgamento possa ser realizado. Logo, cada tribunal terá o seu número, já que a
formação é colegiada, como Turmas, Câmaras, Seções e Plenário.
Outra nulidade cominada no CPP diz respeito à omissão de formalidade que constitua
elemento essencial do ato (art. 564, IV, do CPP). Norberto Avena (2017) ensina que
“formalidades essenciais” compreendem todas aquelas sem as quais o ato processual
não pode ser realizado válida e eficazmente.
O art. 572 do CPP dispõe que será considerada sanada essa nulidade se (a) não for
arguida, em tempo oportuno, de acordo com o disposto no artigo anterior; ou se (b) o
ato for praticado de outra forma e tiver atingido sua finalidade, ou, ainda, se (c) a parte
aceitar, ainda que tacitamente, seus efeitos.
De acordo com Fábio Roque e Klaus Costa (2018, p. 1132), a omissão de elementos
essenciais pode gerar nulidade absoluta, relativa ou até mesmo inexistência do ato:
a) a testemunha de fora da terra será inquirida no juízo de sua residência, por meio de
carta precatória; as partes devem ser intimadas a respeito da expedição da carta,
conforme o art. 222 do CPP. De acordo com a Súmula nº 155 do STF, “É relativa a
nulidade do processo criminal por falta de intimação da expedição de precatória para
inquirição de testemunha”. Ou seja, a intimação é um ato essencial da expedição da
carta precatória, mas a jurisprudência entende que a sua falta gerará nulidade apenas
relativa, devendo ser comprovado prejuízo oportunamente.
Como o inquérito policial é mera peça informativa, eventuais vícios dele constantes não
têm o condão de contaminar o processo penal a que der origem. Tendo em vista a sua
natureza de procedimento investigatório prévio, o vício existente no inquérito policial
não acarreta a nulidade da ação penal futura (COSTA; ARAÚJO, 2018). É a regra. Nesse
sentido é a Tese nº 2 do Enunciado nº 69 do STJ: “2) As nulidades surgidas no curso da
investigação preliminar não atingem a ação penal dela decorrente”.
Assim, por exemplo, um auto de prisão em flagrante irregular pode acarretar apenas o
relaxamento da prisão, mas não a nulidade da ação penal ulterior. Conforme o STJ, as
nulidades surgidas no curso da investigação preliminar não atingem a ação penal dela
decorrente (RHC nº 71.442/MT, rel. Min. Antônio Saldanha Palheiros, j. 18.08.2016).
Logicamente, caso uma determinada prova tenha sido produzida com violação a normas
de direito material, há de ser reconhecida sua ilicitude (art. 5º, LVI, da CF/1988), com o
Isso, todavia, não significa dizer que todo o inquérito será considerado nulo. Afinal, é
possível que constem da investigação policial elementos de informação que não foram
contaminados pela ilicitude originária (teoria da fonte independente).
Imagine, por exemplo, uma interceptação telefônica realizada pelo delegado de polícia,
com autorização judicial, oriunda de uma denúncia anônima e sem ser precedida de
investigações iniciais básicas para, no mínimo, se buscar coletar maiores informações
antes de se iniciar a interceptação.
Há clara nulidade desse meio de prova, inclusive atingindo outros atos com ele
relacionados (STJ, HC nº 204.778/SP, rel. Min. Og Fernandes, j. 04.10.2012) ao receber
a denúncia anônima, o delegado deveria, antes de tudo, adotar procedimentos iniciais
de investigação para apurar o fato e, somente depois disso, se for o caso, instaurar
inquérito; e, apenas se esgotadas as diligências ordinárias, seria o caso de representar
por uma interceptação telefônica (art. 2º, II, da Lei nº 9.296/1996).
1ª) Nos casos de recurso de ofício, o tribunal pode reconhecer qualquer nulidade, ainda
que desfavorável ao acusado. Isso se dá porque, nesses casos, se devolve ao tribunal a
integralidade do conhecimento da matéria.
3ª) Se a nulidade, contrária aos interesses do acusado, não foi arguida pela acusação, o
tribunal jamais poderia declará-la.