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TEMAS

PARA DEFENSORIA ESTADUAL

DIREITO PROCESSUAL PENAL

Teoria das nulidades no processo penal e atuação da


defensoria pública

1. Conceito de nulidade

Nulidade é a sanção aplicada pelo juiz em razão da verificação de um ato processual


defeituoso. A sua imposição terá lugar toda vez que o desatendimento de norma
processual penal cause prejuízo a direito das partes ou quando haja presunção legal de
tal prejuízo por se cuidar de formalidade essencial (TÁVORA; ALENCAR, 2019).

Em outras palavras, é o vício processual decorrente da inobservância de determina


exigência legal. Ou seja, a lei prevê a forma pela qual deva ser praticado um ato e,
apesar disso, o ato é perpetrado de maneira diversa, contrariamente aos seus termos
(CUNHA, 2020).

2. Sistema das nulidades

Um sistema é um conjunto de elementos que, interagindo com teorias e normas, forma


um conceito e determina a aplicabilidade de um dado instituto – aqui, no caso, das
nulidades (COSTA; ARAÚJO, 2018). Paulo Rangel (2012) destaca três sistemas a
respeito das nulidades:

a) Sistema da certeza legal (ou sistema francês): também chamado de sistema da


legalidade das formas ou legalista, o ordenamento legal estabelece, expressamente, em
quais casos haverá nulidade, não tendo o juiz margem de liberdade alguma. Observa-se
um rigorismo excessivo, pois, é impossível ao legislador antever, de forma abstrata,

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todas as possíveis e imagináveis situações de invalidade de um ato processual.

O Código de Processo Penal (CPP) apresenta resquício desse sistema, como se verifica
na redação do art. 564.

Art. 564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:

I – por incompetência, suspeição ou suborno do juiz;

II – por ilegitimidade de parte;

III – por falta das fórmulas ou dos termos seguintes:

a) a denúncia ou a queixa e a representação e, nos processos de contravenções penais,


a portaria ou o auto de prisão em flagrante;

b) o exame do corpo de delito nos crimes que deixam vestígios, ressalvado o disposto
no Art. 167;

c) a nomeação de defensor ao réu presente, que o não tiver, ou ao ausente, e de curador


ao menor de 21 anos;

d) a intervenção do Ministério Público em todos os termos da ação por ele intentada e


nos da intentada pela parte ofendida, quando se tratar de crime de ação pública;

e) a citação do réu para ver-se processar, o seu interrogatório, quando presente, e os


prazos concedidos à acusação e à defesa;

f) a sentença de pronúncia, o libelo e a entrega da respectiva cópia, com o rol de


testemunhas, nos processos perante o Tribunal do Júri;

g) a intimação do réu para a sessão de julgamento, pelo Tribunal do Júri, quando a lei
não permitir o julgamento à revelia;

h) a intimação das testemunhas arroladas no libelo e na contrariedade, nos termos


estabelecidos pela lei;

i) a presença pelo menos de 15 jurados para a constituição do júri;

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j) o sorteio dos jurados do conselho de sentença em número legal e sua
incomunicabilidade;

k) os quesitos e as respectivas respostas;

l) a acusação e a defesa, na sessão de julgamento;

m) a sentença;

n) o recurso de oficio, nos casos em que a lei o tenha estabelecido;

o) a intimação, nas condições estabelecidas pela lei, para ciência de sentenças e


despachos de que caiba recurso;

p) no Supremo Tribunal Federal e nos Tribunais de Apelação, o quórum legal para o


julgamento;

IV – por omissão de formalidade que constitua elemento essencial do ato.

V – em decorrência de decisão carente de fundamentação. (Incluído pela Lei nº


13.964, de 2019.)

Parágrafo único. Ocorrerá ainda a nulidade, por deficiência dos quesitos ou das suas
respostas, e contradição entre estas. (Incluído pela Lei nº 263, de 23.02.1948.) (Grifos
nossos.)

b) Sistema da instrumentalidade das formas (ou sistema eclético): as formas


previstas na lei para se praticar um ato são instrumentais, ou seja, um meio para se
atingir um fim, e não um fim em si mesmas. Logo, pratica-se um ato (um instrumento,
um meio) para se atingir um fim (a prestação jurisdicional). Um ato processual não
existe por si só, mas, sim, como instrumento do processo.

O juiz avaliará se o ato praticado, antes de ser invalidado, atingiu a sua finalidade.
Então, o julgador possui liberdade para decidir se o ato inválido deve, ou não, ser
invalidado, conforme tenha ou não atingido a sua finalidade e influenciado na verdade
ou na decisão da causa. Sua previsão é encontrada no art. 566 do CPP que orienta: “Art.
566. Não será declarada a nulidade de ato processual que não houver influído na
apuração da verdade substancial ou na decisão da causa.”

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Fazendo novamente uma correlação com os sistemas das provas, este sistema possui
ligação com o sistema do livre convencimento motivado. Nos ensinamentos de Paulo
Rangel (2012), “o juiz tem liberdade de perquirir se, efetivamente, ocorreu o vício que
autoriza a sanção de nulidade”.

Conforme o Superior Tribunal de Justiça (STJ), “os ordenamentos jurídicos modernos,


no que tange à decretação das nulidades, evoluíram do sistema da legalidade das
formas para o sistema da instrumentalidade das formas, cabendo ao magistrado a
análise acerca da finalidade atingida, bem como do prejuízo eventualmente causado
para retirar ou não a eficácia do ato atípico” (RHC nº 73.322/SP, rel. Min. Antônio
Saldanha Palheiro, j. 04.05.2017).

c) Sistema misto (ou sistema da equidade): “faz uma menção genérica à nulidade,
sem indicar em quais casos concretos ela se verificaria, dando ensejo ao risco
decorrente da vasta possibilidade de interpretação da norma” (CUNHA, 2020). Nestor
Távora e Rosmar Rodrigues (2019) sustentam que o sistema brasileiro é o misto,
adotando-se tanto o sistema da certeza legal quanto a instrumentalidade das formas,
permitindo-se que o juiz analise as prescrições legais e investigue a influência da
nulidade nos resultados dos autos.

Indaga-se: Qual é o sistema adotado pelo Brasil?

Paulo Rangel (2012) reafirma que o sistema brasileiro é o da instrumentalidade das


formas, havendo somente resquícios do sistema da certeza legal (tal como ocorre com
as provas, em que se adota o livre convencimento motivado, havendo apenas resquícios
de prova tarifada).

Tem razão o autor, já que, mesmo nos casos em que a lei processual prevê uma
nulidade grave, como a absoluta, o juiz poderá deixar de anular o ato caso ele atinja a
sua finalidade, que é a sua razão de existir. Por isso, adota-se plenamente a
instrumentalidade das formas.

Importante, é o esclarecimento de Rogério Sanches Cunha:

(...) o nosso Código adotou um sistema eclético ou instrumentalidade das


formas ou sistema da finalidade, no qual não se esmiúçam todas as
causas de nulidade, mas ao contrário, se elenca um mínimo de situações,
verdadeiramente relevantes, na qual ela pode se configurar. E, tampouco,
se deixa um campo aberto, propiciado por uma norma genérica e de

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conteúdo indefinido, capaz de dar margem a toda espécie de
interpretação e a propiciar o arbítrio do juiz, em franco prejuízo ao bom
andamento do feito (CUNHA, 2020).

3. Princípios aplicados às nulidades

O estudo das nulidades exige o conhecimento de princípios básicos que servirão de


norte à interpretação de uma possível nulidade, seja reconhecendo-a, seja afastando-a.

3.1. Princípio da tipicidade das formas

Em regra, todo ato processual tem sua forma prescrita em lei, cuja inobservância pode
dar ensejo à decretação de sua nulidade.

A tipicidade das formas corresponde à ideia de que o ato processual deve ser praticado
em consonância com a Constituição Federal de 1988 (CF/1988) e com as leis
processuais penais, assegurando-se, assim, não somente às partes como a toda a
coletividade a existência de um processo penal justo e em consonância com o devido
processo legal.

De todo modo, nem toda inobservância da forma prescrita em lei é capaz de acarretar a
invalidação do ato processual. De fato, a depender do ato processual viciado e do grau
do vício, o ordenamento jurídico pode simplesmente desprezar a irregularidade
cometida, impor uma mera consequência extraprocessual, sujeitá-lo à declaração de
sua ineficácia, ou considerá-lo inexistente.

3.2. Princípio do prejuízo

O princípio do prejuízo também é chamado de pas de nullité sans grief, ou seja, se não
há nulidade/prejuízo, não haverá reclamação possível de ser feita. É a inteligência do
art. 563 do CPP: “Art. 563. Nenhum ato será declarado nulo, se dá nulidade não
resultar prejuízo para a acusação ou para a defesa.”

A tipicidade prevê um molde legal dentro do qual o ato processual deve ser praticado;
além disso, esse molde não é um fim em si mesmo, ou seja, ele apenas existe para que o
Direito seja bem e corretamente aplicado, isto é, sua existência está vinculada ao
atingimento de uma finalidade legal.

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Outro dispositivo legal que versa sobre o princípio do prejuízo é o art. 566 do CPP, por
força do qual “Não será declarada a nulidade de ato processual que não houver influído
na apuração da verdade substancial ou na decisão da causa.”

Ora, se o ato viciado é absolutamente inofensivo, incapaz de prejudicar a formação do


convencimento judicial, não há motivo para o reconhecimento de sua nulidade.

É o que ocorre, a título de exemplo, com a inversão da ordem de oitiva das


testemunhas. A inobservância da ordem de inquirição das testemunhas gera nulidade,
mas relativa, ou seja, exige-se a demonstração do prejuízo (STJ, AgRg no REsp. nº
1.653.371/SP, rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 04.05.2017).

Na mesma linha, segundo o art. 572, II, do CPP: “As nulidades previstas no art. 564, III,
‘d’ e ‘e’, segunda parte, ‘g’ e ‘h’, e IV, considerar-se-ão sanadas: se, praticado por outra
forma, o ato tiver atingido o seu fim; 9...)”.

O dispositivo deixa entrever que, inobstante o vício constante do ato processual, não há
motivo para se declarar a nulidade se sua finalidade tiver sido atingida, ou seja, se não
tiver acarretado qualquer prejuízo às partes.

Ainda sobre o princípio do prejuízo, a Lei nº 9.099/1995, que versa sobre os Juizados
Especiais Criminais, prevê em seu art. 65, caput, que “Os atos processuais serão
válidos sempre que preencherem as finalidades para as quais foram realizados,
atendidos os critérios indicados no art. 62 desta Lei”, quais sejam, oralidade,
simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade.

O princípio do prejuízo é aplicável tanto às nulidades absolutas quanto às relativas.


Enquanto o prejuízo é presumido na nulidade absoluta, deve ser comprovado na
nulidade relativa.

Como bem assentou o STJ, “A jurisprudência desta Corte Superior é firme em assinalar
que o reconhecimento de nulidade, relativa ou absoluta, exige a indicação em tempo
oportuno e a demonstração do prejuízo, a teor do art. 563 do Código de Processo Penal
(STJ, AgRg no AREsp. nº 699.468/PR, rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 16.05.2017)”.

Assim, o princípio pas de nullité sans grief se aplica tanto à nulidade relativa quanto à
absoluta, já que ambas exigem comprovação de prejuízo para que se declare uma
nulidade (STJ, RHC nº 76.777/PR, rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j.
13.12.2016) (COSTA; ARAÚJO, 2018).

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No mesmo sentido entende o Supremo Tribunal Federal (STF), ao fixar que, “além da
arguição opportune tempore da suposta nulidade, seja ela relativa ou absoluta, a
demonstração de prejuízo concreto é igualmente essencial para seu reconhecimento, de
acordo com o princípio do pas de nullité sans grief, presente no art. 563 do Código de
Processo Penal” (STF, RHC nº 138.752/PB, rel. Min. Dias Toffoli, j. 04.04.2017).

Nos mesmos moldes do decidido pelo STJ, “a demonstração do prejuízo é essencial à


alegação de nulidade, seja absoluta e relativa. Dessa forma, ante a presunção de
validade e legitimidade dos atos praticados por funcionários públicos, compete à defesa
demonstrar, de forma concreta, o descumprimento das formalidades leais e essenciais
do ato, e, no caso especificamente julgado pela Corte, que o material apreendido e
eventualmente não lacrado foi corrompido ou adulterado, de forma a causar prejuízo à
defesa e modificar o conteúdo da prova colhida. Como complemento, a ausência de
lacre em todos os documentos e bens apreendidos não torna automaticamente ilegítima
a prova obtida” (RHC nº 59.414/SP, rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j.
27.06.2017).

3.3. Princípio da instrumentalidade das formas

De acordo com Fábio Roque (2018), é também chamado de princípio da finalidade.

Conforme Grinover, Gomes Filho e Fernandes (2001), entende-se que uma forma legal é
tão somente um instrumento para que o ato atinja o seu objetivo, que é a correta
aplicação do Direito.

Assim, o desrespeito a uma formalidade legal só levará ao reconhecimento de nulidade


do ato se essa própria finalidade pela qual a forma foi instruída estiver comprometida
pelo vício, ou seja, se, ainda que não obedecida a fórmula legal, o ato atingiu a sua
finalidade (aplicação do Direito), não haverá que se falar em nulidade (STJ, HC nº
348.540/SP, rel. Min. Riberio Dantas, j. 04.05.2017).

O exemplo mais conhecido é o da citação irregular, conforme previsto no art. 570 do


CPP. Dessa forma, apesar da invalidade do ato (ausência de citação, por exemplo), se o
agente comparecer ao processo, constituindo advogado e apresentando resposta
escrita, o ato citatório atingiu o seu fim, que é dar conhecimento da ação penal ao
acusado.

Logo, não haverá razão para se anular os atos do processo apenas por falta de citação
se o objeto desta foi alcançado, inclusive com a aparição pessoal do réu nos autos como

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defensor próprio constituído.

Art. 570. A falta ou a nulidade da citação, da intimação ou notificação estará sanada,


desde que o interessado compareça, antes de o ato consumar-se, embora declare que o
faz para o único fim de argui-la. O juiz ordenará, todavia, a suspensão ou o adiamento
do ato, quando reconhecer que a irregularidade poderá prejudicar direito da parte.

Outra previsão está contida no art. 572, II, do CPP, ao dispor, por exemplo, que haverá
nulidade por falta de intimação da testemunha, que, todavia, estará sanada se,
praticada de outra forma, atingir o seu objetivo.

3.4. Princípio da eficácia dos atos processuais

No direito privado, um ato nulo não produz quaisquer efeitos. Em outras palavras, a
nulidade é automática, ou seja, não há necessidade de prévia decisão judicial
declarando-a expressamente.

Em sentido diverso, no direito processual, a inobservância da forma prescrita em lei


pode levar ao reconhecimento da ineficácia do ato processual.

A isso se denomina princípio da eficácia dos atos processuais, no sentido de que a


nulidade dos atos processuais não é automática, estando seu reconhecimento
condicionado à existência de um pronunciamento judicial no qual seja aferida não
apenas a atipicidade do ato, como também a não consecução de sua finalidade e a
causação de prejuízo às partes (LIMA, 2019).

3.5. Princípio da causalidade (efeito expansivo)

Nos termos do art. 573, § 1º, do CPP, “A nulidade de um ato, uma vez declarada,
causará a dos atos que dele diretamente dependam ou sejam consequência.”. Então, “O
juiz que pronunciar a nulidade declarará os atos a que ela se estende.” (§ 2º).

O também chamado efeito expansivo das nulidades (ou princípio da


consequencialidade, da extensão, da derivação ou da contaminação) significa, portanto,
que devem ser também tornados nulos os atos dependentes diretamente ou os
consequentes do ato então anulado (STJ, HC nº 306.764/PE, rel. Min. Felix Fischer,
julgado em 16.06.2016).

É importante destacar que essa relação de dependência não é necessariamente

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cronológica. Em outras palavras, não se pode acreditar que todo e qualquer ato
processual praticado depois daquele ato cuja nulidade foi proclamada terá sido,
inexoravelmente, contaminado pelo vício.

Na verdade, essa dependência é lógica, ou seja, incumbe ao órgão jurisdicional


verificar se há, de fato, efetiva relação de dependência entre o ato anulado e os demais
atos a ele ligados.

Em síntese, somente deverão ser anulados aqueles atos que, não obstante produzidos
validamente em momento posterior, encontram-se afetados pelo vício da nulidade
originária, que a eles se transmite, contaminando-os, por efeito de repercussão causal
(LIMA, 2019).

3.6. Princípio da conservação dos atos processuais


(confinamento da nulidade)

O princípio da conservação dos atos processuais funciona como o reverso do princípio


da causalidade. Por conta desse princípio, estudado no tópico anterior, uma vez
declarada a nulidade de determinado ato processual, os atos processuais que com ele
guardam relação de causalidade também serão contaminados.

Em contrapartida, por força do princípio da conservação dos atos processuais, deve ser
preservada a validade dos atos processuais que não dependam de ato anterior
declarado inválido.

Exemplificando, imagine que, por ocasião do julgamento de apelação interposta contra


sentença condenatória, conclua o tribunal que o regime inicial de cumprimento da pena
fixado pelo juízo a quo não tenha sido devidamente fundamentado.

Se a falta de fundamentação se deu exclusivamente no tocante à fixação do regime, não


há por que se declarar a ineficácia integral da decisão impugnada. Logo, deverá o
tribunal anular a sentença apenas parcialmente, determinando-se o suprimento do
ponto omisso.

Como se percebe, esse princípio da conservação dos atos processuais aplica-se aos atos
complexos. Portanto, a parte inválida de determinado ato processual não prejudica as
outras partes válidas do mesmo ato.

Essa regra, todavia, não se aplica à sessão de julgamento pelo Tribunal do Júri, que é

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indivisível em face da concentração e incomunicabilidade dos jurados. Exemplificando,
se por acaso determinado objeto que não estava nos autos venha a ser exibido aos
jurados, contrariando a regra da juntada prévia de três dias úteis do art. 479, caput, do
CPP, uma vez reconhecida a nulidade do julgamento, esse deve ser refeito desde o
início, evidentemente com a participação de jurados diversos (art. 449, I, do CPP),
sendo inviável o aproveitamento dos atos instrutórios realizados no julgamento
anulado.

3.7. Princípio do interesse

Nenhuma das partes pode arguir nulidade relativa referente à formalidade cuja
observância só interesse à parte contrária (art. 565, parte final, do CPP). Esse princípio
também pode ser extraído do art. 572, III, do CPP, que prevê que as nulidades previstas
no art. 564, III, “d” e “e”, segunda parte, “g” e “h”, e IV, do CPP, considerar-se-ão
sanadas se a parte, ainda que tacitamente, tiver aceito os seus efeitos.

Esse princípio é aplicável apenas às nulidades relativas. Isso acontece porque, em se


tratando de nulidade absoluta, como há, em regra, violação de norma protetiva de
interesse público com status constitucional (exemplo, devido processo legal, ampla
defesa, contraditório), qualquer parte pode fazer a arguição.

Exemplificando, se, por ocasião do julgamento no plenário do júri, o Ministério Público


constatar que o acusado está indefeso, em face da péssima atuação do advogado de
defesa, é evidente que o parquet poderá requerer ao juiz presidente a dissolução do
conselho e a designação de nova data para o julgamento, nos termos do art. 497, V, do
CPP, sem prejuízo de arguir a nulidade absoluta novamente, em preliminar de futura e
eventual apelação, na hipótese de indeferimento do pedido pelo juiz presidente.

Outro exemplo, seria “defensor dativo deve ser intimado pessoalmente, não bastando a
simples publicação pela imprensa; todavia, se o próprio defensor nomeado assinou
termo firmando compromisso de ser intimado pela imprensa, não há que se falar em
nulidade posterior, nos termos do art. 565 do CPP” (STJ, RHC nº 68.886/SP, rel. Min.
Ribeiro Dantas, j. 27.09.2016).

O princípio do interesse também não se aplica ao Ministério Público. Isso se dá porque,


por força do art. 127 da CF/1988, ao Parquet incumbe a defesa da ordem jurídica, do
regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.

Ora, se ao Ministério Público incumbe a defesa da ordem jurídica, aí incluída a

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observância da tipicidade dos atos processuais, assim como a tutela dos interesses
individuais indisponíveis, destacando-se, dentre eles, a liberdade de locomoção, daí por
que pode inclusive pugnar pela absolvição do acusado (art. 385 do CPP), é evidente que
o Parquet tem interesse presumido para pleitear o reconhecimento de nulidade relativa
em favor da defesa, seja quando atua como parte (ação penal pública), seja quando atua
como fiscal da lei (ação penal privada).

3.8. Princípio da convalidação

Por mais que um ato processual tenha um vício, haverá o confronto com outros dois
princípios: o da economia processual e o da instrumentalidade das formas. Não é
porque o ato é atípico, por ter desrespeitado a fórmula legal, que ele será inutilizado e
nada dele poderá ser aproveitado. De acordo com Renato Brasileiro (2019), a palavra
convalidar tem o significado de remover o defeito, remediar a falha, sanear o vício, a
fim de que um ato processual inicialmente imperfeito possa ser considerado válido,
apto a produzir os efeitos legais inerentes ao ato perfeito.

Portanto, em virtude do princípio da convalidação, também conhecido como princípio


do aproveitamento ou da proteção, não se declara a nulidade quando for possível suprir
o defeito.

Tal princípio é aplicado às nulidades relativas, que se convalidam se não alegadas no


momento oportuno e pelo instrumento adequado.

Quanto às nulidades absolutas, em regra, elas não se convalidam nem se sanam, salvo
no caso de nulidade absoluta com consequente trânsito em julgado de sentença
absolutória própria, já que não se admite revisão do julgado benéfico ao acusado em
favor da acusação.

Renato Brasileiro (2019) e Fábio Roque e Klaus Costa (2018) trabalham várias formas
de convalidação de uma nulidade, quais sejam:

a) Preclusão: é a forma mais comum de convalidação, que ocorre quando a parte


perde a oportunidade/momento processual de alegar o vício. Diz respeito às nulidades
relativas, já que, como se sabe, as nulidades absolutas não se convalidam (salvo se for
sentença absolutória própria transitada em julgado, que não poderá ser revista em
prejuízo do acusado).

b) Coisa julgada: a imutabilidade da sentença contra a qual não caibam mais recursos

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alcança também os atos processuais praticados, que estarão protegidos, o que não
deixa de ser uma forma de convalidação.

A coisa julgada funciona como uma causa de saneamento geral, pois a imutabilidade da
decisão alcança as irregularidades não alegadas ou não apreciadas durante a
tramitação do processo. Especial atenção deve ser dispensada, todavia, às nulidades
absolutas em favor da defesa. Isso acontece porque, como visto anteriormente, em face
da existência de instrumentos processuais adequados, as nulidades absolutas em favor
da defesa podem ser arguidas inclusive após o trânsito em julgado de sentença
condenatória e/ou absolutória imprópria, seja por meio de habeas corpus, seja por meio
de revisão criminal.

Destarte, conclui-se que a coisa julgada só funciona como sanativa geral em detrimento
da acusação, visto que o ordenamento jurídico pátrio não admite a revisão criminal pro
societate.

Por isso, a decisão absolutória ou declaratória extintiva da punibilidade transitada em


julgado, ainda que proferida, a título de exemplo, por juízo absolutamente
incompetente e suspeito, não pode ser rescindida, visto que não há instrumento
processual adequado para a impugnação de tal vício.

c) Prolação de sentença: nos termos do art. 282, § 2º, do Código de Processo Civil
(CPC), aplicado analogicamente ao processo penal (art. 3º do CPP), “Quando puder
decidir o mérito a favor da parte a quem aproveite a decretação da nulidade, o juiz não
a pronunciará nem mandará repetir o ato ou suprir-lhe a falta.”.

Dessa forma, entende-se que a decisão de mérito em favor do prejudicado pela prática
de um ato processual inválido é considerada um fato novo, de modo a afastar o
retrocesso do processo, já que a sua finalidade foi alcançada: decidir o mérito.

d) Ratificação: na hipótese de uma queixa-crime ser oferecida por menor de 18 anos,


o vício decorrente da falta de legitimidade processual pode ser convalidado mediante a
ratificação dos atos processuais por seu representante legal.

É nesse sentido o teor do art. 568 do CPP, que prevê que a nulidade por ilegitimidade
do representante da parte poderá ser a todo tempo sanada, mediante ratificação dos
atos processuais.

e) Retificação: através da retificação, uma parte do ato processual defeituoso é

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corrigida. Ou seja, é a correção de um vício, tornando válido o ato parcialmente viciado,
a tempo de produzir seus plenos efeitos, visando à regularidade formal e processual.

f) Substituição: não se trata de um típico ato de convalidação, mas de um ato


substitutivo ao tido por inválido. É o caso previsto no art. 570 do CPP, que dispõe que “A
falta ou a nulidade da citação, da intimação ou notificação estará sanada, desde que o
interessado compareça, antes de o ato consumar-se, embora declare que o faz para o
único fim de argüi-la. O juiz ordenará, todavia, a suspensão ou o adiamento do ato,
quando reconhecer que a irregularidade poderá prejudicar direito da parte.”

g) Renovação: caso um ato processual não respeite a fórmula legal, será possível o seu
refazimento, agora se observando o devido modelo previsto no ordenamento. Exemplo:
a rejeição da denúncia por vício formal (art. 395 do CPP) autoriza que a acusação
recorra (art. 581, I, do CPP) ou, então, poderá ser oferecida uma nova inicial
acusatória, agora respeitando-se as exigências legais e afastando os vícios outrora
existentes.

4. Vícios dos atos e suas consequências processuais

a) Irregularidades: há o desatendimento de uma exigência legal sem maior


relevância. Tal exigência é estabelecida em norma infraconstitucional, traduzindo um
fim em si mesma, ou seja, sem acarretar prejuízo para nenhuma das partes. Portanto,
não anula o ato por mera irregularidade, embora praticado em contrariedade ao que
determina a lei processual.

b) Ato inexistente: o ato inexistente é aquele que, porque possui um vício de tamanha
gravidade, nem chega a ingressar no mundo jurídico, por não reunir elementos para
existir. Assim, nem mesmo é necessária uma decisão que o reconheça como inexistente.
É o chamado “não ato”. Como exemplos poderiam ser lembrados a sentença sem
assinatura do juiz, que não passa de um mero pedaço ou aquela proferida por um juiz
absolutamente incompetente (CUNHA, 2020).

c) Nulidade absoluta: a principal característica da nulidade absoluta é que a sua


declaração interessa à ordem pública, não se tratando de simples interesse individual
da parte. Além disso, o seu reconhecimento independe de provocação, podendo o juiz
agir de ofício e, ainda, a qualquer tempo.

O prejuízo que a nulidade absoluta gera é presumido, o que não significa que ele não

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precisa ser demonstrado. O prejuízo até pode ser presumido, mas ele não é
incondicional; pelo contrário, trata-se de presunção relativa de prejuízo, que exige
demonstração pela parte que alega (STJ, HC nº 392.298/SP, rel. Min. Ribeiro Dantas, j.
18.05.2017).

A lei presume que, em dada situação, o ato causa um prejuízo, mas, mesmo assim, a
parte precisará demonstrar, de fato e concretamente, o prejuízo que sofreu, cabendo ao
juiz a aferição da nulidade alegada.

Conforme o STF, não se declara nulidade processual sem a prova de um efetivo e


vistoso prejuízo, pois nenhum ato será declarado nulo se dessa nulidade não resultar
prejuízo para a acusação ou para defesa (STF, AgRg no RE nº 971.305/SP, rel. Min.
Roberto Barroso, j. 24.02.2017).

Apesar da nulidade absoluta poder ser reconhecida a qualquer momento e grau de


jurisdição, os tribunais superiores reconhecem certa limitação temporal.

O STJ defende que “mesmo se tratando de nulidades absolutas e condições da ação, é


imprescindível o prequestionamento, pois este é exigência indispensável ao
conhecimento do recurso especial, fora do qual não se pode reconhecer sequer matéria
de ordem pública, passível de conhecimento de ofício nas instâncias ordinárias” (AgInt
no AREsp. nº 1.012.701/BA, rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 02.02.2017). O
STF tem o mesmo entendimento (AgRg no RE nº 929.795/PR, rel. Min. Edson Fachin, j.
07.03.2017).

Não obstante a exigência de prequestionamento, nada impede a concessão de ofício de


habeas corpus pelo tribunal, respeitando-se as instâncias ordinárias. Assim, mesmo
havendo uma nulidade absoluta que não foi suscitada nas instâncias ordinárias,
permite-se que, diante de flagrante ilegalidade, se conceda habeas corpus de ofício
(STJ, AgRg no AREsp. nº 820.027/MG, rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca j.
19.04.2016).

Em recente caso, a 2ª Turma do STF entendeu que gera nulidade absoluta a


participação de magistrado em julgamento de caso em que seu pai já havia atuado,
prevista no art. 252, I, do CPP (STF, HC nº 136.015/MG, 2ª Turma., rel. Min. Ricardo
Lewandowski, julgado em 14.05.2019).

c) Nulidade relativa: a nulidade relativa é aquela que atenta contra um interesse


privado da parte, sem repercussão à ordem pública. Exige-se, também, demonstração

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do prejuízo sofrido e, se não arguida oportunamente, gerará preclusão (art. 571 do
CPP) e será convalidada, de modo que o vício será eliminado e o ato tornar-se-á válido,
produzindo plenos efeitos. Nesse ponto, cabe mencionar a orientação firmada na Tese
nº 13 do Enunciado nº 69 do STJ: “13) A falta de comunicação ao acusado sobre o
direito de permanecer em silêncio é causa de nulidade relativa, cujo reconhecimento
depende da comprovação do prejuízo.”

5. Nulidades em espécie

O art. 564 do CPP traz um rol exemplificativo, no qual o legislador elenca diversas
causas de nulidades, ora de natureza absoluta, ora de natureza relativa.

5.1. Incompetência

Trata-se de vício de validade, não de existência, já que o juízo possui jurisdição (o juízo
está investido corretamente na função judicante), apenas existe irregularidade quanto à
sua competência. Caso se tratasse de decisão proferida por pessoa sem estar investida
na judicatura, aí, sim, ter-se-ia a inexistência do ato processual. De acordo com Fábio
Roque e Klaus Costa (2018), é preciso diferenciar os diversos tipos de incompetência:

a) Incompetência em razão da matéria: há ofensa a normas de ordem pública, tal


como a CF/1988, que delimita as competências sobre a competência ratione materiae.
Haverá nulidade absoluta.

b) Incompetência em razão da pessoa: há ofensa a normas de ordem pública, tal


como a CF/1988, que delimita as competências sobre a competência ratione personae.
Haverá nulidade absoluta.

c) Incompetência em razão do local: há ofensa apenas a interesse privado, cujas


regras de competência ratione loci estão previstas na legislação infraconstitucional.
Haverá nulidade relativa, prorrogando-se a competência caso não seja oposta à exceção
do art. 108 do CPP. O reconhecimento da incompetência no processo penal não acarreta
a extinção do processo.

Como dispõe o art. 567 do CPP, “A incompetência do juízo anula somente os atos
decisórios, devendo o processo, quando for declarada a nulidade, ser remetido ao juiz
competente.”.

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Assim, a declaração da incompetência acarretará apenas a remessa dos autos ao órgão
competente, salvo se o magistrado concluir pela incompetência da Justiça brasileira, no
plano internacional, quando então deverá extinguir o processo (LIMA, 2019).

5.2. Suspeição

A suspeição é uma causa que gera a parcialidade subjetiva do julgador, gerando uma
nulidade absoluta, justamente por demonstrar que o juiz não é isento para julgar. As
hipóteses de suspeição estão previstas no art. 254 do CPP.

Importante recordar que a suspeição não se confunde com o impedimento. As causas


de impedimento são circunstâncias objetivas relacionadas a fatos internos ao processo
capazes de prejudicar a imparcialidade do magistrado.

No impedimento, retira-se do juiz sua jurisdição, de modo que os atos praticados serão
considerados inexistentes, tanto que o art. 252 do CPP assevera que “O juiz não poderá
exercer jurisdição (...)”.

Importante nesse ponto, destacar um recente julgado da 2ª Turma do STF: “A


participação de magistrado em julgamento de caso em que seu pai já havia atuado é
causa de nulidade absoluta, prevista no art. 252, I, do CPP” (HC nº 136.015/MG, rel.
Min. Ricardo Lewandowski, Segunda Turma, julgado em 14.05.2019).

5.3. Suborno do juiz

De acordo com o art. 564, I, do CPP, a nulidade também ocorrerá nos casos de suborno
do juiz. Em face da evidente violação ao devido processo legal e à garantia da
imparcialidade do juiz, trata-se de espécie de nulidade absoluta.

A expressão “suborno”, por não ter delimitação técnica e jurídica, abrange a prática
dos crimes funcionais relacionados à corrupção, em sentido amplo, como os crimes de
concussão (art. 316 do Código Penal – CP), corrupção passiva (art. 317 do CP) e
prevaricação (art. 319 do CP).

Logo, a expressão suborno não abrange apenas a chamada “propina”, ou seja, não tem
apenas natureza monetária, abrangendo também qualquer vantagem que o juiz receba
em proveito próprio ou alheio, tais como um emprego a um parente, favores sexuais
etc.

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5.4. Ilegitimidade de parte

A legitimidade pode ser de duas espécies: ad causam ou ad processum. A legitimidade


para agir ou legitimatio ad causam é a pertinência subjetiva da ação. Ou seja, é a
situação prevista em lei que permite a um determinado sujeito propor a demanda
judicial e a um determinado sujeito ocupar o polo passivo dessa mesma demanda.

Quanto à legitimidade ativa no processo penal, temos que, nas hipóteses de ação penal
pública, por força do art. 129, I, da CF/1988, o titular da ação penal será o Ministério
Público; nas hipóteses de ação penal de iniciativa privada, será legitimado a agir o
ofendido ou seu representante legal (art. 30 do CPP).

Daí a grande importância de se saber se determinado delito é de ação penal pública ou


de ação penal de iniciativa privada.

Afinal, se o delito é de ação penal de iniciativa privada, e o Ministério Público oferece


denúncia em relação a ele, há de se reconhecer a ilegitimidade para agir do órgão
ministerial, com a consequente rejeição da peça acusatória (art. 395, II, do CPP).

Caso o processo já esteja em andamento, a ilegitimidade ad causam será causa de


nulidade absoluta do processo, tal qual prevê o art. 564, II, do CPP.

Por outro lado, em se tratando de crime de ação penal pública, não se pode admitir o
oferecimento de queixa-crime pelo ofendido ou por seu representante legal, salvo se
caracterizada a inércia do órgão ministerial, hipótese em que a própria CF/1988
ressalva o cabimento da ação penal privada subsidiária da pública (art. 5º, LIX, da
CF/1988).

Legitimidade ad causam não se confunde com legitimatio ad processum, fenômeno


relacionado à capacidade de estar em juízo, tida como pressuposto processual de
validade, capaz de ensejar, no máximo, uma nulidade relativa.

Essa capacidade processual refere-se à capacidade de exercer direitos e deveres


processuais, ou seja, de praticar validamente atos processuais.

É o que ocorre com um ofendido menor de 18 anos, que não tem capacidade processual
para oferecer queixa-crime, razão pela qual tem sua incapacidade suprida por seu
representante legal.

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Nos moldes do art. 568 do CPP, referente à ilegitimidade ad processum, prevê-se que “A
nulidade por ilegitimidade do representante da parte poderá ser a todo tempo sanada,
mediante ratificação dos atos processuais.”

No entanto, percebe-se que esse dispositivo não é aplicável à ilegitimidade ad causam,


tendo em vista tratar-se de nulidade absoluta.

5.5. Falta de fórmulas ou termos legais

O CPP enumera alguns casos em que haverá nulidade por típico vício formal, relativo
ao desrespeito ao modelo legal.

a) Denúncia, queixa, representação ou requisição

O disposto no art. 564, III, “a”, do CPP, prevê que haverá nulidade pela falta das
fórmulas ou dos termos seguintes, tais como “a denúncia ou a queixa e a representação
e, nos processos de contravenções penais, a portaria ou o auto de prisão em flagrante;”

Essa segunda parte não foi recepcionada pela CF/1988, considerando que não mais
existe o chamado processo judicialiforme, que autorizava o início de um processo penal
simplesmente por meio de prisão em flagrante ou portaria do delegado de polícia,
independentemente da apresentação de uma inicial acusatória formal pelo Ministério
Público ou pelo querelante.

A nulidade absoluta a que se refere o art. 564, III, “a”, do CPP, ocorrerá apenas na
hipótese de ausência das peças processuais aí elencadas. Quando tais peças, embora
presentes, não preencherem os requisitos legais, deve ser aplicado o disposto no art.
564, IV, do CPP, que se refere à omissão de formalidade que constitua elemento
essencial do ato.

Assim, enquanto a ausência de denúncia é causa de nulidade absoluta, a inépcia da


peça acusatória, em virtude da deficiência da narrativa do fato delituoso, por exemplo,
é causa de mera nulidade relativa, daí por que deve ser arguida oportunamente, sob
pena de preclusão.

Nos dias de hoje, é difícil imaginar a existência de um processo criminal sem a


presença de denúncia ou queixa. No entanto, quanto à representação e à requisição do
Ministro da Justiça, a nulidade do art. 564, III, “a”, do CPP, pode acabar se revelando
mais comum. Por exemplo: ação penal condicionada à representação sem que esta

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tenha sido oferecida pela vítima. Uma vez assim verificado, o processo deve ser anulado
desde o início, já que nem sequer a investigação policial poderia ter sido iniciada.

De acordo com Fábio Roque e Klaus Costa (2018), acrescente-se a essas hipóteses, a
requisição do Ministro da Justiça, que não consta do texto legal, tendo em vista que se
trata de uma condição de procedibilidade, ao lado da representação.

b) Exame de corpo de delito

De acordo com o art. 158 do CPP, “Quando a infração deixar vestígios, será
indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a
confissão do acusado”.

Se a lei estabelece a obrigatoriedade da realização do exame de corpo de delito quando


a infração penal deixar vestígios, indaga-se: supondo-se que o exame de corpo de delito
não tenha sido realizado, deve ser declarada a nulidade desde o início do processo ou o
acusado deve ser absolvido por ausência de prova da materialidade da infração penal?

De acordo com Renato Brasileiro (2019, p. 1650), convém destacar que, “ainda que não
conste dos autos exame de corpo de delito direto, é possível não só o oferecimento de
denúncia, como também a própria condenação do acusado, desde que a materialidade
do delito esteja evidenciada através de outro meio de prova”.

Com efeito, segundo o art. 167 do CPP, “Não sendo possível o exame de corpo de delito,
por haverem desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta”.
Por isso, se houver prova testemunhal robusta e coesa, afirmando ter presenciado o
crime ou visto os vestígios, será suficiente para suprir o exame direto.

Na mesma linha, se constarem dos autos documentos que comprovem a materialidade,


tais como fotografias dos vestígios sensíveis ou o prontuário médico do atendimento da
vítima no posto de saúde, também será possível a prolação de um decreto condenatório,
visto que nosso ordenamento adota o sistema da persuasão racional do juiz (art. 155,
caput, do CPP). Logo, não quer a lei dizer que, havendo uma infração que deixe
vestígios, o exame de corpo de delito sempre será rigorosamente obrigatório.

Pelo contrário, poderá o juiz receber a peça inicial acusatória, inclusive, podendo
condenar o agente com base no conjunto probatório constante dos autos. Assim, se
houver, por exemplo, prova testemunhal confirmando o delito, a ausência de exame de
corpo de delito não será apta a gerar nulidade.

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Então, pode-se concluir que, ocorrendo um delito que deixou vestígios e não tendo sido
determinada a realização de exame de corpo de delito e a prova não puder ser suprida
por nenhuma outra forma válida, haverá nulidade absoluta desde o momento em que o
exame poderia ter sido feito. Como o art. 572 do CPP não ressalvou essa nulidade
dentre aquelas que podem ser sanadas (ou seja, nulidades relativas), conclui-se que se
trata de uma nulidade absoluta.

c) Nomeação de defensor e de curador

Como se sabe, a defesa técnica é indisponível e irrenunciável no âmbito processual


penal. Logo, mesmo que o acusado, desprovido de capacidade postulatória, queira ser
processado sem defesa técnica, e ainda que seja revel, deve o juiz providenciar a
nomeação de defensor. Exatamente em virtude disso, dispõe o art. 261 do CPP que
“Nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado sem
defensor”.

Na mesma linha, se, a despeito da citação, o acusado não apresentar a resposta à


acusação no prazo legal ou não constituir defensor, deverá o juiz nomear defensor para
oferecê-la, concedendo-lhe vista dos autos por dez dias (art. 396-A, § 2º, do CPP).

Nesse sentido, portanto, haverá nulidade absoluta caso tramite um processo sem
defensor constituído pelo acusado ou sem que o juiz nomeie um defensor dativo, por
grave afronta à ampla defesa (STJ, HC nº 357.515/ES, rel. Min. Maria Thereza de Assis
Moura, j. 18.10.2016).

Aliás, dispõe a Súmula nº 523 do STF que, “No processo penal, a falta da defesa
constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de
prejuízo para o réu.”.

Em respeito às garantias constitucionais ao contraditório e à ampla defesa, verificada a


inércia do profissional constituído pelo acusado, configura-se cerceamento de defesa a
nomeação direta de defensor dativo (ou a remessa dos autos à Defensoria Pública) sem
que, antes, seja dada oportunidade ao acusado constituir novo advogado de sua
confiança (STJ, HC nº 389.899/RO, rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em
23.05.2017), tendo em vista que, no caso de inércia do advogado constituído, deve ser o
acusado intimado para constituir novo advogado para a prática do ato, inclusive por
edital, caso não seja localizado.

Somente caso não o faça, deve ser nomeado advogado dativo (ou remetidos os autos à

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Defensoria Pública), sob pena de, em assim não se procedendo, haver nulidade
absoluta.

Lembre-se, ainda, que o STJ recentemente se pronunciou sobre o tema: “Não afronta o
princípio da inércia da jurisdição a decisão do Juízo penal que determina seja designado
Defensor Público para réu hipossuficiente economicamente, sem sua prévia
solicitação. Isso porque o dever do magistrado de zelar pela regularidade do
andamento do processo, com o fim de evitar nulidade processual, manifesta-se de
forma maias destacada no bojo do processo penal, quando voltado para a verificação da
efetiva obediência às garantias constitucionais do devido processo legal substantivo e
do direito ao contraditório e à ampla defesa do réu que não está devidamente
representado e/ou não tem condições financeiras de constituir um patrono” (RMS nº
59.413-DF, 5ª Turma, rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 07.05.2019 –
grifos nossos).

Em interessante julgado, o STJ entendeu que a discordância do advogado atual com a


linha de defesa do advogado anterior não justifica a anulação do processo penal. Isso
aconteceu porque não se deve confundir defesa deficiente com a simples discordância
com as teses do defensor que atuou anteriormente no feito.

De igual modo, eventual discordância entre a atuação dos operadores do Direito – como
o advogado dativo anterior e o defensor público atual – deve ser resolvida do âmbito de
suas corregedorias, não havendo que se falar em nulidade (STJ, RMS nº 49.902/PR, rel.
Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 18.05.2017).

Quanto à parte final do art. 564, III, “c”, do CPP, convém lembrar que não há mais
necessidade de nomeação de curador para o indiciado menor de 21 anos. Isso se dá
porque, por força do Código Civil – CC (art. 5º), a menoridade cessa aos 18 anos
completos.

Ademais, o art. 194 do CPP, que previa a necessidade de nomeação de curador para o
menor de 21 anos por ocasião do interrogatório judicial, foi revogado pela Lei nº
10.792/2003.

d) Intervenção do Ministério Público

Segundo o art. 564, III, “d”, do CPP, haverá nulidade no caso de não intervenção do
Ministério Público em todos os termos da ação por ele intentada e naqueles da
intentada pela parte ofendida, quando se tratar de crime de ação pública. O dispositivo

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trata de duas possíveis situações:

— Falta de intervenção do Ministério Público nos crimes de ação penal


pública: trata-se de causa de nulidade absoluta. Ora, se se trata de processo criminal
instaurado por meio de denúncia oferecida pelo Ministério Público, é evidente que sua
intervenção é obrigatória em todos os termos do processo, importando a falta de sua
intervenção, quando não instado para tanto, em evidente quebra da paridade de armas
inerente ao princípio do contraditório, com a consequente nulidade absoluta do feito
em virtude do cerceamento da acusação.

A ausência do Ministério Público na audiência de instrução gera prejuízo apenas à


acusação, de forma que somente interessa a ela o reconhecimento dessa nulidade (STJ,
HC nº 298.040/RS, rel. Min. Felix Fischer, julgado em 03.02.2015). Nesse caso, em se
tratando de atos instrutórios, a nulidade será relativa.

— Falta de intervenção do Ministério Público nos casos de ação penal privada


subsidiária da pública: na ação penal privada subsidiária da pública (art. 5º, LIX, da
CF/1988), o Ministério Público atua como verdadeiro interveniente adesivo obrigatório
(ou parte adjunta), devendo intervir em todos os termos do processo, sob pena de
nulidade (art. 564, III, “d”, do CPP).

A falta de intervenção adesiva ou obrigatória do Ministério Público gerará nulidade


relativa, exigindo-se arguição oportuna e com demonstração do prejuízo gerado.

De acordo com Fábio Roque e Klaus Costa, será preciso verificar o caso concreto, se o
Ministério Público não comparece à audiência, mas o querelante exerce plenamente a
função acusatória, não haverá nulidade, por outro lado, se o querelante não
comparecer, haverá nulidade, haja vista que, nos casos de inércia do querelante, cabe
ao Ministério Público retomar a ação como parte principal, conforme o art. 29 do CPP
(COSTA; ARAÚJO, 2018, p. 1126).

e) Citação, interrogatório e prazos

De acordo com o art. 564, III, “e”, do CPP, a nulidade ocorrerá por falta de citação do
acusado, de interrogatório, quando presente, e de prazos concedidos à acusação e à
defesa. O dispositivo cuida de três possíveis situações:

— Falta de citação: a citação é o instrumento processual pelo qual a parte é chamada


ao processo para exercer o seu direito constitucional e convencional ao contraditório e

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à ampla defesa. A falta de citação ou a sua nulidade recebe o nome de circundução, não
gerando efeitos de chamar o acusado ao processo penal.

Haverá, portanto, nulidade absoluta. Todavia, se, mesmo com o vício de citação, o
acusado tomou conhecimento do processo e compareceu aos autos, não haverá
nulidade, conforme o art. 570 do CPP.

Art. 570. A falta ou a nulidade da citação, da intimação ou notificação estará sanada,


desde que o interessado compareça, antes de o ato consumar-se, embora declare que o
faz para o único fim de argui-la. O juiz ordenará, todavia, a suspensão ou o adiamento
do ato, quando reconhecer que a irregularidade poderá prejudicar direito da parte.

Conforme o STJ, ainda que o réu tenha constituído advogado antes do oferecimento da
denúncia (para acompanhar o inquérito policial, por exemplo), é nula a ação penal que
o condenou sem sua citação, ainda mais estando ausentes provas de que o réu tomou
conhecimento efetivo da denúncia oferecida (REsp. nº 1.580.435/GO, rel. Min. Rogerio
Schitti Cruz, j. 17.03.2016).

— Falta de interrogatório: é o momento em que o acusado exercerá sua autodefesa.


O magistrado é obrigado a oportunizar a realização do interrogatório, concedendo o
momento processual para o acusado dar a sua versão dos fatos e, querendo, exercer a
sua defesa pessoal naquele instante; por outro lado, uma vez intimado e designado o
interrogatório, o imputado não é obrigado a comparecer, já que é renunciável esse
direito. Logo, o que gera nulidade absoluta é a falta de designação do interrogatório
pelo julgador, por ferir a ampla defesa.

Pode ocorrer que o juiz designe o interrogatório e o réu opte por não comparecer;
entretanto, tempos depois, o acusado requeira ao juiz que seja interrogado. Nesse caso,
entende-se que o juiz não estará obrigado a designar uma nova data para que o
interrogatório seja feito (STJ, HC nº 108.939/PI, rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j.
15.03.2012).

— Não concessão de prazos à acusação e/ou à defesa: trata-se da situação,


literalmente, em que o juiz não concede prazo para a realização de um ato processual
pelas partes. A depender do ato, poderá gerar nulidade absoluta ou relativa. De acordo
com Fábio Roque e Klaus Costa, tratando-se de ato essencial, geralmente relacionado
ao contraditório ou à ampla defesa, haverá nulidade absoluta (como o juiz que não
concede prazo para o réu apresentar a resposta escrita); ou então, haverá nulidade
relativa caso se trate de uma faculdade da parte (como a intimação para apresentação

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de réplica, cuja falta não traz prejuízo, já que a parte ainda falará em alegações finais
antes da sentença) (COSTA; ARAÚJO, 2018, p. 1127).

f) Pronúncia

A pronúncia, no tribunal do júri, é obrigatória para que se inicie a segunda fase do


procedimento dos crimes dolosos contra a vida.

Assim, “O juiz, fundamentadamente, pronunciará o acusado, se convencido da


materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de autoria ou de
participação” (art. 413, caput, do CPP).

De acordo com as lições de Ada Pellegrini Grinover (2011), a pronúncia é a decisão do


juiz sobre a admissibilidade da acusação a ser levada ao plenário do júri, tratando-se,
assim, de ato essencial, cuja ausência gera nulidade absoluta, não só diante da previsão
legal, mas por representar uma garantia do réu relacionada ao sistema acusatório
constitucional.

A previsão do art. 564, III, “f”, do CPP, na sua segunda parte, referente ao libelo, não
mais subsiste, diante da sua extinção pela Lei nº 11.689/2008, o que acaba por reforçar
a importância da pronúncia, que delimitará a acusação em plenário.

Ponto a ser observado, principalmente, nas provas de defensoria pública diz respeito ao
momento de se arguir as nulidades existentes na decisão de pronúncia. Nesse sentido,
é a orientação firmada na Tese nº 15 do Enunciado nº 69 do STJ: “15) As nulidades
existentes na decisão de pronúncia devem ser arguidas no momento oportuno e por
meio do recurso próprio, sob pena de preclusão”.

g) Intimação do acusado para julgamento do júri

A previsão do art. 564, III, “g”, do CPP, dispõe que haverá nulidade diante da falta de “a
intimação do réu para a sessão de julgamento, pelo Tribunal do Júri, quando a lei não
permitir o julgamento à revelia;”.

Tal hipótese legal encontra-se prejudicada. Isso acontece porque, no regramento


incorporado pela Lei nº 11.689/2008, desapareceu a vedação antes existente no sentido
de que o julgamento do réu pela prática de crime doloso contra a vida, se inafiançável,
não podia ser realizado à sua revelia. Pelo contrário.

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Com nova redação, passou a dispor o art. 457, caput, do CPP, que o julgamento não
será adiado pelo não comparecimento do acusado solto, não fazendo o dispositivo
nenhuma distinção acerca da natureza afiançável ou inafiançável do crime imputado.

Tratando-se de acusado preso, este, obviamente, apenas não comparecerá à sessão se


não for conduzido pelos órgãos competentes ao local de sua realização.

Art. 457. O julgamento não será adiado pelo não comparecimento do acusado solto, do
assistente ou do advogado do querelante, que tiver sido regularmente intimado.

§ 1º Os pedidos de adiamento e as justificações de não comparecimento deverão ser,


salvo comprovado motivo de força maior, previamente submetidos à apreciação do juiz
presidente do Tribunal do Júri.

§ 2º Se o acusado preso não for conduzido, o julgamento será adiado para o primeiro
dia desimpedido da mesma reunião, salvo se houver pedido de dispensa de
comparecimento subscrito por ele e seu defensor.

h) Intimação das testemunhas do júri

Prevê o art. 564, III, “h”, do CPP, que haverá nulidade em razão da ausência de “a
intimação das testemunhas arroladas no libelo e na contrariedade, nos termos
estabelecidos pela lei; (...)”.

Como sabido, não existe mais o libelo, diante da reforma processual promovida pela Lei
nº 11.689/2008. Por isso, o dispositivo deve ser reinterpretado.

O momento para se arrolar testemunhas do plenário está previsto no art. 422 do CPP,
que é com a intimação, pelo juiz, da defesa e da acusação para, em cinco dias,
apresentarem rol de testemunhas, requererem diligências e juntarem documentos.
Havendo ou não cláusula de imprescindibilidade (art. 461, caput, do CPP), as
testemunhas devem – sempre – ser intimadas, sob pena de nulidade relativa.

Art. 422. Ao receber os autos, o presidente do Tribunal do Júri determinará a intimação


do órgão do Ministério Público ou do querelante, no caso de queixa, e do defensor,
para, no prazo de 5 (cinco) dias, apresentarem rol de testemunhas que irão depor em
plenário, até o máximo de 5 (cinco), oportunidade em que poderão juntar documentos e
requerer diligência. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008.)

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Art. 461. O julgamento não será adiado se a testemunha deixar de comparecer, salvo se
uma das partes tiver requerido a sua intimação por mandado, na oportunidade de que
trata o art. 422 deste Código, declarando não prescindir do depoimento e indicando a
sua localização. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008.)

i) Quórum de instalação do júri

Para que o juiz presidente possa declarar instalados os trabalhos no Tribunal do Júri,
anunciando o processo que será submetido a julgamento, há necessidade da presença
de pelo menos 15 dos 25 jurados convocados, valendo ressaltar que aqueles excluídos
por impedimento ou suspeição são considerados para a constituição do número legal
exigível para a realização da sessão. “Comparecendo, pelo menos, 15 (quinze) jurados,
o juiz presidente declarará instalados os trabalhos, anunciando o processo que será
submetido a julgamento” (art. 463, caput, do CPP).

Se, mesmo que não estejam presentes pelo menos 15 jurados, deliberar o juiz
presidente pela realização da sessão de julgamento, esse ato processual estará
contaminado por nulidade absoluta, nos termos do art. 564, III, “i”, do CPP.

j) Sorteio do conselho de sentença e a sua incomunicabilidade

De acordo com o art. 467 do CPP, “Verificando que se encontram na urna as cédulas
relativas aos jurados presentes, o juiz presidente sorteará 7 (sete) dentre eles para a
formação do Conselho de Sentença”.

Destarte, se por acaso o julgamento vier a ser realizado sem que tenha havido prévio
sorteio dos jurados para a composição do Conselho, há de ser declarada a nulidade
absoluta do referido ato.

Importante lembrar que não poderá funcionar no Conselho de Sentença jurado que
participou de julgamento anterior do mesmo processo.

É nesse sentido, aliás, o teor do art. 449, I, do CPP, com redação determinada pela Lei
nº 11.689/2008, segundo o qual “Não poderá servir o jurado que: I – tiver funcionado
em julgamento anterior do mesmo processo, independentemente da causa
determinante do julgamento posterior; (...)”.

Ainda nessa hipótese, considerando que as votações dos jurados são sigilosas, exige-se
a incomunicabilidade dos jurados a respeito dos fatos em julgamento. Em virtude do

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sigilo das votações, princípio constitucional inerente ao Tribunal do Júri (art. 5º,
XXXVIII, “b”, da CF/1988), adota-se o sistema da incomunicabilidade dos jurados, cuja
violação é causa de nulidade absoluta (art. 564, III, “j”, parte final, do CPP).

Por conta da incomunicabilidade, uma vez sorteados, os jurados serão advertidos de


que não poderão comunicar-se entre si e com outrem, nem manifestar sua opinião
sobre o processo, sob pena de exclusão do Conselho e multa, no valor de um a dez
salários mínimos, a critério do juiz, de acordo com a condição econômica do jurado (art.
466, § 1º, do CPP).

k) Formulação dos quesitos

“Os quesitos são perguntas formuladas aos jurados para que se pronunciem quanto ao
mérito da acusação” (LIMA, 2019, p. 1661).

Tendo em vista que os jurados permanecem incomunicáveis e que apenas votam “sim”
ou “não”, ou seja, como os jurados não fundamentam seu voto, pois vigora o sigilo das
votações, há necessidade de elaboração de quesitos para que se possa colher, por
maioria de votos, o veredicto do Conselho de Sentença.

Os quesitos devem englobar o questionamento acerca da autoria, da materialidade, de


absolvição genérica e tudo o mais que interessar ao caso, inclusive as teses de
autodefesa levantadas pelo acusado, conforme o art. 483 do CPP.

Consoante o art. 564, III, “k”, do CPP, haverá nulidade pela falta dos quesitos e de suas
respectivas respostas; e conforme o parágrafo único do art. 564 do CPP, “Ocorrerá
ainda a nulidade, por deficiência dos quesitos ou das suas respostas, e contradição
entre estas.”.

Encerrado os debates, “(...) o presidente lerá os quesitos e indagará das partes se têm
requerimento ou reclamação a fazer, devendo qualquer deles, bem como a decisão,
constar da ata.” (art. 484 do CPP).

Vê-se, então, que o momento oportuno para a parte impugnar algum vício da quesitação
é exatamente após a sua formulação, imediatamente após a leitura e explicações em
plenário (art. 484, parágrafo único, do CPP). Por exemplo: quesito incompreensível,
dúbio, equivocado etc. Assim, trata-se de nulidade relativa, que, se não suscitada nesse
momento, gerará preclusão (STJ, HC nº 342.239/SP, rel. Min. Reynaldo Soares da
Fonseca, j. 18.04.2017).

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A jurisprudência observa que, se o vício de quesitação for grave, a ponto de prejudicar
a plenitude de defesa, como no caso da falta de quesitação de absolvição genérica,
haverá nulidade absoluta, tal como já prevê a Súmula nº 156 do STF: “É absoluta a
nulidade do julgamento, pelo júri, por falta de quesito obrigatório”.

Neste sentido, a falta de quesito obrigatório não é mera irregularidade, mas causa de
nulidade absoluta e irremediável (STJ, HC nº 232.236/SP, rel. Min. Laurita Vaz, julgado
em 28.05.2013).

Ainda no que se refere à quesitação, afirma a Súmula nº 162 do STF que “é absoluta a
nulidade do julgamento pelo júri, quando os quesitos da defesa não precedem aos das
circunstâncias agravantes”.

l) Acusação e defesa na sessão de julgamento do júri

Só há que se falar na existência de um processo com a participação de um órgão


acusador, um defensor e um magistrado. A falta de acusação ou de defesa gerará
nulidade.

Em se tratando de ação penal exclusivamente privada ou personalíssima (conexão com


o crime doloso contra a vida), a ausência injustificada do advogado do querelante em
plenário gerará perempção, por ausência de pedido condenatório quanto ao crime de
ação penal de iniciativa privada, conforme o art. 60, III, do CPP.

Por outro lado, tratando-se de ação penal privada subsidiária da pública, a ausência do
advogado do querelante é tida como desídia, ensejando a retomada da ação penal pelo
Ministério Público, conforme dispõe o art. 29 do CPP.

Já o Ministério Público, como sabido, não pode abandonar ou desistir da ação penal em
curso (art. 42 do CPP). Embora tenha independência funcional (art. 127, § 1º, da
CF/1988), ele deve estar sempre presente e bem exercer a sua função. A ausência do
Ministério Público gera nulidade absoluta.

No mais, a ausência de defesa no júri é causa de nulidade absoluta. O juiz presidente do


Tribunal do Júri, tem como uma de suas atribuições: “nomear defensor ao acusado,
quando considerá-lo indefeso, podendo, neste caso, dissolver o Conselho e designar
novo dia para o julgamento, com a nomeação ou a constituição de novo defensor;”, nos
termos do art. 497, V, do CPP. Já de acordo com a Súmula nº 523 do STF: “No processo
penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará

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se houver prova de prejuízo para o réu.”

m) Sentença

Dispõe o art. 564, III, “m”, do CPP, que haverá nulidade absoluta se ausente sentença
no processo. Não se trata de ausência de requisitos da sentença, pois nesse caso será a
hipótese do art. 564, IV, do CPP (omissão de formalidades); trata-se, literalmente, da
ausência de sentença no processo (AVENA, 2017).

Embora pareça praticamente impossível essa hipótese, Klaus Costa e Fábio Roque
Araújo (2018, p. 1130) afirma que “poderá ocorrer, por exemplo, em casos de engado
do juiz, que determina o arquivamento de um processo ao invés de sentenciá-lo,
confundindo-se em razão da pluralidade de ações contra o mesmo réu”.

n) Recurso de ofício

Quanto ao recurso de ofício, é sabido que o art. 574, caput, primeira parte, do CPP
estabelece a voluntariedade como regra geral dos recursos. Essa regra, todavia, é
excepcionada pelo próprio dispositivo, que prevê situações de reexame necessário, ou
seja, hipóteses em que, ainda que não haja a interposição de recurso voluntário pelas
partes, deverá o juízo prolator da decisão submeter sua decisão à revisão pelo Tribunal
competente.

De acordo com Renato Brasileiro (2019), o reexame necessário só pode ser conceituado
como recurso de forma imprópria, porquanto falta a ele o pressuposto básico da
voluntariedade.

Por isso, o recurso de ofício é tratado como condição necessária à preclusão ou trânsito
em julgado de uma decisão ou sentença. Assim, enquanto o Tribunal não reexaminar e
confirmar a decisão, não ocorrerá sua preclusão ou trânsito em julgado.

O recurso de ofício funciona, portanto, como providência imposta por lei para que se
aperfeiçoe a preclusão ou o trânsito em julgado de determinadas decisões judiciais.
Nessa linha, como prevê a Súmula nº 423 do STF, “não transita em julgado a sentença
por haver omitido o recurso ex officio, que se considera interposto ex lege”.

A falta do recurso de ofício (reexame necessário), nos casos em que a lei o tenha
estabelecido, figura como causa de nulidade absoluta, nos termos do art. 564, III, “n”,
do CPP.

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o) Intimação para ciência de decisão recorrível

Nos exatos termos do art. 564, III, “o”, do CPP, haverá nulidade na falta de “intimação,
nas condições estabelecidas pela lei, para ciência de sentenças e despachos de que
caiba recurso”.

De modo a se preservar o contraditório, concebido pelo binômio conhecimento e


reação, às partes envolvidas devem ser asseguradas condições de saber o que se passa
no processo, podendo reagir de alguma forma aos atos ali praticados.

Daí a natural preocupação do CPP e da legislação especial com a comunicação dos atos
processuais, isto é, com a forma pela qual os sujeitos do processo são informados sobre
os acontecimentos sucedidos ao longo de toda a marcha procedimental.

A falta de intimação acerca de decisão recorrível gera nulidade absoluta, por ferir o
contraditório e a ampla defesa, nos moldes do art. 564, III, “o”, do CPP. Se a decisão
houver transitado em julgado, deverá ser invalidada, com a consequente reabertura de
prazo para que a parte possa recorrer (STJ, HC nº 106.042/PR, rel. Min. Jorge Mussi, j.
07.10.2008).

Importante destacar o teor da Súmula nº 431 do STF: “É nulo o julgamento de recurso


criminal, na segunda instância, sem prévia intimação, ou publicação da pauta, salvo em
habeas corpus”.

Logo, em relação ao recurso, deve haver a intimação da parte acerca da data de


julgamento; já em relação ao habeas corpus, entende-se não ser necessária a intimação,
já que ele é posto em julgamento independentemente de qualquer comunicação,
cabendo à parte acompanhá-lo, salvo, no entanto, se houver requerimento específico
para sustentação oral (STF, ED no RHC nº 116.399/BA, rel. Min. Luiz Fux, j.
17.03.2017) ou se a parte requereu expressamente a intimação sobre a data de
julgamento (STF, ED no RHC nº 129.993/GO, rel. Min. Ricardo Lewandowski, j.
26.05.2017), respeitando-se, assim, o contraditório e a ampla defesa.

Por fim, consoante o STF, não há nulidade no julgamento de apelação interposta pelo
Ministério Público se a defesa, intimada, não apresentou contrarrazões, não devendo se
falar em cerceamento de defesa (RHC nº 133.121/DF, rel. p/ acórdão Min. Edson
Fachin, julgado em 02.08.2016).

p) Quórum para julgamento nos tribunais

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Segundo o art. 564, III, “p”, do CPP, haverá nulidade na hipótese de falta de quórum
legal para o julgamento no STF e nos Tribunais de Apelação. O dispositivo refere-se
apenas ao STF e aos “Tribunais de Apelação” pois a redação é antiga, da década de
1940.

O STJ, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os Tribunais Regionais Federais e os


Tribunais Regionais Eleitorais foram instituídos após a vigência do CPP. Portanto,
interpretando-se a alínea “p” do inciso III do art. 564 do CPP à luz da CF/1988, conclui-
se que a falta de quórum legal para o julgamento nos referidos Tribunais também dará
ensejo ao reconhecimento de nulidade absoluta.

O quórum para julgamento é o número de julgadores que devem estar presentes para
que o julgamento possa ser realizado. Logo, cada tribunal terá o seu número, já que a
formação é colegiada, como Turmas, Câmaras, Seções e Plenário.

Omissão de formalidade essencial do ato processual

Outra nulidade cominada no CPP diz respeito à omissão de formalidade que constitua
elemento essencial do ato (art. 564, IV, do CPP). Norberto Avena (2017) ensina que
“formalidades essenciais” compreendem todas aquelas sem as quais o ato processual
não pode ser realizado válida e eficazmente.

O art. 572 do CPP dispõe que será considerada sanada essa nulidade se (a) não for
arguida, em tempo oportuno, de acordo com o disposto no artigo anterior; ou se (b) o
ato for praticado de outra forma e tiver atingido sua finalidade, ou, ainda, se (c) a parte
aceitar, ainda que tacitamente, seus efeitos.

De acordo com Fábio Roque e Klaus Costa (2018, p. 1132), a omissão de elementos
essenciais pode gerar nulidade absoluta, relativa ou até mesmo inexistência do ato:

a) a testemunha de fora da terra será inquirida no juízo de sua residência, por meio de
carta precatória; as partes devem ser intimadas a respeito da expedição da carta,
conforme o art. 222 do CPP. De acordo com a Súmula nº 155 do STF, “É relativa a
nulidade do processo criminal por falta de intimação da expedição de precatória para
inquirição de testemunha”. Ou seja, a intimação é um ato essencial da expedição da
carta precatória, mas a jurisprudência entende que a sua falta gerará nulidade apenas
relativa, devendo ser comprovado prejuízo oportunamente.

b) constatada a inércia do advogado constituído pelo réu na prática de determinado ato

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processual, é necessária, previamente à nomeação de defensor dativo ou de remessa à
Defensoria Pública, a intimação do acusado para constituir, à sua escolha, um novo
advogado, sob pena de nulidade absoluta dos atos praticados com inobservância desta
formalidade, diante da violação do contraditório e da ampla defesa (STF, HC nº
389.899/RO, rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 23.05.2017).

c) a ausência de assinatura do juiz na sentença proferida, com consequente


impossibilidade de sanar o vício a tempo, diante de sua aposentadoria, gera a
inexistência do ato.

Em decisão carente de fundamentação

Sobre o tema, Rogério da Cunha Sanches (2020), esclarece

A Lei 13.964/2019 acrescentou ao artigo em comento o inciso V,


reconhecendo nula a decisão carente de fundamentação. Contudo, a
necessidade de fundamentação de toda e qualquer decisão judicial já
decorre de mandamento constitucional (art. 93, inciso IX da CF/1.988), e
por isso mesmo, a rigor, nem precisaria ser mencionada. Aliás, o Código
de Processo Civil, no artigo 489, §1º, foi além. Não somente repudia a
decisão carente de fundamentação, seja ela interlocutória, sentença ou
acórdão (CUNHA, 2020).

Nulidade durante o inquérito policial

Como o inquérito policial é mera peça informativa, eventuais vícios dele constantes não
têm o condão de contaminar o processo penal a que der origem. Tendo em vista a sua
natureza de procedimento investigatório prévio, o vício existente no inquérito policial
não acarreta a nulidade da ação penal futura (COSTA; ARAÚJO, 2018). É a regra. Nesse
sentido é a Tese nº 2 do Enunciado nº 69 do STJ: “2) As nulidades surgidas no curso da
investigação preliminar não atingem a ação penal dela decorrente”.

Assim, por exemplo, um auto de prisão em flagrante irregular pode acarretar apenas o
relaxamento da prisão, mas não a nulidade da ação penal ulterior. Conforme o STJ, as
nulidades surgidas no curso da investigação preliminar não atingem a ação penal dela
decorrente (RHC nº 71.442/MT, rel. Min. Antônio Saldanha Palheiros, j. 18.08.2016).

Logicamente, caso uma determinada prova tenha sido produzida com violação a normas
de direito material, há de ser reconhecida sua ilicitude (art. 5º, LVI, da CF/1988), com o

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consequente desentranhamento dos autos, bem como de todas as demais provas que
com ela guardem certo nexo causal (teoria dos frutos da árvore envenenada).

Isso, todavia, não significa dizer que todo o inquérito será considerado nulo. Afinal, é
possível que constem da investigação policial elementos de informação que não foram
contaminados pela ilicitude originária (teoria da fonte independente).

Na mesma linha, na eventualidade de uma prova antecipada, cautelar ou não repetível,


ser produzida no curso do inquérito policial em desacordo com o modelo típico, também
é possível o reconhecimento de nulidade.

Imagine, por exemplo, uma interceptação telefônica realizada pelo delegado de polícia,
com autorização judicial, oriunda de uma denúncia anônima e sem ser precedida de
investigações iniciais básicas para, no mínimo, se buscar coletar maiores informações
antes de se iniciar a interceptação.

Há clara nulidade desse meio de prova, inclusive atingindo outros atos com ele
relacionados (STJ, HC nº 204.778/SP, rel. Min. Og Fernandes, j. 04.10.2012) ao receber
a denúncia anônima, o delegado deveria, antes de tudo, adotar procedimentos iniciais
de investigação para apurar o fato e, somente depois disso, se for o caso, instaurar
inquérito; e, apenas se esgotadas as diligências ordinárias, seria o caso de representar
por uma interceptação telefônica (art. 2º, II, da Lei nº 9.296/1996).

6. Momento em que se reconhece a nulidade

Na primeira instância, o juiz pode reconhecer qualquer nulidade de ofício (absoluta,


relativa, favorável ou desfavorável ao acusado). Isso acontece porque o juiz não é mero
expectador e tem a obrigação de zelar pelo processo. Como exemplo, é o que dispõe o
art. 251 do CPP: “Ao juiz incumbirá prover à regularidade do processo e manter a
ordem no curso dos respectivos atos, podendo, para tal fim, requisitar a força pública.”

Já na segunda instância, há a incidência do efeito devolutivo, ou seja, o conhecimento


do Tribunal fica delimitado pelo objeto da impugnação. Assim, na segunda instância, o
tribunal não tem a mesma liberdade dos juízos de primeira instância. Veja o que diz a
Súmula nº 160 do STF: “É nula a decisão do Tribunal que acolhe, contra o réu, nulidade
não arguida no recurso da acusação, ressalvados os casos de recurso de ofício”.

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Por fim, Renato Brasileiro (2019) adverte:

1ª) Nos casos de recurso de ofício, o tribunal pode reconhecer qualquer nulidade, ainda
que desfavorável ao acusado. Isso se dá porque, nesses casos, se devolve ao tribunal a
integralidade do conhecimento da matéria.

2ª) Interpretando-se a contrario sensu a súmula em questão, quando a nulidade for


favorável ao réu, ela poderá ser declarada mesmo que sequer tenha havido impugnação
pelo recorrente. Nesse caso, vale o princípio da reformatio in mellius.

3ª) Se a nulidade, contrária aos interesses do acusado, não foi arguida pela acusação, o
tribunal jamais poderia declará-la.

7. Julgados importantes relacionados a atuação da


defensoria pública

STF, HC nº 111.532/SP: A Defensoria Pública não precisa provar que o réu


procurou a instituição para ser assistido.
STF, RHC nº 106.394/MG: Intimada a defesa da expedição da carta precatória,
torna-se desnecessária intimação da data da audiência no juízo deprecado.
STJ, 6ª Turma, RHC nº 50.791-RJ: Não configura nulidade a decisão do juiz que
nega o pedido da Defensoria Pública para que o réu preso seja requisitado do
Presídio e transportado até a sede do órgão a fim de lá ser entrevistado
pessoalmente com o Defensor Público.
STF, 1ª Turma, HC nº 126.081/RS: Não há qualquer nulidade, já que a
Defensoria Pública foi intimada quanto à nova inclusão dos autos para
julgamento em sessão do dia seguinte e mesmo assim não requereu adiamento.
STF, 2ª Turma, HC nº 123.494/ES: Não há violação aos princípios da ampla
defesa e do “Defensor Público natural” quando houve a designação de defensor
dativo para audiência em que Defensor Público não pode participar e inexiste
violação ao princípio do Defensor Público natural.
STJ, 5ª Turma, RMS nº 59.413-DF: Não afronta o princípio da inércia da
jurisdição a decisão do Juízo penal que determina que seja designado Defensor
Público para réu hipossuficiente economicamente, sem sua prévia solicitação.
STF, 1ª Turma, HC nº 165,534/RJ: A ausência de defensor, devidamente
intimado, à sessão de julgamento não implica, por si só, nulidade processual.

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Obra coletiva do Curso Ênfase produzida a partir da análise estatística de incidência
dos temas em provas de concursos públicos.
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