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Assim, o art. 5º da CF/1988 apenas mencionava que, além dos direitos e garantias
fundamentais estabelecidos em seu exemplificativo e extenso rol de incisos, outros
também seriam reconhecidos pela República ao aderir aos tratados internacionais.
Uma dessas correntes doutrinárias sustentava que essas normas de direitos humanos
estabelecidas em tratados internacionais teriam natureza de lei ordinária, tendo em
vista que, para sua incorporação no sistema jurídico pátrio, não dependiam de processo
legislativo qualificado, como se dá nos casos de emenda constitucional.
Outra corrente sustentava que se tratava de norma constitucional, justamente por força
do que dispunha o art. 5º da CF/1988, que equiparava as normas de direitos humanos
de tratados internacionais, incorporadas no ordenamento jurídico brasileiro aos direitos
e garantias fundamentais enunciados no citado artigo.
Em 2004, com a Emenda Constitucional nº 45, o texto constitucional passou a ser claro
no sentido de que, para que tenha natureza constitucional, as normas de direitos
humanos previstas em tratado internacional deveriam ser aprovadas pelo Congresso
Nacional, em votação de dois turnos, por três quintos de seus membros.
A CADH trata sobretudo dos direitos civis e políticos da pessoa humana, reservando aos
direitos econômicos, sociais e culturais apenas o art. 26.
Diante disso, o Pacto de San José da Costa Rica enumera direitos e garantias ao
acusado, os quais devem ser observados pelo Estado brasileiro, tanto no que se refere
ao próprio texto da Convenção, quanto os relatórios da Comissão Interamericana de
Direitos Humanos (CIDH) e as decisões da Corte Interamericana de Direitos Humanos.
O princípio do devido processo legal é um dos mais amplos e relevantes direitos civis, a
ser aplicado nas relações de caráter processual e nas de caráter material, embora se
reconheça que, no primeiro aspecto, o princípio ganha relevância, porque traduz uma
série de garantias, como o direito ao contraditório e à ampla defesa, ao juiz natural, a
ser processado e condenado somente com fundamento em prova lícita e de não ser
preso senão pela autoridade competente e na forma estabelecida na ordem
constitucional.
Em sua dimensão substantiva, o devido processo legal exige que, mais do que a simples
subsunção ao procedimento previsto em lei, tal procedimento deve conferir efetividade
aos seus corolários princípios.
Nesse cenário, o acusado tem direito à produção de prova em seu favor, mas, quando se
queda inerte, não se desincumbe de um ônus probatório, quando assume o risco de
perder uma chance de influir na formação de convicção do juiz.
Por fim, o juiz, como sujeito imparcial da relação jurídica processual penal, não deve
auxiliar a acusação na desconstrução da presunção de inocência do acusado, devendo
acolher a tese acusatória somente se estiver provada. Do contrário, provada a inocência
No processo penal democrático, não se concebe decisão jurídica construída sem que se
leve em consideração as argumentações das partes interessadas e que serão afetadas
por tal decisão. O contraditório se manifesta pela forma controversa.
O contraditório deve ser pleno, porque se exige sua observância durante todo o
procedimento, até o seu encerramento; e efetivo, porque não é suficiente dar à parte a
possibilidade formal de se pronunciar sobre os atos da parte contrária, sendo
imprescindível proporcionar-lhe os meios para que tenha condições reais de contrariá-
los.
A ampla defesa não se confunde com o contraditório, embora seja por meio dela que
este se torne efetivo.
O caso se refere à privação ilegal da liberdade de Luís Alberto Cantoral Benavides, seu
encarceramento arbitrário, tortura, violação de garantias judiciais e do direito a não ser
julgado ou punido duas vezes pelos mesmos fatos. A vítima foi detida por agentes da
División Nacional contra el Terrorismo (DINCOTE) em fevereiro de 1993, época em que
se encontrava vigente um estado de emergência constitucional, com suspensão de um
conjunto de garantias. Durante a sua detenção, Cantoral Benavides foi sujeito a atos de
violência com o fim de obter a sua autoincriminação.
Cantoral Benavides foi julgado na jurisdição militar, fato considerado pela Corte IDH
como violador dos requisitos de independência e imparcialidade estabelecidos na
Convenção Americana. A Corte IDH analisou também a compatibilidade do tipo penal
de terrorismo e traição à pátria com o princípio de legalidade penal.
a) neste caso, está provado que o sr. Cantoral Benavides foi exibido perante a mídia,
vestido em um processo infame, como autor do crime de traição, quando ainda não
havia sido legalmente nem processado nem condenado;
c) nos processos penais realizados no Estado contra Luis Alberto Cantoral Benavides,
não foram reunidas provas completas de sua responsabilidade, apesar deque os juízes
da jurisdição comum o condenaram a 20 anos de privação de liberdade;
a) A Corte se refere ao que foi resolvido neste mesmo julgamento com relação à
violação dos arts. 8.1 e 8.2 c), d) ef) da Convenção, em relação ao processo criminal
militar contra Luis Alberto Cantoral Benavides.
c) A Corte conclui, pelo exposto, que o Estado violou, em detrimento de Luis Alberto
Os fatos deste caso se referem a Leopoldo López Mendoza. Em 4 de agosto de 2000, ele
foi eleito prefeito de Chacao e reeleito em 31 de outubro de 2004, atuando nessa
posição por oito anos, até novembro de 2008.
A primeira investigação a que o sr. López Mendoza foi submetido estava relacionada a
um suposto conflito de interesses quando, antes de se tornar prefeito, trabalhou na
empresa Petróleos de Venezuela S/A.
A segunda investigação foi limitada a eventos no contexto de suas ações como prefeito,
especificamente com o suposto uso indevido do orçamento.
No caso, a Corte IDH entendeu que houve violação das seguintes garantias
processuais, ainda que se tratasse de processo administrativo aberto pelo Estado
venezuelano: direito de ser ouvido, dever de fundamentação e direito de defesa em
relação à restrição do sufrágio passivo.
Os fatos deste caso começaram em fevereiro de 2009, quando foi aprovado, pelo então
presidente Carlos Andrés Pérez Rodríguez, uma emenda orçamentária de Bs.
250.000.000,00 (duzentos e cinquenta milhões de bolívares). Oscar Enrique Barreto
Leiva ocupava o cargo de diretor geral Setorial de Administração e Serviços do
Ministério da Secretaria da Presidência da República.
O processo, durante a fase sumária, implicou que o sr. Barreto Leiva não foi assistido
por um advogado de sua escolha naquela fase do processo, questionou as testemunhas,
conheceu as evidências que estavam sendo coletadas, apresentou evidências em sua
defesa e contestou o corpo de evidências contra ele. Da mesma forma, a medida
preventiva de detenção foi imposta a ele, sem a possibilidade de obter fiança, que
durou mais do que a sentença que ele recebeu.
a) Para atender ao art. 8.2.b convencional, o Estado deve informar ao interessado não
apenas a causa da acusação, ou seja, as ações ou omissões que lhe são imputadas, mas
também os motivos que levam o Estado a formular a imputação, as bases probatórias
disso e a caracterização legal dada a esses fatos. Toda essa informação deve ser
expressa, clara, abrangente e suficientemente detalhada para permitir ao acusado
exercer plenamente seu direito à defesa e mostrar ao juiz sua versão dos fatos.
b) O art. 8.2.b convencional se aplica antes mesmo que uma “cobrança” seja feita
estritamente. Para que o artigo mencionado atenda aos objetivos inerentes, é
necessário que a notificação ocorra antes de o acusado fazer sua primeira declaração,
perante qualquer autoridade pública.
c) Nesse caso, é discutida a qualidade que o sr. Barreto Leiva possuía no momento que
fez suas três declarações perante as autoridades judiciais antes de ser colocado em
prisão preventiva. (…)
d) O Estado aceita que não informou o sr. Barreto Leiva dos fatos que lhe foram
imputados antes de testemunhar perante as autoridades judiciais. Portanto, é
apropriado analisar se os motivos apresentados são suficientes para justificar tal
omissão.
e) “É admissível que, em certos casos, haja uma reserva das medidas adotadas durante
a investigação preliminar no processo penal, para garantir a eficácia da administração
da justiça. (...) No entanto, esse poder deve ser harmonizado com o direito de defesa da
pessoa investigada, o que supõe, entre outras coisas, a possibilidade de conhecer os
fatos que lhe são imputados”.
f) O fato de o sr. Barreto Leiva poder ter aprendido com a mídia ou com sua declaração
anterior perante o Congresso o assunto da investigação que estava sendo realizada não
isentou o Estado de cumprir as disposições do art. 8.2. b da Convenção. O entrevistado,
antes de declarar, deve saber oficialmente quais são os fatos que lhe são imputados,
não apenas deduzi-los das informações públicas ou das perguntas feitas. Dessa
maneira, sua resposta pode ser eficaz e sem a margem de erro que as suposições
produzem; o princípio da consistência será garantido, segundo o qual a identidade deve
mediar entre os fatos de que o acusado é informado e aqueles pelos quais ele é
processado, acusado e condenado, e o direito à defesa é garantido.
d) Com base no exposto, a Corte conclui que o Estado violou o art. 8.2.c da Convenção,
em relação ao art. 1.1 da mesma, em detrimento do sr. Barreto Leiva. Da mesma forma,
como essa violação ocorreu como consequência da aplicação dos atuais arts. 60, da
Constituição, e 73, da CEC, o Estado também não cumpriu o art. 2 da Convenção.
a) Como pode ser visto, o fato de o sr. Barreto Leiva não ter um advogado de defesa na
época para depor perante o TSSPP e perante o Tribunal de Substituição do CSJ não
está em disputa. A questão a ser resolvida é se a presença do Ministério Público nessas
declarações substitui a do advogado de defesa.
d) Com base no exposto, a Corte declara que a Venezuela violou o direito do sr. Barreto
Leiva reconhecido no art. 8.2.h da Convenção, em relação aos arts. 1.1 e 2 da mesma,
uma vez que a condenação veio do tribunal que ouviu o caso em uma única instância e
o condenado não teve, portanto, a possibilidade de contestar a decisão. (…) Nesse caso,
a aplicação da regra da conexão, admissível em si mesma, trouxe consigo a
consequência inadmissível de privar a pessoa condenada do recurso mencionado no art.
8.2.h da Convenção.