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Inicialmente, conceitua-se o processo penal como o ramo do direito público, que possui
natureza instrumental, pois se trata do meio pelo qual se aplica o direito penal.
É possível afirmar que não há direito penal sem o direito de processo penal.
Todavia, o direito penal, para ser aplicado, precisa seguir as regras impostas pelo
processo penal, porque o Estado não pode punir de qualquer maneira. Melhor dizendo,
para que o Estado possa exercer o seu direito de punir, é preciso que seja garantido ao
acusado todos os instrumentos previstos na Constituição Federal de 1988 (CF/1988) e
no Código de Processo Penal (CPP).
Lembre-se que o Processo Penal deve ser lido a luz da Constituição, ou seja, deve se
buscar um ponto de equilíbrio entre a efetividade do sistema da norma penal e os
direitos fundamentais previstos na CF/1988.
Observe-se, ainda, que o caráter sigiloso é atribuído pelo juiz por meio de sua própria
discricionariedade e à margem de fundamentação.
Nesse sistema, não há como falar em paridade de armas, sendo nítida a posição de
desigualdade entre as partes.
A defesa do acusado é bastante restrita, não lhe sendo assegurado, como exemplo, o
direito de se manifestar depois da acusação para refutar provas e argumentos trazidos
ao processo pelo acusador.
O processo penal do sistema acusatório exige que a gestão da prova seja feita pelas
partes para preservar a imparcialidade e o papel do juiz.
Por esse sistema, deve ser assegurado o contraditório e a ampla defesa. Por
consequência, garante-se à defesa o direito de manifestar-se apenas depois da
acusação, exceto quando quiser e puder abrir mão desse direito. Isso acontece porque
o réu deve se defender de todos os fatos que lhe são imputados para que possa exercer
a sua defesa de maneira ampla.
Por fim, é garantida, ainda, a isonomia processual, pois, a acusação e defesa devem
estar em posição de igualdade, sendo-lhes asseguradas idênticas oportunidades de
intervenção e de acesso aos meios e, principalmente, no direito de influenciar na
decisão do órgão julgador. É possível visualizar os seguintes aspectos:
O sistema é misto porque nele o processo se desdobra em duas fases. A primeira fase,
segundo a doutrina, é tipicamente inquisitória, a instrução é escrita e secreta, sem a
presença da acusação, portanto, não há contraditório.
Mas não era o entendimento prevalente. Atualmente, não há margens para dúvidas,
pois, com a publicação da Lei nº 13.964/2019, a adoção pelo sistema acusatório restou
evidente. Trata-se da harmonização do CPP com a CF/1988. Como dispõe o art. 3º-A: “O
processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do juiz na fase de
investigação e a substituição da atuação probatória do órgão de acusação. (Incluído
pela Lei nº 13.964, de 2019.)”.
Importante reprisar que o CPP, em sua redação original, possuía um viés nitidamente
autoritário e inquisitivo que se preocupava, antes de tudo, com a segurança pública e,
Assim, diante da nova ordem constitucional o processo penal deixa de ser visto como
mero instrumento de aplicação da lei penal e passa a ser considerado um verdadeiro
sistema de garantias do indivíduo em face do Estado.
Por todo exposto, até aqui, pergunta-se: quais seriam os direitos e garantias do acusado
enquanto sujeito processual previstos na CF/1988 e no CPP? Basicamente, pode-se
exemplificar:
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem
como fundamentos:
Direito a ter respeitado sua integridade física e moral (art. 5º, XLIX, da
CF/1988)
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
LIII – ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente;
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
LIV – ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
LVII – ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória;
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
LVIII – o civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, salvo nas
hipóteses previstas em lei;
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o
Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios:
CF/1988, art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
LXI – ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão
militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;
CPP, art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas
observando-se a: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
CF/1988, art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
LXIII – o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado,
sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado;
CPP, art. 306. A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão
comunicados imediatamente ao juiz competente, ao Ministério Público e à família do
preso ou à pessoa por ele indicada. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011.)
Direito de não ser preso nem mantido na prisão, quando a lei admitir liberdade
provisória, com ou sem fiança (art. 5º, LXVI, da CF/1988)
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
LXVI – ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade
Direito de ser cientificado quanto à identidade dos responsáveis pela sua prisão
ou por seu interrogatório policial, quando preso (art. 5º, LXIV, da CF/1988, e
arts. 288 e 291 do CPP)
CF/1988, art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
LXIV – o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou por seu
interrogatório policial;
CPP, art. 288. Ninguém será recolhido à prisão, sem que seja exibido o mandado ao
respectivo diretor ou carcereiro, a quem será entregue cópia assinada pelo executor ou
apresentada a guia expedida pela autoridade competente, devendo ser passado recibo
da entrega do preso, com declaração de dia e hora. Parágrafo único. O recibo poderá
ser passado no próprio exemplar do mandado, se este for o documento exibido.
CPP, art. 291. A prisão em virtude de mandado entender-se-á feita desde que o
executor, fazendo-se conhecer do réu, lhe apresente o mandado e o intime a
acompanhá-lo.
Direito de não serem admitidas em seu desfavor provas obtidas por meios
ilícitos (art. 5º, LVI, da CF/1988)
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
CF/1988, art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
LXXIV – o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem
insuficiência de recursos;
Direito à indenização por erro judiciário ou pelo tempo que permanecer preso,
além do fixado na sentença (art. 5º, LXXV, da CF/1988)
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
LXXV – o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar
preso além do tempo fixado na sentença;
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
Parágrafo único. O silêncio, que não importará em confissão, não poderá ser
interpretado em prejuízo da defesa. (Incluído pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003.)
Art. 192. O interrogatório do mudo, do surdo ou do surdo-mudo será feito pela forma
seguinte: (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003.)
III – ao surdo-mudo as perguntas serão formuladas por escrito e do mesmo modo dará
as respostas. (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003.)
Parágrafo único. Caso o interrogando não saiba ler ou escrever, intervirá no ato, como
intérprete e sob compromisso, pessoa habilitada a entendê-lo. (Redação dada pela Lei
nº 10.792, de 1º.12.2003.)
Art. 193. Quando o interrogando não falar a língua nacional, o interrogatório será feito
por meio de intérprete.
Art. 261. Nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado
A imparcialidade não se confunde com neutralidade, já que a ativa atuação do juiz nos
autos do processo em nada compromete a imparcialidade.
É importante esclarecer que imparcial é o juiz que não tem interesse no objeto do
processo nem queira favorecer uma das partes, pois, em um processo direcionado pelas
convicções do magistrado, o desfecho nada mais representaria além de uma verdadeira
encenação teatral.
Neste sentido é a vedação de orientação de quaisquer das partes, prevista no art. 254,
IV, do CPP: “Art. 254. O juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o fizer, poderá ser recusado
por qualquer das partes: IV – se tiver aconselhado qualquer das partes;”
Outro ponto, digno de nota, é o de que ser imparcial também não significa que deva
haver desinteresse no andamento processual, já que o magistrado deve priorizar e
tomar todas as providências garantir a aplicação dos princípios que permeiam o
processo, o contraditório, a ampla defesa, a duração razoável do processo e a busca
pela verdade processual.
Em outras palavras, são situações não elencadas nos casos de impedimento e suspeição
que possa interferir de algum modo na imparcialidade do magistrado.
Importante mencionar que, em caso de atuação do magistrado nos casos elencados nos
arts. 252 e 253 do CPP, o ato por ele praticado estará eivado de nulidade absoluta.
Art. 253. Nos juízos coletivos, não poderão servir no mesmo processo os juízes que
forem entre si parentes, consangüíneos ou afins, em linha reta ou colateral até o
terceiro grau, inclusive.
Por fim, o juiz é suspeito quando se interessa por qualquer das partes. Observe-se que
as causas que revelam a suspeição da atuação do juiz no processo penal estão previstas
no rol não taxativo do art. 254 do CPP. Aqui, diferente do impedimento, o vício é
externo, a presunção de parcialidade é relativa (juris tantum) e a atuação de juiz
suspeito provoca a nulidade relativa.
Art. 254. O juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o fizer, poderá ser recusado por
qualquer das partes:
III – se ele, seu cônjuge, ou parente, consangüíneo, ou afim, até o terceiro grau,
Dentro desse espírito e visando buscar um equilíbrio entre o CPP e a CF/1988, a Lei nº
13.964/2019 trouxe a figura do juiz das garantias, órgão jurisdicional com missão de
acompanhar as diversas etapas da investigação.
A sua competência está prevista num rol não exaustivo nos termos dos arts. 3º-B a 3º-F
do CPP.
Importante esclarecer que não se deve confundir o juiz das garantias com o juiz
investigador, pois a sua inércia deve ser preservada de maneira absoluta, aguardando a
provocação dos interessados, sob pena de ser violada a sua imparcialidade.
Atenção!