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TEMAS

PARA DEFENSORIA ESTADUAL

DIREITO PROCESSUAL PENAL

O Processo Penal Constitucional – sistema acusatório e


imparcialidade do magistrado como elemento de
democracia constitucional

1. Processo penal constitucional

Inicialmente, conceitua-se o processo penal como o ramo do direito público, que possui
natureza instrumental, pois se trata do meio pelo qual se aplica o direito penal.

Em outras palavras, o processo penal é o instrumento determinado pelo direito por


meio do qual o Estado poderá exercer o poder jurisdicional que lhe foi conferido, qual
seja, o direito de punir o transgressor da norma penal.

É possível afirmar que não há direito penal sem o direito de processo penal.

Todavia, o direito penal, para ser aplicado, precisa seguir as regras impostas pelo
processo penal, porque o Estado não pode punir de qualquer maneira. Melhor dizendo,
para que o Estado possa exercer o seu direito de punir, é preciso que seja garantido ao
acusado todos os instrumentos previstos na Constituição Federal de 1988 (CF/1988) e
no Código de Processo Penal (CPP).

Lembre-se que o Processo Penal deve ser lido a luz da Constituição, ou seja, deve se
buscar um ponto de equilíbrio entre a efetividade do sistema da norma penal e os
direitos fundamentais previstos na CF/1988.

2. Sistemas processuais penais

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Explica a doutrina que o processo penal, na sua estrutura, pode ser inquisitivo,
acusatório e misto.

2.1. Sistema inquisitivo

É o sistema típico de regimes ditatoriais e a principal característica desse sistema é a


reunião na pessoa do juiz das funções de acusar, defender e julgar.

Neste sistema, o acusado, praticamente, não possui garantias no decorrer do processo


criminal (ampla defesa, contraditório, devido processo legal etc.), o que dá margem a
excessos processuais. Por consequência, em regra, o processo não é público, ou seja, os
atos são praticados de maneira sigilosa.

Observe-se, ainda, que o caráter sigiloso é atribuído pelo juiz por meio de sua própria
discricionariedade e à margem de fundamentação.

Nesse sistema, não há como falar em paridade de armas, sendo nítida a posição de
desigualdade entre as partes.

A defesa do acusado é bastante restrita, não lhe sendo assegurado, como exemplo, o
direito de se manifestar depois da acusação para refutar provas e argumentos trazidos
ao processo pelo acusador.

Em resumo, são características do sistema inquisitivo ou inquisitorial:

1. Vigora a acumulação das funções de acusar, defender e julgar.


2. A gestão das provas está nas mãos do Estado.
3. O contraditório é restrito.
4. Existe um desiquilíbrio na relação processual.
5. Normalmente, os atos processuais são secretos.
6. O acusado é objeto de prova.
7. O acusado é potencialmente culpado.
8. O acusado tem o dever de provar sua inocência.
9. O sistema de provas é o tarifado.
10. A confissão é a rainha das provas.

2.2. Sistema acusatório

É aquele próprio dos regimes democráticos. Trata-se da compreensão de que a

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persecução penal se desenvolve a partir de uma necessária separação de funções entre
acusação, defesa e julgamento.

O processo penal do sistema acusatório exige que a gestão da prova seja feita pelas
partes para preservar a imparcialidade e o papel do juiz.

Por esse sistema, deve ser assegurado o contraditório e a ampla defesa. Por
consequência, garante-se à defesa o direito de manifestar-se apenas depois da
acusação, exceto quando quiser e puder abrir mão desse direito. Isso acontece porque
o réu deve se defender de todos os fatos que lhe são imputados para que possa exercer
a sua defesa de maneira ampla.

A tramitação da ação penal ocorrerá com a observância do procedimento legal e os


atos, em regra, serão públicos. Não há discricionariedade irrestrita do magistrado
porque deve-se respeitar os ditames legais.

A produção de provas é de incumbência das partes.

Por fim, é garantida, ainda, a isonomia processual, pois, a acusação e defesa devem
estar em posição de igualdade, sendo-lhes asseguradas idênticas oportunidades de
intervenção e de acesso aos meios e, principalmente, no direito de influenciar na
decisão do órgão julgador. É possível visualizar os seguintes aspectos:

1. Vige a separação das funções de acusar, defender e julgar.


2. A gestão da prova está nas mãos das partes.
3. O contraditório é amplo.
4. Existe uma igualdade entre as partes (acusação x defesa) e vigora o princípio da
paridade de armas, equilíbrio, isonomia.
5. Os atos são públicos e prevalece a oralidade.
6. O acusado é sujeito de direitos.
7. O acusado é presumidamente inocente.
8. O ônus da prova recai sobre a acusação.
9. O sistema de provas adotado é o do livre convencimento motivado.
10. Há uma equivalência entre as provas.

2.3. Sistema misto ou acusatório formal

O sistema processual misto pode ser definido como um modelo processual


intermediário entre o sistema acusatório e o sistema inquisitivo.

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Ao mesmo tempo, há uma observância de garantias constitucionais e também se
verifica os resquícios do sistema inquisitivo.

O sistema é misto porque nele o processo se desdobra em duas fases. A primeira fase,
segundo a doutrina, é tipicamente inquisitória, a instrução é escrita e secreta, sem a
presença da acusação, portanto, não há contraditório.

Já a segunda fase, é acusatória. O órgão acusador apresenta a acusação formal, o réu


se defende e o juiz julga. Essa fase é pública e oral.

2.4. Sistema adotado pelo Brasil de acordo com a CF/1988 e a


legislação infraconstitucional

Em virtude da adoção dos princípios e garantias constitucionais, a doutrina majoritária


brasileira entendia que o Brasil optou pelo sistema acusatório, tendo como fundamento
o art. 129, inciso I, da CF/1988: “Art. 129. São funções institucionais do Ministério
Público: I – promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei; (...)”.

No entanto, outros entendiam que se adotava o sistema inquisitório. Isso acontecia


porque o CPP, que é datado de 1941 (passou a viger em 01.01.1942), apresenta
inúmeros dispositivos de índole inquisitiva, como exemplo cita-se aqueles que tratam da
prática de atos por parte do juiz, durante a fase de investigações (arts. 5°, inciso II, 1ª
parte) ou ainda para a instauração da ação penal, típicos de um órgão acusador (arts.
26 e 28 do CPP), além de outros espalhados pela lei processual.

Mas não era o entendimento prevalente. Atualmente, não há margens para dúvidas,
pois, com a publicação da Lei nº 13.964/2019, a adoção pelo sistema acusatório restou
evidente. Trata-se da harmonização do CPP com a CF/1988. Como dispõe o art. 3º-A: “O
processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do juiz na fase de
investigação e a substituição da atuação probatória do órgão de acusação. (Incluído
pela Lei nº 13.964, de 2019.)”.

Assim, pode-se afirmar que tanto no plano constitucional como na esfera


infraconstitucional vigora o sistema acusatório.

2.5. Garantias constitucionais do acusado

Importante reprisar que o CPP, em sua redação original, possuía um viés nitidamente
autoritário e inquisitivo que se preocupava, antes de tudo, com a segurança pública e,

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principalmente, com a punição do acusado. Como visto anteriormente, o acusado não
era visto como sujeito de direitos.

É com a promulgação do atual sistema constitucional que se instituiu um sistema amplo


de garantias individuais.

Assim, diante da nova ordem constitucional o processo penal deixa de ser visto como
mero instrumento de aplicação da lei penal e passa a ser considerado um verdadeiro
sistema de garantias do indivíduo em face do Estado.

Por todo exposto, até aqui, pergunta-se: quais seriam os direitos e garantias do acusado
enquanto sujeito processual previstos na CF/1988 e no CPP? Basicamente, pode-se
exemplificar:

Direito ao respeito à dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF/1988)

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem
como fundamentos:

III – a dignidade da pessoa humana;

Direito a ter respeitado sua integridade física e moral (art. 5º, XLIX, da
CF/1988)

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

XLIX – é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;

Direito de ser processado e sentenciado pela autoridade competente (art. 5º,


LIII, da CF/1988)

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

LIII – ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente;

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Direito ao devido processo legal (art. 5º, LIV, da CF/1988)

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

LIV – ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;

Direito ao contraditório e à ampla defesa (art. 5º, LV, da CF/1988);

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são


assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;

Direito à presunção de inocência até o trânsito em julgado da condenação (art.


5º, LVII, da CF/1988)

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

LVII – ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória;

Direito de não ser submetido à identificação criminal, salvo nas hipóteses


previstas em lei (art. 5º, LVIII, da CF/1988, e Lei nº 12.037/2009)

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

LVIII – o civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, salvo nas
hipóteses previstas em lei;

Lei nº 12.037/2009, art. 1º O civilmente identificado não será submetido a identificação


criminal, salvo nos casos previstos nesta Lei.

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Direito a processo e julgamento público, salvo quando necessário o sigilo para
preservação da intimidade ou dos interesses sociais (arts. 5º, LX, e 93, IX, da
CF/1988)

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

LX – a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da


intimidade ou o interesse social o exigirem;

Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o
Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios:

IX – todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e


fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a
presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a
estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo
não prejudique o interesse público à informação; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004.)

Direito de não ser preso, senão em flagrante ou mediante ordem escrita


emanada da autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão
militar ou crime propriamente militar, definidos em lei (art. 5º, LXI, da
CF/1988, e art. 282 do CPP)

CF/1988, art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:

LXI – ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão
militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;

CPP, art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas
observando-se a: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

I – necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou a instrução criminal

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e, nos casos expressamente previstos, para evitar a prática de infrações penais;
(Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

II – adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições


pessoais do indiciado ou acusado. (Grifos nossos.)

Direito a ser informado de seus direitos quando preso, entre os quais o de


permanecer calado, bem como de assistência da família e de advogado (art. 5º,
LXIII, da CF/1988, e art. 306, § 2º, do CPP)

CF/1988, art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:

LXIII – o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado,
sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado;

CPP, art. 306. A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão
comunicados imediatamente ao juiz competente, ao Ministério Público e à família do
preso ou à pessoa por ele indicada. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011.)

§ 1º Em até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da prisão, será encaminhado ao


juiz competente o auto de prisão em flagrante e, caso o autuado não informe o nome de
seu advogado, cópia integral para a Defensoria Pública. (Redação dada pela Lei nº
12.403, de 2011.)

§ 2º No mesmo prazo, será entregue ao preso, mediante recibo, a nota de culpa,


assinada pela autoridade, com o motivo da prisão, o nome do condutor e os das
testemunhas. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011.)

Direito de não ser preso nem mantido na prisão, quando a lei admitir liberdade
provisória, com ou sem fiança (art. 5º, LXVI, da CF/1988)

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

LXVI – ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade

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provisória, com ou sem fiança;

Direito de ser cientificado quanto à identidade dos responsáveis pela sua prisão
ou por seu interrogatório policial, quando preso (art. 5º, LXIV, da CF/1988, e
arts. 288 e 291 do CPP)

CF/1988, art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:

LXIV – o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou por seu
interrogatório policial;

CPP, art. 288. Ninguém será recolhido à prisão, sem que seja exibido o mandado ao
respectivo diretor ou carcereiro, a quem será entregue cópia assinada pelo executor ou
apresentada a guia expedida pela autoridade competente, devendo ser passado recibo
da entrega do preso, com declaração de dia e hora. Parágrafo único. O recibo poderá
ser passado no próprio exemplar do mandado, se este for o documento exibido.

CPP, art. 291. A prisão em virtude de mandado entender-se-á feita desde que o
executor, fazendo-se conhecer do réu, lhe apresente o mandado e o intime a
acompanhá-lo.

Direito de não serem admitidas em seu desfavor provas obtidas por meios
ilícitos (art. 5º, LVI, da CF/1988)

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

LVI – são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos;

Direito à assistência jurídica integral e gratuita, quando não dispuser de


recursos suficientes para constituir advogado (art. 5º, LXXIV, da CF/1988, e
Lei nº 1.060/1950)

CF/1988, art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do

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direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:

LXXIV – o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem
insuficiência de recursos;

Direito à indenização por erro judiciário ou pelo tempo que permanecer preso,
além do fixado na sentença (art. 5º, LXXV, da CF/1988)

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

LXXV – o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar
preso além do tempo fixado na sentença;

Direito a um processo com duração razoável e a meios que garantam a


celeridade de sua tramitação (art. 5º, LXXVIII, da CF/1988)

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

LXXVIII – a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável


duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004.)

Direito a entrevista prévia e reservada com seu advogado, constituído ou


nomeado, antes de ser interrogado em juízo (art. 185, § 2º, do CPP)

Art. 185. O acusado que comparecer perante a autoridade judiciária, no curso do


processo penal, será qualificado e interrogado na presença de seu defensor, constituído
ou nomeado. (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003.)

§ 2º Excepcionalmente, o juiz, por decisão fundamentada, de ofício ou a requerimento


das partes, poderá realizar o interrogatório do réu preso por sistema de
videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em
tempo real, desde que a medida seja necessária para atender a uma das seguintes
finalidades: (Redação dada pela Lei nº 11.900, de 2009.)

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Direito a que seu silêncio não seja interpretado como confissão ficta ou utilizado
pelo juiz como elemento de convicção em seu desfavor (art. 186, parágrafo
único, do CPP)

Art. 186. Depois de devidamente qualificado e cientificado do inteiro teor da acusação,


o acusado será informado pelo juiz, antes de iniciar o interrogatório, do seu direito de
permanecer calado e de não responder perguntas que lhe forem formuladas. (Redação
dada pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003.)

Parágrafo único. O silêncio, que não importará em confissão, não poderá ser
interpretado em prejuízo da defesa. (Incluído pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003.)

Direito a tradutor ou intérprete, quando desconhecer o idioma nacional ou não


puder se comunicar por motivos relacionados à deficiência auditiva ou vocal
(arts. 192 e 193 do CPP)

Art. 192. O interrogatório do mudo, do surdo ou do surdo-mudo será feito pela forma
seguinte: (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003.)

I – ao surdo serão apresentadas por escrito as perguntas, que ele responderá


oralmente; (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003.)

II – ao mudo as perguntas serão feitas oralmente, respondendo-as por escrito; (Redação


dada pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003.)

III – ao surdo-mudo as perguntas serão formuladas por escrito e do mesmo modo dará
as respostas. (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003.)

Parágrafo único. Caso o interrogando não saiba ler ou escrever, intervirá no ato, como
intérprete e sob compromisso, pessoa habilitada a entendê-lo. (Redação dada pela Lei
nº 10.792, de 1º.12.2003.)

Art. 193. Quando o interrogando não falar a língua nacional, o interrogatório será feito
por meio de intérprete.

Direito à defesa técnica fundamentada, quando assistido por defensor dativo ou


público (art. 261, parágrafo único, do CPP)

Art. 261. Nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado

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sem defensor. Parágrafo único. A defesa técnica, quando realizada por defensor público
ou dativo, será sempre exercida através de manifestação fundamentada.

3. A imparcialidade do magistrado como elemento da


democracia constitucional

Como visto, a separação das funções entre o Estado-acusador e o Estado-juiz é o pilar


que sustenta o sistema acusatório. Todavia, não basta a existência de um sistema
acusatório, é preciso que o juiz seja imparcial.

Note-se que a garantia da imparcialidade do juiz possui íntima correlação com o


sistema acusatório adotado pela ordem constitucional (art. 129, I, da CF/1988) e pela
ordem infraconstitucional (art. 3º-A do CPP), pois, garante a separação das funções dos
sujeitos processuais.

3.1. Imparcialidade e neutralidade

A imparcialidade não se confunde com neutralidade, já que a ativa atuação do juiz nos
autos do processo em nada compromete a imparcialidade.

O Estado tem o dever de assegurar às partes a imparcialidade de seus juízes na solução


das causas que lhes são apresentadas.

O objetivo principal é afastar qualquer possibilidade de influência sobre a decisão que


será prolatada.

É importante esclarecer que imparcial é o juiz que não tem interesse no objeto do
processo nem queira favorecer uma das partes, pois, em um processo direcionado pelas
convicções do magistrado, o desfecho nada mais representaria além de uma verdadeira
encenação teatral.

Neste sentido é a vedação de orientação de quaisquer das partes, prevista no art. 254,
IV, do CPP: “Art. 254. O juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o fizer, poderá ser recusado
por qualquer das partes: IV – se tiver aconselhado qualquer das partes;”

Ao magistrado impõe-se conduzir o processo velando pelo respeito e pela garantia de


todos direitos fundamentais relativos do devido processo legal, sendo o processo penal

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verdadeiro instrumento de justiça.

Outro ponto, digno de nota, é o de que ser imparcial também não significa que deva
haver desinteresse no andamento processual, já que o magistrado deve priorizar e
tomar todas as providências garantir a aplicação dos princípios que permeiam o
processo, o contraditório, a ampla defesa, a duração razoável do processo e a busca
pela verdade processual.

3.2. Regras Protetivas da Imparcialidade: incompatibilidade,


impedimento e suspeição

Em sua atuação no processo penal, o magistrado deve possuir capacidade tanto


objetiva como subjetiva para solucionar a demanda de maneira absolutamente neutra,
vinculando-se apenas às regras legais e ao resultado de tudo que foi produzido no
processo, especialmente, diante da análise das provas produzidas sob o crivo do
contraditório.

Mas, quais seriam as medidas protetivas para se garantir a imparcialidade do


magistrado? São as hipóteses previstas nos arts. 112, 252, 253 e 254, todos do CPP, que
tratam da incompatibilidade, impedimento e suspeição.

Inicialmente, não são expressões sinônimas.

A incompatibilidade (art. 112 do CPP) está relacionada com graves razões de


conveniência não incluídas entre os casos de suspeição ou de impedimento.

Em outras palavras, são situações não elencadas nos casos de impedimento e suspeição
que possa interferir de algum modo na imparcialidade do magistrado.

Art. 112. O juiz, o órgão do Ministério Público, os serventuários ou funcionários de


justiça e os peritos ou intérpretes abster-se-ão de servir no processo, quando houver
incompatibilidade ou impedimento legal, que declararão nos autos. Se não se der a
abstenção, a incompatibilidade ou impedimento poderá ser argüido pelas partes,
seguindo-se o processo estabelecido para a exceção de suspeição.

O impedimento se revela diante do interesse do magistrado no objeto da causa. As


causas determinantes estão elencadas em um rol taxativo e todas as hipóteses são
objetivas. Existe uma presunção absoluta (juris et de jure) quanto à parcialidade do
juiz. Portanto, é vedado de maneira peremptória a sua atuação naquele determinado

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processo.

Importante mencionar que, em caso de atuação do magistrado nos casos elencados nos
arts. 252 e 253 do CPP, o ato por ele praticado estará eivado de nulidade absoluta.

Art. 252. O juiz não poderá exercer jurisdição no processo em que:

I – tiver funcionado seu cônjuge ou parente, consangüíneo ou afim, em linha reta ou


colateral até o terceiro grau, inclusive, como defensor ou advogado, órgão do
Ministério Público, autoridade policial, auxiliar da justiça ou perito;

II – ele próprio houver desempenhado qualquer dessas funções ou servido como


testemunha;

III – tiver funcionado como juiz de outra instância, pronunciando-se, de fato ou de


direito, sobre a questão;

IV – ele próprio ou seu cônjuge ou parente, consangüíneo ou afim em linha reta ou


colateral até o terceiro grau, inclusive, for parte ou diretamente interessado no feito.

Art. 253. Nos juízos coletivos, não poderão servir no mesmo processo os juízes que
forem entre si parentes, consangüíneos ou afins, em linha reta ou colateral até o
terceiro grau, inclusive.

Por fim, o juiz é suspeito quando se interessa por qualquer das partes. Observe-se que
as causas que revelam a suspeição da atuação do juiz no processo penal estão previstas
no rol não taxativo do art. 254 do CPP. Aqui, diferente do impedimento, o vício é
externo, a presunção de parcialidade é relativa (juris tantum) e a atuação de juiz
suspeito provoca a nulidade relativa.

Art. 254. O juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o fizer, poderá ser recusado por
qualquer das partes:

I – se for amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer deles;

II – se ele, seu cônjuge, ascendente ou descendente, estiver respondendo a processo


por fato análogo, sobre cujo caráter criminoso haja controvérsia;

III – se ele, seu cônjuge, ou parente, consangüíneo, ou afim, até o terceiro grau,

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inclusive, sustentar demanda ou responder a processo que tenha de ser julgado por
qualquer das partes;

IV – se tiver aconselhado qualquer das partes;

V – se for credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer das partes;

VI – se for sócio, acionista ou administrador de sociedade interessada no processo.

3.3. Juiz das garantias

O processo penal é um instrumento de proteção dos direitos e garantias fundamentais


que busca assegurar ao acusado a imparcialidade do órgão julgador. Assim, o
magistrado deve afastar-se ao máximo da persecução penal, a fim de não prejudicar seu
livre convencimento e por consequência, sua imparcialidade.

Dentro desse espírito e visando buscar um equilíbrio entre o CPP e a CF/1988, a Lei nº
13.964/2019 trouxe a figura do juiz das garantias, órgão jurisdicional com missão de
acompanhar as diversas etapas da investigação.

Trata-se de órgão incumbido do controle da legalidade da investigação criminal e pela


salvaguarda dos direitos individuais cuja franquia tenha sido reservada à autorização
prévia do Poder Judiciário.

A sua competência está prevista num rol não exaustivo nos termos dos arts. 3º-B a 3º-F
do CPP.

Importante esclarecer que não se deve confundir o juiz das garantias com o juiz
investigador, pois a sua inércia deve ser preservada de maneira absoluta, aguardando a
provocação dos interessados, sob pena de ser violada a sua imparcialidade.

Atenção!

Conforme decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento das


ADIs nos 6.298, 6.299 e 6.300 está suspensa a eficácia dos artigos
mencionados no estudo do juiz das garantias.

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Obra coletiva do Curso Ênfase produzida a partir da análise estatística de incidência
dos temas em provas de concursos públicos.
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