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Conceito

Com previsão expressa no art. 1º, III, da Constituição Federal, a Dignidade da


Pessoa Humana é um princípio regente, de valor pré-constituinte e hierarquia
supraconstitucional, sustentáculo da efetividade das propostas do Estado
Democrático de Direito, cuja missão é a preservação do ser humano,
garantindo-lhe não só o mínimo existencial, mas conferindo-lhe autoestima.
Possui duas dimensões:

A. Objetiva = referente ao mínimo existencial, indispensável para atender as


necessidades básicas (saúde, segurança, educação, alimentação,
transporte, moradia...)
B. Subjetiva = relativa a liberdade individual de formação da personalidade,
garantindo o respeito de suas escolhas e convicções particulares,
inerentes a autoestima do sujeito.

Se por um lado o Estado deve garantir o mínimo necessário para a


sobrevivência do indivíduo, de outro, deve assegurar o livre desenvolvimento
das atividades e vontades pelo cidadão.
Aspectos criminais
É certo que a prática de qualquer infração penal sempre ofende, de algum
modo, a dignidade humana, uma vez afetados direitos e garantias fundamentais
(como vida, integridade física, honra, intimidade, liberdade...).
Certas infrações, contudo, evidenciam com maior profundidade o mandamento
de respeito ao ser humano como tal, primando pela sensibilidade, humanidade
e bondade. É o caso do crime de tortura, que trata de um constrangimento
específico, em face da dignidade da pessoa humana, delito intolerável, cuja
gravidade tem reflexo nas particulares sanções cominadas.
No mesmo bojo está inserido o crime de racismo, em vista da discriminação de
determinados grupos sociais e sua consequente segregação, em detrimento de
valores fraternos, éticos e altruístas.
Denota-se que, em verdade, o objetivo perseguido pelo Direito é a convivência
harmônica entre os seres humanos, primando-se pela manutenção da paz
pública.
Incidência quanto ao infrator
Nem se olvide que, não só a vítima, mas também o autor de determinada
infração penal goza dos direitos indispensáveis à preservação da dignidade da
pessoa humana, uma vez inerente à sua própria natureza de ser humano.
Com efeito, não se pode admitir que a sociedade excomungue seus próprios
membros, ainda quando autores de erros trágicos, pois, nestes casos, há
regulamentação específica, prevendo a imposição de sanção adequada,
proporcional ao mal causado e justaposta ao transgressor.
Destarte, resta indefensável admitir o recolhimento de seres humanos em
ambientes inóspitos, insalubres, promíscuos e indignos, sob o pálido pretexto
de que tal medida seja razoável à punição do infrator, quando escorada em
nítido intento vingativa.
Enquanto titular exclusivo do ius puniendi, deve o Estado garantir condições
dignas para que o sentenciado arque com seu castigo, à luz do disposto pelo
art. 5º, XLVII, da Constituição Federal. De certo, não cabe ao Estado inverter os
papéis e passar a infringir as normas, imprimindo demasiado e desnecessário
sofrimento àqueles que estiverem sob sua tutela, mesmo quando autores de
infrações penais.
Em síntese, em nenhum cenário admite-se o abuso, o exagero e a
desumanidade, pois sendo agressores ou agredidos, todos os seres humanos
merecem tratamento digno.
Aspectos do processo e a dignidade da pessoa humana
A presunção de inocência é corolário da dignidade da pessoa humana, impondo
que não se pode considerar culpado alguém desprovido de condenação
definitiva.
As garantias de defesa constitucionalmente asseguradas têm como fundamento
a preservação da dignidade daquele que responde à uma ação penal,
permitindo-lhe produzir todas as provas que entender necessárias para refutar
as acusações formuladas que, de per si, não o tornam, automaticamente, um
criminoso.
Como cediço, ao Estado incumbe o ônus de provar a culpa do acusado, cuja
inocência é preservada até a superveniência de édito condenatório definitivo.
Por outro lado, a depender da situação concreta, pode o acusado sofrer a
coerção de sua liberdade, quando assim respaldada em elementos concretos e
idôneos ao preenchimento dos requisitos previstos no art. 312 do Código de
Processo Penal.
Nenhum direito é absoluto, comportando tolhimento, ainda que parcial,
quando em conflito com outros. Portanto, se o fato de ser processado não faz
do acusado culpado, também não o permite fugir e frustrar a aplicação da lei
penal.
Destarte, no processo penal busca-se enaltecer o ser humano, resguardando a
segurança pública na exata proporção da necessidade.
Fonte Bibliográfica
NUCCI, Guilherme de Souza, Princípios Constitucionais Penais e Processuais
Penais. 4. ed. Rio de janeiro: Forense, 2015 - págs. 39 a 50
NUCCI, Guilherme de Souza, Código Penal Comentado. 16. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2016 - nota 1G do art. 1º
NUCCI, Guilherme de Souza, Curso de Direito Penal. Rio de Janeiro: Forense,
2017. Vol. 1, págs. 66 a 68.
NUCCI, Guilherme de Souza, Direitos Humanos Versus Segurança Pública. Rio
de Janeiro: Forense, 2016 - págs. 29 a 38.

Conteúdo
Com previsão expressa no art. 5º, LIV, da Constituição Federal, ao lado da
Dignidade da Pessoa Humana, o Devido Processo Legal é um princípio regente,
de valor pré-constituinte e hierarquia supraconstitucional, igualmente
sustentáculo da efetividade das propostas do Estado Democrático de Direito,
garantindo que a prestação jurisdicional somente se concretize mediante o
respeito de regras instrumentais previamente estabelecidas, distante das quais
ninguém poderá sofrer sanção penal. Em outras palavras, o devido processo
legal exige respeito aos mecanismos procedimentais fixados, somente em razão
dos quais o Estado pode conferir a cada um o que merece.

Depreende-se, pois, que o Devido Processo Legal possui dois aspectos:

A. Substantivo = voltado ao direito penal material, assegurando respeito a


legalidade, a anterioridade, a irretroatividade, a proporcionalidade, a
individualização, a vedação contra dupla punição e todos os demais;
B. Procedimental = de ordem processual penal, referente aos instrumentos
necessários à formação da culpa, tendo como corolários a ampla defesa, a
contraditório, o juiz natural, e todos os outros princípios processuais penais.

Com efeito, denota-se que o devido processo legal é sustentáculo para todos os
demais princípios norteadores penais e processuais penais, reclamando sua
observância e fiel cumprimento, como instrumentos de garantia da prestação
jurisdicional.

Por fim, acerca da terminologia empregada, é certo que o devido processo legal
deve ser observado por todos os ramos do direito processual e, em se tratando
da seara penal, inexiste motivos para se conferir designação distinta¹, porquanto
obviamente voltada ao processo penal.  
 
 
Aspectos criminais

Sob o viés substancial, o devido processo penal impõe o respeito ao princípio


da legalidade, assegurando que ninguém responda por algo desprovido de
previsão legal, ainda garantindo que a tipificação das condutas seja
compreensível por todo o cidadão, como forma de orientar seus
comportamentos futuros dentro da licitude, sem margem para arbitrariedades e
autoritarismos pelo Estado, imperativos consubstanciados através da
taxatividade, anterioridade e irretroatividade da lei penal.

Do mesmo modo, ilide a responsabilidade penal objetiva, a padronização das


penas e a dupla punição pelo mesmo fato, exigindo a efetiva demonstração da
presença de dolo ou culpa pelo acusado, somente mediante a qual restará
justificada a aplicação da sanção penal, respectiva ao mal perpetrado, inclusive
de forma direcionada à pessoa do infrator, respeitando, portanto, a
culpabilidade, a proporcionalidade e a individualização da pena.
 
 

Aspectos Processuais

Sob o prisma procedimental, o devido processo penal se revela através das


diversas garantias conferidas ao acusado, durante a persecução penal, para que
desempenha sua defesa, diante de um juízo imparcial, contemplando, portanto,
o contraditório, a ampla defesa, a publicidade, o juiz natural e imparcial.

O mesmo se observa durante a execução penal, onde o Judiciário segue


gerindo o cumprimento da reprimenda pelo sentenciado, ao qual são
garantidos todos os mecanismos de defesa.

Por certo, a execução penal integra a atividade jurisdicional, cabendo ao


magistrado fiscalizar e conduzir a concretização da pretensão punitiva,
permitindo ao executado formular pedidos ou defender-se em procedimento
disciplinar.  
 ________________________  
1 - Nesse sentido Rogério Lauria Tucci opta por denominar como Devido Processo Penal
(Direitos e Garantias Individuais no processo penal brasileiro, 3 ed, São Paulo:RT, 2009, p. 57-
64) 
  
  
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NUCCI, Guilherme de Souza, Princípios Constitucionais Penais e Processuais


Penais. 4. ed. Rio de janeiro: Forense, 2015 - págs. 62 a 65;

NUCCI, Guilherme de Souza, Código de Processo Penal Comentado. 15. ed. Rio
de Janeiro: Forense, 2016 - nota 1 do art. 1º;

NUCCI, Guilherme de Souza, Curso de Direito Penal. Rio de Janeiro: Forense,


2017. Vol. 1, págs. 68 a 70.  

Conteúdo
Com previsão expressa no art. 5º, XXXIX, da Constituição Federal, a Legalidade é
um princípio delimitador, que estabelece as margens para a atuação do Estado
Democrático de Direito, garantindo inexistir infração ou sanção desprovidas de
previsão legal.

A missão deste princípio é restringir a intervenção do Estado em face da vida


privada do sujeito, impondo limites ao exercício do poder punitivo, cujas balizas
são adstritas às normas legais.

O modelo instituído pelo Estado Democrático de Direito não define apenas a


forma de escolha de seus representantes, possuindo significado deveras
profundo, consoante o qual, ao sujeito tudo é permitido, desde que não seja
vedado. Em outras palavras, o cidadão tem ampla liberdade para exercer suas
vontades, expressar seus pensamentos e desenvolver seus gostos, dentre outras
tantas faculdades que lhe são disponíveis, desde que não configurem a prática
de ilícito.

Nesse passo, a Constituição Federal, em seu art. 22, inciso I, estabelece ser de
competência privativa da União legislar sobre matéria penal, tratando, portanto,
de atividade própria do Congresso Nacional a criação dos dispositivos penais.

Com efeito, denota-se que a Legalidade se subdivide em:


  

A. Ampla = voltada a todos os ramos do Direito, impondo que ninguém está


obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei ;
B. Estrita = também denominada Reserva Legal, refere-se à esfera penal,
preceituando que somente a lei, em sentido estrito (não abarcando portarias,
despachos, resoluções e outros atos normativos), pode criar crimes e cominar
penas, ou seja, somente a lei estrita, emanada pelo Poder Legislativo, pode
dispor sobre matéria penal.

Portanto, a legalidade impõe a necessidade de subsunção entre o fato concreto


e uma norma vigente no ordenamento jurídico, sem a qual não se pode conferir
uma sanção à conduta perpetrada. No campo penal, tal adequação é
denominada tipicidade que, em última análise, pode ser encarada como
instrumento de viabilização da legalidade.

Não obstante, em respeito a legalidade, exige-se a formulação de dispositivos


penais claros, pormenorizados, que propiciem a exata compreensão pelo sujeito
acerca do comportamento ali definido e sua respectiva sanção, o que se alcança
por intermédio da taxatividade.

Legalidade como garantia fundamental

Na seara penal, a legalidade confere contornos mais profundos, não se


contentando com a prévia existência de um dispositivo legal (garantia formal),
mas demandando que a previsão do comportamento seja específica, justaposta,
individualizada (garantia material).

Como cediço, em matéria penal, os tipos legais não devem ser imprecisos ou
genéricos, sob pena de ensejarem incertezas quanto a conduta ali descrita,
inclusive dando margem a discricionariedades em sua aplicação, uma vez
passível de interpretações indevidas. Ao revés, devem os tipos penais primar
pela constrição de seu alcance, ainda que providos de balizas interpretativas
(como ocorre com os elementos objetivos normativos, sujeitos ao juízo de
valoração pelo magistrado), evitando excessos ou desvios em sua aplicação.

Destarte, a existência de tipos penais excessivamente abertos poderia atender,


formalmente, a legalidade, porém, do ponto de vista material, impõe-se a
garantia de que os tipos sejam específicos, com alcance determinado, voltados
à comportamento certo e definido.

Não se confundir, no entanto, garantia formal e material com legalidade formal


e material.

Legalidade formal e material

Sob o viés material, a legalidade diz respeito ao conceito material de crime, ou


seja, aquele entendido pela sociedade como comportamento merecedor se
censura, mediante a cominação de sanção penal. Por outro lado, a legalidade
formal decorre da concepção formal de crime, conferida pelo direito, definindo-
o como comportamento previsto em lei, que ofende bem jurídico tutelado,
passível se sofre a respectiva sanção penal cominada.

Por certo, a concepção formal de legalidade é mais segura, em detrimento da


concepção material, porquanto restrita aos exatos termos daquilo o que a lei
definir como crime.

Leitura Complementar

NUCCI, Guilherme de Souza, Princípios Constitucionais Penais e Processuais


Penais. 4. ed. Rio de janeiro: Forense, 2015 - págs. 81 a 107 e 167 a 170;

NUCCI, Guilherme de Souza, Código Penal Comentado. 16. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2016 - nota 1-F, 4, 4-A, 5 e 8 do art. 1º;

NUCCI, Guilherme de Souza, Curso de Direito Penal. Rio de Janeiro: Forense,


2017. Vol. 1, págs. 70 a 72.

Conteúdo
Com previsão expressa contigua ao Princípio da Legalidade, no art. 5º, XXXIX, da
Constituição Federal, a Anterioridade estabelece que as leis incriminadoras só
podem ser aplicadas para fatos póstumos, portanto praticados após o início de
sua vigência.

Este princípio é vital para a eficácia da Legalidade, garantindo prévia ciência aos
destinatários, quanto aos comportamentos definidos como ilícitos, bem como a
respectiva reprimenda a eles cominada, permitindo que, munidos desse
conhecimento, optem por infringir ou não a norma incriminadora.

Por certo, a missão da Anterioridade é conferir ao sujeito a proteção contra


abusos pelo Estado, assegurando que não se crie sanção especificamente
voltada a determinado comportamento pretérito.

Em verdade, restaria inócuo restringir a atuação do Estado aos casos


disciplinados em lei, se esta pudesse retroagir aos fatos já praticados, assim
ensejando a imposição de reprimenda, até então sequer prevista. Fosse assim,
estaríamos admitindo a vulnerabilidade do cidadão, uma vez sujeito a incertezas
e imprevisões quanto a proibição de seus atos.

Justamente para evitar tal disparate, segue-se a regra¹ imposta pela


Anterioridade, segundo a qual a lei incriminadora tem alcance limitado,
compreendendo somente os fatos praticados após a sua concepção.

Em última análise, depreende-se que a Anterioridade confere segurança jurídica


ao cidadão, impedindo que seja responsabilizado por algo concretamente
perpetrado, quando ainda não regulamentado.
Anterioridade em relação a sanção

Repetindo o preceito constitucional, o art. 1º do Código Penal prevê, ao final,


que não há pena sem prévia cominação legal, garantindo não ser a
anterioridade característica exclusiva da previsão do comportamento típico, mas
também da cominação das reprimendas.

Nesse passo, a Anterioridade determina o dever de cientificar ao sujeito não


apenas o comportamento vedado pela norma, mas a respectiva resposta penal
conferida, em caso de descumprimento.

Ademais, impõe a fixação prévia dos limites mínimo e máximo das penas,
dispondo acerca da longevidade pela qual pode se estender a limitação da
liberdade do infrator, pelo Estado.

Como cediço, não pode o Estado cercear a liberdade do sentenciando por prazo
indeterminado, uma vez inadmissível a existência de título judicial penal incerto.
Em outras palavras, as sentenças condenatórias devem respeitar as balizas
legais, fixando reprimendas por tempo certo, assim determinadas de acordo
com a previsão anterior contida em lei.

Sob esse aspecto, diversas críticas são levantadas quanto a ausência de prazo
máximo de execução das medidas de segurança, uma vez extensíveis por
período indeterminado aos inimputáveis, embora conferidas em razão da
prática de determinada infração, para qual são previstos limites legais de
cerceamento pelo Estado.

Por fim, não só em relação aos limites temporais, mas também quanto as
espécies de sanções cominadas, a Anterioridade deve ser respeitada, não se
podendo estipular reprimenda distinta daquela(s) cominada(s) para a prática
delitiva.

Em síntese, acerca das sanções, igualmente a Anterioridade funciona como


vetor para a efetivação da Legalidade, restringindo a imposição das
reprimendas àquelas previamente cominadas aos tipos penais incriminadores. 
__________________
1- Em aula destacada, estudaremos a exceção quando tratarmos da extratividade da lei
penal benéfica
Leitura Complementar

NUCCI, Guilherme de Souza, Princípios Constitucionais Penais e Processuais


Penais. 4. ed. Rio de janeiro: Forense, 2015 - págs. 118 a 119;

NUCCI, Guilherme de Souza, Código Penal Comentado. 16. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2016 - nota 1-F e 6 do art. 1º;

NUCCI, Guilherme de Souza, Curso de Direito Penal. Rio de Janeiro: Forense,


2017. Vol. 1, págs. 72,171 a 174.

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