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1. Introdução
A justiça por vezes é confundida como a aplicação pura da lei, quando na realidade a
mera aplicação dos preceitos normativos, nada mais é do que a legalidade.
O cotidiano hodierno faz entender que a aplicação da lei cabe à justiça, assim
vulgarmente chamado o Poder judiciário, enquanto cabe ao cidadão meramente
acompanhar aquele, fiscalizando-o para saber se o poder judiciário, por seus servidores,
vem cumprindo os prazos prescritos em lei, e assim fazendo justiça embasados
meramente na aplicação da norma friamente posta.
Conquanto a vida em sociedade é regida tanto por normas legais quanto por aquelas
que, nas palavras de Jean-Jacques Rousseau, compõe o contrato social ao qual todos os
seres humanos aderem compulsoriamente ao nascerem.
Ora, por certo o ordenamento jurídico tende a deixar uma sociedade órfã por com o
passar do tempo, não mais adequar-se aos ideias para qual a norma foi criada,
inexistindo inclusive os fatos que outrora foram tidos como ilegais.
Tido como ineficiente, o sistema carcerário brasileiro vem sendo considerado como
sistema falido, pois por vezes fomenta uma desigualdade de tratamento entre o infrator e
a vítima, gerando discrepâncias legais que chegam a ser afronta ao estado democrático
de direito, pois põe a vítima com menos assistência estatal que o próprio infrator.
Tal anomalia é vista pela população como impunidade, injustiça. Aos mais legalistas é a
mera e correta aplicação da norma posta. Aos humanistas, é o dever do Estado, pois
cabe a este promover a salvaguarda dos direitos dos detentos, aos quais foi tolhido
somente o ir e vir.
A Pena é o poder dever do Estado para punir um infrator da norma posta, em linhas
gerais é o modo de repressão, pelo poder público, à violação da ordem social
normatizada.
Portanto consiste numa punição imposta pelo Estado ao transgressor de uma norma
positivada, não podendo o Estado agir penalmente quando não há tipificação do ato
considerado como crime por vedação do Artigo 1º do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 – Código Penal, e do inciso XXXIX, do artigo 5º da Constituição
Federal da República Brasileira de 1988 – CFRB/88.
Assim, para cada crime cometido há uma sanção prevista, a qual deve ser aplicada pelo
Estado, incumbindo ao Ministério Público o dever de promover a ação penal pública,
sendo este o titular daquela por força do inciso I, do artigo 129, da CFRB/88. Contudo
na ação penal privada o ofendido tem tal incumbência.
Portanto o quantum da pena depende de diversos fatores, não havendo limite certo e
determinado para tal fixação. Contudo há prazo para o cumprimento da pena privativa
de liberdade, conforme disposição do artigo 75 do Código Penal esse limite é de 30
anos.
Tal limite existe para impossibilitar que um infrator passe toda sua vida encarcerado,
pois assim não se cumpriria o escopo educacional e de ressocialização que é dotado o
sistema prisional pátrio.
2.3. A sentença
Segundo o novo conceito, instituído pela Lei nº. 11.232/2005, sentença é o ato do juiz
que implica alguma das situações previstas nos artigos 267 e 269 da Lei nº Lei
No 5.869, de 11 de Janeiro de 1973 – Código de Processo Civil, assim elas podem
determinar a extinção do processo com ou sem resolução do mérito.
Quando aplicado o artigo 267 do Código de Processo Civil – CPC, o processo é extinto
sem solução de mérito, ou seja, não põe fim ao processo, pois ainda caberá recurso
dessa decisão. Gera coisa julgada meramente formal, o que possibilita ingresso de nova
ação pretendendo o mesmo objetivo, sendo também chamada de terminativa.
Nos casos do artigo 269 do CPC são as que resolvem o litígio, adentrando no mérito da
questão e solucionando-o, gerando coisa julgada material, o que impossibilita ingresso
de nova ação para decidir o mesmo mérito. É também chamada de definitiva.
2.4. Do Sincretismo
O sincretismo processual traduz uma tendência do direito processual, de combinar
fórmulas e procedimentos, de modo a possibilitar a obtenção de mais de uma tutela
jurisdicional, simpliciter et de plano (de forma simples e de imediato), no bojo de um
mesmo processo, com o que, além de evitar a proliferação de processos, simplifica (e
humaniza) a prestação jurisdicional, assim define o renomado professor Carreira Alvim
(2011, p. 111).
A sentença condenatória julga o processo com resolução do mérito, assim faz coisa
julgada material, sendo atacada somente por ação rescisória, em caso de trânsito em
julgado.
Conquanto quando exacerbada esta proteção finda por ser similar a impunidade, muitas
vezes sendo consequência de penas brandas e cautela desmedida, o que torna a
população descrente quanto ao caráter punitivo dado aos atos tidos como crime.
Hodiernamente, a reparação civil por ilícitos penais não é tida como sincrética, mas
somente como possível, conforme disposição do artigo 63 do Código de Processo Penal,
no qual resta prevista a possibilidade de ação civil que vise indenização pelos danos
experimentados pelo ofendido, seu representante legal ou seus herdeiros.
“O juiz criminal tem obrigação, por força de lei, de fixar um valor mínimo para reparar
os danos causados por uma infração”. A decisão é da 4ª Câmara Criminal do Tribunal
de Justiça de Minas Gerais[1], que, por maioria, entendeu que a indenização reparatória
à vítima, embora seja matéria cível, deve ser inserida na sentença penal condenatória
por conta do artigo 387, inciso 4º, do Código de Processo Penal. Por ser norma cogente,
ou seja, independe da vontade do indivíduo, o juiz não pode deixar de apurar o valor.
De acordo com o dispositivo do Código de Processo Penal, o juiz “fixará valor mínimo
para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos
pelo ofendido”. A norma permite que a vítima, satisfeita com o piso fixado pelo juízo
criminal, proceda com a execução do valor, sem impedir que ela discuta,
posteriormente, o valor total da reparação na esfera cível, impetrando ação civil ex
delicto, de acordo com o artigo 63 do Código de Processo Penal.
Tal posicionamento parece ser mais coerente, uma vez que a restitucio in integro deve
ser máxima quando há possibilidade, ou ao menos ser facilitada a compensação pelo
fato lesivo provocado pelo infrator.
Deste modo, cumpre ressaltar que a indenização por danos materiais corresponde ao
valor patrimonial atingido e danificado, fixada pelo juízo criminal, não pode ser
confundida com a possibilidade de indenização por danos morais que será verificada em
juízo cível, sendo esta ultima uma forma de compensação em dinheiro pela lesão à
personalidade, nome, imagem, privacidade, ânimo psíquico, moral e intelectual da
vítima do ato lesivo.
O sistema carcerário pátrio hodierno busca dar “nova chance” aos egressos do sistema
prisional, sob o argumento de que assim tornaria menor o risco de retorno a
delinquência.
“Os presos carentes contam com assistência jurídica integral prestada por 271
advogados. Quem quer estudar tem acesso à alfabetização e pode cursar o ensino
fundamental e médio. Há ainda salas de leitura, palestras e oficinas. A FUNAP
também oferece cursos profissionalizantes com certificação.
A Pastoral Carcerária também tem papel importante na defesa dos direitos dos presos.
Em 1986, surgiu como serviço organizado da CNBB e passou a ter uma coordenação
nacional em 1988. Entre suas atividades estão visitas, apoio jurídico, assistência às
famílias e acompanhamento de denúncias de violação dos direitos humanos.”
O atendimento público de saúde é dado pelo Sistema Único de Saúde – SUS, o qual
criado em 1988, com a promulgação da Constituição Federal, tornou o acesso gratuito à
saúde direito de todo cidadão.
Até então, o modelo de atendimento era dividido em três categorias: os que podiam
pagar por serviços de saúde privados, os que tinham direito à saúde pública por serem
segurados pela previdência social (trabalhadores com carteira assinada) e os que não
possuíam direito algum.
Ademais, o SUS responde não apenas pelos atendimentos médicos, mas clínicos,
psicológicos, e nutricionais da maior parte da população brasileira, conforme
anteriormente aferido.
Não obstante é o fato de que o sistema público de saúde não suporta o quantitativo de
atendimentos necessários a população, sendo frequentes os escândalos envolvendo
fraudes e até mesmo mortes por precariedade ou até ausência de atendimento.
Doutra banda, incumbe salientar o sistema público de ensino, o qual é incapaz de tirar
9,7 milhões de brasileiros do analfabetismo[7], demonstrando assim que ainda está
longe de ser um serviço adequado.
Insta salientar que igualmente vexatórios os dados quanto a assistência pública dos
ofendidos e vítimas de crimes. Atualmente uma pessoa agredida fisicamente deve ser
submetida a exame de corpo de delito, pois por ser crime material, a ofensa a
integridade deve ser atestada por médico perito, sob pena de a ação ser arquivada.
Fato pior ocorre nos casos onde há estupro, pois geralmente são crimes com violência
exacerbada, exigindo que as vítimas passem pelo constrangimento de contar em
depoimento o ocorrido. Após devem ser submetidas as avaliações periciais, narrando
novamente o ocorrido. Em seguida devem receber tratamento médico para evitar
contaminação por doenças sexualmente transmissíveis, e assim utilizam da rede pública
ineficiente para seu atendimento e tratamento posterior.
Assim, a vítima e toda sua família estão sempre a mercê dos atendimentos públicos, que
muitas vezes demonstram-se lentos, morosos, incompletos e atormentadores.
Outro fato que merece relevância é o tratamento dos direitos, pois quando o ofendido
sofre o ilícito, deve comunicar o ocorrido a autoridade policial, assim o Ministério
Público que tem a função de titular da ação penal pública, inicia a persecução penal.
Conquanto a vítima é tida como mero elemento dentro do contexto criminoso, sendo
ínfimo o tratamento aquela, pois apensar de poder, o parquet não encaminha as vítimas
para assistência médica, não realiza acompanhamento psicológico e nem da saúde do
ofendido.
Conforme indicadores do IBGE cerca de 16,2 milhões de pessoas estão abaixo linha de
pobreza[8], ou seja, sequer recebem o valor de um salário mínimo mensal, já que assim
são considerados aqueles brasileiros que tem renda per capta igual ou inferior a R$
70,00 (setenta reais).
Ainda mais preocupante é saber que no caso de um trabalhador, que labora em regime
celetista e percebe um salário mínimo (R$ 788,00 em 2015), ao praticar um crime e ser
conduzido à cadeia, passa a perceber auxílio-reclusão no mesmo valor do mínimo
nacional. De certo que tal benefício é destinado a seus familiares, conquanto resta um
paradoxo de difícil entendimento.
Assim, verifica-se a diferença econômica entre o detento e o cidadão que não pratica ato
ilícito, sendo ainda tratado este tema como tabu pelos magistrados, os quais não exaram
decisões contrárias ao texto de lei, sendo meramente legalistas e não operadores do
direito.
Isto pelo fato de que ao ofendido, assim como à sua família, não são assistidos in
totum os direitos que lhes são conferidos por justiça, como a reparação material pela
ofensa, sendo esta pela retromencionada fixação de quantum indenizatório já em juízo
criminal.
6. Conclusão
Por todo o exposto, cumpre salientar que os esforços penais para ressocialização dos
detentos não ocorre com eficácia, mas constituem mecanismos legais que tutelam a
discrepância de atendimento pós crime entre o agente infrator e o ofendido, pois ao
infrator há toda uma malha governamental que salvaguarda seus direitos e interesses,
inclusive de seus familiares, enquanto ao ofendido resta o atendimento público
judiciário, de saúde, educação, e outros necessários a reparação do ilícito sofrido.
Por certo que todos os seres humanos merecem dignidade de atendimento dos seus
direitos e proteção de seus interesses, todos! Contudo a atual atenção dispensada pelo
Estado nas causas criminais demonstram esforços em um sentido de proteção
exacerbada ao infrator em detrimento ao ofendido e seus familiares.
Logo, o mais aceitável nesta conjuntura, seria a reparação pelo ilícito praticado, onde o
infrator fosse compelido a ressarcir aquilo que lesionou, sempre sendo assegurado o
direito a reparação por danos morais ao ofendido, quando couber.
Contudo a mera aplicação das leis demonstra-se obstáculo ainda maior aos problemas
narrados, sendo necessária a interpretação também em favor do ofendido, rompendo
assim com a mera legalidade, a qual hodiernamente é empecilho que obsta o vislumbre
de justiça, quando vista a aplicação da lei sob a ótica do ofendido.
Referências
BITTENCOURT, Cezar Roberto. Falência da Pena de Prisão – Causas e alternativas. 2ª
Ed. Saraiva. Rio de Janeiro. 2001
MARCÃO, Renato. Curso de Execução Penal. 4ª Ed. Ver. Atual. Ed. Saraiva. São Paulo
2007.
REALE JUNIOR, Miguel. Novos rumos do sistema prisional. Forense. Rio de Janeiro.
1983
HUNGRIA, Nélson. Comentários ao Có