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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Número do 1.0000.22.113469-5/001 Númeração 5020229-


Relator: Des.(a) Élito Batista de Almeida (JD Convocado)
Relator do Acordão: Des.(a) Élito Batista de Almeida (JD Convocado)
Data do Julgamento: 16/02/2023
Data da Publicação: 16/02/2023

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO ORDINÁRIA - SUSPENSÃO DE


PROCEDIMENTO DISCIPLINAR ADMINISTRATIVO - AGENTE DE
SEGURANÇA PENITENCIÁRIA - PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE - PENA
DE DEMISSÃO - PRAZO DE QUATRO ANOS - LEI ESTADUAL N. 869/52 -
PRECEDENTE DA CÂMARA ESPECIALIZADA - AUSÊNCIA DE
SUSPENSÃO DO PRAZO PRESCRICIONAL DURANTE A PANDEMIA DO
COVID-19 - RECURSO NÃO PROVIDO.

- O prazo prescricional para o exercício da pretensão punitiva da


Administração Pública para a aplicação de pena de demissão a Agente de
Segurança Penitenciária é de quatro anos, consoante o art. 258 da Lei n.º
869/52.

- A 1ª Seção Cível deste Tribunal, quando do julgamento do IRDR nº


1.0000.16.038002-8/000, fixou a tese quanto à admissibilidade da prescrição
intercorrente do processo administrativo disciplinar, no sentido de que "a
instauração da sindicância ou do PAD interrompe a contagem do prazo de
prescrição pelo período de processamento do procedimento disciplinar, que
é, no âmbito da Polícia Civil do Estado de Minas Gerais, de a) 240 dias para
o PAD ou sindicância acusatória/punitiva, a contar da citação do acusado; b)
30 dias para a sindicância apuratória/investigativa, a contar da data da sua
instauração; findo os quais retoma-se a contagem do prazo, pela integra".

- As teses definidas no IRDR n. 1.0000.16.038002-8/000 são aplicadas para


a verificação da prescrição punitiva estatal também dos servidores públicos
civis, notadamente nas hipóteses em que a conduta apurada configura ilícito
penal, bastando socorrer à legislação

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específica do regime do servidor.

- A suspensão dos prazos processuais decretada em razão da pandemia do


COVID-19 teve por escopo reduzir, evitar ou impedir prejuízos jurídicos aos
administrados no período de confinamento e restrição de locomoção. Não
tem o condão de suspender o prazo prescricional da pretensão punitiva do
Estado se este continuou a dar impulso ao procedimento administrativo
disciplinar de forma remota e eletrônica, praticando diversos atos
processuais.

AP CÍVEL/REM NECESSÁRIA Nº 1.0000.22.113469-5/001 - COMARCA DE


MONTES CLAROS - APELANTE(S): ESTADO DE MINAS GERAIS -
APELADO(A)(S): MARCIO CLEITON RIBEIRO SANTOS, UARLEI SOARES
SANTOS

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 5ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de


Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos,
em NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO.

ÉLITO BATISTA DE ALMEIDA (JD CONVOCADO)

Relator

ÉLITO BATISTA DE ALMEIDA (JD CONVOCADO)(RELATOR)

VOTO

Trata-se de recurso de apelação interposto pelo ESTADO DE MINAS


GERAIS contra sentença proferida pelo Juízo da 2ª Vara

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Empresarial e de Fazenda Pública da Comarca de Montes Claros (Ordem


76) que, nos autos da AÇÃO ORDINÁRIA ajuizada por MÁRCIO CLEITON
RIBEIRO SANTOS e UARLEI SOARES SANTOS, julgou procedente os
pedidos para reconhecer a prescrição intercorrente da pretensão punitiva
administrativa e determinar o arquivamento do Processo Administrativo
Disciplinar n.º 005/2017, ficando o requerido condenado ao pagamento dos
honorários advocatícios fixados em 10% (dez por cento) sobre o valor da
causa.

Nas razões recursais (Ordem 77), o ESTADO DE MINAS GERAIS


defende a inocorrência da prescrição, cujo prazo interrompeu com a
instauração do processo administrativo disciplinar em 11/02/2017, ficou
paralisado por 150 (cento e cinquenta) dias, nos termos do art. 223 c/c art.
229 da Lei n.º 869/52, e teria seu termo final somente em 10/07/2022, para
penalidades passíveis de demissão, à luz do Parecer n.º 16.114 da AGE.
Aduz que a adotar o posicionamento do IRDR n.º 1.0000.16.038002-8/000, a
perda da pretensão punitiva seria alcançada apenas em 08/02/2022, por
consequência da suspensão dos prazos por diversos atos normativos, com
fundamento na pandemia causada pela COVID-19. Sustenta o princípio da
legalidade dos atos administrativos que atendem a todos os requisitos, bem
como a impossibilidade de intromissão do Poder Judiciário no mérito
daqueles. Eventualmente, afirma que o autor não comprovou o direito ao
cancelamento da multa e que os fatos ocorreram da forma narrada na inicial,
a desincumbir-se do ônus da prova.

Regularmente intimados, os recorridos apresentaram contrarrazões


(Ordem 81), de modo a refutar a pretensão recursal e protestar pelo
desprovimento do recurso.

A Procuradoria-Geral de Justiça, no parecer de Ordem 86, manifestou


pelo desprovimento do recurso.

É o relatório.

Conheço do recurso, vez que presentes os pressupostos de

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admissibilidade.

A questão controvertida consiste em aferir se a pretensão punitiva estatal


em relação aos recorridos foi ou não consumada pela prescrição.

Ao que se infere dos autos, foi instaurado Processo Administrativo


Disciplinar n.º 005/2017 em 02/02/2017, com publicação no DJe em
11/02/2017 (fls.03/04 da Ordem 22), em face dos recorridos, ocupantes do
cargo de Agente de Segurança Penitenciário, para "apurar possível
descumprimento dos deveres constantes do art. 216, I, II, III, IV, V, VI, VII c/c
arts. 245, caput e parágrafo único, 246, I, III, e 250, V, todos da Lei Estadual
n.º 869/52, e infringência ao art. 6º, §§3º e 5º da Lei n.º 14.695/2003,
considerando que, em tese, exercem atividades incompatíveis com o cargo
de Agente de Segurança Penitenciário, que exige dedicação exclusiva, além
dos diversos períodos de afastamento para tratamento de saúde acumulado
com o exercício de atividades extras e conflitantes com a natureza do cargo".
Estariam os processados sujeitos "a uma das penalidades previstas no artigo
244, incisos I, III ou V do referido Diploma Estatutário". Mais tarde, em
24/09/2020, houve o aditamento da Portaria n.º 005/2017 para inserir as
condutas de "suposta incontinência pública e/ou conduta escandalosa,
considerando a propagação dos fatos em mídias sociais,
expondo/maculando a imagem da instituição na qual está lotado (SEJUSP),
além de, supostamente, exercerem atividades remuneradas durante licença
médica" (fls.02 da Ordem 41).

Quanto à prejudicial, o art. 258 da Lei n.º 869/52, estabelece que,


enquanto as penas de repreensão, multa e suspensão prescrevem no prazo
de dois anos, a de demissão, por abandono de cargo, exemplificadamente,
no prazo de quatro anos, nestes termos:

Art. 258 - As penas de repreensão, multa e suspensão prescrevem no prazo


de dois anos e a de demissão, por abandono do cargo, no prazo de quatro
anos.

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A fim de dirimir controvérsia jurisprudencial neste Tribunal de Justiça


mineiro, a 1ª Seção Civil, por ocasião do julgamento do IRDR n.º
1.0000.16.038002-8/000, relatado pela Desembargadora Albergaria Costa,
DJe de 29/10/2018, fixou tese jurídica no tocante ao prazo da prescrição
punitiva estatal, no âmbito da Polícia Civil do Estado de Minas Gerais, em
acórdão assim ementado, "in verbis":

EMENTA: IRDR - INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS


REPETITIVAS. FIXAÇÃO DE TESE JURÍDICA. POLÍCIA CIVIL DO ESTADO
DE MINAS GERAIS. EXERCÍCIO DA PRETENSÃO PUNITIVA
DISCIPLINAR PELA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. PENAS DISCIPLINARES
E CORRESPONDENTES PRAZOS PRESCRICIONAIS. INSTAURAÇÃO DE
SINDICÂNCIA ADMINISTRATIVA MERAMENTE APURATÓRIA. EFEITO
INTERRUPTIVO DA PRESCRIÇÃO. OCORRÊNCIA. PERÍODO DE
INTERRUPÇÃO.

O prazo prescricional para o exercício da pretensão punitiva disciplinar da


Administração Pública, no âmbito da Polícia Civil do Estado de Minas Gerais,
é de 2 (dois) anos para as penas de repreensão, multa e suspensão e 4
(quatro) anos para as penas de demissão, cassação de aposentadoria e
colocação em disponibilidade.

Interrompe-se a fluência do prazo pela instauração de qualquer procedimento


tendente à apuração dos fatos e/ou aplicação da pena, ainda que se trate de
uma sindicância meramente apuratória e investigativa.

A instauração da sindicância ou do PAD interrompe a contagem do prazo de


prescrição pelo período de processamento do procedimento disciplinar, findo
o qual, retoma-se a contagem, pela íntegra.

Fixada a tese jurídica. (TJMG - IRDR - Cv 1.0000.16.038002-8/000,


Relator(a): Des.(a) Albergaria Costa , 1ª Seção Cível, julgamento em
17/10/2018, publicação da súmula em 29/10/2018)

Colhe-se do mencionado julgado que aquela Câmara Especializada


deste Tribunal de Justiça mineiro, por maioria, fixou a

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seguinte tese jurídica:

1) O prazo prescricional para o exercício da pretensão punitiva da


Administração Pública para a aplicação de sanções contra as transgressões
disciplinares praticadas pelos membros da Polícia Civil do Estado de Minas
Gerais é de: a) 2 (dois) anos para as penas de repreensão, multa e
suspensão e; b) 4 (quatro) anos para as penas de demissão, cassação de
aposentadoria e colocação em disponibilidade;

2) Interrompe-se a fluência do prazo pela instauração de qualquer


procedimento tendente à apuração dos fatos e/ou aplicação da pena, seja
uma sindicância apuratória/investigativa, uma sindicância acusatória/punitiva
ou um processo administrativo disciplinar (PAD);

3) A instauração da sindicância ou do PAD interrompe a contagem do prazo


de prescrição pelo período de processamento do procedimento disciplinar,
que é, no âmbito da Polícia Civil do Estado de Minas Gerais, de a) 240 dias
para o PAD ou sindicância acusatória/punitiva, a contar da citação do
acusado; b) 30 dias para a sindicância apuratória/investigativa, a contar da
data da sua instauração; findo os quais retoma-se a contagem do prazo, pela
integra."

Embora o referido incidente tenha sido extraído de processo em que se


discutia a prescrição da pretensão punitiva de PAD instaurado no âmbito da
Polícia Civil do Estado de Minas Gerais - situação diversa dos autos, em que
os Agentes Penitenciários são regulados pelo Estatuto dos Funcionários
Públicos Civis do Estado -, as teses definidas podem ser aplicadas à
verificação da prescrição punitiva estatal, notadamente nas hipóteses em que
a conduta apurada configura ilícito penal, bastando socorrer à legislação
específica do regime do servidor.

Naquele julgamento foi também definida orientação quanto à admissão


de prescrição intercorrente, a fim de evitar omissão quanto a tese jurídica
relevante, pelo que firmada a tese de cabimento da prescrição intercorrente,
ao passo que "não se pode admitir a interrupção da prescrição por prazo
indeterminado". De trecho do

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voto da Relatora do incidente ressalta-se:

"A adoção deste entendimento homenageia o mesmo raciocínio desenvolvido


na propositura desta tese - de prevalência da segurança jurídica e
estabilização das relações - impedindo que o administrado, uma vez
interrompida a prescrição pela instauração da sindicância ou do PAD, fique
indefinidamente à mercê da Administração e sob a dúvida da punição."

Assim, no âmbito de discussão deste processo, interrompida a prescrição


pela instauração do PAD de que trata a Lei Estadual nº 806/52, retoma-se a
contagem do prazo, pela íntegra, ao término dos 60 (sessenta) dias de seu
início e dos 60 (sessenta) dias da data do recebimento do relatório da
comissão pela autoridade julgadora, nos termos dos arts. 223 c/c 229:

"Art. 223. O processo administrativo deverá ser iniciado dentro do prazo,


improrrogável, de três dias contados da data da designação dos membros da
comissão e concluídos no de sessenta dias a contar da data de seu início.

Parágrafo único. Por motivo de força maior, poderá a autoridade competente


prorrogar os trabalhos da comissão pelo prazo máximo de 30 dias."

"Art. 229. Entregue o relatório da comissão, acompanhado do processo, à


autoridade que houver determinado a sua instauração, essa autoridade
deverá proferir o julgamento dentro do prazo improrrogável de sessenta
dias."

Volvendo ao caso em apreço, o processo administrativo disciplinar foi


instaurado em 11/02/2017, a causar a interrupção do prazo de prescrição.
Este prazo de 4 (quatro) anos retomou o seu curso, em sua inteireza, após
findos os prazos legais de 60 (sessenta) dias para conclusão, prorrogáveis
por mais 30 (trinta) dias, nos termos do art. 223, e de 60 (sessenta) dias para
julgamento, consoante art. 229, ambos da Lei Estadual n.º 806/52.

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Desta forma, se a partir de 11/07/2017, foi retomado o prazo


prescricional, a conclusão do processo administrativo disciplinar e a
consequente aplicação da penalidade administrativa de demissão, após
computados os prazos interruptivos legais acima mencionados, deveria ter
ocorrido até o dia 11/07/2021.

É cediço que o instituto da prescrição, em sentido amplo, tem por objeto


afastar a inércia e a desídia do titular do direito, de modo a não se admitir
que a conclusão do processo administrativo submeta-se, de maneira
exclusiva, ao crivo da conveniência da autoridade administrativa competente,
sob pena de flexibilizar o prazo prescricional, com a inovação de causas
interruptivas e suspensivas não previstas pelo legislador, em evidente
contrariedade aos princípios da segurança jurídica e da paz social, e em
franco prejuízo ao acusado.

Por conseguinte, no caso em exame, realmente não se justificava o


trâmite do processo administrativo disciplinar contra os recorridos, quando do
ajuizamento da ação, em 24/11/2021, razão pela qual o magistrado a quo
deferiu o pedido de antecipação dos efeitos da tutela de urgência para
determinar a suspensão da tramitação do PAD n.º 005/2017, pois já
verificado o transcurso do prazo prescricional de quatro anos, ainda que
consideradas as causas de interrupção e os prazos legais acima
mencionados.

Impende registrar, ainda, que além do impugnado ato administrativo


revestir de presunção de legalidade e veracidade, o seu controle de
legalidade pelo Judiciário limita-se aos seus aspectos formais, exatamente o
caso do reconhecimento da prescrição.

Relativamente ao período de suspensão dos atos da administração


durante a pandemia do COVID-19, coaduno com o entendimento do
magistrado de piso, validado pelo parecer da douta Procuradoria-Geral de
Justiça, no sentido de que tais suspensões não interferiram na regular
tramitação do procedimento e, portanto, não causaram a interrupção do
prazo prescricional.

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Neste sentido, convém transcrever o trecho do parecer ministerial:

"10 - A suspensão dos prazos processuais decretada durante os picos de


transmissão da doença transmitida pelo coronavírus, plenamente se
justificava, tendo em vista que, nesses períodos, os esforços administrativos
estavam prioritariamente voltados para o combate à covid19.

A suspensão, no entanto, tinha o escopo de reduzir, evitar ou mesmo impedir


prejuízos jurídicos aos administrados, porquanto estes estavam em período
de confinamento domiciliar ou com sua locomoção drasticamente restringida,
quanto a horários, locais e tipos de estabelecimentos comerciais, industriais,
lugares de culto, clubes de lazer, escolas etc..

Dessarte, a par de se constatar que, mesmo durante os períodos de


suspensão dos trâmites processuais, o Estado de Minas Gerais continuou a
dar impulso ao Procedimento Administrativo Disciplinar nº 005/2017,
especialmente por meio de atos processuais e procedimentais a serem
cumpridos de forma remota e eletrônica, não se pode perder de vista a
questão da imperiosidade da interpretação das suspensões como normas
jurídicas produzidas em favor dos cidadãos, máxime os acusados.

11 - Nesse passo, tem-se que a interpretação que mais parece atender aos
comandos de segurança jurídica e razoabilidade, a tal questionamento, é a
suspensão dos prazos, nos processos administrativos que estejam em curso,
que sejam em desfavor do administrado, vale dizer, não se poderá interpretar
como justa a decretada suspensão dos cursos prescricionais em processos
administrativos sancionadores, porquanto tal panorama e estado de coisas
milita em franco prejuízo do acusado, de vez que o encerramento ou o
desaparecimento do jus puniendi via ocorrência de prescrição é situação do
máximo interesse do processado.

12 - A tal propósito, note-se que, por meio da Medida Provisória n.º

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928, de 23 de março de 2020, foram suspensos os prazos: (I) de resposta a


pedidos de acesso à informação, previstos na Lei Federal n.º 12.527/201115;
(II) "em desfavor dos acusados e entes privados processados em processos
administrativos" (de qualquer natureza); e (III) prescricionais para a aplicação
de sanções administrativas previstas no Estatuto dos Servidores Públicos
Federais (Lei Federal n.º 8.112/1990), na Lei Federal n.º 9.873/1999 e na Lei
Anticorrupção (Lei Federal n.º 12.846/2013).

Nesse sentido, a exposição de motivos da MP n.º 928/2020 deixou clara a


intenção de suspender os processos de natureza sancionadora.

13 - Registre-se, por questão de detalhe, que a Lei Estadual n.º 23.629, de


02 de abril de 2020, aprovada no Estado de Minas Gerais, alterou a "Lei do
Processo Administrativo Estadual", deixando a sua redação mais clara que a
da norma federal, para prever a suspensão dos prazos processuais "em
situação de emergência, estado de calamidade pública"."

A propósito, precedentes deste Tribunal de Justiça mineiro que restaram


assim ementados, 'in verbis':

EMENTA: REMESSA NECESSÁRIA/APELAÇÃO CÍVEL - DIREITO


ADMINISTRATIVO - AGENTE DE SEGURANÇA PENITENCIÁRIA -
DEMISSÃO - ART. 258 DO ESTATUTO DOS SERVIDORES PÚBLICOS
CIVIS DE MINAS GERAIS - PRAZO PRESCRICIONAL DA PRETENSÃO
PUNITIVA DO ESTADO - 4 (QUATRO) ANOS - DECURSO - TESE FIXADA
EM INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS -
REINTEGRAÇÃO DO SERVIDOR PÚBLICO - POSSIBILIDADE - DECISÃO
MANTIDA - RECURSO DESPROVIDO.

1 - A 1ª Seção Cível deste Tribunal, quando do julgamento do IRDR nº


1.0000.16.038002-8/000, fixou a tese de que o prazo prescricional da
pretensão de punição dos policiais civis com a pena de demissão será de 4
(quatro) anos, o que se aplica aos agentes de segurança penitenciário em
razão da previsão do art. 258 do Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do
Estado.

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2 - O entendimento firmado pela col. 1ª Seção Cível aplica-se aos Agentes


de Segurança Penitenciários, notadamente nas hipóteses em que a conduta
apurada configura ilícito penal. Precedentes deste Eg. TJMG.

3 - Da data do encerramento das investigações preliminares, levando o fato


ao conhecimento da administração e abertura do Processo Administrativo
Disciplinar, transcorreram mais de 04 (quatro) anos, sem que configurada
qualquer causa interruptiva do prazo prescricional, devendo ser mantida a
decisão que reconheceu a ocorrência da prescrição.

4 - Sentença confirmada em remessa necessária. Prejudicado o recurso


voluntário. (TJMG - Ap Cível/Rem Necessária 1.0000.22.034574-8/001,
Relator(a): Des.(a) Sandra Fonseca , 6ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em
19/07/2022, publicação da súmula em 25/07/2022)

EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA ORIGINÁRIO - PROCESSO


ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR - AGENTE PENITENCIÁRIO - PENA DE
SUSPENSÃO - DECURSO DE PRAZO SUPERIOR A DOIS ANOS -
AUSÊNCIA DE EXECUÇÃO DA PENA - PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO -
SEGURANÇA CONCEDIDA. A 1ª Seção Cível deste Tribunal de Justiça do
Estado de Minas Gerais, no julgamento do IRDR n.º 1.0000.16.038002-
8/000, fixou tese jurídica no sentido de que "O prazo prescricional para o
exercício da pretensão punitiva disciplinar da Administração Pública, no
âmbito da Polícia Civil do Estado de Minas Gerais, é de 2 (dois) anos para as
penas de repreensão, multa e suspensão e 4 (quatro) anos para as penas de
demissão, cassação de aposentadoria e colocação em disponibilidade". A
contagem da prescrição interrompe-se tanto com a abertura de sindicância
quanto com a instauração de processo disciplinar, e após o decurso do prazo
para conclusão e julgamento do PAD, o prazo prescricional recomeça a
correr integralmente, afetando a pretensão executiva da pena imposta.
(TJMG - Mandado de Segurança 1.0000.19.090741-0/000, Relator(a):
Des.(a) Armando Freire, 1ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 22/09/2020,

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publicação da súmula em 25/09/2020)

Pelo exposto, NEGO PROVIMENTO ao recurso e majoro os honorários


advocatícios para 12% (dois por cento) sobre o valor da causa, nos termos
do §11 do art. 85 do CPC.

Custas recursais, ao final, 'ex lege'.

DESA. ÁUREA BRASIL - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. LUÍS CARLOS GAMBOGI - De acordo com o(a) Relator(a).

SÚMULA: "NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO"

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