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EGRÉGIA TURMA RECURSAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

AGRAVO DE INSTRUMENTO

Processo n°: 0804645-18.2020.8.19.0038


Ação: AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS EXTRAPATRIMONIAIS
Juízo “a quo”: 2º JUIZADO ESPECIAL CIVEL DA COMARCA DE Nova Iguaçu -
RJ

Agravante: MERCO FITNESS DA AMAZÔNIA INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE


EQUIPAMENTOS DE GINÁSTICA LTDA – EM RECUPERAÇÃO
JUDICIAL, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob
nº 04.864.438/0001-79, com endereço na Rua Matrinxã, nº 1042,
Distrito Industrial I, Manaus, AM, CEP 69.075-150, na pessoa dos
seus advogados signatários, constituídos nos termos da anexa
procuração, em que consta endereço para intimações e
correspondências.

Agravado(s): MAICON PINTO FERREIRA, brasileiro, casado, servidor público,


portador do documento de identidade de número 26703968-3,
expedido pelo DIC/RJ, inscrito no CPF/MF sob o número
141.006.427- 17, residente e domiciliado na Rua Doutor Josino,
104, Rancho Novo, Nova Iguaçu – RJ, CEP: 26.011-810, e com
endereço eletrônico: jorge.silva.adv@hotmail.com, que deverá ser
intimado na pessoa de seu procurador constituído nos autos da
ação principal em epígrafe.

Decisão agravada: Despacho 39742760

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EMÉRITOS JULGADORES,

O Agravante, irresignado com a decisão interlocutória proferida


sob n° 39742760, dos autos da AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS
EXTRAPATRIMONIAIS em epígrafe, que ordenou o pagamento de multa, sob pena
de imediata penhora, vem, tempestivamente interpor AGRAVO DE INSTRUMENTO,
com fulcro no art. 1.015, parágrafo único, do CPC, pelas razões de fato e de direito
que constam do arrazoado anexo.

Ressalta o Agravante que deixa de juntar os documentos


elencados no art. 1.017, incisos I e II, por se tratar de autos eletrônicos, conforme
determina o § 5º, do mesmo dispositivo legal.

Ante o exposto, requer seja recebido o presente Agravo de


Instrumento, com fulcro no art. 1.015, parágrafo único, do CPC, e o enunciado 60 do
Conselho Superior do Sistema de Juizados Especiais do Tribunal de Justiça de São
Paulo, com o fito de declarar a perda do objeto, com sua consequente extinção, tudo
de acordo com as razões que seguem acostadas a esta.

Pede deferimento

Blumenau (SC), 31 de janeiro de 2023.

Sérgio Alexandre Demmer – OAB/SC 10.104


Magda da Silva – OAB/SC 56.836

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EMÉRITOS JULGADORES

1. DO CABIMENTO E DA TEMPESTIVIDADE DO AGRAVO

Apesar de a Lei 9.099/95 não dispor sobre o recurso de agravo


de instrumento no âmbito dos juizados especiais, sabe-se que naquilo que esta lei for
silente aplica-se o CPC, nos termos do art. 1.046, §3/CPC, a fim de manter a
segurança jurídica e evitar que os efeitos da decisão interlocutória proferida gerem
grave lesão às partes.

Nesse sentido, alguns Tribunais vêm admitindo a interposição do


recurso de agravo de instrumento nos Juizados Especiais, como vê-se do Tribunal de
Justiça do Distrito Federal resolução n. 20 de 21 de dezembro de 2021 - Regimento
Interno da Turmas Recursais dos Juizados Especiais do Distrito Federal e dos
Territórios:
Art. 80. É cabível o agravo de instrumento contra decisão:
I - que deferir ou indeferir providências cautelares ou antecipatórias de
tutela, nos juizados especiais da fazenda pública;
II - no incidente de desconsideração da personalidade jurídica nos
juizados especiais cíveis;
III - não atacável por outro recurso, desde que fundado na
ocorrência de erro de procedimento ou de ato apto a causar dano
irreparável ou de difícil reparação na fase de execução ou de
cumprimento de sentença. (grifo nosso)

Ainda, conforme o Enunciado 60 do Conselho Superior do


Sistema de Juizados Especiais do Tribunal de Justiça de São Paulo:

60. No sistema dos Juizados Especiais cabe agravo de instrumento


somente contra decisão suscetível de causar à parte lesão grave e de
difícil reparação, bem como nos casos de inadmissão do recurso
inominado.

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Conforme o entendimento de Tedesco (2008)1, é possível a
utilização do agravo de instrumento como recurso tanto nos Juizados Especiais
Federais quanto nos Juizados Especiais Estaduais:

[...] o atual regime do agravo de instrumento não provoca interferências


negativas no procedimento do Juizado Especial, pois se desenvolve quase que
exclusivamente perante os colégios recursais; (b) “a regra da irrecorribilidade
das decisões serve apenas para as interlocutórias proferidas dentro do
segmento representado pela instrução oral, à medida que se fundamenta na
razão de ser da própria concentração da audiência”, ²² (c) seu manejo
representa atenção aos princípios do duplo grau de jurisdição e do
contraditório; (d) a Lei 10.259/2001 prevê expressamente recurso em face de
decisão interlocutória, que só pode ser o agravo, haja vista que a correição
parcial e o mandado de segurança sequer têm natureza recursal; e (e) a
ausência de menção expressa a recurso em face de decisão interlocutória na
Lei 9.099/95, em contraste com a previsão da Lei 10.259/2001 demonstra que
o advento do novo regime do agravo de instrumento permitiu a convivência do
agravo de instrumento com os princípios norteadores dos Juizados Especiais,
serena é a conclusão no sentido de que é cabível o agravo de instrumento em
face de decisões interlocutórias nos Juizados Especiais Cíveis Estaduais e
Federais.”

Sendo assim, em respeito ao princípio do contraditório e da ampla


defesa previstos no art 5º, LV/CF, requer-se a absorção dos enunciados acima nesta
respeitável Turma do Estado do Rio de Janeiro, possibilitando a garantia do melhor e
mais justo direito à Agravante, diante das razões de agravo abaixo trazidas.

Ademais, tempestivo o recurso, perante o prazo de 15 dias


disposto no art. 1.003, §5/CPC.

2. DA JUSTIÇA GRATUITA

A Agravante, ao longo dos últimos anos, vem enfrentando sérias


dificuldades financeiras motivadas pelo recesso da economia nacional, o que a levou
a ajuizar o pedido de Recuperação Judicial que foi distribuído à douta 3ª Vara Cível
da Comarca de Joinville, SC, sede do principal estabelecimento empresarial do grupo

1
TEDESCO, Paulo Camargo. Revista de Processo – RePro, São Paulo, n. 156, p. 343-355, fev. 2008.

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econômico, tendo seu processamento deferido em 18.07.2017, conforme decisão que
ora junta.

Para o deferimento do processamento da Recuperação Judicial é


analisada toda a situação econômico/financeira da empresa e do grupo empresarial
no qual está inserida, cuja diligência foi tomada pelo douto Juízo da 3ª Vara Cível da
Comarca de Joinville, SC que, sopesando as dificuldades financeiras com as
perspectivas de soerguimento, deferiu o benefício legal.

Cumpre destacar que a recuperação judicial não é um benefício


aos sócios do empreendimento, tanto que as obrigações pessoais dos mesmos não
são englobadas no plano de recuperação, de modo que seus patrimônios pessoais
permanecem comprometidos com inúmeros compromissos de avais bancários e
fianças em contratos de locação de lojas em shoppings centers espalhados por todo
o País.

A recuperação judicial, por sua vez, visa a estabilização e


reequilíbrio das finanças da empresa e, principalmente, a manutenção dos postos de
trabalho e da fonte geradora de riquezas para toda a comunidade em que está
inserida. Ocorre, todavia, que as expectativas de melhora no mercado nacional para
a venda dos produtos da Agravante foram novamente prejudicadas pelo fechamento
do comércio em geral, provocado pela pandemia de Covid-19.

Cumpre destacar que os principais pontos de vendas dos


equipamentos produzidos pela Agravante estão instalados em lojas de shopping
center, os quais foram diretamente atingidos pelas medidas de afastamento social que
determinaram o fechamento da maioria deles em todo o território nacional.

Ou seja, o fluxo financeiro que já não era abundante no início do


ano de 2020 foi reduzido ainda mais a partir do mês de março daquele ano.

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Destaca-se, ainda, que apesar do faturamento da Agravante
alcançar elevadas cifras, não se pode confundi-lo com lucro ou disponibilidade
financeira.

Há que se compreender que, para manter toda a estrutura da


empresa em funcionamento, pagando salários, tributos, insumos e matéria prima, há
um elevado custo que, no caso da Agravante, está momentaneamente sendo superior
ao valor das vendas.

Por esta razão, a importância da recuperação judicial pleiteada,


vez que através dela será possível à Agravante reduzir suas despesas financeiras e
remanejar seu ativo imobilizado de modo a disponibilizar recursos para capital de giro,
tornando a operação rentável novamente.

Destaca a Agravante que a Assembleia Geral de Credores


realizada no dia 09.10.2020 aprovou seu Plano de Recuperação Judicial, sendo o
mesmo homologado pelo douto Juízo da RJ em decisão prolatada no último dia
26.01.2021 (cópia anexa), o que possibilitará a continuidade das operações da
empresa.

No entanto, nessa fase de soerguimento, toda despesa não


operacional e extraordinária dificulta ainda mais a estabilização do fluxo de caixa da
empresa e afasta a possibilidade de continuidade das suas atividades.

Além do que, é fácil compreender que num fluxo de caixa em que


todos os meses faltam milhões de reais para pagar as contas, não há qualquer
disponibilidade para pagamento de despesas extraordinárias a exemplo das custas
processuais da presente demanda, em caso de recurso ou sucumbência.

Como é cediço, o Superior Tribunal de Justiça, por meio da


Súmula 481, já pacificou o entendimento de que as pessoas jurídicas têm direito ao

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benefício da justiça gratuita – se demonstrada a impossibilidade de arcar com as
despesas do processo sem prejuízo da própria manutenção.

Ciente dessa realidade, o egrégio Tribunal de Justiça do


Amazonas já manifestou entendimento no sentido de que o deferimento do pedido de
processamento da recuperação judicial induz presunção de insuficiência financeira
momentânea para arcar com os custos do processo, a exemplo do aresto que se
permite transcrever abaixo:

CIVIL. PROCESSO CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. GRATUIDADE


JUDICIÁRIA. EMPRESA EM PROCESSO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL.
PRESUNÇÃO DE HIPOSSUFICIÊNCIA. SUSPENSÃO DO PROCESSO DE
EXECUÇÃO. INSTITUO PREVISTO NA LEI DE FALÊNCIAS E CONFIRMADO
PELA JURISPRUDÊNCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA.
DECISÃO MANTIDA. RECURSO NÃO PROVIDO. 1. O fato da empresa
encontrar-se em processo de recuperação judicial, induz a 7 presunção de
insuficiência financeira momentânea para arcar com os custos do processo, de
modo que a gratuidade judiciária somente deve ser afastada em caso de prova
em sentido contrário 2. Em relação a empresas sob processo de recuperação
judicial, o Superior Tribunal de Justiça não só possui entendimento
sedimentado no sentido de ser devida a suspensão da execução, como
também de que a retomada da execução não se opera de forma automática,
após ultrapassado os 180 dias previstos no artigo 6º, §4º da Lei 11.101/2005.
3. Agravo de instrumento conhecido e não provido. (TJAM - 4003753-
45.2019.8.04.0000 - Agravo de Instrumento - Relator (a): Maria das Graças
Pessoa Figueiredo; Comarca: Manaus/AM; Órgão julgador: Primeira Câmara
Cível; Data do julgamento: 25/11/2019; Data de registro: 26/11/2019)

A decisão retro transcrita faz eco ao entendimento manifestado


pela excelsa Corte, como se tem da ementa que assim se transcreve:

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


PROCESSO CIVIL E TRIBUTÁRIO. GRATUIDADE DE JUSTIÇA. PESSOA
JURÍDICA. NECESSIDADE DE PROVA. INSUFICIÊNCIA DE DECLARAÇÃO
DE POBREZA. PRECEDENTE: RESP. 1.185.828/RS DE RELATORIA DO
MINISTRO CESAR ASFOR ROCHA. ENTENDIMENTO ADOTADO PELA
CORTE ESPECIAL. NO ENTANTO, A EMPRESA QUE SE ENCONTRA EM
FASE DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL, POR OBVIO ESTARÁ EM
DIFICULDADES FINANCEIRAS, SENDO RAZOÁVEL O DEFERIMENTO DA
GRATUIDADE DE JUSTIÇA PARA O CONTRIBUINTE QUE OSTENTE ESTA
CONDIÇÃO. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. O
caso em apreço reveste-se de peculiaridades que afastam a jurisprudência
majoritária desta Corte que já se firmou em sentido contrário, isto porque, é
evidente que a exigência de pagamento das custas judiciais por empresa em
fase recuperação judicial é contrária e mesmo incompatível com o instituto da
recuperação judicial, porquanto o contribuinte que ostenta esta condição,

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comprovou em juízo a sua dificuldade financeira, posto que é intuitivo que se
não tivesse nesta condição a recuperação judicial não lhe teria sido deferida.
2. Dessa forma, o contribuinte não pode ser penalizado e ser-lhe podado o
direito de litigar em juízo, por ausência de demonstração da capacidade de
arcar com as custas judiciais, uma vez que o deferimento da recuperação
judicial da sociedade empresária comprova a sua dificuldade financeira,
devendo tal 8 benefício ser deferido de plano, se a parte já tiver em seu favor
a decisão que admitiu o processamento da recuperação judicial da empresa
recorrente. 3. Agravo Regimental a que se nega provimento. (STJ - AgRg no
AREsp 514.801/RS, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO,
PRIMEIRA TURMA, julgado em 26/08/2014, DJe 02/09/2014)

Apreciando caso análogo, também assim decidiu o egrégio


Tribunal Regional Federal da 4ª Região:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. ADMINISTRATIVO. ASSISTÊNCIA


JUDICIÁRIA GRATUITA. PESSOA JURÍDICA. RECUPERAÇÃO JUDICIAL.
POSSIBILIDADE. A parte agravante é pessoa com fins lucrativos, encontra-se
em fase de recuperação judicial, o que, por si só, demonstra a impossibilidade
de arcar com as despesas processuais, autorizando o deferimento do benefício
da Assistência Judiciária Gratuita. Precedentes STJ. (TRF4, AG 5005628-
08.2015.404.0000, Terceira Turma, Relator p/ Acórdão Fernando Quadros da
Silva, juntado aos autos em 25/06/2015)

As decisões acima transcritas espelham a realidade dos autos,


razão pela qual se mostra prudente o deferimento da gratuidade de justiça, diante da
momentânea impossibilidade de pagamento das custas judiciais pela parte Agravante,
o que espera seja o entendimento a ser manifestado por esta Egrégia Turma de
Recursos.

Diante da realidade ora posta, requer desde logo seja deferida a


gratuidade de justiça, com fulcro nos artigos 98 e 99, do CPC.

3. DAS RAZÕES DE AGRAVO

Após a tramitação dos autos da Ação de Desconstituição de


Negócio Jurídico c/c Repetição de Indébito c/c Indenização por danos morais, ajuizada
pelo Agravado, o respeitável 2º Juizado Especial Cível da Comarca de Nova Iguaçu
decidiu, por meio de sentença, da seguinte forma:

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Ante todo o exposto, JULGO PROCEDENTE EM PARTE O PEDIDO para
CONDENAR SOLIDARIAMENTE A parte RÉ, NA OBRIGAÇÃO DE FAZER,
CONSISTENTE EM efetuar o cancelamento da compra, objeto da lide, no
prazo de 15 dias, a contar da intimação da sentença, sob pena multa no valor
de R$ 3.000,00.
CONDENAR SOLIDARIAMENTE a parte ré a restituir a parte autora R$
4.162,30 (quatro mil cento e sessenta e dois reais e trinta centavos),a título de
compensação por danos materiais. Correção monetária nos termos da tabela
da Corregedoria Geral de Justiça do TJRJ a partir do desembolso e juros de
1% (um por cento) ao mês a partir da data da citação.
CONDENAR SOLIDARIAMENTE a parte ré a pagar a parte autora a quantia
única de R$ 2.000,00 (dois mil reais), a título de compensação por danos
morais, corrigidos monetariamente nos termos da tabela da Corregedoria Geral
de Justiça do TJRJ a contar da publicação da sentença e juros de 1% (um por
cento) ao mês a partir da data da citação.
JULGO IMPROCEDENTES OS DEMAIS PEDIDOS
Faculto a ré, a fim de evitar o enriquecimento indevido do consumidor, a
retirada do produto, no prazo de 15 dias após o pagamento comprovado nos
autos, sob pena de perda do mesmo.

A decisão agravada (39742760) intima a Agravante para que


efetue o pagamento do valor de R$ 3.000,00 (três mil reais), conforme determinado
em sentença (7779050), à título de multa, por suposto descumprimento da obrigação
de cancelar a compra de esteira que constitui objeto da ação originária.

Do que se observa da própria narrativa dos fatos expostos pelo


Agravado, o produto foi adquirido em maio de 2020. No entanto, cabe salientar que o
valor de aquisição foi parcelado em 10 (dez) vezes – motivo pelo qual, prezando
pela boa-fé no pagamento realizado de forma pontual, podemos concluir que as
parcelas foram quitadas no mês de março de 2021.

Já a sentença, com a determinação para o cancelamento da


compra, se deu em 08 de outubro de 2021.

Sendo assim, a partir do momento em que o processamento da


compra – que finda com o pagamento integral da quantia – acaba, o prosseguimento
da ação para que seja cancelada a compra não possui qualquer sentido, tendo em
vista que estamos diante de caso de perda do objeto.

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Isto porque, realizado o ressarcimento pecuniário de danos
materiais e morais ao Agravado, foram sanadas as determinações da sentença em
sua integralidade, sendo indevida a multa pelo descumprimento de uma obrigação
que sequer possa ser realizada. Isto é, deve-se levar em consideração que a
sentença condenou em dano material (devolução do valor pago), então a
empresa não deveria ser condenada a cancelar a compra, pois a condenação foi
em relação ao valor total da compra.

Os danos materiais e morais causados foram devidamente


ressarcidos, conforme vê-se da decisão 30688020, desta forma não subsistindo
quaisquer quantias a serem pagas pela Agravante, como pontuado na decisão:

Conforme mencionado na própria petição retro fornecida pela


Agravante, o cumprimento da disposição da decisão agravada geraria enriquecimento

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sem causa ao Agravado, tendo em vista que a compra já foi cancelada, os valores de
condenação já foram pagos e a retirada do equipamento foi efetuada.

Tudo que elencado acima foi cumprido pela Agravante, mesmo


em Recuperação Judicial, portanto não resta nenhum prejuízo não ressarcido ao
Agravado, que justifique o recebimento deste valor de R$ 3.000,00 (três mil reais).

De tal sorte, o prosseguimento da ação com o cumprimento da


decisão agravada geraria, além de enriquecimento sem causa ao Agravado que já
teve seus danos compensados, grande prejuízo à empresa Agravante, que se
encontra em recuperação judicial e não pode oferecer o valor requisitado referente à
multa, ainda mais neste caso em que não é devida, e causaria lesão grave de difícil
reparação.

Portanto, conclui-se que não há como cancelar a cobrança


pois, desde que essa obrigação foi imposta na sentença, em 08 de outubro de
2021, o Agravado já havia quitado todas as suas parcelas.

4. DO EFEITO SUSPENSIVO

Tendo em vista os fatos e direitos supracitados, resta claro que o


cumprimento da decisão agravada, para que a Agravante efetue o pagamento ou, não
o fazendo, tenha o valor de R$ 3.000,00 (três mil reais) penhorados, é excessivamente
gravoso para a Agravante – ressaltando-se que está em Recuperação Judicial.

Por tais razões, com fundamento no arts. 955, §1 e 995, parágrafo


único do CPC, requer a Agravante o deferimento de efeito suspensivo, a fim de
suspender a obrigação de cancelamento de compra porquanto inviável e, ainda, a
ordem de penhora.

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5. DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer o recebimento do presente Agravo de


Instrumento com efeito suspensivo, nos termos do art. 1.019, inciso I, do CPC, para,
com fulcro no art. 485, inciso VI do CPC, determinar a extinção do processo pela perda
do objeto, assim dando provimento ao Agravo de Instrumento.

Pede provimento.

Blumenau (SC), 31 de janeiro de 2023.

Sérgio Alexandre Demmer – OAB/SC 10.104

Magda da Silva – OAB/SC 56.836

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