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Ao Juízo da 2ª Vara Federal de Florianópolis Seção

Judiciária de Santa Catarina.


Procedimento do Juizado Especial Cível
Obrigação de Fazer com Pedido Liminar
Processo nº *****0-97.2022.4.04.7200/SC
Intermediado por sua mandatária subscritora, comparece com
o devido acato e respeito à presença do Douto Juízo, (nome
completo), já devidamente qualificado e cadastrado
eletronicamente nos autos do processo supra, nos termos do
art. 42 da Lei 9.099/95, apresentar CONTRARRAZÕES AO
RECURSO INOMINADO (evento 66), interposto pela União
Federal, ora Apelante, requerendo se digne recebê-las e, após o
cumprimento das formalidades legais, determinar sua remessa
à Egrégia Turma Recursal do Juizado Especial Federal.
Termos em que pede deferimento.

Florianópolis-SC, em, 26 de junho de 2023.

Advogado
OAB/RJ
Egrégia Turma Recursal do Juizado Especial Cível
Federal
Apelado: (nome completo)
Apelante: União Federal
Autos nº: *****0-97.2022.4.04.7200/SC
Origem: Juízo da 2ª Vara Federal de Florianópolis
Seção Judiciária de Santa Catarina.
Contrarrazões ao Recurso Inominado
Eminentes Julgadores!

(nome completo), vem à presença dos nobres julgadores,


apresentar as Contrarrazões do Recurso Inominado, para que a
r. Decisão do juízo “a quo” seja mantida por seus próprios
fundamentos.
I. Síntese Processual
Trata-se da ação de obrigação de fazer, aflorada pelo Apelado
em desfavor da Apelante, que concerne no cômputo e registro
de 744 dias/horas de tempo de função técnica, suprimidos pela
Apelante, compreendido entre 05.10.2016 e 19.10.2018,
deixados de serem computados e registrados em seus
assentamentos funcionais, tempos estes, que preenchem
requisitos essenciais para ascensão na carreira.

Em 19.10.2018, em decorrência de decisão judicial, o Apelado


foi reintegrado às fileiras do serviço ativo da Marinha do
Brasil, com efeitos pretéritos, por ter sido considerado apto em
avaliação pericial para exercer suas atividades laborativas a
partir de 05.10.2016, o que não restou impugnado pela
Apelante.

Portanto, na conjectura da sentença condenatória, que decidiu


a reintegração do Apelado ao serviço ativo da Marinha, por ter
sido considerado apto após avaliação pericial, presumisse que
os efeitos pretéritos abrangidos pela r. decisão, perfilhe o
cômputo e registro do tempo de função técnica a partir de
05.10.2016, data que o Apelado se apresentou capaz para
exercer o serviço ativo da Marinha, contudo, se fosse o Apelado
devidamente reintegrado a época devida, gozaria regularmente
dos tempos suprimidos pela Apelante.

II. Da Sentença Recorrida


Conforme se depreende da r. Sentença proferida, o Juízo “a
quo” julgou procedentes os pedidos declinados na exordial
apresentada pelo Apelado, mediante os seguintes termos:
III - DISPOSITIVO
Ante o exposto: 01. Reconheço, de ofício, a competência do
Juizado Especial Federal Cível para processar e julgar a
ação. A Secretaria proceda à alteração da classe da
ação. 02. Acolho o pedido e extingo o feito com resolução do
mérito, forte no art. 487, I, do CPC. Por conseguinte,
reconheço em favor do autor o direito ao cômputo de tempo
de função técnica no período de 05/10/2016 a 18/10/2018,
inclusive. 03. Decorrida a dezena legal (A) com interposição
de recurso inominado, a Secretaria receba-o, colha
contrarrazões e o remeta à Colenda Turma Recursal; (B) sem
interposição de recurso, a Secretaria certifique trânsito em
julgado e oportunamente arquive. 04. Sem custas nem
honorários nesta primeira instância. 05. P.R.I.
Inconformada com a respeitável decisão, a Apelante interpôs o
Recurso Inominado.

“Data vênia”, não merece prosperar o recurso apresentado pela


Apelante, tendo em vista a consistência das razões que seguem,
devendo ser mantida intocada a r. sentença proferida pelo
Juízo “a quo”, senão vejamos:
III. Preliminarmente
III.1. Da Ofensa ao Princípio da Dialeticidade Mera
Repetição dos Argumentos Anteriores
Nota-se nos argumentos trazidos no recurso, a Apelante
SIMPLESMENTE COPIA E COLA os contextos alegados
anteriormente em sua contestação.

O mesmo se repete em todo recurso, deixando o Apelado


de colacionar a integralidade dos argumentos repetidos do
Apelante, apenas para não tumultuar o processo, sendo que a
identidade de argumentos, a mera repetição, poderá ser
analisada pela simples leitura comparativa entre os
argumentos deste recurso e os argumentos anteriores
apresentados através do seu instrumento de defesa.
Notório que a jurisprudência caminha no mesmo sentido, qual
seja, o de que a mera repetição dos argumentos da peça
anterior não é o suficiente para desconstituir a decisão que se
pretende combater, sendo que, a regra, é a manutenção da
decisão por seus próprios argumentos, eis que a
Apelante não demonstrou as razões pelas quais a decisão
merece ser desconstituída, senão vejamos:
“AGRAVO INTERNO - MERA REPETIÇÃO DE
ARGUMENTOS APRESENTADOS NO AGRAVO DE
INSTRUMENTO - DECISÃO RECORRIDA, ENTRETANTO,
QUE SE MANTÉM POR SEUS FUNDAMENTOS - RECURSO
IMPROVIDO. (TJ-MS - AGR: 14663 MS 2005.014663-
1/0001.00, Relator: Des. Jorge Eustácio da Silva Frias, Data
de Julgamento: 25/10/2005, 1ª Turma Cível, Data de
Publicação: 11/11/2005)”.
“AGRAVO INTERNO INTERPOSTO CONTRA DECISÃO
MONOCRÁTICA DO RELATOR QUE NEGOU SEGUIMENTO
AO RECURSO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO POR
MANIFESTA INADMISSIBILIDADE. RAZÕES RECURSAIS
DO AGRAVO INTERNO AFIRMANDO NÃO TER SIDO A
DECISÃO FUNDADA EM SÚMULA OU EM
JURISPRUDÊNCIA CONSOLIDADA DO SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA OU DESTE TRIBUNAL.
FUNDAMENTOS DESASOCIADOS DA RAZÃO DE DECIDIR
(RECURSO MANIFESTAMENTE INADMISSÍVEL)
MONOCRATICAMENTE ADOTADA PELO RELATOR. MERA
REPETIÇÃO DE ARGUMENTOS APRESENTADOS NO
AGRAVO DE INSTRUMENTO E DOS EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO. OFENSA AO PRINCÍPIO DA
DIALETICIDADE. AGRAVO INTERNO NÃO CONHECIDO
(TJ-PR 889513802 PR 889513-8/02 (Acórdão), Relator:
Magnus Venicius Rox, Data de Julgamento: 29/08/2012, 16ª
Câmara Cível)”.
Assim, segundo Nelson Nery Junior, “tendo em vista que o
recurso visa, precipuamente, modificar ou anular a decisão
considerada injusta ou ilegal, é necessária a apresentação das
razões pelas quais se aponta a ilegalidade ou injustiça da
referida decisão judicial” (Princípios fundamentais: teoria
geral dos recursos, São Paulo: RT, 2000, p. 150).

Deste modo, a Apelante não cumpre com o princípio


da dialeticidade, pois deixa de enfrentar os
fundamentos da decisão recorrida.
No exame dos pressupostos de admissibilidade intrínsecos
(cabimento, legitimidade recursal, interesse recursal), e
extrínsecos (tempestividade, preparo, regularidade formal e
inexistência de fato impeditivo), verifica-se na espécie dos
autos não estar presente a regularidade formal exigida, ante a
ausência de razões de fato e de direito contrariando os
fundamentos da decisão recorrida, impedindo o conhecimento
do recurso, por ofensa ao princípio da dialeticidade, como
acima foi relatado.

Também é nesse sentido que se posiciona o Superior Tribunal


de Justiça:

“AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO.


PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE. AUSÊNCIA DE
IMPUGNAÇAO ESPECÍFICA DOS FUNDAMENTOS DA
DECISAO. ENUNCIADO N. 182/STJ. RECURSO
INFUNDADO. MULTA. 1. Em obediência ao princípio da
dialeticidade, deve o agravante demonstrar o desacerto da
decisão agravada, não sendo suficiente a impugnação
genérica ao decisum combatido. 2. A ausência de efetiva
impugnação a todos os fundamentos da decisão agravada
obsta o conhecimento do agravo, consoante entendimento
consolidado na Súmula 182/STJ. 3. Agravo manifestamente
inadmissível ou infundado enseja aplicação de multa do
art. 557, 2º, do CPC. 4. AGRAVO REGIMENTAL NAO
CONHECIDO, COM APLICAÇAO DE MULTA (Agravo
Regimental no Agravo de Instrumento nº 1414927/SC, Rel.
Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA
TURMA, julgado em 27/03/2012, DJe 03/04/2012).”
“AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO (ART. 544 DO CPC)-
FALTA DE IMPUGNAÇAO ESPECÍFICA A UM DOS
FUNDAMENTOS DA DECISAO ATACADA - INCIDÊNCIA DO
ART. 544, 4º, I, DO CPC - INTELIGÊNCIA DA SÚMULA
182/STJ - VIOLAÇAO AO PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE,
ENSEJANDO A MANUTENÇAO DO PROVIMENTO
HOSTILIZADO POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS -
RECURSO NAO CONHECIDO, COM APLICAÇAO DE MULTA.
I. Em razão do princípio da dialeticidade, deve o agravante
demonstrar de modo fundamentado o desacerto da decisão
agravada. II. "É inviável o agravo do art. 545 do CPC que
deixa de atacar especificamente os fundamentos da decisão
agravada." Súmula 182/STJ. III. Agravo regimental não
conhecido, com aplicação de multa (Agravo Regimental no
Agravo em Recurso Especial nº 88.957/RS, Rel. Ministro
MARÇO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em 06/03/2012,
DJe 16/03/2012).”
Os tribunais pátrios, quando da ausência de ataque aos
fundamentos da sentença, possuem como ato não conhecer do
recurso apresentado, vejamos precedentes:

“APELAÇÃO CÍVEL - AUSÊNCIA DE COMBATE AOS


FUNDAMENTOS DA SENTENÇA - NÃO CONHECIMENTO
DO RECURSO. A apelação que não combate os fundamentos
da sentença não preenche os requisitos de admissibilidade
elencados na norma do artigo 1.010 do NCPC, o que implica
não conhecimento do recurso. (TJ-MG - AC:
10672120208257002 MG, Relator: Antônio Bispo, Data de
Julgamento: 12/09/0017, Câmaras Cíveis / 15ª CÂMARA
CÍVEL, Data de Publicação: 22/09/2017)”.
“APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO
ESPECIFICADO. RAZÕES RECURSAIS DISSOCIADAS DO
FUNDAMENTO DA SENTENÇA. NÃO CONHECIMENTO DO
APELO, PORQUANTO O APELANTE NÃO COMBATE A
SENTENÇA. POR UNANIMIDADE, NÃO CONHECERAM DO
RECURSO. (TJ-RS - AC: 70052904315 RS, Relator: Angelo
Maraninchi Giannakos, Data de Julgamento: 28/08/2013,
Décima Quinta Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da
Justiça do dia 04/09/2013)”.
A par disso, conclui-se que em momento algum, sequer em
uma linha de seu arrazoado, referiu-se ao conteúdo da decisão
apelada, razão pela qual as razões do presente recurso estão
dissociadas daquelas consolidadas pelo decisum combatido,
constatação, por si só, capaz de se ter como inexistente
qualquer eficaz impugnação àquela, levando a peça recursal ao
inevitável não-conhecimento.
Sobre o tema, a jurisprudência e a doutrina já se manifestaram.
Veja-se o que disse, por primeiro, o Desembargador Araken de
Assis, em “Doutrina e Prática do Processo Civil
Contemporâneo, RT 2001”, fls. 327/329, verbis;

“Manifestando seu inconformismo com o ato decisório,


indispensável se revela a motivação do recurso, ou seja, as
razões através das quais o recorrente pretende convencer o
órgão ad quem do desacerto do órgão a quo.
De resto, o próprio conteúdo das razões merece rigoroso
controle. Deve existir simetria entre o decidido e o alegado no
recurso, ou seja, motivação pertinente. Ademais, as razões
carecem de atualidade, à vista do ato impugnado, devendo
profligar os argumentos deste, insubstituíveis (as razões) pela
simples referência a atos processuais anteriores. Quer dizer,
não se conhece de recurso dotado de motivação per
relationem, no qual o recorrente se reporta a alegações
expendidas anteriormente à emanação do ato impugnado.”
Desse modo, houve ferimento ao Princípio da Dialeticidade,
pois a Apelante não alega nem demonstra que a decisão
recorrida não está correta, limitando-se, como já dito, apenas a
repetir os argumentos anteriormente já apresentados.

Logo, sem a impugnação específica da decisão, nos limites em


que ela foi proferida, deve ser reconhecida a impossibilidade de
conhecer o Recurso Inominado interposto, por ausência de
requisitos legais, em razão de violação ao princípio da
dialeticidade.

IV. Das Razões de Mérito


Em que pese a Apelante alegar que o tempo em que o Apelado
esteve afastado, não poderia ser computado o tempo de função
técnica atinente às tarefas técnico-profissional à sua
especialidade por não terem sido exercidas durante o período,
portanto, notório que a tarefa técnico-profissional não foi
exercida pelo fato do Apelante não reintegrar o Apelado à
época devida, ou seja, a partir de 05.10.2016, data que o
Apelado se apresentou capaz para exercer o serviço ativo da
Marinha, contudo, se fosse o Apelado devidamente reintegrado
a época devida, gozaria regularmente dos tempos suprimidos
pela Apelante.

A contagem de tempo em questão, ao ser suprimidos pela


Apelante, retira a nítida retroatividade dos efeitos da decisão
que reintegrou o Apelado, os quais devem ser considerados a
partir dos efeitos pretéritos proferidos, compreendendo nos
assentamentos funcionais do autor, tempo ao que faz jus.

O ponto chave do raciocínio, como se vê, é que não pode ser


o autor responsabilizado pela falha ou desídia da
Apelante que indeferiu sua reinclusão ao serviço ativo em
05.10.2016, estando na época, apto para exercer suas
funções, fazendo jus, portanto, a tudo aquilo que
poderia ter gozado caso estivesse efetivamente sido
reintegrado. É dizer, empregam-se esforços para que a
situação fática e jurídica retorne ao status quo ante,
preservando-se os direitos que existiam ou deveriam existir.
V. Conclusão
Diante de todo o exposto, requer que essa Egrégia Turma
Recursal do Juizado Especial Federal, negue provimento ao
Recurso Inominado interposto pela Apelante, devendo a r.
Sentença do juiz de primeiro grau ser mantida em todos os
seus termos, como forma de inteira justiça, sopesando ainda,
honorários sucumbenciais advocatícios em 20% (vinte por
cento) sobre o valor da condenação, nos termos do art. 55 da
nº Lei 9.099/95 c/c art. 1º da Lei nº 10.259/01.
Termos em que pede deferimento.

Florianópolis-SC, em, 26 de junho de 2023.

Advogado
OAB/RJ

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