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ESTADO DO CEARÁ
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
GABINETE DES. FRANCISCO GLADYSON PONTES

Processo: 0620440-57.2022.8.06.0000 - Agravo de Instrumento


Agravante: Maria Jaqueline do Nascimento. Agravados: Estado do Ceará e Fundação Getúlio
Vargas

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por FRANCISCO GLADYSON PONTES, liberado nos autos em 05/08/2022 às 09:45 .
DECISÃO MONOCRÁTICA

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjce.jus.br/esaj, informe o processo 0620440-57.2022.8.06.0000 e código 274AF58.
Trata-se de insurgência apresentada em face de decisão proferida
pelo juiz da 14ª Vara da Fazenda Pública da Comarca de Fortaleza, fls. 39/45, que,
nos autos da Ação Ordinária proposta por MARIA JAQUELINE DO NASCIMENTO
em desfavor da FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS, indeferiu o pedido de urgência,
porquanto ausentes os requisitos autorizadores para sua concessão.
É o que importa relatar.
Decido.
Consoante destacado no relato, a decisão que originou o presente
recurso, foi proferida pelo magistrado da 14ª Vara da Fazenda Pública da Comarca
de Fortaleza. Ocorre que, posteriormente, entendeu por sua incompetência
absoluta, remetendo os autos a distribuição a uma das Varas do Juizado Especial
da Fazenda Pública, fl. 155 do feito principal.
Atualmente, a ação corre na 8ª Vara da Fazenda Pública, que segue
o rito da Lei nº 12.153/09 – art. 2º, § 4º (Juizados Especiais da Fazenda Pública).
Por essa razão, o correspondente recurso deve ser processado
perante a Turma Recursal competente, não podendo o Tribunal de Justiça rever o
que foi decidido no âmbito dos Juizados Especiais.
Sobre o assunto, destaco a Súmula nº 30 deste Sodalício, mutatis
mutandis:

“O Tribunal de Justiça não tem competência recursal nem originária para


rever decisões dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais.”

Precedentes deste Tribunal de Justiça:

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ESTADO DO CEARÁ
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
GABINETE DES. FRANCISCO GLADYSON PONTES

“PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO. DECISÃO MONOCRÁTICA.


DECLINAÇÃO DE COMPETÊNCIA. MANDADO DE SEGURANÇA
IMPETRADO CONTRA ATO DE JUIZ SINGULAR NO ÂMBITO DO
JUIZADO ESPECIAL DA FAZENDA PÚBLICA. INCOMPETÊNCIA DESTA
CORTE DE JUSTIÇA. SÚMULA Nº 376 DO STJ. PRECEDENTES DO STJ
E DO TJCE. AGRAVO INTERNO CONHECIDO E DESPROVIDO.”
(Processo nº 0626688-15.2017.8.06.0000, Relator (a): FRANCISCO DE

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por FRANCISCO GLADYSON PONTES, liberado nos autos em 05/08/2022 às 09:45 .
ASSIS FILGUEIRA MENDES, Órgão julgador: 3ª Câmara Direito Público,
Data do julgamento: 16/12/2019, Data de registro: 17/12/2019).

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO processual civil E Administrativo.

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjce.jus.br/esaj, informe o processo 0620440-57.2022.8.06.0000 e código 274AF58.
Juizado especial. Turma recursal. Competência absoluta. Remessa dos
autos à turma recursal. 1. Cuida-se de Agravo de Instrumento com o fito de
obter a reforma de decisão a quo indeferiu o pleito formulado pelo autor
consistente na garantia continuidade no concurso público para o cargo de 1º
Tenente da Polícia Militar do Estado do Ceará. Em suas razões, refere-se o
recorrente inexistir fundamento para a sua inaptidão no concurso, estando
presentes os requisitos para o deferimento da liminar. 2. Do cotejo dos
autos, percebe-se ter sido a decisão recorrida proferida pelo
magistrado atuante na 6ª Vara da Fazenda Pública da Comarca de
Fortaleza, Juízo competente para o julgamento das demandas que
tramitem sob o procedimento dos Juizados Especiais da Fazenda
Pública (Lei nº 12.153/2009). 3. Aos Juizados Especiais da Fazenda
Pública, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e
dos Municípios, compete processar, conciliar e julgar as demandas
cíveis com valor da causa inferior a 60 (sessenta) salários mínimos,
desde que não haja complexidade na matéria discutida, cuidando-se de
competência absoluta, conforme estabelece o art. 2º, § 4º, da Lei
Federal nº 12.153/2009. 4. Assim, declara-se a incompetência absoluta
desta Corte Estadual para processar e julgar o presente Agravo de
Instrumento, oportunidade em que determina-se a remessa dos autos à
Turma Recursal do Juizado Especial da Fazenda Pública.”
(Processo nº 0623836-47.2019.8.06.0000, Relator (a): PAULO FRANCISCO
BANHOS PONTE, Órgão julgador: 1ª Câmara de Direito Público, Data do
julgamento: 25/11/2019, Data de registro: 26/11/2019).

Não destoa a manifestação do Superior Tribunal de Justiça:

“RECURSO ESPECIAL. ACÓRDÃO PROFERIDO PELO TRIBUNAL DE


JUSTIÇA, NO BOJO DE MANDADO DE SEGURANÇA, QUE LIMITOU O
VALOR DAS ASTREINTES AO VALOR DE ALÇADA PREVISTO NO ART.
3º, I, DA LEI N. 9.099/1995. CRITÉRIO DE COMPETÊNCIA. EXERCÍCIO
DE CONTROLE DE COMPETÊNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS PELO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA. POSSIBILIDADE, EM TESE. COMPETÊNCIA
DOS JUIZADOS ESPECIAIS PARA PROMOVER A EXECUÇÃO DE
ASTREINTES SUPERIORES AO VALOR DE ALÇADA, DESDE QUE
OBSERVADOS OS PARÂMETROS DE RAZOABILIDADE E
PROPORCIONALIDADE. RECURSO ESPECIAL IMPROVIDO. 1. Com o
advento do Código de Processo Civil de 2015, que promoveu verdadeira
vinculação dos juízes e membros dos Tribunais Estaduais à jurisprudência

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dos Tribunais Superiores # e diante da inércia legislativa #, a Corte Especial
do STJ reconheceu que a competência para dirimir divergência entre
acórdão prolatado por Turma Recursal Estadual e a jurisprudência do STJ,
suas súmulas ou orientações decorrentes de julgamentos de recursos
repetitivos deve ser exercida pelo Órgão Especial dos Tribunais de Justiça
ou, na ausência deste, pelo órgão correspondente, provisoriamente, até a
criação das Turmas de Uniformização (AgRg na Rcl 18.506/SP, Rel. Ministro
Raul Araújo, Corte Especial, julgado em 06/04/2016, DJe 27/05/2016). 1.1

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por FRANCISCO GLADYSON PONTES, liberado nos autos em 05/08/2022 às 09:45 .
Sem descurar que esta novel e temporária competência dos Tribunais de
Justiça foi instaurada a partir da entrada em vigor do Código de Processo
Civil de 2015, não se aplicando à hipótese dos autos, a situação aqui
retratada, de manifesta teratologia, bem evidencia a necessidade de os

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Juizados Especiais submeterem-se ao controle de um órgão unificador, que
zele pela observância da interpretação da legislação federal conferida por
este Superior Tribunal de Justiça, a fim de preservar a higidez do sistema
dos Juizados Especiais, garantindo-se a segurança jurídica de seus
provimentos. 2. Ainda que não seja dado ao Tribunal de Justiça efetuar
o controle de mérito das decisões proferidas pelos Juizados Especiais
# o que, na atual conjuntura, como visto, comporta exceção para efeito
de controle de uniformização da interpretação da lei federal pelo STJ #
cabe-lhe, na falta de regramento específico, exercer o controle sobre a
competência dos Juizados Especiais a ele vinculados em sua
organização funcional e administrativa. 2.1 Em se tratando de critério
definidor da própria competência do Juizado Especial, como o é o valor da
causa, afigura-se possível ao Tribunal de Justiça, no bojo de mandado de
segurança, ao exercer controle de competência dos Juizados Especiais,
deliberar sobre esta questão. Pode-se concluir, assim, que a Corte estadual
detinha plena competência para deliberar sobre o valor executado, podendo,
inclusive, reduzi-lo, se, em coerência com a sua compreensão, reputar que a
execução de astreintes em valor superior ao previsto no art. 3º, I, da Lei n.
9.099/1995 (no caso, em patamar superior a onze milhões de reais) refoge
do conceito de "causa de menor complexidade" e, por consequência, da
própria competência dos Juizados Especiais. 3. Segundo o entendimento
prevalecente da Segunda Seção do STJ, os Juizados Especiais ostentam
competência para conhecer e julgar as ações cujo valor da causa não
exceda a quarenta salários mínimos, bem como promover a execução de
seus julgados, ainda que os consectários da condenação, assim como as
astreintes, desde que, nesse caso, observados, necessariamente, os
parâmetros de razoabilidade e de proporcionalidade, ultrapassem o aludido
valor de alçada. 3.1 Na espécie, a pretensão de dar cumprimento à
execução de quantia superior a onze milhões de reais, a título de astreintes,
impostas no bojo de ação de indenização por danos morais, cujo valor da
causa se atribuiu a importância R$ 13.000,00 (treze mil reais), decorrentes
da inclusão indevida do nome da autora nos órgãos de proteção de crédito,
promovida sob o singelo rito dos Juizados Especiais, reveste-se de
manifesta teratologia, tantas vezes reconhecida por esta Segunda Seção,
em casos com a mesma discussão (com valores até inferiores aos
discutidos na hipótese), quando detinha competência para julgar as
Reclamações fundadas na Resolução n. 12/2009 do STJ, transferida para
os Tribunais de origem, segundo a Resolução n. 3/2016 do STJ. 3.2 A
teratologia da decisão afigura-se manifesta não apenas pelo exorbitante
valor a que se pretende executar (mais de onze milhões de reais), a refugir
por completo da qualificação de "causas de menor complexidade", mas,

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também, pelo próprio arbitramento da multa diária, que, em descompasso
com a razoabilidade, deixou de atender ao caráter coercitivo da penalidade
propugnado pela norma. 3.3 A medida do arbitramento das astreintes é
sempre o equilíbrio, a razoabilidade. A fixação de multa em valores ínfimos
não tem o condão, por si, de intimidar o devedor a dar cumprimento à ordem
judicial, em desprestígio do Poder Judiciário. Por outro lado, o
estabelecimento de multa em valor exorbitante, em razão de sua própria
intangibilidade e provável (e necessária) reforma pelas instâncias

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por FRANCISCO GLADYSON PONTES, liberado nos autos em 05/08/2022 às 09:45 .
superiores, também não dão ensejo ao cumprimento voluntário da obrigação
judicial. Em comum, a inocuidade do comando. 3.4 Os valores tais como
arbitrados, em cotejo com a pretensão posta, revelam-se, por si,
inadequados, a ponto de a condenação em astreintes, que tem caráter

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instrumental ao objeto da ação, tornar-se, em poucos dias de eventual
descumprimento, substancialmente mais interessante que o próprio pedido
principal. 4. No caso, considerando que a limitação das astreintes ao valor
de alçada dos Juizados Especiais perpetrada pelo Tribunal de Justiça do
Estado de Maranhão, em exercício do controle de competência, por via
transversa, não refoge dos parâmetros de razoabilidade, segundo as
particularidades do caso delineadas, contando, inclusive, com a resignação
do banco executado, é de rigor sua manutenção.
5. Recurso especial improvido.”
(REsp 1537731/MA, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA
TURMA, julgado em 22/08/2017, DJe 29/08/2017).

Diante do exposto, decido pela DECLARAÇÃO DA


INCOMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA, ordenando a remessa dos autos
para processamento perante a Turma Recursal competente.
CIÊNCIA ÀS PARTES.
Expedientes Necessários.
Fortaleza, data e hora indicadas no sistema.

FRANCISCO GLADYSON PONTES


Relator

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