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Poder Judiciário
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO
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AGRAVO DE EXECUÇÃO PENAL Nº 5000182-41.2023.4.04.7017/PR


RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL LORACI FLORES DE LIMA
AGRAVANTE: SILVIA DE CARVALHO TRISTAO (AGRAVANTE)
ADVOGADO(A): REGINALDO LUIZ SAMPAIO SCHISLER (OAB PR029294)
AGRAVADO: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL (AGRAVADO)

VOTO

1. Trata-se de agravo de execução penal interposto por


SILVIA DE CARVALHO TRISTAO contra decisão proferida pelo
Juízo da 1ª Vara Federal de Guaíra/PR, nos autos da Execução Penal
Provisória nº 5002293-37.2019.4.04.7017, que, tornando sem efeito
decisão proferida pelo Juízo deprecado para fiscalização da pena
privativa de liberdade (5ª Vara Criminal de Alta Floresta/MT),
determinou o restabelecimento do monitoramento eletrônico e a
desconsideração como pena efetivamente cumprida dos dias
compreendidos entre a remoção e recolocação do equipamento, nos
seguintes termos (processo 5002293-37.2019.4.04.7017/PR, evento
471, DESPADEC1):

2. SILVIA DE CARVALHO TRISTAO foi condenada


- em caráter não definitivo - na Ação Penal nº
5000753512019404701/PR, pela prática do delito do artigo 2º, caput e
§ 4º, V, da Lei n.º 12.850/2013 (organização criminosa), às penas de 5
(cinco) anos, 7 (sete) meses e 2 (dois) dias de reclusão, em regime
semiaberto, e de 120 dias-multa, no valor unitário de um salário-
mínimo da época do fato (março/2019).

A audiência admonitória foi realizada em 19/12/2019


(processo 5002293-37.2019.4.04.7017/PR, evento 19,
TERMOAUD1), e, na sequência, foi deferida a progressão da
apenada ao regime aberto, a contar de 17/02/2020 (processo
5002293-37.2019.4.04.7017/PR, evento 47, DESPADEC1).

Após autorizar a mudança de endereço requerida pela


apenada, Juízo de origem - em 07/04/2022 - deprecou para a Vara de
Execuções Penais de Alta Floresta/MT o poder de fiscalização da
pena privativa de liberdade, executada em caráter provisório,

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reservando expressamente o poder decisório (processo


5002293-37.2019.4.04.7017/PR, evento 417, DESPADEC1).

Em 10/01/2023, aportou aos autos notícia de que, no


juízo deprecado - em decisão proferida em 19/12/2022 -, fora
determinada a retirada do equipamento de monitoramento eletrônico
(processo 5002293-37.2019.4.04.7017/PR, evento 469, DEC1) -
decisão essa que foi declarada inválida e sem efeitos pelo Juízo da
execução penal.

2.1. Contra essa decisão, insurge-se a parte agravante,


sustentando a desproporcionalidade da reinstalação da tornozeleira e,
especialmente, do desconto do período de pena cumprido sem
monitoramento.

Pois bem.

3. Nos termos do artigo 65 da Lei nº 7.210/84 (LEP),


"A execução penal competirá ao Juiz indicado na lei local de
organização judiciária e, na sua ausência, ao da sentença", sendo
deprecada ao Juízo do domicílio do apenado tão somente a realização
de audiência admonitória e a fiscalização do cumprimento das penas
restritivas de direitos, conforme dispõe o artigo 257 da Consolidação
Normativa da Corregedoria Regional da 4ª Região, verbis:

Art. 257. Somente serão expedidas cartas precatórias para:

I – cumprimento em outras Regiões;

II – cumprimento pela Justiça Estadual;

III – realização de leilões, quando não for possível a realização


por meio eletrônico;

IV – fiscalização de suspensão condicional do processo;

V – fiscalização do cumprimento de penas.

VI - realização de audiência admonitória para o cumprimento de


penas restritivas de direitos ou para a fixação de condições à
suspensão condicional do processo, quando, entre as reprimendas
restritivas ou condições da suspensão, incluir-se a prestação de
serviços à comunidade.

O juízo deprecado não pode extrapolar os atos


processuais que lhe foram expressamente delegados, não detém
poderes decisórios, e, portanto, não tem competência para decidir
acerca da alteração da forma de cumprimento da pena fixada,
originalmente, pelo Juízo da execução penal.

Nesse sentido, já decidiu a Quarta Seção deste Tribunal,


em julgado assim sintetizado:

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DIREITO PROCESSUAL PENAL. CONFLITO DE JURISDIÇÃO.


FISCALIZAÇÃO. PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS. JUÍZO
DEPRECADO ONDE RESIDE O CONDENADO. ATOS
DECISÓRIOS. JUÍZO DEPRECANTE. A competência para a
execução penal cabe ao Juízo da condenação, sendo deprecada ao
Juízo do domicílio do réu tão-somente a fiscalização do
cumprimento das penas restritivas de direitos, não havendo falar
em transferência de atos decisórios. (TRF4
5049385-76.2020.4.04.0000, QUARTA SEÇÃO, Relator
LEANDRO PAULSEN, juntado aos autos em 21/12/2020)

Esse também é o entendimento do STJ, conforme se


colhe do seguinte julgado:

CRIMINAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. RÉU


CONDENADO PELO JUÍZO FEDERAL. PENA PRIVATIVA DE
LIBERDADE SUBSTITUÍDA POR PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À
COMUNIDADE. EXPEDIÇÃO DE CARTA PRECATÓRIA À
COMARCA DE DOMICÍLIO DO APENADO, PARA
FISCALIZAÇÃO DO CUMPRIMENTO DA PENA.
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. I.Esta Corte possui
entendimento firmado no sentido de que a competência para
a execução penal cabe ao Juízo da condenação, sendo deprecada
ao Juízo do domicílio do apenado somente a supervisão e
acompanhamento do cumprimento da pena determinada,
inexistindo deslocamento de competência. Precedentes. (...) (CC
113.112/SC, Terceira Seção, Rel. Min. Gilson Dipp, DJe
17/11/2011).

Nesse contexto, observo que, de fato, não poderia o


Juízo deprecado da Comarca de Alta Floresta/MT ter determinado a
retirada do monitoramento eletrônico imposto pelo Juízo da execução
como condição ao cumprimento da pena em regime aberto.

Assim, não merece reparo decisão no ponto em que


determinou a imediata convocação da apenada para a realização dos
procedimentos necessários para a reinstalação do equipamento.

3.1. Por outro lado, no que diz que respeito ao desconto


do período de cumprimento de pena sem monitoramento, entendo que
assiste razão à parte agravante.

E isso porque, de acordo com os dados que aportaram


aos autos da execução penal, a retirada do equipamento de
monitoramento eletrônico foi, ao que tudo indica, determinada de
ofício pelo Juízo deprecado, não havendo notícia da existência de
posterior impugnação por parte do representante do Ministério
Público Estadual atuante naquela comarca.

Nesse contexto, tendo a apenada se limitado a atender a


determinação judicial, agindo, ao que tudo indica, de boa-fé, entendo
que não se lhe pode imputar a responsabilidade pelo cumprimento da
pena de forma diversa da estabelecida, originalmente, pelo Juízo da

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execução.

De fato, não se mostra razoável que, em razão de vício


de competência desconhecido pela parte executada, seja ela obrigada
a desconsiderar período de pena regularmente cumprida - leia-se, em
conformidade com o quanto determinado pelo Juízo responsável pela
fiscalização do cumprimento, ainda que sem competência para tanto -,
sendo certo que, em tais circunstâncias, a ausência de fiscalização não
representa, necessariamente, a ausência de cumprimento da pena.

Portanto, não havendo elementos que indiquem que, no


período no qual esteve sem monitoramento eletrônico por
determinação do Juízo deprecado, a apenada tenha deixado de
cumprir as demais condições estabelecidas, não se justifica a
desconsideração como pena efetivamente cumprida dos dias
compreendidos entre remoção e recolocação da tornozeleira
eletrônica - a qual, ressalte-se, se deu em em 13/03/202023 (processo
5002293-37.2019.4.04.7017/PR, evento 490, COMP2), poucos dias
após a data em que certificada a intimação pessoal da apenada para
instalação do equipamento, em 07/03/2023 (processo
5002293-37.2019.4.04.7017/PR, evento 483, INT2).

3.2. Em conclusão, é de ser mantida a decisão


impugnada no ponto em que restabeleceu o monitoramento eletrônico
com forma de fiscalização ao cumprimento da pena em regime aberto,
determinando-se, contudo, o cômputo dos dias compreendidos entre a
remoção e a recolocação do equipamento como pena efetivamente
cumprida.

Ante o exposto, voto por dar parcial provimento ao


agravo de execução.

Documento eletrônico assinado por LORACI FLORES DE LIMA, Desembargador


Federal, na forma do artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e
Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de 2010. A conferência da autenticidade
do documento está disponível no endereço eletrônico http://www.trf4.jus.br/trf4/processos
/verifica.php, mediante o preenchimento do código verificador 40003897869v23 e do
código CRC 6df8f843.

Informações adicionais da assinatura:


Signatário (a): LORACI FLORES DE LIMA
Data e Hora: 16/5/2023, às 17:22:11

5000182-41.2023.4.04.7017 40003897869 .V23

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