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SEEU - Processo: 4400080-42.2020.8.13.

0016 - Assinado digitalmente por CAROLINA MINUCCI


[309.2] JUNTADA DE PETIÇÃO DE MANIFESTAÇÃO - Doc. 01 - Acordao TJMG em 27/01/2023

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Processo: 1.0000.22.108979-0/001
Relator: Des.(a) Roberto Apolinário de Castro (JD Convocado)

Validação deste em https://seeu.pje.jus.br/seeu/ - Identificador: PJ6C6 34F58 XY2UE B6EFD


Relator do Acordão: Des.(a) Roberto Apolinário de Castro (JD Convocado)
Data do Julgamento: 25/01/2023
Data da Publicação: 26/01/2023

EMENTA: AGRAVO EM EXECUÇÃO. FALTA GRAVE. NÃO RECONHECIMENTO. AUSENCIA DE LASTRO


PROBATÓRIO MÍNIMO. AUSÊNCIA DE PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE. FALTA GRAVE AFASTADA.
RECURSO PROVIDO.

- Em que pese a presunção de legitimidade e veracidade nas palavras dos agentes penitenciários quando da
elaboração de comunicados internos, estas devem ser confrontadas com as demais provas colhidas, a fim de que se
tenha um lastro probatório mínimo a ensejar a instauração de processo administrativo disciplinar.

- A proporcionalidade se torna elemento condutor das decisões acerca da prática de faltas graves durante a execução
da pena, haja vista a necessidade de aplicar sanções a comportamentos que divirjam do objetivo presente nesta fase
do processo penal
AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL Nº 1.0000.22.108979-0/001 - COMARCA DE ALFENAS - AGRAVANTE(S):
PEDRO GONÇALVES DA COSTA NETO - AGRAVADO(A)(S): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS
GERAIS

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 9ª Câmara Criminal Especializada do Tribunal de Justiça do Estado de Minas
Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, em DAR PROVIMENTO.

DES. ROBERTO APOLINÁRIO DE CASTRO (JD CONVOCADO)


RELATOR

DES. ROBERTO APOLINÁRIO DE CASTRO (JD CONVOCADO) (RELATOR)

VOTO

Conheço do recurso.

1 - A espécie em julgamento.

Cuida-se de recurso de Agravo em Execução, interposto por Pedro Gonçalves da Costa Neto, objetivando a
reforma da decisão proferida pela Vara de Execuções Criminais de Alfenas, que reconheceu a prática de falta grave e
determinou a fixação de novo marco para a concessão dos benefícios em sede de execução penal.

Em suas razões recursais (e-doc. 02), a defesa pugna pela absolvição, em razão de ausência de provas
suficientes para a caracterização da falta grave, e requer a concessão da progressão de regime para o semiaberto.

As contrarrazões foram apresentadas, conforme e-doc. 04.

A Procuradoria-Geral de Justiça manifestou pelo conhecimento e provimento do recurso defensivo, e-doc. 12.

RELATADOS. DECIDO.

2 - Mérito

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SEEU - Processo: 4400080-42.2020.8.13.0016 - Assinado digitalmente por CAROLINA MINUCCI
[309.2] JUNTADA DE PETIÇÃO DE MANIFESTAÇÃO - Doc. 01 - Acordao TJMG em 27/01/2023

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Conforme se extrai dos autos, o agravante cumpre pena total de 05 anos de reclusão, atualmente em regime
fechado, pela prática da conduta descrita no art. 33 da Lei 11.343/06.

Sobreveio aos autos a suposta prática de falta grave por parte do agravante, em 11/02/2020, conforme

Validação deste em https://seeu.pje.jus.br/seeu/ - Identificador: PJ6C6 34F58 XY2UE B6EFD


comunicado interno, o qual relatou:

[...] DATA SUPRACITADA DURANTE O PROCEDIMENTO DE BANHO DE SOL, O PRESO MENCIONADO ACIMA,
APÓS SER DADO UMA ORDEM LEGAL PARA FAZER O PROCEDIMENTO DE RETORNO DOS PRESOS PARA
SUAS CELAS DE ORIGEM, O MESMO NAO OBEDECEU, NOVAMENTE FOI ORIENTADO A FAZER O
PROCEDIMENTO PADRAO E O MESMO INSISTIU EM NAO FAZER O PROCEDIMENTO. SEM MAIS, PASSO
PARA APRECIAÇÃO DOS SUPERIORES. [...]

Em audiência de justificação, o agravante informou que não desobedeceu a ordem, mas estava apenas "se
espreguiçando", acrescentando que após um longo período da Covid-19, retornava ao banho de sol.

O juízo a quo não acolheu a justificativa dada pelo sentenciado e reconheceu a prática de falta grave,
determinando-se novo marco para a contagem de benefícios da execução.

Diante disso, a defesa interpôs o presente recurso, sob o argumento de que não existem provas suficientes para
a caracterização da respectiva falta, motivo pelo qual deve ser absolvido.

Analisando minuciosamente os autos, percebo que razão assiste ao agravante, conforme passo a demonstrar.

Em que pese a palavra dos agentes penitenciários, constante no comunicado interno, ter presunção de
legitimidade e veracidade para ser um lastro probatório mínimo à instauração do processo administrativo disciplinar,
essa presunção é relativa, devendo ser confrontada com as provas colhidas em respeito ao devido processo legal e à
ampla defesa, o que in casu não ocorreu.

Conforme bem apontado pela douta Procuradoria de Justiça, não foram ouvidas testemunhas de forma a
corroborar com o comunicado interno, bem como não foram analisadas as filmagens constantes do estabelecimento
prisional, a fim de comprovar que o agravante realizava ato de desobediência e indisciplina.

As testemunhas ouvidas em PAD afirmaram que ouviram os policiais penais chamando a atenção do agravante,
contudo, não presenciaram especificamente o que ele teria feito.

Assim, tenho que não existem provas suficientes a ensejar a configuração de falta grave, mormente pela
ausência de razoabilidade e proporcionalidade na conduta narrada em comunicado interno.

Neste sentido, já decidiu este E. Tribunal de Justiça:

"EMENTA: AGRAVO EM EXECUÇÃO - FALTA GRAVE - NÃO RECONHECIMENTO - AUSÊNCIA DE ELEMENTOS


QUE COMPROVEM A PRÁTICA DO ATO - PRINCIPIOS DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. - Não
tendo sido produzidos elementos concretos, durante o procedimento de apuração da infração disciplinar, que
refutassem a justificativa do apenado, não há que se falar em reconhecimento da falta grave. - Tendo o reeducando
apresentado justificativa, que fora acolhida pelo d. Juízo "a quo", não se mostra razoável e proporcional, nesse
momento, reconhecer a prática da falta, que representaria desnecessário retrocesso no processo executório do
agente. (TJMG- Agravo em Execução Penal 1.0231.14.010415-0/002, Relator(a): Des.(a) Cássio Salomé, 7ª Câmara
Criminal, julgamento em 01/12/2021, publicação da súmula em 01/12/2021)"

Além disso, deve-se destacar que a ressocialização do condenado é princípio basilar da execução penal no
Brasil, tal como disposto no art. 1º da LEP, nos seguintes termos:

Art. 1º A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar
condições para a harmônica integração social do condenado e do internado.

Deste modo, a proporcionalidade se torna elemento condutor das decisões acerca da prática de faltas graves
durante a execução da pena, haja vista a necessidade de aplicar sanções a comportamentos que divirjam do objetivo
presente nesta fase do processo penal, qual seja, a integração social harmônica do

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SEEU - Processo: 4400080-42.2020.8.13.0016 - Assinado digitalmente por CAROLINA MINUCCI
[309.2] JUNTADA DE PETIÇÃO DE MANIFESTAÇÃO - Doc. 01 - Acordao TJMG em 27/01/2023

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
Tribunal de Justiça de Minas Gerais

condenado e do internado.

Para que possa haver a efetiva aplicação da proporcionalidade ao se decidir sobre a ocorrência de uma falta
grave, é necessário ater-se aos elementos presentes no art. 57, caput, da LEP:

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"Art. 57. Na aplicação das sanções disciplinares, levar-se-ão em conta a natureza, os motivos, as circunstâncias e as
consequências do fato, bem como a pessoa do faltoso e seu tempo de prisão."

Assim, infere-se que o reconhecimento da falta grave não deve ser aplicado a toda e qualquer conduta que se
considere minimamente reprovável, sendo necessária a observância de outros requisitos, tais como sua motivação e
consequência, bem como a disciplina do reeducando na execução de sua pena.

Diante disso, tenho que a conduta narrada no comunicado interno não é suficiente para caracterizar a prática de
falta grave, visto que dela não gerou desdobramentos relevantemente graves a ensejar tamanha reprovação.

Assim, por se tratar de medida desproporcional ao caso concreto, tenho que o reconhecimento da falta grave
deve ser afastado.

Por estas razões, DOU PROVIMENTO ao recurso, para reformar a decisão e afastar o reconhecimento da falta
grave.

3 - Conclusão.

Fundado nessas considerações, dou provimento ao recurso, para reformar a decisão e afastar o reconhecimento
da falta grave.

Sem custas.

DES. EDUARDO MACHADO - De acordo com o(a) Relator(a).


DESA. VALÉRIA RODRIGUES QUEIROZ - De acordo com o(a) Relator(a).

SÚMULA: "DERAM PROVIMENTO."

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