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Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
Tribunal de Justiça de Minas Gerais
Processo: 1.0000.22.108979-0/001
Relator: Des.(a) Roberto Apolinário de Castro (JD Convocado)
- Em que pese a presunção de legitimidade e veracidade nas palavras dos agentes penitenciários quando da
elaboração de comunicados internos, estas devem ser confrontadas com as demais provas colhidas, a fim de que se
tenha um lastro probatório mínimo a ensejar a instauração de processo administrativo disciplinar.
- A proporcionalidade se torna elemento condutor das decisões acerca da prática de faltas graves durante a execução
da pena, haja vista a necessidade de aplicar sanções a comportamentos que divirjam do objetivo presente nesta fase
do processo penal
AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL Nº 1.0000.22.108979-0/001 - COMARCA DE ALFENAS - AGRAVANTE(S):
PEDRO GONÇALVES DA COSTA NETO - AGRAVADO(A)(S): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS
GERAIS
ACÓRDÃO
Vistos etc., acorda, em Turma, a 9ª Câmara Criminal Especializada do Tribunal de Justiça do Estado de Minas
Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, em DAR PROVIMENTO.
VOTO
Conheço do recurso.
1 - A espécie em julgamento.
Cuida-se de recurso de Agravo em Execução, interposto por Pedro Gonçalves da Costa Neto, objetivando a
reforma da decisão proferida pela Vara de Execuções Criminais de Alfenas, que reconheceu a prática de falta grave e
determinou a fixação de novo marco para a concessão dos benefícios em sede de execução penal.
Em suas razões recursais (e-doc. 02), a defesa pugna pela absolvição, em razão de ausência de provas
suficientes para a caracterização da falta grave, e requer a concessão da progressão de regime para o semiaberto.
A Procuradoria-Geral de Justiça manifestou pelo conhecimento e provimento do recurso defensivo, e-doc. 12.
RELATADOS. DECIDO.
2 - Mérito
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SEEU - Processo: 4400080-42.2020.8.13.0016 - Assinado digitalmente por CAROLINA MINUCCI
[309.2] JUNTADA DE PETIÇÃO DE MANIFESTAÇÃO - Doc. 01 - Acordao TJMG em 27/01/2023
Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
Tribunal de Justiça de Minas Gerais
Conforme se extrai dos autos, o agravante cumpre pena total de 05 anos de reclusão, atualmente em regime
fechado, pela prática da conduta descrita no art. 33 da Lei 11.343/06.
Sobreveio aos autos a suposta prática de falta grave por parte do agravante, em 11/02/2020, conforme
[...] DATA SUPRACITADA DURANTE O PROCEDIMENTO DE BANHO DE SOL, O PRESO MENCIONADO ACIMA,
APÓS SER DADO UMA ORDEM LEGAL PARA FAZER O PROCEDIMENTO DE RETORNO DOS PRESOS PARA
SUAS CELAS DE ORIGEM, O MESMO NAO OBEDECEU, NOVAMENTE FOI ORIENTADO A FAZER O
PROCEDIMENTO PADRAO E O MESMO INSISTIU EM NAO FAZER O PROCEDIMENTO. SEM MAIS, PASSO
PARA APRECIAÇÃO DOS SUPERIORES. [...]
Em audiência de justificação, o agravante informou que não desobedeceu a ordem, mas estava apenas "se
espreguiçando", acrescentando que após um longo período da Covid-19, retornava ao banho de sol.
O juízo a quo não acolheu a justificativa dada pelo sentenciado e reconheceu a prática de falta grave,
determinando-se novo marco para a contagem de benefícios da execução.
Diante disso, a defesa interpôs o presente recurso, sob o argumento de que não existem provas suficientes para
a caracterização da respectiva falta, motivo pelo qual deve ser absolvido.
Analisando minuciosamente os autos, percebo que razão assiste ao agravante, conforme passo a demonstrar.
Em que pese a palavra dos agentes penitenciários, constante no comunicado interno, ter presunção de
legitimidade e veracidade para ser um lastro probatório mínimo à instauração do processo administrativo disciplinar,
essa presunção é relativa, devendo ser confrontada com as provas colhidas em respeito ao devido processo legal e à
ampla defesa, o que in casu não ocorreu.
Conforme bem apontado pela douta Procuradoria de Justiça, não foram ouvidas testemunhas de forma a
corroborar com o comunicado interno, bem como não foram analisadas as filmagens constantes do estabelecimento
prisional, a fim de comprovar que o agravante realizava ato de desobediência e indisciplina.
As testemunhas ouvidas em PAD afirmaram que ouviram os policiais penais chamando a atenção do agravante,
contudo, não presenciaram especificamente o que ele teria feito.
Assim, tenho que não existem provas suficientes a ensejar a configuração de falta grave, mormente pela
ausência de razoabilidade e proporcionalidade na conduta narrada em comunicado interno.
Além disso, deve-se destacar que a ressocialização do condenado é princípio basilar da execução penal no
Brasil, tal como disposto no art. 1º da LEP, nos seguintes termos:
Art. 1º A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar
condições para a harmônica integração social do condenado e do internado.
Deste modo, a proporcionalidade se torna elemento condutor das decisões acerca da prática de faltas graves
durante a execução da pena, haja vista a necessidade de aplicar sanções a comportamentos que divirjam do objetivo
presente nesta fase do processo penal, qual seja, a integração social harmônica do
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SEEU - Processo: 4400080-42.2020.8.13.0016 - Assinado digitalmente por CAROLINA MINUCCI
[309.2] JUNTADA DE PETIÇÃO DE MANIFESTAÇÃO - Doc. 01 - Acordao TJMG em 27/01/2023
Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
Tribunal de Justiça de Minas Gerais
condenado e do internado.
Para que possa haver a efetiva aplicação da proporcionalidade ao se decidir sobre a ocorrência de uma falta
grave, é necessário ater-se aos elementos presentes no art. 57, caput, da LEP:
Assim, infere-se que o reconhecimento da falta grave não deve ser aplicado a toda e qualquer conduta que se
considere minimamente reprovável, sendo necessária a observância de outros requisitos, tais como sua motivação e
consequência, bem como a disciplina do reeducando na execução de sua pena.
Diante disso, tenho que a conduta narrada no comunicado interno não é suficiente para caracterizar a prática de
falta grave, visto que dela não gerou desdobramentos relevantemente graves a ensejar tamanha reprovação.
Assim, por se tratar de medida desproporcional ao caso concreto, tenho que o reconhecimento da falta grave
deve ser afastado.
Por estas razões, DOU PROVIMENTO ao recurso, para reformar a decisão e afastar o reconhecimento da falta
grave.
3 - Conclusão.
Fundado nessas considerações, dou provimento ao recurso, para reformar a decisão e afastar o reconhecimento
da falta grave.
Sem custas.