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LEONARDO PACHECO
LUSTOSA:1480
Date: 2010.04.19
12:54:32 ACT
Reason: Validade Legal
Location: Paraná - Brasil

HABEAS CORPUS N. 653102-8


FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO
METROPOLITANA DE CURITIBA – 2ª VARA DE
EXECUÇÕES PENAIS
Impetrante: BEL. ANTÔNIO SÉRGIO MONTI
ROBALLO
Paciente: ÍTALO LUÍS NARDINO
Impetrado: JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA DE
EXECUÇÕES PENAIS DO FORO CENTRAL DA
COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE
CURITIBA
Relator: Des. Edvino Bochnia

HABEAS CORPUS – ROUBO MAJORADO E LATROCÍNIO


– ARTIGOS 157, §2º, INCISOS I E II, E 157, §3º,
AMBOS DO CÓDIGO PENAL – PEDIDO DE PROGRESSÃO
DE REGIME - ALEGAÇÃO DE NÃO PREENCHIMENTO
DO REQUISITO SUBJETIVO – INOCORRÊNCIA – LAUDO
DE EXAME CRIMINOLÓGICO INSUFICIENTE –
FUNDAMENTAÇÃO IMPRECISA E INCONCLUSA –
ORDEM CONCEDIDA.

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de


Habeas Corpus n. 653.102-8, do Juízo de Direito da 2ª Vara de Execuções
Penais do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba, em
que é impetrante o Bel. Antônio Sérgio Monti Roballo, paciente ÍTALO LUÍS
NARDINO e impetrado o Juízo de Direito da 2ª Vara de Execuções Penais do
Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba.

1. Cuidam os autos de Habeas Corpus sem pedido


liminar impetrado pelo Bel. Antônio Sérgio Monti Roballo em favor de ÍTALO
LUÍS NARDINO, argumentando que este sofre constrangimento ilegal por
parte do douto Juiz de Direito da 2ª Vara de Execuções Penais do Foro
Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba, pelo fato deste ter
indeferido o pedido de progressão do regime fechado para o semi-aberto,
mesmo já tendo o paciente cumprido os requisitos objetivo e subjetivo.

Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE
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Afirma o impetrante que o ora paciente cumpre


todos os requisitos previstos na Lei de Execuções Penais, não merecendo ter
seu pedido de progressão indeferido pelo Juízo monocrático, “que tolheu do
paciente seus direitos mais primários”.

Requer assim a concessão da ordem, reformando-


se a decisão singular, para o fim de conceder ao paciente a progressão do
regime fechado para o semi-aberto.

Não houve pedido liminar para ser analisado.

Informações prestadas pelo Juiz monocrático às


fls. 120/121, acompanhadas de documentos de fls. 122/126, relatando que
o paciente já cumpriu 05 (cinco) anos, 02 (dois) meses e 11 (onze) dias de
reclusão da pena privativa de liberdade que lhe foi imposta, sendo que em
data de 18.09.2009 teve pedido de progressão de regime indeferido.

Nesta instância, a douta Procuradoria Geral de


Justiça apresentou parecer de fls.132/134, onde se manifestou pela
denegação da ordem.

Após, os autos vieram-me conclusos.

É o relatório.

2. Conheço do feito, uma vez que presentes seus


pressupostos de admissibilidade.

Em primeiro plano, concernente ao óbice argüido


pelo douto Promotor de Justiça Substituto em 2º Grau quanto à inadequação
da via eleita para fins de obtenção de progressão de regime, cumpre-se
esclarecer que a indigitada mácula não se revela pertinente.

Tratando-se da tutela do indeclinável jus


manendi, ambulandi, eundi ultro citroque (direito de permanecer, de
andar, de ir de um lado a outro), albergada no artigo 5º, inciso LXVIII, da
Constituição Federal, não se pode tolerar qualquer exegese restritiva, sob
pena de se patrocinar indevida supressão de direito fundamental.

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Sob este prisma, faz-se mister asseverar,


considerando-se a vocação constitucional do Habeas Corpus, que no caso em
apreço se vislumbra a existência de violação direta e imediata à locomoção
do paciente, fato este que justifica a veiculação do presente remédio
constitucional.

Saliente-se, ao contrário do sustentado pelo


Parquet, que a análise do tema não exige o “profundo” exame dos
elementos objetivos e subjetivos, mas apenas a verificação da ilegalidade
ou não dos fundamentos adotados pela autoridade coatora.

No mesmo sentido decidiu o Superior Tribunal de


Justiça:

HABEAS CORPUS. PENAL. TRÁFICO DE DROGAS. REGIME INTEGRALMENTE


FECHADO. PEDIDO DE PROGRESSÃO NEGADO PELO JUIZ DA VEC. FALTA DE
MÉRITO SUBJETIVO. WRIT NÃO CONHECIDO PELO TRIBUNAL A QUO POR
INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. APLICAÇÃO RETROATIVA DA LEI 11.464/07.
MATÉRIA NÃO APRECIADA. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. POSSIBILIDADE DE
UTILIZAÇÃO DO HABEAS CORPUS CONCOMITANTEMENTE À INTERPOSIÇÃO DO
RECURSO APROPRIADO. PRECEDENTES DO STJ. HC NÃO CONHECIDO. ORDEM
CONCEDIDA, DE OFÍCIO, APENAS PARA QUE O TRIBUNAL DE ORIGEM APRECIE O
MÉRITO DA IMPETRAÇÃO ORIGINÁRIA, COMO ENTENDER DE DIREITO.
(...). 3. É desnecessário o aprofundado exame de provas apenas para verificar
a legalidade da decisão do Juiz que entendeu pela inexistência de mérito
subjetivo da condenada para a concessão de progressão de regime prisional.
(...). (STJ - HC 86.582/SP – 5ª T. - Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho - DJ
10.12.2007).

Deste modo, a questão ventilada pelo impetrante


é passível de análise por intermédio da presente ação autônoma de
impugnação, razão pela qual as argumentações suscitadas pelo Órgão
Ministerial não comportam acolhimento.

Assentadas estas premissas, no que tange ao


âmago da pretensão articulada no presente writ, depreende-se da análise
dos autos assistir razão ao pedido formulado pelo impetrante.

Esclareça-se, à guisa de introdução, que a Lei n.


7.210/84 estabeleceu a necessidade de realização de avaliação

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criminológica com o fito de obter elementos adequados para efetuar a


correta classificação da situação do condenado (artigo 5º).

No entanto, com o advento da Lei n. 10.792/03,


que alterou a redação do artigo 112, da Lei de Execução Penal, a
elaboração de laudos e pareceres criminológicos tornou-se medida
prescindível par fins de progressão de regime. Por sua vez, consoante
entendimento pacífico das Altas Cortes, a realização dos mencionados
exames pode ser requisitada desde que se encontre cabalmente
fundamentada pelo Magistrado.

Nesta esteira, aprouve a autoridade coatora a


realização dos referidos exames com o objetivo de obter maior respaldo
para aferição do pedido de progressão de regime.

Contudo, as informações prestadas pelos exames


psicológicos e psiquiátricos não conferem supedâneo aceitável para rejeição
do pedido formulado pelo impetrante como entendeu o impetrado (fls.
103/105). Ressalte-se, neste ponto, que não se pretende adentrar no mérito
dos critérios adotados nos aludidos pareceres, mas sim confrontar a
irrefragável ilegalidade e imprecisão dos mesmos para as finalidades
colimadas pela Lei de Execução Penal.

Observe-se, neste aspecto, que o Informe


Psicológico de fls. 22 não reflete os alicerces democráticos preconizados
pela Carta Federal, na medida em que não propicia de modo cabal a
inferência de que o acusado poderia reingressar na senda criminosa.

Conforme restou consignado no referido parecer,


“há probabilidade de reincidência criminal pois o mesmo ser
complexado com o defeito que possui no pé (de nascimento).” (fls. 22)
(grifo nosso).

Igualmente, extrai-se da simples leitura dos


Informes Psiquiátricos de fls. 21 e 52 e do Informe Psicológico de fls. 50/51
a ausência de qualquer elemento extraordinário que justificasse de forma
robusta a manutenção do paciente no regime prisional que se encontra.

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Pondere-se, neste diapasão, que os critérios


apresentados no Laudo Psicológico, assim como a parca fundamentação
adotada pela autoridade coatora guardam perfeita correspondência com o
denominado “homem criminoso”, idealizado por Cesare Lombroso, que,
aliás, assim preleciona, verbis:

“(...) Para os exames no homem vivo, resumirei em poucas palavras o que


fui obrigado a expor com muitas cifras; e concluirei que o delinqüente tem
estatura mais alta, envergadura maior, tórax mais amplo, cabeleira mais
escura e peso superior ao normal e ao dos alienados; apresenta ainda,
sobretudo nos ladrões, nos reincidentes e nos menores, uma séria de
submicrocefalias maior do que no normal e menor do que no alienado; o
índice do crânio, comparado em geral ao índice étnico é mais exagerado; o
delinqüente apresenta ainda assimetrias cranianas e faciais freqüentes,
sobretudo nos estupradores e nos ladrões, mais raras do que nos loucos;
(...).” (O Homem Criminoso. Editora Rio: p. 185/186).

Na mesma linha, seguem os ensinamentos de


Rafael Garofalo:

“(...) O que chamamos de delinqüente typico é um ser a quem falta


absolutamente o altruísmo, um ser privado dos instinctos de benevolência e
de piedade; procurar n’elle vestígios de um sentimento de justiça, que só
ulteriormente áquelles instinctos se forma e que supõe um elevado grau de
moralidade, seria, portanto, absurdo.” (sic) (Criminologia. Estudos sobre o
Delicto e a Repressão Penal: p. 138).

Presente este quadro, impõe-se enfatizar, sob a


aurora de um Estado Democrático de Direito, em que predomina de forma
irrenunciável direitos e garantias aos indivíduos, principalmente aqueles
que se encontram respondendo à persecução penal, a completa
inadmissibilidade de conceitos desprovidos de base jurídica idônea, mas
apenas em fatores pretensamente atávicos dissociados dos parâmetros
apregoados pela Carta da República de 1988.

Sobre o tema, cumpre-se observar, por


relevante, os judiciosos comentários de Salo de Carvalho:

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“(...) quanto ao prognóstico de não-delinqüência, importante ressaltar que


a emissão do parecer tem como mérito ‘probabilidades’, juízo que não
pode justificar qualquer negação de direitos visto ser hipótese inverificável
empiricamente e, conseqüentemente, irrefutável no plano processual.
Diga-se ainda que, fundado na técnica de reconstituição de vida pregressa,
que via de regra vem a confirmar o rótulo de criminoso, a elaboração dos
exames psiquiátricos obedece a um determinismo causal, onde o ‘nosólogo’
não só descreve a doença/delito do paciente/preso, mas também prescreve
a sua conduta futura.” (Penas e Garantias. Lumen Juris: p. 184).

Juarez Cirino dos Santos discorre com argúcia


sobre a cautela que deve nortear a atividade da perícia criminológica:

“(...) Após o advento da Lei 10.792/2003, o exame criminológico para


progressão de regime foi substituído por atestado de bom comportamento
carcerário expedido pelo Diretor da instituição, reduzindo a psiquiatrização
da execução penal, pela qual a decisão do Juiz de execução acabava
transferida para alguns funcionários da ortopedia moral – psiquiatras,
psicólogos e assistentes sociais do sistema penal –, cujos prognósticos
moralistas e segregadores ressuscitavam excrescências positivistas do tipo
‘personalidade voltada para o crime’, cujo primitivismo lombrosiano ainda
depõe contra a ciência penal brasileira.” (Teoria da Pena. Ed. Lumen Juris:
p. 79).

Ademais, não constitui demasia assinalar que a


gravidade em abstrato dos delitos praticados pelo paciente não constitui
impedimento idôneo para rejeição do pedido de progressão de regime,
ainda que se encontre o delito inserido no catálogo dos denominados crimes
hediondos.

Por derradeiro, importa-se observar que constam


nos autos elementos que evidenciam o bom comportamento carcerário do
paciente (Atestado de fls. 06), conforme predisposto pelo artigo 112, da Lei
n. 7.210/84.

Deste modo, inexistente qualquer fator subjetivo


impeditivo da concessão da progressão de regime, assim como encontrando-
se devidamente preenchido o requisito objetivo (fls. 122/123), concede-se a
ordem ao paciente Ítalo Luís Nardino para que obtenha a progressão de

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regime do fechado para o semi-aberto, mediante condições a serem


estabelecidas pelo Juízo da primeira instância.

Em face do acima exposto e por tudo o mais que


dos autos consta, voto pela concessão da ordem, concedendo ao paciente
Ítalo Luís Nardino a progressão de regime do fechado para o semi-aberto,
mediante condições a serem estabelecida pelo Juízo da primeira instância.

ACORDAM os membros integrantes da Terceira


Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por maioria de
votos, em conhecer do Habeas Corpus n. 653.102-8, e, por maioria de
votos, para conceder a ordem, concedendo ao paciente Ítalo Luís Nardino a
progressão de regime do fechado para o semi-aberto, mediante condições a
serem estabelecida pelo Juízo da primeira instância, tudo nos termos do
voto.

Participaram do julgamento os Excelentíssimos


Desembargadores LEONARDO LUSTOSA (Presidente com voto) e MARQUES
CURY.

Curitiba, 15 de abril de 2010.

DES. EDVINO BOCHNIA


Relator

DES. LEONARDO LUSTOSA


(Voto Vencido – com declaração de voto em separado)

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