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1 PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO


TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SAC) PAULO
ACÕRDÃO/DECISAO MONOCRÁTICA
REGISTRADO(A) SOB N°
ACÓRDÃO

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de

APELAÇÃO CÍVEL COM REVISÃO n° 456.080-5/3-00, da Comarca de

SÃO JOSÉ DO RIO PRETO, em que é apelante FAZENDA DO ESTADO DE

SÃO PAULO sendo apelado CARLOS ROBERTO TORQUATO:

ACORDAM, em Oitava Câmara de Direito Público do

Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, proferir a

seguinte decisão: "NEGARAM PROVIMENTO AOS RECURSOS, REEXAME

NECESSÁRIO PERTINENTE NA ESPÉCIE, V.U.", de conformidade com

o voto do Relator, que íntegra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos

Desembargadores PAULO DIMAS MASCARETTI (Presidente, sem

voto), CELSO BONILHA e JOSÉ SANTANA.

São Paulo, 15 de outubro de 2008.

RUBENS RIHL
^ Relator

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PODER J U D I C I Á R I O
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO

Apelação n° 456.080.5/3-00
Apelante: FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Apelado: CARLOS ROBERTO TORQUATO
Comarca: SÃO JOSÉ DO RIO PRETO

Voto n°: 4170

APELAÇÃO - MANDADO DE SEGURANÇA -


Pretensão voltada à cassação do ato administrativo
que negou ao impetrante a expedição da Carteira
Nacional de Habilitação definitiva, em razão da
existência de uma multa, de natureza grave, anotada
em seu prontuário - Ordem concedida em primeiro
grau - Decisório que merece subsistir - Preliminar de
ilegitimidade passiva rejeitada - Multa anotada no
prontuário da CNH do requerente que era objeto de
recurso administrativo ainda pendente de julgamento
- Efeitos da infração que ficam suspensos até o
julgamento do recurso - Pontuação respectiva que só
pode constar do prontuário do condutor infrator
quando esgotadas as vias recursais pertinentes -
Decisão mantida - Reexame necessário
(pertinente na espécie) e apelo voluntário da
Fazenda Estadual improvidos.

CARLOS ROBERTO TORQUATO impetrou o presente MANDADO DE


SEGURANÇA contra ato do Sr. DELEGADO DE TRÂNSITO DA 17 a
CIRETRAN DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO/SP, acoimado de ilegal ao
obstar o andamento do processo de renovação da habilitação do
impetrante sob a alegação de que seu prontuário registra infrações
de trânsito. Alegou que o óbice imposto é ilegal haja vista /<Jue
oferecera recursos administrativos contra as infrações noticiaraas,

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não podendo ser impedido da renovação da habilitação. Aduzindo


que tal proceder está a ferir-lhe direito líquido e certo, bradou pela
concessão de liminar e a final pela procedência da presente ação.

Indeferida a liminar (fls. 27), a autoridade coatora, após


regularmente notificada, prestou tempestivas informações
sustentando, do início ao fim, o ato atacado (fls. 34).

Com vista dos autos, o Dr. Promotor deixou de oficiar no processo


(fls. 40).

A R. sentença de fls. 53/56, da qual adotei o relatório, concedeu a


segurança pleiteada.

Irresignada, apela a Fazenda do Estado de São Paulo pretendendo


a reforma do julgado. Alega, em apertada síntese, que, ao
instaurar procedimento administrativo para suspensão da CNH do
apelado, a D. Autoridade apontada como coatora apenas agiu com
estrita observância da legislação vigente, ou seja, com respaldo no
quanto previsto nos artigos 256, I I I e V, 2 6 1 , §1°, 263 e 265,
todos do Código de Trânsito Brasileiro. Assevera que o apelado
nem sequer negou ter cometido a infração, limitando-se a afirmar
que interpôs o recurso administrativo.

Aduz, ainda, que as regras de inserção de dados no sistema são do


Detran. Logo, não tem a Autoridade apontada com coatóra
competência e legitimidade para intervir na inserção ou exclusão
de dados no sistema. Só o Detran poderia fazer isso. Por isto,limão

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poderia deixar de negar a renovação da CNH do apelado. Haveria,


portanto, ilegitimidade passiva ad causam, pelo que se requer
seja tal matéria analisada em preliminar.

Afirma, ainda, que, ao contrário do que o autor está interpretando,


o recurso acerca das multas não tem o efeito suspensivo
pretendido a ponto de permitir a imediata expedição da CNH.
Defende-se alegando que, pelo princípio da legalidade, dentro de
seu significado para o direito público, só é possível fazer o que a lei
permite e, neste caso, a lei não permite suspensividade ao recurso
administrativo.

Recurso tempestivo e regularmente processado.

O Ministério Público, em segunda instância, deixou de apreciar o


mérito da pretensão recursal.

É o breve relatório.

De início, apesar de não ter sido submetida ao reexame necessário,


entendo que a R. sentença está sim sujeita ao duplo grau de
jurisdição (parágrafo único, do artigo 12 da Lei n° 1.533/51), visto
que não incide na espécie a regra do artigo 475, §§ 2 o e 3 o , do
Código de Processo Civil, acrescentados pela Lei n° 10.352/2001,
eis que a alteração da norma genérica não enseja a revogação ou a
modificação de regras especiais preexistentes relativas ao mesmo

i
instituto (art. 2 ° , § 2°, da LICC). |í

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Nesse viés, vale trazer à colação julgados do Superior Tribunal de


Justiça que perfilham este entendimento:
PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE
SEGURANÇA. REEXAME NECESSÁRIO.
APLICAÇÃO DO PARÁGRAFO ÚNICO, DO
ART. 12, DA LEI 1.533/51. PRECEDENTES.
RECURSO DESPROVIDO.
I - Esta Corte já pacificou entendimento,
segundo o quai, o reexame necessário das
sentenças concessivas de segurança
decorre da Lei n° 1.533/51, não se
aplicando o art. 475 do CPC, de aplicação
apenas subsidiária (AgRg no RESP 619074 /
SP; AGRA VO REGIMENTAL NO RECURSO
ESPECIAL 2003/0233815-0).

PROCESSO CIVIL. REEXAME NECESSÁRIO.


MANDADO DE SEGURANÇA. APLICAÇÃO DO
ART. 12 DA LEI 1.533/51. INCIDÊNCIA DO
ART. 475, II, §§ 2° E 3o, DO CPC AFASTADA.
A existência de regra específica acerca do
reexame necessário das sentenças
concessivas de mandado de segurança (art.
12 da Lei n° 1.533/51) afasta a incidência
do art. 475, II, §§ 2o e 3o do CPC, de
aplicação subsidiária. Recurso provido"
(REsp 598387 / SP; RECURSO ESPECIAL
2003/0179510-0)

Passemos à análise do apelo.

Arreda-se, de início, a preliminar de ilegitimidade passiva ad causam


arguida pela Fazenda Estadual.

Ora, o ato acoimado de ilegal (negativa da expedição de Carteira


Nacional de Habilitação definitiva) partiu, efetivamente, do Diretora da

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Circunscrição de Trânsito onde domiciliado o prenteso infrator, de


modo que não há lugar para a prejudicial levantada pela apelante.

Quanto ao mérito, por sua vez, melhor sorte não assiste à recorrente.

Impetrou-se mandado de segurança em face do Delegado de Polícia


Diretor da 17 a Ciretran de São José do Rio Preto, por este ter se
negado a providenciar a expedição de Carteira Nacional de Habilitação
definitiva, em razão do impetrante, no período da validade da
permissão para dirigir, ter cometido infrações.

Argumentou o impetrante, no entanto, que as multas anotadas em


seu prontuário aguardavam julgamento de recurso administrativo,
com prazo de julgamento escoado, não se podendo a ele imputar
qualquer sanção, sem que houvessse apreciação definitiva do recurso.

Ora, está bem claro na fundamentação e no pedido do impetrante que


contra as multas questionadas havia sido interposto recurso
administrativo ainda pendente de julgamento, de modo que não pode
ser arredada a possibilidade de que venha a ser provido e canceladas
as penalidades, razão pela qual era defeso à autoridade de trânsito
obstar a expedição de tal documento com base na existência da
infração.

Na verdade, a pontuação relativa à infração de trânsito só pode


constar do prontuário do condutor infrator quando esgotadas/ as
vias recursais pertinentes (v. art. 290, parágrafo único, do CTm : .

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A respeito do tema, aliás, ensina Arnaldo Rizzardo in "Comentários


ao Código de Trânsito Brasileiro" que:
"Na pendência de obrigações tributárias ou
administrativas não se renova e nem se emite
nova Carteira de Habilitação. A fim de fazer jus ao
documento, deverá encontrar-se o interessado
em dia com os deveres junto ao Fisco. Aliás, já é
assim na expedição de novo Certificado de
Registro de Veículos, art. 124, VIII, do Código, e
no tocante aos novos licenciamentos, como prevê
o art. 131, § 2o, também do Código.
Todavia, aplicável a exigência unicamente se
decidida já a procedência ou não do tributo ou
das multas, com a obediência dos trâmites
procedimentais administrativos no tocante à
notificação e ao julgamento" (v. obra citada, 5 a
edição, RT, 2004, p. 469).

Sendo assim, comprovada a interposição do recurso administrativo


pertinente em face às multas questionadas, e não havendo prova de
que aquela irresignação tenha sido apreciada - defenndo-se ou não a
pretensão - a segurança deveria mesmo ter sido concedida.

Correta a R. sentença impugnada, de rigor a sua integral confirmação.

Ressalto, em remate, que o presente acórdão enfocou as matérias


necessárias à motivação do julgamento, tornando claras as razões
pelas quais chegou ao improvimento dos recursos. A leitura do
acórdão permite ver cnstalinamente o porquê do decisum, sendo,
pois, o que basta para o respeito às normas de garantia do Estado
de Direito, entre elas a do dever de motivação (CF, art. 93, Ixy./De
qualquer forma, para fins de prequestionamento, consigno insistir
qualquer ofensa aos dispositivos legais citados pela ape

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notadamente quanto estabelecido nos §§ 3 o e 4 o do art. 148 do


Código de Trânsito Brasileiro.

Daí porque, em tais termos, nega-se provimento ao reexame


necessário (pertinente na espécie) e ao apelo voluntário da Fazenda
Estadual.

RIHL

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