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Tribunal de Contas do Estado do Pará

GABINETE DO CONSELHEIRO LUÍS DA CUNHA TEIXEIRA

PROCESSO: 008606/2022
ASSUNTO: PEDIDO DE RESCISÃO
INTERESSADO: ITAMAR CARDOSO NASCIMENTO

Tratam os presentes autos de Pedido de Rescisão proposto pelo Sr. Itamar


Cardoso Nascimento, ex-prefeito do Município de Goianésia do Pará, contra o
Acórdão nº 62.381, de 26/01/2022 deste Tribunal, que julgou irregulares as contas
referentes ao Convênio nº 014/2005, impondo ao requerente a devolução da quantia
de R$19.482,84 (dezenove mil, quatrocentos e oitenta e dois reais e oitenta e quatro
centavos) devidamente corrigida, bem como aplicação de multas no valor de

o
ad
R$1.948,28 (um mil, novecentos e quarenta e oito reais e vinte e oito centavos),
devidamente atualizado (peça 31)
lg
Fundamentou seu recurso no art. 273, inciso IV, do Regimento deste
Ju

Tribunal, suscitando a violação literal de dispositivo de lei e, para isso, argumentou ao


longo de sua peça a aplicação da tese da prescrição firmada pelo Supremo Tribunal
Federal por ocasião do julgamento do Recurso Extraordinário 636886/AL – Tema 899,
ão

a qual reconheceu “prescritibilidade da pretensão de ressarcimento ao erário com


base em decisão de tribunal de contas”, de modo a ser aplicado, in casu, o prazo
N

quinquenal da Lei n. 6.830/80 (Lei de Execução Fiscal) à pretensão punitiva e de


ressarcimento.

Requereu a reforma do julgado haja vista entender que, no mérito, a


mesma deveria ser aprovada com ressalva por ter sido concluído o objeto do convênio
firmado, tomando por base laudo emitido pela SEPOF, configurando erro no
julgamento, assim como requereu preliminarmente efeito suspensivo do pedido de
rescisão.

Remetidos os autos à Procuradoria, esta verificou a tempestividade do


pedido ora sob análise, opinando pelo seu acatamento, devidamente acolhido pela
Presidência desta Corte. (peça 10).

Tv. Quintino Bocaiúva, 1585. Nazaré. Belém-PA. 66035-903.


Gabinete do Conselheiro Luís da Cunha Teixeira
Tel: 3210-0850/0851/0852/0853
(4º Pav. - Anexo 3)
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Após autuado, os autos foram remetidos à Secretaria de Controle Externo


para a devida análise (peça 18) a qual avaliou e rechaçou o pedido de efeito
suspensivo requerido, pois não houve comprovação dos requisitos basilares para sua
concessão, tais como o periculum in mora, o fumus boni juris, ou qualquer dano ou
prejuízo patrimonial e profissional.

No mérito, analisou que o responsável só apresentou documentos referente


as contas, após a instauração da Tomada de Contas incorrendo em violação
voluntária e consciente do dever de prestar contas e, com isso, impedindo a aplicação
do entendimento do STF consubstanciado no Tema 899 com repercussão geral.

o
Concluiu sua manifestação, pelo conhecimento do pedido de rescisão para
ad
negar-lhe provimento. (peça nº 18).

Remetidos os autos ao Ministério Público de Contas, este fez de forma


lg
detalhada a análise das hipóteses de cabimento do pedido de rescisão, afastando
Ju

tanto a hipótese de erro de cálculo quanto à violação literal de lei.

Sob este último tópico aprofundou sua análise, expondo que a Lei de
ão

Execução Fiscal não tem qualquer incidência e/ou repercussão jurídica sobre o caso
ora sob o exame e demonstrou que esta Corte de Contas evoluiu na análise da
N

prescrição que antes limitava-se a avaliar a prescrição punitiva e, a partir do advento


da Resolução nº 344/2022, do Tribunal de Contas da União, passou também
reconhecer a prescrição ressarcitória.

Destacou que mesmo hoje admitida a possibilidade da prescrição


ressarcitória, no caso, há impedimento natural da aplicação da mesma a partir da
vedação disposta no art. 18 da Resolução nº 344/2022, onde somente ocorre a
incidência em processos nos quais não tenha ocorrido o trânsito em julgado até a data
de publicação desta norma.

Por fim, após demonstrações do não cabimento das prescrições punitivas


e ressarcitórias, opinou pelo conhecimento e não provimento do pedido de rescisão.

É o Relatório.
Tv. Quintino Bocaiúva, 1585. Nazaré. Belém-PA. 66035-903.
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VOTO:

Preliminarmente às questões de fundo e de mérito, torna-se necessário no


presente caso, sedimentar entendimento de que o pedido de rescisão, apesar de
aparentemente conexo ao processo principal, é com ele desvinculado, independente
e individual, que deve ser proposto para rescindir decisão já transitada em julgado, ou
seja, já “afastada” do mundo jurídico por ter sido exauridas todas as discussões
possíveis, diante dos elementos concretos presentes durante a instrução processual
e que culminaram na decisão originária.

Como sabido a rescisão neste Tribunal está para o processo de contas

o
como a ação rescisória está para o processo civil, como muito bem colocou o Membro
ad
do Parquet de Contas, ou seja, busca, a partir de elementos novos, desconhecidos da
parte e que não foram apresentados e/ou identificados ao longo de toda instrução
lg
processual, à modificação do julgado original, sejam eles de ordem material sejam de
Ju

ordem formal.

Portanto, a propositura do Pedido de Rescisão deve ter por objetivo


ão

primeiro, a desconstrução da decisão original a partir das hipóteses apresentadas na


norma regimental, diante de comprovada base de sustentação e, por consequência,
N

alterar o resultado do julgamento original naquilo que foi defeituoso e corrigi-lo,


ensejando, dessa forma, resultado diverso da decisão original.

Alterado o resultado primário, a relação jurídica se restabelece


ocasionando à possibilidade de se revisitar toda a instrução processual e aí sim
reavaliando as condições jurídicas para a possibilidade do reconhecimento ou não das
prescrições possivelmente existentes no processo e reconhece-las de ofício, por ser
uma questão de ordem pública.

Daí que, é incabível arguir como causa primária do Pedido de Rescisão a


prescrição como elemento principal do mesmo, principalmente quando durante a

Tv. Quintino Bocaiúva, 1585. Nazaré. Belém-PA. 66035-903.


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instrução processual que culminou na decisão rescindenda não houve nenhum tipo
de arguição sobre o assunto.

Feito esse breve, mas necessário registro, e avaliando o presente pedido


de rescisão, verifica-se que apesar de a peça estar baseada em duas das hipóteses
regimentais, erro de cálculo e violação literal de lei, nenhuma das duas hipóteses
foram configuradas na decisão original.

No que concerne a primeira fundamentação, o recorrente apenas suscita a


hipótese do dispositivo legal, mas em seu arrazoado não evidencia qual erro de
cálculo foi materializado e, com isso, não ensejando à possibilidade da reforma do

o
julgado.
ad
Quanto ao descumprimento de norma legal, também houve equívoco por
lg
parte do recorrente quanto ao seu enquadramento, uma vez que a Lei n. 6.830/80,
Ju

não se aplica ao caso, e não trata em nenhum momento de prescrição, cabendo ao


Código Tributário Nacional, a regulação da prescrição da pretensão executória da
ão

dívida ativa tributária, conforme, inclusive já ressaltado pelo Ministério Público de


Contas.
N

Nestes termos, o alegado erro de julgamento não está configurado e,


portanto, não enseja à modificação do julgado original.

Dessa forma, a possibilidade para que seja discutido o instituto da


prescrição inexiste haja vista que a estabilidade e rigidez da decisão rescindenda se
mantém inalterada com os efeitos jurídicos do trânsito em julgado.

Ante o exposto, conheço do pedido de rescisão para negar-lhe provimento.

Belém, 18 de Julho de 2023.

Assinado digitalmente
Conselheiro LUÍS DA CUNHA TEIXEIRA
Relator
Tv. Quintino Bocaiúva, 1585. Nazaré. Belém-PA. 66035-903.
Gabinete do Conselheiro Luís da Cunha Teixeira
Tel: 3210-0850/0851/0852/0853
(4º Pav. - Anexo 3)
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Assinado Digitalmente pelo sistema e-TCE - LUIS DA CUNHA TEIXEIRA - 31/07/2023 13:55:38 4
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