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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

, pessoa jurídica de direito público interno, já devidamente qualificada nos autos do processo em
epígrafe, vem, respeitosamente, perante V. Excelência, no prazo legal, apresentar sua
CONTRAMINUTA DE AGRAVO DE INSTRUMENTO, nos termos a seguir expostos.

I. DA SÍNTESE PROCESSUAL

Em breve resumo dos fatos, o Agravante ajuizou embargos à execução fiscal com
pedido de efeito suspensivo em face da, pretendendo, liminarmente, a suspensão de sua
exigibilidade e, ao final, a anulação dos lançamentos de ISSQN já que os créditos tributários
executados estão prescritos. Assim, em face da decisão do Juízo a quo que não reconheceu a
prescrição, foi apresentado o presente agravo.

A despeito dos argumentos ventilados pelo Agravante, sua pretensão não merece
prosperar, com base no exposto a seguir.

II. DA INOCORRÊNCIA DA PRESCRIÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO

O caderno processual, conforme certidão executiva acostada, discute débito de


ISSQN referente as competências dos anos de anos de 2006, 2007, 2008 e 2009, que a referida
ação foi distribuída em 04/05/2011, e que o Agravante teria sido citado somente em 22 de
fevereiro de 2017.

No direito tributário e na execução fiscal há a possibilidade de ocorrer duas


modalidades de prescrição: (i) a prescrição do crédito tributário prevista no art. 174 do CTN; (ii) a
prescrição intercorrente do art. 40 da Lei de Execuções Fiscais. Desde já constata-se que os
marcos temporais utilizados pelo Agravante para análise destas prescrições são equivocados.

Por conseguinte, quanto a prescrição prevista no art. 174 do CTN, determina o


art. 174 do CTN que “a ação para a cobrança do crédito tributário prescreve em 5 (cinco) anos,
contados da data de sua constituição definitiva”. Vê-se, então, que o termo inicial para
cobrança do crédito é a constituição definitiva. Entretanto, faticamente, no Código Tributário
há a previsão das hipóteses de interrupção da contagem do prazo, in verbis:

Art. 174. A ação para a cobrança do crédito tributário prescreve em cinco anos, contados da
data da sua constituição definitiva.
Parágrafo único. A prescrição se interrompe:
I – pelo despacho do juiz que ordenar a citação em execução fiscal;(Redação dada pela Lcp nº
118, de 2005)
II - pelo protesto judicial;
III - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;
IV - por qualquer ato inequívoco ainda que extrajudicial, que importe em reconhecimento do débito
pelo devedor.

Assim, com a alteração trazida pela lei Complementar 118 de 09 de fevereiro de


2005, a norma passou a prever expressamente que a prescrição seria interrompida pelo despacho
que ordena a citação, o que ocorreu no caso concreto. Ademais, tal previsão deve ser interpretada
com a leitura do Código de Processo Civil:

Art. 240. A citação válida, ainda quando ordenada por juízo incompetente, induz
litispendência, torna litigiosa a coisa e constitui em mora o devedor, ressalvado o disposto
nos arts. 397 e 398 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil) .
§ 1º A interrupção da prescrição, operada pelo despacho que ordena a citação, ainda
que proferido por juízo incompetente, retroagirá à data de propositura da ação.
§ 2º Incumbe ao autor adotar, no prazo de 10 (dez) dias, as providências necessárias para
viabilizar a citação, sob pena de não se aplicar o disposto no § 1º.
§ 3º A parte não será prejudicada pela demora imputável exclusivamente ao serviço
judiciário.

Compilando o exposto, tendo como parâmetro o crédito tributário primeiro


constituído, no ano de 2006, e a distribuição da presente ação, conclui-se que transcorreram
menos de 05 anos, portando, dentro dos parâmetros legais. O equívoco do Agravante, ao que
tudo indica, é desconsiderar que o despacho que ordena a citação retroage a data da propositura da
demanda.
Prosseguindo. Importante demarcar o feito não trata da ocorrência de prescrição
intercorrente, tomando como base as recentes teses fixadas acerca do assunto em sede de
repercussão geral pelo STJ (STJ. 1ª Seção. REsp 1340553/RS (recurso repetitivo). Relator(a)
Ministro Mauro Campbell Marques. J. 12/09/2018. DJe 16/10/2018. Informativo 635).

No caso, não incidência de nenhuma das teses fixadas.

A prescrição intercorrente, quando se está diante de crédito tributário, é regulada


pela Lei de Execuções Fiscais (art. 40), e não pelo Código de Processo Civil. E isso por conta do
princípio da especialidade (Art. 2º, § 2º, da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro).
Abaixo, transcreve-se o art. 40 para melhor exame da questão:

Art. 40 - O Juiz suspenderá o curso da execução, enquanto não for localizado o devedor
ou encontrados bens sobre os quais possa recair a penhora, e, nesses casos, não correrá o
prazo de prescrição.
§ 1º - Suspenso o curso da execução, será aberta vista dos autos ao representante
judicial da Fazenda Pública.
§ 2º - Decorrido o prazo máximo de 1 (um) ano, sem que seja localizado o devedor ou
encontrados bens penhoráveis, o Juiz ordenará o arquivamento dos autos.
§ 3º - Encontrados que sejam, a qualquer tempo, o devedor ou os bens, serão
desarquivados os autos para prosseguimento da execução.
§ 4º - Se da decisão que ordenar o arquivamento tiver decorrido o prazo
prescricional, o juiz, depois de ouvida a Fazenda Pública, poderá, de ofício, reconhecer a
prescrição intercorrente e decretá-la de imediato.

A ação judicial foi distribuída em 09/09/2014. A Fazenda teve vista dos autos
sobre o retorno da carta com aviso de recebimento negativo na data de 12/02/2015. Assim, se
se considerar o prazo de suspensão automático de um ano, tem-se que ele terminou em
12/02/2016 quando, então, começou a correr o prazo prescricional de 05 anos. Correndo o
prazo prescricional, como a citação foi realizada em 15/05/2019 inviável o reconhecimento
de seu término, que, seguindo a recente tese do STJ implementaria em 12/02/2021.

Tratando mais especificamente da interpretação dada ao art. 40 pelo STJ, observa-


se que as teses lá fixadas se aplicam favoravelmente ao caso. Para definir quais dessas teses
poderiam, hipoteticamente, ser utilizadas, é necessário levar em consideração que a presente
execução fiscal foi ingressada já na vigência da Lei Complementar 118/2005. As teses são as
seguintes:
1) O prazo de 1 (um) ano de suspensão do processo e do respectivo prazo prescricional
previsto no art. 40, §§ 1º e 2º da lei 6.830/80 - LEF tem início automaticamente na data
da ciência da Fazenda Pública a respeito da não localização do devedor ou da
inexistência de bens penhoráveis no endereço fornecido, havendo, sem prejuízo dessa
contagem automática, o dever de o magistrado declarar ter ocorrido a suspensão da
execução;

2) Havendo ou não petição da Fazenda Pública e havendo ou não pronunciamento judicial


nesse sentido, findo o prazo de 1 (um) ano de suspensão inicia-se automaticamente o
prazo prescricional aplicável (de acordo com a natureza do crédito exequendo) durante o
qual o processo deveria estar arquivado sem baixa na distribuição, na forma do art. 40, §§
2º, 3º e 4º da lei 6.830/80 - LEF, findo o qual o Juiz, depois de ouvida a Fazenda Pública,
poderá, de ofício, reconhecer a prescrição intercorrente e decretá-la de imediato;

3) A efetiva constrição patrimonial e a efetiva citação (ainda que por edital) são aptas a
interromper o curso da prescrição intercorrente, não bastando para tal o mero
peticionamento em juízo, requerendo, v.g., a feitura da penhora sobre ativos financeiros ou
sobre outros bens. Os requerimentos feitos pelo exequente, dentro da soma do prazo
máximo de 1 (um) ano de suspensão mais o prazo de prescrição aplicável (de acordo com
a natureza do crédito exequendo) deverão ser processados, ainda que para além da soma
desses dois prazos, pois, citados (ainda que por edital) os devedores e penhorados os bens,
a qualquer tempo – mesmo depois de escoados os referidos prazos –, considera-se
interrompida a prescrição intercorrente, retroativamente, na data do protocolo da petição
que requereu a providência frutífera.

4) A Fazenda Pública, em sua primeira oportunidade de falar nos autos (art. 245 do
CPC/73, correspondente ao art. 278 do CPC/15), ao alegar nulidade pela falta de qualquer
intimação dentro do procedimento do art. 40 da LEF, deverá demonstrar o prejuízo que
sofreu (exceto a falta da intimação que constitui o termo inicial - 1., onde o prejuízo é
presumido), por exemplo, deverá demonstrar a ocorrência de qualquer causa interruptiva
ou suspensiva da prescrição.

5) O magistrado, ao reconhecer a prescrição intercorrente, deverá fundamentar o ato


judicial por meio da delimitação dos marcos legais que foram aplicados na contagem do
respectivo prazo, inclusive quanto ao período em que a execução ficou suspensa. STJ. 1ª
S. REsp 1340553/RS (recurso repetitivo). Relator(a) Ministro Mauro Campbell Marques.
J. 12/09/2018. DJe 16/10/2018. Informativo 635.

Assim, verifica-se, de plano, o acerto da decisão recorrida. Resta claro que não
ocorreu a prescrição dos créditos tributários no caso em análise. Diante dessas ponderações,
verifica-se que, no presente caso, além de o Agravante não ter afastado a presunção relativa do
ato administrativo, não há como reconhecer a prescrição dos créditos tributários.

IV. DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS FINAIS

Diante do exposto, requer seja julgado improvido o presente recurso, ante a


inocorrência da prescrição dos créditos tributários questionados, mormente quando restou
demonstrado que vem desenvolvendo seus atos, buscando efetivar a ação executórias, dentro dos
respectivos prazos legais e em conformidade com o entendimento do STJ.

Nesses termos, pede deferimento.

Juiz de Fora, datado digitalmente.

Thaisa Ragone Azevedo

OAB/MG 186.476

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