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PODER JUDICIÁRIO

SEÇÃO JUDICIÁRIA DO DISTRITO FEDERAL

CLASSE : 3100 – EXECUÇÃO FISCAL


PROCESSO : 2004.34.00.024979-2
EXEQUENTE : UNIAO FEDERAL (FAZENDA NACIONAL)
EXECUTADO : CORUJAO COMBUSTIVEIS LUBRIFICANTES E
SERVICOS LTDA

DECISÃO

1. Trata-se de exceção de pré-executividade oposta por


CORUJAO COMBUSTIVEIS LUBRIFICANTES E SERVICOS LTDA
contra a UNIAO FEDERAL (FAZENDA NACIONAL).

Pretende reconhecer a prescrição intercorrente do crédito


executado.

Devidamente intimada, a exequente apresentou impugnação.

É o breve relato.

2. Registro que os incidentes para defesa em sede de


execução são admissíveis apenas para analisar matérias que o juiz pode
conhecer de ofício, como as condições da ação e os pressupostos
processuais.

Nesses incidentes, é possível ainda analisar a ausência


inequívoca de alguns dos requisitos essenciais do título executivo (certeza,
liquidez e exigibilidade) desde que tal análise não demande dilação
probatória, isto é, seja aferível ictu oculi.
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Entretanto, o incidente não consubstancia remédio para


todas as hipóteses em que o devedor pretenda se insurgir contra a
execução, sobretudo quando quer discutir parcelas acessórias do débito,
vícios contratuais etc.

No caso em apreço, a discussão levantada pelo(a) excipiente


(prescrição) é matéria de ordem pública, não demandando dilação
probatória. Conheço, assim, da exceção de pré-executividade.

3. Passo, então, ao exame do seu mérito.

A prescrição intercorrente está prevista no artigo 40, da Lei


n. 6.830/80, nos seguintes termos:

Art. 40 - O Juiz suspenderá o curso da execução, enquanto


não for localizado o devedor ou encontrados bens sobre os
quais possa recair a penhora, e, nesses casos, não correrá o
prazo de prescrição.

§ 1º - Suspenso o curso da execução, será aberta vista dos


autos ao representante judicial da Fazenda Pública.

§ 2º - Decorrido o prazo máximo de 1 (um) ano, sem que


seja localizado o devedor ou encontrados bens
penhoráveis, o Juiz ordenará o arquivamento dos autos.

§ 3º - Encontrados que sejam, a qualquer tempo, o devedor


ou os bens, serão desarquivados os autos para
prosseguimento da execução.

§ 4º Se da decisão que ordenar o arquivamento tiver


decorrido o prazo prescricional, o juiz, depois de ouvida
a Fazenda Pública, poderá, de ofício, reconhecer a
prescrição intercorrente e decretá-la de imediato.

§ 5º A manifestação prévia da Fazenda Pública prevista no


§ 4o deste artigo será dispensada no caso de cobranças

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judiciais cujo valor seja inferior ao mínimo fixado por ato do


Ministro de Estado da Fazenda.

A interpretação quanto ao termo a quo para a contagem da


prescrição intercorrente é matéria que já se encontra consolidada no
âmbito do Superior Tribunal de Justiça, nos seguintes termos:

Súmula 314/STJ - Em execução fiscal, não localizados bens


penhoráveis, suspende-se o processo por um ano, findo o
qual se inicia o prazo da prescrição quinquenal intercorrente.

Recentemente o STJ voltou a examinar a matéria, por


ocasião do julgamento do REsp 1.340.553, sob o rito do art. 1036, do CPC,
no qual foram estabelecidas as seguintes teses:

“1ª Tese:

(a) o prazo de 01 ano de suspensão previsto


no art. 40, §§1º e 2º da LEF tem início automaticamente na
data de ciência da Fazenda Pública a respeito da não
localização do devedor ou da inexistência de bens
penhoráveis no endereço fornecido;

(b) em se tratando de execução fiscal para a


cobrança de dívida ativa de natureza tributária cujo o
despacho ordenador da citação tenha sido proferido antes do
início da vigência da Lei Complementar 118/05, o prazo da
prescrição ordinária no período da redação original do inciso
I do parágrafo único do artigo 174 do CTN, interrompia-se
pela citação válida do devedor por carta, por oficial de justiça
ou por edital. Nessa hipótese, depois da citação válida, ainda
que editalícia, logo após a primeira tentativa infrutífera de
localização do devedor de bens penhoráveis, o juiz
suspenderá o curso da execução;

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(c) Em se tratando de execução fiscal para a


cobrança de dívida ativa de natureza não tributária (§2º, art.
8º da LEF), assim como em se tratando de execução fiscal
para cobrança de dívida ativa de natureza tributária, cujo
despacho ordenador da citação tenha sido proferido na
vigência da LC 118/05, que conferiu nova redação do artigo
74 do CTN, a interrupção da prescrição ordinária opera-se
com o despacho de citação. Nessa hipótese, logo após a
primeira tentativa frustrada de citação do devedor ou de
localização de bens penhoráveis, o juiz suspenderá a
execução;

2ª Tese:

Decorrido o prazo de um ano de suspensão do


processo, inicia-se automaticamente o prazo de prescrição,
durante o qual o processo deve ser arquivado sem baixa na
distribuição, na forma do artigo 40, §2º, da LEF, findo o qual
o juiz, depois de ouvida a Fazenda Pública, poderá de ofício
reconhecer a prescrição intercorrente e decretá-la de
imediato;

3ª Tese:

A localização do devedor e a efetiva constrição


patrimonial são aptas a suspender o curso da prescrição
intercorrente, não bastando para tal o mero peticionamento
em juízo requerendo a busca do devedor e a feitura da
penhora sobre ativos financeiros ou sobre outros bens. Os
requerimentos feitos pelo exequente no intervalo da soma do
prazo máximo de um ano de suspensão mais o prazo de
prescrição aplicável (dívida tributária e não tributária)
exequendo deverão ser processados ainda que para além da
soma destes dois prazos, pois encontrados e penhorados os
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bens a qualquer tempo, mesmo depois de escoados os


referidos prazos considera-se suspensa a prescrição
intercorrente retroativamente na data do protocolo da petição
que requereu providência frutífera;

4ª Tese:

A Fazenda Pública, em sua primeira


oportunidade de falar nos autos – art. 245 do CPC/73
correspondente ao art. 278 do CPC/15 -, ao alegar a
nulidade pela falta de qualquer intimação dentro do
procedimento do art. 40 da LEF, deverá demonstrar o
prejuízo que sofreu, exceto a do termo inicial, onde o
prejuízo é presumido, isto é, se ela não foi intimada de nada,
por exemplo, deverá demonstrar a ocorrência de qualquer
causa interruptiva ou suspensiva da prescrição”.

Portanto, com a ciência pelo credor de que o devedor foi


localizado ou de que a penhora restou frustrada, tem início
automaticamente o prazo de 01 ano de suspensão previsto no art. 40, §§1º
e 2º da LEF.

Porém, para a caracterização da prescrição intercorrente,


não basta o decurso de prazo superior a cinco anos (na verdade seis, um
de suspensão do processo e cinco de prescrição intercorrente: 01+05=06),
sendo necessária a ausência de impulso ou desídia da exequente em
relação aos atos de cobrança.

No caso dos autos, não houve inércia do(a) exequente.


Senão vejamos:

(a) o despacho citatório de 11/10/2004 interrompeu a


prescrição (f. 25);

(b) o devedor foi localizado para citação em 04/03/2005 (f.


30);
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(c) nomeação de bens à penhora em 16/03/2005 (f. 31);

(d) recusa do bem como garantia em 24/08/2005 (f. 59);

(e) apresentação de exceção de pré-executividade em


23/10/2007 (f. 99);

(f) decisão rejeitando a exceção de pré-executividade em


23/11/2009 (f. 191);

(g) parcelamento do débito em 30/08/2010 (f. 199);

(h) rescisão do parcelamento em 14/01/2013 com pedido de


BACENJUD (f. 224);

(i) BACENJUD infrutífero em 18/10/2013 (f. 230);

(j) pedido de decretação da indisponibilidade de bens em


29/10/2013, deferido em 20/11/2013 (f. 236), com resultado positivo em
06/03/2015 (f. 240);

(l) pedido para expedição de mandado de penhora em


19/03/2015 (f. 247), restando frustrada a localização do bem em
12/05/2016 (f. 254), com ciência da exequente em 16/03/2017.

Percebe-se, do histórico traçado acima, que o processo não


permaneceu paralisado por mais de 06 (seis) anos em razão da desídia da
exequente em relação aos atos de cobrança. Eventuais paralisações
decorreram de incidentes processuais provocados pelo próprio devedor.

Atualmente, o processo encontra-se no arquivo provisório. A


prescrição intercorrente só virá a se consumar em 16/06/2023 (seis anos
após a data de ciência a respeito da inexistência de bens penhoráveis no
endereço, o que ocorreu em 16/03/2017) caso a Fazenda Nacional, até lá,
não requeira nenhuma diligência com resultado positivo.

Dessa sorte, não pode ser decretada a prescrição


intercorrente, eis que a demora inerente ao mecanismo judiciário não pode
prejudicar o direito do credor.
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4. Circunscrito ao exposto, REJEITO a exceção de pré-


executividade.

Ciência para as partes. Após retornem os autos ao arquivo


provisório até 16/06/2023, quando a prescrição intercorrente poderá ser
reconhecida.

Anote-se pelo(a) excipiente o patrocínio de: Leliana Maria


Rolim de Pontes Vieira, OAB/DF 12.051; Oldair Geraldo Gomes, OAB/DF
20.919; Rafael Henrique de Melo Lima, OAB/DF 20.298; Marianne Moncaio
de Pontes Vieira, OAB/DF 40.126; Cláudio Arêdes da Cunha, OAB/DF
27.490; Antônio Keldon Cavalcante de Oliveira, OAB/DF 41.436.

Publique-se. Intimem-se. Cumpra-se.

(ASSINADO ELETRONICAMENTE CONFORME RODAPÉ)

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