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Poder Judiciário da União

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS


TERRITÓRIOS

Órgão 5ª Turma Cível

Processo N. AGRAVO DE INSTRUMENTO 0725815-20.2022.8.07.0000

AGRAVANTE(S) PAULO MARCOS ALMADA DE ABREU JUNIOR

AGRAVADO(S) BRUNO FERREIRA ABIB


Relatora Desembargadora MARIA IVATÔNIA

Acórdão Nº 1658880

EMENTA

AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROCESSO CIVIL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA.


CITAÇÃO. NULIDADE. AÇÃO MONITÓRIA. CERCEAMENTO DE DEFESA. RECURSO
PROVIDO.

1. Citação defeituosa significa prejuízo ao direito de defesa do réu, impossibilitando-o ou


dificultando-o, e inquina o processo de mácula absoluta, insanável, intransponível, transrescisória. 1.1.
“RECURSO ESPECIAL. ( ) FALTA OU NULIDADE DA CITAÇÃO. ALEGAÇÃO EM
IMPUGNAÇÃO AO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA ARBITRAL. ( ). 6- O defeito ou inexistência da
citação opera-se no plano da existência da sentença, caracterizando vício transrescisório, que pode
ser suscitado a qualquer tempo por meio (a) de ação rescisória, (b) de ação declaratória de nulidade,
(c) de impugnação ao cumprimento de sentença ou (d) de simples petição. Precedentes. ( )” (REsp n.
2.001.912/GO, relatora Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 21/6/2022, DJe de
23/6/2022.).

2. No caso, incontroverso que o agravante não mais trabalhava ou exercia qualquer atividade na
Secretaria de Turismo do Estado de Minas Gerais - local da citação - desde 01/01/2019 (exoneração) -
citação efetuada em 20/02/2019 de forma viciada. 2.1.“4 - Restando comprovado que a Agravante não
mais residia nos endereços em que a citação foi considerada válida, a despeito da previsão do art.
248, § 4º, do Código de Processo Civil, verifica-se a nulidade absoluta decorrente da ausência de
citação válida no Processo de Conhecimento e, por conseguinte, devem ser declarados nulos todos os
atos judiciais posteriores ao ato.” (Acórdão 1436223, 07021775520228070000, Relator: ANGELO
PASSARELI, 5ª Turma Cível, data de julgamento: 6/7/2022, publicado no DJE: 18/7/2022. Pág.: Sem
Página Cadastrada.)

3. Agravo de instrumento provido.


ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 5ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito


Federal e dos Territórios, MARIA IVATÔNIA - Relatora, FÁBIO EDUARDO MARQUES - 1º Vogal
e JOÃO LUIS FISCHER DIAS - 2º Vogal, sob a Presidência da Senhora Desembargadora ANA
CANTARINO, em proferir a seguinte decisão: CONHECER. DAR PROVIMENTO AO AGRAVO
DE INSTRUMENTO. UNÂNIME, de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.

Brasília (DF), 08 de Fevereiro de 2023

Desembargadora MARIA IVATÔNIA


Relatora

RELATÓRIO

Trata-se de agravo de instrumento com pedido de antecipação de tutela recursal interposto por PAULO
MARCOS ALMADA DE ABREU JUNIOR contra decisão proferida pelo Juízo da 25ª Vara Cível de
Brasília, pela qual rejeitada a alegação de nulidade da citação do réu/agravante, decisão nos seguintes
termos:

“Trata-se de ação de rescisão contratual c/c indenização por danos materiais, proposta por BRUNO
FERREIRA ABIB em desfavor de PAULO MARCOS ALMADA DE ABREU JUNIOR, LEOPOLDO
FARIA DE PAULA SILVA e de BRUNO FREITAS CAMPOS, lastreada em Contrato de Mútuo e
Outras Avenças, com o objetivo de fomentar a criação e desenvolvimento de moeda virtual digital
denominada “bitcoin platinum”.

Emendas apresentadas sob o ID nº 26497555 e nº 26696675.

Citados aos ID’s nº 30416057 (PAULO), nº 29875552 (LEOPOLDO), nº 30416447 (BRUNO) e nº


28239952 (CAMPOS E CAMPOS), deixaram transcorrer in albis o prazo para apresentação de
defesa, conforme certificado ao ID nº 32080857.

Decisão de ID nº 32538427 a decretar a revelia dos réus e a determinar a retificação do


cadastramento do feito com a exclusão de CAMPOS E CAMPOS ADVOGADOS ASSOCIADOS, nos
termos da emenda de ID nº 26696675. Determinou-se conclusão dos autos para julgamento.

Sentença prolatada ao ID nº 40805447 a julgar parcialmente procedentes os pedidos para resolver o


contrato celebrado entre o autor e Paulo Marcos Almada de Abreu Júnior e Leopoldo Faria de Paula
Silva, condenando-os à restituir ao autor o valor de R$ 300.000,00), acrescido de juros de 1% ao mês,
bem como correção monetária pelo IGPM e multa de 2%, nos termos da cláusula 4.1 do Contrato. Os
juros e correção monetária deverão ser computados desde a data em que o autor realizou
transferência em favor dos réus. Em razão da sucumbência mínima do autor, os réus foram
condenados ao pagamento das despesas processuais e dos honorários advocatícios (10% sobre o valor
da condenação).

Autor requereu a instauração da fase de cumprimento de sentença (ID nº 43170972), a qual foi
recebida com a determinação de intimação dos réus para cumprimento voluntário da obrigação ao ID
nº 44725269.
Intimados (ID nº 47031394 - Pág. e nº 47723076 - Pág. 1 e ID nº 44725269), os devedores
quedaram-se inertes, sendo deferida a consulta de bens passíveis de penhora por meio dos sistemas
Sisbajud (ID nº 49847478 - infrutífera), Infojud (ID nº 50188359 a nº 50188380 - parcialmente frut
ífera) e Renajud (ID nº 50188400 a nº 50188517 - frutífera).

[...]

Credor requereu a penhora de eventuais créditos a serem adjudicados ao executado PAULO


MARCOS ALMADA DE ABREU JÚNIOR no rosto dos autos de nº 5059068- 46.2021.8.13.0024, em
trâmite perante o juízo da 4ª Vara de Sucessões e Ausência da Comarca de Belo Horizonte-MG, ao ID
nº 112831587. O requerimento foi deferido ao ID nº 113278870 até o limite do débito de R$
998.267,19.

Devedor PAULO MARCOS se manifesta ao ID nº 114769034 a suscitar a nulidade absoluta da


citação na ação de conhecimento, porquanto foi exonerado do cargo em comissão em 1º.1.2019 (ID nº
114769037 - Pág. 3).

'Contestação' apresentada pelo devedor PAULO MARCOS ao ID nº 117174923.

Manifestação do credor de ID nº 119660161, pela rejeição da nulidade da citação e com pedido de


tutela provisória para na eventualidade de nulidade da citação, anotando a existência da presente
ação na matrícula/registro dos bens localizados no inventário do genitor do executado, objetivando
resguardar o resultado útil do processo e se evitar maiores fraudes em relação ao autor e a eventuais
terceiros .

Devedor LEOPOLDO acosta ao ID nº 121305877 documentos, com alegação de que comprovariam o


cumprimento da sua obrigação contratual.

Decido.

Pois bem, ante a alegação do devedor PAULO MARCOS de que houve a nulidade de sua citação na
fase de conhecimento, uma vez que ocorrera no local de seu anterior trabalho, por ser a matéria de
ordem pública e se tratar de vício transrescisório, passa-se à sua análise.

Conforme carta AR colacionada ao feito ao ID nº 30416057, a parte PAULO MARCOS ALMADA DE


ABREU JUNIOR restou citada na ação de conhecimento no local de seu trabalho - Secretaria de
Turismo do Estado de Minas Gerais, em 20.2.2019.

O Diário Oficial de Minas Gerais, Caderno 1 (Diário do Executivo), datado de 1º.1.2019, consta na
sua terceira página, no Ato do Governador, Pela Secretaria de Estado de Turismo, a exoneração de
PAULO MARCOS ALMADA DE ABREU JUNIOR do cargo de Secretário de Estado de Turismo (ID
nº 114769037 - Pág. 3).

Ao ID nº 70196362 a parte credora informou ao juízo que PAULO MARCOS ALMADA DE ABREU
JUNIOR, após sua saída da pasta do turismo no Estado de Minas Gerais, exerceu o cargo de
Subsecretário na Subsecretaria de Infraestrutura de Turismo na Secretaria de Estado de Turismo do
Distrito Federal, a partir de 7.5.2019 (ID nº 70196366), e atualmente é comissionado no Senado
Federal desempenhando a função de Auxiliar Parlamentar Intermediário, nomeado em 13.12.2019 (ID
nº 70196371). Naquela assentada, o exequente requereu a expedição de ofício ao órgão trabalhador
do devedor, a fim de informar os dados atualizados do executado.

Ofício do Senado Federal de ID nº 72286609 a comunicar ao juízo que PAULO MARCOS ALMADA
DE ABREU JUNIOR foi nomeado, em 13.12.2019, “para exercer cargo em comissão de Auxiliar
Parlamentar Intermediário, AP-06, no Bloco Parlamentar da Resistência Democrática e exercício no
Bloco da Liderança da Minoria no Congresso Nacional. Em 18/12/2019, tomou posse e entrou em ef
etivo exercício das atribuições.”
Deflui dos autos que na data do recebimento da citação via AR, 20.2.2019, a parte PAULO MARCOS
ALMADA DE ABREU JUNIOR realmente já não exercia mais o cargo de Secretário de Estado de
Turismo, porquanto exonerado em 1º.1.2019, consoante o Diário Oficial de Minas Gerais, Caderno 1
(Diário do Executivo) de ID nº 114769037 - Pág. 3, contudo tal fato não implica prova de que não
tomou conhecimento do teor do mandado de citação e de sua validade.

Com efeito, PAULO MARCOS não comprovou em que local trabalhava no período de 1.1.2019 até
7.5.2019 (lembrando-se que a citação ocorreu em 20.02.219) ou seu endereço residencial, pois não foi
localizado para ser citado nos endereços indicados nos autos. E mais, a correspondência oficial foi
entregue em condomínio edilício com controle de acesso (órgão público - Prédios Gerais, Serra
Verde, Venda Nova, 11º andar), de modo a incidir o disposto no art. 248, § 4º do CPC, o qual
estabelece a validade da entrega do mandado feita a funcionário da portaria responsável pelo
recebimento de correspondência.

No caso, recrudescia o dever do devedor PAULO MARCOS comprovar que não houve a entrega da
correspondência pelo porteiro, ainda que não trabalhasse mais no local como secretario de turismo, o
que poderia ser realizado mediante cópia do livro de registro de correspondências recebidas (cautela
adotada em praticamente todas as repartições públicas e prédios residenciais e comerciais) no prédio
com controle de acesso em questão.

Ora, se o funcionário da portaria responsável não recusou o recebimento, era ônus processual da
parte trazer algum elemento de fato para afastar a norma processual em foco, não servindo apenas a
publicação em diário oficial de sua exoneração. Observando o que ordinariamente acontece, quem
ocupa ou ocupou cargo de relevância na administração pública recebe as correspondências que lhe
são endereçadas, seja retornando ao local de trabalho para concretizar a saída e recolher pertences
pessoais ou mesmo pelo envio por parte dos funcionários do órgão público de documentos ao
ex-secretário, ainda mais por se tratar de correspondência oficial com a identificação do TRIBUNAL
DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS. Eis precedentes do TJDFT na linha desta
decisão:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROCESSO CIVIL. CITAÇÃO. RECEBIMENTO DO AVISO DE


RECEBIMENTO. ASSINATURA SEM RESSALVA POR TERCEIRA PESSOA. PORTARIA DO
CONDOMÍNIO. INTELIGÊNCIA DO ART. 248, §4º, CPC. VALIDADE DA CITAÇÃO. RECURSO
NÃO PROVIDO. 1. Conforme se vê expressamente na transcrição do art. arts. 248, §4º, do CPC, é
válido o recebimento, por terceiro, da citação nos casos de condomínios edilícios quando a entrega do
mandado for feita a funcionário da portaria responsável pelo recebimento da correspondência. 2.
Usualmente, as portarias dos edifícios são receptoras das correspondências e se responsabilizam pela
sua entrega aos destinatários e, na eventualidade de o citando não ser conhecido naquele endereço, a
correspondência não seria recebida e retornaria ao emitente. 3. Na região administrativa de Águas
Claras, local da citação em análise, predominam os edifícios multifamiliares com a verticalização dos
prédios residenciais que conformam o perfil do local. 4. Recurso não

provido. (Acórdão 1406481, 6ª Turma, DJe 25.03.2022).

[...]

Daí que não se divisa nulidade da citação de PAULO MARCOS ALMADA DE ABREU JUNIOR,
apenas indícios de mera irregularidade, mas como este não comprovou qualquer outro elemento de
prova (tal como o livro de registro de correspondências na data da citação ou nos dias seguintes ou
comprovação adequada de seu real domicílio entre 01.01.2019 e 7.5.2019), não se pode afastar a
regra do art. 248, § 4º do CPC.

De todo o exposto, AFASTO ALEGAÇÃO DE NULIDADE DA CITAÇÃO e de todos os atos


processuais praticados. [...]

Portanto, as alegações dos devedores e documentos anexados não alteram o título em cumprimento de
sentença.
Intimem-se.” – ID 37941841.

Nas razões recursais (ID 37941825, pp. 2/8), PAULO MARCOS ALMADA DE ABREU JÚNIOR
alega que “não fora citado nos autos da ação monitória movida em seu desfavor, não tendo
conhecimento do processo que lhe movia o Sr. Bruno Ferreira Abib.” - ID 37941825, p. 5.

Pontua que “Restou claro que a citação enviada à Secretaria de Turismo do Estado de Minas Gerais e
recebida no referido órgão em 20/02/2019, não atingiu seu objetivo, posto que o Agravante, conforme
comprovado nos autos, não trabalhava ou exercia qualquer atividade no referido local desde
01/01/2019, razão pela qual não há que se falar que o recebimento da referida correspondência pelo
funcionário da portaria do referido órgão seja suficiente para comprovação da entrega da referida
carta ao Agravante.” Acrescenta que “Diversamente do alegado pelo D. Juízo a quo o presente caso
em nada se assemelha aos casos de recebimento por terceiros nos endereços corretos do destinatário
da carta de citação.” - ID 37941825, p. 5.

Sustenta que “resta flagrante o cerceamento do direito de defesa do Agravante, posto que não
assegurado seu direito ao contraditório e à ampla defesa. Razão pela qual deve ser declarada nula a
citação do mesmo, bem como de todos os demais atos processuais praticados após o referido ato
processual (...).” - ID 37941825, p. 7.

Requer ao final:

“i. Que seja deferida, EM SEDE DE TUTELA ANTECIPADA, a suspensão da Ação Monitóriaem face
da nulidade da citação do Agravante.

ii. seja intimado o Agravado para, querendo, apresentar resposta;

iii. ao final, uma vez apreciado por este Egrégio Tribunal, seja provido o Agravo de Instrumento,
reformando-se a r. Decisão hostilizada, declarando a nulidade da citação do Agravante nos autos do
processo de origem, bem como de todos os demais atos processuais praticados após o referido ato
processual, e, por consequência, determinando que seja recebida a contestação apresentada pelo Réu
nos autos do processo de origem, por ser tempestiva, e, posteriormente, dando-se o normal seguimento
ao referido feito, com a produção de provas e novo julgamento pelo D. Juízo a quo.” - ID37941825,
pp. 7/8 – grifei.

Preparo recolhido (ID 37941837).

Nesta sede, deferido o efeito suspensivo (ID 38313592).

Contrarrazões pelo não provimento do recurso (ID 39070288).

É o relatório.

VOTOS
A Senhora Desembargadora MARIA IVATÔNIA - Relatora

O art. 1.015 do Código de Processo Civil traz as matérias recorríveis via agravo de instrumento:

“Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre:

I – tutelas provisórias;

II – mérito do processo;

III – rejeição da alegação de convenção de arbitragem;

IV – incidente de desconsideração da personalidade jurídica;

V – rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de sua revogação;

VI – exibição ou posse de documento ou coisa;

VII – exclusão de litisconsorte;

VIII – rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio;

IX – admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros;

X – concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à execução;

XI – redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, § 1º;

XII – (VETADO);

XIII – outros casos expressamente referidos em lei.

Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões interlocutórias proferidas
na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no processo de execução e no
processo de inventário”.

Agravo de instrumento interposto com base no art. 1.015, parágrafo único do CPC (decisão proferida
em processo de execução); conheçodo recurso, pois satisfeitos os pressupostos intrínsecos e
extrínsecos de admissibilidade.

Como visto, trata-se de agravo de instrumento com pedido de antecipação de tutela recursal interposto
por PAULO MARCOS ALMADA DE ABREU JUNIOR contra decisão proferida pelo Juízo da 25ª
Vara Cível de Brasília, pela qual rejeitada a alegação de nulidade de sua citação nos autos da ação
monitória.

O agravante alega, em síntese, que não mais trabalhava ou exercia qualquer atividade no local da
citação. Assevera que “A relevância dos fundamentos se afigura límpida e iniludível, na medida em
que restou demonstrada nos autos o preenchimento dos requisitos fixados pela norma de regência,
mormente a incapacidade de prosseguimento dos autos de origem sem o consequente prejuízo para o
Agravante, em virtude do consequente bloqueio de bens e/ou direitos do Executado/Agravante e
demais medidas que porventura poderão serem tomadas na Ação Monitória, portanto, devendo ser
suspensa Ação Monitória em face da nulidade da citação do Agravante.”- ID37941825, p. 4 – grifei.

Como relatado, o agravante PAULO MARCOS foi dado por citado no local de trabalho. No entanto, a
prova é no sentido de que não mais trabalhava, nem exercia qualquer atividade na Secretaria de
Turismo do Estado de Minas Gerais - local da citação (ID37941841) - desde 01/01/2019(exoneração
constante do Diário Oficial de Minas Gerais, Caderno 1 - ID 37941841) - citação efetuada em
20/02/2019(ID37941841).

Por isto e conforme alega o agravante, deve-se reconhecer o vício da citação, razão por que,
diferentemente do apontado na decisão agravada, inaplicável o citado §4º do artigo 248 do CPC[1].

No sentido:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROCESSUAL CIVIL. CITAÇÃO. FORMA PRESCRITA EM LEI.


ART. 248, §4º DO CPC. MUDANÇA DE DOMICÍLIO À ÉPOCA DO CUMPRIMENTO.
COMPROVADA. NULIDADE RECONHECIDA. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. 1. No que
tange a citação pelos correios, entregue em condomínio edilício, dispõe o art. 248, §4º do NCPC:
"Nos condomínios edilícios ou nos loteamentos com controle de acesso, será válida a entrega do
mandado a funcionário da portaria responsável pelo recebimento de correspondência, que,
entretanto, poderá recusar o recebimento, se declarar, por escrito, sob as penas da lei, que o
destinatário da correspondência está ausente". 2. Tal presunção de validade da citação é relativa e
pode ser desconstituída mediante prova inequívoca de que o ato não tenha se aperfeiçoado. 3. A
partir do conjunto probatório acostado aos autos, verifica-se que a correspondência foi recebida na
portaria do condomínio, onde os réus não mais residiam antes do cumprimento, assim, declara-se a
nulidade do processo a partir daquele ato processual inclusive, de modo a assegurar o direito
constitucional a ampla defesa e ao contraditório (art. 293, §1º c/c art. 280, CPC). 4. RECURSO
CONHECIDO E PROVIDO.
(Acórdão 1602081, 07053179720228070000, Relator: LUÍS GUSTAVO B. DE OLIVEIRA, 3ª
Turma Cível, data de julgamento: 4/8/2022, publicado no DJE: 24/8/2022. Pág.: Sem Página
Cadastrada.)

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA.


IMPUGNAÇÃO. CITAÇÃO NO PROCESSO DE CONHECIMENTO. ATO REALIZADO EM
CONDOMÍNIO EDILÍCIO. RECEBIMENTO DA CARTA DE CITAÇÃO POR PESSOA
RESPONSÁVEL PELA CORRESPONDÊNCIA. POSSIBILIDADE. INDICAÇÃO DE ENDEREÇO
INCORRETO. COMPROVAÇÃO. CONTRATO DE LOCAÇÃO. RÉ RESIDIA EM OUTRO
ENDEREÇO. NULIDADE DA CITAÇÃO. EXTINÇÃO DO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA.
DECISÃO REFORMADA. 1 - De acordo com o artigo 525, § 1º, inciso I, do Código de Processo
Civil, a falta ou nulidade da citação se, na fase de conhecimento, o processo correu à revelia pode ser
alegada na impugnação. 2 - A citação válida é pressuposto processual de validade e essencial para a
regularidade do processo, sendo que o vício nesse ato processual gera nulidade absoluta, que não se
convalida mesmo com o trânsito em julgado. Precedentes jurisprudenciais. 3 - De acordo com o
artigo 248, § 1º, do Código de Processo Civil, a carta de citação deve ser entregue diretamente à
pessoa do citando, mediante sua assinatura. Por sua vez, o § 4º excepciona a pessoalidade no
recebimento da citação ao admitir que, nos condomínios edilícios ou loteamentos com controle de
acesso, o funcionário da portaria responsável pelo recebimento de correspondência receba a
citação e assine o aviso de recebimento, sendo considerada válida, dessa maneira, a citação quando
realizada via postal e assinada, sem oposição, por pessoa responsável por receber a
correspondência no local de destino, desde que corretamente endereçada. 4 - Restando comprovado
que a Agravante não mais residia nos endereços em que a citação foi considerada válida, a despeito
da previsão do art. 248, § 4º, do Código de Processo Civil, verifica-se a nulidade absoluta
decorrente da ausência de citação válida no Processo de Conhecimento e, por conseguinte, devem
ser declarados nulos todos os atos judiciais posteriores ao ato. 5 - Ante a inexistência de título
executivo judicial válido, deve ser extinto o Cumprimento de Sentença, sem resolução de mérito, nos
termos do art. 485, IV, do Código de Processo Civil. 6 - De acordo com o entendimento do STJ, são
devidos honorários advocatícios apenas em benefício do Executado nos casos em que a Impugnação
ao Cumprimento de Sentença seja parcial ou totalmente provida. Jurisprudência firmada de acordo
com o rito dos recursos repetitivos (REsp 1134186/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,
CORTE ESPECIAL, julgado em 01/08/2011, DJe 21/10/2011). 7 - Tratando-se de Impugnação ao
Cumprimento de Sentença acolhida, impõe-se a condenação da parte Exequente ao pagamento de
verba honorária em percentual sobre o proveito econômico obtido com o acolhimento da Impugnação
(art. 85, § 2º, do CPC). Agravo de Instrumento provido (Acórdão 1436223, 07021775520228070000,
Relator: ANGELO PASSARELI, 5ª Turma Cível, data de julgamento: 6/7/2022, publicado no DJE:
18/7/2022. Pág.: Sem Página Cadastrada.)

Citação defeituosa significa prejuízo ao direito de defesa do réu, impossibilitando-o ou dificultando-o,


e inquina o processo de mácula absoluta, insanável, intransponível, transrescisória.

Por oportuno:

“RECURSO ESPECIAL. ( ) FALTA OU NULIDADE DA CITAÇÃO. ALEGAÇÃO EM


IMPUGNAÇÃO AO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA ARBITRAL. ( ). 6- O defeito ou inexistência
da citaçãoopera-se no plano da existência da sentença, caracterizando vício transrescisório, que
pode ser suscitado a qualquer tempo por meio (a) de ação rescisória, (b) de ação declaratória de
nulidade, (c) de impugnação ao cumprimento de sentençaou (d) de simples petição. Precedentes. (
)” (REsp n. 2.001.912/GO, relatora Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 21/6/2022,
DJe de 23/6/2022.)

“PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA.


PREQUESTIONAMENTO PARCIAL. COMPARECIMENTO ESPONTÂNEO DO EXECUTADO. ( )
4. A citação é indispensável à garantia do contraditório e da ampla defesa, sendo o vício de nulidade
de citação o defeito processual mais grave no sistema processual civil brasileiro. Esta Corte tem
entendimento consolidado no sentido de que o defeito ou inexistência da citação opera-se no plano da
existência da sentença. Caracteriza-se como vício transrescisório que pode ser suscitado a qualquer
tempo, inclusive após escoado o prazo para o ajuizamento da ação rescisória, mediante simples
petição, por meio de ação declaratória de nulidade (querela nullitatis) ou impugnação ao
cumprimento de sentença (art. 525, § 1º, I, do CPC/2015). ( )” (REsp 1930225/SP, Rel. Ministra
NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 08/06/2021, DJe 15/06/2021)

Forte em tais argumentos, dou provimento ao agravo de instrumento para declarar a nulidade da
citação do Agravante PAULO MARCOS ALMADA DE ABREU JUNIOR nos autos da ação
monitória (autos n. 0734241-57.2018.8.07.0001), bem como de todos os demais atos processuais
praticados após o referido ato processual com relação ao agravante.

É como voto.

[1] Art. 248, §4º do Código de Processo Civil: “Nos condomínios edilícios ou nos loteamentos com
controle de acesso, será válida a entrega do mandado a funcionário da portaria responsável pelo
recebimento de correspondência, que, entretanto, poderá recusar o recebimento, se declarar, por
escrito, sob as penas da lei, que o destinatário da correspondência está ausente.”

O Senhor Desembargador FÁBIO EDUARDO MARQUES - 1º Vogal


Com o relator
O Senhor Desembargador JOÃO LUIS FISCHER DIAS - 2º Vogal
Com o relator
DECISÃO

CONHECER. DAR PROVIMENTO AO AGRAVO DE INSTRUMENTO. UNÂNIME

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