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Acórdão Nº 1658880
EMENTA
2. No caso, incontroverso que o agravante não mais trabalhava ou exercia qualquer atividade na
Secretaria de Turismo do Estado de Minas Gerais - local da citação - desde 01/01/2019 (exoneração) -
citação efetuada em 20/02/2019 de forma viciada. 2.1.“4 - Restando comprovado que a Agravante não
mais residia nos endereços em que a citação foi considerada válida, a despeito da previsão do art.
248, § 4º, do Código de Processo Civil, verifica-se a nulidade absoluta decorrente da ausência de
citação válida no Processo de Conhecimento e, por conseguinte, devem ser declarados nulos todos os
atos judiciais posteriores ao ato.” (Acórdão 1436223, 07021775520228070000, Relator: ANGELO
PASSARELI, 5ª Turma Cível, data de julgamento: 6/7/2022, publicado no DJE: 18/7/2022. Pág.: Sem
Página Cadastrada.)
RELATÓRIO
Trata-se de agravo de instrumento com pedido de antecipação de tutela recursal interposto por PAULO
MARCOS ALMADA DE ABREU JUNIOR contra decisão proferida pelo Juízo da 25ª Vara Cível de
Brasília, pela qual rejeitada a alegação de nulidade da citação do réu/agravante, decisão nos seguintes
termos:
“Trata-se de ação de rescisão contratual c/c indenização por danos materiais, proposta por BRUNO
FERREIRA ABIB em desfavor de PAULO MARCOS ALMADA DE ABREU JUNIOR, LEOPOLDO
FARIA DE PAULA SILVA e de BRUNO FREITAS CAMPOS, lastreada em Contrato de Mútuo e
Outras Avenças, com o objetivo de fomentar a criação e desenvolvimento de moeda virtual digital
denominada “bitcoin platinum”.
Autor requereu a instauração da fase de cumprimento de sentença (ID nº 43170972), a qual foi
recebida com a determinação de intimação dos réus para cumprimento voluntário da obrigação ao ID
nº 44725269.
Intimados (ID nº 47031394 - Pág. e nº 47723076 - Pág. 1 e ID nº 44725269), os devedores
quedaram-se inertes, sendo deferida a consulta de bens passíveis de penhora por meio dos sistemas
Sisbajud (ID nº 49847478 - infrutífera), Infojud (ID nº 50188359 a nº 50188380 - parcialmente frut
ífera) e Renajud (ID nº 50188400 a nº 50188517 - frutífera).
[...]
Decido.
Pois bem, ante a alegação do devedor PAULO MARCOS de que houve a nulidade de sua citação na
fase de conhecimento, uma vez que ocorrera no local de seu anterior trabalho, por ser a matéria de
ordem pública e se tratar de vício transrescisório, passa-se à sua análise.
O Diário Oficial de Minas Gerais, Caderno 1 (Diário do Executivo), datado de 1º.1.2019, consta na
sua terceira página, no Ato do Governador, Pela Secretaria de Estado de Turismo, a exoneração de
PAULO MARCOS ALMADA DE ABREU JUNIOR do cargo de Secretário de Estado de Turismo (ID
nº 114769037 - Pág. 3).
Ao ID nº 70196362 a parte credora informou ao juízo que PAULO MARCOS ALMADA DE ABREU
JUNIOR, após sua saída da pasta do turismo no Estado de Minas Gerais, exerceu o cargo de
Subsecretário na Subsecretaria de Infraestrutura de Turismo na Secretaria de Estado de Turismo do
Distrito Federal, a partir de 7.5.2019 (ID nº 70196366), e atualmente é comissionado no Senado
Federal desempenhando a função de Auxiliar Parlamentar Intermediário, nomeado em 13.12.2019 (ID
nº 70196371). Naquela assentada, o exequente requereu a expedição de ofício ao órgão trabalhador
do devedor, a fim de informar os dados atualizados do executado.
Ofício do Senado Federal de ID nº 72286609 a comunicar ao juízo que PAULO MARCOS ALMADA
DE ABREU JUNIOR foi nomeado, em 13.12.2019, “para exercer cargo em comissão de Auxiliar
Parlamentar Intermediário, AP-06, no Bloco Parlamentar da Resistência Democrática e exercício no
Bloco da Liderança da Minoria no Congresso Nacional. Em 18/12/2019, tomou posse e entrou em ef
etivo exercício das atribuições.”
Deflui dos autos que na data do recebimento da citação via AR, 20.2.2019, a parte PAULO MARCOS
ALMADA DE ABREU JUNIOR realmente já não exercia mais o cargo de Secretário de Estado de
Turismo, porquanto exonerado em 1º.1.2019, consoante o Diário Oficial de Minas Gerais, Caderno 1
(Diário do Executivo) de ID nº 114769037 - Pág. 3, contudo tal fato não implica prova de que não
tomou conhecimento do teor do mandado de citação e de sua validade.
Com efeito, PAULO MARCOS não comprovou em que local trabalhava no período de 1.1.2019 até
7.5.2019 (lembrando-se que a citação ocorreu em 20.02.219) ou seu endereço residencial, pois não foi
localizado para ser citado nos endereços indicados nos autos. E mais, a correspondência oficial foi
entregue em condomínio edilício com controle de acesso (órgão público - Prédios Gerais, Serra
Verde, Venda Nova, 11º andar), de modo a incidir o disposto no art. 248, § 4º do CPC, o qual
estabelece a validade da entrega do mandado feita a funcionário da portaria responsável pelo
recebimento de correspondência.
No caso, recrudescia o dever do devedor PAULO MARCOS comprovar que não houve a entrega da
correspondência pelo porteiro, ainda que não trabalhasse mais no local como secretario de turismo, o
que poderia ser realizado mediante cópia do livro de registro de correspondências recebidas (cautela
adotada em praticamente todas as repartições públicas e prédios residenciais e comerciais) no prédio
com controle de acesso em questão.
Ora, se o funcionário da portaria responsável não recusou o recebimento, era ônus processual da
parte trazer algum elemento de fato para afastar a norma processual em foco, não servindo apenas a
publicação em diário oficial de sua exoneração. Observando o que ordinariamente acontece, quem
ocupa ou ocupou cargo de relevância na administração pública recebe as correspondências que lhe
são endereçadas, seja retornando ao local de trabalho para concretizar a saída e recolher pertences
pessoais ou mesmo pelo envio por parte dos funcionários do órgão público de documentos ao
ex-secretário, ainda mais por se tratar de correspondência oficial com a identificação do TRIBUNAL
DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS. Eis precedentes do TJDFT na linha desta
decisão:
[...]
Daí que não se divisa nulidade da citação de PAULO MARCOS ALMADA DE ABREU JUNIOR,
apenas indícios de mera irregularidade, mas como este não comprovou qualquer outro elemento de
prova (tal como o livro de registro de correspondências na data da citação ou nos dias seguintes ou
comprovação adequada de seu real domicílio entre 01.01.2019 e 7.5.2019), não se pode afastar a
regra do art. 248, § 4º do CPC.
Portanto, as alegações dos devedores e documentos anexados não alteram o título em cumprimento de
sentença.
Intimem-se.” – ID 37941841.
Nas razões recursais (ID 37941825, pp. 2/8), PAULO MARCOS ALMADA DE ABREU JÚNIOR
alega que “não fora citado nos autos da ação monitória movida em seu desfavor, não tendo
conhecimento do processo que lhe movia o Sr. Bruno Ferreira Abib.” - ID 37941825, p. 5.
Pontua que “Restou claro que a citação enviada à Secretaria de Turismo do Estado de Minas Gerais e
recebida no referido órgão em 20/02/2019, não atingiu seu objetivo, posto que o Agravante, conforme
comprovado nos autos, não trabalhava ou exercia qualquer atividade no referido local desde
01/01/2019, razão pela qual não há que se falar que o recebimento da referida correspondência pelo
funcionário da portaria do referido órgão seja suficiente para comprovação da entrega da referida
carta ao Agravante.” Acrescenta que “Diversamente do alegado pelo D. Juízo a quo o presente caso
em nada se assemelha aos casos de recebimento por terceiros nos endereços corretos do destinatário
da carta de citação.” - ID 37941825, p. 5.
Sustenta que “resta flagrante o cerceamento do direito de defesa do Agravante, posto que não
assegurado seu direito ao contraditório e à ampla defesa. Razão pela qual deve ser declarada nula a
citação do mesmo, bem como de todos os demais atos processuais praticados após o referido ato
processual (...).” - ID 37941825, p. 7.
Requer ao final:
“i. Que seja deferida, EM SEDE DE TUTELA ANTECIPADA, a suspensão da Ação Monitóriaem face
da nulidade da citação do Agravante.
iii. ao final, uma vez apreciado por este Egrégio Tribunal, seja provido o Agravo de Instrumento,
reformando-se a r. Decisão hostilizada, declarando a nulidade da citação do Agravante nos autos do
processo de origem, bem como de todos os demais atos processuais praticados após o referido ato
processual, e, por consequência, determinando que seja recebida a contestação apresentada pelo Réu
nos autos do processo de origem, por ser tempestiva, e, posteriormente, dando-se o normal seguimento
ao referido feito, com a produção de provas e novo julgamento pelo D. Juízo a quo.” - ID37941825,
pp. 7/8 – grifei.
É o relatório.
VOTOS
A Senhora Desembargadora MARIA IVATÔNIA - Relatora
O art. 1.015 do Código de Processo Civil traz as matérias recorríveis via agravo de instrumento:
“Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre:
I – tutelas provisórias;
II – mérito do processo;
XII – (VETADO);
Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões interlocutórias proferidas
na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no processo de execução e no
processo de inventário”.
Agravo de instrumento interposto com base no art. 1.015, parágrafo único do CPC (decisão proferida
em processo de execução); conheçodo recurso, pois satisfeitos os pressupostos intrínsecos e
extrínsecos de admissibilidade.
Como visto, trata-se de agravo de instrumento com pedido de antecipação de tutela recursal interposto
por PAULO MARCOS ALMADA DE ABREU JUNIOR contra decisão proferida pelo Juízo da 25ª
Vara Cível de Brasília, pela qual rejeitada a alegação de nulidade de sua citação nos autos da ação
monitória.
O agravante alega, em síntese, que não mais trabalhava ou exercia qualquer atividade no local da
citação. Assevera que “A relevância dos fundamentos se afigura límpida e iniludível, na medida em
que restou demonstrada nos autos o preenchimento dos requisitos fixados pela norma de regência,
mormente a incapacidade de prosseguimento dos autos de origem sem o consequente prejuízo para o
Agravante, em virtude do consequente bloqueio de bens e/ou direitos do Executado/Agravante e
demais medidas que porventura poderão serem tomadas na Ação Monitória, portanto, devendo ser
suspensa Ação Monitória em face da nulidade da citação do Agravante.”- ID37941825, p. 4 – grifei.
Como relatado, o agravante PAULO MARCOS foi dado por citado no local de trabalho. No entanto, a
prova é no sentido de que não mais trabalhava, nem exercia qualquer atividade na Secretaria de
Turismo do Estado de Minas Gerais - local da citação (ID37941841) - desde 01/01/2019(exoneração
constante do Diário Oficial de Minas Gerais, Caderno 1 - ID 37941841) - citação efetuada em
20/02/2019(ID37941841).
Por isto e conforme alega o agravante, deve-se reconhecer o vício da citação, razão por que,
diferentemente do apontado na decisão agravada, inaplicável o citado §4º do artigo 248 do CPC[1].
No sentido:
Por oportuno:
Forte em tais argumentos, dou provimento ao agravo de instrumento para declarar a nulidade da
citação do Agravante PAULO MARCOS ALMADA DE ABREU JUNIOR nos autos da ação
monitória (autos n. 0734241-57.2018.8.07.0001), bem como de todos os demais atos processuais
praticados após o referido ato processual com relação ao agravante.
É como voto.
[1] Art. 248, §4º do Código de Processo Civil: “Nos condomínios edilícios ou nos loteamentos com
controle de acesso, será válida a entrega do mandado a funcionário da portaria responsável pelo
recebimento de correspondência, que, entretanto, poderá recusar o recebimento, se declarar, por
escrito, sob as penas da lei, que o destinatário da correspondência está ausente.”