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Acórdão Nº 1649187
EMENTA
1. Consoante disposto nos arts. 238 e 239, ambos do CPC/15, a citação é o ato pelo qual são
convocados o réu, o executado ou o interessado para integrar a relação processual, sendo que a
validade do processo depende da sua higidez, ressalvadas as hipóteses de indeferimento da petição
inicial ou de improcedência liminar do pedido.
2. A não observância do endereço declinado pela executada no contrato efetivado entre as partes e
utilizado para notificá-la quanto à rescisão do contrato torna a citação inválida, ainda mais quando
hádocumentos indicativos de que a pessoa jurídica já não estava estabelecida no local da citação,
gerando, por conseguinte, a nulidade dos atos processuais subsequentes nos termos do art. 281 do
CPC/15.
ACÓRDÃO
RELATÓRIO
A parte requerida, por isso, manifestou-se genericamente ao ID 122988395. Não informou seu
logradouro atual, bem como não anexou nenhum dos documentos acima descritos.
É o relatório. Decido.
Inicialmente, deve-se pontuar que a exceção de pré-executividade é construção doutrinária que visa a
suscitação de questões de ordem pública, que devam ser conhecidas de ofício pelo juiz, como as
atinentes aos pressupostos processuais e às condições da ação executiva.
Nesse sentido:
Portanto, a manifestação do executado somente deve ser conhecida parcialmente, ou seja, naquilo que
verse sobre nulidade da citação, matéria esta de ordem pública.
Isso porque, como dito na decisão anterior, o endereço do contrato de locação referente à ação que
tramitou perante a 1ª Vara Cível desta Circunscrição Judiciária, utilizado como argumento pela parte
executada para decretação da nulidade, não guarda identidade com o logradouro presente no
mandado de citação destes autos.
Em outros termos, nada impede que a executada tenha, após 21/03/2021, ocupado o endereço para
onde o mandado restou de fato remetido,o qual se situa no mesmo prédio do endereço da ação que se
discutiu a entrega de chaves e confessadamente ocupava anteriormente, senão vejamos o exposto pela
própria executado ao ID 113060334 - Pág. 4:
(...)
Frise-se que o mandado de citação restou cumprido por meio do funcionário da portaria, obedecendo
a previsão do art. 248, §4º do CPC.
Não se pode ignorar que, conforme a decisão de ID 121093385, restou oportunizada à parte
executada esclarecer a celeuma sobre os logradouros, a fim de solidificar seus argumentos sobre a
nulidade da citação. Nada obstante, esta optou por não indicar seu atual logradouro, não
apresentando qualquer documento como prova de domicílio a época do recebimento do mandado, não
cumprindo qualquer das orientações contidas na decisão de ID 121093385.
Sabe-se que é ônus de quem alega comprovar a existência de nulidade, medida da qual não se
desincumbiu a parte executada, posto que, além de se manifestar de forma genérica, juntou documento
ao ID 122985244 que já constava nos autos ao ID 119973689 - Pág. 240.
Dispositivo
Forte nessas razões, conheço parcialmente a exceção de pré-executividade, ao tempo em que rejeito a
alegação de nulidade da citação”.
Opostos embargos de declaração, esses foram rejeitados (ID 130564164 dos autos originários).
Em suas razões recursais (ID37949712), a agravante afirma que arguiu a nulidade de citação na ação
executiva, uma vez que ela foi citada no endereço em que já não era sua sede na época da citação.
Afirma que ajuizou ação judicial para a entrega das chaves (ação de n.º 0707420-51.2018.8.07.0020),
sendo que foi proferida sentença naqueles autos confirmando que a agravante deixou o imóvel antes da
citação.
Noticia que a agravada conhecia o endereço atual da agravante, tanto que enviou notificação
extrajudicial que foi recebida no endereço denominado Rua 08, Chácara 226, Parte B, Setor
Habitacional Vicente Pires. Alega que prestou as informações solicitadas pelo juízo a quo, informando
que, devido à situação de pandemia, a agravante perdeu vários associados e está trabalhando de forma
remota, sendo que recebe correspondência por meio dos endereços dos diretores. Informa que
esclareceu, ainda, que o imóvel, objeto de ação de entrega de chaves, foi o último locado para o
funcionamento presencial.
Argumenta que não tem como produzir prova negativa, já que não se encontra funcionando em outro
endereço.
Por fim, requer a concessão de efeito suspensivo para obstar o cumprimento da decisão agravada. No
mérito, postula o provimento do recurso para declarar a nulidade da citação, com a restabelecimento do
prazo para defesa e a anulação dos atos posteriores à citação nula.
Em decisão liminar (ID 38615629), deferiu-se o efeito suspensivo postulado para obstar o
cumprimento da decisão agravada, até o julgamento do presente recurso.
Contrarrazões do agravado (ID 39639699), nas quais pugna pelo não provimento do recurso.
É o relatório.
VOTOS
A recorrente insurge-se contra a decisão proferida pelo Juízo da 2ª Vara Cível de Águas Claras que
indeferiu o pedido de nulidade de citação da agravante.
Afirma a agravante que arguiu a nulidade de citação na ação executiva, uma vez que foi citada no
endereço em que já não era sua sede na época da citação. Aduz que ajuizou ação judicial para entrega
das chaves (ação de n.º 0707420-51.2018.8.07.0020), sendo que foi proferida sentença naqueles autos
confirmando que a agravante deixou o imóvel antes da citação.
Noticia que a agravada conhecia o endereço atual da agravante, tanto que enviou notificação
extrajudicial que foi recebida no endereço denominado Rua 08, Chácara 226, Parte B, Setor
Habitacional Vicente Pires. Alega que prestou as informações solicitadas pelo juízo a quo,
informando que, devido à situação de pandemia, a agravante perdeu vários associados e está
trabalhando de forma remota, sendo que recebe correspondência por meio dos endereços dos
diretores. Informa que esclareceu, ainda, que o imóvel, objeto de ação de entrega de chaves, foi o
último locado para o funcionamento presencial.
Argumenta que não tem como produzir prova negativa, já que não se encontra funcionando em outro
endereço.
Por fim, requer a concessão de efeito suspensivo para obstar o cumprimento da decisão agravada. No
mérito, postula o provimento do recurso para declarar a nulidade da citação, com o restabelecimento
do prazo para defesa e a anulação dos atos posteriores à citação nula.
Consoante relatado, na decisão de ID 38615629, deferi o efeito suspensivo postulado para obstar o
cumprimento da decisão agravada, até o julgamento do presente recurso.
Naquela ocasião, consignei que a citação ocorreu em local distinto do endereço declinado pela pessoa
jurídica no contrato efetivado entre as partes, bem como havia documentos que indicavam, em juízo
de cognição sumária, que a pessoa jurídica já não estava estabelecida no local da citação.
De fato, após análise aprofundada dos autos, verifica-se que as provas colacionadas levam a crer que a
pessoa jurídica agravante estava funcionando em localidade diversa do local onde foi efetivada a
citação e, ainda, que a exequente conhecia o endereço atual da executada.
Consoante disposto nos arts. 238 e 239, ambos do CPC/15, a citação é o ato pelo qual são convocados
o réu, o executado ou o interessado para integrar a relação processual, sendo que a validade do
processo depende da sua higidez, ressalvadas as hipóteses de indeferimento da petição inicial ou de
improcedência liminar do pedido.
Compulsando os autos, verifiquei que a executada, ora agravante, foi citada pelos correios, no
endereço constante no site da Receita Federal (ID 103130389 dos autos de referência), qual seja, Rua
Copaíba, Lote nº 01, sala 2413, Torre A, Norte (Águas Claras), Brasília/DF, CEP 71919-540.
O mandado de citação foi expedido em 25/10/2021 (ID 106879259 dos autos de origem), tendo
retornado o AR com assinatura de recebimento pelo funcionário da portaria, conforme prevê o art.
248, § 4º, do CPC. A citação foi efetuada em 03/11/2021, consoante documento de ID 108000779 dos
autos originários.
O contrato de locação juntado pela agravante (ID 119973689 - Pág. 25 dos autos originários) indica
que a pessoa jurídica estava funcionando no Edifício Century Plaza, Empreendimento I, Rua Copaíba
01, Salas 713-A a 715-A, Águas Claras/DF, cujo período de vigência do contrato locatício era de
08/07/2019 a 07/07/2022.
Consta nos autos, ainda, cópia da ação de consignação de chaves e pedido de rescisão do contrato
locatício ajuizado pela agravante contra o locador em 15/05/2021, na qual foi declarado que, devido à
situação de pandemia, não conseguiria a agravante manter os encargos locatícios, conforme
documento de ID 119973689 - Pág. 9 dos autos originários. Diante desse contexto, a agravante
afirmou que desocupou o imóvel e deixou as chaves do bem à disposição do locador.
A sentença proferida na ação de rescisão do contrato locatício julgou procedente o pedido e decretou a
rescisão do contrato a partir de 21/03/2021 (ID 119973689 - Pág. 73 dos autos originários).
Por mais que a exequente afirme que há provas de que a executada não desocupou o imóvel
imediatamente, o AR de devolução das chaves do imóvel é datado de 02/09/2021, ou seja, em
momento anterior à citação da executada nos autos do processo de origem (ID 119973689, pág. 240).
Registre-se que, como informado pela própria executada e registrado na decisão agravada, o número
das salas do contrato de locação não coincidem com o que é por ela própria cadastrado no site da
Receita Federal e que deveria ser atualizado.
A despeito disso, consoante registrei ao deferir o pedido suspensivo do recurso, chamou a atenção
desta relatora o fato de que, a exequente, ora agravada, conhecia o endereço atual da executada.
A agravante afirma que, diante da pandemia do Covid-19 e das dificuldades financeiras enfrentadas,
passou a funcionar somente através de plataforma virtual, recebendo as correspondências no endereço
dos diretores.
Além disso, o endereço constante na notificação é o mesmo endereço declinado pela pessoa jurídica
no contrato firmado entre as partes (ID 103130392 - Pág. 1).
Assim, a não observância do endereço declinado pela executada no contrato efetivado entre as partes e
utilizado para notificá-la quanto à rescisão do contrato torna a citação efetivada em 03/11/2021
inválida, ainda mais quando há documentos indicativos de que a pessoa jurídica já não estava
estabelecida no local da citação.
Por outro lado, muito embora a jurisprudência deste Tribunal tenha pacificado o entendimento de que
“é válida a realizada no endereço da empresa e recebida por quem se identificou como funcionário,
sem ressalva de falta de poderes para receber a correspondência” (Acórdão 1413841. Relator:
Fernando Habibe, 4ª Turma Cível, data de julgamento: 31/03/2022, publicado no DJE: 29/04/2022.
Pág.: Sem Página Cadastrada.), tal teoria mostra-se inaplicável na espécie, uma vez que a exequente
conhecia o endereço da executada, sendo esse constante do contrato entre as partes e para o qual,
inclusive, foi remetida a carta de notificação de rescisão do contrato.
Destarte, a citação é nula, gerando, por conseguinte, a nulidade dos atos processuais subsequentes, nos
termos do art. 281 do CPC/15.
DISPOSITIVO
Ante o exposto, conheço e DOU PROVIMENTO ao agravo de instrumento para declarar nula a
citação da executada e tornar sem efeitos os atos posteriores.
É como voto.
DECISÃO