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COORDENAÇÃO GERAL

Celso Fernandes Campilongo


Alvaro de Azevedo Gonzaga
André Luiz Freire

ENCICLOPÉDIA JURÍDICA DA PUCSP

TOMO 3

PROCESSO CIVIL

COORDENAÇÃO DO TOMO 3
Cassio Scarpinella Bueno
Olavo de Oliveira Neto
ENCICLOPÉDIA JURÍDICA DA PUCSP
PROCESSO CIVIL

DIRETOR
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA
Pedro Paulo Teixeira Manus
DE SÃO PAULO
DIRETOR ADJUNTO
FACULDADE DE DIREITO Vidal Serrano Nunes Júnior

ENCICLOPÉDIA JURÍDICA DA PUCSP | ISBN 978-85-60453-35-1


<https://enciclopediajuridica.pucsp.br>

CONSELHO EDITORIAL

Celso Antônio Bandeira de Mello Nelson Nery Júnior


Elizabeth Nazar Carrazza Oswaldo Duek Marques
Fábio Ulhoa Coelho Paulo de Barros Carvalho
Fernando Menezes de Almeida Raffaele De Giorgi
Guilherme Nucci Ronaldo Porto Macedo Júnior
José Manoel de Arruda Alvim Roque Antonio Carrazza
Luiz Alberto David Araújo Rosa Maria de Andrade Nery
Luiz Edson Fachin Rui da Cunha Martins
Marco Antonio Marques da Silva Tercio Sampaio Ferraz Junior
Maria Helena Diniz Teresa Celina de Arruda Alvim
Wagner Balera

TOMO DE PROCESSO CIVIL | ISBN 978-85-60453-43-6

Enciclopédia Jurídica da PUCSP, tomo III (recurso eletrônico)


: processo civil / coords. Cassio Scarpinella Bueno, Olavo de Oliveira Neto - São Paulo:
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2017
Recurso eletrônico World Wide Web
Bibliografia.
O Projeto Enciclopédia Jurídica da PUCSP propõe a elaboração de dez tomos.

1.Direito - Enciclopédia. I. Campilongo, Celso Fernandes. II. Gonzaga, Alvaro. III. Freire,
André Luiz. IV. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

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ENCICLOPÉDIA JURÍDICA DA PUCSP
PROCESSO CIVIL

INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA


André Pagani de Souza

INTRODUÇÃO

Este verbete tem como objetivo apresentar o incidente de desconsideração da


personalidade jurídica disciplinado pelos arts. 133 a 137 do Código de Processo Civil (Lei
13.105/2015).
Trata-se de uma modalidade de intervenção de terceiros que permite,
incidentalmente ao processo, desconsiderar a personalidade jurídica e, desse modo,
conseguir responsabilizar pessoalmente o integrante da pessoa jurídica (sócio ou
administrador) nos casos em que a lei material o autoriza. É uma novidade trazida pela
codificação atual e que não era encontrada no diploma anterior (a Lei 5.869/1976).
O incidente de desconsideração da personalidade jurídica deve ser pensado da
perspectiva traçada pelo art. 1º do Código de Processo Civil (CPC): “o processo civil será
ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas fundamentais
estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil, observando-se as
disposições deste Código”.1
Ao que tudo indica, o objetivo buscado pelos arts. 133 a 137 do CPC foi o de
harmonizar a possibilidade de desconsideração da personalidade jurídica prevista na lei
material com o princípio do contraditório (Constituição Federal, art. 5º, LV). Por
exemplo, é preciso que seja observado o princípio do contraditório para se aplicar o art.
50 do Código Civil (Lei 10.406/2002); o art. 28, caput e § 5º, do Código de Defesa do
Consumidor (Lei 8.078/1990); o art. 34, da Lei Antitruste (Lei 12.529/2011); o art. 4º da
Lei do Meio Ambiente (Lei 9.605/1998); o art. 14, da Lei Anticorrupção (Lei
12.846/2013). Em todas estas hipóteses a lei material confere a possibilidade de
desconsideração da personalidade jurídica, mas não prevê a forma pela qual, mediante o
processo, isto deve ser feito.

1
BUENO, Cassio Scarpinella. Novo código de processo civil anotado, pp. 29-30.

2
ENCICLOPÉDIA JURÍDICA DA PUCSP
PROCESSO CIVIL

Em outras palavras, a preocupação maior do legislador foi compatibilizar a


possibilidade de o patrimônio de um sócio ou administrador de uma pessoa jurídica sofrer
os efeitos de uma decisão proferida em um processo (do qual ele não fazia parte
inicialmente) com as normas fundamentais inseridas, sobretudo, nos arts. 7º, 9º e 10 do
CPC, que consagram o princípio do contraditório.2
Assim, considerando que o inciso VII do art. 790 do CPC estabelece que são
sujeitos à execução os bens “do responsável, nos casos de desconsideração da
personalidade jurídica”, coerentemente, os arts. 133 a 137 da mesma lei conferem a
disciplina processual mediante a qual o patrimônio do responsável se sujeitará à execução
nas hipóteses de desconsideração da personalidade jurídica previstas na lei material (art.
133, § 1º, do CPC).
Entretanto, antes de se analisar a disciplina processual dada pelos arts. 133 a 137
a essa nova espécie de intervenção de terceiros, é preciso ter uma noção do que se entende
por “desconsideração da personalidade jurídica”. Isso porque, se for hipótese de
desconsiderar a personalidade jurídica, o juiz deve obrigatoriamente se utilizar deste
incidente (CPC, art. 795, § 4º), sob pena de o sócio ou administrador se valer dos
embargos de terceiro para se defender, se a lei for desrespeitada (CPC, art. 674, § 2º, III).
Por outro lado, se não for hipótese de desconsideração da personalidade jurídica e sim
outro caso diverso em que o sócio também responde por uma obrigação que era
originariamente da pessoa jurídica, não se utilizará o incidente.3 Portanto, antes de se

2
Ao tratar do incidente de desconsideração da personalidade jurídica, Arruda Alvim afirma que: “[g]arante-
se, por meio dele, em observância às garantias do contraditório e da ampla defesa (art. 5º, LV, da CF/1988),
que aquele cujo patrimônio pode vir a ser atingido tenha a oportunidade de discutir em juízo se estão
presentes os requisitos que a lei coloca para que possa ocorrer a desconsideração” (Novo contencioso cível
no CPC/2015, p. 110).
3
Conforme já tivemos oportunidade de sustentar, a desconsideração da personalidade jurídica difere de
outros institutos jurídicos que importam no comprometimento do patrimônio pessoal do integrante da
pessoa jurídica em razão de obrigações desta (SOUZA, André Pagani de. Desconsideração da
personalidade jurídica: aspectos processuais, pp. 79-87). Assim, por exemplo, no caso de
redirecionamento da execução fiscal por força da incidência do art. 135, III, do Código Tributário Nacional,
que dispõe serem “pessoalmente responsáveis pelos créditos correspondentes a obrigações tributárias
resultantes de atos praticados com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos” os
“diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado”, não há que se falar em
desconsideração da personalidade jurídica, pois a lei já atribui responsabilidade direta ao diretor, ao gerente
e ao representante da pessoa jurídica. Nesse sentido é o enunciado n. 53 da Escola Nacional de Formação
e Aperfeiçoamento de Magistrados (ENFAM): “[o] redirecionamento da execução fiscal para o sócio-
gerente prescinde do incidente de desconsideração da personalidade jurídica previsto no art. 133 do
CPC/2015”. Na mesma linha é o enunciado n. 6 do Fórum de Execuções Fiscais da Segunda Região
(Forexec): “[a] responsabilidade tributária regulada no art. 135 do CTN não constitui hipótese de

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PROCESSO CIVIL

tratar do incidente de desconsideração da personalidade jurídica, traçaremos uma breve


noção do instituto.

SUMÁRIO

Introdução ......................................................................................................................... 2

1. Noção de desconsideração da personalidade jurídica ............................................. 4

2. Incidente de desconsideração da personalidade jurídica ......................................... 7

3. Instauração do incidente .......................................................................................... 8

4. Dispensa da instauração do incidente ................................................................... 11

5. Cabimento do incidente em todas as fases do processo e na execução ................ 13

6. Procedimento do incidente .................................................................................... 13

7. Decisão e recurso da decisão proferida no incidente ............................................ 15

8. Desconsideração da personalidade jurídica e fraude de execução ........................ 19

9. Tutela provisória da urgência e desconsideração da personalidade jurídica......... 21

1. NOÇÃO DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

desconsideração da personalidade jurídica, não se submetendo ao incidente previsto no art. 133 do


CPC/2015”. Não é diferente o entendimento esboçado pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo no
julgado assim ementado: “EXECUÇÃO FISCAL. Indeferimento de pleito para redirecionamento da
execução fiscal para o sócio. Cogitada a necessidade de instauração de incidente de desconsideração da
personalidade jurídica, nos termos dos arts. 133 e seguintes do Código de Processo Civil de 2015.
Descabimento. Possibilidade no caso de tratar-se de empresa executada não localizada no endereço onde
deveria funcionar. Configurada a presumida dissolução irregular da empresa, possível o redirecionamento
da execução para o sócio – Art. 135 do CTN e Súmula 435 do Superior Tribunal de Justiça. Desnecessidade
de instauração do incidente de desconsideração da personalidade jurídica previsto nos arts. 133 a 137 do
Novo Código de Processo Civil. Enunciados 53 da ENFAM e 6 do Fórum de Execuções Fiscais da 2ª
Região (Forexec). Precedentes deste E. Tribunal de Justiça. Decisão reformada. Recurso provido” (Agravo
de Instrumento 2002120-89.2017.8.26.0000, 15ª Câmara de Direito Público, rel. Des. Silva Russo, j.
06.04.2017). Ver também, especificamente sobre a aplicação do art. 135, III, do CTN e a sua diferença em
relação ao art. 50 do CC: SOUZA, André Pagani de. A qualidade de parte do integrante da pessoa jurídica
que é atingido pelo ‘redirecionamento’ da execução fiscal, p. 82.

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PROCESSO CIVIL

A pessoa jurídica tem patrimônio próprio que não se confunde com aquele que
pertence aos seus integrantes (sócios ou administradores). Os direitos e deveres da pessoa
jurídica propriamente dita e os dos seus membros também não se confundem. Isso pode
ser depreendido do art. 45 do CC que dispõe: “começa a existência legal das pessoas
jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro,
precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo,
averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo”. Ou seja,
a pessoa jurídica tem uma autonomia patrimonial e também de direitos e obrigações em
relação aos seus membros.4
Ocorre que, em determinadas situações, a lei permite que esta autonomia da
pessoa jurídica em relação aos seus integrantes seja ignorada para a finalidade de se
estender os efeitos de determinadas obrigações para os seus membros. Isso significa
afirmar que é permitido por lei que, preenchidos determinados pressupostos, se
desconsidere a personalidade de determinada pessoa jurídica para alcançar o patrimônio
de seus integrantes.
Em geral, a desconsideração da personalidade jurídica é utilizada para se coibir
fraudes realizadas por meio da manipulação das regras que dão autonomia para as pessoas
jurídicas.5 Os atos que autorizam a desconsideração da personalidade jurídica são atos
fraudulentos praticados pelos seus integrantes.6 Veja-se, a título ilustrativo, o exemplo do

4
Nesse sentido, Flávio Tartuce leciona que “diante da sua concepção como realidade técnica e orgânica,
a pessoa jurídica é capaz de direitos e deveres na ordem civil, independentemente dos membros que a
compõem, com os quais não tem vínculo. Tal realidade pode ser retirada do art. 45 do Código Civil de
2002, ao dispor que começa a existência legal das pessoas jurídicas de Direito Privado com a inscrição do
ato constitutivo no respectivo registro. Fala-se em autonomia da pessoa jurídica quanto aos seus membros,
o que constava expressamente no art. 20 do Código Civil de 1916, dispositivo que não foi reproduzido pela
atual codificação, sem que isso traga qualquer conclusão diferente” (TARTUCE, Flávio. O novo CPC e o
direito civil: impactos, diálogos e interações, p. 65).
5
Olavo de Oliveira Neto ensina que “quando o sócio ou dirigente da pessoa jurídica pratica atos que
ofendem a legalidade, agindo de modo a cometer fraude em prejuízo de outrem, essa autonomia pode ser
desconsiderada e, por exceção, o patrimônio do sócio ou dirigente pode responder pelas dívidas da empresa”
(Curso de direito processual civil, p. 427).
6
Segundo Fábio Ulhoa Coelho, “pela teoria da desconsideração, o juiz pode deixar de aplicar as regras de
separação patrimonial entre sociedade e sócios, ignorando a existência da pessoa jurídica num caso
concreto, porque é necessário coibir a fraude perpetrada graças à manipulação de tais regras. Não seria
possível a coibição se respeitada a autonomia da sociedade. Note-se, a decisão judicial que desconsidera a
personalidade jurídica da sociedade não desfaz o seu ato constitutivo, não o invalida, nem importa sua
dissolução. Trata, apenas e rigorosamente, de suspensão episódica da eficácia desse ato. Quer dizer, a
constituição a pessoa jurídica não produz efeitos apenas no caso em julgamento, permanecendo válida e
inteiramente eficaz para todos os fins” (Curso de direito comercial, p. 40).

5
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PROCESSO CIVIL

art. 50 do Código Civil, que menciona a hipótese de “abuso de personalidade jurídica,


caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial”.7 Nesses casos, o
patrimônio do sócio ou administrador acaba respondendo por uma obrigação que
originariamente era da pessoa jurídica.
Vale notar que não é apenas a prática de ato fraudulento que justifica a
desconsideração da personalidade jurídica. Há dispositivos legais, como o § 5º do art. 28
do CDC, que permitem a desconsideração pelo simples fato de o consumidor não ter
conseguido receber seu crédito da pessoa jurídica. É o que Fábio Ulhoa Coelho já chamou
no passado de teoria menor da desconsideração, asseverando que “o seu pressuposto é
simplesmente o desatendimento de crédito titularizado perante a sociedade, em razão da
insolvabilidade ou falência desta”.8 Aqui o pressuposto é unicamente a frustração do
credor da sociedade e a teoria é chamada de menor em tom até pejorativo, pois não tem
qualquer relação com a construção doutrinária que levou ao reconhecimento da
possibilidade de se ignorar a autonomia patrimonial da pessoa jurídica em hipóteses de
fraude praticada pelos seus membros.9
Assim, pela teoria da desconsideração da personalidade jurídica, sempre que o
juiz verificar que a pessoa foi utilizada para a prática de abuso de direito ou fraude, ele
pode não aplicar as regras de separação patrimonial entre a pessoa jurídica e seus
integrantes. Essa desconsideração da pessoa jurídica no caso concreto não significa a
anulação ou a desconstituição do ato jurídico que a constituiu, mas apenas a declaração
de sua ineficácia momentânea. Assim, somente naquele caso específico examinado pelo
juiz é que a personalidade jurídica vai ser ignorada, não se aplicando as regras de

7
Note-se que a confusão patrimonial não deixa de ser um ato fraudulento pois, se a pessoa jurídica foi
criada justamente para ter autonomia de patrimônio em relação aos seus integrantes, não faz sentido o sócio
ou administrador deixar de fazer esta distinção e utilizar o patrimônio da sociedade como se fosse próprio
e vice-versa. Nesse aspecto, aquele que faz esta confusão patrimonial, está fraudando o objetivo da lei que
era separar o patrimônio da pessoa jurídica daquele que pertence às pessoas que a integram.
8
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, p. 46.
9
Segundo Flávio Tartuce, esta distinção entre a teoria maior e a menor da desconsideração da personalidade
jurídica ainda se faz atual e necessária: “acreditamos que a aclamada divisão deve ser mantida na teoria e
na prática do Direito Privado, especialmente pelo seu claro intuito didático e metodológico. Em
complemento, a aplicação da teoria menor é a mais eficiente para a defesa dos interesses dos consumidores”
(O novo CPC e o direito civil, p. 72).

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separação patrimonial entre a pessoa jurídica e os seus integrantes para que o abuso de
direito ou fraude sejam coibidos.10
Há, também, a desconsideração da personalidade jurídica em sentido inverso,
expressamente prevista atualmente pelo § 2º do art. 133 do CPC. Nesse caso, há o
afastamento do princípio da autonomia da pessoa jurídica para responsabilizar a
sociedade por obrigação do sócio. Ou, ainda, se traduz na possibilidade de responsabilizar
a pessoa jurídica por uma obrigação de um integrante seu (seja ele sócio ou
administrador).
Em razão do exposto até aqui, se for hipótese de desconsideração da
personalidade jurídica, nos moldes acima delineados, devem ser observadas as normas
relativas ao incidente de desconsideração da personalidade encontradas nos arts. 133 a
137 do CPC, analisadas a seguir.

2. INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

A exposição de motivos do anteprojeto do CPC atual já anunciava que “(...)


muitas regras foram concebidas, dando concreção a princípios constitucionais, como, por
exemplo, as que preveem um procedimento, com contraditório e produção de provas,
prévio à decisão que desconsidera a pessoa jurídica, em sua versão tradicional ou ‘às
avessas’”.11
O incidente de desconsideração da personalidade jurídica veio, portanto, para
viabilizar a realização de um prévio ato processual que estenda a eficácia de um título
executivo para o integrante da pessoa jurídica que será atingido pela aplicação da teoria
da desconsideração da personalidade jurídica.12 Assim, o interessado em pleitear a
desconsideração da personalidade jurídica deve demonstrar ao juiz a configuração de uma

10
SOUZA, André Pagani de. Desconsideração da personalidade jurídica: aspectos processuais, pp. 78-
79.
11
Brasil. Congresso Nacional. Comissão de Juristas Responsável pela Elaboração do Anteprojeto de
Código de Processo Civil. Anteprojeto do código de processo civil. Brasília: Senado Federal, Presidência,
p. 15.
12
Segundo Cândido Rangel Dinamarco e Bruno Vasconcelos Carrilho Lopes, “o objetivo foi eliminar a
extrema insegurança que vigia no sistema anterior em decorrência de desordenados redirecionamentos de
execuções e arbitrárias extensões da responsabilidade executiva a sujeitos diferentes do obrigado. Pelo que
dispõe o novo Código, extensões dessa ordem só serão admissíveis quando houver um prévio
pronunciamento judicial a respeito” (Teoria geral do novo processo civil, p. 163).

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ENCICLOPÉDIA JURÍDICA DA PUCSP
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das hipóteses que a autorizam, para que o juiz determine a citação daquele que sofrerá os
efeitos da decisão para se defender, requerendo inclusive a produção de provas. Somente
após observado tal procedimento o juiz estará autorizado a formar o seu convencimento
e proferir decisão interlocutória acolhendo ou rejeitando o pedido de desconsideração.
A necessidade da criação de um incidente cognitivo nos moldes acima
delineados para desconsiderar a personalidade jurídica já vinha sendo reclamada pela
doutrina13 como sendo o modo mais adequado para viabilizar a aplicação da disregard
doctrine aos processos em andamento, sem sacrificar o princípio do contraditório.
Trata-se, como se pode perceber, de uma espécie de intervenção de terceiros,
“pois se provoca o ingresso de terceiro em juízo – para o qual se busca dirigir a
responsabilidade patrimonial”.14 A disciplina processual da desconsideração da
personalidade jurídica realizada pelos arts. 133 a 137 do CPC permite que o patrimônio
de determinadas pessoas – à primeira vista estranhas ao processo – seja atingido,
configuradas determinadas hipóteses autorizadas por lei com a observância do
contraditório (CF, art. 5º, LV).

3. INSTAURAÇÃO DO INCIDENTE

O incidente de desconsideração da personalidade jurídica não pode ser


instaurado de ofício pelo juiz, devendo haver pedido da parte ou do Ministério Público,
quando lhe couber intervir no processo.15 Nesse sentido, é o disposto no caput no art. 133

13
DINAMARCO, Cândido Rangel. Fundamentos do processo civil moderno, p. 1198; SOUZA, André
Pagani de. Desconsideração da personalidade jurídica: aspectos processuais, pp. 153-159; BRUSCHI,
Gilberto Gomes. Aspectos processuais da desconsideração da personalidade jurídica, pp. 105-108.
14
DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil, p. 521.
15
Em sentido contrário, Luiz Guilherme Marinoni, Daniel Mitidiero e Sérgio Cruz Arenhart sustentam que
“nada impede, porém, que o juiz dê início ao incidente também de ofício, sempre que o direito material não
exigir iniciativa da parte para essa desconsideração” (Novo código de processo civil comentado, p. 208).
Na mesma linha, Flávio Tartuce entende que a desconsideração da personalidade jurídica ex officio seria
possível em relações jurídicas envolvendo direito do consumidor e envolvendo direito ambiental e
envolvendo a Lei 12.846/2013, ou seja, casos de corrupção. Nesses ramos do direito, como haveria um
interesse público de importância superior ao das partes em conflito, o juiz estaria autorizado a aplicar de
ofício a desconsideração da personalidade jurídica (TARTUCE Flávio. O novo CPC e o direito civil:
impactos, diálogos e interações, pp. 77-78). Com o devido respeito, entendemos que a desconsideração da
personalidade jurídica envolve um novo pedido de tutela jurisdicional em face de alguém que não era parte
do processo e passará a ser com a instauração do incidente, porque contra ela passou-se a requerer a atuação
de uma vontade concreta da lei. Assim, não se pode admitir a desconsideração da personalidade jurídica
realizada de ofício pelo juiz, pois isso violaria o princípio da inércia da jurisdição consagrado pelo art. 2º
do CPC e a paridade de armas assegurada pelo art. 7º do CPC. Nesse sentido, Araken de Assis sustenta o

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PROCESSO CIVIL

do CPC (“o incidente de desconsideração da personalidade jurídica será instaurado a


pedido da parte ou do Ministério Público, quando lhe couber intervir no processo”), bem
como o § 4º do art. 795 (“para desconsideração da personalidade jurídica é obrigatória a
observância do incidente previsto neste Código”), ambos do CPC.
Conforme disposto no § 4º do art. 134 do CPC, a instauração se dá mediante
requerimento da parte interessada ou do Ministério Público, nos casos em que lhe couber
intervir no processo. Tal requerimento deve demonstrar “o preenchimento dos
pressupostos legais específicos para a desconsideração da personalidade jurídica”.
Nesse ponto, cabe uma observação importante acerca do preenchimento dos
pressupostos legais para desconsideração. Se fosse para interpretar esta exigência do §
4º do art. 134 do CPC como imposição de simples alegação de preenchimento dos
pressupostos sem a devida comprovação, a lei poderia ter ficado apenas com o § 1º do
art. 133 cujo teor é o seguinte: “o pedido de desconsideração observará os pressupostos
previstos em lei”. Ocorre que o legislador foi além, impondo que deve haver a
demonstração do preenchimento dos pressupostos de desconsideração.
Em outras palavras, deve haver, acompanhando o requerimento do art. 133 do
CPC, pelo menos alguma prova pré-constituída do preenchimento dos pressupostos para
desconsideração da personalidade jurídica. Por exemplo, se a hipótese for a do art. 50 do
CC, deve ser demonstrada a existência de pelo menos alguma prova indiciária do desvio
de finalidade ou da confusão patrimonial.
Nesse sentido, Teresa Arruda Alvim Wambier, Maria Lúcia Lins Conceição,
Leonardo Ferres da Silva Ribeiro e Rogério Licastro Torres de Melo observam que:
“o parágrafo quarto [do art. 134] remete ao direito material a ser aplicado pelo
juiz ao decidir sobre dever ou não ser desconsiderada a pessoa jurídica. No

seguinte: “Não é, pois, assunto confiado à iniciativa do órgão judiciário. A desconsideração escapa aos
poderes de direção material do juiz. Em outras palavras, não é lícito ao órgão judicial, na hipótese do art.
790, VII, redirecionar a pretensão a executar contra o sócio ao seu talante. O incidente envolve,
predominantemente, interesses patrimoniais. E quem tomar essa iniciativa assumirá os riscos financeiros
perante as pessoas arroladas na petição. De resto, a desconsideração da pessoa jurídica provoca a formação
de litisconsórcio facultativo passivo. Ao órgão judiciário é vedado, de ofício, a integrar terceiro à relação
processual, o que significa violar o princípio da demanda. Essas razões se mostram superiores à que baseia
no caráter excepcional da desconsideração o veto à atuação ex officio do juiz. É nula, por conseguinte, a
integração de terceiro ao processo, determinada ex officio pelo juiz, a guisa de desconsideração da
personalidade jurídica (Manual da execução, p. 307). No mesmo sentido: ALVIM, Arruda. Novo
contencioso cível no CPC/2015, p. 25; BUENO, Cassio Scarpinella. Novo código de processo civil anotado,
p. 190.

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ENCICLOPÉDIA JURÍDICA DA PUCSP
PROCESSO CIVIL

plano do direito civil, do direito do consumidor e de outros ramos do direito


material é que são previstos requisitos específicos para incidência da teoria da
desconsideração naquele ramo específico do direito. Deve o requerente
indicar, desde logo, as provas que pretende produzir. Mas este dispositivo faz
referência a uma dose mínima de ‘aparência do bom direito’, de
plausibilidade da alegação, sem o que o incidente pode e deve ser indeferido
(grifos nossos)”.16
Tal imperativo decorre de sólida construção doutrinária anterior à entrada em
vigor do CPC atual. No intuito de compatibilizar a desconsideração da personalidade
jurídica em processo pendente com o princípio do contraditório, Cândido Rangel
Dinamarco sustentava que:
“a) em princípio, só quem estiver indicado no título executivo como devedor
é legitimado passivo à execução (legitimidade ordinária primária); b) tal regra
constitui projeção da exigência legal de título para executar, porque contra
quem não está indicado neste, em princípio, inexiste título; c) existem casos
em que, excepcionalmente, admite-se a legitimidade passiva de pessoas não
incluídas no título (arts. 568 e 592) [do CPC de 1.973]; d) para submetê-las à
execução é indispensável um prévio ato judicial que lhes estenda a eficácia do
título executivo; e) esse pronunciamento judicial pode ter lugar na própria
execução, incidentemente, quando existir prova documental inconcussa da
situação legitimante; (...)”.17
Assim, deve haver pelo menos prova que conduza à verossimilhança daquilo que
está sendo alegado pelo requerente da desconsideração da personalidade jurídica, sob
pena de ver indeferido o seu pedido.18

16
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; CONCEIÇÃO, Maria Lúcia Lins Conceição; RIBEIRO, Leonardo
Ferres da Silva; TORRES DE MELLO, Rogerio Licastro. Primeiros comentários ao novo código de
processo civil: artigo por artigo, p. 254.
17
DINAMARCO, Cândido Rangel. Fundamentos do processo civil moderno, p. 1198, sem os destaques.
No mesmo sentido, SOUZA, André Pagani de. Desconsideração da personalidade jurídica: aspectos
processuais, p. 154. Em sentido contrário: NEVES, Daniel Amorin Assumpção. Novo CPC: inovações,
alterações, supressões comentadas, pp. 143-144; ROQUE, André Vasconcelos. Teoria geral do processo:
comentários ao CPC de 2015 (parte geral), p. 438.
18
Como, aliás, já teve oportunidade de decidir o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo em julgado
assim ementado: “AGRAVO DE INSTRUMENTO. Indeferimento da instauração de incidente de
desconsideração da personalidade jurídica. Ausência de demonstração dos pressupostos legais específicos
para a desconsideração, conforme art. 134, §4º do Código de Processo Civil. Negativa correta. Recurso
desprovido” (TJSP, Agravo de Instrumento 2258429-83.2016.8.26.0000, 38ª Câmara de Direito Privado,
rel. Des. Flávio Cunha da Silva, j. 08.03.2017).

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PROCESSO CIVIL

Uma vez instaurado o incidente, tal fato deverá ser imediatamente comunicado
ao distribuidor para as anotações devidas, nos termos do § 1º do art. 134 do CPC. Isso
porque houve pedido de tutela jurisdicional contra o integrante da pessoa jurídica, seja
ele sócio ou administrador.
Com a instauração do incidente, está formalizado o pedido de tutela jurisdicional
contra o patrimônio do sócio ou administrador da pessoa jurídica. Portanto, aquele que
potencialmente pode ser atingido por uma decisão de desconsideração da personalidade
jurídica passa a ser parte do processo e o distribuidor deve saber o quanto antes dessa
informação, para que responda corretamente aos pedidos de certidão do público em geral
sobre os processos e as partes envolvidas sob os seus cuidados.
Tanto é verdade que o sócio ou administrador da pessoa jurídica passam a ser
parte do processo em que é formulado o pedido de desconsideração que o art. 135 do CPC
determina a sua citação. Este ato processual, como é cediço, “é o ato processual de
comunicação pelo qual se convoca o réu (inclusive o executado) e interessado para
integrar o processo (art. 238, CPC)”.19
Logo, uma vez requerida a instauração do incidente de desconsideração da
personalidade jurídica e deferido o seu processamento pelo juiz, o distribuidor deve ser
comunicado de tal fato e deve ser expedido mandado de citação para o membro da pessoa
jurídica.
Por fim, cumpre observar que, no caso de instauração do incidente e
comunicação do ato ao cartório distribuidor, o processo principal deverá ser suspenso
enquanto tramita o incidente (CPC, art. 134, § 3º).

4. DISPENSA DA INSTAURAÇÃO DO INCIDENTE

Cumpre notar que o pedido de desconsideração da personalidade jurídica pode


ser formulado no início do processo. Nesse caso não há que se cogitar da instauração do
incidente de desconsideração da personalidade jurídica porque tal requerimento é
formulado desde logo na petição inicial, conforme autorizado pelo § 2º do art. 134 do

19
DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil, p. 615.

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PROCESSO CIVIL

CPC. Tanto a pessoa jurídica como o seu integrante (sócio ou administrador) deverão ser
citados para a demanda e devem se defender por meio de contestação.
Assim, na hipótese de o pedido de desconsideração da personalidade jurídica ser
formulado na petição inicial, haverá um litisconsórcio facultativo passivo inicial formado
entre a pessoa jurídica (sócio ou administrador) e o seu integrante, sem a necessidade de
suspensão do processo (CPC, art. 134, § 3º).20
É importante ter uma certa cautela com a aplicação do § 2º do art. 134, pois uma
interpretação literal poderia conduzir à falsa impressão de que estaria autorizado ao
exequente, em processo de execução fundada em título extrajudicial, incluir o sócio ou
administrador da sociedade no polo passivo da demanda executiva logo na petição inicial.
Nesse sentido, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo já permitiu a aplicação
combinada da parte final do caput do art. 134 com o seu § 2º em julgado assim ementado:
“DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA – Execução de
título extrajudicial - R. despacho de não conhecimento – Pedido formulado na
petição inicial – Possibilidade – Desnecessidade de suscitar a matéria por meio
de incidente – Exegese do art. 134, § 2º do NCPC – Necessidade de
observação do contraditório - Recurso provido” (TJSP, Agravo de
Instrumento 2051398-59.2017.8.26.0000, 38ª Câmara de Direito Privado, rel.
Des. Achile Alesina, j. 19.04.2017).
Com o devido respeito, a inserção de um réu na petição inicial do polo passivo
de um processo de conhecimento é diferente da inserção de um executado na exordial de
uma execução fundada em título extrajudicial. Apenas para ilustrar o quão distintas são
as situações de cada um, basta imaginar que o réu do processo de conhecimento é citado
para comparecimento na audiência de conciliação ou mediação ou, se a demanda não
versar sore direitos que permitam a autocomposição, para contestar (CPC, art. 334). Já o
executado no processo de execução é citado para pagamento no prazo de 3 (três) dias,
sob pena de penhora (CPC, art. 829). Ademais, o simples fato de a execução ter sido
recebida pelo juiz já possibilita a expedição de certidões a serem averbadas no patrimônio
do executado sujeito a registro (CPC, art. 828).

20
Para ver este e outros exemplos de pedido de desconsideração da personalidade jurídica formulado na
petição inicial, ver SOUZA, André Pagani de. Desconsideração da personalidade jurídica: aspectos
processuais, pp. 127-130.

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Assim, a dispensa da instauração do incidente se a desconsideração for pedida


na petição inicial não vale para o processo de execução, pois o executado teria suprimido
o seu direito ao exercício do contraditório para se defender das imputações sobre o
preenchimento dos requisitos necessários para a desconsideração e já começaria o
processo sendo citado para pagar em 3 (três) dias em vez de ser citado para se defender
em 15 (quinze) dias como determina o art. 135 do CPC.
Portanto, se o propósito da criação desta nova figura de intervenção de terceiros
era harmonizar o princípio do contraditório com a desconsideração da personalidade
jurídica, não se pode aceitar a simples dispensa do incidente na execução para inclusão
dos sócios ou administradores da pessoa jurídica no polo passivo logo na petição inicial
da execução promovida originariamente contra a pessoa jurídica.

5. CABIMENTO DO INCIDENTE EM TODAS AS FASES DO PROCESSO E NA EXECUÇÃO

Quanto ao momento processual de instauração do incidente de desconsideração


da personalidade jurídica, se o pedido de desconsideração não for formulado na petição
inicial, é importante mencionar que ele é cabível em todas as fases do processo de
conhecimento, no cumprimento de sentença e na execução fundada em título executivo
extrajudicial (CPC, art. 134, caput). Vale observar, inclusive, que por força do art. 1.062
do CPC, tal incidente também é cabível no âmbito dos Juizados Especiais Cíveis
disciplinados pela Lei 9.099/1995, sendo que não se aplica a vedação para intervenção de
terceiros do art. 10 deste último diploma, tendo em vista que o CPC é uma lei posterior.
Desse modo, o pedido de desconsideração pode ser formulado em todas as fases
do processo de conhecimento, no cumprimento de sentença, na execução fundada em
título extrajudicial e também na petição inicial (CPC, art. 134, caput). Em primeiro grau
de jurisdição, a competência para apreciar o pedido será do juiz do processo em que o
pedido é formulado e, na fase recursal, ela será inicialmente do relator, cuja decisão
monocrática pode ser impugnada por meio de agravo interno (CPC, art. 136, parágrafo
único).

6. PROCEDIMENTO DO INCIDENTE

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O incidente de desconsideração da personalidade jurídica deve ser instaurado


mediante petição endereçada ao juiz do processo ou ao relator do recurso, requerendo a
sua instauração e demonstrando o preenchimento de todos os pressupostos legais
específicos para desconsideração da personalidade jurídica, conforme § 4º do art. 134 do
CPC.
Além da demonstração do preenchimento dos pressupostos para a
desconsideração da personalidade jurídica (CPC, art. 134, § 4º), deve também ser
formulado pedido de citação (CPC, art. 135) daqueles que serão atingidos pela decisão
que o acolher: sócios, administradores e até mesmo a pessoa jurídica (na hipótese de
desconsideração em sentido inverso). Não basta, assim, a mera intimação daqueles que
serão atingidos pela decisão que eventualmente acolher o pedido incidente.
Cumpre observar, portanto, que aqueles que são atingidos pela decisão de
desconsideração da personalidade jurídica, mediante a instauração do respectivo
incidente, deixam de ser terceiros em relação ao processo para se tornarem parte, pois foi
formulado pedido de tutela jurisdicional em face deles.
Por tal razão é que eles devem ser citados para manifestar-se e requerer as provas
cabíveis dentro do prazo de 15 (quinze) dias, consoante o disposto no art. 135 do CPC.
Logo, os meios processuais à disposição daquele que é atingido por uma decisão de
desconsideração da personalidade jurídica são os mesmos franqueados às partes do
processo, pois aquele que sofre a desconsideração da personalidade jurídico é parte e não
terceiro.21
Note-se que não estão descartados os embargos de terceiro pois o CPC, no art.
674, § 2º, III, estabelece que se considera terceiro, para ajuizamento dos embargos, “quem
sofre constrição judicial de seus bens por força de desconsideração da personalidade
jurídica, de cujo incidente não fez parte”.
Assim, se não houver a instauração do incidente ou se a pessoa que tiver o seu
patrimônio atingido por uma decisão de desconsideração da personalidade jurídica não

21
SOUZA, André Pagani de. Desconsideração da personalidade jurídica: aspectos processuais, pp. 137-
148.

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fizer parte do incidente, ela deve opor os embargos de terceiro previstos nos arts. 674 e
seguintes do CPC para desconstituir a constrição.22
Como já asseverado, após instaurado o incidente e suspenso o processo principal
(CPC, art. 134, § 3º), tal acontecimento deve ser imediatamente comunicado ao
distribuidor para as devidas anotações (CPC, art. 134, § 1º), pois deve ser dada ampla
publicidade ao fato de que o processo tem novos integrantes e novas partes.
Assim, busca-se proteger os terceiros de boa-fé que até então desconheciam o
fato de que o integrante da pessoa jurídica (sócio ou administrador) ou a própria pessoa
jurídica (no caso da desconsideração em sentido inverso) são partes em um processo
judicial em que se busca realizar uma constrição em seu patrimônio e a alienação de seus
bens.
Após a citação daqueles que serão atingidos pela desconsideração da
personalidade jurídica, eles devem, no prazo de 15 (quinze) dias, se manifestar no
processo apresentando a sua defesa e também requerendo a produção das provas que
entenderem cabíveis. Tal manifestação tem a natureza de contestação ao pedido
formulado no incidente. Depois de analisada tal manifestação e de produzidas todas as
provas cabíveis, o incidente será resolvido por meio de decisão interlocutória.

7. DECISÃO E RECURSO DA DECISÃO PROFERIDA NO INCIDENTE

A decisão que acolhe ou rejeita o pedido de desconsideração da personalidade


jurídica é interlocutória e deve ser impugnada mediante agravo de instrumento se for
proferida em primeiro grau de jurisdição ou agravo se for prolatada monocraticamente no
Tribunal.
Isto decorre do disposto no art. 136, caput, do CPC, que prevê que o incidente
de desconsideração da personalidade jurídica será resolvido mediante decisão
interlocutória. Assim, o recurso cabível dessa decisão é o agravo de instrumento (CPC,
art. 1.015, IV) se for originária de órgão judicial de primeiro grau e, caso a decisão que

22
Nelson Nery Jr. e Rosa Maria de Andrade Nery sustentam que “caso tenha ocorrido penhora de bem de
sócio ou administrador, como se fosse bem da sociedade, o meio processual correto para a discussão da
questão são os embargos de terceiro. Não cabe manifestação simples do prejudicado, como se estivesse
inserido neste procedimento do CPC 133 a 137” (Comentários ao código de processo civil, p. 575).

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seja proferida em fase recursal, pelo relator do recurso, caberá agravo interno, conforme
prevê o parágrafo único do art. 136 e também o caput do art. 1.021, ambos do CPC.
Se, eventualmente, o juiz decidir o incidente por meio de sentença, caberá
apelação para impugnar tal decisão, nos termos do art. 1.009 do CPC.
Cumpre notar que a pessoa jurídica não tem legitimidade para interpor recurso
no interesse do sócio, ou seja, para impugnar a decisão que desconsiderou a personalidade
jurídica, pois ela se beneficiou da referida decisão, ao ter os efeitos de uma obrigação que
originariamente era sua direcionados para o sócio. Neste sentido há o Recurso Especial
Repetitivo 1.347.627/SP, assim ementado: “PROCESSO CIVIL. EMBARGOS DO
DEVEDOR. A pessoa jurídica não tem legitimidade para interpor recurso no interesse do
sócio. Recurso especial desprovido. Acórdão submetido ao regime 543-C do CPC e da
Resolução STJ 8/2008” (STJ, 1ª Seção, rel. Min. Ari Pargendler, j. 09.10.2013, DJe
21.10.2013).
Vale observar, ainda, que a decisão que rejeita o pedido de desconsideração da
personalidade jurídica deve condenar o vencido ao pagamento de honorários
advocatícios, apesar do silêncio da lei.
É fato que o art. 85, § 1º, do CPC estabelece hipóteses em que é cabível a
condenação ao pagamento de honorários advocatícios e não menciona o incidente de
desconsideração da personalidade jurídica. Tal dispositivo, após fixar que “a sentença
condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor” (CPC, art. 85, caput),
menciona que “são devidos honorários advocatícios na reconvenção, no cumprimento de
sentença, provisório ou definitivo, na execução, resistida ou não, e nos recursos
interpostos, cumulativamente” (CPC, art. 85, § 1º).
Todavia, isso não é o suficiente para afirmar que esse rol do § 1º do art. 85 do
CPC seria taxativo, pois a própria lei processual estabelece em outras passagens a
possibilidade de se condenar alguém ao pagamento de honorários advocatícios
sucumbenciais.
Confira-se, a título de exemplo, a hipótese do parágrafo único do art. 129 do
CPC, que trata da denunciação da lide: “se o denunciante for vencedor, a ação de
denunciação não terá o seu pedido examinado, sem prejuízo da condenação do
denunciante ao pagamento das verbas de sucumbência em favor do denunciado”. Nessa
situação, fica claro que o sistema processual permite, em hipóteses nas quais ocorra o

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encerramento do processo por meio de decisões que decidam parcialmente o mérito, a


condenação ao vencido de pagamento de honorários advocatícios ao advogado do
vencedor.
Nesse sentido, Thiago Asfor Rocha Lima e Marcus Claudius Saboia Rattacaso
observam que:
“(...) ao que parece, o legislador nunca pretendeu tornar a fixação dos
honorários parciais a regra do sistema, pois, se assim o fosse, poderia ter feito,
quando menos, nas alterações processuais de 2005, ou dez anos depois,
quando da promulgação do Novo CPC. Isso, todavia, não impede o
magistrado, em situações específicas e justificadas, de estabelecer os
honorários de sucumbências parciais e nas decisões parciais de mérito. Isso
é possível de ocorrer não apenas nos casos de extinção do processo em relação
a uma das partes, por ilegitimidade, exempli gratia – visto que nesse caso a
parte excluída não participará da decisão final – mas também quando houver
desistência, renúncia ou reconhecimento parcial do pedido (art. 90, caput e §
1º) e ainda nos casos de parcela do pedido se mostrar incontroverso ou em
imediatas condições de julgamento (art. 356, inciso II), seja por
desnecessidade de produção de provas novas, seja por se operarem os efeitos
de revelia”.23
Assim, nas hipóteses em que o pedido de desconsideração da personalidade
jurídica é julgado improcedente, após a regular tramitação do incidente sob o crivo do
contraditório e da ampla defesa, fica claro que o sócio, que era considerado parte no
processo por ter sido citado (CPC, art. 135), inclusive com comunicação do ocorrido ao
distribuidor (CPC, art. 134, § 1º), será excluído do processo, que será extinto em relação
a ele, pelo menos.24
Tal pronunciamento, evidentemente, é uma decisão interlocutória de mérito
aquela de decide o incidente de desconsideração da personalidade jurídica acolhendo ou
rejeitando o pedido. Em razão do não acolhimento do pedido de desconsideração da

23
LIMA, Thiago Asfor Rocha; RATTACASO, Marcus Claudius Saboia. Honorários advocatícios
parciais: muito além da interpretação literal do art. 85 do Novo CPC, p. 347 (os destaques são da
transcrição).
24
Já tivemos a oportunidade de demonstrar que aquele que é atingido por uma decisão de desconsideração
da personalidade jurídica deve ser considerado parte no processo e não terceiro. (SOUZA, André Pagani
de. Desconsideração da personalidade jurídica: aspectos processuais, pp. 118-148).

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personalidade jurídica, o sócio ou administrador da pessoa jurídica que contratou


advogados para se defender no prazo de 15 (quinze) dias e requereu a produção de provas
(CPC, art. 135), inclusive periciais e testemunhais, será excluído da demanda originária,
sem poder participar do processo principal até decisão final, após terminada a suspensão
a que se refere o § 3º do art. 134.
Obviamente, não é justo que alguém (sócio ou administrador de pessoa jurídica,
nos termos do art. 50 do CC), a quem foi imputado um fato grave de desvio de finalidade
ou confusão patrimonial com intuito fraudulento, que teve que contratar advogados para
se defender de um pedido de tutela jurisdicional formulado por um credor leviano que
queria lhe estender os efeitos de uma obrigação de uma pessoa jurídica para lhe tomar o
patrimônio particular, não tenha o direito de – pelo menos – receber honorários de
sucumbência e ser reembolsado pelas despesas processuais que antecipou (CPC, art. 82,
§ 2º).
Aliás, o próprio § 1º do art. 322 do CPC, ao tratar do pedido de tutela
jurisdicional, que é exatamente o que faz aquele que pede a instauração do incidente a
que se referem os arts. 134 e seguintes do CPC ao imputar a alguém o fato de ter realizado
uma das hipóteses autorizadoras da desconsideração da personalidade jurídica,
alcançando-se o seu patrimônio particular, estabelece que compreendem-se no pedido
principal os juros legais, a correção monetária e as verbas de sucumbência, inclusive os
honorários advocatícios.
Em outras palavras, se o credor pede a desconsideração da personalidade jurídica
para alcançar os bens dos integrantes da pessoa jurídica que até então não eram partes do
processo, ele deve estar preparado para todas as consequências de ter um pedido de tutela
jurisdicional negado pelo juiz, sobretudo no sentido de indenizar pelos prejuízos que
eventualmente causou aos inocentes que tiveram que vir a juízo se defender, inclusive
pagando-lhes honorários advocatícios e reembolsando as despesas incorridas.
Conforme já tivemos oportunidade de sustentar em outra ocasião, “(...) caso se
descubra depois que não era hipótese de se desconsiderar a personalidade jurídica, nascerá
para o prejudicado um direito de pleitear indenização, e somente quem pediu e se
beneficiou com essa medida excepcional é que estará legitimado a indenizar (...)”.25

25
SOUZA, André Pagani de. Desconsideração da personalidade jurídica: aspectos processuais, p. 188.

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A indenização pelos prejuízos causados com um pedido de desconsideração


julgado improcedente – certamente devida – pode até ter lugar em um outro processo,
mas a fixação de honorários advocatícios em favor do vencedor no incidente ao qual se
refere o art. 134 e seguintes do CPC deve ser fixado no momento em que o juiz proferir
a decisão interlocutória do art. 136, caput, do CPC (“Concluída a instrução, se necessária,
o incidente será resolvido por decisão interlocutória”).
Nesse sentido é lição de Christian Garcia Vieira:
“afinal, uma vez citado o réu, ele irá constituir advogado, ingressar no feito e,
exemplificativamente, apresentar defesa para demonstrar a inexistência de
atos de confusão patrimonial que justificariam a inaplicabilidade do instituto
no caso concreto. Há uma decorrência lógica de que o autor, que propôs a
demanda, caso derrotado, remunere as custas e os honorários advocatícios ao
réu (e vice-versa)”.26
Logo, como a atuação do advogado que defendeu o sócio ou o administrador da
pessoa jurídica no incidente de desconsideração da personalidade desta última não
acompanhará o processo até o final porque o seu cliente foi excluído do seu polo passivo,
a fixação das verbas de sucumbência não pode ser deixada para depois, ao final da
demanda originária. Ela deve ser feita ao final do incidente, quando ele for acolhido ou
rejeitado.

8. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA E FRAUDE DE EXECUÇÃO

Conforme disposto no art. 137 do CPC, “acolhido o pedido de desconsideração,


a alienação ou a oneração de bens, havida em fraude de execução, será ineficaz em relação
ao requerente”.
Para bem aplicar tal dispositivo, é preciso saber a partir de que momento a
alienação de bens por aquele que é atingido pela desconsideração da personalidade
jurídica (sócio, administrador ou a pessoa jurídica – esta última nos casos de
desconsideração inversa) deve ser considerada como sendo fraude de execução.

26
VIEIRA, Christian Garcia. Desconsideração da personalidade jurídica no Novo CPC: natureza,
procedimentos e temas polêmicos, p. 183.

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É difícil estabelecer se o momento a partir do qual a alienação do bem capaz de


reduzir o devedor à insolvência é considerada fraude à execução deve ser considerado o
da primeira citação do réu para o processo originário ou o da citação daquele que será
atingido pela desconsideração da personalidade jurídica para manifestação no incidente a
que se referem os arts. 133 a 137 do CPC.
A dificuldade acima mencionada resulta da obscura redação do § 3º do art. 792
do CPC que estabelece que “nos casos de desconsideração da personalidade jurídica, a
fraude à execução verifica-se a partir da citação da parte cuja personalidade se pretende
desconsiderar”.
Caso o artigo acima transcrito se referira à desconsideração em sentido inverso,
a resposta para o problema que se apresenta é uma. Por outro lado, se for a hipótese da
desconsideração sem ser no referido sentido a solução para o impasse será outra.
No caso da desconsideração da personalidade jurídica prevista pelo art. 50 do
CC, em que os efeitos de certas obrigações da sociedade são estendidos para o sócio ou
para o administrador, a fraude à execução deveria ser verificada, à luz do § 3º do art. 792
do CPC, a partir do momento em que a sociedade foi citada e não a partir do momento
em que o sócio ou administrador forem citados para apresentar a manifestação e requerer
a produção de provas no incidente. Isso porque é a sociedade a parte cuja personalidade
se pretende desconsiderar à qual se refere o § 3º do art. 792.
A interpretação acima, contudo, não é a mais adequada, pois o terceiro que
comprar um bem do sócio antes de instaurado o incidente de desconsideração da
personalidade jurídica não poderia sequer saber que o integrante da pessoa jurídica era
parte de um processo capaz de reduzi-lo à insolvência, pois o distribuidor só deve ser
comunicado da existência do referido incidente após a sua instauração (CPC, art. 134, §
1º). Assim, se esta interpretação for acolhida, os terceiros de boa-fé, que compraram bens
dos sócios ou administradores antes da instauração do incidente de desconsideração da
personalidade jurídica serão prejudicados, pois não tinham como saber que havia
processos contra estas pessoas, uma vez que nada havia sido comunicado ao distribuidor
antes da instauração do incidente.

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Portanto, para proteger terceiros de boa-fé, o mais adequado seria considerar a


ineficácia da alienação do bem somente seja reconhecida se ela for realizada a partir da
citação do sócio, administrador ou pessoa jurídica para manifestar-se no incidente.27

9. TUTELA PROVISÓRIA DA URGÊNCIA E DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

Há situações em que não se pode aguardar a citação daqueles que devem ser
atingidos pela decisão que acolhe o pedido de desconsideração da personalidade jurídica,
sob pena de se frustrar o resultado útil do processo. Em outras palavras, após a instauração
do incidente de desconsideração da personalidade jurídica, o art. 135 do CPC determina
que o integrante da pessoa jurídica deve ser citado para manifestação e requerimento de
provas no prazo de 15 (quinze) dias, o que pode envolver o risco de haver desvio ou
ocultação de bens por parte de sócios, administradores e pessoas jurídicas que podem ter
seu patrimônio constrito.
Nessas hipóteses, deve ser formulado o pedido de instauração do incidente de
desconsideração da personalidade jurídica e, concomitantemente, o pedido de concessão
de tutela provisória de urgência previsto pelos arts. 300 e seguintes do CPC. Isso permite
que o incidente seja instaurado, a tutela provisória de urgência para assegurar o resultado
útil do processo seja concedida e, depois, que seja realizada a citação das pessoas
indicadas pelo autor do pedido incidente.
Nesse sentido é o magistério de Fredie Didier Jr., para quem “aplica-se ao
incidente de desconsideração da personalidade jurídica o regime da tutela provisória da

27
Nesse sentido é o comentário de Nelson Nery Jr. e Rosa Maria de Andrade Nery sobre o art. 137 do CPC:
“A intenção do dispositivo é punir a conduta do sócio ou administrador que aliena bens no curso do
incidente de desconsideração. Todavia, parece mais correto considerar que a ineficácia da alienação ou
oneração de bens ocorrida nessa situação incida apenas caso ocorram após a citação do sócio ou
administrador para responder aos ternos do incidente, ou após algum fato que dê a entender que tais pessoas
tinham ciência da instauração” (Comentários ao código de processo civil, p. 575). No mesmo sentido é a
posição de José Miguel Garcia Medina, para quem “a citação referida no § 3º do art. 792 é aquela prevista
no art. 135 do CPC/2015: citado o sócio ou a pessoa jurídica para manifestar-se sobre o pedido de
desconsideração, o ato de alienação ou oneração de bens poderá ser considerado em fraude à execução,
observadas as demais condições previstas no art. 792 do CPC/2015” (Novo código de processo civil
comentado, p. 1.122-1.123). Gilberto Gomes Bruschi, Rita Dias Nolasco e Rodolfo da Costa Manso Real
Amadeo entendem que o momento a ser adotado como marco inicial para se considerar a alienação ou
oneração de bens como fraude à execução seria o da anotação do nome do sócio no cartório distribuidor
(Fraudes patrimoniais e a desconsideração da personalidade jurídica no código de processo civil de 2015,
p. 178, sem os destaques).

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PROCESSO CIVIL

urgência. Pode-se, então, pedir a antecipação dos efeitos da desconsideração, uma vez
preenchidos os pressupostos gerais da tutela de urgência (arts. 300 e ss., CPC)”.28
Evidentemente, melhor seria que o legislador já tivesse previsto esta hipótese de
urgência ao disciplinar o incidente de desconsideração da personalidade jurídica. Porém,
a falta de sua previsão ao lado dos arts. 133 a 137 do CPC não prejudica uma interpretação
sistemática e a combinação destes dispositivos com os dispositivos aplicáveis à tutela
provisória de urgência (arts. 300 e seguintes do CPC), adotando-se a solução acima
delineada para os casos em que há comprovado risco de comprometimento do resultado
útil do processo com a simples citação a que se refere o art. 135 do CPC. É esta a
interpretação que dá maior rendimento ao disposto no art. 5º, XXXV, da CF (“a lei não
excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça à direito”).

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aspectos processuais. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2.011.
__________________. A qualidade de parte do integrante da pessoa jurídica que
é atingido pelo ‘redirecionamento’ da execução fiscal. O terceiro no processo civil
brasileiro e assuntos correlatos: estudos em homenagem ao professor Athos Gusmão
Carneiro. Teresa Arruda Alvim Wambier, Sálvio de Figueiredo Teixeira, Petrônio

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