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Acórdão Nº 1829704
EMENTA
2. Sendo evidente que, ao invés de peticionar nos autos para suscitar a nulidade da intimação, o
causídico que representava a parte recorrente optou por permanecer silente, a partir do seu primeiro
acesso aos autos , na fase de cumprimento do julgado, são devidas as sanções previstas no art. 523, §
1º, do CPC (nulidade de algibeira). Precedente.
ACÓRDÃO
RELATÓRIO
Por meio do presente recurso, Eurides Brito da Silva pretende obter a reforma da respeitável decisão do
Juízo da 6ª Vara da Fazenda Pública do Distrito Federal, que rejeitou impugnação ao cumprimento de
sentença, afastando a afirmada nulidade do processo por ausência de intimação. De acordo com a
decisão agravada, apesar de os advogados da recorrente terem substabelecido, sem reserva de poderes,
em maio de 2015, um dos advogados substabelecidos acessou os autos em abril de 2023, a partir da
instauração do cumprimento de sentença. Decidiu-se, portanto, que a ausência de intimação do
advogado constituído não trouxe prejuízo apto a ensejar a necessidade da decretação da nulidade. Além
disso, o ilustre magistrado singular consignou que não se afigurava necessária a intimação pessoal da
parte, uma vez que o trânsito em julgado ocorreu em 12/02/22, menos de um ano antes da deflagração
do cumprimento de sentença.
Em suas razões, a agravante salienta que, na instância extraordinária, as publicações foram realizadas
em nome dos advogados substabelecidos/substabelecentes com reserva de poderes. No entanto,
retornando os autos à origem, as intimações foram direcionadas aos advogados que substabeleceram
sem reserva, circunstância que culminou em prejuízo, pois, não intimada validamente, não pôde
realizar o pagamento do crédito sem os encargos acessórios que incidiram no curso do cumprimento de
sentença. Afirma que o acesso dos autos por um dos advogados constituídos não é capaz de afastar a
invalidade, ante o pedido expresso de que as publicações se realizassem em nome de outro profissional.
Sustenta que, no mínimo, se impunha a republicação da decisão que intimou a recorrente para adimplir
voluntariamente o crédito exequendo, sobretudo porque transcorreu mais de um ano entre o trânsito em
julgado da sentença (em relação à recorrente) e a deflagração da fase executória. Aduz que não interpôs
recurso extraordinário, de forma que o provimento jurisdicional condenatório em seu desfavor transitou
em julgado em 26/08/20, uma vez que, segundo alega, cuida-se de litisconsórcio facultativo não
unitário. Requer a concessão de efeito suspensivo e que, ao fim, o agravo de instrumento seja provido
para declarar nulas as intimações realizadas desde o retorno dos autos da instância superior ou, ao
menos, para determinar a republicação da decisão que a intimou para pagamento do débito e para
ordenar sua intimação pessoal.
O efeito suspensivo foi deferido, em termos, com a paralisação de atos constritivos em desfavor da
recorrente.
A parte recorrida apresentou resposta (ID nº 53905262), em que sustenta o acerto da decisão agravada
e requer seja negado provimento ao recurso.
É o relatório.
VOTOS
Por outro lado, instaurado o cumprimento de sentença menos de um ano após o trânsito em julgado do
provimento condenatório proferido em desfavor da recorrente, reputa-se descabida sua intimação
pessoal. Nesse sentido:
(...)
2. A regra prevista no art. 523 do CPC preceitua que, em caso de cumprimento de sentença que
reconheça a exigibilidade de obrigação de pagar quantia certa, como no caso, o devedor será
intimado para efetuar o pagamento no prazo de 15 (quinze) dias.
2.1. A intimação, caso o devedor tenha advogado constituído nos autos, deve ocorrer em nome do
mencionado patrono, por meio de publicação no Diário de Justiça, como dispõe o art. 513, § 2º, inc.
I, do CPC.
3. No caso em exame observa-se que a devedora tem advogado constituído nos autos do processo.
Além disso, o requerimento alusivo à instauração da fase de cumprimento de sentença foi
protocolado antes do transcurso do prazo de 1 (um) ano contado a partir da data do trânsito em
julgado da sentença. Por essa razão é desnecessária a intimação pessoal da devedora para que
proceda ao adimplemento voluntário da obrigação. Basta que o procurador constituído nos autos do
processo seja intimado por meio de publicação oficial.
Observa-se, ademais, que, durante a fase de cumprimento do julgado, as intimações foram realizadas
em nome do advogado que não mais detinha poderes de representação da parte. No entanto, conforme
declarou o ilustre magistrado singular, o advogado Otávio Papaiz Gatti passou a acompanhar o
processo desde 03/04/23, momento em que, inequivocamente, passou a ter conhecimento da cobrança
em nome da parte recorrente. A partir do primeiro acesso aos autos, referido advogado deveria ter
peticionado informando o vício de nulidade da intimação para cumprimento do julgado, não podendo
a parte ser premiada pela desídia do patrono que a representa (que, com a devida vênia, optou por
manter-se omisso para, posteriormente, suscitar nulidade de algibeira, pretendendo favorecê-la). Nesse
sentido:
1. Recurso tirado de cumprimento de sentença no qual a parte demandada foi intimada validamente,
na forma do art. 274, parágrafo único, do CPC.
3. Sobreleva-se que inexiste justificativa da razão pela qual a tese de suposta ausência de intimação
não ter sido anunciada nos autos na primeira oportunidade possível, e não somente muito tempo
depois, quando melhor lhe interessasse.
5. Ausentes irregularidade nas intimações, a r. decisão a quo deve ser mantida incólume.
Daí porque as sanções previstas no art. 523, § 1º, do CPC, são devidas, in casu, a partir do primeiro
acesso aos autos do causídico substabelecido, porque, nesse momento, operou-se a ciência da
recorrente quanto aos atos processuais até então praticados.
Dessa forma, dou parcial provimento ao agravo de instrumento, a fim de impor, à agravante, o
pagamento das sanções previstas no art. 523, § 1º, do CPC, desde 03/04/23.
É como voto.