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Poder Judiciário da União

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS


TERRITÓRIOS

Órgão 4ª Turma Cível

Processo N. AGRAVO DE INSTRUMENTO 0744193-87.2023.8.07.0000

AGRAVANTE(S) EURIDES BRITO DA SILVA

AGRAVADO(S) MINISTERIO PUBLICO DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITORIOS


Relator Desembargador ARNOLDO CAMANHO

Acórdão Nº 1829704

EMENTA

PROCESSO CIVIL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. INSTAURAÇÃO MENOS DE UM ANO


APÓS O TRÂNSITO EM JULGADO. INTIMAÇÃO PESSOAL. DESCABIMENTO. NULIDADE
DA INTIMAÇÃO. ACESSO AOS AUTOS PELO CAUSÍDICO SUBSTABELECIDO. NULIDADE
DE ALGIBEIRA. SANÇÕES. ART. 523, § 1º, DO CPC. INCIDÊNCIA A PARTIR DO REFERIDO
ACESSO.

1. Deflagrado o cumprimento de sentença menos de um ano após o trânsito em julgado da sentença


condenatória, revela-se descabida a intimação pessoal da parte, bastando que seja intimada por meio de
seus advogados.

2. Sendo evidente que, ao invés de peticionar nos autos para suscitar a nulidade da intimação, o
causídico que representava a parte recorrente optou por permanecer silente, a partir do seu primeiro
acesso aos autos , na fase de cumprimento do julgado, são devidas as sanções previstas no art. 523, §
1º, do CPC (nulidade de algibeira). Precedente.

3. Agravo de instrumento parcialmente provido.

ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 4ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito


Federal e dos Territórios, ARNOLDO CAMANHO - Relator, MARIO-ZAM BELMIRO - 1º Vogal e
AISTON HENRIQUE DE SOUSA - 2º Vogal, sob a Presidência do Senhor Desembargador
ARNOLDO CAMANHO, em proferir a seguinte decisão: DAR PARCIAL PROVIMENTO AO
RECURSO. UNÂNIME, de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.

Brasília (DF), 15 de Março de 2024

Desembargador ARNOLDO CAMANHO


Presidente e Relator

RELATÓRIO

O Senhor Desembargador ARNOLDO CAMANHO DE ASSIS - Relator

Por meio do presente recurso, Eurides Brito da Silva pretende obter a reforma da respeitável decisão do
Juízo da 6ª Vara da Fazenda Pública do Distrito Federal, que rejeitou impugnação ao cumprimento de
sentença, afastando a afirmada nulidade do processo por ausência de intimação. De acordo com a
decisão agravada, apesar de os advogados da recorrente terem substabelecido, sem reserva de poderes,
em maio de 2015, um dos advogados substabelecidos acessou os autos em abril de 2023, a partir da
instauração do cumprimento de sentença. Decidiu-se, portanto, que a ausência de intimação do
advogado constituído não trouxe prejuízo apto a ensejar a necessidade da decretação da nulidade. Além
disso, o ilustre magistrado singular consignou que não se afigurava necessária a intimação pessoal da
parte, uma vez que o trânsito em julgado ocorreu em 12/02/22, menos de um ano antes da deflagração
do cumprimento de sentença.

Em suas razões, a agravante salienta que, na instância extraordinária, as publicações foram realizadas
em nome dos advogados substabelecidos/substabelecentes com reserva de poderes. No entanto,
retornando os autos à origem, as intimações foram direcionadas aos advogados que substabeleceram
sem reserva, circunstância que culminou em prejuízo, pois, não intimada validamente, não pôde
realizar o pagamento do crédito sem os encargos acessórios que incidiram no curso do cumprimento de
sentença. Afirma que o acesso dos autos por um dos advogados constituídos não é capaz de afastar a
invalidade, ante o pedido expresso de que as publicações se realizassem em nome de outro profissional.
Sustenta que, no mínimo, se impunha a republicação da decisão que intimou a recorrente para adimplir
voluntariamente o crédito exequendo, sobretudo porque transcorreu mais de um ano entre o trânsito em
julgado da sentença (em relação à recorrente) e a deflagração da fase executória. Aduz que não interpôs
recurso extraordinário, de forma que o provimento jurisdicional condenatório em seu desfavor transitou
em julgado em 26/08/20, uma vez que, segundo alega, cuida-se de litisconsórcio facultativo não
unitário. Requer a concessão de efeito suspensivo e que, ao fim, o agravo de instrumento seja provido
para declarar nulas as intimações realizadas desde o retorno dos autos da instância superior ou, ao
menos, para determinar a republicação da decisão que a intimou para pagamento do débito e para
ordenar sua intimação pessoal.

O efeito suspensivo foi deferido, em termos, com a paralisação de atos constritivos em desfavor da
recorrente.

A parte recorrida apresentou resposta (ID nº 53905262), em que sustenta o acerto da decisão agravada
e requer seja negado provimento ao recurso.
É o relatório.

VOTOS

O Senhor Desembargador ARNOLDO CAMANHO - Relator

Observa-se, do instrumento de ID nº 116457476, p. 57, que os poderes conferidos a Paulo Corrêa e


Paulo Machado foram substabelecidos sem reserva aos advogados José Eduardo Rangel de Alckmin e
José Augusto Rangel de Alckmin, em 13/02/11. Tais advogados, por sua vez, substabeleceram, com
reserva, aos advogados Otávio Papaiz Gatti e Ary Martins Costa Alcântara (idem, p. 58). Durante o
processamento do feito na instância extraordinária, as intimações foram realizadas em nome dos
citados advogados, sendo inequívoco que os advogados substabelecidos tiveram ciência do trânsito
em julgado (ID nº 116457491), quando o cumprimento voluntário passou a ser possível à recorrente.

Por outro lado, instaurado o cumprimento de sentença menos de um ano após o trânsito em julgado do
provimento condenatório proferido em desfavor da recorrente, reputa-se descabida sua intimação
pessoal. Nesse sentido:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROCESSUAL CIVIL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA.


OBRIGAÇÃO DE PAGAR QUANTIA CERTA. INTIMAÇÃO DO DEVEDOR. PUBLICAÇÃO EM
NOME DO ADVOGADO. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.

(...)

2. A regra prevista no art. 523 do CPC preceitua que, em caso de cumprimento de sentença que
reconheça a exigibilidade de obrigação de pagar quantia certa, como no caso, o devedor será
intimado para efetuar o pagamento no prazo de 15 (quinze) dias.

2.1. A intimação, caso o devedor tenha advogado constituído nos autos, deve ocorrer em nome do
mencionado patrono, por meio de publicação no Diário de Justiça, como dispõe o art. 513, § 2º, inc.
I, do CPC.

3. No caso em exame observa-se que a devedora tem advogado constituído nos autos do processo.
Além disso, o requerimento alusivo à instauração da fase de cumprimento de sentença foi
protocolado antes do transcurso do prazo de 1 (um) ano contado a partir da data do trânsito em
julgado da sentença. Por essa razão é desnecessária a intimação pessoal da devedora para que
proceda ao adimplemento voluntário da obrigação. Basta que o procurador constituído nos autos do
processo seja intimado por meio de publicação oficial.

4. Recurso conhecido e provido” (Acórdão 1778179, 07359116020238070000, Relator: ALVARO


CIARLINI, 2ª Turma Cível, data de julgamento: 25/10/2023, publicado no DJE: 14/11/2023. Pág.:
Sem Página Cadastrada).

Observa-se, ademais, que, durante a fase de cumprimento do julgado, as intimações foram realizadas
em nome do advogado que não mais detinha poderes de representação da parte. No entanto, conforme
declarou o ilustre magistrado singular, o advogado Otávio Papaiz Gatti passou a acompanhar o
processo desde 03/04/23, momento em que, inequivocamente, passou a ter conhecimento da cobrança
em nome da parte recorrente. A partir do primeiro acesso aos autos, referido advogado deveria ter
peticionado informando o vício de nulidade da intimação para cumprimento do julgado, não podendo
a parte ser premiada pela desídia do patrono que a representa (que, com a devida vênia, optou por
manter-se omisso para, posteriormente, suscitar nulidade de algibeira, pretendendo favorecê-la). Nesse
sentido:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. INTIMAÇÕES. PUBLICAÇÃO


DO ATO NO ÓRGÃO OFICIAL. NULIDADE NÃO VERIFICADA. ACESSO CONSTANTE AOS
AUTOS DO PROCESSO ELETRÔNICO PELO PJE POR PARTE DO ADVOGADO. CIÊNCIA
INEQUÍVOCA DOS ATOS PROCESSUAIS. NULIDADE DE ALGIBEIRA. INDEVIDA. DECISÃO
MANTIDA.

1. Recurso tirado de cumprimento de sentença no qual a parte demandada foi intimada validamente,
na forma do art. 274, parágrafo único, do CPC.

2. No tocante a intimação do advogado, no caso concreto, verifica-se a particularidade de que desde


o início da fase de cumprimento de sentença, o causídico consulta praticamente semanalmente os
autos pelo sistema Pje, cujo registro ficou gravado no ‘acesso de terceiros’, logo, não há que falar
em nulidade por ausência de intimação.

3. Sobreleva-se que inexiste justificativa da razão pela qual a tese de suposta ausência de intimação
não ter sido anunciada nos autos na primeira oportunidade possível, e não somente muito tempo
depois, quando melhor lhe interessasse.

4. Trata-se da denominada ‘nulidade de algibeira ou de bolso’, situação na qual a parte deixa de


arguir a nulidade na primeira oportunidade, guardando-a para suscitar em momento processual que
lhe parecer mais conveniente. Estratégias de defesa que não demonstram boa-fé, cooperação e que
tumultuam o andamento do processo devem ser rechaçadas.

5. Ausentes irregularidade nas intimações, a r. decisão a quo deve ser mantida incólume.

6. Agravo de instrumento conhecido e não provido” (Acórdão 1409224, 07400598520218070000,


Relator: ARQUIBALDO CARNEIRO PORTELA, 8ª Turma Cível, data de julgamento: 17/3/2022,
publicado no DJE: 1/4/2022. Pág.: Sem Página Cadastrada).

Daí porque as sanções previstas no art. 523, § 1º, do CPC, são devidas, in casu, a partir do primeiro
acesso aos autos do causídico substabelecido, porque, nesse momento, operou-se a ciência da
recorrente quanto aos atos processuais até então praticados.

Dessa forma, dou parcial provimento ao agravo de instrumento, a fim de impor, à agravante, o
pagamento das sanções previstas no art. 523, § 1º, do CPC, desde 03/04/23.

É como voto.

O Senhor Desembargador MARIO-ZAM BELMIRO - 1º Vogal


Com o relator
O Senhor Desembargador AISTON HENRIQUE DE SOUSA - 2º Vogal
Com o relator
DECISÃO

DAR PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO. UNÂNIME

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