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Acórdão Nº 1647091
EMENTA
1. A legitimidade é a pertinência subjetiva de uma parte para integrar a relação processual. Segundo a
teoria da asserção, a legitimidade ad causam é aferida conforme as afirmações feitas na petição
inicial.Conforme os fatos narrados pelo autor e o registro do imóvel, a apelante é a proprietária.
Portanto, é parte legítima para figurar no polo passivo. Preliminar de ilegitimidade passiva rejeitada.
3. O CC prevê que é dever do condômino contribuir para as despesas do condomínio na proporção das
suas frações ideais (art. 1.336, I). O condômino responsável pelo pagamento é o proprietário. Não há
no ordenamento jurídico previsão de responsabilidade solidária do ocupante irregular. Logo, não há
enquadramento às hipóteses de chamamento do processo. Preliminar de nulidade da sentença rejeitada.
4. As despesas condominiais são obrigações propter rem – obrigações reais – que aderem à coisa e
obrigam quem quer que seja seu titular. Eventual alteração subjetiva do direito real sobre o bem impõe
ao novo dono a responsabilidade imediata e automática pelas dívidas condominiais, inclusive sobre
aquelas vencidas antes da aquisição do direito. Dispõe o art. 1.345 do CC que o adquirente de unidade
responde pelos débitos do alienante em relação ao condomínio, inclusive multas e juros moratórios.
5. Na hipótese, a apelante comprou o imóvel, conforme averbado ao registro. Portanto, é responsável
pelas despesas condominiais, ainda que anteriores à compra. Todavia, para evitar o enriquecimento
ilícito, é possível que exerça direito de regresso contra terceiros (vendedor ou ocupante) pelos débitos
gerados no período em que não exerceu a posse em razão da demora na imissão.
ACÓRDÃO
RELATÓRIO
Trata-se de apelação cível interposta por MARTINHA BATISTA DA SILVA contra sentença da 4ª
Vara Cível de Taguatinga proferida nos autos da ação de conhecimento ajuizada por CONDOMÍNIO
EDIFÍCIO SAINT ETIENNE-II contra a apelante.
Em suas razões (ID 40709787), alega que: 1) comprou o imóvel da Caixa Econômica Federal em
setembro de 2020; 2) no período relativo à cobrança, o bem era ocupado irregularmente por terceiro; 3)
sua imissão na posse do imóvel ocorreu em 31/5/2022; 4) os débitos anteriores a essa data devem ser
cobrados do ocupante irregular ou da Caixa Econômica; 5) o ocupante do imóvel deve ser chamado a
integrar a lide, por ser devedor solidário; 6) é parte ilegítima para figurar no polo passivo.
Requer, ao final, o provimento do recurso para que seja declarada a nulidade da sentença e seja
chamado ao processo o ocupante irregular. Ainda, o reconhecimento de sua ilegitimidade passiva. No
mérito, sejam julgados improcedentes os pedidos do autor e seja invertido o ônus da sucumbência.
É o relatório.
VOTOS
1. CONHECIMENTO
2. PRELIMINARES
A legitimidade é a pertinência subjetiva de uma parte para integrar a relação processual. Segundo a
teoria da asserção, a legitimidade ad causam é aferida conforme as afirmações feitas na petição
inicial.
Os fatos narrados pelo autor indicam que a apelante é proprietária do apartamento que gerou a dívida.
No registro do imóvel, consta que a apelante o comprou da Caixa Econômica Federal (ID 40709299).
Portanto, à luz da narrativa da petição inicial, a apelante – por ser proprietária – é parte legítima para
figurar no polo passivo.
Rejeito a preliminar.
2.2 CHAMAMENTO AO PROCESSO
Nos termos do § 1º, III, é admissível o chamamento, requerido pelo réu, dos demais devedores
solidários, quando o credor exigir de um ou de alguns o pagamento da dívida comum. Além disso,
podem ser chamados o afiançado, na ação em que o fiador for réu (I) e os demais fiadores, na ação
proposta contra um ou alguns deles (II).
De acordo com o art. 264 do Código Civil – CC, há solidariedade quando na mesma obrigação
concorre mais de um devedor, cada um obrigado à dívida toda. Dispõe o art. 265 do CC que a
solidariedade não se presume: resulta da lei ou da vontade das partes.
O CC prevê que é dever do condômino contribuir para as despesas do condomínio na proporção das
suas frações ideais, salvo disposição em contrário na convenção (art. 1.336, I). O condômino
responsável pelas despesas é o proprietário. Há hipóteses em que o ordenamento jurídico prevê,
expressamente, a responsabilidade solidária de terceiros pelo pagamento de tais despesas, a exemplo
do locatário (art. 22, X, da Lei nº 8.245/91).
A apelante afirma que, quando comprou o imóvel da Caixa Econômica, em outubro de 2020, o
ocupante nele já residia. Não há no ordenamento jurídico previsão de responsabilidade solidária de
ocupante irregular. Por isso, não há enquadramento às hipóteses de chamamento do processo.
3. MÉRITO
As despesas condominiais são obrigações propter rem – obrigações reais – que aderem à coisa e
obrigam quem quer que seja seu titular. Eventual alteração subjetiva do direito real sobre o bem impõe
ao novo dono a responsabilidade imediata e automática pelas dívidas condominiais, inclusive sobre
aquelas vencidas antes da aquisição do direito.
Dispõe o art. 1.345 do CC que: “o adquirente de unidade responde pelos débitos do alienante em
relação ao condomínio, inclusive multas e juros moratórios”. Logo, o proprietário é o responsável pelo
pagamento, ainda que não exerça a posse direta do bem.
Na hipótese, a apelante comprou o imóvel, conforme averbado ao registro (ID 40709299). Portanto, é
responsável pelas despesas condominiais, ainda que anteriores à compra. Todavia, para evitar o
enriquecimento ilícito, é possível o exercício do direito de regresso contra terceiros (vendedor ou
ocupante, conforme o caso) pelos débitos gerados no período em que não exerceu a posse.
4. DISPOSITIVO
Nos termos do art. 85, § 11, do CPC, majoro os honorários de sucumbência para 12% sobre o valor da
condenação.
É como voto.
DECISÃO