ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
-EMERJ-
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO PARA A
CARREIRA DA MAGISTRATURA
PROGRAMA DO CURSO
CPIII B 1 2023 – TÉCNICA DE SENTENÇA
As aulas do módulo serão ministradas nas seguintes datas: 26/05, 29/05 e
30/05.
SESSÃO III: Dia 29/05/2023 - 8h às 9h 50min
Prof. Dr. Marco Antônio Azevedo Júnior
TEMA: Direito Penal. Crime contra a Pessoa.
CASO CONCRETO:
Trata-se de ação penal ajuizada pelo Ministério Público do Estado do
Rio de Janeiro em face de Maria Bianca. Consta que, no dia 10 de outubro de 2020, entre 18:00h e 19:20h, na rua Bernardo de Oliveira, n. 104, no bairro Penha, Rio de Janeiro, a denunciada, de forma livre e consciente, deixou seus filhos menores impúberes Enzo, de um ano e quatro meses, e Maria, de seis anos, sozinhos no apartamento. Narra que, no dia dos fatos, populares acionaram a Polícia Militar após avistarem o menor Enzo com metade do corpo pendurado na mureta da varanda de um apartamento, situado no 4º andar. Ato contínuo, os policiais que atenderam a ocorrência entraram no imóvel e conseguiram pegar Enzo no colo, afastando, portanto, o perigo de morte. Aduzem que, somente após a bem sucedida ação policial que salvou a vida de Enzo, a ré chegou ao local, ocasião em que foi presa em flagrante. Dessa forma, O Ministério Público pede a condenação no tipo penal pertinente. Em resposta à acusação, Maria Bianca alega que tinha um terceiro filho, Josias, que estava doente, por isso havia saído por um breve período de tempo para levar o filho a um posto de saúde próximo da resideância. Pede a absolvição sumária em razão de os fatos não configurarem crime. Em juízo, a testemunha Eduardo, policial militar, relata que estava de serviço na data do fato e foi abordado por populares que lhe disseram que havia uma criança pendurada na varanda de um prédio; que conseguiu adentrar no prédio pela porta da garagem e arrombou a porta do apartamento que estava trancado; que a criança estava em cima de um banco com metade do corpo para fora, enquanto a outra criança estava deitada na varanda, todas sozinhas em casa; que os vizinhos disseram que era costumeiro ela fazer isso. Em juízo, a testemunha Roberto, policial militar, relata que estava de serviço com seu colega de farda, quando lhe disseram que havia uma criança pendurada na varanda de um prédio; que arrombou a porta do apartamento que estava trancada; que a criança estava em cima de um banco com metade do corpo para fora, enquanto a outra criança estava deitada. A Ré não foi interrogada, pois, mesmo intimada, não compareceu à audiência, conforme certidão de fl. 160. Em alegações finais, O Ministério Público afirma que a autoria e a materialidade estão presentes, razão pela qual reiteram o pedido de condenação. Em alegações finais, Maria Bianca invoca a atipicidade dos fatos e ressalta que a situação foi urgente, haja vista que precisou sair por um curto período e, ao fazê-lo, deixou as crianças dormindo e imaginou que elas não fossem acordar tão cedo. Aduz que cria os filhos sozinha, pois o pai é usuário de entorpecentes. Alega que o depoimento dos policiais não podem servir de prova única para a condenação, pois participaram da prisão e têm interesse na condenação. Diante do exposto, Maria Bianaca pede: a) a absolvição da acusada com fulcro no art. 386, VII do Código de Processo Penal, diante da ausência de dolo e pelo pleito condenatório ter base somente o depoimento dos policiais; b) subsidiariamente, deve a pena ser aplicada no patamar mínimo legal; c) que seja fixado o regime aberto para início de cumprimento de pena. Registro de ocorrência às fls. 13-14. Registro de ocorrência aditado às fls. 46-48. FAC daré às fls. 49-52, sem nenhuma anotação. Decisão concedendo a liberdade provisória à ré à fl. 55. Capitule os fatos e elabore a sentença.