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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA SEGUNDA VARA CRIMINAL

DA COMARCA DE RIO DE JANEIRO - RJ

Processo nº: 000000-00.2021.8.07.21212

A Polícia Civil do estado do Rio de Janeiro, pelos Delegados de Polícia que esta subscrevem,
vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, nestes autos que tratam dos crimes
de Tortura e Homicídio Duplamente Qualificado, por Emprego de Tortura e Recurso que
Causou a Impossibilidade de Defesa da Vítima, cometido contra HENRY BOREL MEDEIROS,
apresentar RELATÓRIO FINAL DE INQUÉRITO POLICIAL e representar por decretação de
PRISÃO PREVENTIVA em desfavor de JAIRO SOUZA SANTOS JUNIOR e MONIQUE
MEDEIROS DA COSTA SILVA DE ALMEIDA, nos termos que seguem:

I-DOS FATOS

Consta dos autos que, no dia 08 de março de 2021, nesta Delegacia Policial, compareceu
LENIEL BOREL DE ALMEIDA JÚNIOR, a fim de comunicar o falecimento de seu filho HENRY
BOREL MEDEIROS, uma CRIANÇA de QUATRO ANOS de idade. Segundo as oitivas
preliminares, a criança teria sido encontrada caída ao chão, hipotérmica e sem consciência, ao
lado da cama, no apartamento onde residia com a mãe e padrasto, situado à Avenida Vice
Presidente José de Alencar, nº. 1455, bloco 1, apartamento 203, condomínio Majestic, Cidade
Jardim e, embora levada ao Hospital Barra D`Or, onde foram realizadas manobras médicas, se
constatou o óbito. Removido o corpo para o IML, após periciado, foi confeccionado o Laudo de
Exame de Necropsia que apontou que houve morte, decorrente de AÇÃO CONTUNDENTE,
que causou HEMORRAGIA INTERNA e LACERAÇÃO HEPÁTICA. Há de se destacar que o
mesmo Laudo também apontou outras lesões extremamente significativas, a saber: “o abdome,
que é plano, com múltiplas equimoses violáceas, assim como em dorso”; “infiltração parietal
direita e occipital” (lesões na cabeça, portanto); “o encéfalo encontra se edemaciado, com
alargamento das circunvoluções e apagamento dos sulcos, ausência de infiltrações
hemorrágicas”; “presença de grande quantidade de sangue em abdômen, de contusão renal à
direita”; “presença de trauma com contusão pulmonar, principalmente à direita; os pulmões
exibem áreas de contusão que, aos cortes, dão saída a líquido avermelhado espumoso”;
“presença de hematoma retro aórtico”; “cavidade peritoneal contém sangue, presença de
laceração hepática à direita e hemorragia retroperitoneal”.

LENIEL BOREL DE ALMEIDA JUNIOR, pai de HENRY BOREL MEDEIROS, de quatro anos de
idade, foi quem noticiou em sede policial o falecimento de seu filho, após ser orientado no
Hospital Barra D´Or no sentido de que o corpo teria que ser encaminhado ao IML, para
realização de exame de necropsia, uma vez que não havia um diagnóstico causal para atestar
aquele óbito e diante do estado em que a criança deu entrada no nosocômio, qual seja,
tecnicamente morta, com uma série de equimoses pelo corpo e apresentando rigidez
mandibular. Cumpre consignar que LENIEL prestou declarações em sede policial naquele
primeiro momento, tendo sido solicitada a remoção do corpo do Hospital Barra D´Or para
verificação de óbito junto ao IML, antes, portanto, de tomar conhecimento do teor do laudo de
exame de necropsia e da causa da morte, que veio a ser “HEMORRAGIA INTERNA e
LACERAÇÃO HEPÁTICA decorrentes de AÇÃO CONTUNDENTE”. Relatou que em
06/03/2021 pegou seu filho para passarem juntos o final de semana e, no sábado, foram a uma
festa infantil. Já no domingo, dia 07/03/2021, foram ao parquinho do Américas Shopping e, por
volta das 19h, entregaram a criança para a mãe. Por volta das 20h do dia 07/03/2021, ainda
recebeu uma foto de MONIQUE, na qual HENRY aparece deitado na cama. Na madrugada do
dia 08/03/2021, por volta das 04h30min, LENIEL disse ter recebido uma ligação de MONIQUE,
pedindo para que fosse ao Hospital Barra D´Or, uma vez que HENRY estava sem respirar.
Chegando ao hospital, encontrou MONIQUE e JAIRO, que disseram que HENRY teria feito um
barulho estranho durante a madrugada, e, quando eles foram até o quarto verificar o que
estava acontecendo, viram que a criança estava com os olhos virados e com dificuldade de
respirar. Segundo MONIQUE, a mesma fez respiração boca-a-boca até chegar ao hospital,
apesar de JAIRO ser médico e ela não ter nenhuma expertise médica ou de primeiros socorros.
LENIEL chegou a presenciar os médicos tentando reanimar a criança, sem sucesso, tendo sido
declarado o óbito às 05h42min. Por fim, disse que o corpo médico não soube explicar a causa
da morte.
II – DO MÉRITO

O segundo depoimento de THAYNA, babá da vítima, é extremamente claro ao narrar três


episódios em que JAIRINHO agrediu HENRY, especificamente em 02 de fevereiro, em 12 de
fevereiro e na última semana de fevereiro de 2021, sendo que, quanto ao último, não foi
informada data certa. Ressalte-se que THAYNA ainda dá a entender, durante o diálogo extraído
de seu aparelho celular em 02 de fevereiro com seu noivo, que aquela não foi a primeira
situação de violência à qual o menino era submetido. Os laudos decorrentes da extração de
dados dos telefones de MONIQUE e THAYNA apontam, claramente, o episódio de violência em
que HENRY foi submetido por JAIRINHO em 12 de fevereiro de 2021, pouco menos de um
mês antes do crime. A seriedade do evento é cabalmente demonstrada até pelo fato de
HENRY ter sido levado ao Hospital Real D´Or no dia seguinte, 13 de fevereiro, onde foi
submetido, inclusive, a exame de radiografia. Há, ainda, de se destacar que MONIQUE mentiu
na ocasião, tendo declarado no nosocômio que HENRY havia caído da cama, porém, conforme
já bastante exposto, ela sabia o que de fato havia ocorrido. Neste aspecto, ROSANGELA,
empregada do casal, também corroborou parte desta dinâmica do segundo evento em seu
segundo depoimento. As provas acima foram ainda ratificadas pelo laudo de extração do
telefone de THAYNA, no qual mais prints foram destacados e demonstram, inclusive,
SECRETARIA DE POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO DEPARTAMENTO
GERAL DE POLÍCIA DA CAPITAL 16ª DELEGACIA DE POLÍCIA que AS AGRESSÕES E
SITUAÇÕES DE VIOLÊNCIA ERAM BEM MAIS GRAVES DO QUE FOI NARRADO POR ELA
EM SEDE POLICIAL, MESMO EM SEU SEGUNDO DEPOIMENTO. DA REPRESENTAÇÃO
POR PRISÃO PREVENTIVA

O crime tratado nestes autos é dotado de gigantesca brutalidade, a ponto de ter causado
grande comoção nacional. Ainda, conforme exaustivamente exposto, no decorrer das
investigações houve interferência em depoimentos e coação de testemunhas, bem como não
há como se relegar que só foi possível a localização e prisão dos indiciados porque lançamos
mão de vigilância que nos permitiu conhecer seu paradeiro, uma vez que se encontravam em
endereço não informado nos autos. Nesse contexto, cabe destacar que, conforme consta do
laudo de extração do segundo aparelho celular de MONIQUE apreendido, em apenso físico, os
indiciados se mostraram preocupados em serem localizados pelas autoridades, tendo
MONIQUE chegado a indagar se a polícia teria acesso à localização do aplicativo Instagram e
se conseguiria encontrá-los através desta ferramenta. Além disso, o casal procurava por uma
residência, fora da cidade, tendo trocado diversos anúncios de casas de luxo disponíveis para
aluguel e venda, evidenciando a intenção de se furtarem à aplicação da lei penal. Tais
aspectos, salvo melhor juízo, demonstram a necessidade da manutenção dos indiciados sob
custódia, para resguardar a ordem pública, por ser absolutamente conveniente à instrução
criminal e também para garantir a aplicação da lei penal. SECRETARIA DE POLÍCIA CIVIL DO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO DEPARTAMENTO GERAL DE POLÍCIA DA CAPITAL 16ª
DELEGACIA DE POLÍCIA Assim, com fulcro nos artigos 312 e 313, I do Código de Processo
Penal, representamos pela decretação da PRISÃO PREVENTIVA de JAIRO SOUZA SANTOS
JUNIOR e de MONIQUE MEDEIROS DA COSTA SILVA DE ALMEIDA. Consigno que, (a) além
dos autos eletrônicos, há um apenso físico em que há pontos destacados dos laudos de
extração dos aparelhos celulares apreendidos; (b) o boletim de atendimento médico (BAM) do
hospital Real D´Or será encaminhado ao IML, a fim de que seja realizado o Laudo de Exame
Indireto; (c) será gerado um procedimento autônomo para apuração do crime de falso
testemunho praticado por THAYNA DE OLIVEIRA FERREIRA. Por fim, visando lastrear as
investigações do inquérito policial que apura crime de falso testemunho, as Autoridades
Policiais signatárias representam pelo compartilhamento de provas em relação ao laudo pericial
de extração de conteúdo do aparelho celular de THAYNA DE OLIVEIRA FERREIRA.
Nestes termos, Pede deferimento.

Rio De Janeiro - RJ, 11 de junho de 2019.

xxxxxxxxxxxxxxx
Advogado
oab/ms nº 35.555

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