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COMARCA DE _____________/UF.
Autos nº. XXXXXXXXXX
INOCENTE DA SILVA, já qualificado nos autos, em epígrafe supostamente acusada de ter
cometido o delito previsto nos artigo 133, § 3º, inciso II, c/c artigo 29 ambos do Có digo
Penal, por seu advogado que a esta subscreve, com endereço profissional na Rua Antô nio
Alves de Araú jo, nº ______, CEP ________, bairro, cidade-UF, e endereço eletrô nico
__________28@gmail.com, onde recebe intimaçõ es que se fizerem necessá rias, vem à
presença de Vossa Excelência, tempestivamente apresentar RESPOSTA À ACUSAÇÃO, com
fundamento legal nos artigos 396, “caput”, e 396-A, ambos do Có digo de Processo Penal,
aduzindo os seguintes argumentos de fato e de direito.
I – GRATUIDADE DA JUSTIÇA
O denunciado requereu os benefícios da JUSTIÇA GRATUITA por ser pobre na forma da Lei,
nã o podendo arcar com as custas processuais e honorá rios advocatícios sem prejuízo do
pró prio sustento, nos termos art. 2º da Lei n.º 1.060/50 consoante art. 5º, LXXIV, da
Constituiçã o Federal.(documento acostado nos autos).
II - DOS FATOS
No dia 31 de maio de 2016, por volta das 23h, o acusado juntamente com a sua
companheira, INGÊNÚA DA SILVA foram presos, por policiais militares, pelo suposto crime
de abandono de incapaz.
No dia 01 de junho de 2016, foi registrado o Boletim de Ocorrência de nº 000000
constando no campo “descriçã o da natureza” abandono de incapaz. No referido Boletim,
constava apenas as vítimas e os imputados. Nã o existindo nenhuma outra testemunha
informada no B.O que tenha presenciado o suposto abandono de incapaz.
Ainda, no mesmo dia, à s 5h e 30min., sem as diligências obrigató rias e legais, foi registrado
na Unidade de Delegacia de Polícia da 19ª circunscriçã o, em Prazeres, o Boletim de
Ocorrência nº 1111111111 de Flagrante Delito de Abandono de Incapaz – doloso-
consumado.
Em 15 de junho de 2016 a Delegacia de Polícia da 19ª circunscriçã o gerou o Inquérito
Policial nº 197/2016, em que a delegada, Prendente de Cunha, conclui o procedimento
investigató rio, indiciando o senhor Edvilson Galdino de Aguiar e sua companheira, a
senhora Maria José Santiago Silva como incursos nas sançõ es do artigo 133, § 3º, inciso II
do Có digo Penal Brasileiro. Fundamentando, para isso, somente nos depoimentos de dois
policiais militares (Amedronto da Rocha e Broncaldo do Brejo) que atenderam a
ocorrência.
No dia 22 de junho de 2016, o Ministério Pú blico, na pessoa do Promotor de Justiça, em
exercício cumulativo, Fernando Cavalcanti Mattos, sem qualquer outra diligência, ofereceu
a denú ncia nos seguintes termos: “Consta que no dia 31 de maio de 2016, por volta das
22h50min, no interior da residência situada na Rua da Linha Velha, nº 382, bairro
Guararapes, nesta comarca, Policiais. Militares, apó s encetar diligências, constatou que os
denunciados haviam deixados seus filhos/responsá veis menores incapazes J. P. DA S. (08
anos de idade à época) e J. V. P.DA S. (05 anos na época do fato), aos cuidados de uma outra
filha menor de 17 anos, para ingerirem bebida alcoó lica, deixando-os trancados e
dispensando-os dos cuidados com a saú de e a vida das inditosas vítimas. Assim
procedendo, os denunciados INOCENTE DA SILVA e INGÊNUA DA SILVA encontram-se
incursos nas penas do artigo 133, § 3ª, inciso II c/c artigo 29, ambos do Có digo Penal
Brasileiro, pelo que requer este ó rgã o ministerial o recebimento da exordial e a instauraçã o
da persecuçã o penal. ”
Este Juízo recebeu a denú ncia, no dia 13/07/2017, nos seguintes termos: “O Ministério
Pú blico denunciou INOCENTE DA SILVA e INGÊNUA DA SILVA por infraçã o ao art. 133, §
3º, inciso 11, c/c art. 29 do Có digo Penal com a pena má xima cominada igual a 04 (quatro)
anos. A denú ncia está de acordo com o art. 41 do Có digo de Processo Penal e nã o apresenta
defeito susceptível de rejeiçã o a teor do art. 395 da lei adjetiva, razã o pela qual a recebo.
Citem-se os acusados por mandado para que respondam à acusaçã o”
O acusado teve a sua prisã o decretada, mediante decisã o deste juízo no dia 08 de fevereiro
de 2018, por nã o ter sido localizado no endereço informado. Recolhido a unidade prisional
(SOFRE BEM) em 13/03/2018, onde permaneceu preso por 07 (sete) dias. Com pedido de
revogaçã o de sua prisã o, o acusado foi posto em liberdade no dia 20/03/2018.
INOCENTE DA SILVA compareceu no dia 21/03/2018, onde foi citado pessoalmente e
notificado para apresentaçã o desta defesa escrita.
Posta assim as questõ es de fato, cumpre ressaltar que o senhor INOCENTE nã o tem
nenhum histó rico criminoso, é réu primá rio e tem bons antecedentes, onde ficará provada
que conduta criminosa capitulada na denú ncia nã o se enquadra no tipo penal de abandono
de incapaz, prevista no art. 133, caput, do Có digo Penal, trata-se de impossibilidade jurídica
do pedido, pois o fato narrado evidentemente nã o constitui crime.
III – DO DIREITO
O senhor INOCENTE foi acusado de ter praticado o delito de abandono de incapaz por ter
deixado seus enteados menores sozinhos em casa para ir ao bar com sua companheira.
Todavia, na faze extrajudicial nã o comprovou o dolo de abandonar. O que se infere nos
autos é que os menores nã o foram deixados sozinhos, ficaram aos cuidados de sua irmã
adolescente de 17 (dezessete) anos.
Consta dos autos que a prova coletada no Inquérito Policial se consubstancia apenas em
manifestaçõ es de duas testemunhas policiais. Tais provas, documentadas e embasadas
apenas em depoimentos testemunhas policiais nã o sã o só lidas para configuraçã o do
suposto crime de abandono e nã o devem ser consideradas para formar um juízo
apropriado e imparcial.
É uníssono que para imputaçã o exata do crime, as autoridades policiais deveriam proceder
à s diligencias necessá rias para a confirmaçã o do prová vel fato criminoso e sua
circunstâ ncia. O que nã o foi descrito nos autos do inquérito.
Além disso, nã o foi coletado o depoimento das pessoas e nem dos moradoras vizinhos que
denunciaram o suposto abandono. Caso fosse coletado o depoimento, teríamos um outro
â ngulo sobre o fato. Aliá s, nã o foi verificado se realmente o acusado havia abandonado seus
filhos para ir ao bar localizado a poucos metros de sua residência.
É mister entender que se a autoridade policial realizasse a devida diligência, seria
constatado que a situaçã o nã o se tratava de abandono. Haja vista que o acusado apó s sair
de seu trabalho dirigiu-se direto para casa para e em seguida saiu com sua companheira
para irem ao bar, deixando sua enteada de 17 anos tomando conta de seus irmãos
menores.
Interessante se faz notar que o acusado e sua companheira preocuparam-se em nã o deixar
os filhos sozinhos, mesmo estando o bar bem pró ximo de sua casa. Portanto, na esfera de
vigilâ ncia de seus filhos.
Ademais disso, nã o se realizou nenhuma perícia no local para provar e constatar se os
menores estavam, em situaçã o de risco de perigo e de saú de com o suposto abandono, isto
é, sem alimentaçã o, sem os cuidados mínimos, se a casa estava com as janelas, portõ es
destrancados ou abertos. Nã o foram tomadas as cautelas mínimas para verificar a real
situaçã o da denú ncia fundamentando a situaçã o do risco ou saú de dos filhos do acusado.
É inegá vel que nã o foram cumpridas providências e muito menos as diligências
necessá rias, no Inquérito Policial, que configurasse o DOLO do acusado em abandonar seus
enteados. Nã o havendo, portanto, convicçã o dentro das peças da instruçã o criminal que,
ora se torna imperfeita, para que fosse oferecida a denú ncia pelo membro do Ministério
Pú blico.
Como se pode notar, nã o foi levado em conta as diretrizes impostas pela lei Processual
Penal, que dispõ e no inciso III, do artigo 6º que: “Logo que tiver conhecimento da prática da
infração penal, a autoridade policial deverá: (...) . colher todas as provas que servirem para o
esclarecimento do fato e suas circunstâncias.
Certamente a lei processual nã o foi observada, pois veja que dentre as formalidades legais,
dispostas no citado artigo, a autoridade policial deixou de colher as provas no local do
suposto fato. Nem, ao menos, sequer interrogou moradores ou alguém da vizinhança local,
nem procurou ir ao estabelecimento em que o acusado se encontrava.
Vale destacar que o inquérito é um instrumento bá sico para instruçã o criminal e foi
realizado precariamente, sem a participaçã o do acusado, sem as diligências adequadas.
Portanto, deve ser apreciado como prova imperfeita, duvidosa e subsidiá ria.
Vossa Excelência, portanto, contará com uma instruçã o criminal duvidosa e contraditó ria,
que nã o seguiu a determinaçã o da lei Processual Penal nos seus artigos 6º e 41. É evidente
que se analise com muita contingência as peças dos autos para que se chegue a soluçã o
jurídica, eficaz e justa.
Nã o restam dú vidas que os depoimentos dos Policiais Militares em sede policial
demonstram o desconhecimento a respeito dos fatos principais e em nada colaboram para
esclarecê-los.
Em suas declaraçõ es, notadamente no APF, não se encontram subsídios suficientes que
comprovem ter o acusado a consciência e a vontade de expor em perigo concreto a
vida ou a saúde dos seus filhos.
Ademais, como vistos em linhas anteriores, a conduta narrada na denú ncia nã o comprova a
exposiçã o do incapaz a perigo concreto. Nã o há , pois justa causa para açã o penal. Forçoso é
reconhecer a atipicidade do fato.
O artigo 133, caput, do Có digo Penal possui a seguinte redaçã o:
“Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilâ ncia ou autoridade, e, por
qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono:
Pena - detençã o, de seis meses a três anos.”