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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUÍZ DE DIREITO DA XX VARA

CRIMINAL DA COMARCA DE CURITIBA DO ESTADO DO PARANÁ

AÇÃO PENAL Nº ........

JORGE..., já qualificado na denúncia oferecida pelo Ministério Público, vem, por


seus advogados, que a esta subscrevem e juntam o instrumento de mandato,
respeitosamente, perante Vossa Excelência apresentar

ALEGAÇÕES FINAIS

Com fundamento no Art. 403, §3º do Código de Processo Penal pelas razões de
fato e de direito a seguir expostos

DA SINTESE PROCESSUAL

O Acusado, de 21(vinte e um) anos de idade, conheceu Analisa, já qualificada na


denúncia, e Exequente, de 13(treze) anos de idade, no dia..., no Bar..., localizado
à rua....
Após “troca de carinhos” se retiraram para um local reservado onde tiveram
relações sexuais.
Segundo consta na proemial acusatória, o Ministério Público Estadual atribui ao
Acusado o crime tipificado no artigo 217-A do Código Penal, “conjunção carnal ou
praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (quatorze) anos ”, com agravante
conforme estabelecido no Art.61-II, alínea L, “estado de embriaguez
preordenada”.
CP-Art. 217-A.  Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de
14 (catorze) anos 
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos
§ 1o  Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no  caput  com
alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário
discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode
oferecer resistência 

“Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem
ou qualificam o crime:
...
II - ter o agente cometido o crime:
...
L - em estado de embriaguez preordenada”

Requereu, ainda, o início de cumprimento de pena no regime fechado com base


no Art. 2º, §1º, da lei 8072/90, que dispõe sobre crimes hediondos.

“Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e


drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de: 
...
§ 1º A pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em regime
fechado.”

A sustentação do parquet toma como base o fato de a “vítima” ter 13(treze) anos
de idade.
O Acusado, por ter bons antecedentes, residência fixa e ser primário, está
respondendo ao processo em liberdade.
Em Audiência de Instrução e Julgamento, a “vítima” afirmou que esta foi a sua
primeira relação sexual e que tinha o hábito de “fugir de casa” para frequentar
bares com as amigas.
As testemunhas de acusação afirmaram que não viram os jovens conversarem
nem se beijarem no bar e que não sabiam das “fugas” da Exequente.
As testemunhas de defesa, amigas de Jorge, por sua vez, disseram que o
comportamento e a vestimenta da Exequente estavam incompatíveis com menina
de 13(treze) anos e que qualquer pessoa poderia acreditar que ela fosse maior de
18(dezoito) anos. Afirmaram também que o Acusado não demonstrava sinais de
embriaguez enquanto “trocavam carinhos” e que assim permaneceu até o
momento em que se retirou do local em companhia da Exequente.
No depoimento o Acusado confirmou que se interessou por Analisa devido a sua
beleza e elegância. Disse, ainda, que não perguntou a idade dela porque o local é
frequentado por pessoas maiores de 18 anos. Admitiu que praticaram sexo oral e
vaginal, de forma espontânea e voluntária por parte de[ ambos.
A prova pericial atestou que a menor não é virgem, mas não pôde definir se o ato
denunciado foi a primeira experiência da Exequente, pois o exame não foi
realizado no prazo apto para tal diagnóstico.
Esta é a breve síntese processual.

DA TEMPESTIVIDADE

Esta peça atende a exigência do CPP – Art. 403, § 3º do CPP: intimada em 24 de


abril de 2014, a defesa vem apresentar as alegações dentro do prazo
estabelecido de 5(cinco) dias conforme dispositivo:

“Art. 403.  Não havendo requerimento de diligências, ou sendo indeferido, serão


oferecidas alegações finais orais por 20 (vinte) minutos, respectivamente, pela
acusação e pela defesa, prorrogáveis por mais 10 (dez), proferindo o juiz, a seguir,
sentença.
§ 1o  Havendo mais de um acusado, o tempo previsto para a defesa de cada um
será individual.
§ 2o  Ao assistente do Ministério Público, após a manifestação desse, serão
concedidos 10 (dez) minutos, prorrogando-se por igual período o tempo de
manifestação da defesa.
§ 3o O juiz poderá, considerada a complexidade do caso ou o número de acusados,
conceder às partes o prazo de 5 (cinco) dias sucessivamente para a apresentação
de memoriais. Nesse caso, terá o prazo de 10 (dez) dias para proferir a
sentença.”          

DA PRELIMINAR – CONCEITO DE VULNERABILIDADE

Segundo as lições de Cezar Roberto Bitencourt, o crime de estupro de vulnerável,


nos casos de vítimas menores de 14(quatorze) anos, não deve ser tratado pela
adoção rígida da vulnerabilidade absoluta, pois deve ser relativizado em casos
excepcionais.
Pugna o doutrinador, que a vulnerabilidade pode ser relativizada quando as
circunstâncias do caso concreto indicarem que não houve violação ou ameaça de
lesão ao bem jurídico tutelado:-a dignidade sexual da vítima, aplicando-se,
portanto, o “princípio da ofensividade e de lesividade”.
Assim, circunstâncias, tais como, a maturidade da vítima, seu consentimento e
sua experiência sexual anterior podem relativizar a vulnerabilidade.
É evidente que podemos também admitir que a “conjunção carnal” e “ato
libidinoso” decorrentes de relacionamentos amorosos perenes entre o “agente” e
a “vítima”, podem também ocasionar a relativização da vulnerabilidade. A este
efeito, doutrinadores chamam de “princípio da adequação social”, pois, nestes
tempos, os jovens iniciam seus relacionamentos de forma cada vez mais precoce.
Neste mesmo caminho, Guilherme de Souza Nucci (2009, p.829/830), delimitando
a relativização para vítimas adolescentes, entre 12(doze) e 13(treze) anos,
assevera:
“Partimos do seguinte ponto básico: o legislador, na área penal, continua retrógrado
e incapaz de acompanhar as mudanças de comportamento reais na sociedade
brasileira, inclusive no campo da definição de criança ou adolescente.
Perdemos uma oportunidade ímpar para equiparar os conceitos com o Estatuto da
Criança e do Adolescente, ou seja, a criança é a pessoa menor de 12 anos;
adolescente, quem tem mais de 12 anos. Logo, a idade de 14 anos deveria ser
eliminada desse cenário.
A tutela do direito penal, no campo dos crimes sexuais, deve ser absoluta, quando
se tratar de criança, menor de 12 anos, mas relativa ao cuidar do adolescente,
maior de 12 anos.”

Assim podemos questionar o seguinte:


Pode-se considerar menor, com 13(treze) anos, absolutamente vulnerável a ponto
de seu consentimento para a prática sexual ser completamente indiferente ainda
que tenha experiência sexual comprovada?

DO DIREITO

Do Erro de Tipo (CP, Art.20)

Jorge, desconhecia a idade da “vítima” e foi induzido a acreditar que ela fosse
maior de 18(dezoito) anos, pois acabavam de se conhecer num bar onde o
ingresso e a permanência são admitidos somente para pessoas a partir desta
faixa etária. Além disso, a aparência geral, a roupa e o comportamento de Analisa
eram de mulher de 18(dezoito) anos, o que foi corroborado pelos depoimentos
das testemunhas da defesa na Audiência.
Está claro que o Acusado incidiu em erro sobre o elemento constitutivo do tipo
legal:

CP-Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo,
mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei.

O Acusado, no depoimento, não fez qualquer questionamento sobre a


vulnerabilidade de Analisa, detendo-se somente no aspecto idade, e que não
perguntou-lhe a idade e que, naquelas circunstãncias, foi induzido a acreditar que
ela tivesse 18(dezoito) anos.
O STJ aborda a “ciência da idade da vítima” em Recurso Especial de 2013:

“O fato é que a condição objetiva prevista no artigo 217-A se encontra presente e,


portanto, ocorreu o crime imputado ao agravante. Basta que o agente tenha
conhecimento de que a vítima é menor de 14 anos de idade e decida com ela
manter conjunção carnal ou qualquer outro ato libidinoso, o que efetivamente se
verificou in casu (fls. 1/2, 88/95 e 146/159), para se caracterizar o crime de estupro
de vulnerável, sendo dispensável, portanto, a existência de violência ou grave
ameaça para tipificação desse crime, cuja conduta está descrita no Art. 217-A do
Código Penal” (STJ, AgRg no REsp 1407852 / SC, Rel. MINISTRO SEBASTIÃO
REIS JÚNIOR, j.05/11/2013)
Como não se pune a modalidade culposa no Código Penal, a conduta é atípica.
De fato, Analisa aparentava ter 18(dezoito) anos, segundo as testemunhas da
defesa.
Dessa forma, deve-se reconhecer a ausência do dolo na conduta do Acusado,
ensejando a absolvição em conformidade com o artigo 386-III do CPP.

Art. 386.  O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde


que reconheça:
...
III - não constituir o fato infração penal;

Do Afastamento do Concurso Material de Crime – Art. 69 – CP

Antes da reforma trazida pela lei 12.015/09, havia dois delitos: o de estupro, no
Art. 213, e o de atentado violento ao pudor, no Art. 214. Em ambos, o meio de
execução era a “violência” ou “grave ameaça”. No entanto, quando praticados
contra menores de 14(quatorze) anos, ou contra pessoas alienadas, ou débeis
mentais ou por quem não podia oferecer resistência, falava-se em “presunção de
violência”, ou seja, ainda que o agente não empregasse violência real contra a
vítima, presumia-se a sua existência em virtude da idade dela.
Por repousar em frágil alicerce, o termo “presunção” levava a inevitáveis
questionamentos. E se houvesse consentimento? E se a vítima fosse prostituta?
E se existisse relação de namoro entre autor e vítima?
Com o advento da lei 12.015/09, qualquer discussão nesse sentido foi encerrada,
pois o critério, agora, é o objetivo, a idade, e não mera presunção, que, por
natureza, é subjetiva. Pela redação atual, se a vítima for menor de 14(quatorze)
anos, seja do sexo masculino ou feminino, ocorrerá o crime, pouco importando o
seu histórico sexual. Neste sentido, STJ:

“1. O cerne da controvérsia cinge-se a saber se a conduta do recorrido, que praticou


conjunção carnal com menor que contava com 12 anos de idade, submete-se ao
tipo previsto no artigo 217-A do Código Penal, denominado estupro de vulnerável,
mesmo diante de eventual consentimento e experiência sexual da vítima. 2. para a
configuração do delito de estupro de vulnerável, são irrelevantes a experiência
sexual ou o consentimento da vítima menor de 14 anos. Precedentes. 3. Para a
realização objetiva do tipo do artigo 217-A do Código Penal, basta que o agente
tenha conhecimento de que a vítima é menor de 14 anos de idade e decida com ela
manter conjunção carnal ou qualquer outro ato libidinoso, o que efetivamente se
verificou in casu. 4. Recurso especial provido para condenar o recorrido em relação
à prática do tipo penal previsto no artigo 207-A, c/c com o Art. 71, ambos do Código
Penal, e determinar a cassação do acordo a quo, com o restabelecimento do
decisum condenatório de primeiro grau, nos termos do voto” (STJ, REsp
1371163/DF, Rel. ministro Sebastião reis Júnior, j. 25/06/2013).
“A configuração do tipo estupro de vulnerável prescinde do elementar violência de
fato ou presumida bastando que o agente mantenha a conjunção carnal ou pratique
outro ato libidinoso com menor de catorze anos, como se vê da redação do Art.
217-A, nos termos da Lei nº 12,015/2009” (EDcl no AgRg no Ag 706012 / GO, 5ª
Turma, relatora Ministra Laurita Vaz, DJe de 22/03/2010).
Assim, o tipo penal do artigo 217-A do Código Penal é misto alternativo, ou seja,
caso haja a prática de mais de uma conduta dentro do mesmo contexto fático,
deverá ser reconhecida a existência de crime único, e aplica-se aos fatos
narrados, devendo por isso ser afastado o concurso material de crimes previstos
no artigo 69 do CP.

No caso, a prática de sexo oral e vaginal no mesmo contexto configura então


crime único, sendo excluído o concurso material de crimes, exatamente porque,
como já exposto acima, a reforma da Lei 12.015/09 uniu as figuras típicas do
atentado violento ao pudor e o estupro numa única figura.

Do Afastamento de Embriaguez – Art. 61 - II, alínea L

Não foi comprovado que o Acusado estaria embriagado quando se aproximou da


Exequente e as testemunhas não perceberam sinais de embriaguez, enquanto ele
esteve presente. Do mesmo modo, não há provas de que ele tinha intenção de
praticar qualquer conduta criminosa.

Da Fixação da Pena no Mínimo Legal

O Acusado é primário, tem bons antecedentes e, com o afastamento da


agravante supramencionada, deve ter sua pena fixada no mínimo legal do artigo
217-A do CP, qual seja, 8(oito) anos de reclusão.
Não deve prosperar o requerimento do MPE fixando “regime fechado” no início de
cumprimento de pena, em obediência rígida ao Art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/60
pois este dispositivo da Lei foi declarado inconstitucional pelo STF no julgamento
do HC 114.568/ES em 08/11/2012:

“se a Constituição federal menciona que a lei regulará a individualização da pena, é


natural que ela exista. Do mesmo modo, os critérios para a fixação do regime
prisional inicial devem se harmonizar com as garantias constitucionais, sendo
necessário exigir-se sempre a fundamentação do regime imposto, ainda que se
trate de crime hediondo ou equiparado” (STF, HC 114.568/ES, 1ª T., rel. Min. Dias
Toffoli, j. 16/10/2012, DJe n. 220, de 08/11/2012).

E a mesma afirmação aparece no Tribunal Pleno do STF em diversos HC entre


2012 e 2013, com os seguintes termos:
“de tal sorte o regime inicial fechado não é de imposição compulsória “(HC
111.840/ES, HC 112.979/MS e outros)

E ainda:
“Não evidencia fundamentação idônea e suficiente, decisão que impõe o regime
inicial fechado de cumprimento de pena, baseado, objetiva e exclusivamente na
norma inscrita no Art. 2º, § 1º, da lei 8.072/90, declarada incidentalmente
inconstitucional por este supremo tribunal, no HC 111 840(Relator o ministro dias
Toffoli, de 27/06/2012, STF, HC 120.274/ES)

DOS PEDIDOS

Ante o exposto requer a Vossa Excelência:

A. A absolvição do Acusado conforme Art. 386-III do Código de Processo


Penal em virtude da ausência de tipicidade da conduta com base no Art. 20
do Código Penal;

Subsidiariamente, caso Vossa Excelência não entenda pela absolvição:

B. O afastamento do concurso material de crimes e reconhecimento de crime


único do artigo 217-A do Código Penal;

C. O afastamento da agravante “embriaguez preordenada” estabelecida no


Art. 61-II-alínea L, do Código Penal, e a fixação da pena mínima do Art.
217-A, reclusão de 8(oito) anos;

D. O “regime semiaberto” no início de cumprimento de pena conforme Art. 33,


§ 2º, alínea b, do Código Penal;

Termos em que,

Pede deferimento.

Local, data

ADVOGADO
OAB nº

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