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Questão

A Polícia Civil do Rio Grande do Sul recebe notícia crime identificada, imputando a
Maria Campos a prática de crime, eis que mandaria crianças brasileiras para o
estrangeiro com documentos falsos. Diante da notícia crime, a autoridade policial
instaura inquérito policial e, como primeira providência, representa pela decretação da
interceptação das comunicações telefônicas de Maria Campos, “dada a gravidade dos
fatos noticiados e a notória dificuldade de apurar crime de tráfico de menores para o
exterior por outros meios, pois o modus operandi envolve sempre atos ocultos e exige
estrutura organizacional sofisticada, o que indica a existência de uma organização
criminosa integrada pela investigada Maria”. O Ministério Público opina
favoravelmente e o juiz defere a medida, limitando-se a adotar, como razão de
decidir, “os fundamentos explicitados na representação policial.”

No curso do monitoramente, foram identificadas pessoas que contratavam os serviços


de Maria Campos para providenciar a expedição de passaporte para viabilizar viagens
de crianças para o exterior. Foi gravada conversa telefônica de Maria com um
funcionário do setor de passaportes da Polícia Federal, Antônio Lopes, em que Maria
consultava Antônio sobre os passaportes que ela havia solicitado, se já estavam
prontos, e se poderiam ser enviados a ela. A pedido da autoridade policial, o juiz
deferiu a interceptação das linhas telefônicas utilizadas por Antônio Lopes, mas
nenhum diálogo relevante foi interceptado.

O juiz, também com prévia representação da autoridade policial e manifestação


favorável do Ministério Público, deferiu a quebra de sigilo bancário e fiscal dos
investigados, tendo sido identificado um depósito de dinheiro em espécie na conta de
Antônio, efetuado naquele mesmo ano, no valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais). O
monitoramento telefônico foi mantido pelo período de quinze dias, após o que foi
deferida medida de busca e apreensão nos endereços de Maria e Antônio. A decisão
foi proferida nos seguintes termos: “diante da gravidade dos fatos e da real
possibilidade de serem encontrados objetos relevantes para investigação, defiro o
requerimento de busca e apreensão nos endereços de Maria (Rua dos Casais, 213) e
de Antonio (Rua Castro, 170, apartamento 201)”. No endereço de Maria Campos, foi
encontrada apenas uma relação de nomes que, na visão da autoridade policial, seriam
clientes que teriam requerido a expedição de passaportes com os nomes de crianças
que teriam viajado para o exterior. No endereço indicado no mandado de Antônio
Lopes, nada foi encontrado. Entretanto, os policiais que cumpriram a ordem judicial
perceberam que o apartamento 202 do mesmo prédio também pertencia ao
investigado, motivo pelo qual nele ingressaram, encontrando e apreendendo a quantia
de cinquenta mil dólares em espécie. Nenhuma outra diligência foi realizada.

Relatado o inquérito policial, os autos foram remetidos ao Ministério Público, que


ofereceu a denúncia nos seguintes termos: “o Ministério Público vem oferecer
denúncia contra Maria Campos e Antônio Lopes, pelos fatos a seguir descritos: Maria
Campos, com o auxílio do agente da polícia federal Antônio Lopes, expediu diversos
passaportes para crianças e adolescentes, sem observância das formalidades legais.
Maria tinha a finalidade de viabilizar a saída dos menores do país. A partir da quantia
de dinheiro apreendida na casa de Antônio Lopes, bem como o depósito identificado
em sua conta bancária, evidente que ele recebia vantagem indevida para efetuar a
liberação dos passaportes. Assim agindo, a denunciada Maria Campos está incursa
nas penas do artigo 239, parágrafo único, da Lei n. 8069/90 (Estatuto da Criança e do
Adolescente), e nas penas do artigo 333, parágrafo único c/c o artigo 69, ambos do
Código Penal. Já o denunciado Antônio Lopes está incurso nas penas do artigo 239,
parágrafo único, da Lei n. 8069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente) e nas penas
do artigo 317, § 1º, c/c artigo 69, ambos do Código Penal.”

O juiz da 15ª Vara Criminal de Porto Alegre – RS, recebeu a denúncia, nos seguintes
termos: “compulsando os autos, verifico que há prova indiciária suficiente da
ocorrência dos fatos descritos na denúncia e do envolvimento dos denunciados. Há
justa causa para a ação penal, pelo que recebo a denúncia. Citem-se os réus, na forma
da lei: “Antônio foi citado pessoalmente em 12.03.2014 (quarta-feira) e o respectivo
mandado foi acostado aos autos dia 17.03.2014 (segunda-feira). Antonio contratou
você como Advogado, repassando-lhe nomes de pessoas (Carlos de Tal, residente na
Rua 1, n. 10, nesta capital; João de tal, residente na Rua 4, n. 310, nesta capital;
Roberta de Tal, residente na Rua 4, n. 310, nesta capital, que prestariam relevantes
informações para corroborar com sua versão.

Nessa condição, redija a peça processual cabível desenvolvendo TODAS AS TESES


DEFENSIVA que podem ser extraídas do enunciado com indicação de respectivos
dispositivos legais. Apresente a peça no último dia do prazo.
Peça: Resposta à Acusação
Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 15ª Vara Criminal da Comarca de
Porto Alegre - Rio Grande do Sul (0,5 ponto)

Processo nº _____/____

ANTONIO, já qualificado nos autos a fls. , através de seu


procurador abaixo assinado, vem respeitosamente oferecer a presente

RESPOSTA À ACUSAÇÃO,
com fulcro nos arts. 396 e 396-A do Código de Processo Penal,
pelos motivos de fato e de direito que abaixo passa a expor:

I - DOS FATOS:

O réu foi denunciado e processado por corrupção passiva porque


segundo a denúncia teria recebido 50 mil dólares para facilitar o tráfico de criança ao
exterior. O acusado foi denunciado pelo Promotor de Justiça e o juiz recebendo a
denúncia, ordenou a citação do réu e a intimação para a apresentação da resposta à
acusação.

II - DO DIREITO:

a ) Em preliminar, incompetência do juízo:

Tratando-se de crime supostamente praticado por funcionário público federal (o


réu é agente da Polícia Federal), a competência é da justiça federal em razão do
disposto no art. 109, I da Constituição Federal.

b) Em preliminar, nulidade por desrespeito ao art. 514 do CPP:

Estabelece o art. 514 do CPP a necessidade antes do recebimento da denúncia, da


notificação do funcionário público. Nem se alegue que já exista o inquérito policial a
dispensar tal providência. Isso porque em razão da relevância do cargo, deve o juiz
ordenar antes do recebimento da denúncia, a defesa preliminar do acusado, para que
explique o que realmente aconteceu. A resposta à acusação não é similar à defesa
preliminar, pois esta antecede o recebimento da denúncia, permitindo uma
demonstração maior dos argumentos da defesa. Ao suprimir tal fase, o digno
magistrado violou o princípio da ampla defesa e do contraditório.
c ) Preliminarmente, a inépcia da denúncia:

Como é sabido, a petição inicial acusatória deve descrever o fato criminoso, para
possibilitar a defesa do acusado. O réu foi denunciado como incurso nos arts. 239,
parágrafo único do Estatuto da Criança e do Adolescente e no art. 317, § 1º do Código
Penal, na forma do art. 69 do Código Penal. Todavia, ao narrar os fatos criminoso na
inicial, o D. Promotor de Justiça sequer descreveu como se deu a participação do
acusado no tráfico de crianças ao exterior. Pior ainda no crime de corrupção passiva:
o Parquet não especificou no que consistiu o delito de corrupção passiva: se houve
solicitação ou recebimento e que ato de ofício o acusado praticou infringindo dever
funcional. Meras suposições como a apreensão do numerário na residência são
insuficientes para tornar compatível a denúncia. Não existe nenhuma prova
comprovando-se o nexo entre o dinheiro depositado na conta do réu e o tráfico de
crianças praticado por Maria. Assim, a mesma é claramente inepta, e no caso não
deveria ter sido recebida. Dessa forma, é hipótese de anulação de todos os atos
praticados e por consequência decidir pelo não recebimento da denúncia.

d) EM PRELIMINAR, AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA (1,0 PONTO)

Requer a absolvição sumária (1,0 ponto) pela falta de justa causa. O fato do
réu ter simplesmente atendido um telefonema (interceptado), não prova nenhum crime
de corrupção passiva. E ainda o fato do mesmo ter em sua casa a quantia de dinheiro
apreendida também não comprova nenhum crime. Há falta de justa causa quando
inexiste elemento algum a comprovar minimamente o fato criminoso. Em razão disso,
não era hipótese de recebimento da denúncia. Mas se recebida, o juiz de qualquer
forma, pode absolver, com fulcro no art. 395, III do Código de Processo Penal.

e) EM PRELIMINAR, DESENTRANHAMENTO DO AUTO DE APREENSÃO


DO DINHEIRO:

Como se dessume dos autos, o dinheiro foi apreendido em razão de apreensão pela
Polícia. Ocorre que tal numerário foi apreendido de forma ilícita, porque não havia
especificação para vasculhar o apartamento 202, pertencente ao acusado. Dessa
forma, reza o art. 157 do Código de Processo Penal que tal material deve ser
desentranhado dos autos, porque se trata de prova ilícita. Pode-se até falar em frutos
da árvore proibida porque tal prova se originou de uma prova originariamente lícita
que era baseada no mandado judicial e depois se tornou ilícita, ao se adentrar em
apartamento, sem ordem judicial específica. Nem se pode alegar aí a teoria da
descoberta inevitável, porque inexistente nenhum fato que inevitavelmente levasse os
policiais a esse local (o apartamento).

e) NO MÉRITO:

Requer a absolvição pela atipicidade da conduta. Com efeito, não há


prova da materialidade da corrupção passiva. A prova da corrupção passiva estaria
calcada na busca e apreensão do numerário no apartamento do acusado. Ocorre que
apesar da existência de uma mandado de busca e apreensão, não havia especificação
no mandado de busca e apreensão de ordem para o apartamento 203. Logo, a prova é
ilícita e não se presta à comprovação da materialidade do delito de corrupção passiva.
Assim, logicamente o fato é atípico, devendo se anular o processo a partir da citação e
por conseguinte, absovler o acusado com fulcro no art. 397, III do Código de Processo
Penal.

III – DO PEDIDO:

Diante do exposto, é o presente para requerer a remessa à justiça federal, ou se


mantida a competência, a anulação do processo a partir do recebimento da denúncia
para que se determine a notificação do réu nos termos do art. 514 do Código de
Processo Penal, ou se não se acolher tal procedimento, a rejeição da denúncia em
razão da falta de justa causa e também por ser a mesma inepta; e se mantido o
recebimento da denúncia, a absolvição sumária pela atipicidade do fato e se indefrido
o pedido de absolvição sumária, o desentranhamento do auto de apreensão dos autos,
eis que obtido de forma ilícita.

Termos em que,
Pede deferimento.

Porto Alegre, 24 de março de 2014.

Advogado

Rol de Testemunhas:
1. Carlos de Tal, residente na Rua 1, n. 10, nesta capital;
2. João de tal, residente na Rua 4, n. 310, nesta capital;
3. Roberta de Tal, residente na Rua 4, n. 310, nesta Capital.

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