Você está na página 1de 4

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA XX VARA CRIMINAL DA COMARCA DE

SERRA TALHADA/PE

Processo nº xxxxx

FALCON FIRME, já qualificado nos autos da ação penal que lhe move o Ministério Público, por
seu procurador, conforme procuração em anexa, vem, à presença de Vossa Excelência, com
fundamento nos artigos 396 e 396-A, ambos do Código de Processo Penal, apresentar

RESPOSTA À ACUSAÇÃO

Com fulcro no arts. 396 e 396-A do Código de Processo Penal, pelos motivos de fato e de
direito que abaixo passa a expor:

I - DOS FATOS

O réu foi denunciado e processado por corrupção passiva porque segundo a denúncia teria
recebido 150 mil reais em sua conta bancária e através de mandado de busca e apreensão
ilegal em outra residência do réu, encontrando 100 mil reais em espécie, alegando que as
quantias que foram encontradas seriam para facilitar o tráfico de criança ao exterior. O
Ministério Público denunciou o acusado FALCON FIRME alegando que este, na condição de
agente da Polícia Federal, teria auxiliado a corré Rosália Sabiá, mais conhecida por “Sabiá das
cocotinhas”, a expedir passaportes para crianças e adolescentes sem observância das
formalidades legais. Na denúncia foi ainda dito que o réu FALCON FIRME recebeu vantagem
indevida para efetuar a liberação dos passaportes.

Ao fim, o órgão acusatório imputou ao acusado FALCON FIRME os crimes previstos nos artigos
239, parágrafo único, da Lei 8.069/90 e 317, § 1°, do Código Penal, na forma do artigo 69 do
Código Penal. O réu foi citado pessoalmente em 11/10/2023 (quarta-feira) e o mandado de
busca e apreensão foi acostado aos autos dia 16/10/2023 (segunda-feira).

II - DO DIREITO

a) Em preliminar, incompetência do juízo:

Tratando-se de crime supostamente praticado por funcionário público federal (o réu é agente
da Polícia Federal), a competência da justiça federal, a competência é da justiça federal em
razão do disposto no art. 109, I da Constituição Federal.
b) Em preliminar, nulidade por desrespeito ao art. 514 do CPP:

Estabelece o art. 514 do CPP a necessidade antes do recebimento da denúncia, da notificação


do funcionário público. Nem se alegue que já exista o inquérito policial a dispensar tal
providência. Isso porque em razão da relevância do cargo, deve o juiz ordenar antes do
recebimento da denúncia, a defesa preliminar do acusado, para que explique o que realmente
aconteceu. A resposta à acusação não é similar à defesa preliminar, pois esta antecede o
recebimento da denúncia, permitindo uma demonstração maior dos argumentos da defesa. Ao
suprimir tal fase, o digno magistrado violou o princípio da ampla defesa e do contraditório.

c) Preliminarmente, a inépcia da denúncia (art. 41 CPP ferindo o direito a ampla defesa –


narração genérica dos fatos)

Como é sabido, a petição inicial acusatória deve descrever o fato criminoso, para possibilitar a
defesa do acusado. O réu foi denunciado como incurso nos arts. 239, parágrafo único do
Estatuto da Criança e do Adolescente e no art. 317, § 1º do Código Penal, na forma do art. 69
do Código Penal. Todavia, ao narrar os fatos criminoso na inicial, o Dr. Promotor de Justiça
sequer descreveu como se deu a participação do acusado no tráfico de crianças ao exterior.
Pior ainda no crime de corrupção passiva: o Parquet não especificou no que consistiu o delito
de corrupção passiva: se houve solicitação ou recebimento e que ato de ofício o acusado
praticou infringindo dever funcional. Meras suposições como a apreensão do numerário na
residência são insuficientes para tornar compatível a denúncia. Não existe nenhuma prova
comprovando-se o nexo entre o dinheiro depositado na conta do réu e o tráfico de crianças
praticado por Rosália Sabiá. Assim, a mesma é claramente inepta, e no caso não deveria ter
sido recebida. Dessa forma, é hipótese de anulação de todos os atos praticados e por
consequência decidir pelo não recebimento da denúncia.

d) Em preliminar, ausência de justa causa

Requer a absolvição sumária pela falta de justa causa. O fato de o réu ter simplesmente
atendido um telefonema (interceptado), não prova nenhum crime de corrupção passiva. E
ainda o fato do mesmo ter em sua casa a quantia de dinheiro apreendida também não
comprova nenhum crime. Há falta de justa causa quando inexiste elemento algum a comprovar
minimamente o fato criminoso. Em razão disso, não era hipótese de recebimento da denúncia.
Mas se recebida, o juiz de qualquer forma, pode absolver, com fulcro no art. 395, III do Código
de Processo Penal.

e) Em preliminar, nulidade na apreensão do dinheiro (o ingresso na casa não autorizado


judicialmente, prova ilícita)

Como se dessume dos autos, o dinheiro foi apreendido em razão de apreensão pela Polícia.
Ocorre que tal numerário foi apreendido de forma ilícita, porque não havia especificação para
vasculhar o apartamento 403, pertencente ao acusado. Dessa forma, reza o art. 157 do Código
de Processo Penal que tal material deve ser desentranhado dos autos, porque se trata de prova
ilícita. Pode-se até falar em frutos da árvore proibida porque tal prova se originou de uma
prova originariamente lícita que era baseada no mandado judicial e depois se tornou ilícita, ao
se adentrar em apartamento, sem ordem judicial específica. Nem se pode alegar aí a teoria da
descoberta inevitável, porque inexistente nenhum fato que inevitavelmente levasse os policiais
a esse local (o apartamento).

f) Da ausência de dolo quanto ao crime previsto na Lei 8.069/90

Os autos não trazem qualquer indício de que Falcon Firme tivesse ciência da intenção de
Rosália Sabiá. De acordo com o artigo 18, parágrafo único, do Código Penal, salvo os casos
expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o
pratica dolosamente.

Não havendo prova de que o acusado Falcon Firme tenha agido com dolo em relação ao delito
previsto no artigo 239, parágrafo único, do Estatuto da Criança e do Adolescente, o fato é
absolutamente atípico.

Assim, o réu deve ser absolvido sumariamente, com fundamento no artigo 397, inciso III, do
Código de Processo Penal, já que o fato narrado evidentemente não constitui crime.

III) MÉRITO:

Requer a absolvição pela atipicidade da conduta. Com efeito, não há prova da materialidade da
corrupção passiva. A prova da corrupção passiva estaria calcada na busca e apreensão do
numerário no apartamento do acusado. Ocorre que apesar da existência de um mandado de
busca e apreensão, não havia especificação no mandado de busca e apreensão de ordem para
o apartamento 403. Logo, a prova é ilícita e não se presta à comprovação da materialidade do
delito de corrupção passiva. Assim, logicamente o fato é atípico, devendo se anular o processo
a partir da citação e por conseguinte, absolver o acusado com fulcro no art. 397, III do Código
de Processo Penal.

IV) DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer:

O recebimento da presente resposta à acusação;

- O acolhimento das preliminares suscitadas, a fim de que seja declarada: a incompetência da


Justiça Estadual para a análise do presente feito; a nulidade da interceptação telefônica; a
nulidade da decisão que deferiu a busca e apreensão; a nulidade da apreensão do valor no
imóvel do réu Falcon Firme; e a inépcia da denúncia, com base nos argumentos e fundamentos
acima citados;

- A sua absolvição sumária, já que não há justa causa para o exercício da ação penal em relação
ao crime de corrupção passiva, previsto no artigo 317, § 1°, do Código Penal, e o delito disposto
no artigo 239, parágrafo único, do Estatuto da Criança e do Adolescente é atípico por falta de
dolo;
- Alternativamente, em caso de não acolhimento dos requerimentos anteriores, pugna pela
instrução do feito com a produção de todas as provas em direito admitidas, especialmente a
testemunhal, conforme rol de testemunhas abaixo apresentado;

- A restituição do valor apreendido no imóvel localizado na Rua Pigmeu, n° 1000, Apt. 403,
Salgueiro/PE, uma vez que se está diante de prova ilícita, a qual deve ser desentranhada do
processo.

Serra Talhada/PE, 23 de outubro de 2023

Advogado/OAB

Rol de Testemunhas:

1. Fernando de Tal, residente na Rua das Oliveiras, n° 10, Salgueiro/PE;

2. Francisco de tal, residente na Rua das Palmeiras, n° 100, Salgueiro/PE;

3. Lucas de Tal, residente na Rua Francisco Sales, n° 500, Salgueiro/PE.

Você também pode gostar