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José da Silva é servidor público federal, pertencente aos quadros da Polícia Federal.

No
momento, encontra-se preso em sala do Estado Maior da Delegacia de instituição cujo quadro
pertence e mandou que sua família lhe procurasse para conversar com ele e promover a
defesa de seus interesses. Em diligência, conversou com José, que lhe disse o seguinte: que é
amigo de longa data de Maria José da Costa; que sua amiga, que também está presa, era
investigada por tráfico internacional de criança e organização criminosa; que Maria José foi
encontrada com passaportes falsos de três crianças; que foi preso preventivamente em razão
de um dinheiro existente em sua conta não declarado; que o dinheiro em questão foi
transferido por Maria José e seria da venda de um terreno que tinha, não regularizado na
periferia de Campinas. No ato José lhe entregou a citação para responder à ação penal
assinada no dia anterior (05/05/2023). Habilitado nos autos e diligenciando sobre o
andamento processual, foi verificado o seguinte: o magistrado deferiu escuta telefônica nos
aparelhos de José da Silva, de Maria José e de outras pessoas da suposta organização sob o
seguinte fundamento “diante da gravidade abstrata dos fatos narrados pelo senhor Delegado,
com opinião favorável do Parquet, defiro”; houve inúmeras renovações da escuta que
resultaram em um período de aproximadamente seis meses de escuta, sendo que apenas ao
final deste período foi ouvido em um contato normal entre Maria José e José que o dinheiro
estava transferido para ele. Diante do fato, o magistrado concedeu prisão temporária contra
José Maria, sua amiga e pessoas a ela ligadas sob o fundamento de que “a gravidade dos fatos,
somada ao fato de haver transferência não justificada de valores entre Maria José e José da
Silva, por si, permitiriam a decretação da medida pleiteada pelo senhor delegado de Polícia”;
no ato ainda permitiu a busca e apreensão de objetos no apartamento de José da Silva e em
seu gabinete de trabalho. O Delegado adentrou o apartamento de José, o de número 201 da
Avenida Cel. Quirino 000 e nada encontrou, mas na saída ficou sabendo que o apartamento
202 do mesmo prédio a ele pertencia (era usado pela mãe de José que faleceu recentemente),
motivo por que arrombou o imóvel e encontrou a quantia de R$20.000,00 em espécie no
imóvel. Diante dos fatos, o Parquet rapidamente denunciou José e requereu a conversão de
sua prisão, o que foi prontamente acatado pelo Magistrado que entendeu José fazer parte de
uma organização criminosa. O motivo preponderante para tanto foi o fato de na residência de
Maria ter sido encontrado passaportes falsos, dinheiro em espécie e lista com nome de
crianças.

Diante dos fatos, responda:


1. Quais os crimes supostamente praticados por José?

Diante do narrado, supostamente, José da Silva fora preso em acusação de cometer os crimes
de: Tráfico Internacional de Crianças, conforme disposto na redação da Legislação do Estatuto
da Criança e do Adolescente no endosso do art. 239; Organização Criminosa, tipificado pelo
art. 2° da Lei 12.580/2013; Sonegação Fiscal, previsto no art; 1° de rol taxativo da lei n°
4.729/65; E falsificação de Documentos, regido pelo art. 297 do Código Penal.

2. Quais os requisitos da prisão temporária? O despacho do juiz é servível para a


decretação de tal prisão, no caso concreto?

São os requisitos para decretação da prisão temporária, estabelecidos pelo art. 1° da Lei
7.960/89:

Art. 1º Caberá prisão temporária:

[...]

III - quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova admitida na legislação

penal, de autoria ou participação do indiciado nos seguintes crimes:

[...]

l) quadrilha ou bando (art. 288), todos do Código Penal;

[...]

o) crimes contra o sistema financeiro (Lei nº 7.492, de 16/06/1986).

[...]

Diante dos requisitos indispensáveis a serem observados para decretação da prisão


temporária, o despacho do juiz se torna inservível no que toca as fundadas razões, visto que,
há ofensa ao art. 5° da Lei, 9.296/96, bem como, o art. 93, IX da Magna Carta de 1988, na
ausência de fundamentação específica para interceptação telefônica, causa da decretação de
tal medida. Portanto, a decretação sob o crivo de “gravidade abstrata” viola o princípio da
fundamentação e coerência jurisprudencial, sendo-a redigida de forma genérica.

Ainda no tocante das causas de nulidade da decisão, pela observância do art. 5° da Lei
9.296/96, houve excesso nas prorrogações temporais da interceptação telefônica,
ultrapassando o permitido em lei, assim, violando o direito constitucional da intimidade,
previsto no art. 5°, XII da CF/88.

3. Quais os requisitos para a quebra de sigilo bancário e telefônico? O despacho do


juiz é servível para a medida por ele adotada? A escuta pode ser feita por tempo
indeterminado?

São os requisitos para a quebra de sigilo bancário, previstos na LC 105/01, art. 1°, §4°, em
suma:

● Presença de indícios razoáveis de autoria ou participação em infração penal;


● A medida deve ser imprescindível para a investigação;
● O fato investigado deve constituir crime punido com reclusão.
E para quebra telefônica: A interceptação telefônica só poderá ser empregada quando todos
os outros meios de prova fracassarem. Como bem diz o inciso II do artigo segundo da Lei nº
9.296/96, essa medida só pode ser usada quando a prova não puder ser feita por outro meio
disponível.

Diante dos requisitos apresentados acima, o despacho do juiz não fora servível, pois, observou
os critérios legalmente.

Não, a escuta telefônica deve atender o rol taxativo do art. 5° da lei 9.296/96, cujo, prevê a
determinação no prazo máximo de 15 dias prorrogáveis no mesmo tempo, na hipótese, de
comprovação de indispensabilidade da prova.

4. No caso concreto a busca e apreensão foi feita de forma regular? O que deve ser
observado quando se concede tal medida? DEBORA

Partindo daquilo que suscitou o mandado de busca e apreensão, a interceptação telefônica,


não podemos considerar tal medida procedida de forma regular, isso porque, as provas
derivadas diretamente da prova ilícita, deve ser excluída do processo penal. Em outro
momento já apresentamos a ilicitude das escutas telefônicas. Desse modo, a origem do
mandado de busca e apreensão, derivado da suposição empregada a partir da escuta
telefônica, deverá ser desentranhada do devido processo legal, constituindo prova
contaminada, disposição do art. 157, § 1, do CPP.

157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas,


assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais.
§ 1° São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não
evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas
puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras.

Ainda, para a concessão de tal medida, deverá ser observado os requisitos legais descritos no
art. 240, §1°, do CPP, sendo realizada a busca em ambiente domiciliar ou pessoal, com a
finalidade de:

§ 1o Proceder-se-á à busca domiciliar, quando fundadas razões a autorizarem, para:

a) prender criminosos;

b) apreender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos;

c) apreender instrumentos de falsificação ou de contrafação e objetos falsificados ou


contrafeitos;

d) apreender armas e munições, instrumentos utilizados na prática de crime ou


destinados a fim

delituoso;

e) descobrir objetos necessários à prova de infração ou à defesa do réu;

f) apreender cartas, abertas ou não, destinadas ao acusado ou em seu poder, quando


haja

suspeita de que o conhecimento do seu conteúdo possa ser útil à elucidação do fato;

g) apreender pessoas vítimas de crimes;

h) colher qualquer elemento de convicção.

Poderá ser decretada quando presentes os requisitos do periculum in mora, risco de


desaparecimento ou ocultação da pessoa ou coisa que interessam à prova de uma infração
penal; e o fumus boni juris, mediante fundadas razões, consiste num juízo de probabilidade
sobre o possível encontro, no local ou na pessoa a serem revistados, os objetos que possam
constituir prova de infração penal, na probabilidade de que os objetos ou pessoas procuradas
efetivamente tenham relação com a investigação de um fato criminoso, e tendo indícios da
existência do crime que se investiga.

Não bastante, o pedido de busca e apreensão deverá ser munido de expresso detalhamento,
indicando corretamente, endereço, descrição do local, objetos que se pretende apreender e a
relevância probatória de cada um desses objetos, bem como sua relação com a investigação
ou processo em curso.

Diante do narrado, a medida realizada, infringiu gravemente os requisitos legais, também no


momento em que se invade um apartamento alheio ao descrito no mando de busca e
apreensão, aqui, não há que se falar de encontro de fortuito de provas, pois, não ocorrera de
forma acidental tão pouco fora obtida a partir de diligência regularmente autorizada para a
investigação criminal. A invasão ao domicílio do apartamento 202, em que os polícias tomam
conhecimento de que pertencia a mãe de João, configura grave violação aos direitos
fundamentais da inviolabilidade de domicílio, dignidade da pessoa humana, intimidade e a
vida privada.

5. Mandado de busca e apreensão genérico é válido? DEBORA

Não é admitido o mandado de busca e apreensão genérico, pois, trata-se de uma medida
cautelar invasiva, e restringe direitos fundamentais, por esse motivo, deve ser instruído com o
máximo de detalhamento possível, como local, objetos que se pretende apreender e qual sua
relação com a investigação em curso, ainda deve atender aos requisitos do art. 240, §1°, do
CPP. Os mandados de busca e apreensão genéricos, sem individualização, podem se constituir
como modalidade de ‘fishing expedition’, tática vedada pelo STF, em matéria de HC 106,566.
Para sua concessão devem concorrer elementos de urgência e necessidade, vinculados ao
devido processo legal substancial, não bastando mera suspeita ou conclusões desprovidas de
sustento probatório.

6. Quais as irregularidades existentes no feito até o momento? Que repercussão tem


as mesmas sobre a marcha processual? DANI

A partir da análise realizada, pode-se concluir que há irregularidades insanáveis no decorrer do


processo penal, desde sua instauração à decretação da prisão preventiva de José, isso pois, as
provas utilizadas como fundamentos para a decretação de sua prisão estão contaminadas.
Incontestável que a interceptação telefônica, assim como, a busca e apreensão, não
respeitaram os ditames legais, sendo consideradas ilícitas, uma vez que, não houve fundadas
razões para a decretação destas, infligindo, portanto, direitos e princípios constitucionais.

Não se pode olvidar que as provas ilícitas são inadmissíveis no Direito processual penal
brasileiro, pois ferem a norma Constitucional do art. 5º, inciso LVI, a qual consagra a proibição
como um princípio constitucional. Assim sendo, a prova ilícita, bem como, as decisões
imotivadas, acarretam nulidade absoluta, motivos quais, ensejam o relaxamento da prisão
preventiva de José.

7. Qual o prazo para a resposta à acusação? O que deve ser alegado na mesma? ANA
JULIA
Conforme a redação do artigo 396 do Código de Processo Penal, é determinado que após o
recebimento da denúncia caberá ao acusado a apresentação de resposta à acusação, por
escrito e no prazo de 10 dias. O prazo iniciará a partir da citação válida do acusado e não da
juntada aos autos do mandado ou da carta precatória, como instruído pela Súmula 710 do STF.
Já se a citação ocorrer por edital, o processo certamente ficará suspenso com relação à
prescrição, sendo que o prazo começará a fluir a partir do comparecimento do acusado ou de
seu defensor constituído.
O artigo 396-A do Código de Processo Penal é taxativo ao dispor que na resposta, o acusado
poderá arguir preliminares e alegar tudo o que interessa à defesa, oferecer documentos e
justificações, especificar as provas pretendidas e arrolar testemunhas, qualjficando-as e
requerendo sua intimação, quando necessário.
No tocante da resposta a acusação, existem postos primordiais a serem observados e arguidos,
como:
● Indicação das preliminares defensivas que poderão incidir em nulidades processuais
(artigo
564 do CPP);
● Apresentar a tese de mérito defensiva;
Juntada de documentos, conforme o artigo 231 do CPP;
● Arrolar as testemunhas, na forma do artigo 401 do CPP (arrolar a(s) testemunha(s) de
acusação em comum com a defesa e de requerer expressamente a intimação da(s)
testemunha(s) de defesa).
8. Qual a competência para processamento e julgamento do feito? Por quê? Seria em
relação a todos os envolvidos no suposto crime? O que ocorrerá se for processado
em juízo diverso? ANA JULIA

Mediante aos fatos presente no caso, a competência para o processamento e julgamento do


feito levará em consideração o cargo de um dos suspeitos: José Maria, Por tratar-se de policial
federal, caberá a Justiça federal processar e julgar delitos praticados por ele. Maria em
questão sendo civil, acompanhará tal competência por meio da competência intersubjetiva em
concurso, visto que o crime ocorre entre duas pessoas, cometendo variados crimes
previamente ajustados, porém em locais e em momentos diferentes, conforme artigo 76 e 77
do CPP.

Dada a razão de que Maria não se enquadra na competência de julgamento de José, ocorrerá a
prorrogação de competência, visto que o âmbito de competência de um juiz ou tribunal for
maximizado, possibilita-o a apreciar e julgar processos para os quais, em regra, não seria a
autoridade judiciária competente, reconhecendo o artigo 78, Il do CPP "no concurso de
Jurisdições de diversas categorias, predominará a de maior graduação.

9. Qual a fundamentação a ser dada na resposta à acusação? DANI

O artigo 396-A do Código de Processo Penal elenca os critérios que poderão ser utilizados na
resposta à acusação, sendo que a ausência de juntada de documentos, formulação de
requerimentos ou indicação de testemunhas poderão ser penalizadas com a preclusão.

396-A. Na resposta, o acusado poderá arguir preliminares e alegar tudo o que


interesse à sua defesa, oferecer documentos e justificações, especificar as provas
pretendidas e arrolar testemunhas, qualificando-as e requerendo sua intimação,
quando necessário

De se destacar que, o artigo mencionado acima utiliza a palavra “poderá”, e não “deverá”, isso
pois, possibilita a interpretação de que a defesa poderá adotar como estratégia a postergação
das análises fáticas, probatória e processual, realizando uma defesa mais genérica, e deixando
a defesa mais importante em momento oportuno, se valendo de um “jogo de estratégia”.

Entretanto, há alguns critérios importantíssimos de serem alegados na defesa, sendo um deles,


as nulidades, as quais estão presentes no processo em questão, derivadas de provas ilícitas.
Portanto, são inadmissíveis, devendo ser retiradas do processo, conforme dispõe o artigo 157,
§ 1, do CPP, ensejando assim o relaxamento da prisão preventiva, vez que não há
embasamento e nem prova para tal.

Ademais, há visível violação e ofensa de diversos dispositivos legais, embasando, portanto, as


nulidades, sendo eles, o art. 5° da Lei, 9.296/96, vez que houve excesso nas prorrogações
temporais da interceptação telefônica, bem como, o art. 93, IX da Magna Carta de 1988, tendo
em vista a ausência de fundamentação específica para interceptação telefônica, e por último,
há violação do artigo 243 do CPP, vez que, infringiu gravemente os requisitos legais para a
realização da busca e apreensão.

Resumidamente poderá conter na resposta à acusação, os seguintes termos:


● Indicação das preliminares defensivas - nulidades processuais;
● Apresentação da tese de mérito defensiva, de forma mais genérica, resguardando em
momento oportuno as demais defesas e argumentos;
● Apresentar documentos e requerer as provas e diligências que julgar necessárias;
● Arrolar as testemunhas, na forma do artigo 401 do Código de Processo Penal
(Principalmente testemunha de acusação em comum;

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