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12/10/2019 Fundada Suspeita x Abordagem Policial – Força Policial

Força Policial
Novo Caráter das Polícias Militares do Brasil

Fundada Suspeita x Abordagem Policial

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Por Tenente Pedroso

Concernente a fundada suspeita como exigência legal para realização da abordagem policial.

Constituição Federal

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o
direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;

XI – a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento
do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o
dia, por determinação judicial;

XII – é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das


comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que
a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal;

XV – é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos
termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;

Código Processo Penal

Art. 240. A busca será domiciliar ou pessoal.

§ 2o Proceder-se-á à busca pessoal quando houver fundada suspeita de que alguém oculte consigo
arma proibida ou objetos mencionados nas letras b a f e letra h do parágrafo anterior.

b) apreender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos;


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f) apreender cartas, abertas ou não, destinadas ao acusado ou em seu poder, quando haja
suspeita de que o conhecimento do seu conteúdo possa ser útil à elucidação do fato;

h) colher qualquer elemento de convicção.

Art. 244. A busca pessoal independerá de mandado, no caso de prisão ou quando houver
fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de objetos ou papéis que
constituam corpo de delito, ou quando a medida for determinada no curso de busca domiciliar.

Jurisprudência

O Supremo Tribunal Federal assim tratou do assunto:

EMENTA: HABEAS CORPUS. TERMO CIRCUNSTANCIADO DE OCORRÊNCIA LAVRADO


CONTRA O PACIENTE. RECUSA A SER SUBMETIDO A BUSCA PESSOAL. JUSTA CAUSA PARA
A AÇÃO PENAL RECONHECIDA POR TURMA RECURSAL DE JUIZADO ESPECIAL.
Competência do STF para o feito já reconhecida por esta Turma no HC n.º 78.317. Termo que, sob
pena de excesso de formalismo, não se pode ter por nulo por não registrar as declarações do
paciente, nem conter sua assinatura, requisitos não exigidos em lei. A “fundada suspeita”,
prevista no art. 244 do CPP, não pode fundar-se em parâmetros unicamente subjetivos, exigindo
elementos concretos que indiquem a necessidade da revista, em face do constrangimento que
causa. Ausência, no caso, de elementos dessa natureza, que não se pode ter por configurados na
alegação de que trajava, o paciente, um “blusão” suscetível de esconder uma arma, sob risco de
referendo a condutas arbitrárias ofensivas a direitos e garantias individuais e caracterizadoras
de abuso de poder. Habeas corpus deferido para determinar-se o arquivamento do Termo.

(HC 81305, Relator(a): Min. ILMAR GALVÃO, Primeira Turma, julgado em 13/11/2001, DJ 22-
02-2002 PP-00035 EMENT VOL-02058-02 PP-00306 RTJ VOL-00182-01 PP-00284)

Na jurisprudência do TRF 1ª Região:

O EXMO. SR. DESEMBARGADOR FEDERAL CÂNDIDO RIBEIRO (Relator): RECURSO EM


SENTIDO ESTRITO 2007.38.00.023314-9 – MINAS GERAIS

Assim, nos termos do parecer ministerial, verbis:

(…) a busca pessoal relatada pelas provas presentes nos autos não padece de qualquer
ilegalidade, haja vista a plena observância das regras estabelecidas nos artigos 240, § 2º, e 244
do Código de Processo Penal, isto é, procedeu-se à busca pessoal no recorrido em vista de
fundada suspeita (denúncia anônima) de que ele estaria portando arma de fogo, oportunidade
em que com ele foram encontradas cédulas falsas. Não é demais anotar que a apreensão de coisa
diversa daquela noticiada na denúncia anônima em nada influi na legalidade da busca pessoal,
visto que esta destina-se a averiguar qualquer ilegalidade – ou indícios desta – apontada por
fundada suspeita inicial.

(…)

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Não há, portanto, qualquer sinal de ilicitude nas provas coligidas aos autos até o presente
momento, mostrando-se, pois, de rigor o recebimento da denúncia, haja vista a existência de
prova idônea da materialidade delitiva (CP, artigo 289, § 1º) e indícios suficientes de que o
denunciado, ora recorrido, seria o autor da infração penal. (Fls. 51/52.)

No RCCR 200733000111970, DESEMBARGADOR FEDERAL TOURINHO NETO, TRF1 –


TERCEIRA TURMA, 04/07/2008:

PROCESSUAL PENAL. BUSCA PESSOAL. ARTS. 240, § 2º, E 244, CPP. AUSÊNCIA DE
FUNDADA SUSPEITA. NECESSIDADE DE DEMONSTRAÇÃO DE CRITÉRIO OBJETIVO
JUSTIFICADOR DO ATO. PRISÃO EM FLAGRANTE DECORRENTE DA BUSCA PESSOAL.
ILEGALIDADE. ARBITRARIEDADE. DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS
DESRESPEITADOS. 1. “Fundada suspeita” é requisito essencial e indispensável para a realização
da busca pessoal, consistente na revista do indivíduo (Guilherme de Souza Nucci). 2. A busca
pessoal sem mandado deve assentar-se em critério objetivo que a justifique. Do contrário, dar-se-
á azo à arbitrariedade e ao desrespeito aos direitos e garantias individuais. 3. A suspeita não
pode basear-se em parâmetros unicamente subjetivos, discricionários do policial, exigindo, ao
revés, elementos concretos que indiquem a necessidade da revista, mormente quando notório o
constrangimento dela decorrente (STF – HC 81.305-4/GO, Rel. Ministro Ilmar Galvão). 4.
Recurso em sentido estrito não provido.

Na Jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais:

Número do processo: 1.0000.00.283122-0/000(1) Número CNJ: 2831220-15.2000.8.13.0000


Relator: ALMEIDA MELO Data do Julgamento: 27/11/2002 Data da Publicação:
14/02/2003

EMENTA: Constitucional. Processo Penal. Direito de livre locomoção. Busca forçada. Revista.
Possibilidade, quando no interesse da segurança coletiva. O direito individual à liberdade deve
ser combinado com medidas preventivas de defesa da incolumidade pública e da paz social. A
revista, ante suspeita séria de irregularidade que possa causar distúrbio à vida, à saúde ou à
segurança das pessoas, é defensável quando efetivada em estado de necessidade coletiva.

Na Jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro:

2003.050.05226 – APELACAO, DES. MARIO GUIMARAES NETO – Julgamento: 27/04/2004 –


SEGUNDA CAMARA CRIMINAL

TRIBUNAL DO JURI – DIREITO PENAL DESCLASSIFICAÇÃO EM PLENÁRIO –


COMPETÊNCIA DO JUIZ PRESIDENTE – SENTENÇA ABSOLUTÓRIA POR FALTA DE PROVAS
– CRIMES DE RESISTÊNCIA E TRÁFICO DE ENTORPECENTES NÃO CONFIGURADOS –
APELO IMPROVIDO. Embora no gozo de sua liberdade de ir e vir, qualquer cidadão pode ser
interceptado por policiais para realização de busca pessoal, presente uma findada suspeita
quanto ao possível envolvimento com algum fato criminoso. Réu que, ao avistar policiais,
empreende, fuga, não dá azo a uma fundada suspeita, até porque a lei não veda que se desvie de
uma revista policial. Ausência de tipicidade do crime de resistência, ante à inexistência de ordem
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legal, bem como do emprego de violência ou grave ameaça. Falta de provas de que o réu,
efetivamente, atirou nos policiais. Apreensão e remessa do material entorpecente à perícia
geradoras de duvida quanto à sua procedência, ante a irregularidade procedimental. Recurso
improvido.

Doutrina

De acordo com o ensinamento de Guilherme de Souza Nucci a respeito do termo “fundada


suspeita”:

É requisito essencial e indispensável para a realização da busca pessoal, consistente na revista do


indivíduo. Suspeita é uma desconfiança ou suposição, algo intuitivo e frágil, por natureza, razão
pela qual a norma exige fundada suspeita, que é mais concreto e seguro. Assim, quando um
policial desconfiar de alguém, não poderá valer-se, unicamente, de sua experiência ou
pressentimento, necessitando, ainda, de algo mais palpável, como a denúncia feita por terceiro de
que a pessoa porta o instrumento usado para o cometimento do delito, bem como pode ele mesmo
visualizar uma saliência sob a blusa do sujeito, dando nítida impressão de se tratar de um
revólver. Enfim, torna-se impossível e impróprio enumerar todas as possibilidades autorizadoras
de uma busca, mas continua sendo curial destacar que a autoridade encarregada da investigação
ou seus agentes podem – e devem – revistar pessoas em busca de armas, instrumentos do crime,
objetos necessários à prova do fato delituoso, elementos de convicção, entre outros, agindo
escrupulosa e fundamentadamente. (Código de Processo Penal Comentado. 4ª ed. São Paulo: RT,
2005, p. 493).

Segundo ASSIS[1]:

Busca Pessoal

É aquela efetuada especificamente na pessoa. Pode ser realizada por qualquer PM com ou sem o
respectivo mandado. Isto não significa que seja lícito ao PM revistar indiscriminadamente todo
cidadão, o que caracteriza uma atitude despropositada além de ilegal, considerando que cada
cidadão tem o direito de ir e vir sem ser molestado.

Postulamos que a fundada suspeita não pode encontrar morada apenas na presunção, mas exige
algo além, como um comportamento suspeito(acelerar o veículo ao avistar o policial militar em
serviço, desviar o olhar, executar manobra de modo a não passar por bloqueio etc.).

Arma proibida

Segundo o Ilmo. MINISTRO HAMILTON CARVALHIDO

Lembra-se a exclusão do termo “arma proibida”, que constava da Lei 9437/97, quer no art. 10,
quer no art. 11. Isso está textualmente descrito no inciso LXXXI do art. 3º, do novo decreto que
permite inferir que a antiga designação de “uso proibido” é dada aos produtos controlados pelo

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Ministério do Exército designado como de “uso restrito”. Por isto que hoje existem, tão somente,
armas restritas e armas permitidas.

(RECURSO ESPECIAL Nº 751.089 – RS (2005/0080546-7) RELATOR : MINISTRO HAMILTON


CARVALHIDO)

GUILHERME DE SOUZA NUCCI ao conceituar arma:

É o instrumento utilizado para defesa ou ataque. Denomina-se arma própria, a que é destinada
primordialmente, para ataque ou defesa (ex.: armas de fogo, punhal, espada, lança, etc.).
Logicamente, muitas outras coisas podem ser usadas como meios de defesa ou de ataque. Nesse
caso, são as chamadas armas impróprias (ex: uma cadeira atirada contra o agressor; um
martelo utilizado para matar; uma ferramenta pontiaguda servindo para intimidar). Refletindo
melhor a respeito, pensamos que o tipo penal vale-se da acepção ampla do termos, ou seja,
refere-se tanto às armas próprias, quanto às impróprias, pois ambas apresentam maior perigo à
incolumidade física da vítima. (Código Penal Comentado, São Paulo, RT, 2007, p. 689).

Acredito que arma proibida do Art. 244 do CPP, deve ser entendida em sentido amplo, ou seja,
qualquer arma própria e imprópria que a pessoa traga consigo com objetivo de utiliza-lá com fim
ilícito.

Busca em Mulheres

Explica ASSIS[2]:

Em mulheres, em situação de emergência que possa ocasionar conseqüências irremediáveis, o PM


executará a busca, com o devido respeito e discrição.

Sempre que possível, a busca em mulher deve ser feita em lugar discreto, fora do alcance da
curiosidade popular, e o PM deve convidar outra mulher que inspire confiança, à qual dará
instruções sobre como efetuar a busca.

Nas Corporações que possuem Polícia Feminina, a revista de mulher será, sempre que possível, a
ela atribuída.

Considerações Finais

Fundada suspeita é de que alguém oculte consigo arma proibida ou objetos obtidos por meios
criminosos, com objetos que sirvam para colher qualquer elemento de convicção, ou ainda traga
consigo carta que o conteúdo possa ser útil a elucidação do fato.

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Assim o policial necessita de algo palpável como:

– a denúncia feita por terceiro de que a pessoa porta o instrumento usado para o cometimento
do delito;

– informações de ocorrência policial repassada por Central de Operações através de sistema


de comunicações;

– se ele mesmo visualizar uma saliência sob a blusa do sujeito, dando nítida impressão de se
tratar de arma de proibida;

– se ele mesmo visualizar que a pessoa traz consigo qualquer elemento de convicção para
elucidação de fatos;

– se a pessoa estiver em flagrante delito, e o policial visualize uma saliência sob a blusa do
sujeito, dando nítida impressão de se tratar de arma proibida, para resguardar a integridade da
equipe policial, do sujeito e de terceiros;

– se a pessoa ao avistar uma viatura policial militar empreende fuga em desabalada carreira.

E neste sentido existe um infinito de possibilidades que irão caracterizar a fundada suspeita. Esta
que deve estar sempre dentro dos limites legais da discricionariedade, baseada em algo mais
concreto e seguro do que a simples suspeita.

Não existirá fundada suspeita quando o policial basear-se em simples suspeita, que é uma
desconfiança ou suposição, algo intuitivo e frágil.

A policia ostensiva tem como principal missão o policiamento ostensivo preventivo fardado, ou
seja, através da presença e das ações e operações policiais ostensivas evitar o acontecimento do
crime, extinguindo o surgimento da oportunidade deste. Assim deve se tomar muito cuidado ao
limitar todas as ações policiais em mínimos detalhes, pois esse minimização da ação policial pode
levar a uma falência da atuação de policia ostensiva preventiva.

Ao meu ver aqueles locais chamados de “Locais de Risco”, quais sejam aqueles onde através de
comprovada estatística ocorrem ilícitos penais em decorrência da oportunidade gerada pela falta de
efetivo policial, que não consegue estar em todos os lugares a todo momento. Nestes “Locais de
Risco” há fundada suspeita para o emprego de bloqueio, fiscalização e abordagem policiais,
buscando preservar o direito coletivo de segurança e tranqüilidade publicas.

2º Ten. QOPM Pedroso, PMPR.

[1] ASSIS, J. C. et al. Lições de Direito para a Atividade das Policias Militares e das
Forças Armadas. Curitiba, Ed:Juruá, 2006, p. 50-51.

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[2] ASSIS, J. C. et al. Lições de Direito para a Atividade das Policias Militares e das
Forças Armadas. Curitiba, Ed:Juruá, 2006, p. 54.

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