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DILIGÊNCIAS DURANTE

O INQUÉRITO POLICIAL

Professor Gilson Miguel Gomes da Silva


Exame do local do crime:

Decorre do procedimento investigativo, uma série de atividades


desenvolvidas para apuração da materialidade delitiva e sua autoria.
Assim, o artigo 6º do CPP dispõe:

Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a


autoridade policial deverá:
I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o
estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos
criminais;
II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após
liberados pelos peritos criminais;
III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do
fato e suas circunstâncias;
IV - ouvir o ofendido;
Exame do local do crime :

V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto


no Capítulo III do Título Vll, deste Livro, devendo o respectivo termo ser
assinado por duas testemunhas que Ihe tenham ouvido a leitura;
VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações;
VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e
a quaisquer outras perícias;
VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se
possível, e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes;
IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista
individual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e estado
de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros
elementos que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e
caráter.
X - colher informações sobre a existência de filhos, respectivas idades e se
possuem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual responsável
pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa.
Exame do local do crime:

Por consequência lógica, as diligências acima não serão realizadas


em toda infração processual, porquanto insta observar a sua natureza
e agir em conformidade com a necessidade investigativa.

Ex.: calúnia (incisos I; IV; V; VIII, VI, segunda parte e IX);


homicídio, roubo, furto qualificado etc. – crimes que deixam
vestígios.
Exame do local do crime:

A Autoridade não pode permitir que se altere o estado e conservação


das coisas, enquanto necessário.

Exceção: Lei nº 9.503 /97


Art. 178. Deixar o condutor, envolvido em acidente sem vítima,
de adotar providências para remover o veículo do local, quando
necessária tal medida para assegurar a segurança e a fluidez do
trânsito:
Infração - média;
Penalidade - multa.
Exame do local do crime:

Mas:

Art. 176. Deixar o condutor envolvido em acidente com vítima:


I - de prestar ou providenciar socorro à vítima, podendo fazê-lo;
II - de adotar providências, podendo fazê-lo, no sentido de evitar perigo para o
trânsito no local;
III - de preservar o local, de forma a facilitar os trabalhos da polícia e da
perícia;
IV - de adotar providências para remover o veículo do local, quando
determinadas por policial ou agente da autoridade de trânsito;
V - de identificar-se ao policial e de lhe prestar informações necessárias à
confecção do boletim de ocorrência:
Infração - gravíssima;
Penalidade - multa (cinco vezes) e suspensão do direito de dirigir;
Medida administrativa - recolhimento do documento de habilitação.
Exame do local do crime:

E, ainda:

Art. 312. Inovar artificiosamente, em caso de acidente automobilístico


com vítima, na pendência do respectivo procedimento policial
preparatório, inquérito policial ou processo penal, o estado de lugar, de
coisa ou de pessoa, a fim de induzir a erro o agente policial, o perito, ou
juiz:
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.
Parágrafo único. Aplica-se o disposto neste artigo, ainda que não
iniciados, quando da inovação, o procedimento preparatório, o inquérito
ou o processo aos quais se refere.
Exame do local do crime:

Violência Doméstica:

Além das providências contidas no art. 6º do CPP, ainda, deve a


Autoridade adotar aquelas previstas no artigo 12 da Lei 11.340/06.
Busca e apreensão:

A busca e apreensão de instrumentos ou objetos relacionados à


prova, poderá ocorrer no próprio local do crime (locus delicti), em
domicílio, na própria pessoal, dentre outros.

Aprofunda-se o estudo, quando a busca precisa ocorrer no domicílio


ou na pessoa.

Isso, devido à proteção constitucional da “casa”.

Art. 5º “XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela


podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso
de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou,
durante o dia, por determinação judicial”.
Busca e apreensão:

Horário: discussão voltada majoritariamente das 6h às 18h (horário


verão? – possível a flexibilização); depois de posto o sol e antes de
nascer.

Além da prova, as diligências são fundamentais, ainda, em relação


aos efeitos genéricos da sentença condenatória: perda em favor da
União, ressalvado o direito do lesado e terceiro e boa-fé, dos
instrumentos do crime.
Oitiva de testemunhas; do ofendido e indiciado:

Ofendido: Deve a Autoridade, quando possível, ouvir o ofendido,


que, normalmente, é quem dispõe de elementos esclarecedores sobre
os fatos, embora sua palavra tenha valor probatório relativo em face
do interesse que tem na relação jurídico-material. Ex.: estupro e sua
clandestinidade, aliada a harmonia da segurança, coerência e
plausibilidade das palavras da vítima.

Cautela, no que toca à fantasia, imaginação, imaturidade moral,


mitomania, sugestibilidade, levando ao mundo da fantasia, no que
respeita o depoimento infantil.
Oitiva de testemunhas; do ofendido e indiciado:

Testemunhas: Somente ser pronunciam sobre o passado, sem emitir


juízo de valores. Valor relativo, tocante ao campo probatório, diante
de diversos motivos, como erro de percepção.
Oitiva de testemunhas; do ofendido e indiciado:

Indiciado: A Autoridade deve qualificar e identificar o indiciado


(qualificação direta) datiloscopicamente, quando permitido, e
interroga-lo, se possível (fuga, autoria desconhecida – qualificação
indireta), garantindo o direito constitucional ao silêncio, sem
importar em autoincriminação, mas isso não significa que pode
silenciar sobre sua qualificação (art. 307, CP – falsa identidade), pois
somente lhe assiste a inércia em esclarecer os fatos.

Pode o advogado assistir o interrogatório, mas não é indispensável,


nem lhe cabe fazer indagações.
Reconhecimento de pessoas e coisas:

Art. 226. Quando houver necessidade de fazer-se o reconhecimento de


pessoa, proceder-se-á pela seguinte forma:
I - a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será convidada a
descrever a pessoa que deva ser reconhecida;
Il - a pessoa, cujo reconhecimento se pretender, será colocada, se
possível, ao lado de outras que com ela tiverem qualquer semelhança,
convidando-se quem tiver de fazer o reconhecimento a apontá-la;
III - se houver razão para recear que a pessoa chamada para o
reconhecimento, por efeito de intimidação ou outra influência, não diga a
verdade em face da pessoa que deve ser reconhecida, a autoridade
providenciará para que esta não veja aquela;
IV - do ato de reconhecimento lavrar-se-á auto pormenorizado, subscrito
pela autoridade, pela pessoa chamada para proceder ao reconhecimento
e por duas testemunhas presenciais.
Parágrafo único. O disposto no no III deste artigo não terá aplicação na
fase da instrução criminal ou em plenário de julgamento.
Reconhecimento de pessoas e coisas:

Art. 227. No reconhecimento de objeto, proceder-se-á com as


cautelas estabelecidas no artigo anterior, no que for aplicável.

Art. 228. Se várias forem as pessoas chamadas a efetuar o


reconhecimento de pessoa ou de objeto, cada uma fará a prova em
separado, evitando-se qualquer comunicação entre elas.
Acareação:

Art. 229. A acareação será admitida entre acusados, entre acusado e


testemunha, entre testemunhas, entre acusado ou testemunha e a pessoa
ofendida, e entre as pessoas ofendidas, sempre que divergirem, em suas
declarações, sobre fatos ou circunstâncias relevantes.
Parágrafo único. Os acareados serão reperguntados, para que
expliquem os pontos de divergências, reduzindo-se a termo o ato de
acareação.

Art. 230. Se ausente alguma testemunha, cujas declarações divirjam das


de outra, que esteja presente, a esta se darão a conhecer os pontos da
divergência, consignando-se no auto o que explicar ou observar. Se
subsistir a discordância, expedir-se-á precatória à autoridade do lugar
onde resida a testemunha ausente, transcrevendo-se as declarações desta
e as da testemunha presente, nos pontos em que divergirem, bem como o
texto do referido auto, a fim de que se complete a diligência, ouvindo-se a
testemunha ausente, pela mesma forma estabelecida para a testemunha
presente. Esta diligência só se realizará quando não importe demora
prejudicial ao processo e o juiz a entenda conveniente.
Exames periciais:

O exame de corpo de delito (corpus delicti) ou corpus criminis, é o


conjunto dos vestígios deixados pelo crime. Obrigatório, sempre que
a infração deixar vestígios.

Exemplo: veículo, arma, porta, muro, cadáver, corpo humano vivo,


sangue, caligráfico, psiquiátrico,
Reprodução simulada:

Por vezes, cabe a verificação sobre o modo como foi praticada a


infração, razão pela qual se procede à reprodução simulada dos fatos,
de que não atende a moralidade ou a ordem pública.

O indiciado não é obrigado, em decorrência do princípio nemo


tenetur se detegere, mas pode a Autoridade refazer a cena através de
testemunhas presenciais.
Identificação:

Indiciamento:

Definição: é o ato privativo da autoridade policial (o delegado não


pode ser oficiado pelo juiz ou promotor para que exerça o
indiciamento), por meio do qual ela reconhece formalmente que os
indícios de autoria recaem sobre determinado suspeito. É um ato
fundamentado.

Durante o indiciamento dar-se-á a identificação, o interrogatório e o


pregressamento.
Identificação:

O civilmente identificado é obrigado a ser identificado


dactiloscopicamente?

Identificação: dados qualificativos do indiciado. Artigo 5º, LVIII – o


civilmente identificado não será submetido à identificação criminal
(fotografia, impressão digital), a não ser que se faça presente alguma
exceção prevista em lei (lei 12.037/09 – exemplo: documento antigo,
como foto antiga).

Obs: Identificação dactiloscópica - impressão digital


Identificação por oftalmografia – estrutura da íris
Identificação:

Lei 12.037/2009

Art. 1º O civilmente identificado não será submetido a identificação


criminal, salvo nos casos previstos nesta Lei.

Art. 2º A identificação civil é atestada por qualquer dos seguintes


documentos:
I – carteira de identidade;
II – carteira de trabalho;
III – carteira profissional;
IV – passaporte;
V – carteira de identificação funcional;
VI – outro documento público que permita a identificação do indiciado.
Parágrafo único. Para as finalidades desta Lei, equiparam-se aos
documentos de identificação civis os documentos de identificação
militares.
Identificação:

Art. 3º Embora apresentado documento de identificação, poderá ocorrer identificação


criminal quando:
I – o documento apresentar rasura ou tiver indício de falsificação;
II – o documento apresentado for insuficiente para identificar cabalmente o indiciado;
III – o indiciado portar documentos de identidade distintos, com informações
conflitantes entre si;
IV – a identificação criminal for essencial às investigações policiais, segundo despacho
da autoridade judiciária competente, que decidirá de ofício ou mediante representação
da autoridade policial, do Ministério Público ou da defesa;
V – constar de registros policiais o uso de outros nomes ou diferentes qualificações;
VI – o estado de conservação ou a distância temporal ou da localidade da expedição do
documento apresentado impossibilite a completa identificação dos caracteres essenciais.
Parágrafo único. As cópias dos documentos apresentados deverão ser juntadas aos
autos do inquérito, ou outra forma de investigação, ainda que consideradas
insuficientes para identificar o indiciado.

Art. 4º Quando houver necessidade de identificação criminal, a autoridade encarregada


tomará as providências necessárias para evitar o constrangimento do identificado.
Identificação:
Art. 5º A identificação criminal incluirá o processo datiloscópico e o
fotográfico, que serão juntados aos autos da comunicação da prisão em
flagrante, ou do inquérito policial ou outra forma de investigação.
Parágrafo único. Na hipótese do inciso IV do art. 3o, a identificação criminal
poderá incluir a coleta de material biológico para a obtenção do perfil
genético.

Art. 5o-A. Os dados relacionados à coleta do perfil genético deverão ser


armazenados em banco de dados de perfis genéticos, gerenciado por unidade
oficial de perícia criminal.
§ 1o As informações genéticas contidas nos bancos de dados de perfis genéticos
não poderão revelar traços somáticos ou comportamentais das pessoas, exceto
determinação genética de gênero, consoante as normas constitucionais e
internacionais sobre direitos humanos, genoma humano e dados genéticos.
§ 2o Os dados constantes dos bancos de dados de perfis genéticos terão caráter
sigiloso, respondendo civil, penal e administrativamente aquele que permitir ou
promover sua utilização para fins diversos dos previstos nesta Lei ou em decisão
judicial.
§ 3o As informações obtidas a partir da coincidência de perfis genéticos deverão
ser consignadas em laudo pericial firmado por perito oficial devidamente
habilitado.
Identificação:

Art. 6º É vedado mencionar a identificação criminal do indiciado em


atestados de antecedentes ou em informações não destinadas ao juízo
criminal, antes do trânsito em julgado da sentença condenatória.

Art. 7º No caso de não oferecimento da denúncia, ou sua rejeição, ou


absolvição, é facultado ao indiciado ou ao réu, após o arquivamento
definitivo do inquérito, ou trânsito em julgado da sentença, requerer a
retirada da identificação fotográfica do inquérito ou processo, desde que
apresente provas de sua identificação civil.

Art. 7o-A. A exclusão dos perfis genéticos dos bancos de dados ocorrerá
no término do prazo estabelecido em lei para a prescrição do delito.

Art. 7o-B. A identificação do perfil genético será armazenada em banco


de dados sigiloso, conforme regulamento a ser expedido pelo Poder
Executivo.
Identificação:

Salvo as restrições legais, o indiciado não pode recursar-se em


permitir a retirada de suas impressões digitais, sob pena de
responder por desobediência.

Interrogatório: direito fundamental ao silêncio, artigo 5º, LXIII, CF.


Nosso ordenamento jurídico não admite o crime de perjúrio, ou seja,
no sistema brasileiro admite-se que o acusado minta sobre os fatos,
afinal a mentira está amparada pelo exercício de defesa. O direito de
mentira não abrange a qualificação, sob pena de cometer o crime
de falsa identidade.

Pregressamento: é a colheita de dados da vida pregressa.


Identificação:

Pessoas que NÃO podem jamais ser indiciadas:

- portadores de imunidade diplomática: a eles não se aplica a lei


penal e processual brasileira;
- Presidente da República, por força do artigo 86, CF;
- menores de 18 anos: praticam atos infracionais, não cometem
crimes);
- magistrados e membros do Ministério Público.

Obs: indiciados maiores de 18 e menores de 21 – não há mais necessidade


de curador especial, devido a maioridade civil trazida pelo CC
(inaplicabilidade art. 15 CPP).
Folha de Antecedentes:

Impõe-se a averiguação, pela Autoridade, sobre os antecedentes


criminais, porquanto se irá aferir sua condição de reincidentes,
portador de maus antecedentes, qualidade que servirá à aplicação da
dosimetria de eventual pena. Todavia, não basta a mera folha de
antecedentes para o fim mencionado, razão pela qual o Juízo da
causa oficia aquele por onde correram os processos contra o infrator,
e requisita certidões de eventuais condenações com a nota de trânsito
em julgado ou não.
Conclusão do inquérito:

Prazo:

Art. 10, do Código de Processo Penal:

- 10 dias se indiciado preso, prorrogáveis;


- 30 dias quando não houver indiciado preso, prorrogáveis.

Justiça Federal:
- indiciado preso o prazo será de 15 dias prorrogáveis por mais 15
dias;
- não preso o prazo será de 30 dias.
Conclusão do inquérito:

Prazo:

A prisão temporária possui tempo determinado e só vigora na fase de


investigação, após, deve-se converter em prisão preventiva (se
preenchidos os requisitos). Quando houver decretação de prisão
temporária o Inquérito Policial deve ser concluído no prazo dela. Se
não for concluído o indiciado será solto e o prazo para conclusão do
Inquérito Policial será o prazo comum.

As dilações de prazos devem ser analisadas pelo juiz de direito.


Deve-se adotar como máximo da prorrogação para conclusão do
inquérito até que ocorra a extinção da punibilidade.
Conclusão do inquérito:

Prazo:

- Como se conta o prazo estando o indiciado preso?

Natureza do prazo: a doutrina diz que quando se trata de indicado


preso deve ser considerado o prazo de direito material (inclui o
início), indiciado solto deve ser considerado o prazo de direito
processual (exclui o início).
Conclusão do inquérito:

O Relatório:

Relato objetivo dos atos e diligências realizados. A autoridade


policial não deve emitir juízo de valor sobre os fatos e sobre a
culpabilidade no relatório. Será permitida apenas uma representação
do delegado visando a decretação da prisão preventiva e o MP deve
se posicionar a respeito da representação.
Inquérito e Juizado de Instrução:

Não há em nosso ordenamento jurídico o Juizado de Instrução.


Caberia à Polícia, ao prender os criminosos, apontar os meios de
prova. A função hoje da Autoridade Policial, ficaria a cargo de um
“Juiz Instrutor”, que após colher as provas, passar-se-ia à fase do
julgamento, logo, seria inexistente a figura do inquérito policial.
Entendendo pela procedência da existência do crime e indícios de
materialidade, os autos seguem a outro Juiz competente, em que
haverá lugar a audiência de julgamento.

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