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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO ________________.

URGENTE
RÉU PRESO

LIVRE DISTRIBUIÇÃO

Impetrante: Beltrano de Tal


Paciente: Nome XXXXX
Autoridade Coatora: MM Juiz de Direito da 00ª Vara da Cidade (CE)

O advogado BELTRANO DE TAL, brasileiro, casado,


maior, inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil, Seção do Ceará, sob o nº 112233,
com seu escritório profissional consignado no timbre desta, onde receberá intimações,
vem, com o devido respeito à presença de Vossa Excelência, para, sob a égide do art.
648, inciso II, da Legislação Adjetiva Penal c/c art. 5º, inciso LXVIII da Lei
Fundamental, impetrar a presente

ORDEM DE HABEAS CORPUS,


(com pedido de “medida liminar”)

em favor de PEDRO DAS QUANTAS, brasileiro, solteiro, mecânico, possuidor do RG.


nº. 11223344 – SSP(PR), residente e domiciliado na Rua X, nº. 000 – Cidade (CE), ora
Paciente, posto que encontra-se sofrendo constrangimento ilegal por ato do eminente
Juiz de Direito da 00ª Vara da Cidade (CE), o qual determinara o cumprimento de
busca e apreensão domiciliar, sem a devida fundamentação.

(1)
SÍNTESE DOS FATOS

O ilustre Delegado de Polícia desta Cidade, com o propósito


de melhor aparelhar as investigações em curso nos autos IP 345566, requereu ao
Juízo de Direito da 00ª Vara Criminal uma ordem judicial de busca e apreensão
domiciliar. (doc. 01) Segundo consta desse pleito, o Delegado motivou esse intento
para averiguar se o Paciente, e outros de um pretenso banco, estavam na residência
de seu pai.

Desse modo, a razão da diligência em espécie era


descobrir, unicamente em razão de parentesco, se o Paciente tivera a guarida do seu
pai para ocultar-se da investigação criminal. É patente que a Autoridade Policial não
descrevera, minimamente, quaisquer razões lúcidas, plausíveis e sustentáveis de que
ali, no endereço fomentado, algum ilícito criminal pudesse estar ocorrendo. É dizer, o
pleito da diligência apoiou-se em uma razão simplória: a residência do pai é um dos
lugares mais prováveis que o filho delinquente procuraria ocultar-se.

Certo é que, na data de 00 de março do corrente ano, a


Autoridade Coatora recebera o ofício nº. 2014/77389 (doc. 02). Nessa ocasião, esse
despachara no sentido de acolher a súplica da Autoridade Policial, ou seja, averiguar a
existência de eventual ilícito criminal nas dependências da casa do pai do Paciente.

Todavia, e eis o âmago deste mandamus, a decisão


exarada não foi devidamente fundamentada. Proferiu-se despacho, o qual limitou-se
na seguinte passagem: “Acolho o pedido da Autoridade Policial. Expeça-se
mandado de busca e apreensão para os fins pretendidos. Expedientes
necessários. Cumpra-se. “
No dia seguinte, aproximadamente às 09:45h, o Paciente
fora surpreendido com vários policiais na residência do seu pai. Naquela ocasião,
munidos do mandado, fizeram uma verdadeira devassa na residência. Em dado
momento, encontraram no seu interior 02(dois revólver) calibre 38 municiados,
4(quatro celulares), dois laptops, um cordão de ouro e uma quantia em dinheiro de de
R$ 348,00(trezentos e quarenta e oito reais), Todo esse material encontra-se no laudo
de apreensão aqui acostado. (doc. 03)

Pelos motivos acima expostos, o Paciente fora preso em


flagrante por posse ilegal de arma de fogo e receptação simples.
O Inquérito Policial encerrado e enviado ao Judiciário fora
concedida vistas ao Órgão Ministerial. Antes disso, decretou-se a prisão preventiva do
Paciente. (doc. 04) O Parquet, por sua vez, unicamente lastreado nas provas obtidas
nos autos do inquérito, maiormente em função da apreensão realizada, ofertou a
denúncia contra o Paciente. (doc. 05) Imputou-se ao Paciente a prática de crime de
porte ilegal de arma de fogo e, também, por receptação simples.

A peça exordial fora recebida pela Autoridade Coatora e,


ato seguinte, determinara a citação do Acusado.

Nesse diapasão, são essas as considerações fáticas que


importam ao deslinde do presente writ.

(2)

NULIDADE ABSOLUTA DA PROVA – DERIVAÇÃO – AUSÊNCIA DE


FUNDAMENTAÇÃO

As provas colhidas por meio do cumprimento do Mandado


de Busca e Apreensão são ilícitas. Essas provas, igualmente, serviram como único
subsídio para Acusação aprumar suas linhas na peça inicial acusatória. Afirmamos a
ilicitude da prova em decorrência de colisão a preceitos constitucionais claros, o que
será melhor abordado nas linhas ulteriores.

O Magistrado de piso, aqui figurando como Autoridade


Coatora, não apontara minimante fatos concretos que justificassem a real necessidade
da medida judicial aqui combatida. Ao revés disso, limitou-se a reportar-se aos
argumentos superficiais declinados pela Autoridade Policial.

Com agira, milita contra a Autoridade Coatora a pecha de


ausência de fundamentação do decisório guerreado. É cediço que, nesse passo, as
decisões judiciais devem ser devidamente fundamentadas. (CF, art. 93, inc. IX)

Quanto à necessidade de fundamentação das decisões


judiciais, já se decidiu que:

HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. NULIDADE. AUSÊNCIA DE


DEFENSOR POR OCASIÃO DO INTERROGATÓRIO NA FASE
INQUISITORIAL. IRRELEVÂNCIA. PEÇA MERAMENTE INFORMATIVA.
DECISÃO QUE CONVERTEU A PRISÃO EM FLAGRANTE EM PREVENTIVA.
CARÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. GRAVIDADE EM ABSTRATO.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL CONFIGURADO.
1. A ausência de defensor quando do interrogatório perante a autoridade judicial
não gera nulidade, até porque sendo o inquérito policial mera peça informativa,
na qual vige o princípio inquisitivo, as provas nele produzidas devem ser refeitas
em juízo. 2. É descabida a prisão cautelar quando não restar demonstrado nos
autos que a paciente, solta, se furtará à aplicação da Lei penal e que a sua
liberdade colocará em risco a ordem pública, mormente se demonstradas
condições pessoais favoráveis. Inteligência do artigo 312 do CPP. Ordem
concedida, com aplicação de medidas cautelares. (TJGO - HC 0424772-
82.2013.8.09.0000; Inhumas; Primeira Câmara Criminal; Rel. Des. Nicomedes
Domingos Borges; DJGO 28/02/2014; Pág. 234)

Não devemos olvidar que tal proceder também vai de


encontro a outros contornos constitucionais, tais como direito à privacidade ( CF, art. 5,
X) e de inviobilidade de domicílio (CF, art. 5, XI).

Com esse enfoque, adverte Norberto Avena, verbis:

“Para o deferimento da ordem judicial de busca e apreensão domiciliar é


necessária a existência de fundadas razões que a autorizem (art. 240, § 1º, do
CPP), como tais consideradas aquelas externadas por meio de motivação
concreta quanto à sua ocorrência e amparadas, senão em inicio de prova, ao
menos indícios relativamente convincentes quanto à necessidade da medida.
(...)
Assim, ao autorizar a busca domiciliar, a autoridade judicial deve, ‘ de forma
inequívoca, nos fundados motivos, que a restrição a direito individual aflora
inafastável, para a persecução penal; evidenciar o interesse social concreto,
prevalecendo sobre o individual; ser proporcional ao fim almejado; estar
ajustada, em sua concretude, com a finalidade perseguida. E, mais, patentear
sua imprescindibilidade, oportunidade e conveniência. “ (AVENA, Norberto
Cláudio Pâncaro. Processo penal: esquematizado. 4ª Ed. São Paulo: Método,
2012, p. 591)

Não discrepando do entendimento antes revelado, urge


salientar o magistério de Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar:

“A medida de busca e apreensão domiciliar só poderá ser determinada quando


fundadas razões a autorizarem, sendo necessário lastro mínimo indicando que
os objetos ou pessoas estão realmente na casa passível da medida. Da mesma
forma, não se admite mandado genérico, permitindo uma devassa geral na
residência, o que simbolizaria verdadeiro abuso de autoridade, ou mesmo
mandado franqueando o ingresso em número indeterminado de casas de um
complexo de favelas, ou de uma rua inteira. “ (TÁVORA, Nestor; ALENCAR,
Rosmar Rodrigues. Curso de direito processual penal. 7ª Ed. Salvador:
JusPodvm, 2012, p. 468)

Com efeito, é ancilar o entendimento jurisprudencial:

PENAL. PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. CRIMES CONTRA A


ORDEM TRIBUTÁRIA. CORRUPÇÃO ATIVA. BUSCA E APREENSÃO.
LIMITAÇÃO À GARANTIA CONSTITUCIONAL. NECESSIDADE DE
CONCRETA FUNDAMENTAÇÃO. VÍCIOS NA COLHEITA DA PROVA.
IMPRESTABILIDADE À SUA UTILIZAÇÃO NO PROCESSO JUDICIAL.
DIREITO DE ACESSO AOS AUTOS DO INQUÉRITO. SÚMULA VINCULANTE
14/STF.
1. Toda decisão judicial que impõe limitação a uma garantia constitucional deve,
obrigatoriamente, ser concreta e adequadamente fundamentada, sob pena de
nulidade. 2. O magistrado de primeiro grau, ao deferir a medida requerida,
limitou-se a apontar os requisitos legais à sua concessão e a citar acórdão
desta corte em que são apontados os objetivos da medida e os momentos em
que ela pode ser adotada, fundamentos que não se mostram suficientes à
imposição da medida acautelatória. 3. Ainda que se admita a utilização de fatos
mencionados na representação da autoridade policial, não há na decisão
elementos idôneos a autorizar a imposição da cautelar, pois o próprio
magistrado afirma, nessa mesma decisão, que não relatou a autoridade policial
fatos que autorizem a formação de um juízo, ainda que sumário, de que os
referidos investigados irão empecer ou obstaculizar as investigações. 4. A
desnecessidade da medida e a ausência de justificativa idônea na decisão de
primeiro grau fica mais evidenciada quando se leva em consideração que a
prática dos fatos apontados ocorreu entre os anos de 2003 e 2008 e, mesmo
após dois anos de interceptação telefônica e telemática dos pacientes, a
autoridade policial não foi capaz de apontar um único diálogo com relação aos
fatos originalmente investigados, de forma a autorizar o afastamento das
garantias constitucionais à intimidade e à inviolabilidade das comunicações e de
seus domicílios. 5. A existência de vícios nos autos de busca e arrecadação
impede o uso dos bens e objetos apreendidos no processo judicial, vedada a
utilização de prova ilícita. 6. É direito da defesa dos acusados o amplo acesso
às peças de informação já documentadas no inquérito policial, sob pena de
ofensa à garantia constitucional do direito à informação e ao exercício do direito
de defesa. Súmula vinculante 14/STF. 7. Habeas corpus concedido para
determinar a devolução dos bens e documentos apreendidos nos endereços
residenciais e comerciais dos pacientes, bem como para assegurar à defesa
dos acusados o amplo acesso às peças de informação já documentadas no
inquérito policial. (STJ - HC 198.224; Proc. 2011/0037346-8; CE; Sexta Turma;
Rel. Desig. Min. Sebastião Reis Júnior; DJE 07/08/2013; Pág. 1479)

HABEAS CORPUS. CORRUPÇÃO PASSIVA E VIOLÊNCIA ARBITRÁRIA.


1. Preliminar de não conhecimento suscitada pelo ministério público.
Inviabilidade. Via eleita que possibilita a análise dos argumentos vertidos na
impetração. Preliminar rejeitada. 2. Almejada a declaração de nulidade, por
ausência de fundamentação, da decisão que deferiu a medida de busca e
apreensão. Possibilidade. Eiva constatada. 3. Postulada a restituição do
material apreendido com sua consequente inutilização como meio de prova.
Necessidade. 4. Ordem concedida. 1. Não há falar-se em não conhecimento de
habeas corpus por inadequação da via eleita quando a matéria que lhe deu
ensejo visa tutelar, mesmo que indiretamente, a liberdade do paciente. 2. Como
é de trivial sabença, os tribunais pátrios têm afastado a alegação de
nulidade pela suposta ofensa ao art. 93, IX, da Constituição Federal,
quando o magistrado, ao fundamentar sua decisão, reporta-se a outro
édito judicial ou ao parecer ministerial. Entretanto, ainda que se admita que
o julgador alicerce seu entendimento nas razões vertidas em outra peça do
processo ou ainda que lhe seja permitido lançar mão de motivação sucinta,
exige-se, dele, que exponha com clareza os motivos de seu convencimento,
não bastando, assim, a mera menção à peça paradigma sem a explicitação de
quais de seus trechos devem integrar o decisum. No ponto em questão, o
Superior Tribunal de justiça vai mais além, passando a exigir a transcrição das
razões de decidir adotadas para que reste configurada a fundamentação per
relationem. (precedentes da corte cidadã: HC n. 219572/sp, dje de 05/11/2012;
HC n. 210981/sp, dje de 21/11/2011 e HC n. 220.562/sp, dje 25/02/2013). 2. 1.
No presente caso, a simples remissão feita pela juíza monocrática ao deferir
pedido de busca e apreensão deduzido pelo gaeco, das razões postas por este
órgão, por óbvio, não permite que se saibam quais as assertivas ministeriais
que passaram a integrar a decisão, situação que, a toda evidencia, impede o
regular exercício da ampla defesa, exsurgindo, daí, a sua nulidade. 3. Declarada
a nulidade do decisum que autorizou a realização de busca e apreensão, a
devolução ao proprietário dos objetos e/ou documentos apreendidos, bem como
a não admissão, como meio de prova, de quaisquer dados eventualmente
obtidos por intermédio da aludida medida, são desdobramentos lógicos e
necessários. 4. Ordem concedida. (TJMT - HC 61499/2013; Capital; Terceira
Câmara Criminal; Red. Desig. Des. Luiz Ferreira da Silva; Julg. 17/07/2013;
DJMT 27/09/2013; Pág. 258)

HABEAS CORPUS. PACIENTE DENUNCIADO PELA PRÁTICA DOS CRIMES


TIPIFICADOS NO ART. 121, §2º, I, C/C ART. 14, II (POR DUAS VEZES) E NO
ART. 157, §2º, I, II E V, C/C ART. 29 E ART. 69, TODOS DO CP.
REALIZAÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO EM VÁRIOS EMPREENDIMENTOS
DE SUA RESPONSABILIDADE. AUTORIZAÇÃO JUDICIAL. PRETENDIDO
RECONHECIMENTO DA NULIDADE DO ATO. VERIFICADA AUSÊNCIA DE
FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA PARA O DEFERIMENTO DA MEDIDA.
RECONHECIDA NULIDADE. PROVAS OBTIDAS PELA BUSCA E
APREENSÃO INUTILIZADAS. DEVOLUÇÃO DOS BENS APREENDIDOS
ORDEM CONCEDIDA.
É nula, por ofensa ao art. 93, inciso IX da CF, decisão que se utiliza dos
fundamentos do órgão acusatório para o deferimento da medida de busca e
apreensão, revelando eles, inidoneidade para o fim almejado. Suscitada pelo
pgj. Preliminar de não conhecimento. Preliminar afastada. Inevitável o
reconhecimento de que as questões suscitadas acerca da nulidade da decisão
que deferiu a medida de busca e apreensão pode implicar em eventuais
prejuízos à parte, amparando-se, neste caso, da inovação jurisprudencial da
ordem mandamental, merecendo seu conhecimento. (TJMT - HC 38138/2013;
Várzea Grande; Terceira Câmara Criminal; Rel. Des. Rondon Bassil Dower
Filho; Julg. 08/05/2013; DJMT 12/06/2013; Pág. 33)

Percebe-se que as provas, advindas do inquérito policial em


liça por meio da busca e apreensão, foi o único e exclusivo liame para possibilitar
denúncia contra o Paciente. Destarte, há um nexo de causalidade entre as mesmas. É
dizer, aquela fez derivar os argumentos da peça acusação.

Desse modo, tudo isso aponta à hipótese da “prova ilícita


por derivação”. Por outro dizer, a Teoria dos Frutos da Árvore Envenenada.
Inexiste outra prova independente, a não ser o inquérito policial e, maiormente, o
material apreendido. Por esse norte, a denúncia está contaminada por derivação da
ilegalidade perpetrada no ato processual em comento.
Com esse sentir, professa Guilherme de Souza Nucci,
verbo ad verbum:

“Da escuta telefônica não autorizada, portanto, criminosa, advém a localização


de uma testemunha. Eliminada a primeira prova, pois ilícita (escuta), deve-se
expurgar, igualmente, a prova testemunhal, pois deriva da raiz indevidamente
produzida. “ (NUCCI, Guilherme de Souza. Provas no processo penal. 2ª Ed.
São Paulo: RT, 2011, p. 35)

Nesse mesmo rumo, leciona André Nicolitt,, ipsis Litteris

“Não só a prova diretamente ilícita é vedada pela Constituição, mas tudo que
derivar da ilicitude será considerado imprestável ao processo, é o que ficou
definido na experiência estadunidense como fruits of the posonous tree (frutos
da árvore envenenada), que parte da comparação de que uma árvore
envenenada produz frutos envenenados, construindo-se então a teoria sobre
provas ilícitas por derivação. “ (NICOLITT, André Luiz. Manual de processo
penal. 4ª Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013, p. 380)

Urge transcrever trecho extraído do Informativo 476 do


STJ, onde, no caso emblemático da “Operação Satiagraha” que cuidou mais
especificamente do enfoque aqui em debate:

NULIDADES. FASE PRÉ-PROCESSUAL. PROVAS ILÍCITAS.


CONTAMINAÇÃO. AÇÃO PENAL.
Trata-se de paciente denunciado na Justiça Federal pela suposta prática do
crime de corrupção ativa previsto no art. 333, caput, c/c o art. 29, caput, ambos
do CP. A ação penal condenou-o em primeira instância e, contra essa sentença,
há apelação que ainda está pendente de julgamento no TRF. No habeas
corpus, buscam os impetrantes que seja reconhecida a nulidade dos
procedimentos pré-processuais (como monitoramento telefônico e telemático,
bem como ação controlada) que teriam subsidiado a ação penal e o inquérito
policial; pois, a seu ver, incorreram em inúmeras ilegalidades, visto que os atos
típicos de polícia judiciária foram efetuados por agentes de órgão de inteligência
(pedido negado em habeas corpus anterior impetrado no TRF). Pretendem que
essa nulidade possa ser utilizada em favor do paciente nas investigações e/ou
ações penais decorrentes de tais procedimentos, inclusive, entre elas, a
sentença da ação penal que o condenou. Anotou-se que o inquérito policial foi
iniciado formalmente em 25/6/2008, mas as diligências seriam anteriores a
fevereiro de 2007 e, até julho de 2008, os procedimentos de monitoramento
foram efetuados, sem autorização judicial, por agentes de órgão de inteligência
em desatenção à Lei n. 9.296/1999. Inclusive, o delegado da Polícia Federal
responsável teria arregimentado, para as ações de monitoramento, entre 75 e
100 servidores do órgão de inteligência e ex-agente aposentado sem o
conhecimento do juiz e do MP, consoante ficou demonstrado em outra ação
penal contra o mesmo delegado – a qual resultou na sua condenação por
violação de sigilo funcional e fraude processual quando no exercício da
apuração dos fatos relacionados contra o ora paciente. O Min. Relator aderiu ao
parecer do MPF e concedeu a ordem para anular a ação penal desde o início,
visto haver a participação indevida e flagrantemente ilegal do órgão de
inteligência e do investigador particular contratado pelo delegado, o que resultou
serem as provas ilícitas – definiu como prova ilícita aquela obtida com violação
de regra ou princípio constitucional. Considerou que a participação de agentes
estranhos à autoridade policial, que tem a exclusividade de investigação em
atividades de segurança pública, constituiria violação do art. 144, § 1º, IV, da
CF/1988, da Lei n. 9.883/1999, dos arts. 4º e 157 e parágrafos do CPP e,
particularmente, dos preceitos do Estado democrático de direito. Destacou
também como fato relevante a edição de sentença condenatória do delegado
por crime de violação de sigilo profissional e fraude processual – atualmente
convertida em ação penal no STF (em razão de prerrogativa de foro decorrente
de cargo político agora ocupado pelo delegado). Asseverou ser razoável que a
defesa do paciente tenha apresentado documentos novos na véspera do
julgamento dos embargos de declaração opostos contra a denegação do writ
pelo TRF, visto não tê-los obtido antes (tratava-se de um CD-ROM de leitura
inviável até aquele momento). Como foram consideradas ilícitas as provas
colhidas, adotou a teoria dos frutos da árvore envenenada (os vícios da
árvore são transmitidos aos seus frutos) para anular a ação penal desde o
início, apontando que assim se posicionam a doutrina e a jurisprudência –
uma vez reconhecida a ilicitude das provas colhidas, essa circunstância
as torna destituídas de qualquer eficácia jurídica, sendo que elas
contaminam a futura ação penal. Contudo, registrou o Min. Relator, os
eventuais delitos cometidos pelo paciente devem ser investigados e, se
comprovados, julgados, desde que seja observada a legalidade dos métodos
utilizados na busca da verdade real, respeitando-se o Estado democrático de
direito e os princípios da legalidade, da impessoalidade e do devido processo
legal; o que não se concebe é o desrespeito às normas constitucionais e aos
preceitos legais. Para a tese vencida, inaugurada com a divergência do Min.
Gilson Dipp, é inviável a discussão do tema na via do habeas corpus, pois ela
se sujeita a exame de prova e não há os elementos de certeza para a conclusão
pretendida pelos impetrantes. Destacou a coexistência de apelação no TRF
sobre a mesma discussão do habeas corpus, com risco de invasão ou
usurpação da competência jurisdicional local. Relembrou, assim, as
observações feitas em julgamentos semelhantes de que esse expediente de
medidas concomitantes e substitutivas de recursos ordinários é logicamente
incompatível com a ordem processual por expor à possível ambiguidade,
contradição ou equívoco os diferentes órgãos judiciais que vão examinar o
mesmo caso concreto. Asseverou ser fora de qualquer dúvida que o órgão de
inteligência em comento se rege por legislação especial e institucionalmente
serve ao assessoramento e como subsídio ao presidente da República em
matéria de interesse ou segurança da sociedade e do Estado, mas tal situação,
a seu ver, não afastaria a possível participação dos agentes de inteligência
nessa ou noutra atividade relacionada com seus propósitos institucionais, nem
impediria aquele órgão de relacionar-se com outras instituições, compartilhando
informações. Entende, assim, que, mesmo admitindo o suposto e possível
excesso dos agentes de inteligência nos limites da colaboração ou mesmo a
eventual invasão de atribuições dos policiais, essa discussão sujeitar-se-ia à
avaliação fático-probatória, que só poderia ser formalmente valorizada quando
inequívoca e objetivamente demonstrada, a ponto de não remanescerem
dúvidas. No entanto, explicitou que, nos autos, há uma grande quantidade de
cópias de documentos e referências que requer largueza investigatória
incompatível com a via do habeas corpus. Ressaltou que, conquanto exista
prova produzida em outra instrução penal, o suposto prevalecimento dessa
prova emprestada (apuração dos delitos atribuídos ao delegado) pressupõe
discussão de ambas as partes quanto ao seu teor e credibilidade, o que não
ocorreu. Todavia, a seu ver, se fosse considerável tal prova, a conclusão seria
inversa, pois houve o arquivamento dos demais crimes atribuídos ao delegado
relacionados com a suposta usurpação da atividade de polícia judiciária, que, no
caso, é a Polícia Federal, no que se baseou toda a impetração. Ademais,
estaria superada a fase de investigação, pois há denúncia recebida, sentença
de mérito editada pela condenação e apelação oferecida sobre todos os temas
referidos havidos antes da instauração da ação penal; tudo deveria ter sido
discutido no tempo próprio ou no âmbito da apelação, caso as supostas
nulidades ou ilicitudes já não estivessem preclusas pela força do disposto na
combinação dos arts. 564, III; 566; 571, II, e 573 e parágrafos do CPP.
Ademais, o juiz afirmou implicitamente a validade dos procedimentos no ato de
recebimento da denúncia e as interceptações ou monitoramentos tidos por
ilícitos foram confirmados por depoimentos de testemunhas colhidos em
contraditório, respeitada a ampla defesa. Para o voto de desempate do Min.
Jorge Mussi, entre outras considerações, o órgão de inteligência não poderia
participar da investigação na clandestinidade sem autorização judicial; essa
participação, na exposição de motivos da Polícia Federal, ficou evidente. Assim,
a prova obtida por meio ilícito não é admitida no processo penal brasileiro,
tampouco pode condenar qualquer cidadão. Explica que não há supressão de
instância quando a ilicitude da prova foi suscitada nas instâncias ordinárias e,
nesses casos, o remédio jurídico é o habeas corpus ou a revisão criminal. A
Turma, ao prosseguir o julgamento, por maioria, concedeu a ordem.
Precedentes citados do STF: HC 69.912-RS, DJ 26/11/1993; RE 201.819-RS,
DJ 27/10/2006; do STJ: HC 100.879-RJ, DJe 8/9/2008, e HC 107.285-RJ, DJe
7/2/2011. HC 149.250-SP, Quinta Turma, Rel. Min. Adilson Vieira Macabu
(Desembargador convocado do TJ-RJ), julgado em 7/6/2011. Fonte:
Informativo nº 476 do STJ.

Em arremate, não resta, nem de longe, quaisquer


circunstâncias que justifiquem a prisão em liça, e, mais ainda, os procedimentos
ulteriores à apreensão ilegalmente determinada.

(4)
DO PEDIDO DE “MEDIDA LIMINAR”

A leitura, por si só, da decisão que decretou a prisão


preventiva do Paciente, demonstra na singeleza de sua redação a sua fragilidade legal
e factual.

A ilegalidade da prisão se patenteia pela ausência de algum


dos requisitos da prisão preventiva, além de ser originária de decisão sem
fundamento.

O endereço do Paciente é certo e conhecido, mencionado


no preâmbulo desta impetração, não havendo nada a indicar que o Paciente irá furtar-
se à aplicação da lei penal.

A liminar buscada tem apoio no texto de inúmeras regras,


inclusive do texto constitucional, quando revela, sobretudo, a ausência completa de
fundamentação na decisão em enfoque.

Por tais fundamentos, uma vez presentes a fumaça do


bom direito e o perigo na demora, requer seja LIMINARMENTE garantido ao
Paciente a sua liberdade de locomoção, sobretudo quando inexistem elementos a
justificar a manutenção do encarceramento.
A fumaça do bom direito está consubstanciada nos
elementos suscitados em defesa do Paciente, na doutrina, na jurisprudência, na
argumentação e no reflexo de tudo nos dogmas da Carta da República.

O perigo na demora é irretorquível, estreme de dúvidas e


facilmente perceptível, maiormente em razão da ilegalidade da prisão.

Com efeito, encontram-se atendidos todos os requisitos da


medida liminar, onde, por tal motivo, pleiteia-se que

seja Relaxada a Prisão do Paciente.

(5)
EM CONCLUSÃO

O Paciente, sereno quanto à aplicação do decisum, ao


que expressa pela habitual pertinência jurídica dos julgados desta Casa, espera
deste respeitável Tribunal a concessão da ordem de soltura do Paciente,
ratificando-se a liminar almejada.

Pede, mais, sejam anuladas todas as provas até então


produzidas, nomeadamente aquelas originárias do auto de busca e apreensão
em ensejo e de seus correlatos ulteriores, anulando-se, igualmente, o processo
desde o seu início.

Em razão disso, também requer-se sejam devolvidos ao


Paciente todos os bens apreendidos por meio do mandado de busca e
apreensão.

Nestes termos,
Pede deferimento

Cidade, 00 de janeiro de 2018.

NOME ADVOGADO
OAB/UF 00.000

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