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POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CORREGEDORIA INTERNA DA POLÍCIA MILITAR

ÍNDICE

ARMAS DE FOGO, USO E CUIDADOS – ATUALIZAÇÃO


– REPUBLICAÇÃO – BOLETIM DA PM n°46, DE 09 MAR
2001
Quando o Policial pode atirar.................................................
Aspectos Legais........................................................................
Fuga do Criminoso..................................................................
Oportunidade...........................................................................
Grau de Adestramento............................................................
Considerações Finais...............................................................
Prudência e Técnica Não São Formas de Retração..............
Porte de arma de fogo não regulamentar, envolvimento de
Policiais Militares.

- ARMAS DE FOGO -
USO E CUIDADOS
ATUALIZAÇÃO - REPUBLICAÇÃO
BOLETIM DA PM nº 46, DE 09 MAR 01
Tendo em vista o acontecimento de fatos envolvendo a
possibilidade do uso indevido de arma de fogo, por parte da tropa, ocasionando
a perda de vidas humanas, responsabilização nos campos civil, penal e
administrativo, além de grande desgaste para a instituição;
Tendo em vista a necessidade de constante massificação
junto à tropa dos princípios que devem nortear o emprego do armamento de
fogo; e
Tendo em vista a necessidade de constante aprimoramento
das técnicas operacionais , objetivando o melhor desempenho e segurança tanto
da população como do efetivo Policial Militar.
Esta Comando republica o texto constante da NI 010/83,
ARMAS DE FOGO – USO E CUIDADOS, após atualização e ajustes,
DETERMINANDO a sua reprodução e divulgação a todos os integrantes da
Corporação, que o mesmo seja obrigatoriamente anexado às pastas de todos os
serviços realizados pela PMERJ ( RP, DPO, PPC, GEAT, Oficial de Dia,
Supervisões, etc...), bem como que seja objeto de leitura e debate em
formaturas, palestras e reuniões e em todos os cursos e estágios da Corporação.
O cumprimento de tal determinação será objeto de
fiscalização por parte dos diversos serviços de supervisão e inspeções
realizadas pela Corporação, sendo passível de sanção disciplinar o Policial
Militar que alegar desconhecimento de tal publicação.
QUANDO O POLICIAL PODE ATIRAR
O volume imenso de histórias e casos policiais de
procedência estrangeira, difundidos durante meio século em nosso país, através
de filmes romances e revistas, parece ter consolidado uma imagem falsa em
torno da ação policial, chegando mesmo a confundir, na mente de muitos,
certos princípios consagrados da legislação penal brasileira.
O policial, via de regra, tem sido visto como um “caçador”
de criminosos, com o dever de abate-los em todas as ocasiões onde houver
confronto. Além disso o policial sempre é um exímio atirador, que nas
situações mais complicadas e difíceis consegue fazer uso de sua arma com
maestria. Por final o policial sempre tem seus nervos absolutamente
controlados, jamais se deixando afetar, seja quando é agredido, seja quando faz
uso da força.
Entretanto, além da legislação brasileira não dar guarida a
certos tipos de ações policiais admitidas em outros países, a realidade é outra,
pois nem sempre o policial pode atirar em um criminoso, nem sempre o
policial tem seus nervos controlados e nem sempre o policial usa ou pode
usar, com maestria a sua arma. Daí, há a necessidade constante de manter o
policial conscientizado de que os aspectos legais, a oportunidade e o seu nível
de adestramento são considerações que devem antecipar qualquer ação que
envolva a perspectiva de vir a disparar sua arma. A não consideração de
qualquer um desses fatores, poderá redundar na responsabilização
administrativa e penal do policial em virtude de sua imprudência, negligência
ou imperícia.
Ao longo do tempo têm sido registrados casos de
envolvimento de Policiais Militares em confrontos armados com delinqüentes,
seja em ações de captura, seja em reação a tentativas de roubo praticadas contra
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os mesmos, deixando na maioria delas, além das mortes dos criminosos, um
saldo de feridos inocentes – e até mortes – com inevitável acompanhamento do
clamor publico que argúi, em especial, os aspectos da legalidade e da
oportunidade dessas ações policiais.
ASPECTOS LEGAIS
O Código Penal estabelece no seu Art.23 as causas
excludentes de criminalidade, como sendo, quando o agente pratica o fato:

I – em estado de necessidade
II – em legítima defesa; e
III – em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.
Excesso Punível : O agente, em qualquer das hipóteses deste
artigo, responderá pelo excesso culposo ou doloso.

Legítima defesa (Art.25): Entende-se em legítima defesa


quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele a agressão injusta,
atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.
Requisitos:
- Agressão humana;
- Injusta : não autorizada pelo direito;
- Atual : Aquela que está ocorrendo ou prestes a ocorrer;
- Uso moderado dos meios necessários : A reação deve ser moderada, e
os meios realmente necessários;
Exemplo : PM que causa a morte de agressor que estava na iminência de lhe
matar ou de matar terceiro.
Estrito Cumprimento do dever legal: Ocorre quando o
sujeito ativo, em virtude de seu cargo ou função, incide numa conduta típica
por estar cumprindo uma determinação legal, descaracterizando o aspecto
antijurídico da mesma.
Exemplo : O PM que utiliza os meios necessários para deter criminoso que
resiste à prisão.
O PM que quando em ação policial ou operação, em troca de tiro,
acaba por eliminar ou ferir o meliante

Quando existir flagrante desproporção entre a ofensa e a


reação, descaracterizada estará a legítima defesa ou o estrito cumprimento do
dever legal, passando-se a configurar o excesso punível.
Exemplo : Policial que atira contra pessoa desarmada, agressiva, que, poderia
ter sido contida com as próprias mãos, com a ajuda de seus companheiros, ou
com o uso do bastão policial.
A injusta agressão, que justifica o uso da arma de fogo pelo
policial, só será caracterizada quando ocorrer uma ameaça real à sua vida ou a
de terceiros. Caso não haja esse perigo, o policial deverá fazer uso de outros
meios, como o bastão e a força física. Assim, para sacar a arma o policial deve
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estar seguro de que estará repelindo uma agressão grave, injusta e violenta
contra à sua vida ou a de terceiro.
Após ter sacado a arma, o policial terá em mente que o seu
uso deverá ser moderado, isto é, o bastante apenas para fazer cessar a agressão,
e, esta, uma vez cessada, desautorizará a continuação de seu uso.
FUGA DO CRIMINOSO
Desta maneira, não há como se admitir disparos
efetuados por um policial com objetivo de obstar a fuga de um
criminoso se este não estiver armado ou, mesmo se estiver, não estiver
usando a arma.
Assim, no que se refere ao aspecto legal, o policial para fazer
uso de sua arma de fogo deve ter certeza de que estará repelindo uma agressão
grave que coloca em perigo à sua vida ou a de terceiro.
Mesmo sendo alvo de uma agressão grave e violenta, e que
coloca em risco à sua vida, no que seria justificável o uso de sua arma, o
policial deverá atentar para as circunstâncias que, normalmente, caracterizam o
que chamamos de “ palco dos acontecimentos “. É a disposição de outras
pessoas muito próximas à cena, automóveis que circulam, residências com
crianças nas calçadas, saídas de colégios, bares, etc., que expõem inocentes às
eventuais conseqüências trágicas de um confronto armado. Nestas ocasiões,
onde houver probabilidade de um inocente vir a ser atingido, o policial
tem a obrigação de possibilitar a fuga do criminoso armado ou até mesmo
recuar, aguardando, assim, uma ocasião mais propicia para abordar e
efetuar a prisão do delinqüente.
Tais recomendações fazem parte das técnicas em uso na
Corporação para abordagem de pessoas veículos e edificações, sendo que a não
observância das mesmas, poderá implicar, não só na responsabilização
disciplinar dos infratores, como também, com freqüência, no indiciamento dos
policiais envolvidos em tais casos.
GRAU DE ADESTRAMENTO
Em situações que configurem legítima defesa ou estrito
cumprimento do dever legal e o local for propício para o uso de arma, para
fazer cessar uma agressão grave, o policial, ainda assim, para abrir fogo, deverá
ter o domínio necessário do armamento que utiliza, tanto no aspecto de
pontaria como de potência do tiro de sua arma.
A deficiente pontaria de policiais e delinqüentes tem sido
responsável por inúmeras vítimas inocentes e, no que toca ao policial, a
imperícia na execução do tiro poderá acarretar o seu indiciamento por
homicídio ou lesões corporais.
Além disso, tiros disparados que vazarem paredes ou
veículos, vindo a atingir inocentes, acarretarão as mesmas conseqüências.
A maior parte dos combates a tiro, entre policiais e
delinqüentes, tem lugar, em média, à distância de 20 (vinte) metros.

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Considerando-se que só por sorte um policial acerta um alvo
à 15 (quinze) metros, verifica-se que a grande maioria dos tiros disparados nos
citados combates são desperdiçados totalmente e, pior do que isso, constituem-
se em um risco potencial de ocasionar ferimentos e mortes de inocentes
presentes nas proximidades do local da ocorrência.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para decidir se pode ou não atirar, um policial deve basear
sua resolução mais em um juízo profundo do que em uma exclusiva
interpretação do aspecto legal; se considerar o conjunto das circunstâncias em
torno do fato, evitará para si e para a Corporação muitas situações incômodas.
O policial, pensando na sua própria proteção, muitas das
vezes necessita manter vivo o seu maior argumento de prova – o próprio
delinqüente. Temos assistido, com muita freqüência, a morte de um
delinqüente apagar, de imediato, o seu passado de delinqüência e fazer
ressuscitar um “estudante”, “um pobre operário”, um “ garoto que mantinha
sua família”, etc...
Além disso, a lembrança de que um policial não deve
disparar tiros ao ar – a título de aviso – na tentativa de deter um suspeito que
foge, ou de dominar um tumulto, bem como atirar contra veículos apenas por
considera-los “suspeitos”, auxilia a manutenção da imagem de uma polícia
bem treinada e disciplinada, já que as conseqüências danosas de tais ações, não
só recaem sobre a figura individual do policial e sim sobre toda a Corporação.
A idéia de que cada tiro “desastrado”, disparado por um
policial, poderá trazer conseqüências administrativa e penal para o mesmo e
responsabilidade civil para o Estado, que poderá pagar vultuosas indenizações,
deverá servir de escopo para que as ações policiais que demandem a utilização
de disparos de arma de fogo se revistam de toda a prudência, técnica e
legalidade possíveis.
PRUDÊNCIA E TÉCNICA NÃO SÃO FORMAS DE RETRAÇÃO
As presentes recomendações, longe de traduzirem qualquer
idéia de retração na ação policial, devem significar a preocupação da
Corporação com cada Policial Militar que diuturnamente enfrenta inúmeros
perigos na atividade de policiamento.
(Nota nº 030 – 09/03/01- EMG-PM/3)

PORTE DE ARMA DE FOGO NÃO-REGULAMENTAR


ENVOLVIMENTO DE POLICIAIS MILITARES
PRECEITO

Considerando que o uso de arma particular (segunda arma),


legalmente adquirida e devidamente registrada/cadastrada na

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Corporação, pelo pessoal da atividade-fim e atividade-meio, durante o serviço
ou em trânsito continua autorizada e encontra-se regulada nas publicações
insertas no Bol da PM n° 123, 143, 238 e 003, respectivamente, de 07 Jul 95,
04 Ago 95, 20 Dez 95 e 04 Jan 96, inclusive, no que reporta-se a padronização
do “coldre auxiliar”, nas cores preto e branco, de acordo com a cor do
equipamento utilizado pelo Policial Militar;
Considerando que o porte de arma de fogo não-regulamentar, por
Policiais Militares, afronta à legislação vigente;
Considerando o que prevê a Lei n° 9437, de 20 Fev 97 ( Institui o
Sistema Nacional de Armas - SINARM, estabelece condições para o
registro e para o porte de arma de fogo, define crimes e dá outras
providências), com referência aos assuntos, nos Art. 6°, 7°, 10 e 14;
Considerando o que prevê o Decreto n° 2222, de 08 Mai 97
(Regulamenta a Lei n° 9437, de 20 Fev 97), com referência ao assunto, nos
Art.3°, 11 §2°, 12, 15, 23 e 28 §1° e 2°;
Considerando o que prevê a Portaria/PMERJ n° 0196, de 20 Jan
2000 (IP-38), com referência ao assunto, nos Art. 1°, 2°, 16, 17 e 18;
Considerando que o dispositivo preceituado na Lei n° 9437, de 20
Fev 97, no seu Art. 10, não encontra reflexo no CPM (Código Penal
Militar), propriamente no seu Art. 1°;
Considerando que o assunto tratado (porte de arma de fogo não-
regulamentar) implica, obrigatoriamente, na condução do Policial Militar,
mesmo que de serviço, portando arma de fogo não-regulamentar, à Delegacia
Policial Civil da Circunscrição, trazendo sérios transtornos e trazendo reflexos
extremamente negativos à imagem Institucional; e
Considerando que tais desvios de conduta ferem, frontalmente, o
pundonor e a ética Policial Militar;
Este Comandante-Geral preceitua que a simples constatação de
envolvimento de integrantes do Corporação, em quaisquer circunstâncias,
relacionadas a esse mister, será considerada TRANSGRESSÃO DA
DISCIPLINA DE NATUREZA GRAVE, independente da responsabilidade
criminal.
Esta nota deverá ser lida nas paradas diárias e saídas de policiamento
durante uma semana, abrangendo todo o efetivo da OPM, e afixada nos
quadros de avisos, devendo ainda o Oficial de Dia ou equivalente registrar no
seu Livro de Partes Diárias as leituras e as alterações registradas.
(NOTA n° 1028 - 03 Mai 01-CGIPM)
BOLETIM DA PM n° 233, DE 12 DEZ 2001

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