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USO LEGÍTIMO DA FORÇA

ESTUDO DE CASOS

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Olá!
Ao final desta aula, você será capaz de:

1- valiar situações práticas nas quais houve o uso da força;

2- Reconhecer contextos que possibilitem o uso dos gradientes da força;

3- Relacionar aspectos legais e técnicos do uso da força em situações reais.

Caro aluno, depois de discutirmos tanto sobre os aspectos legais e técnicos que devem ser seguidos pelo

encarregado de aplicar a lei no uso da força, chegou a hora de colocar este aprendizado a serviço dos estudos de

casos. É muito importante continuar debatendo as ações dos operadores de segurança pública. É um diferencial

em uma instituição que preza pelo aperfeiçoamento contínuo da forma de atuar de seus integrantes. Abordamos

o maior número possível de casos reais nos quais houve o uso da força, esperando que nossas observações sobre

ele possam ajudar você a compreender ainda melhor o que estudamos até aqui. Tenha uma excelente aula.

1 Resolução nº 06 do CDDPH
Em 18 de junho de 2013, o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, da Secretaria de Direitos

Humanos da Presidência da República, publicou a Resolução de nº 6, que dispõe sobre recomendações para

garantia de Direitos Humanos e aplicação do princípio da não violência no contexto de manifestações e eventos

públicos, bem como na execução de mandados judiciais de manutenção e reintegração de posse.

Divulgada no período das manifestações populares que ocorreram no Brasil, ela impõe em seu artigo 3º que

“não devem ser utilizadas armas de fogo em manifestações e eventos públicos, nem na execução de

mandados judiciais de manutenção e reintegração de posse”.

2 Recordando...
Na primeira aula, estudamos a Portaria Interministerial 4226. Em sua Diretriz de número 6, ela declara que os

chamados "disparos de advertência" não são considerados prática aceitável, por não atenderem aos princípios

da legalidade, necessidade, proporcionalidade, moderação e conveniência e em razão da imprevisibilidade de

seus efeitos.

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Na nossa segunda aula, vimos que os Princípios Básicos sobre o Uso da Força e Armas de Fogo (PBUFAF)

determinam que os encarregados de aplicar a lei deverão ter nos meios não violentos sua primeira alternativa,

utilizando-se de armas não letais com moderação, reduzindo ao mínimo os danos infringidos e prestando

imediatamente socorro ao lesionado.

3 O que fazer?
O que fazer em uma situação na qual se está em desvantagem numérica e sem o equipamento adequado para

lidar com a situação?

O operador de segurança pública deve estar consciente que existe a possibilidade de recuo, de retirada

estratégica, enquanto se aguardam os reforços.

Esta é a rotina mais difícil de ser executada: recuar. Psicologicamente somos treinados para controlar o

problema. A retirada representaria uma falha no cumprimento da missão e a demonstração de falta de coragem.

A atuação do agente da lei deve pautar-se pela legalidade e pela técnica, ressaltando a preservação do bem maior

que é a vida humana. Assim, afastar-se de uma turba poderá resguardar a integridade física dos encarregados de

aplicar a lei e dos próprios manifestantes.

4 O uso de armas não letais


O artigo 4º da Resolução nº 06, explicita que

“o uso de armas de baixa letalidade somente é aceitável quando comprovadamente necessário para

resguardar a integridade física do agente do Poder Público ou de terceiros, ou em situações extremas

em que o uso da força é comprovadamente o único meio possível de conter ações violentas”.

O citado artigo traz no parágrafo 1º uma definição para armas de baixa letalidade:

“Para os fins desta Resolução, armas de baixa letalidade são entendidas como as projetadas

especificamente para conter temporariamente pessoas, com baixa probabilidade de causar mortes

ou lesões corporais permanentes”.

Interessante observar o parágrafo 2º do artigo:

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“Não deverão, em nenhuma hipótese, ser utilizadas por agentes do Poder Público armas contra

crianças, adolescentes, gestantes, pessoas com deficiência e idosos”.

Presume-se que tal assertiva visualiza os grupos citados como extremamente vulneráveis a outras formas de agir

do operador de segurança pública e sensíveis ao armamento não letal a ser usado.

5 O uso de armas não letais – continuação


Debatemos exaustivamente na aula 6 que armas não letais não podem ser usadas indiscriminadamente, com a

ideia de que “não lesionam”.

Os agentes químicos provocam irritação na pele, nos olhos e mucosas.

Vimos também, na aula 8, que devem ser obedecidos os aspectos técnicos para utilização de cada arma.

Cientes disso, lembramos que o espargidor tipo GL-108 MAX deve ser usado, respeitando-se uma distância

mínima de 5 metros do grupo quando aplicado.

Observe a imagem ao lado, presente na reportagem do site da Globo. https://oglobo.globo.com/rio/pm-admite-

que-policial-se-excedeu-em-ataque-com-spray-de-pimenta-8741260

A concentração demasiada do produto, que ocorre quando usado fora das especificações, pode levar ao

sufocamento do indivíduo.

Figura 1 - Manifestante é agredida por policial com spray de pimenta


Fonte: Victor R. Caivano / AP

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Fonte: Victor R. Caivano / AP

6 As balas de borracha
Na aula 8, foi explicado que existem diversos calibres para as munições de borracha. No Brasil, as mais usadas

são as de calibre 12 e 38,1 mm.

A recomendação é que sejam disparadas a uma distância mínima de 20 metros do alvo.

Também é usual que o disparo não seja feito contra a cabeça dos manifestantes, mas na altura que não

ultrapasse um metro do chão.

Desta forma, os disparos serão feitos objetivando atingir as pessoas abaixo da linha da cintura, evitando-se as

regiões mais sensíveis como tronco e cabeça.

Veja a imagem e assista aos vídeos que seguem, para, em seguida, fazer as devidas análises.

É possível observar o policial em um lado de uma faixa de pedestre e manifestantes do outro lado.

Sabemos que a extensão de uma faixa de pedestre é de 4 metros. Portanto, o disparo foi feito a uma distância

inadequada.

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7 O uso de armas de fogo
Retornando a Portaria Interministerial 4226, esmiuçada na aula 1, lembramos que a Diretriz 4 (A Diretriz 4

sintetiza as questões legais e técnicas em seu texto) afirma que:

não é legítimo o uso de armas de fogo contra pessoa em fuga desarmada ou que, mesmo na posse de

algum tipo de arma, não represente risco imediato de morte ou de lesão grave aos agentes de

segurança pública ou terceiros.

Os policiais civis corriam algum tipo de risco às suas integridades físicas?

E ainda que corressem, por que não recuar?

Observe que o ambiente é de pouca visibilidade. O suposto criminoso sequer teve sua identidade confirmada.

Diversos disparos atingiram residências, colocando em risco a vida de várias pessoas.

Não se tem aqui a legítima defesa, mas o homicídio do cidadão, acusado de práticas criminosas.

A ação foi duramente criticada por especialistas e mídias.

Clique aqui para ver a reportagem sobre o assunto. http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2013/05/mprj-

pedira-que-inquerito-da-morte-de-matematico-seja-desarquivado.html

8 Uso das armas de fogo – Diretriz nº05


A Diretriz nº 5 da Portaria Interministerial 4226 determina:

não ser legítimo o uso de armas de fogo contra veículo que desrespeite bloqueio policial em via

pública, a não ser que o ato represente um risco imediato de morte ou lesão grave aos agentes de

segurança pública ou terceiros.

Entretanto, temos alguns casos em que policiais abordaram veículos e dispararam contra os mesmos quando não

foram obedecidas suas ordens de parada.

Saiba mais
Veja esses casos: “Polícia atira em casal após furar barreira e mata mulher mãe de setes filhos
na divisa TO/MA” e “Menor reage durante uma abordagem e polícia atira contra carro; será
punido?”. https://www.t1noticias.com.br/plantao-de-policia/mae-de-sete-filhos-e-morta-com-
tiro-nas-costas-durante-perseguicao-da-pm/48641/

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tiro-nas-costas-durante-perseguicao-da-pm/48641/

Um caso para discussão é o da reportagem intitulada “PM atira mais de 25 vezes contra carro com jovens em

Santos”.

9 Uso da força contra pessoas presas


Na aula 2, nós estudamos o Código de Conduta para os encarregados de aplicar a lei.

Lemos que seu artigo 6º determina que os encarregados de aplicação da lei devem garantir a proteção da saúde

de todas as pessoas sob sua guarda e, em especial, adotar medidas imediatas para assegurar-lhes cuidados

médicos, sempre que necessário.

Isso obriga que o operador de segurança preserve a integridade física de todas as pessoas presas ou conduzidas

por ele, inclusive contra a ação de outras personagens.

Veja, agora, o vídeo que ilustra a ação incorreta de um policial, ao atirar na perna do criminoso já rendido na

Barra da Tijuca/RJ. http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2012/07/video-mostra-pm-atirando-na-perna-

de-criminoso-ja-rendido-na-barra.html

Temos um flagrante de desrespeito ao Código de Conduta. A prática de um crime por parte do policial.

10 A ação de não disparar


Na aula 9, nós destacamos o Método do Tiro Defensivo de Preservação da Vida,

ou Método Giraldi, criado pelo Coronel da Polícia Militar de São Paulo, Nilson Giraldi.

O método chamou a atenção de organismos nacionais e internacionais pela ênfase no treinamento da

verbalização e na preservação da integridade física do operador de segurança, do cidadão abordado e das

pessoas que estão presentes na situação.

No endereço http://usoprogressivodaforca.blogspot.com.br/2011/03/tiro-defensivo-na-preservacao-da-

vida_05.html temos vídeos que trazem palestras do renomado oficial, nos quais ele explica os objetivos da

metodologia.

É importante relembrar os conceitos que aprendemos nesta disciplina, dentre os quais o da preservação da vida

e da integridade física de todos os envolvidos em uma ocorrência policial.

E mais!

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Vimos que o treinamento está sintonizado com os documentos internacionais e nacionais que estudamos nesta

disciplina.

Citamos o exemplo dos Princípios Básicos do Uso da Força e da Arma de Fogo, estudados na segunda aula.

Aprendemos que antes de usar a arma de fogo, deverá haver, sempre que possível, a comunicação desse uso por

parte do agente da lei à pessoa a quem o profissional da segurança se dirige.

11 Conclusão
Neste momento, muitos agentes da lei podem estar questionando as análises, posto que realizadas distantes, no

tempo e no espaço, da situação real.

Justamente em razão de conhecermos as adversidades que se apresentam no momento da atuação do operador

de segurança é que aconselhamos treinamento constante, baseado na lei e nas técnicas discutidas nesta

disciplina.

Armamentos e equipamentos são necessários, mas pouco adiantam se não são utilizados de forma adequada.

Assim, o constante aprimoramento diante das realidades diárias encaradas pelo encarregado de aplicar a lei, o

preparará melhor para agir nos poucos instantes que terá, por vezes, para decidir.

Tendo em vista incidência criminal nos fins de tarde em uma determinada rodovia, resolve-se criar operações de

abordagem a veículos. Instituído o bloqueio parcial da via através de posicionamento das viaturas e cones,

iniciou-se a operação, sendo escolhidos para abordagem, aqueles veículos que geram fundadas suspeitas.

Em um determinado momento, o agente encarregado da seleção avista um carro preto, com película escura nos

vidros que impossibilita visualizar seu interior. Mesmo com a proximidade da operação, o motorista não abaixou

os vidros do carro, não abaixou o farol e tentou evitar a operação por caminhos alternativos, sendo que estavam

bloqueados por outras viaturas. Enfim, ao alcançar a operação, o agente ordenou sua parada. Desrespeitando a

ordem legal, o veículo furou o bloqueio acelerando bruscamente. Sendo assim, tendo em vista o conhecimento

adquirido sobre uso da força, deve o Agente da lei:

É legítimo o uso de arma de fogo contra o veículo que desrespeitou o bloqueio policial em via pública, tendo em

vista se tratar de excludente de ilicitude prevista no art. 23 do Código Penal, portanto devem ser efetuados

disparos para forçar a parada do veículo.

É legítimo o uso de arma de fogo contra o veículo que desrespeitou o bloqueio policial em via pública, tendo em

vista se tratar de flagrante delito por Desobediência a ordem legal de funcionário público, portanto devem ser

efetuados disparos para forçar a parada do veículo.

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Não é legítimo o uso de armas de fogo contra o veículo que desrespeitou o bloqueio policial em via pública, a não

ser que o ato represente um risco imediato de morte ou lesão grave aos agentes de segurança pública ou

terceiros, portanto resta ao policial persegui-lo e promover o cerco.

Não é legítimo o uso de armas de fogo contra o veículo que desrespeitou bloqueio policial em via pública, tendo

em vista que o policial selecionou o veículo para abordagem sem motivo aparente (fundada suspeita) o que

justifica a sua fuga, portanto o policial deve se eximir de persegui-lo.

CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Avaliou situações práticas nas quais houve o uso da força;
• Reconheceu contextos que possibilitem o uso dos gradientes da força;
• Relacionou aspectos legais e técnicos do uso da força em situações reais.

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