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USO LEGÍTIMO DA FORÇA

CONSTRUINDO UM PROGRAMA DE ARMAS


NÃO LETAIS

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Olá!
Ao final desta aula, você será capaz de:

1- Reconhecer os aspectos favoráveis à implementação de um programa de armas não letais em uma instituição

de Segurança Pública;

2- Identificar os aspectos que impedem a estruturação de um programa de armas não letais em uma instituição

de Segurança Pública.

Caro aluno, depois da leitura do conteúdo da aula 6, você pode ter ficado curioso sobre a aquisição do

armamento não letal para a sua organização de Segurança Pública. Sabemos que não é uma decisão fácil optar

por esta estratégia. Ela envolve custos tanto na aquisição quando na construção de rotinas ligadas a treinamento,

uso, supervisão, controle e manutenção em relação aos equipamentos e armas não letais. Apresentamos nesta

aula argumentos que podem ser usados na adoção de uma política de utilização desta tecnologia. Essas

assertivas podem ampliar a discussão sobre o tema.

1 Discutindo os mitos
O que as pessoas pensam sobre armamento não letal?

Para nós que somos profissionais de Segurança Pública, os conceitos relativos a esta temática nos são

conhecidos. Estudamos e discutimos o assunto.

Entretanto, em uma democracia, a vontade do povo deve prevalecer.

Assim, se o cidadão não entende do que se trata o uso deste armamento, como aprovará que seja portado pelas

forças de segurança e que possa vir a ser manuseado?

E quanto ao chefe, ao comandante, ao diretor, ao superintendente, ao Secretário de Segurança, será que

conhecem o assunto?

Diante de tamanha evolução científica, esbarramos com a criação de inverdades, boatos, mitos sobre o

armamento não letal.

Vamos discuti-los.

2 Discutindo os mitos sobre armamento não letal


https://veja.abril.com.br/politica/a-letalidade-das-armas-nao-letais/

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O armamento não letal é ineficaz
O armamento não letal é desenvolvido e testado. A organização de Segurança Pública pode realizar os seus

próprios testes antes de comprar qualquer produto e mesmo depois de adquiri-lo. Ao recebê-lo, comissão criada

para este fim, deverá verificar se o equipamento e/ou armamento corresponde às especificações determinadas e

se estão funcionando. Caso haja qualquer problema, o material poderá ser devolvido ao fabricante.
O armamento não letal provoca muita dor ou mata
Discutimos na aula 6 que as armas não letais não foram projetadas para matar ou para provocar lesões

definitivas, graves ou dores intensas. Seu uso obedece ao gradiente do uso da força, no caso, da ação por parte do

abordado. Deve ser usado legal e tecnicamente. Provocará desconforto, ardência nas mucosas, ou outros efeitos

que sirvam para debilitar e/ou incapacitar o agressor. É possível encontrar na internet centenas de vídeos

mostrando forças de segurança treinando com este material. Os próprios agentes experimentam uns nos outros

este equipamento. Os recentes incidentes, quando da utilização do armamento não letal, apontam, em uma

primeira análise, para determinado erro no manuseio deste equipamento. Relembremos o caso do jovem

brasileiro que foi abordado pela polícia de Sydney – Austrália – e contra ele foram usados disparos de várias

armas elétricas, tendo o rapaz falecido.


Toda arma não letal incapacita o cidadão
Na aula passada, falamos que armas não letais têm, entre seus efeitos, a incapacitação e a debilitação do

abordado. O que isto significa? As armas consideradas debilitantes causam desconforto, irritação nas mucosas.

Uma pessoa pode resistir a elas e continuar agredindo o operador de segurança. Com isso, nem sempre se alcança

o efeito desejado – a imobilização da pessoa. São exemplos de armas debilitantes os gases lacrimogênios. Eficazes

na dispersão de multidões, mas estima-se que 15% da população podem não ser afetados plenamente por este

tipo de arma não letal. As armas incapacitantes operam diretamente no sistema nervoso, causando reações

involuntárias no metabolismo. Mesmo que não haja dor ou desconforto, ela apresenta eficácia contra 100% das

pessoas, imobilizando-a contra a sua vontade.

3 Quais são os aspectos que devem ser considerados na


implantação de arma não letal?
A Secretaria Nacional de Segurança Pública, em seu curso sobre Tecnologia e Armamento Não Letal, aborda

aspectos que devem ser considerados na implantação de um programa de armas não letais.

Estes apontamentos são oriundos da apresentação do Comandante Sid Heal, do Departamento do Sheriff de Los

Angeles e do Tem. Cel. Edurado Jany, do Escritório de Ligação Militar na Embaixada dos Estados Unidos, no 1º

Seminário Internacional de Tecnologias Não Letais, ocorrido em Brasília no mês de julho de 2006.

• Recursos Financeiros

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• Recursos Financeiros
• Doutrina
• Aquisição
• Percepção Pública
• Sobrecarga
• Armas letais
• Treinamento
• Mudança de mentalidade
• Armamento não letal não é só para os grupos de operações especiais
• Avaliação e ajustes

4 Aspectos que devem ser considerados na implantação de


arma não letal
Vamos considerar cada um deles...

RECURSOS FINANCEIROS

É preciso levar em consideração que qualquer estratégia que se queira implantar em uma organização de

Segurança Pública, dependerá de investimento financeiro, seja na compra de material, seja no treinamento do

agente.

Armamento e equipamento não letais são caros se comparados a outros materiais, como armas de fogo. Mas a

vida das pessoas, incluindo a do operador de segurança, não tem preço. Estas vidas podem vir a ser salvas,

simplesmente valendo-se de outros recursos que não coloquem em risco os cidadãos: infratores, vítimas e

agentes de segurança pública.

Ressalta-se, não se trata “apenas” de comprar o material, mas de investir em sua manutenção, no seu correto

acondicionamento e na constante atualização do armamento e equipamento.

Será necessário ainda treinar o efetivo constantemente para usar e não usar o material.

DOUTRINA

A organização precisa responder qual objetivo pretende alcançar comprando equipamento e armamento não

letais.
• Eles serão distribuídos para todos o efetivo?
• Para determinados grupos?
• Em que situações serão usados?
• Como serão usados?
São perguntas que auxiliarão na escolha do material a ser comprado, evitando adquirir equipamento sem

utilidade, aplicando melhor os recursos financeiros.

A partir das respostas, deve-se adequar a doutrina estratégica, tática e operacional da instituição em prol desta

nova rotina.

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É obrigatório definir os procedimentos a serem adotados quando da utilização do armamento não letal. Como se

dará a apuração de possíveis infrações por parte dos operadores de segurança pública e o controle do uso do

equipamento.

Já estudamos a importância da adoção de um modelo gráfico de uso da força, conhecido, comunicado, estudado e

aplicado por todos os integrantes da instituição. Baseando-se nele, é possível saber em que situações os

armamentos não letais serão usados.

AQUISIÇÃO 1/2

Após estabelecer a doutrina de emprego das armas e equipamentos não letais, cabe aos gestores da corporação

definir quais equipamentos precisam ser adquiridos, em que quantidade e onde poderão ser adquiridos.

É importante buscar todas as informações sobre o produto e o fabricante, antes de realizar a aquisição. Devem

ser levados em consideração ao analisar o produto:


• prazo de validade,
• aprovação do Ministério da Defesa,
• garantia oferecida pelo fabricante,
• confiabilidade do fabricante,
• representante ou exportador,
• compatibilidade com outros produtos (atentar para as diferenças de calibre entre fabricantes).
É imprescindível exigir, antes da aquisição, uma demonstração do produto que está sendo apresentado, com a

participação de especialistas da área e de representantes da tropa que irá usar o produto. A maioria dos

fabricantes e representantes tem grande satisfação em demonstrar o produto. Mas não basta assistir à

demonstração, é preciso sanar todas as dúvidas de utilização do equipamento e verificar se realmente ele atinge

os objetivos aos quais se propõe e se atende à demanda da corporação.

AQUISIÇÃO 2/2

É importante entender que cada equipamento tem sua importância, mas é idealizado e fabricado para uma

determinada finalidade. Assim, um equipamento desenvolvido para a Tropa de Choque, por exemplo, não

necessariamente irá atender com a mesma eficiência uma equipe de policiamento comunitário. Um artefato

importantíssimo em uma ação de negociação de reféns, nem sempre terá utilidade numa situação de defesa civil.

É importante destacar na licitação que a empresa deve fornecer uma ou duas unidades a mais do equipamento a

ser adquirido para serem usadas em testes. Essas unidades não devem ser fornecidas separadamente, devem vir

no lote e escolhidas aleatoriamente pelo militar encarregado do teste, ou seja, na aquisição de coletes balísticos,

por exemplo, deve ocorrer o teste anterior à aquisição, para saber se um determinado colete atende às

especificações fornecidas pelo fabricante.

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Após a licitação, na entrega dos coletes, a empresa ganhadora deve fornecer, por exemplo, 303 coletes, se a

necessidade era de 300. Todos os coletes devem ser fornecidos juntos e dentre eles, o militar responsável por

testar o equipamento recebido pegará, aleatoriamente, 3 não consecutivos, a fim de realizar novo teste.

Dessa forma, quaisquer problemas de fabricação serão detectados imediatamente, possibilitando a devolução do

equipamento de imediato para que sejam sanadas as falhas.

O principal objetivo do desenvolvimento dessas técnicas e equipamentos é permitir ao agente encarregado de

aplicação da lei ter níveis de resposta adequados para cada situação que ele precise resolver. Também visa

fornecer-lhe níveis de reação adequados às agressões por ele sofridas.

ARMAS LETAIS 1/2

É preciso que se tenha consciência de que o emprego de armas e equipamentos não letais não visa suplantar ou

eliminar o uso da força letal.

O principal objetivo do desenvolvimento dessas técnicas e equipamentos é permitir ao agente encarregado de

aplicação da lei ter níveis de resposta adequados para cada situação que ele precise resolver. Também visa

fornecer-lhe níveis de reação adequados às agressões por ele sofridas.

O uso de armas e equipamentos não letais não garante, por si só, que será desnecessário o uso da força letal.

Como estudamos nas aulas 3 e 5, o primeiro nível de força é a presença física do policial, que pode ser suficiente

para atingir um objetivo pré-estabelecido, e que não se configura como uma técnica não letal.

ARMAS LETAIS 2/2

Assim, uma situação pode ser resolvida sem o uso dos artefatos e técnicas que iremos elencar mais à frente. Da

mesma forma, o último nível de força é o uso da arma de fogo, e é possível que a atitude de um agressor não

permita ao policial resolver a situação usando apenas armas ou equipamentos não letais, forçando-o a fazer uso

de força letal.

É importante ter essa visão de que somente em alguns casos será possível substituir a força letal pelo uso de

armamento e equipamento não letais.

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TREINAMENTO

Usar um equipamento não letal é primordial e só é possível conseguir tal conhecimento, por meio de

treinamentos teóricos e práticos.

Não basta adquirir o equipamento e entregar aos operadores de segurança pública, imaginando que isto será

suficiente. Também não adianta crer que algumas instruções teóricas sobre o equipamento ou a nova técnica a

ser empregada irão habilitar os agentes a usá-los.

Nem mesmo esta disciplina conseguirá esgotar o assunto, principalmente porque o treinamento para usar o

armamento e o equipamento não letais exige o conhecimento prático.

Clique aqui para ver alguns exemplos em PDF http://estaciodocente.webaula.com.br/cursos/gon378/docs

/a07_t06_1.pdf

A FALTA DE TREINAMENTO 1/3

Como exemplo prático dos problemas que a falta de treinamento pode ocasionar, vamos citar uma situação

relatada no curso promovido pela SENASP.

Durante um curso realizado em uma fábrica de armamentos não letais, um dos instrutores, um policial, ao fazer

uso de uma granada de efeito moral, simplesmente arremessou-a contra os manifestantes sem acionar o

mecanismo de iniciação dela.

Resultado

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A granada não funcionou e os manifestantes ainda ganharam um artefato para ser arremessado contra os

policiais. Esse fato se deu, justamente, em função de o policial ter recebido o equipamento sem o mínimo de

conhecimento sobre seu uso.

A FALTA DE TREINAMENTO 2/3

Outro problema grave é a falta de consciência de que os armamentos não letais podem matar se usados

incorretamente. Por desconhecimento, ao entregar um determinado equipamento a um policial e informá-lo que

ele recebeu uma arma “não letal” (caso ele não conheça o conceito e não saiba usar o equipamento),

provavelmente irá usá-lo de forma desmedida, por acreditar que não há risco de ferir gravemente ou matar

alguém.

Devem ser observadas as regras internacionais de utilização do armamento menos letal e recomendações da

OTAN, como forma de evitar acidentes decorrentes de seu mau uso.

Clique no endereço abaixo

http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/deputado-quer-debater-regras-para-uso-armas-nao-letais-pela-policia

A FALTA DE TREINAMENTO 3/3 - REGRAS DE USO

Regulamentações internacionais e recomendações de uso de armas menos letais da OTAN (Organização do

Tratado do Atlântico Norte)

Arma não-letal que usa-se de uma descarga elétrica de alta tensão para imobilizar momentaneamente uma

pessoa. Apesar de não apresentar grandes riscos à saúde de quem é atingido por ela, existem registros de mortes

causadas pelo uso da arma de choque, por esse motivo, alguns especialistas preferem usar o termo "baixa-

letalidade" para se referir ao potencial de mortalidade da arma.

A Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado aprovou no dia 13 de março de 2013 o projeto

de lei 2801/11 em do deputado Luiz Argôlo (PP-BA), que autoriza o uso de armas de incapacitação

neuromuscular (chamadas de Taser) pelo cidadão comum para fins de defesa pessoal. Tal aprovação altera o

Estatuto do Desarmamento, Lei 10.826/03, pelo novo texto de lei, o registro concedido para armas de

incapacitação neuromuscular autoriza seu porte. Para conseguir o registro, o cidadão deverá ter idade mínima

de 18 anos e comprovar que tem residência fixa, além de apresentar nota fiscal de compra ou comprovação da

origem lícita da posse. Ele não precisará comprovar capacidade técnica nem aptidão psicológica — requisitos

exigidos para que seja concedido o registro de arma de fogo.

Spray de pimenta, gás pimenta ou gás OC é um gás lacrimogêneo, composto químico que irrita os olhos e causa

lacrimejo, dor e mesmo cegueira temporária.

ABUSO

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O spray de pimenta deve ser aplicado de forma difusa, sem mirar no rosto e, dependendo do spray, só pode ser

usado com 2, 5 e 10 metros de distância

Aproximadamente 30 centímetros

Gás Lacrimogêneo
• Ao estimular os nervos da córnea, esses gases causam lacrimação, dor, inflamação e até mesmo cegueira
temporária.
• Se for lançado a curtas distâncias e a pessoa for muito atingida pode causar queimaduras na pele
• Pode provocar reações alérgica se fechamento dos brônquios, nos pulmões, levando à morte ou
sufocamento.
Também há padrões de procedimentos da polícia em caso de protestos públicos. Eles se baseiam no uso

progressivo da força:

Em seguida, pode apelar para a remoção física e só nessa etapa está liberada para usar armas menos letais como

spray de pimenta e o gás lacrimogêneo.

Depois, pode recorrer a uma advertência, usando megafone

Se for pacífico, a força policial deve apenas acompanhar os manifestantes, primeiro a policia deve somente fazer

uma barreira

Projétil de látex

ABUSO

Distância entre os policiais e manifestantes é de aproximadamente 4 metros, segundo a regras internacionais o

projétil de látex só poderia ser disparado a no mínimo de 20 metros de distância e nunca se deve mirar acima da

cintura.

MUDANÇA DE MENTALIDADE

É importante conhecer e entender o currículo oculto nas academias de encarregados de aplicar a lei, a fim evitar

que todo o trabalho de educação formal seja destruído pela disseminação e valorização de posturas contrárias ao

que é ensinado.

Preocupações relevantes no manejo do armamento menos letal

Deve haver uma preocupação das corporações no sentido de mudar a mentalidade dos operadores de segurança

pública antes de colocar em uso os equipamentos adquiridos.

Currículo oculto é o conjunto de conhecimentos, crenças e valores transmitidos pelos professores aos seus

alunos, sem, no entanto, estarem previstos no currículo oficial da instituição de ensino.

Não basta estabelecer uma doutrina para uso de armas não letais e treinar os agentes nos pontos técnicos de uso

do referido material. É preciso trabalhar os aspectos legais e, principalmente, éticos do seu uso.

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É necessário fortalecer, no seio da corporação, uma mentalidade de uso desses armamentos e equipamentos,

pautada na necessidade e na proporcionalidade, sem que se tolerem utilizações voltadas para satisfação de

necessidades pessoais ou de sadismo.

É primordial entender que armas não letais não são infalíveis e, para que o objetivo de preservação da vida seja

cumprido, é necessário o seu uso correto.

Também é importante que sejam banidas mentalidades de uso desses meios para torturar criminosos ou

suspeitos, seja com o objetivo de obter informações, de puni-los pelo cometimento de um crime ou qualquer

outro.

É importante que o policial tenha em mente que existe todo um sistema de Segurança Pública envolvendo os

aparelhos policiais e as Guardas Municipais, os diversos órgãos do Ministério Público, o Poder Judiciário e o

sistema prisional.

Dessa forma, cabe a cada órgão cumprir a missão que lhe foi determinada, não devendo o encarregado de aplicar

a lei achar que resolverá sozinho os problemas nessa área.

PERCEPÇÃO PÚBLICA 1/4

É necessário trabalhar junto à sociedade no sentido de evitar expectativas equivocadas com relação à

implantação do programa.

As pessoas que não conhecem o assunto costumam acreditar que armamentos e equipamentos não letais

permitem ao operador de segurança imobilizar, independentemente de sua compleição física, do equipamento

ou mesmo da quantidade de agressores.

Pelo contrário, não ocorre nenhuma mágica com o uso desses artefatos. Tudo é feito com tecnologia e não com

“varinha de condão”.

PERCEPÇÃO PÚBLICA 2/4

A corporação precisa estar preparada para responder às indagações da sociedade e do governo quando alguém

vier a público mostrar lesões causadas por balas de borracha ou mordidas de cães, ou aparecer lacrimejando em

virtude do uso de gases lacrimogêneos.

A melhor opção é dizer a verdade desde o início. Discursos politiqueiros e falsos não são mais aceitos pela

opinião pública. É preciso deixar claro que os equipamentos não letais visam à preservação da vida e que uma

ampla rede de esforços está sendo montada pela corporação para o seu uso correto.

PERCEPÇÃO PÚBLICA 3/4

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Porém, também é preciso esclarecer que o programa está sujeito a falhas, visto que nada que é feito pelo ser

humano é perfeito. Além disso, vale lembrar que quem irá aplicar essas técnicas ou equipamentos serão policiais,

selecionados entre membros daquela sociedade e dotados das mesmas limitações que a própria sociedade

possui.

Caso ocorra alguma falha, desde que não seja tão grande para comprometer o programa, será possível continuá-

lo e permitir o amadurecimento desse conceito junto àquela sociedade.

Nesse trabalho, junto à opinião pública, é importantíssima a participação dos setores de Comunicação Social da

corporação e sua ligação com os meios de divulgação local.

PERCEPÇÃO PÚBLICA 4/4

Isso, porque quando não ocorre essa conscientização, mesmo que a implantação de um programa de armas não

letais esteja acontecendo de forma adequada e profissional, ao primeiro sinal de falha, decisões políticas

pautadas no senso comum acabam por extingui-lo.

Essa situação só ocorre, porque as pessoas não têm a noção de que, embora possa ocorrer uma ou outra situação

de lesão grave ou mesmo morte envolvendo armamentos não letais, há centenas de outros casos onde seu uso

impedirá a aplicação desnecessária de força letal, ou seja, do uso de armas de fogo.

Talvez falte a percepção de que falhas são inerentes ao ser humano e que elas são evidentemente menos lesivas à

sociedade e menos graves quando se usa armamento não letal, em relação às armas de fogo.

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As armas e os equipamentos não letais não objetivam substituir o uso da força letal, mas evitar seu uso

desnecessário. São concebidos e produzidos para finalidades distintas.

Equipar um agente encarregado de aplicação da lei ou uma equipe com apenas um tipo de armamento não letal é

prepará-lo para evitar o uso da arma de fogo em algumas situações, apenas.

O ideal é que, sempre que possível, sejam usados dois ou mais efeitos, simultaneamente, conforme determinado

na citada Diretriz 8 da Portaria Interministerial 4226/10. Assim, causa-se no agressor um efeito mais forte de

inquietação e desconforto, aumentando as chances de sucesso.

SOBRECARGA 2/2

A essa altura você deve estar se perguntando:

será que eu preciso andar com um monte de equipamentos pendurados?

A RESPOSTA É NÃO. DEVEM-SE USAR DOIS OU MAIS EFEITOS E NÃO EQUIPAMENTOS.

Como exemplo, podemos citar o uso simultâneo de armamentos e equipamentos por um operador de segurança.

Dessa maneira, o uso de equipamentos de proteção individual que, além da proteção, fornece um considerável

impacto psicológico, aliado ao uso de armas não letais e técnicas seguras de abordagem pode possibilitar uma

sobrecarga suficiente.

AVALIAÇÃO E AJUSTES 1/4

Como todo planejamento, a implantação de um programa de armas e equipamentos não letais deve ser flexível.

Mesmo seguindo todos os passos até agora listados, é preciso que haja um acompanhamento constante, a fim de

verificar como a corporação e a comunidade estão reagindo a essa nova mentalidade de atuação.

Além disso, o desenvolvimento de novos e mais eficazes equipamentos é constante, o que acarreta a necessidade

de acompanhamento, também, do que ocorre no restante do mundo.

O ideal é que cada órgão responsável pela Segurança Pública, em nível estadual, municipal ou mesmo federal,

tenha um colegiado multidisciplinar responsável por acompanhar os resultados do programa.

Esse acompanhamento deve ocorrer através de notícias veiculadas nos meios oficiais de comunicação, pesquisas

junto aos encarregados de aplicação da lei, análise de relatórios de emprego dos equipamentos etc.

AVALIAÇÃO E AJUSTES 2/4

Esses relatórios, em alguns casos, deverão ser criados, ainda na fase de estabelecimento de doutrina de emprego,

baseando-se no estabelecido na Diretriz 24 da Portaria Interministerial 4226/10, que relembramos:

Quando se usa a arma de fogo e/ou instrumentos de menor potencial ofensivo, tendo havido lesões ou mortes,

deverá ser elaborado relatório que contenha no mínimo as seguintes informações:


• circunstâncias e justificativa que levaram o uso da força ou de arma de fogo por parte do agente de
segurança pública;

• medidas adotadas antes de efetuar os disparos/usar instrumentos de menor potencial ofensivo, ou as

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• medidas adotadas antes de efetuar os disparos/usar instrumentos de menor potencial ofensivo, ou as
razões pelas quais elas não puderam ser contempladas;
• tipo de arma e de munição, quantidade de disparos efetuados, distância e pessoa contra a qual foi
disparada a arma;
• instrumento(s) de menor potencial ofensivo utilizado(s), especificando a frequência, a distância e a
pessoa contra a qual foi utilizado o instrumento;
AVALIAÇÃO E AJUSTES 3/4
• quantidade de agentes de segurança pública feridos ou mortos na ocorrência, meio e natureza da lesão;
• quantidade de feridos e/ou mortos atingidos pelos disparos efetuados pelo(s) agente(s) de segurança
pública;
• número de feridos e/ou mortos atingidos pelos instrumentos de menor potencial ofensivo utilizados
pelo(s) agente(s) de segurança pública;
• número total de feridos e/ou mortos durante a missão;
• quantidade de projéteis disparados que atingiram pessoas e as respectivas regiões corporais atingidas;
• quantidade de pessoas atingidas pelos instrumentos de menor potencial ofensivo e as respectivas
regiões corporais atingidas;
AVALIAÇÃO E AJUSTES 4/4
• ações realizadas para facilitar a assistência e/ou auxílio médico, quando for o caso;
• e se houve preservação do local e, em caso negativo, apresentar justificativa.
Os principais objetivos do acompanhamento dos resultados do programa são a avaliação das questões éticas

ligadas à utilização da força e de armas de fogo e a atualização constante das técnicas e equipamentos usados

pelos organismos de aplicação da lei.

Esses procedimentos facilitam a correção de rumos na aquisição de equipamentos e modificação dos

treinamentos.

5 Considerações Finais
Estudamos aspectos que podem ser elementos facilitadores ou dificultadores de uma política de adoção de

armas e equipamento não letais.

Esperamos que estes pontos possam ser debatidos por você, operador de segurança pública, na sua instituição.

Não poderíamos terminar esta aula sem deixar de citar o caso do Estado do Rio de Janeiro, que promulgou a Lei

5.396/13, determinando o seguinte nos seus 2 primeiros artigos:

Art. 1º As forças de segurança do Estado do Rio de Janeiro utilizarão preferencialmente

equipamentos não letais no policiamento ostensivo e em operações especiais, de forma a possibilitar

o uso gradual e escalonado da força.

Parágrafo único. O emprego de armas não letais não exclui o uso do armamento convencional.

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Art. 2º A formação e capacitação dos agentes de segurança para uso dos equipamentos não letais

deverão ser efetuadas previamente ao seu emprego, de forma a poderem ser utilizados com

eficiência e segurança para a população.

O que vem na próxima aula


Na próxima aula, você vai estudar:
• Os tipos de armas a serem utilizados pelos operadores de segurança pública, de acordo com o tipo de
alvo, tecnologia e emprego tático.

CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Reconheceu os aspectos favoráveis à implementação de um programa de armas não letais em uma
instituição de Segurança Pública;
• Identificou os aspectos que impedem a estruturação de um programa de armas não letais em uma
instituição de Segurança Pública.

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