Você está na página 1de 30

João Flávio / João gregório / Antônio Maximiano /

Nathanael Rinald

CURSO DE

OBREIROS
Fabrício A. de Marque

MÓDULO 01 / CAP. 02

São Paulo
IBITEK - Instituto Bíblico Teológico Kenosis
2022
MÓDULO 01 / CAP. 02

Capa / Diagramação: Egnaldo Martins


Instagram: @egnaldomk
Sumário
MÓDULO 01 / CAP. 02
HISTÓRIA DA IGREJA CRISTÃ .........................................................................................5

INTRODUÇÃO.......................................................................................................................6

CENÁRIO ROMANO............................................................................................................6

CENÁRIO GREGO.................................................................................................................9
(1) O Idioma...........................................................................................................................10
(2) A Filosofia........................................................................................................................11
CENÁRIO JUDAICO...........................................................................................................12
(1) O Monoteísmo.................................................................................................................12
(2) A Esperança Messiânica.................................................................................................13
(3) O Sistema Ético................................................................................................................14
(4) Os Livros Sagrados..........................................................................................................14
(5) A Diáspora.......................................................................................................................15

CONTEXTO HISTÓRICO PRÉ- CRISTIANISMO........................................................16


(1) Perspectiva Religiosa.......................................................................................................16
(2) Perspectiva intelectual....................................................................................................17
(3) Perspectiva Moral............................................................................................................18

O INÍCIO DA IGREJA.........................................................................................................19

CARACTERÍSTICAS ESPIRITUAIS DA IGREJA APOSTÓLICA................................21


(1) Amor Fraternal................................................................................................................21
(2) Zelo e Pureza Moral........................................................................................................22
(3) Prazer e Confiança..........................................................................................................22

CARACTERÍSTICAS

DOUTRINÁRIAS DA IGREJA APOSTÓLICA................................................................23

CARACTERÍSTICAS ECLESIÁSTICAS DA IGREJA APOSTÓLICA..........................25

CONSIDERAÇÕES PRÁTICAS.........................................................................................27

BIBLIOGRAFIA....................................................................................................................29
MÓDULO 01 / CAP. 02
HISTÓRIA DA IGREJA CRISTÃ

MÓDULO 01 / CAP. 02 5
INTRODUÇÃO

Antes de colocarmos qualquer projeto em prática,


uma boa preparação é necessária. Por exemplo, antes
de construir uma casa, é preciso fazer o orçamento
financeiro para garantir que a construção tenha êxito.
Jesus falou a respeito disso: “Qual de vocês, se quiser
construir uma torre, primeiro não se assenta e
calcula o preço, para ver se tem dinheiro suficiente
para completá-la?” (Lucas 14:28)1. Isso é verdade
em questões cotidianas, mas também foi verdade em
relação à história da igreja. Antes de enviar Jesus
Cristo ao mundo e dar início à Sua Igreja, o Senhor
preparou o cenário necessário para que o Salvador
invadisse o palco da história: “Mas, quando chegou
a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho [...]
(Gálatas 4:4a). Portanto, vamos conhecer um pouco
desse cenário preparado por Deus antes da encarnação
de Jesus Cristo.

CENÁRIO ROMANO

Os romanos dominavam o mundo inteiro quando


Jesus surgiu na história. Isso não quer dizer que todas
as regiões do mundo, inclusive as pequenas, eram
dominadas pelos romanos. Significa que os romanos
tinham domínio sobre aquelas partes do mundo que
1 Nova Versão Internacional (NVI).

6 / CURSO BÁSICO DE TEOLOGIA


estavam experimentando progressos notáveis. De
acordo com Robert Hastings Nichols:

Por volta do ano 50 d.C. o império romano


abrangia a Europa ao sul do Reno e do Danúbio, a
maior parte da Inglaterra, o Egito e toda a costa ao
norte da África, como também grande parte da Ásia,
desde o Mediterrâneo à Mesopotâmia2.

Os romanos estabeleciam o seu domínio não só


através da força física, mas também com a mente, isto
é, através de estratégias inteligentes. Por exemplo,
quando os romanos chegavam em determinada
região para implantar o seu domínio, eles levavam,
estrategicamente, um número grande de pessoas
que ultrapassasse o número de habitantes daquela
região. Sem dúvida, essa tática tinha que ser muito
bem planejada, pois, eles só poderiam levar uma
quantidade maior de pessoas para ocupar uma terra,
se primeiro soubessem o número de habitantes que
residiam ali.
A maioria das pessoas pertencia ao Império
Romano. Esse fato as levou a pensar que a humanidade
era uma só. Através do crescimento explosivo dos
romanos, Deus estava montando o cenário para a
chegada do Cristianismo. Governos menores foram
derrubados pelo poderio do Império Romano. O
2 NICHOLS, Robert Hastings. p. 17.

MÓDULO 01 / CAP. 02 7
Império Romano era, praticamente, o único poder
que dominava por toda a parte. Essa sensação de que
a humanidade era uma só foi um fator muito positivo
para a chegada do Cristianismo, porque dentro do
Cristianismo não existe distinção de raças. Por causa
de Jesus Cristo, todos são um: “Não há judeu nem
grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois
todos são um em Cristo Jesus” (Gálatas 3:28).
Além da sensação de unidade, o Império Romano
trouxe para o mundo um período de paz universal3. Se
a força que imperava era a força do Império Romano,
isso tornou praticamente impossível a existência de
guerras entre as nações. Quem se atreveria a lutar
contra alguém mais forte e mais poderoso? Esse fator
também foi muito favorável para o avanço da igreja,
porque o objetivo do Cristianismo era trazer sobre a
terra um domínio espiritual universal.
Além desses dois fatores, o Império Romano
também proporcionou segurança nas viagens e
facilidade de comunicação entre diferentes partes do
mundo. Por exemplo, os piratas dominavam as águas,
praticando toda sorte de saques e pilhagem em navios.
Por causa do Império Romano, esse tipo de crime
simplesmente chegou ao fim. Em terra firme, também
havia assaltantes e saqueadores que vitimavam os
viajantes. No entanto, o Império Romano também
colocou um ponto final nisso.
3 Conhecida como Pax Romana.

8 / CURSO BÁSICO DE TEOLOGIA


E tão policiadas eram essas vias de comunicação
que os ladrões desistiram dos seus assaltos. De modo
que as viagens e o intercâmbio comercial tiveram
extraordinário incremento4.

Por causa de todo esse avanço, o evangelho


conseguiu penetrar vários cantos do mundo por
meio do trabalho missionário. Se essas mudanças
não tivessem ocorrido, seria muito difícil para o
apóstolo Paulo levar o evangelho para os cantos do
mundo. Vemos, portanto, a poderosa mão de Deus
agindo na história e usando o Império Romano para o
estabelecimento do Cristianismo.

CENÁRIO GREGO

Além dos romanos, a cultura e o espírito dos


gregos também influenciaram fortemente para o
cenário que Deus estava preparando. Se os romanos
prepararam o cenário politicamente, os gregos o
prepararam intelectualmente. Earle E. Cairns expõe
esse ponto com as seguintes palavras:

A cidade de Roma pode ser identificada com o


ambiente político do Cristianismo, mas foi Atenas
que ajudou a criar um ambiente intelectual propício
à propagação do Evangelho. Os romanos podem
4 Ibid., p. 18.

MÓDULO 01 / CAP. 02 9
ter sido os conquistadores dos gregos, mas como
indicou Horácio (65 a.C. – 8 d.C.) em sua poesia, os
gregos conquistaram os romanos culturalmente. A
mente prática dos romanos pode ter construído boas
estradas, pontes fortes e belos edifícios, mas a grega
erigiu os grandiosos edifícios da mente. Foi graças à
influência grega que a cultura basicamente rural da
antiga República deu lugar à cultura intelectual do
Império5.

Os povos que habitavam o Mediterrâneo foram


grandemente impactados pelos gregos. Isso aconteceu
devido à capacidade dos gregos de levar o seu comércio
por todos os cantos. Aos poucos, a cultura grega
começou a moldar a mente das pessoas. A influência
foi tão marcante que os historiadores chamaram esse
período de “greco-romano”. Vamos ver, mais de perto,
como se deu a influência intelectual dos gregos sobre a
civilização antiga.

(1) O Idioma

O idioma grego tornou-se a língua universal que


dominou todo o mundo antigo. O grego possui vários
dialetos. Durante esse período, o dialeto grego que se
espalhou por todos os cantos foi o Koinê, exatamente o
dialeto que o Novo Testamento foi escrito. Até a escolha do
5 CAIRNS, Earle E. p. 31.

10 / CURSO BÁSICO DE TEOLOGIA


idioma estava dentro dos planos de Deus, porque através
dessa língua o Evangelho foi divulgado por todos os cantos,
atingindo desde o cidadão culto até o cidadão comum.

(2) A Filosofia

Os gregos foram incansáveis na produção filosófica.


Eles meditavam com profundidade sobre aqueles dilemas
que sempre incomodaram o ser humano: a existência de
Deus, a origem e o significado do Universo, a realidade
do mal, etc.

Do sexto ao terceiro século antes de Cristo, um


grande movimento intelectual sobre assuntos filosóficos
e teológicos ocorreu entre os gregos, movimento no qual
pontificaram os mais profundos e influentes pensadores
do mundo, ensinando muita coisa de valor que ainda hoje
perdura6.

Como resultado disso, a profundidade de raciocínio e


a curiosidade intelectual formaram a mentalidade do povo
grego. Através dos filósofos, as pessoas começaram a
meditar sobre áreas da vida que jamais tinham imaginado.
Isso foi extremamente benéfico para a chegada do
Cristianismo. Em outras palavras, os intelectuais gregos
fizeram suas indagações a respeito de Deus e da vida e,
depois, o Cristianismo chegou apresentando as respostas.
6 NICHOLS, Robert Hastings. p. 19.

MÓDULO 01 / CAP. 02 11
CENÁRIO JUDAICO

Os judeus foram escolhidos por Deus para receber


a bendita revelação divina. Os judeus deveriam
preservar essa revelação e ensiná-la à medida que Deus
se revelasse progressivamente durante a história do
mundo. Isso deveria ser feito para que o povo judeu se
tornasse – conforme o propósito de Deus – uma bênção
para todos os povos da terra.
Desse modo, os judeus “fizeram os preparativos
para o seu [do Cristianismo] nascimento e o alimentaram
na sua primeira infância”7. Em nenhum outro lugar do
mundo antigo existia uma vida religiosa pura aos olhos
de Deus como havia entre os judeus. A vida religiosa
dos judeus era pura porque eles tinham recebido a
revelação do próprio Deus. Nenhum outro povo tinha
uma concepção elevadíssima de Deus como os judeus
e nenhum outro povo possuía uma retidão moral como
eles. Vejamos, então, algumas características bem
particulares dos judeus que ajudaram a preparar o
mundo para a chegada do Cristianismo.

(1) O Monoteísmo

Diferentemente das outras nações do mundo, os


judeus adoravam apenas o Deus único e verdadeiro,
Criador dos céus e da terra. Isso fica evidente no
7 Ibid., p. 20.

12 / CURSO BÁSICO DE TEOLOGIA


registro de Deuteronômio 6:4: “Ouça, ó Israel: O
Senhor, o nosso Deus, é o único Senhor”. A idolatria
não era tolerada dentro da religião dos judeus. Quando
o povo de Israel caiu na idolatria, Deus o conduziu
para o cativeiro a fim de corrigi-lo. O monoteísmo era
evidente entre os judeus e essa foi uma contribuição
muito importante para a chegada do Cristianismo,
porque o evangelho anuncia que Jesus é o único
Senhor que deve ser adorado.

(2) A Esperança Messiânica

Deus entregou aos judeus a promessa de que


levantaria o Messias para trazer justiça sobre a terra.
Essa revelação foi tão popularizada a ponto de tornar-
se conhecida entre os romanos e gregos. Sem dúvida,
a esperança messiânica impactou positivamente esses
povos, pois “no mundo grego e no mundo romano
[havia] uma forte dose de desespero, de cansaço,
de desilusão”8. A promessa do Messias preparou os
corações para receber o único verdadeiramente capaz
de resolver o problema do pecado humano: Jesus
Cristo.

8 Ibid., p. 21.

MÓDULO 01 / CAP. 02 13
(3) O Sistema Ético

Os Dez Mandamentos da religião judaica


prepararam o caminho para a doutrina do pecado
e da redenção. As ordens negativas (“não faça
isso”) dos Dez Mandamentos não era meramente
comportamental, ou seja, não tinha o objetivo de
corrigir apenas as atitudes externas. Ao contrário,
as ordens apontavam diretamente para o coração, a
fonte de todo pecado e de toda maldade (cf. Mateus
15:19). Além disso, o sistema ético dos judeus era
muito diferente do sistema ético dos demais povos.
As práticas dos demais povos eram, essencialmente,
corruptas e pecaminosas aos olhos de Deus. Com o
sistema ético revelado nos Dez Mandamentos Deus
estava dizendo que a salvação não vem do homem,
mas dEle somente.

(4) Os Livros Sagrados

Os judeus também contribuíram com os 39 livros


sagrados que compõem o Antigo Testamento. Várias
profecias do Antigo Testamento se cumpriram antes
e depois que Jesus iniciou seu ministério terreno.
A literatura sagrada foi importante não só por isso,
mas também porque nutria a vida de Jesus e de Seus
seguidores.

14 / CURSO BÁSICO DE TEOLOGIA


A igreja primitiva, antes de produzir seus próprios
livros, encontrou, prontos para o seu uso, os antigos
manuscritos que lhe foram do maior auxílio. Jesus fez
uso constante do Antigo Testamento para nutrir a sua
própria vida e basear os seus ensinos, e, consoante
seu exemplo, as Escrituras judaicas eram lidas
regularmente nas reuniões de culto dos primitivos
cristãos. Todos os cristãos, judeus ou não, retiraram
delas instrução e inspiração incalculáveis9.

(5) A Diáspora

A Diáspora, palavra que significa Dispersão, se


refere aos judeus que se espalharam pela terra em
virtude dos cativeiros que enfrentaram. Por causa da
Dispersão, havia judeus em quase todas as cidades
do período greco-romano. Devido à forte identidade
desses judeus, eles mantiveram a essência de sua
religião por onde quer que fossem. Como resultado,
muitos gentios se converteram à religião judaica,
abraçando os seus ensinamentos. Desse modo, as
“missões judaicas” prepararam o caminho para as
“missões cristãs” que o Cristianismo haveria de trazer.

9 Ibid., p. 22.

MÓDULO 01 / CAP. 02 15
CONTEXTO HISTÓRICO PRÉ- CRISTIANISMO

Depois de termos considerado os três povos


que influenciaram a formação da igreja, é muito
importante, agora, olharmos ao redor a fim de
identificarmos as condições que as pessoas estavam
enfrentando quando o evangelho começou a ser
proclamado. Vamos considerar essas condições sob
três perspectivas: religiosa, intelectual e moral.

(1) Perspectiva Religiosa

Os deuses gregos e romanos não tinham mais


a mesma influência sobre a vida das pessoas, como
no passado. Pessoas cultas e comuns começaram
a nutrir certo desinteresse pelos deuses, o que
causou preocupação no imperador. Assim, Augusto
estabeleceu a religião do Estado, objetivando, com
isso, “avivar” a religiosidade do povo10. Imagens e
estátuas de imperadores, símbolos do poder romano,
passaram a ser veneradas. Isso produziu uma
associação entre divindades e localidades, profissões,
aspectos da vida, etc.11 Além disso, as religiões
orientais ganharam vários adeptos devido ao seu
crescimento pelas margens do Mediterrâneo.
Da Frígia, veio o culto da Mãe dos deuses e o
culto de Attis. Do Egito, veio o culto de Ísis com
10 Ibid., p. 23.
11 Ibid.

16 / CURSO BÁSICO DE TEOLOGIA


Serápis ou Osíris. Essas religiões exerciam influência
no começo da era cristã. Mais tarde, a mais popular
das religiões orientais, a da deusa Mitras, veio do
leste da Ásia Menor, e tomou-se a deusa mascote
do exército romano por onde ele ia. Essas religiões
misteriosas tinham uma semelhança superficial
com o Cristianismo, por organizarem sociedades,
agrupando indivíduos independentemente de raça ou
posição social, os quais faziam refeições em comum,
praticavam certas abluções que eram consideradas
como purificações espirituais, e, em muitos casos,
pelo culto de divindades que supostamente tinham
sofrido morte e ressuscitado, comunicando, assim,
vida imortal aos seus seguidores. Em aspectos mais
profundos, essas religiões muito se distanciavam do
Cristianismo12.

Apesar de todas as religiões que surgiram, as


pessoas continuavam insatisfeitas, buscando paz e
preenchimento em seus corações.

(2) Perspectiva intelectual

Durantes os primeiros anos da igreja, pelo menos


duas correntes filosóficas tinham alcançado vários
seguidores: O Epicurismo e o Estoicismo. O problema
é que nenhuma delas conseguia responder às questões
12 Ibid.

MÓDULO 01 / CAP. 02 17
existenciais que ainda preocupava o ser humano como,
por exemplo, a questão do pecado e da vida futura. Essas
filosofias eram tão insuficientes que, Plínio, o Moço, ao
perder a sua filha, escreveu a um amigo:

Dá-me algum alívio, algum conforto que seja grande


e forte, tal que eu nunca tenha ouvido ou lido. Porque
tudo o que tem chegado ao meu conhecimento, e de que
me posso lembrar, não me ajuda, pois minha tristeza é
por demais profunda para ser removida pelo ‘que sei’13

(3) Perspectiva Moral

A vida moral durante esse período não era


completamente devassa. Sem dúvida, havia atitudes e
gestos nobres. Apesar disso, a insatisfação e a perturbação
de espírito, assolavam as pessoas. Como as religiões e
as filosofias eram insuficientes, elas não tinham poder
de influenciar a vida das pessoas. Consequentemente, a
vida moral era mais “suja” do que exemplar.

Em consequência de tudo isso, havia um sentimento de


cansaço e de vácuo entre muitos homens, e especialmente
entre os melhores e mais inteligentes deles. Foi a um mundo
entenebrecido, sem esperança e muito corrompido, que os
primeiros missionários cristãos levaram suas boas novas de
salvação14
13 Ibid., p. 25.
14 Ibid.

18 / CURSO BÁSICO DE TEOLOGIA


O INÍCIO DA IGREJA

A Igreja Apostólica ou igreja Primitiva teve início


com Jesus Cristo. Durante o tempo em que esteve na
terra, Jesus escolheu doze homens, transformou-os
espiritualmente, ensinou-lhes as verdades eternas e
os comissionou para continuarem a Sua obra. Esse
pequeno grupo de homens era bastante íntimo de Jesus.
No entanto, em certa ocasião, Jesus também escolheu
setenta homens e os comissionou para o ministério
de pregação. Embora o grupo de setenta discípulos
não fosse tão íntimo quanto o grupo de doze, os
setenta também foram essenciais para a propagação
das boas-novas. Depois de ressuscitar dentre os
mortos, Jesus apareceu para o pequeno grupo de doze
discípulos e, antes de ascender aos céus, fez-lhe uma
promessa: “Portanto ide, fazei discípulos de todas as
nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho,
e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas
as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu
estou convosco todos os dias, até a consumação dos
séculos. Amém” (Mateus 28:19-20)15. Assim nasceu
a Igreja Apostólica: fundamentada nos ensinamentos
de Jesus Cristo e acompanhada por Sua presença
espiritual até a consumação dos séculos.
Quando a Igreja Primitiva teve início? Alguns
podem pensar que ela começou durante o ministério
15 Almeida Corrigida Fiel (ACF).

MÓDULO 01 / CAP. 02 19
terreno de Jesus, enquanto Ele mesmo pregava o
Evangelho. Outros podem indicar o episódio da
ascensão de Jesus aos céus como sendo o início de
tudo. Outros ainda – e com razão – podem afirmar
que tudo começou na ocasião da descida do Espírito
Santo em Atos 2 (Pentecostes). Um fato notável é
que após o derramamento do Espírito Santo, Pedro
pregou ousadamente, levando milhares de pecadores
ao arrependimento. Essa marca não estava somente
em Pedro, mas sobre todo aquele que confessava o
Senhor Jesus nos primeiros anos da Igreja Cristã.
A mensagem de salvação foi dirigida,
primeiramente, aos judeus, “tendo começado em
Jerusalém e daí estendendo-se a toda a Palestina”16.
Esse foi o propósito inicial de Deus, mas não foi o
propósito inteiro. Os judeus pensaram que a mensagem
salvadora era algo exclusivo deles, apesar de Jesus ter
deixado claro a importância dos gentios. Para quebrar
esse exclusivismo, o Senhor enviou perseguição à
Igreja. A liderança judaica resistiu à pregação de
Estevão acerca do Messias e o assassinou, tornando-o,
desse modo, o primeiro mártir do Cristianismo. Como
resultado, a Igreja Cristã, já formada por milhares de
seguidores, fugiu e se espalhou por vários cantos,
carregando, ao mesmo tempo, as boas-novas do
Evangelho.

16 NICHOLS, Robert Hastings. p. 31.

20 / CURSO BÁSICO DE TEOLOGIA


Alguns deles foram até à grande cidade de Antioquia,
na Síria. Ali, os seguidores de Cristo foram, pela primeira
vez, chamados “cristãos”, nome que, parece, lhes foi
dado por zombaria. Nessa cidade, vivendo no meio de
uma população grega, esses exilados tornaram Jesus
conhecido tanto de gregos como de judeus17.

De maneira sobrenatural, a Igreja começou


a crescer. Quando o ano 100 d.C. chegou, várias
igrejas tinham sido plantadas em várias cidades da
Ásia Menor e em muitos lugares da Palestina, Síria,
Macedônia e Grécia, em Roma e Puteoli, na Itália, em
Alexandria, e, provavelmente, na Espanha18.

CARACTERÍSTICAS ESPIRITUAIS DA
IGREJA APOSTÓLICA

A Igreja Apostólica possuía todas as marcas da


verdadeiramente espiritualidade e, desse modo, ela se
tornou o principal modelo a ser imitado pelas demais
igrejas do mundo. Quais eram essas marcas?

(1) Amor Fraternal

Os primeiros cristãos amavam incondicionalmente


os seus irmãos na fé. Havia genuíno interesse para com
as necessidades dos pobres, viúvas e órfãos. Embora
17 Ibid.
18 Ibid., pp. 31-32.

MÓDULO 01 / CAP. 02 21
houvesse dentro da igreja irmãos pobres e irmãos
ricos, essas diferenças eram, simplesmente, niveladas
em Cristo. Ninguém tratava o outro a partir dessas
diferenças.

(2) Zelo e Pureza Moral

Com certeza a Igreja Apostólica não era perfeita.


Basta ler a Primeira Carta aos Coríntios para constatar
esse fato. No entanto, aqueles irmãos, retirados por
Deus do paganismo, foram um exemplo vivo do
poder transformador do Evangelho. Paulo disse: “[...]
vocês foram lavados, foram santificados, foram
justificados no nome do Senhor Jesus Cristo e no
Espírito de nosso Deus” (1 Coríntios 6:11)19.

(3) Prazer e Confiança

O prazer dos primeiros cristãos não se apoiava nas


coisas desta vida terrena e passageira, mas nas coisas
permanentes da vida celestial. Em outras palavras, eles
tinham deleite na Trindade Santa: Pai, Filho e Espírito.
O amor do Pai os sustentava diante das calamidades.
A redenção do Filho proporcionava ânimo em meio às
tribulações. E a comunhão do Espírito Santo os encorajava
a sofrer pelo Evangelho. Sem dúvida alguma, a atitude dos
primeiros cristãos, principalmente diante do sofrimento,
era um testemunho vivo aos olhos das nações pagãs.
19 Nova Versão Internacional (NVI).

22 / CURSO BÁSICO DE TEOLOGIA


CARACTERÍSTICAS
DOUTRINÁRIAS DA IGREJA APOSTÓLICA

Antes de ascender aos céus, Jesus não entregou


aos discípulos um manual eclesiástico, contendo
especificações como: formas de batismo, tipos de
governo de igreja, quantidade mensal de celebração
da Ceia do Senhor, etc. Essas questões foram deixadas
em aberto para cada congregação local decidir de
acordo com o bom senso e a partir dos princípios
gerais das Escrituras. No entanto, algumas convicções
teológicas marcaram os primeiros cristãos.
Quais as crenças da Igreja Apostólica? Havia uma
lista doutrinária? É evidente que confissões escritas
– como temos hoje – não haviam sido formalmente
elaboradas. O primeiro documento cristão, por
exemplo, surgiu no 2º século, chamado O Credo dos
Apóstolos. No entanto, isso não significa que eles
criam em qualquer coisa ou que não tinham convicções
teológicas. Para conhecer a crença de nossos irmãos
primitivos, precisamos ler a principal fonte de
informação a respeito disso: o Novo Testamento.

Criam eles em Deus, o Pai; em Jesus, como o


Filho de Deus e Salvador; criam no Espírito Santo, de
cuja presença estavam cônscios. Criam no perdão dos
pecados. A base do seu ideal moral era o ensino de
Jesus sobre o amor a todos os homens. Aguardavam a

MÓDULO 01 / CAP. 02 23
volta de Jesus para exercer o julgamento final e dar a
vida eterna a todos os que criam nele20.

Infelizmente, essas convicções não impediram


que muitos flertassem com algumas heresias. A
influência dos judaizantes, por exemplo, levou muitos
a retornarem para o legalismo judaico, marcado pelas
exigências cerimoniais. Os judaizantes diziam que
apenas o Judaísmo era a religião verdadeira e, a menos
que retornassem para a Lei, não podiam ser salvos.
Não só os judaizantes exerceram forte influência
sobre a Igreja Apostólica, mas os gnósticos também.
O Gnosticismo misturava Cristianismo, Judaísmo e
Paganismo. Visto que algumas ideias eram parecidas
com as ideias do Cristianismo, muitos acabaram
sendo enganados. O apóstolo João, por exemplo,
elaborou muitos argumentos em suas epístolas a fim
de combater essa antiga heresia.

20 NICHOLS, Robert Hastings. p. 34.

24 / CURSO BÁSICO DE TEOLOGIA


CARACTERÍSTICAS ECLESIÁSTICAS DA
IGREJA APOSTÓLICA

A Igreja Apostólica tomava decisões de maneira


autônoma e resolvia os seus próprios problemas.
Não existia uma autoridade formal sobre as igrejas
que foram plantadas no primeiro século. Não existia
autoridade formal na acepção moderna do termo,
como, por exemplo, uma Convenção em que várias
denominações – que seguem a mesma confissão –
fazem parte. No entanto, os apóstolos eram muito
respeitados pelo fato de terem vivido pessoalmente
com Jesus. Nesse sentido, com base na autoridade
apostólica, as ordens eram emitidas pelos apóstolos
e, consequentemente, obedecidas pelas igrejas, ainda
que os apóstolos não estivessem fisicamente presentes
no momento da decisão: “Embora eu não esteja com
vocês em pessoa, estou presente em espírito. E, como
se estivesse aí, já condenei esse homem em nome
do Senhor Jesus. Convoquem uma reunião. Estarei
com vocês em meu espírito, e o poder de nosso
Senhor Jesus também estará presente. Entreguem
esse homem a Satanás, para que o corpo seja punido
e o espírito seja salvo no dia do Senhor” (1 Coríntios
5:3-5)21. Além disso, cada congregação reconhecia a
autoridade de homens escolhidos para ensinar e pregar.
Não era levantado um mestre em cada congregação
21 Nova Versão Transformadora (NVT).

MÓDULO 01 / CAP. 02 25
local, como ocorre atualmente. Eles eram, por assim
dizer, itinerantes. Tinham autoridade para ensinar em
todas as congregações cristãs da época.

O ministério desses oficiais se estendia a toda a


Igreja; não era restrito a congregações particulares.
Vemos muitos dos apóstolos e profetas viajando por
toda parte a serviço da Causa. No 1º século, a pregação
e o ensino do Evangelho eram feitos principalmente
por esses homens e por algumas mulheres, antes que
por oficiais de igrejas locais22.

Quanto ao trabalho diaconal, os diáconos do período


apostólico cuidavam do serviço de beneficência, ou seja,
ajudavam aqueles que enfrentavam necessidades23. Os
presbíteros eram responsáveis pela Ceia do Senhor
e podiam pregar quando algum apóstolo, profeta ou
mestre estivesse ausente. E os bispos24 cuidavam do
pastorado, da disciplina e das questões econômicas25.

22 Ibid., p. 35.
23 CAIRNS, Earle E. p. 68.
24 Ou anciãos.
25 NICHOLS, Robert Hastings. p. 36.

26 / CURSO BÁSICO DE TEOLOGIA


CONSIDERAÇÕES PRÁTICAS

1. Deus é o Senhor sobre o tempo e sobre a


história da humanidade. Conforme vimos no início
deste módulo, Jesus encarnou na plenitude dos
tempos, indicando que a Sua encarnação ocorreu no
tempo exato determinado por Deus. Isso revela que
Deus é Senhor sobre o tempo. Além disso, Deus
também usou os povos romanos, gregos e judeus
para montar o cenário para a chegada de Seu Filho
ao mundo. Aqueles povos sequer imaginaram que
estavam contribuindo para a chegada do Cristianismo
à terra. Cada detalhe foi muito bem orquestrado por
Deus. Deus é Senhor sobre a história da humanidade
também. Esse fato deve confortar o seu coração,
porque, se você está em Cristo, Deus é por você. Ele
conduz cada detalhe de sua vida e de sua história.
Ele escreveu os seus dias (Salmos 139:16), sem que
isso cancelasse as suas responsabilidades pessoais.
A sua vida está, definitivamente, nas mãos de Deus.
Ele se importa com você, de tal maneira que os fios
de cabelo de sua cabeça estão devidamente contados
(Lucas 12:7). Portanto, você pode confiar e descansar
no Senhor do tempo e da história.

MÓDULO 01 / CAP. 02 27
2. Deus estabeleceu a Sua Igreja para que
façamos parte dela. A Igreja é projeto de Deus, por
isso o mundo nem o Diabo conseguirão destruí-la.
Entramos na Igreja (Corpo) através da fé no Senhor
Jesus. A Igreja (Corpo) está espalhada por toda a
terra, em países livres e perseguidos. Além disso, os
membros dessa Igreja fazem parte de igrejas locais
(instituições). É impossível estar na primeira (Corpo)
sem estar na segunda (instituição). Mas é possível
estar na segunda (instituição) sem estar na primeira
(Corpo). Deus quer que você esteja em ambas. Não
espere perfeição, porque as igrejas são compostas
por pessoas pecadoras, mas perdoadas, que estão em
processo de santificação. Busque imitar os nossos
irmãos primitivos, no amor fraternal, na pureza moral e
na retidão doutrinária. Se a Igreja (Corpo e instituição)
foi estabelecida por Deus, é porque Ele tem interesse
nela. Se Ele tem interesse nela, devemos ter também.
Seja paciente com as pessoas que compõem a igreja,
porque Deus tem sido paciente com você também. A
Igreja (Corpo), também chamada de Noiva, está sendo
preparada pelo Noivo (Jesus) a fim de “apresentá-la
a si mesmo como igreja gloriosa, sem mancha nem
ruga ou coisa semelhante, mas santa e inculpável”
(Efésios 5:27)26.

26 Nova Versão Internacional (NVI).

28 / CURSO BÁSICO DE TEOLOGIA


BIBLIOGRAFIA

CAIRNS, Earle E. O cristianismo através dos


séculos: uma história da Igreja cristã. – 2. ed. – São
Paulo: Vida Nova, 1995.
HURLBUT, Jesse Lyman. História da Igreja
cristã. São Paulo, SP: Vida, 1979.
LATOURETTE, Kenneth Scott, 1884-1968.
Uma história do Cristianismo: volume I: até 1500 a.D.
[tradução Heber Campos]. São Paulo: Hagnos, 2006.
NICHOLS, Robert Hastings. História da
Igreja Cristã, 11ª edição. São Paulo, Casa Editora
Presbiteriana, 2000.
SHELLEY, Bruce L. História do Cristianismo
ao alcance de todos. Santo Amaro, SP: Shedd
Publicações, 2004.

MÓDULO 01 / CAP. 02 29
30 / CURSO BÁSICO DE TEOLOGIA

Você também pode gostar