Você está na página 1de 91

Disciplina

Literatura Portuguesa II

Coordenador da Disciplina

Prof. Ana Márcia

7ª Edição
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados desta edição ao Instituto UFC Virtual. Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida,
transmitida e gravada por qualquer meio eletrônico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, dos autores.

Créditos desta disciplina

Realização

Autor

Prof. José Leite de Oliveira Junior


Sumário
Aula 01: Arcadismo...................................................................................................................................01
Tópico 01: O Século das Luzes em Portugal..........................................................................................01
Tópico 02: A reação árcade e neoclássica ao Barroco............................................................................05
Tópico 03: As arcádias portuguesas.......................................................................................................08
Tópico 04: A poesia de Bocage..............................................................................................................10
Tópico 05: Antologia de poemas árcades...............................................................................................15

Aula 02: Romantismo................................................................................................................................25


Tópico 01: Portugal liberal e romântico.................................................................................................25
Tópico 02: Primeira fase do Romantismo..............................................................................................26
Tópico 03: Segunda fase do Romantismo..............................................................................................43
Tópico 04: Terceira fase do Romantismo...............................................................................................47

Aula 03: A Geração de 70 e a poesia realista..........................................................................................53


Tópico 01: A Questão Coimbrã..............................................................................................................53
Tópico 02: A poesia realista de ruptura..................................................................................................56
Tópico 03: A poesia militante de Guerra Junqueiro...............................................................................60
Tópico 04: A poesia impressionista de Cesário Verde............................................................................71

Aula 04: A prosa realista...........................................................................................................................77


Tópico 01: O combate do realismo ao idealismo...................................................................................77
Tópico 02: A prosa de Eça de Queirós...................................................................................................80
Tópico 03: Outros prosadores no Realismo e do Naturalismo...............................................................85
,

LITERATURA PORTUGUESA II
AULA 01: ARCADISMO

TÓPICO 01: O SÉCULO DAS LUZES EM PORTUGAL

O Barroco, iniciado na segunda metade do século XVI, ainda na forma


de Maneirismo, manteve-se até a metade do século XVIII, quando um novo
contexto histórico determinaria a superação dessa estética. Em Portugal, o
Arcadismo tem início em 1756, com a fundação da Arcádia Lusitana, e
prossegue até 1825, quando Almeida Garrett publica o poema intitulado
Camões.
Fonte [1]

CAMÕES

Fonte [2]

O século XVIII é conhecido como o Século das Luzes. É o momento do


Iluminismo.

ILUMINISMO

Quando todo um conjunto de modificações econômicas e culturais


constituíram os valores sobre os quais ainda se assenta a sociedade
ocidental contemporânea, como a democracia representativa, os
Direitos Humanos e o ordenamento jurídico estruturado em torno da
Constituição.

É a época da Enciclopédia, que reuniu intelectuais como Denis Diderot,


d'Alembert, Rousseau, d' Holbach, Turgot, Duclos, Voltaire, dentre outros
iluministas, que objetivavam, com esse dicionário de artes, ciências e
técnicas, editado em 28 volumes, entre 1751 e 1772, reunir o que havia de
mais representativo do conhecimento humano ocidental desse tempo.

No âmbito da economia, foi no final desse século que se iniciou a


Revolução Industrial.

REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

Fonte [3]

1
Com o uso da máquina a vapor, é o momento histórico em que a
classe burguesa começou a praticar o liberalismo econômico, pondo
abaixo o Estado aristocrático, via de regra politicamente incapaz de
gerenciar todo esse conjunto de transformações econômicas e culturais.

O ponto culminante desse século de grandes transformações foi a


Revolução Francesa, em 1789, com a ascensão da burguesia ao poder e a
formação do Estado contemporâneo.

REVOLUÇÃO FRANCESA

Fonte [4]

Em Portugal, o chamado Despotismo Esclarecido foi corporificado na


figura do marquês de Pombal, primeiro-ministro de Dom José I, soberano
que reinou entre 1750 e 1777. O marquês de Pombal conquistou maior
autonomia jurídica do Estado em relação à Igreja. Exemplo disso foi a
expulsão dos jesuítas da metrópole e das colônias e a subordinação do
Tribunal do Santo Ofício ao poder do rei, decisão que resulta no controle do
poder real sobre os famigerados autos de fé, que condenara à morte
desafetos da Igreja, judeus e descendentes de judeus. Consolidou-se a
reforma do ensino, apoiada nas propostas iluministas de Luís Antônio
Vernay, mas administrada, no período pombalino, por Antônio Nunes
Ribeiro Sanches. O sistema curricular, que se faz laico, sai do controle da
Igreja, passando para a administração do Estado. Desenvolveram-se as
ciências e a filosofia no ensino superior lusitano, em maior consonância com
o que ocorria nos países mais desenvolvidos da Europa, ainda que autores
como Diderot ou d'Alambert fossem então censurados.
No âmbito da economia, a política pombalina se traduz num maior controle
comercial sobre as colônias. Dentre os atos da centralização colonial:

MARQUÊS DE POMBAL

2
Fonte [5]

• funda-se a capitania de Moçambique (1752) e

• se restaura a da Guiné Bissau (1753).

No Brasil, são definidas:

No Sul No Norte

- as fronteiras com o Tratado de


Madri (1750, revisto em 1761) - é fundada a Companhia do Grão
Pará e Maranhão (1755).
- invadem-se as comunidades
jesuíticas dos Sete Povo das - A invasão dos Sete Povos das
Missões (1756), proibindo-se Missões ganharia versão poética na
inclusive o ensino da língua geral epopeia O URAGUAI (1769), de
(nheengatu ou tupi catequético) Basílio da Gama.
em favor da língua portuguesa.

CURIOSIDADE
PARA SABER MAIS

Veja mais informações sobre o marquês de Pombal em: Historia de


Portugal [6].

Fonte [7]
O filme A MISSÃO (The Mission, 1986), dirigido por Roland Joffé,
recupera o contexto histórico do conflito entre o governo português e a
Companhia de Jesus, ocorrido no território brasileiro. A ficha técnica está
em Adoro cinema [8].

DICA
Você conhece a Wikipedia? A enciclopédia do século XXI está na
Internet. Procure na Wikipedia informações sobre a enciclopédia do
século XVIII, que reuniu os mais expressivos intelectuais franceses desse
tempo.

3
Eis o endereço da Wikipedia em português: http://pt.wikipedia.org/
[9]

FONTES DAS IMAGENS


1. http://2.bp.blogspot.com/-X_8tjYM16jQ/T7Znk5ZkT7I/AAAAAAAAYs
M/B3Cc2wWYlHU/s640/49710228.jpg
2. http://i239.photobucket.com/albums/ff27/viciadosemlivros/almeidagar
ret-camoes.jpg
3. http://www.anossaescola.com/cr/AdvHTML_Upload/revolind03.jpg
4. http://maniadehistoria.files.wordpress.com/2009/03/rev-franc.jpg
5. http://fotos.sapo.pt/topazio1950/pic/000pe6kg
6. http://www.historiadeportugal.info/marques-de-pombal/
7. http://2.bp.blogspot.com/-gfIHAJeQ2co/TzUILCOdZGI/AAAAAAAAAs
Q/uO26jcWHPW0/s1600/images.jpg
8. http://www.adorocinema.com/filmes/missao/missao.asp
9. http://pt.wikipedia.org/
10. http://www.denso-wave.com/en/

Responsável: Profª. Ana Márcia Alves Siqueira


Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual

4
LITERATURA PORTUGUESA II
AULA 01: ARCADISMO

TÓPICO 02: A REAÇÃO ÁRCADE E NEOCLÁSSICA AO BARROCO

Em meados do século XVIII, as transformações econômicas e políticas já


não encontravam identidade na estética barroca. Os novos intelectuais
procuraram restaurar a pureza do Classicismo, opondo-se tanto à
religiosidade contra-reformista quanto ao exagero estilístico até então em
moda, iniciando-se o Neoclassicismo.

Esses escritores passam a organizar-se em agremiações inspiradas na


Fonte [1]
tradição clássica. Tais agremiações, chamadas de arcádias, fazem referência
à Arcádia grega. Os membros das arcádias adotavam pseudônimos de
pastores, com os quais assinavam seus trabalhos, exercitando uma poesia
dedicada a temas via de regra bucólicos, convencionalmente dedicada a
recatadas pastoras. Em meio a esse pastoralismo, os mitos da antiga Grécia
são recorrentes.

Estilisticamente, valorizaram-se o equilíbrio e a simplicidade das


composições poéticas, superando-se assim os traços barrocos da arte
européia. O verso branco (sem rima) passa a ser cultivado, a metrificação
simplifica-se e os ornamentos figurativos passam a ser vistos como mau
gosto.

Eis algumas recorrências temáticas neoclássicas, expressas, segundo a


moda do tempo, em lemas latinos:

AUREA MEDIOCRITAS
“Mediocridade de ouro”, valorização do equilíbrio da vida quotidiana,
evitando-se os excessos passionais ou a exuberância material. O
pensamento é influenciado pela poesia epicurista do poeta latino Horácio.

CARPE DIEM
“Aproveita teu dia”, valorização do desfrute equilibrado da vida
presente. Trata-se de citação retirada do final da Odes I, 11, do poeta latino
Horácio: “... carpe diem quam minimum / credula postero” (aproveita teu
dia e não te fies no amanhã). Esta ode se encontra no Material de Apoio:
horacio_carpe_diem.pdf (Clique aqui para abrir) (Visite a aula online para
realizar download deste arquivo.).

FUGERE URBEM
“Fugir da cidade”, busca do campo, estabelecimento de cenários
bucólicos. A natureza é tomada, desde o século XVIII, como amplo símbolo
ideológico. Na economia política, por exemplo, o liberalismo era justificado
como aplicação das leis naturais nas relações entre o governo e os negócios.
No urbanismo, a natureza passou a fazer parte da paisagem, surgindo os
jardins dos palácios e os parques públicos. Na educação, Jean-Jacques
Rousseau, em seu livro Emílio, prega uma educação baseada na ideia de
que o homem natural é bom (Mito do Bom Selvagem).

5
NUTILIA TRUNCAT
“Corta o inútil”, ou seja, combate ao exagero na arte. Era o lema da
Arcádia Lusitana (1756-1774).

LOCUS AMOENUS
Valorização do ambiente bucólico e tranquilo, que aparecem
idealizados na arte neoclássica.

ODES

Fonte [2]

EMÍLIO

Fonte [3]

6
Página de manuscrito da Arte Poética de Horácio, poeta latino que muito influenciou o
Neoclassicismo

FONTES DAS IMAGENS


1. http://sites.google.com/site/sorarenata/arc_watteau-large.jpg
2. http://cdn.7static.com/static/img/sleeveart/
00/005/930/0000593057_350.jpg
3. http://www.leeds.ac.uk/library/adopt-a-book/pics/rousseau.jpg
4. http://www.denso-wave.com/en/

Responsável: Profª. Ana Márcia Alves Siqueira


Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual

7
LITERATURA PORTUGUESA II
AULA 01: ARCADISMO

TÓPICO 03: AS ARCÁDIAS PORTUGUESAS

O século XVIII foi rico em agremiações culturais. Seguindo o exemplo


da Arcádia Romana, surgida no final do século XVII, na Itália, destacam-se
em Portugal, a Arcádia Lusitana e a Nova Arcádia, entre outras cujo nome
vincula seus participantes a outros centros culturais, como a Arcádia
Conimbricense, a Arcádia Portuense e os Árcades de Guimarães. No Brasil,
Fonte fala-se de uma Arcádia Ultramarina, fundada por Cláudio Manuel da Costa
em 1768.

ARCÁDIA LUSITANA
A Arcádia Lusitana é o marco histórico com que se inicia a moda
neoclássica em Portugal. Sua fundação ocorre em março de 1756, com a
reunião de Antônio Dinis da Cruz e Silva, Manuel Nicolau Esteves Negrão e
Teotônio Gomes de Carvalho. Cada árcade, como se sabe, adotava um nome
de pastor:

• Cruz e Silva era Elpino Nonacriense,

• Correia Garção era Córidon Erimanteu,

• Reis Quita era Alcino Micénio,

• Francisco José Freire era Cândido Lusitano,

• Manuel de Figueiredo era Lícidas Cíntio.

Os árcades procuram recuperar o Classicismo do século XVI e o padrão


literário greco-latino. O lema da agremiação funcionava como um recado ao
Barroco extinto: “Inutilia truncat”. Suas atividades duram até 1774.

NOVA ARCÁDIA
Fundada por Domingos Caldas Barbosa (Lereno Selinuntino), Belchior
Manuel Curvo Semedo, Joaquim Severino Ferraz de Campos, Francisco
Joaquim Bingre, a Nova Arcádia funcionou de 1790 e 1794. Participaram da
Nova Arcádia:

• padre José Agostinho de Macedo,

• Luís Correia França e Amaral,

• Tomás Antônio dos Santos e Silva.

Além de Manuel Maria Barbosa du Bocage, o maior nome da literatura


portuguesa do século XVIII, autor de Rimas (partes 1, 2 e 3, respectivamente
em 1791, 1799 e 1804.

8
Fonte [1]

CHAT
Neste chat livre vocês poderão esclarecer suas dúvidas sobre a
disciplina, o conteúdo e o funcionamento das aulas e da tutoria.

FONTES DAS IMAGENS


1. http://purl.pt/1276/1/obras/l-15852-p_y_rosto_t0.jpg
2. http://www.denso-wave.com/en/

Responsável: Profª. Ana Márcia Alves Siqueira


Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual

9
LITERATURA PORTUGUESA II
AULA 01: ARCADISMO

TÓPICO 04: A POESIA DE BOCAGE

O POETA BOCAGE
Manuel Maria Barbosa du Bocage nasceu em 1765 (Setúbal) e faleceu em
1805 (Lisboa). Tendo servido na marinha, pôde conhecer o domínio imperial
português. Sua vida boêmia e sua frustração amorosa (apaixona-se por
Gertrudes, que se casou com o irmão de Bocage) tem alimentado, na
Fonte [1] imaginação de muitos que apreciam sua obra, um paralelo entre a vida desse
poeta com a não menos atribulada vida de Camões. O próprio Bocage
admitia, em versos, esse paralelo biográfico: “Camões, grande Camões, quão
semelhante / Acho teu fado ao meu quando os cotejo!”.

Na Nova Arcádia, adotou o nome Elmano Sadino. Publicou seus poemas


sob o nome de RIMAS, que somavam seis volumes, três editados em vida e
três postumamente. Em 1853, Inocêncio Francisco da Silva lançou o
conjunto dessa obra poética como POESIAS DE MANUEL M. DU BOCAGE.

Os poemas de Bocage são divididos em:

• líricos,

• satíricos

Estes últimos muito contribuíram para a popularidade do poeta (há


muita dúvida sobre a autoria de diversos poemas satíricos atribuídos a ele),
mas foram seus sonetos que efetivamente o imortalizaram. Praticou o
arcadismo, compondo canções, cantatas, elegias, epigramas, epístolas,
idílios, odes, sobressaindo-se os sonetos, cuja subjetividade o fez, mais que
um árcade, um precursor do Romantismo.

TEMÁTICAS DOS SONETOS DE BOCAGE


PRÉ-ROMANTISMO

Embora tenha feito parte do Arcadismo, sendo autor de poemas


típicos do período, o poeta não segue à risca a moda de seu tempo. Como se
pode constatar nos poemas líricos e satíricos a seguir, o subjetivismo de
algumas dessas composições extrapola o comedimento e a discrição
esperadas para um poeta árcade, fato que prenuncia o Romantismo da
geração de Garrett.

ARREPENDIMENTO E NEGATIVISMO PARA CONSIGO

É comum em Bocage a reflexão e mesmo uma confissão arrependida


sobre os excessos vividos na juventude, sejam pelo desregramento boêmio,
seja pelo trato irresponsável do amor. Ele chega a ser cruel consigo, seja
pelo retrato que faz de si, seja pela modéstia com que trata sua genialidade.

POESIA REVOLUCIONÁRIA

10
No soneto iniciado por “Liberdade, onde estás?”, é possível voltar ao
tempo da Revolução Francesa na confissão de simpatia do poeta contra a
tirania aristocrática.

SÁTIRA IMPIEDOSA

Na sátira, ele não esconde sua relação conflituosa com os colegas


árcades, como se verifica em “Aos colegas da Nova Arcádia”, ou aos maus
profissionais, como nos versos dedicados a um médico incompetente.

SONETOS LÍRICOS DE BOCAGE

Chorosos versos meus

Chorosos versos meus desentoados,


Sem arte, sem beleza e sem brandura,
Urdidos pela mão da Desventura,
Pela baça Tristeza envenenados:

Vede a luz, não busqueis, desesperados,


No mudo esquecimento a sepultura;
Se os ditosos vos lerem sem ternura,
Ler-vos-ão com ternura os desgraçados:

Não vos inspire, ó versos, cobardia


Da sátira mordaz o furor louco,
Da maldizente voz e tirania:

Desculpa tendes, se valeis tão pouco,


Que não pode cantar com melodia
Um peito de gemer cansado e rouco.

Fiei-me nos sorrisos da ventura

Fiei-me nos sorrisos da ventura,


Em mimos feminis, como fui louco!

11
Vi raiar o prazer; porém tão pouco
Momentâneo relâmpago não dura:

No meio agora desta selva escura,


Dentro deste penedo húmido e ouco,
Pareço, até no tom lúgubre, e rouco
Triste sombra a carpir na sepultura:

Que estância para mim tão própria é esta!


Causais-me um doce, e fúnebre transporte,
Áridos matos, lôbrega floresta!

Ah! não me roubou tudo a negra sorte:


Inda tenho este abrigo, inda me resta
O pranto, a queixa, a solidão e a morte.

Camões, grande Camões

Camões, grande Camões, quão semelhante


Acho teu fado ao meu, quando os cotejo!
Igual causa nos fez, perdendo o Tejo,
Arrostar co'o sacrílego gigante.

Como tu, junto ao Ganges sussurante,


Da penúria cruel no horror me vejo.
Como tu, gostos vãos, que em vão desejo,
Também carpindo estou, saudoso amante.

Ludíbrio, como tu, da Sorte dura


Meu fim demando ao Céu, pela certeza
De que só terei paz na sepultura.

Modelo meu tu és, mas... oh, tristeza!...


Se te imito nos transes da Ventura,
Não te imito nos dons da Natureza.

ASPIRAÇÕES DO LIBERALISMO, EXCITADAS PELA REVOLUÇÃO


FRANCESA E CONSOLIDAÇÃO DA REPÚBLICA EM 1797

Liberdade, onde estás? Quem te demora?


Quem faz que o teu influxo em nós não caia?
Porque (triste de mim!) porque não raia
Já na esfera de Lísia a tua aurora?

Da santa redenção é vinda a hora


A esta parte do mundo, que desmaia.
Oh!, venha . . . Oh!, venha, e trêmulo descaia
Despotismo feroz, que nos devora!

Eia! Acode ao mortal que, frio e mudo,


Oculta o pátrio amor, torce a vontade
E em fingir, por temor, empenha estudo.

12
Movam nossos grilhões tua piedade;
Nosso númen tu és, e glória, e tudo,
Mãe do gênio e prazer, ó Liberdade!

POEMAS SATÍRICOS DE BOCAGE


MAGRO, DE OLHOS AZUIS(RETRATO PRÓPRIO)

Magro, de olhos azuis, carão moreno,


Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno;

Incapaz de assistir num só terreno,


Mais propenso ao furor do que à ternura,
Bebendo em níveas mãos por taça escura
De zelos infernais letal veneno;

Devoto incensador de mil deidades


(Digo, de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades;

Eis Bocage, em quem luz algum talento;


Saíram dele mesmo estas verdades
Num dia em que se achou mais pachorrento.

AOS SÓCIOS DA NOVA ARCÁDIA

Vós, ó Franças, Semedos, Quintanilhas,


Macedos e outras pestes condenadas;
Vós, de cujas buzinas penduradas
Tremem de Jove as melindrosas filhas;

Vós, néscios, que mamais das vis quadrilhas


Do baixo vulgo insossas gargalhadas,
Por versos maus, por trovas aleijadas,
De que engenhais as vossas maravilhas,

Deixai Elmano, que, inocente e honrado


Nunca de vós se lembra, meditando
Em coisas sérias, de mais alto estado.

E se quereis, os olhos alongando,


Ei-lo! Vede-o no Pindo recostado,
De perna erguida sobre vós mijando.

NARIZ, NARIZ, E NARIZ

Nariz, nariz, e nariz,


Nariz, que nunca se acaba;
Nariz, que se ele desaba,
Fará o mundo infeliz;
Nariz, que Newton não quis
Descrever-lhe a diagonal;
Nariz de massa infernal,
Que, se o cálculo não erra,

13
Posto entre o Sol e a Terra,
Faria eclipse total!

A UM MAU MÉDICO

Doutor, até do hospital


Te sacode enfermo bando.
Qual será disto a causal?
É porque, em tu receitando,
Qualquer doença é mortal.

FÓRUM
Entre os poemas de Bocage, aquele iniciado por “Liberdade, onde
estás?” mostra a simpatia do poeta com a Revolução Francesa. Ele chegou
mesmo a ser preso, acusado de distribuir folhetos favoráveis ao
movimento republicano francês. Neste fórum, vamos discutir a relação
entre a literatura e a liberdade, procurando exemplos no passado e no
presente.

FONTES DAS IMAGENS


1. http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/f/f6/Manuel_
Maria_Barbosa_du_Bocage.jpg/468px-
Manuel_Maria_Barbosa_du_Bocage.jpg
2. http://www.denso-wave.com/en/

Responsável: Profª. Ana Márcia Alves Siqueira


Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual

14
LITERATURA PORTUGUESA II
AULA 01: ARCADISMO

TÓPICO 05: ANTOLOGIA DE POEMAS ÁRCADES

Fonte [1]
Correia Garção (1724-1772)

Obras: TEATRO NOVO (1766); ASSEMBLEIA OU PARTIDA (1770);


OBRAS POÉTICAS (1778).

SONETOS

Primeiro soneto

Cheios de espessa névoa os horizontes,


Espantosas voragens vem saindo!
Foi-se o Sol entre as nuvens encobrindo,
Voltando para o mar os quatro Etontes

Caiu a grossa chuva pelos montes,


Os incautos pastores aturdindo;
E engrossados os rios vão cobrindo
Com embate feroz as curvas pontes

Com medonho estampido, navorosos.


Os longos ecos dos trovões soando.
A rezar nos pusemos temerosos.

Parou a chuva; correm sussurrando


Os torcidos regatos vagarosos;
Não me atrevo a sair, fico jogando.

Segundo soneto

Ao som dos duros ferros que arrastava,


A lira de ouro Corydon tangia:
De Márcia o doce nome repetia,
Mas no meio do canto soluçava.

15
No rosto macerado, que enfiava,
O lagrimoso pranto reluzia,
E nos olhos, que aos altos céus erguia,
O pensamento intrépido voava.

Não se assombra de ventos insofridos,


Nem com ousado lenho arar intenta
O pólo do futuro nebuloso;

Menos chora terrenos bens perdidos.


De pouco um peito grande se contenta:
Antes quer ser honrado que ditoso.

EPÍSTOLA

Se não te enjoas de comer sem pompa


Em toalhas do Minho, em pobre mesa
Onde não tine a rica porçolana,
Nem cansa os olhos trémulo reflexo
De burnida colher, de refulgente
Britânico saleiro, caro Amigo,
Sábio, ilustre Sarmento; ou não te assusta
O suspeito convite de um poeta
Afeito a dura fome, a duro frio,
Cujo humilde tugúrio Noto açouta,
E Áfrico lhe arrepia as leves telhas,
Hoje podes cear na Fonte Santa:
Alegres beberemos. Na cozinha
Estala a seca lenha, brilha o fogo;
O negro bicho ou negro cozinheiro,
Enroscado no espeto fica assando
Um lombo corpulento. Agora deixa
As sérias reflexões, as esperanças
Da branca vara, da soberba toga,
Das rascoas vizinhas, lumes fátuos,
Que observas com teu longo telescópio.
A desabrida noite nos convida
A que juntos passemos poucas horas
Em doce trato, em doce companhia.
Teremos bons parceiros, cartas novas,
E em ruivos castiçais de pechisbeque
Arderão duas cândidas bugias.
Já na mesa fumega o precioso
Natural elixir do rico Oriente,
O bom chá quotidiano, mais pedido
Que o pão de cada dia, nesta casa.
(...)

16
Filinto Elísio (Padre Francisco Manuel do Nascimento) (1734-1819)

Obras: VERSOS DE FILINTO ELÍSIO (1797-1802, 8 vol.), OBRAS


COMPLETAS (1817-1819, 11 vol.)

A LÍNGUA PORTUGUESA E A LATINA

Já me fizeram cargo os meus censores


de ter muito latim portuguesado.
Fonte [2] Mais honra me fizeram que eu mereço.
em dar sobejo preço os tais senhores,
dar sobeja importância a quatro trovas
que nuns borrões lancei por desenfado.
e à luz dei só por míngua de dinheiro.
Mas, pois tão alto vai esse arruído,
permitam-me acudir por meu cliente.
Se cunho português dei a latinas
vozes, e é crime pôr-lhe cunho alheio.
réus desse crime são quantos escrevem
depois de tantos séculos na Europa,
que co roubado estafo dos Romanos
cobriram a nudez desses vasconços.
que com vil lodo a face enxovalhavam
da terra, a sáfios bárbaros sujeita.
Réu quero, como Camões, ser desse crime
voluntário e não dar francês bastardo.
qual dá da nova seita o soez cardume.
Sujeita a antiga Europa à antiga Roma,
falou polida a língua vencedora;
vencidos os Romanos pela bronca,
hiperbórea relé, Sicambros, Cimbros,
nós, Lusitanos, com farragem goda
logo a latina tela entretecemos;
e, não contentes inda, a bordadura
de engasgado mourisco lhe cosemos,
coa franja multicolor de tantas línguas,
quantas não deu Babel, no louco arrojo
de querer ter mirante sobre as nuvens.
Convinha povoar as terras ermas
das gentes que segou a fronte avara
dos belicosos reis conquistadores.
Chamaram-se de incógnitas províncias
povos de estranhas línguas, que o tecido
da nossa com mais tinta alagartaram
Eis que começa de apontar na Itália
das boas letras a bem-vinda aurora.
Acorrem de um e de outro reino a ela
os moços, de ciência cobiçosos:
abraçam com ardor as doutas línguas
e vêm contentes derramar seu lustre
pelo escuro sertão do pátrio idioma.

17
Resta agora entender se foi acerto
nos que a língua tão rude nos poliram
co romano esmeril, tornando-a ao grémio
da perdida opulência, ou se deixá-la
no vândalo paul, suevo ou gado.
Quem não diz que mais val desbastar hoje
do bárbaro falar a língua lusa.
introduzindo os termos da latina
que o vasconço primevo desbastara,
que estragá-la com vozes alforrecas:
babugem que nas ribas portuguesas
lança a lição de sécios bonifrates,
que de alheio país só balbuciam
geringonça bastarda, mal intrusa?
Muitos que hoje escrevem franceseiam;
francesear agora é tão absurdo,
quanto o fora nos séculos latinos
vandalear, falar suevo ou godo.
Francesear em língua portuguesa
se atrevem quatro tolos vangloriosos
de uns laivos, que puseram mal assentes
na Face maternal, que se envergonha.

CONTO

Saiu da Samardã certo pedreiro,


faminto de ouro, em busca da fortuna.
Embarca, vai-se ao Rio, deita às Minas
e lida e fossa e sua, arranca à Terra
o luzente metal, que o vulgo adora.
Vem rico à Samardã: vinhas, searas,
casas, móveis, baixela compra fofo;
brocados veste, vai-se nos domingos
espanejar à igreja, acompanhado
de lacaios esbeltos. Vem o Cura
saudá-lo coa água benta; os mais graúdos
do lugarejo a visitá-lo acorrem;
para ele os rapapés, as barretadas
se apostavam de longe, a qual mais prestes.
Falaram-lhe os vizinhos, e a gazeta
na célebre Paris, cidade guapa,
onde todo o estrangeiro, nobre ou rico,
vai fazer seu papel. Ei-lo azoado,
que deixa a Samardã, que se apresenta
na capital francesa; roda em coche,
alardeia librés, passeia Louvres,
Versalhes, Trianões. Volta enfadado
à sua Samardã. – «Gabam tal gente
de polida?! Oh, mal haja quem tal disse!
Corri casas, palácios, corri ruas;

18
não vi um só, nem grande, nem plebeu,
que ao passar me corteje co chapéu!»

Fonte [3]
Nicolau Tolentino de Alemeida (1740-1811)

Obra: OBRAS POÉTICAS (1801).

CHAVES NA MÃO, MELENA DESGRENHADA

Chaves na mão, melena desgrenhada,


Batendo o pé na casa, a mãe ordena
Que o furtado colchão, fofo e de pena,
A filha o ponha ali ou a criada.

A filha, moça esbelta e aperaltada,


Lhe diz coa doce voz que o ar serena:
– «Sumiu-se-lhe um colchão? É forte pena;
Olhe não fique a casa arruinada...»

– «Tu respondes assim? Tu zombas disto?


Tu cuidas que, por ter pai embarcado,
Já a mãe não tem mãos?» E, dizendo isto,

Arremete-lhe à cara e ao penteado.


Eis senão quando (caso nunca visto!)
Sai-lhe o colchão de dentro do toucado!...

DEIT. UM CAVALO À MARGEM

Vai, mísero cavalo lazarento,


Pastar longas campinas livremente;
Não percas tempo, enquanto to consente
De magros cães faminto ajuntamento.

Esta sela, teu único ornamento,


Para sinal da minha dor veemente,
De torto prego ficará pendente,
Despojo inútil do inconstante vento.

Morre em paz, que, em havendo algum dinheiro,


Hei-de mandar, em honra de teu nome,
Abrir em negra pedra este letreiro:

19
«Aqui piedoso entulho os ossos come
Do mais fiel, mais rápido sendeiro,
Que fora eterno, a não morrer de fome».

EM CURTO JOSEZINHO REBUÇADO

Em curto josezinho rebuçado,


Loiro peralta a rua passeava;
Seus votos pela adufa lhe aceitava
Com brando riso um rosto delicado;

O pai da moça, que era ginja honrado,


E o caso havia dias espreitava,
De membrudo caixeiro se escoltava,
Com bengala na mão, chambre traçado:

Fugira o moço, qual ligeira pela,


Se as fivelas, de marca agigantada,
Deixassem navegar a nau à vela;

Mas viu uma entre esquinas encalhada;


E, se ninguém comprou maior fivela,
Também ninguém levou maior maçada.

Fonte [4]
José Anastácio da Cunha (1744-1787)

Obra: COMPOSIÇÕES POÉTICAS, 1839.

POEMA 01

Tantos anos de amor na prisão dura.


padecendo martírios cento a cento.
já sair não espero da amargura.
nem para me queixar já tenho alento.

Informam-te da minha desventura


os ecos dos meus ais. Ah ! Se algum vento,
benigno a teus ouvidos, porventura,
levar alguns, tem dó do meu tormento. Clique aqui para ler.

20
Se deres algum pranto à crueldade
do meu mal, poderei menos senti-lo:
teu pranto abrandará sua impiedade.

Louco, que peço? Basta que, ao ouvi-lo.


te enterneças. Ao menos, por piedade,
basta que digas: – Mísero Mertilo?

POEMA 02

Ditoso o que em paternas, poucas jeiras


seus desejos encerra e seus cuidados,
e respira, contente, o ar nativo
em terra sua!

Seus gados lhe dão leite; pão seus campos;


seus rebanhos vestido; pelo Estio,
acha nas próprias árvores a sombra;
de Inverno, o lume.

Correm-lhe em um desleixo abençoado


suavemente as horas, dias e anos:
com saúde no corpo, paz no espírito
vela tranquilo.

A sono solto dorme; o estudo e cómodo


possui unidos – lícito recreio -
e com a meditação mais saborosa
goza o retiro.

Deixem-me assim viver, desconhecido;


deixem-me assim morrer, sem ser chorado,
do mundo homiziado e sem que a campa
diga onde jazo.

Marquesa de Alorna (Leonor de Almeida Portugal, nome árcade: Alcipe)


(1750-1839).
Obra: OBRAS POÉTICAS DE D. LEONOR D'ALMEIDA, 1844 (6. vol.).

SONETO 01

Esperanças de um vão contentamento,


por meu mal tantos anos conservadas,
é tempo de perder-vos, já que ousadas
Retrato da Marquesa de Alorna [5] abusastes de um longo sofrimento.

Fugi; cá ficará meu pensamento


meditando nas horas malogradas,
e das tristes, presentes e passadas,
farei para as futuras argumento.

Já não me iludirá um doce engano,


que trocarei ligeiras fantasias
em pesadas razões do desengano.

21
E tu, sacra Virtude, que anuncias,
a quem te logra, o gosto soberano,
vem dominar o resto dos meus dias.

SONETO 02

Eu cantarei um dia da tristeza


por uns termos tão ternos e saudosos,
que deixem aos alegres invejosos
de chorarem o mal que lhes não pesa.

Abrandarei das penhas a dureza,


exalando suspiros tão queixosos,
que jamais os rochedos cavernosos
os repitam da mesma natureza.

Serras, penhascos, troncos, arvoredos,


ave, ponte, montanha, flor, corrente,
comigo hão-de chorar de amor enredos.

Mas ah! que adoro uma alma que não sente!


Guarda, Amor, os teus pérfidos segredos,
que eu derramo os meus ais inutilmente.

SONETO 03

Vai a fresca manhã alvorecendo,


vão os bosques as aves acordando,
vai-se o Sol mansamente levantando
e o mundo à vista dele renascendo.

Veio a noite os objectos desfazendo


e nas sombras foi todos sepultando;
eu, desperta, o meu fado lamentando.
fui coa ausência da luz esmorecendo.

Neste espaço, em que dorme a Natureza.


porque vigio assim tão cruelmente?
Porque me abafa ó peso da tristeza?

Ah, que as mágoas que sofre o descontente,


as mais delas são faltas de firmeza.
Torna a alentar-te, ó Sol resplandecente!

ATIVIDADE DE PORTFÓLIO
Exemplifique as seguintes características do Arcadismo, apresentando
trechos de poemas apresentados nesta aula, justificando sua escolha:

1. pastoralismo;
2. uso do verso branco;
3. contenção do sentimento;
4. transição para o Romantismo.

22
REFERÊNCIAS
BERARDINELLI, Cleonice. ESTUDOS DE LITERATURA
PORTUGUESA. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985.

BUESCU, Maria leonor Carvalhao. APONTAMENTOS DE LITERATURA


PORTUGUESA. Porto: Porto, 1993.

CIDADE, Hernani. PORTUGAL HISTÓRICO-CULTURAL. 3. ed. Lisboa:


Arcadia, 1972.

COELHO, Jacinto do Prado. DICIONÁRIO DE LITERATURA. 3.ed.


Porto: Figueirinhas, 1983.

D'ALGE, Carlos Neves. O EXÍLIO IMAGINÁRIO: ensaios de literatura


de língua portuguesa. Fortaleza: Edições UFC, 1983.

FERREIRA, João. A QUESTÃO DO PRÉ-MODERNISMO NA


LITERATURA PORTUGUESA. Brasília: UnB, 1996.

FERREIRA, Joaquim Francisco. HISTÓRIA DA LITERATURA


PORTUGUESA. 3. ed. Porto: Domingos Barreira, 1964.

FERREIRA, Maria Ema Tarracha. ANTOLOGIA LITERÁRIA


COMENTADA: século XIX : do romantismo ao realismo: poesia.
Lisboa: Ulisseia, 1983.

FRANÇA, José Augusto. O ROMANTISMO EM PORTUGAL: estudo de


factos socioculturais . Lisboa: Livros Horizonte, 1974.

LACERDA, Aarão de. HISTÓRIA DA ARTE EM PORTUGAL. PORTO:


PORTUCALENSE, 1942.

LUFT, Celso Pedro. DICIONÁRIO DE LITERATURA PORTUGUESA E


BRASILEIRA. Porto Alegre: Globo, 1966.

MOISÉS, Massaud; CORRADIN, Flávia Maria. A LITERATURA


PORTUGUESA EM PERSPECTIVA. SÃO PAULO: ATLAS, 1994.

______. A LITERATURA PORTUGUESA ATRAVÉS DOS TEXTOS.


30.ed. São Paulo: Cultrix, 2006.<

______. A LITERATURA PORTUGUESA. 35. ed. São Paulo: Cultrix,


2008.

______. O CONTO PORTUGUÊS. 5. ed. São Paulo: Cultrix, 1975.

NEVES, João Alves das. AS RELAÇÕES LITERÁRIAS DE PORTUGAL


COM O BRASIL. Lisboa: Instituto de Cultura e Língua Portuguesa,
1992.

PINHEIRO, Everaldo José de Campos. A LITERATURA


PORTUGUESA: das origens ao arcadismo. 2.ed. São Paulo: USJT,
2007.

23
SANTOS, Reynaldo dos; AZNAR, José Camón. HISTORIA DEL ARTE
PORTUGUÉS. Barcelona: Labor, 1960.

SARAIVA, António José; LOPES, Oscar. HISTÓRIA DA LITERATURA


PORTUGUESA. 17.ed. Lisboa: Porto, 2005.

SARAIVA, António José. HISTÓRIA DA LITERATURA PORTUGUESA.


10.ed. Lisboa: Europa-América, 1970.

SIMÕES, João Gaspar. HISTÓRIA DA POESIA PORTUGUESA DAS


ORIGENS AOS NOSSOS DIAS: acompanhada de uma antologia. Lisboa:
Nacional, 1956.

SIMÕES, João Gaspar. ITINERÁRIO HISTÓRICO DA POESIA


PORTUGUESA: de 1189 a 1964. Lisboa: Arcádia, 1964.

SOUTO, José Correia do. DICIONÁRIO DE LITERATURA


PORTUGUESA. Porto: Lello & Irmão, s.d.

TOSTES, Vera Lúcia Bottrel; Museu Histórico Nacional (Brasil). UM


NOVO MUNDO, UM NOVO IMPÉRIO: a corte portuguesa no Brasil,
1808-1822. Rio de Janeiro: Museu Histórico Nacional, 2008.

VARELA, Joana Morais. PEQUENO ROTEIRO DA HISTÓRIA DA


LITERATURA PORTUGUESA. Lisboa: Instituto Português do Livro,
1992.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS – BOCAGE

BOCAGE, Manoel Maria Barbosa du. POESIAS VÁRIAS. 2. ed. Lisboa:


Clássica, 1961.

______. OS SONETOS. Porto: Editora Educação Nacional, 1937.

______. OS MAIS BELOS SONETOS DE BOCAGE. Lisboa: Artis, 1959.

FONTES DAS IMAGENS


1. http://purl.pt/243/1/l-3359-p_JPG/l-3359-p_JPG_24-C-
R0110/l-3359-p_0015_1_t24-C-R0110.jpg
2. http://1.bp.blogspot.com/_icLh0gHYFAM/SSMI4GkPX8I/AAAAAAAA
AR0/X97svBlifyE/s320/filinto+el%C3%ADsio.bmp
3. http://2.bp.blogspot.com/_1O80CFZ_Yu8/RhitbFWPkVI/AAAAAAAA
ABs/SY7CwumPykQ/s400/TOLENTINO+DE+ALMEIDA.jpg Sonetos
4. http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/8/82/Princip
ios.jpg/130px-Principios.jpg
5. http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/1/19/Leonor-
de-Almeida-Portugal_Marquesa-de-Alorna.jpg/300px-Leonor-de-Almeida-
Portugal_Marquesa-de-Alorna.jpg
6. http://www.denso-wave.com/en/

Responsável: Profª. Ana Márcia Alves Siqueira


Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual

24
LITERATURA PORTUGUESA II
AULA 02: ROMANTISMO

TÓPICO 01: PORTUGAL LIBERAL E ROMÂNTICO

Consolidada a Revolução Industrial e ascensão da burguesia ao poder,


Portugal se divide entre conservadores e liberais nas primeiras décadas do
século XIX. Com a indefinição do governo português sobre o apoio aos
franceses ou aos ingleses, Napoleão ordena a entrada de sua tropas em
Portugal em 1807. Isso explica a vinda da família real ao Brasil, que instala a
corte no Rio de Janeiro, em 1808.

Fonte:Museu Histórico Nacional [1]


Embarque da família real, no Porto de Belém, às 11 horas da manhã de 27 de novembro de 1807.
Gravura de Francisco Bartolozzi (1725-1815) a partir de óleo de Nicolas Delariva.

Até 1821, a sede do império foi o Rio de Janeiro. Nesse ano, D. João VI
fez juramento constitucional, fato inusitado entre os portugueses. No ano
seguinte, deu-se a Independência do Brasil, sendo D. Pedro IV proclamado
imperador do novo país, ganhando o soberano o título de D. Pedro I. Entre
1832 e 1834, D. Pedro entrou em guerra com D. Miguel, seu irmão, sendo
este derrotado. Com a vitória de D. Pedro, este abdica do trono em favor de
sua filha Dona Maria da Glória, que é coroada. Triunfava, assim, a
monarquia liberal e constitucionalista sobre os últimos resquícios do
absolutismo.

No campo da cultura, os românticos mais destacados identificaram-se


com a tendência liberal da política portuguesa, o que lhes rendeu inspiração
poética muitas vezes com o preço do exílio ou da prisão. É o caso do poeta
Almeida Garrett, que em 1823 esteve exilado na Inglaterra. A esse exílio
deve-se um maior estreitamento de Garrett com o Romantismo de Byron.
Não chega a ser coincidência cronológica, pois, o ano de 1825 ser o do início
do Romantismo em Portugal, com a publicação em Paris do poema CAMÕES,
de Almeida Garrett.

INDEPENDÊNCIA DO BRASIL

25
Fonte

FASES DO ROMANTISMO

Fonte [2]
PRIMEIRA FASE
É aquela da implantação do Romantismo, iniciando-se em 1825,
quando Garrett publica o poema CAMÕES. Além de Garrett, pertencem ao
primeiro momento romântico:

◾ Alexandre Herculano
◾ Feliciano de Castilho.

Alguns traços neoclássicos ainda persistem.

SEGUNDA FASE
É conhecida como Ultra romantismo, caracterizada pela poética da
paixão. Enquadram-se nesse momento:

◾ Soares de Passos
◾ Camilo Castelo Branco.

TERCEIRA FASE
Apresenta uma transição para o Realismo. João de Deus e Júlio Dinis
são escritores desse momento. O marco final do Romantismo é o ano de
1865, quando a Questão Coimbrã deflagra a moda realista.

FONTES DAS IMAGENS


1. http://www.museuhistoriconacional.com.br/
images/galeria08/g8a002g.jpg
2. http://tatianegodoy.files.wordpress.com/2006/12/ingres_grand_odalis
que.jpg
3. http://www.denso-wave.com/en/

Responsável: Profª. Ana Márcia Alves Siqueira


Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual

26
LITERATURA PORTUGUESA II
AULA 02: ROMANTISMO

TÓPICO 02: PRIMEIRA FASE DO ROMANTISMO

ALMEIDA GARRETT

João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett (Porto, 1799-Lisboa,


1854), cursou Direito em Coimbra, concluído em 1821. Foi politicamente um
liberal, tendo exercido a atividade parlamentar e o jornalismo. Teve de
refugiar-se na Inglaterra após o fracasso do movimento denominado Vila-
Francada. No exílio, teve maior contato com a literatura inglesa, recebendo
Almeida Garrett. Litografia de Pedro influência de românticos como Byron e Walter Scott. Em 1825, publicou o
Augusto Guglielmi [1] poema CAMÕES, estando Garrett exilado na França. Esteve algum tempo em
Portugal, mas subiu ao trono D. Miguel. Assim, Garrett retira-se novamente
para a Inglaterra. Em 1832, fez parte das tropas de D. Pedro, que acabou
derrotando o irmão D. Miguel. Com a vitória liberal, Garrett exerceu a
diplomacia e participou da política de revigoramento do teatro em Portugal.

VILA-FRANCADA

Fonte [2]

A Vila-Francada, um processo contrarrevolucionário que procurava


colocar no poder D. Miguel e D. Carlota Joaquina, ambos da facção dita
absolutista, ou tradicional, resultou num novo período da história
política de Portugal designado por Joanismo.

LEITURA COMPLEMENTAR
OBRAS DE GARRETT

Na poesia, escreveu RETRATO DE VÊNUS (1821, http://purl.pt/19/3


[3]), CAMÕES (1825, http://purl.pt/17/3 [4]), DONA BRANCA OU A
CONQUISTA DO ALGARVE (1826, http://purl.pt/27/3 [5]), ADOZINHA
(1828, http://purl.pt/37 [6]), LÍRICA DE JOÃO MÍNIMO (1829),
ROMANCEIRO (1843-1851, http://purl.pt/924 [7]), FLORES SEM
FRUTO (1845, http://purl.pt/33/3 [8]) e FOLHAS CAÍDAS (1853,
http://purl.pt/14/3/ [9] ).

Na prosa ficcional, deixou o ARCO DE SANTANA (1845-1850,


http://purl.pt/6/3 [10]), e as VIAGENS NA MINHA TERRA (1846,
http://purl.pt/55 [11]).

No teatro, são de sua autoria CATÃO (1822, http://purl.pt/35 [12]),


MÉROPE (1841, http://purl.pt/52 [13]) UM AUTO DE GIL VICENTE
(1838), D. FILIPA DE VILHENA (1842, http://purl.pt/39/3/ [14] ), O

27
ALFAGEME DE SANTARÉM OU A ESPADA DO CONDESTÁVEL (1842,
http://purl.pt/53 [15]), FREI LUÍS DE SOUSA (1844,
http://purl.pt/138/3 [16]), dentre outras peças.

Ensaio: PORTUGAL NA BALANÇA DA EUROPA: do que tem sido e do


que ora lhe convém ser na nova ordem de coisas do mundo civilizado
(1830, http://purl.pt/3/3 [17]).

DICA
O instituto Camões tem uma biografia de Almeida Garrett em:
http://cvc.instituto-camoes.pt/seculo-xix/almeida-
garrett.html#.WUGGa-nauM8" [18]

SÍNTESE ESTILÍSTICA

Garrett buscou inspiração na Idade Média e na tradição popular. Tendo


rompido com o Neoclassicismo, exerceu uma poesia variada na forma e
sentimentalmente autobiográfica. O melhor de seu teatro aparece no drama
FREI LUÍS DE SOUSA, que se baseia em fatos reais da história portuguesa do
final do século XVI.

CURIOSIDADE
Clique na figura abaixo e leia de seu computador uma cópia da peça
FREI LUÍS DE SOUSA, na edição de 1844, que se encontra na Biblioteca
Nacional de Lisboa. O arquivo tem 8,6 MB. Clique aqui

CLIQUE AQUI

A peça Frei Luís de Sousa pode ser lida em http://purl.pt/39 [19]

ALGUNS POEMAS DE GARRETT

Observe a concepção subjetiva e egocêntrica de poesia na “Advertência”,


texto de introdução das FOLHAS CAÍDAS: Clique aqui para ler!

CLIQUE AQUI PARA LER!

28
Fonte [20]
(...)
Não sei se são bons ou maus estes versos; sei que gosto mais deles do
que de nenhuns outros que fizesse.
Por quê? É impossível dizê-lo, mas é verdade. E, como nada são por ele
nem para ele, é provável que o público sinta bem diversamente do
autor. Que importa?
Apesar de sempre se dizer e escrever há cem mil anos o contrário,
parece-me que o melhor e mais reto juiz que pode ter um escritor é ele
próprio, quando o não cega o amor-próprio. Eu sei que tenho os olhos
abertos, ao menos agora.
(...)

Eis alguns poemas que tratam do tema preferido de Garrett – o amor.


Impressiona a grande variação formal e a espontaneidade de metros
populares, como a redondilha maior de “Saudades”, poema construído
quadras. Garrett escreveu uma poesia sem pretensões filosóficas. Cada
composição parece traduzir, pela própria variedade, a variação sentimental
do autor, que não raras vezes deixou em suas páginas verdadeira confissão
passional.

VII - SAUDADES
Leva este ramo, Pepita,
De saudades portuguesas;
É flor nossa; e tão bonita
Não na há noutras devesas.

Seu perfume não seduz,


Não tem variado matiz,
Vive à sombra, foge à luz,
As glórias d’amor não diz;

Mas na modesta beleza


De sua melancolia
É tão suave a tristeza,
Inspira tal simpatia!...

E tem um dote esta flor


Que de outra igual se não diz:
Não perde viço ou frescor
Quando a tiram da raiz.

Antes mais e mais floresce


Com tudo o que as outras mata;

29
Até às vezes mais cresce
Na terra que é mais ingrata.

Só tem um cruel senão,


Que te não devo esconder:
Plantada no coração,
Toda outra flor faz morrer.

E, se o quebra e despedaça
Com as raízes mofinas,
Mais ela tem brilho e graça,
É como a flor das ruínas.

Não, Pepita, não ta dou...


Fiz mal em dar-te essa flor,
Que eu sei o que me custou
Tratá-la com tanto amor.

VIII - ESTE INFERNO DE AMAR


Este inferno de amar - como eu amo! –
Quem mo pôs aqui n’alma ... quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é a vida - e que a vida destrói –
Como é que se veio a atear,
Quando - ai quando se há-de ela apagar?

Eu não sei, não me lembra: o passado,


A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez... - foi um sonho-
Em que paz tão serena a dormi!
Oh!, que doce era aquele sonhar ...
Quem me veio, ai de mim!, despertar?

Só me lembra que um dia formoso


Eu passei... dava o Sol tanta luz!
E os meus olhos, que vagos giravam,
Em seus olhos ardentes os pus.
Que fez ela?, eu que fiz? - Não no sei;
Mas nessa hora a viver comecei ...

IX - DESTINO
Quem disse à estrela o caminho
Que ela há-de seguir no céu?
A fabricar o seu ninho
Como é que a ave aprendeu?
Quem diz à planta «Florece!»
E ao mudo verme que tece
Sua mortalha de seda
Os fios quem lhos enreda?

Ensinou alguém à abelha


Que no prado anda a zumbir
Se à flor branca ou à vermelha
30
O seu mel há-de ir pedir?
Que eras tu meu ser, querida,
Teus olhos a minha vida,
Teu amor todo o meu bem...
Ai!, não mo disse ninguém.

Como a abelha corre ao prado,


Como no céu gira a estrela,
Como a todo o ente o seu fado
Por instinto se revela,
Eu no teu seio divino .
Vim cumprir o meu destino...
Vim, que em ti só sei viver,
Só por ti posso morrer.

XXI - NÃO TE AMO


Não te amo, quero-te: o amar vem d’alma.
E eu n'alma - tenho a calma,
A calma - do jazigo.
Ai!, não te amo, não.

Não te amo, quero-te: o amor é vida.


E a vida - nem sentida
A trago eu já comigo.
Ai!, não te amo, não.

Ai!, não te amo, não; e só te quero


De um querer bruto e fero
Que o sangue me devora,
Não chega ao coração.

Não te amo. És bela, e eu não te amo, ó bela.


Quem ama a aziaga estrela
Que lhe luz na má hora
Da sua perdição?

E quero-te, e não te amo, que é forçado,


De mau feitiço azado
Este indigno furor.
Mas oh!, não te amo, não.

E infame sou, porque te quero; e tanto


Que de mim tenho espanto,
De ti medo e terror ...
Mas amar... não te amo, não.

LEITURA COMPLEMENTAR
No Material de Apoio, você dispõe da edição digitalizada de FOLHAS
CAÍDAS: (folhas_caidas.pdf - Clique aqui para abrir) (Visite a aula online
para realizar download deste arquivo.)

UM POUCO DA PROSA DE GARRETT

31
Fonte [21]

Dentre as muitas virtudes de VIAGENS NA MINHA TERRA, uma é a


liberdade de sua composição. Nessas memórias de viagem, o narrador se
permite fazer as mais diversas digressões. No seguinte capítulo, aparece algo
de crítica literária e algo de crônica, que revela a inclinação política do autor.

CAPÍTULO 9

Prolegômenos dramático-literários, que muito


naturalmente levam, apesar de algum rodeio, ao retrospecto e
reconsideração do capítulo antecedente. — Livros que não
deviam ter títulos, e títulos que não deviam ter livro. — Dos
poetas deste século. Bonaparte, Rotschild e Sílvio Pélico. —
Chega-se ao fim destas reflexões e à ponte da Asseca. —
Tradução portuguesa de um grande poeta. — Origem de um
ditado. — Junot na ponte da Asseca. — De como o A. deste livro
foi jacobino desde pequeno. — Enguiço que lhe deram. — A
Duquesa de Abrantes. — Chega-se enfim ao Vale de Santarém.

Clique aqui para ler. (Visite a aula online para realizar download deste
arquivo.)

LEITURA COMPLEMENTAR
OBRAS DE ALMEIDA GARRETT NO MATERIAL DE APOIO

No Material de Apoio, você dispõe das seguintes obras em prosa de


Garrett, em edições digitalizadas:

O arco de Santana (arco_santana.pdf) (Visite a aula online para


realizar download deste arquivo.),

Viagens na minha terra (viagens_terra.pdf) (Visite a aula online para


realizar download deste arquivo.).

REFLEXÕES SOBRE O DRAMA FREI LUÍS DE SOUSA

Trata-se da mais expressiva obra da dramaturgia portuguesa do século


XIX. Nela, reconstitui-se a época do desaparecimento de D. Sebastião, no

32
final do século XVI, fato que motivou o Sebastianismo, ou seja, a crença no
retorno do rei, que restauraria a grandeza de Portugal. Entre os que não
voltaram de imediato da fracassada batalha de Alcácer-Quibir, estava D.
João, que fora preso pelos mouros. Como não retornasse a Portugal, sua
esposa, achando-se viúva, acabou casando-se com Manuel de Sousa
Coutinho. O drama chega ao ponto culminante com o retorno de D. João,
que restaura a verdade sobre si. Garrett escreveu essa peça como uma
tragédia, admitindo, porém, no que tange à forma, que fosse chamada de
drama, segundo a moda de seu tempo:

Contento-me para a minha obra com o título modesto de drama; só


peço que a não julguem pelas leis que regem, ou devem reger, essa
composição de forma e índole nova; porque a minha, se na forma
desmerece da categoria, pela índole há-de-ficar pertencendo sempre ao
antigo gênero trágico. (Almeida Garrett, “Memória ao Conservatório Real
de Lisboa”, 1843).

Eis um trecho do Ato II, quando a identidade de D. João é revelada por


ele mesmo, disfarçado de romeiro, num desfecho que lembra o do herói
Ulisses, na Odisséia, que retorna a Ítaca no disfarce de mendigo:

ODISSÉIA

Fonte [22]

CLIQUE AQUI

Madalena (na maior ansiedade)


Deus tenha misericórdia de mim! e esse homem, esse homem... Jesus! esse
homem era... esse homem tinha sido... Levaram-no aí de onde?... De
África?

Romeiro
Levaram

Madalena
Cativo?

Romeiro
Sim.

Madalena
Português?... cavivo da batalha de...

33
Romeiro
Alcácer-Quibir.

Madalena
Meu Deus, meu Deus! Que se não abre a terra debaixo dos meus pés?...
Que não caem estas paredes, que me não sepultam já aqui?...

Jorge
Calai-vos, D. Madalena: a misericórdia de Deus é infinita; esperai. Eu
duvido, eu não creio... estas não são cousas para se crerem de leve (Reflete,
e logo como por uma ideia que lhe acudiu de repente.) Ó inspiração
divina!... (chegando ao Romeiro) Conheceis bem esse homem, romeiro:
não é assim?

Romeiro
Como a mim mesmo.

Jorge
Se o víreis... ainda que fora noutros trajes... com menos anos, pintado,
digamos, conhecê-lo-eis?

Romeiro
Como se visse a mim mesmo num espelho.

Jorge
Procurai nesses retratos, e dizei-me se algum deles pode ser.

Romeiro (sem procurar, e apontando logo para o retrato de D. João)


É aquele.

Madalena (com um grito espantoso)


Minha filha, minha filha!... (Em tom cavo e profundo) Estou... estás...
perdidas, desonradas... infames! (Com outro grito de coração) Oh minha
filha, minha filha!... (Foge espavorida e neste gritar)

LEITURA COMPLEMENTAR
No Material de Apoio, separamos um estudo sobre a peça FREI LUÍS
DE SOUSA (frei_luis_resumo.pdf) (Visite a aula online para realizar
download deste arquivo.), com resumo da peça e descrição das
personagens.

ALEXANDRE HERCULANO

Alexandre Herculano de Carvalho e Araújo (Lisboa, 1810-Val-del-Lobos,


1877) não teve formação universitária. Partidário do liberalismo, é obrigado
a exilar-se na França em 1831. No ano seguinte, participou das tropas de D.
Pedro IV, em guerra contra D. Miguel. Entra na vida literária com a obra
poética A VOZ DO PROFETA (1836). Dirigiu a revista O Panorama, publicou
Fonte [23] vasta obra, sendo reconhecido em vida como grande personalidade literária,
em particular como historiador. Autor da HISTÓRIA DE PORTUGAL,
polemizou com o clero, negando o Milagre de Ourique, segundo o qual Cristo
teria aparecido a Afonso Henriques, no remoto ano de 1139. A partir de 1859,
retira-se da vida pública e vai morar na propriedade de Val-de-Lobos.

34
Herculano só sairia de seu retiro para apoiar os jovens realistas, censurados
nas Conferências do Cassino Lisbonense, em 1871.

LEITURA COMPLEMENTAR
OBRAS DE ALEXANDRE HERCULANO

Poesia: A VOZ DO PROFETA (1836), A HARPA DO CRENTE (1838),


POESIAS (1850, http://purl.pt/167 [24]).

Romance: O PÁROCO DE ALDEIA (1825), O GALEGO: vida, ditos e feitos


de Lázaro Tomé (1846)

Romance histórico: O BOBO (1843), EURICO, O PRESBÍTERO (1844,


http://purl.pt/294 [25]) e O MONGE DE CISTER (1848).

Novela e conto: O EMPRAZADO: crónica de Espanha (1837),


DESTRUIÇÃO DE ÁURIA: lendas espanholas (1838), MESTRE GIL:
crónica (1838), O CASTELO DE FARIA (1838), O MESTRE
ASSASSINADO: crónica dos templários (1838), O CRONISTA: viver e crer
de outro tempo (1839), TRÊS MESES EM CALECUT: primeira crónica
dos estados da Índia (1839), A ABÓBADA (1839), A MORTE DO
LIDADOR (1839), O BISPO NEGRO (1839), ARRAS POR FORO DE
ESPANHA (1841-1842), A DAMA PÉ-DE-CABRA: rimance de um jogral
(1843), O ALCAIDE DE SANTARÉM (1845), LENDAS E NARRATIVAS
(1851, http://purl.pt/152/3 [26]).

Teatro: O FRONTEIRO DE ÁFRICA OU TRÊS NOITES AZIAGAS (1838),


OS INFANTES EM CEUTA (1842).

Historiografia: HISTÓRIA DE PORTUGAL (1846-1853), HISTÓRIA DAS


ORIGENS E ESTABELECIMENTO DA INQUISIÇÃO EM PORTUGAL
(1854-1859), PORTUGALIAE MONUMENTA HISTORICA (1856-1873,
http://purl.pt/12270 [27]).

Outros: OPÚSCULOS I-X, DE JERSEY A GRANVILLE (1831).

UM POEMA DE ALEXANDRE HERCULANO

A cruz mutilada” aparece em A HARPA DO


CRENTE. Apesar da variação dos versos, em sua
maioria decassílabos, o resultado geral não nega uma
formação retórica de extração clássica. Observe as
associações simbólicas motivadas por uma velha cruz
depredada por algum incrédulo, casualmente
encontrada pelo narrador, quando passava por um
lugar ermo: “As linhas puras / De teu perfil, falhadas,
tortuosas, / Ó mutilada cruz, falam de um crime /
Sacrílego, brutal e ao ímpio inútil! (Alexandre
Herculano)

A CRUZ MUTILADA (Visite a aula online para realizar download deste


arquivo.)
35
LEITURA COMPLEMENTAR
No Material de Apoio, você vai encontrar mais poemas na edição
eletrônica da HARPA DO CRENTE (harpa.pdf ) (Visite a aula online para
realizar download deste arquivo.).

A PROSA HISTÓRICA DE ALEXANDRE HERCULANO

Em EURICO, O PRESBÍTERO, Alexandre Herculano faz recuar o tempo


para a época dos visigodos. Há um fundo histórico ricamente
pormenorizado, sobre o qual se desenvolve o texto ficcional, em torno do
amor frustrado e trágico entre Eurico e Hermengarda. O heroismo
cavaleiresco lavrado numa linguagem cuja riqueza lexical faz do romance
histórico de Herculano um gênero dos mais prestigiados, chegando a
influenciar autores como José de Alencar.

II - O PRESBÍTERO

Sublimado ao grau de presbítero... quanta


brandura, qual caridade fosse a sua o amor de
todos lho demonstrava.
Álvaro de Córdova, Vida de Santo Elógio, c. 1.

Clique para ler. (Visite a aula online para realizar download deste
arquivo.)

A PROSA FANTÁSTICA DE ALEXANDRE HERCULANO

Seguindo a tendência histórica do Romantismo, Alexandre Herculano


não escreveu sua ficção somente com base em fatos documentados. Com
base nas lendas populares, ele deixou contos e novelas que remontam à
época medieval. Em “A dama pé-de-cabra”, que pertence às LENDAS E
NARRATIVAS, lê-se uma história fantástica, em que um fidalgo se une
maritalmente a uma mulher com pés de caprino. No trecho abaixo, a parte II
da primeira trova, aparece o momento em que D. Diogo descobre essa
particularidade da mulher a quem jurara amor e fidelidade. Observe, ainda,
o modo como os guerreiros cristãos se referem aos seguidores de Maomé:
percebe-se nas palavras das personagens a grande hostilidade do longo
período de guerra entre cristãos e mouros na Idade Média, a exemplo das
Cruzadas e das lutas de reconquista da Península Ibérica.

CLIQUE AQUI.

II

D. Diogo Lopes era um infatigável monteiro: neves da serra no Inverno,


sóis dos estevais no Verão, noites e madrugadas, disso se ria ele.
Pela manhã cedo de um dia sereno, estava D. Diogo em sua armada, em
monte selvoso e agreste, esperando um porco montês, que, batido pelos
caçadores, devia sair naquela assomada.
Eis senão quando começa a ouvir cantar ao longe: era um lindo, lindo
cantar.
Alevantou os olhos para uma penha que lhe ficava fronteira: sobre ela
estava assentada uma formosa dama: era a dama quem cantava.
O porco fica desta vez livre e quite; porque D. Diogo Lopes não corre, voa

36
para o penhasco.
— Quem sois vós, senhora tão gentil; quem sois, que logo me cativastes?
— Sou de tão alta linhagem como tu; porque venho do semel de reis, como
tu, senhor de Biscaia.
— Se já sabeis quem eu seja, ofereço-vos a minha mão, e com ela as minhas
terras e vassalos.
— Guarda as tuas terras, D. Diogo Lopes, que poucas são para seguires tuas
montarias; para o desporto e folgança de bom cavaleiro que és. Guarda os
teus vassalos, senhor de Biscaia, que poucos são eles para te baterem a
caça.
— Que dote, pois, gentil dama, vos posso eu oferecer digno de vós e de
mim; que se a vossa beleza é divina, eu sou em toda a Espanha o rico-
homem
mais abastado?
— Rico-homem, rico-homem, o que eu te aceitara em arras cousa é de
pouca valia; mas, apesar disso, não creio que mo concedas; porque é um
legado de tua mãe, a rica-dona de Biscaia.
— E se eu te amasse mais que a minha mãe, porque não te cederia qualquer
dos seus muitos legados?
— Então, se queres ver-me sempre ao pé de ti, não jures que farás o que
dizes, mas dá-me isso a tua palavra.
— A la fé de cavaleiro, não darei uma; darei milhentas palavras.
— Pois sabe que para eu ser tua é preciso esqueceres-te de uma cousa que a
boa rica-dona te ensinava em pequenino e que, estando para morrer, ainda
te recordava.
— De quê, de quê, donzela? – acudiu o cavaleiro com os olhos chamejantes.
– De nunca dar tréguas à mouríssima, nem perdoar aos cães de
Mafamede? Sou bom cristão. Guiai de ti e de mim, se és dessa raça danada!
— Não é isso, dom cavaleiro – interrompeu a donzela a rir. – O de que eu
quero que te esqueças é do sinal-da-cruz: o que eu quero que me prometas
é que nunca mais hás-de persignar-te.
— Isso agora é outra cousa – replicou D. Diogo, que nos folgares e
devassidões perdera o caminho do Céu. E pôs-se um pouco a cismar.
E, cismando, dizia consigo: “De quem servem benzeduras? Matarei mais
duzentos mouros e darei uma herdade a Santiago. Ela por ela. Um presente
ao apóstolo e duzentas cabeças de cães de Mafamede valem bem um grosso
pecado”.
E, erguendo os olhos para a dama, que sorria com ternura, exclamou:
— Seja assim: está dito. Vá, com seiscentos diabos.
E, levando a bela dama nos braços, cavalgou na mula em que viera
montado.
Só quando, à noite, no seu castelo, pôde considerar miudamente as formas
nuas da airosa dama, notou que tinha os pés forcados como os de cabra.

LEITURA COMPLEMENTAR
OBRAS DE ALEXANDRE HERCULANO NO MATERIAL DE APOIO

No Material de Apoio, há este e outros títulos da ficção histórica de


Alexandre Herculano: Eurico, o presbítero (eurico.pdf) (Visite a aula

37
online para realizar download deste arquivo.), Arras por foro de Espanha
(arras.pdf) (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.), O
bispo negro (bisponegro.pdf) (Visite a aula online para realizar download
deste arquivo.), A dama pé de cabra (dama.pdf) (Visite a aula online para
realizar download deste arquivo.), Lendas e narrativas (lendas.pdf) (Visite
a aula online para realizar download deste arquivo.), A morte do lidador
(lidador.pdf) (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.),
O bobo (obobo.pdf) (Visite a aula online para realizar download deste
arquivo.).

ANTÔNIO FELICIANO DE CASTILHO

Antônio Feliciano de Castilho (Lisboa, 1800 - 1875) foi uma dos mais
prestigiados nomes da literatura portuguesa do século XIX. O fato de ter
ficado cego na infância (contraíra sarampo) criou verdadeira mítica e
veneração em torno desse romântico. Dos autores do primeiro momento do
Romantismo de Portugal, foi ele o mais formalista, ainda apegado ao verso
Fonte [28] clássico. Seus primeiros versos são neoclássicos, destacando-se as
homenagens a D. Maria I, por ocasião da morte desta, e a D. João VI, o então
herdeiro da coroa. Formou-se em Cânones na Universidade de Coimbra,
onde participou de discussões árcades, mostrando-se partidário de Bocage.
Praticou uma poesia nacionalista, em que é recorrente o medievalismo.
Dirigiu de 1841 a 1848 a Revista Universal Lisbonense. Foi autor de livros
pedagógicos, sendo o criador de um método de alfabetização. Traduziu tanto
autores da antiguidade clássica (Anacreonte, Virgílio, Ovídio) como clássicos
estrangeiros (Shakespeare, Molière e Goethe). O posfácio ao livro POEMA DA
MOCIDADE, de Pinheiro Chagas, acabou por deflagrar a chamada Questão
Coimbrã (1865), polêmica iniciada pela resposta de Antero de Quental a
Castilho, que acusava a nova geração de fazer má poesia, alastrou-se entre os
intelectuais portugueses e até mesmo a brasileiros. O prestígio de Castilho
tem caído, ao longo do tempo. É o que entende Massaud Moisés, que chega a
afirmar: “A história de Castilho é a dum grande mal-entendido: graças à
cegueira, que lhe dava um falso brilho de gênio à Milton, mais do que à sua
poesia, alcançou injustamente ser venerado como mestre pelos românticos
menores ou epigonais.” (A LITERATURA PORTUGUESA. 33.ed. São Paulo:
Cultrix, 2005, p. 142.)

OLHANDO DE PERTO
Há uma biografia sobre Castilho no Dicionário Histórico Portugal
[29].

LEITURA COMPLEMENTAR
OBRAS DE CASTILHO.

Poesia: CARTAS DE ECO E NARCISO (1821), A PRIMAVERA (1822,


http://purl.pt/26 [30]), OS CIÚMES DO BARDO (1836,
http://purl.pt/28 [31]), ESCAVAÇÕES POÉTICAS (1844,
http://purl.pt/31 [32]).
Prosa: QUADROS HISTÓRICOS DE PORTUGAL (1838), O PRESBITÉRIO

38
DA MONTANHA (1846, http://purl.pt/132 [33]).
Jornalismo: OS TRÊS ÚLTIMOS DIAS DE UM SENTENCIADO ( 1842),
CÁRCERE PRIVADO ( 1844), SEGUNDO FOGO DA MADALENA (1844).
Ensaio: Conversação preambular ( 1862), Crítica Literária . Carta ao
Editor [Posfácio a POEMA DA MOCIDADE, de Pinheiro Chagas, texto que
deflagrou a Questão Coimbrã, ponto final do Romantismo português].
Didática: Felicidade pela Agricultura (1849, http://purl.pt/22 [34]),
Felicidade pela Instrução (1854, http://purl.pt/22 [35]).
Outras obras: EPISTOLA AO USURPADOR EX-INFANTE MIGUEL
MARIA DO PATROCINIO NA SUA SAIDA DE PORTUGAL (1834,
http://purl.pt/49 [36]), ECO DA VOZ PORTUGUESA POR TERRAS DE
SANTA CRUZ (1847, http://purl.pt/4 [37])

Tradução: A LÍRICA DE ANACREONTE; METAMORFOSES e


AMORES, de Ovídio; GEÓRGICAS, de Virgílio; MÉDICO À FORÇA,
TARTUFO, O AVARENTO, DOENTE DE CISMA, SABICHONAS e
MISANTROPO, de Molière; O SONHO DE UMA NOITE DE S. JOÃO, de
Shakespeare; FAUSTO, de Goethe; D. QUIXOTE DE LA MANCHA, de
Cervantes.

UM POUCO DA POESIA DE CASTILHO

Poeta nacionalista, Castilho se dedicou à poesia histórica. Exemplo disso


é “A tomada de Coimbra”, de ESCAVAÇÕES POÉTICAS, cujo título traduz o
intento arqueológico do autor. Os versos seguintes são redondilhas maiores,
formando sextilhas com rimas nos versos pares. Esse formato se baseia na
cultura popular, sendo o mais recorrente das cantorias e da literatura de
Fonte [38] cordel do Nordeste brasileiro.

A TOMADA DE COIMBRA.

(Xácara)

Caminhavam frades bentos


do mosteiro de Lorvão,
quando acharam Dom Fernando
no meio de Carrião:
era Dom Fernando o Rei,
e seu reino era Leão.

– D. Fernando, D. Fernando,
novas de consolação!
cavaleiros não nos oiçam;
manda sair quantos são.
Deus te nos manda dizer
que tens Coimbra na mão.

«Descuidados estão Moiros


do poderio cristão;
deles o havemos sabido
por sua conversação,

39
quando nos vêm de Coimbra
a montear em Lorvão.

«Fingimos uma romagem


por livrar de suspeição,
e viemos dar-te aviso,
grão Rei, senhor de Leão.
Manda logo fazer prestes
todo o ginete e peão.

Como três meses passaram,


era por Janeiro então,
el-Rei é sobre Coimbra,
e os de dentro em confusão;
mas vale o muro à cidade,
que é mui boa defensão.

Em que traz muitos vassalos


de caldeira e de pendão,
em que traz o Cid Rui Dias,
mais forte que quantos são,
não acaba de a tomar,
sete meses já lá vão.

..........................

Cristãos, ganhastes Coimbra,


mais que jóia oriental;
mais tu, Coimbra, ganhaste,
que tens fonte baptismal,
e a tua mesquita grande
verás logo em catedral.

Dar meia cidade aos monges


queria o Rei liberal,
mas os monges só quiseram
uma casa monacal,
contentes com Lorvão santo,
seu paraíso terreal.

Foi-se el-Rei a Compostela


com sua gente leal.
De atabales e trombetas
soa estrondo festival;
abrem-se as portas do templo
bem armado e triunfal.

Todos co'o joelho em terra


como cumpre em caso tal,
diziam de agradecidos
ao valedor imortal:
– «Santiago, Santiago,
salvaste o nosso arraial;

40
salva sempre os Leoneses,
e a gente de Portugal.»

UM POUCO DA PROSA DIDÁTICA DE CASTILHO

Em torno do tema da agricultura, Castilho faz uma ligação poética entre


a cultura clássica e a cultura portuguesa.

FELICIDADE PELA AGRICULTURA


TERCEIRO SERÃO DO CASAL
Índole campestre da Poesia
Sumário
Fonte [39]
A Poesia nasceu nos campos, e para eles propendeu sempre. –
Quem Ovídio. – O seu poema dos Fastos. – Duas amostras deste poema. –
Festa das
sementeiras entre os Romanos. – Festa do deus Término.

Clique aqui para ler. (Visite a aula online para realizar download deste
arquivo.)

ATIVIDADE DE PORTFÓLIO
Leia os contos "A dama pé de cabra" e "A morte do lidador", de
Alexandre Herculano (disponíveis no solar) e depois enumere, em tópicos
comparativos, os aspectos em comum destes contos de temática medieval
e da peça Frei Luís de Sousa de Garrett; estes tópicos devem citar as
semelhanças e diferenças em relação ao modo como cada autor apresenta
os ideais medievais de honra, religiosidade, nacionalismo e amor.

FONTES DAS IMAGENS


1. http://purl.pt/12920
2. http://sol.sapo.pt/photos/olindagil3/images/1094752/original.aspx
3. http://purl.pt/19/3
4. http://purl.pt/17/3
5. http://purl.pt/27/3
6. http://purl.pt/37
7. http://purl.pt/924
8. http://purl.pt/33/3
9. http://purl.pt/14/3/
10. http://purl.pt/6/3
11. http://purl.pt/55
12. http://purl.pt/35
13. http://purl.pt/52
14. http://purl.pt/39/3/
15. http://purl.pt/53
16. http://purl.pt/138/3
17. http://purl.pt/3/3
18. http://cvc.instituto-camoes.pt/seculo-xix/almeida-
garrett.html#.WUGGa-nauM8
19. http://purl.pt/39
20. http://perlbal.hi-pi.com/blog-
images/329408/gd/1175088359/Folhas-Caidas-Almeida-Garrett.jpg
21. http://literatura24.com/Portals/4/ebooks-pictures/41606_500.jpg
22. http://algumasgarotas.files.wordpress.com/2011/04/
sup_download_odisseia.jpg
41
23. http://bp2.blogger.com/_AROFlteaO6U/Rw6aacYRxCI/AAAAAAAAA
xU/oqafk_-IJUg/s400/Tesouros618.jpg
24. http://purl.pt/167
25. http://purl.pt/294
26. http://purl.pt/152/3
27. http://purl.pt/12270
28. http://tbn1.google.com/images?
q=tbn:G17F6CmrDcj71M:http://cfp.cm-
lisboa.pt/pls/htmldb/app_cfp.show_foto?p_id=33
29. http://www.arqnet.pt/dicionario/castilhoantoniof.html
30. http://purl.pt/26
31. http://purl.pt/28
32. http://purl.pt/31
33. http://purl.pt/132
34. http://purl.pt/22
35. http://purl.pt/22
36. http://purl.pt/49
37. http://purl.pt/4
38. http://4.bp.blogspot.com/_qsD2YgTWqY4/SXnLOkhCNTI/AAAAAAA
AETI/l4fRR2KkeUU/s320/t-namoro-no-jardim+(ceramica+de+Pombal).jpg
39. http://europresseditora.pt/wp-content/uploads/2015/07/heuris-11-
300x300.png
40. http://www.denso-wave.com/en/

Responsável: Profª. Ana Márcia Alves Siqueira


Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual

42
LITERATURA PORTUGUESA II
AULA 02: ROMANTISMO

TÓPICO 03: SEGUNDA FASE DO ROMANTISMO

O segundo momento do Romantismo português é chamado de


Ultrarromantismo, que se desenvolve aproximadamente entre 1840 e 1860.
Longe das influências neoclássicas, os autores desse período levaram a
liberdade e subjetividade românticas ao extremo. Assim, guardadas as
Fonte [1] exceções, o sentimentalismo toca o limite da pieguice e o medievalismo
chega ao esgotamento ou à morbidez gótica. Os poetas ultrarromânticos
agrupavam-se em torno de algumas publicações literárias, sendo as mais
importantes: O Trovador e O Novo Trovador.

Do Ultrarromantismo, destacaremos a prosa de Camilo Castelo Branco e


a poesia de João de Lemos e de Soares de Passos.

Fonte [2] CAMILO CASTELO BRANCO

Camilo Castelo Branco (Lisboa, 1825- São Miguel de Seide, 1890)


notabilizou-se pela qualidade e pela quantidade de sua prosa, sendo AMOR
DE PERDIÇÃO a mais famosa. Após uma formação juvenil concentrada nos
estudos clássicos, houve ainda uma tentativa de curso de Medicina, ficando
este por concluir. Em sua biografia, abundam lances de aventura amorosa,
tendo ele experimentado a prisão por adultério. Passados os anos, apesar da
fama literária, Camilo temia não ter como sustentar sua família numerosa.
Pressionado pelo excesso de trabalho, doente e depressivo, comete o suicídio.

LEITURA COMPLEMENTAR
OBRAS DE CAMILO CASTELO BRANCO

CLIQUE AQUI PARA SABER MAIS.

Poesia: OS PUNDONORES DESAGRAVADOS (1845), O JUÍZO


FINAL E O SONHO DO INFERNO (1845), A MURRAÇA (1848),
INSPIRAÇÕES (1851), NOSTALGIAS (1888), NAS TREVAS (1890).

Teatro: AGOSTINHO DE CEUTA (1847), O MARQUÊS DE TORRES


NOVAS (1849), A morgadinha de Val de Amores (1882).

Romance e novela: MARIA, NÃO ME MATES, QUE SOU TUA MÃE


( 1848), ANÁTEMA ( 1851), MISTÉRIOS DE LISBOA ( 1854), LIVRO
NEGRO DE PADRE DINIS ( 1855), A FILHA DO ARCEDIAGO (1855), A
NETA DO ARCEDIAGO (1856), ONDE ESTÁ A FELICIDADE? (1856), UM
HOMEM DE BRIOS (1857), CARLOTA ÂNGELA (1858), O QUE FAZEM
MULHERES (1858), CENAS DA FOZ (1861), O ROMANCE DE UM
HOMEM RICO (1861), AMOR DE PERDIÇÃO (1862, http://purl.pt/137
[3] ), CORAÇÃO, CABEÇA E ESTÔMAGO (1862), AVENTURAS DE
BASÍLIO FERNANDES ENXERTADO (1863), O BEM E O MAL (1863),
AMOR DE SALVAÇÃO (1864), A SEREIA (1865), A QUEDA DUM ANJO
(1866, http://purl.pt/139 [4]), O JUDEU (1866), O OLHO DE VIDRO
(1866), A BRUXA DE MONTE CÓRDOVA (1867), A DOIDA DO CANDAL
(1867), O RETRATO DE RICARDINA (1868), OS BRILHANTES DO

43
BRASILEIRO (1869), A MULHER FATAL (1870), O REGICIDA (1874), A
FILHA DO REGICIDA (1875), A CAVEIRA DO MÁRTIR (1875), EUSÉBIO
MACÁRIO (1879), A CORJA (1880), A BRASILEIRA DE PRAZINS (1883)

Historiografia: O CLERO E O SR. ALEXANDRE HERCULANO


(1850), O PERFIL DO MARQUÊS DE POMBAL (1882).

Crítica: ESBOÇOS DE APRECIAÇÕES LITERÁRIAS (1865), CURSO


DE LITERATURA PORTUGUESA (1876).

Polêmica: OS CRÍTICOS DO CANCIONEIRO ALEGRE (1879),


QUESTÃO DA SEBENTA (1883).

Memória: MEMÓRIAS DO CÁRCERE.

Correspondência: CASTILHO E CAMILO: correspondência trocada


entre os dois escritores (1924, http://purl.pt/798 [5]).

UM TRECHO DE AMOR DE PERDIÇÃO

O romance é iniciado com a apresentação de um documento. O papel


mostra a condenação ao degredo de Simão Botelho, então jovem de dezoitos
anos. A habilidade de Camilo em captar a atenção do autor já começa com
essa prova documental de uma injustiça contra o amor. A narrativa
reconstituirá como a curta vida de Simão Botelho pôde chegar a esse ponto.
Fonte [6] Além proibição do namoro entre Simão e Teresa, à maneira de Romeu e
Julieta, soma-se a paixão recolhida de Mariana por Simão, que tudo faz,
apesar de seu sentimento, pelo bem dos apaixonados, formando-se um
habilidoso triângulo de amor frustrado. A paixão que pode levar às ações
mais desastradas é o motor desse que foi o mais lido de todos os romances de
Portugal.

INTRODUÇÃO

Folheando os livros de antigos assentamentos, no cartório das cadeias


da Relação do Porto, li, no das entradas dos presos desde 1803 a 1805, a
folhas 232, o seguinte:

Simão Antônio Botelho, que assim disse chamar-se, ser


solteiro, e estudante na Universidade de Coimbra, natural da
cidade de Lisboa, e assistente na ocasião de sua prisão na cidade
de Viseu, idade de dezoito anos, filho de Domingos José Correia
Botelho e de D. Rita Preciosa Caldeirão Castelo Branco;
estatura ordinária, cara redonda, olhos castanhos, cabelo e
barba preta, vestido com jaqueta de baetão azul, colete de fustão
pintado e calça de pano pedrês. E fiz este assento, que assinei -
Filipe Moreira Dias.

Clique aqui para ler (Visite a aula online para realizar download deste
arquivo.)

44
LEITURA COMPLEMENTAR
A PROSA DE CAMILO CASTELO BRANCO NO MATERIAL DE APOIO

No Material de Apoio, há este e outros títulos de Camilo Castelo


Branco: A brasileira de Prazins (abrasileiradosprazins.pdf) (Visite a aula
online para realizar download deste arquivo.), Amor de perdição
(amor_perdicao.pdf) (Visite a aula online para realizar download deste
arquivo.), Coração, cabeça e estômago (coracao.pdf) (Visite a aula online
para realizar download deste arquivo.), Os brilhantes do brasileiro
(osbrilhantes.pdf) (Visite a aula online para realizar download deste
arquivo.).

CURIOSIDADES
Indicamos como leitura complementar o ensaio “A morte como
transcendência em AMOR DE PERDIÇÃO, de Camilo Castelo Branco”, de
Rosana Cássia Kamita, disponível em
http://artigos.netsaber.com.br/resumo_artigo_7418/artigo_sobre_a_morte_com_transc
[7].

JOÃO DE LEMOS

João de Lemos Seixas Castelo Branco (Peso da Régua, 1819-1890) foi


um dos fundadores da revista O Trovador. Formou-se em Direito na
Universidade de Coimbra. Em CANCIONEIRO (1858, 1859 e 1866) e em
CANÇÕES DA TARDE (1875), está reunida sua obra poética. Entrou na
Fonte [8]
Academia de Ciências de Lisboa em 10 de julho de 1862. Seu mais conhecido
poema é “A lua de Londres”, que está no CANCIONEIRO, é composto em
décimas de redondilha maior (formato muito comum entre os poetas
populares do Nordeste brasileiro).

A LUA DE LONDRES (Visite a aula online para realizar download deste


Fonte [9]
arquivo.)

SOARES DE PASSOS

Soares de Passos (Porto, 1826-1860) cursou Direito na Universidade de


Coimbra. No âmbito estudantil conimbricense, fundou O Novo Trovador.
Sua obra poética foi reunida no livro POESIAS (1856). A crítica o tem como o
mais destacado poeta ultrarromântico. O poema “O noivado do sepulcro”,
composto em quadras de decassílabos sáficos, é o mais lembrado de sua
autoria, que apresentamos para sua apreciação. Além deste poema, vem “A
Camões”, também de Soares de Passos.

PARADA OBRIGATÓRIA
Clique para ler:

O noivado do sepulcro (Visite a aula online para realizar download


deste arquivo.).

A Camões (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.).

45
FÓRUM
MUITO ROMÂNTICO

O Romantismo trouxe uma nova onda de sentimentalismo e emoção à


arte do século XIX. Que traços românticos podem ser apontados na
realidade de hoje? Procure exemplos na cultura em geral e nas artes em
particular.

FONTES DAS IMAGENS


1. http://farm3.static.flickr.com/2414/2092528583_fdb3243d2d_o.jpg
2. http://c9.quickcachr.fotos.sapo.pt/i/P5f074b88/10025573_EvTct.jpeg
3. http://purl.pt/137
4. http://purl.pt/139
5. http://purl.pt/798
6. http://img.mercadolivre.com.br/jm/img?
s=MLB&f=77953681_267.jpg&v=P
7. http://artigos.netsaber.com.br/resumo_artigo_7418/artigo_sobre_a_m
orte_com_transcendencia_em_amor_de_perdicao_de_camilo_castelo_bra
nco
8. http://lh3.ggpht.com/poemas.poetas/SEEA-
yZy48I/AAAAAAAAAQ4/GOnPG5-eY0Q/joao%20de%20lemos[5].jpg?
imgmax=800
9. http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/mobile/romantica/imagens/pass
os.jpg
10. http://www.denso-wave.com/en/

Responsável: Profª. Ana Márcia Alves Siqueira


Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual

46
LITERATURA PORTUGUESA II
AULA 02: ROMANTISMO

TÓPICO 04: TERCEIRA FASE DO ROMANTISMO

Na transição entre o Romantismo e Realismo, um nome aparece por


unanimidade na prosa: Júlio Dinis. Na poesia, destaca-se João de Deus.

JÚLIO DINIS

Joaquim Guilherme Gomes Coelho (Porto, 1839-1871), que adotou o


pseudônimo Júlio Dinis, cursou a Escola Médica do Porto. Teve muitos de
Fonte [1] seus trabalhos publicados na imprensa literária e comercial. Morreu de
tuberculose, deixando já publicado o essencial de sua prosa, que é tida como
de transição para o Realismo, aparecendo postumamente sua poesia e seu
teatro.

Romance: AS PUPILAS DO SENHOR REITOR (1867,


Fonte [2]
http://purl.pt/930 [3]), A MORGADINHA DOS CANAVIAIS (1868,
http://purl.pt/6471 [4]), UMA FAMÍLIA INGLESA (1868,
http://purl.pt/326/2/ [5]), OS FIDALGOS DA CASA MOURISCA (1871,
http://purl.pt/328 [6]).
Poesia: POESIAS (1873)
Teatro: TEATRO INÉDITO (1946-1947).

UM TRECHO DE AS PUPILAS DO SENHOR REITOR

A leitura do capítulo seguinte revela não só a exploração das relações


sentimentais da célula social representada pela família, mas Júlio Dinis já
esboça um estudo psicológico com minúcias que chega a lembrar a descrição
de caracteres humanos da geração realista.

Fonte [7]

LEITURA COMPLEMENTAR
A PROSA DE JÚLIO DINIS NO MATERIAL DE APOIO

Está à sua disposição a edição eletrônica de As pupilas do senhor


reitor (pupilas.pdf) (Visite a aula online para realizar download deste
arquivo.) e de Uma família inglesa (familia_inglesa.pdf) (Visite a aula
online para realizar download deste arquivo.) no Material de Apoio.

CURIOSIDADE
A obra de Júlio Dinis tem sido adaptada para o cinema e para a
televisão. Adaptações

CINEMATOGRÁFICAS E ADAPTAÇÕES TELEVISIVAS:

Adaptações Cinematográficas:
47
◾ 1921 - OS FIDALGOS DA CASA MOURISCA - Realizado por Georges Pallu
◾ 1924 – AS PUPILAS DO SENHOR REITOR – Realizado por Maurice
Mauriad – com Eduardo Brazão, Augusto Melo, Duarte Silva, Maria de
Oliveira, Maria Helena e Arthur Duarte.
◾ 1935 – AS PUPILAS DO SENHOR REITOR – Realizado por Leitão de
Barros – com Maria Paula, Paiva Raposo, Lino Ferreira, Maria Matos e
Leonor D'Eça.
◾ 1938 - OS FIDALGOS DA CASA MOURISCA - Realizado por Arthur Duarte
◾ 1949 - A MORGADINHA DOS CANAVIAIS - Realizado por Caeltano
Bonucci e Amadeu Ferrari - com Eunice Muñoz
◾ * 1961 – AS PUPILAS DO SENHOR REITOR – Realizado por Perdigão
Queiroga – com Anselmo Duarte, Mansa Prado, Isabel de Castro, Raúl
Solnado e António Silva.

Adaptações Televisivas

◾ Existem duas adaptações brasileiras para telenovela d' AS PUPILAS DO


SENHOR REITOR, a primeira em 1970 e a segunda em 1995.
◾ OS FIDALGOS DA CASA MOURISCA foi adaptado para a televisão
brasileira em 1972.
◾ A MORGADINHA DOS CANAVIAIS foi adaptado para uma mini-série da
RTP em 1990.

(Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/J%C3%BAlio_Dinis)

JOÃO DE DEUS

João de Deus (Messines, 1830-1896) fez Direito na Universidade de


Coimbra. Advogou, trabalhou no jornalismo e foi autor de obra pedagógica
para letramento infantil. Ao contrário dos poetas ultrarromântiscos, que
Fonte [8] serviam à crítica realista, a poesia de João de Deus foi elogiada pela geração
sucessora. Tal sucesso é devido ao seu modo próprio de escrever, que não
seguiu o modismo de seu tempo, imprimindo na poesia uma subjetividade
que transcende seu enquadramento histórico.

A OBRA DE JOÃO DE DEUS

Sua obra poética está reunida em CAMPO DE FLORES (1893), em que se


inseriram FLORES DO CAMPO e FOLHAS SOLTAS. Pedagogia: CARTILHA
MATERNAL (1876, http://purl.pt/145 [9]).

CAMPO DE FLORES

Fonte [10]
A VIDA
Foi-se-me pouco a pouco amortecendo
a luz que nesta vida me guiava,
olhos fitos na qual até contava
ir os degraus do túmulo descendo.

Em se ela anuviando, em a não vendo,


já se me a luz de tudo anuviava;

48
despontava ela apenas, despontava
logo em minha alma a luz que ia perdendo.

Alma gémea da minha, e ingénua e pura


como os anjos do céu (se o não sonharam...)
quis mostrar-me que o bem bem pouco dura!

Não sei se me voou, se ma levaram;


nem saiba eu nunca a minha desventura
contar aos que inda em vida não choraram ...

......................................................

A vida é o dia de hoje,


a vida é ai que mal soa,
a vida é sombra que foge,
a vida é nuvem que voa;
a vida é sonho tão leve
que se desfaz como a neve
e como o fumo se esvai:
A vida dura um momento,
mais leve que o pensamento,
a vida leva-a o vento,
a vida é folha que cai!

A vida é flor na corrente,


a vida é sopro suave,
a vida é estrela cadente,
voa mais leve que a ave:
Nuvem que o vento nos ares,
onda que o vento nos mares
uma após outra lançou,
a vida – pena caída
da asa de ave ferida -
de vale em vale impelida,
a vida o vento a levou!

AROMA E AVE
Eu digo, quando assoma
o astro criador:
– Deus me fizesse aroma
de alguma pobre flor!

E digo, quando passa


uma ave pelo ar:
– Deus me fizesse a graça
de asas para voar!

Aroma da janela
me evaporava eu,
me respirava ela
e me elevava ao céu!

49
E quem, se eu fosse uma ave,
me havia de privar
a mim da luz suave
daquele seu olhar?

ADORAÇÃO
Vi o teu rosto lindo,
esse rosto sem par;
contemplei-o de longe, mudo e quedo,
como quem volta de áspero degredo
e vê ao ar subindo
o fumo do seu lar!

Vi esse olhar tocante,


de um fluido sem igual;
suave como lâmpada sagrada,
bem-vindo como a luz da madrugada
que rompe ao navegante
depois do temporal!

Vi esse corpo de ave,


que parece que vai
levado como o Sol ou como a Lua,
sem encontrar beleza igual à sua,
majestoso e suave,
que surpreende e atrai!

Atrai, e não me atrevo


a contemplá-lo bem;
porque espalha o teu rosto uma luz santa,
uma luz que me prende e que me encanta
naquele santo enlevo
de um filho em sua mãe!

Tremo, apenas pressinto


a tua aparição;
e, se me aproximasse mais, bastava
pôr os olhos nos teus, ajoelhava!
Não é amor que eu sinto,
é uma adoração!

Que as asas providentes


do anjo tutelar
te abriguem sempre à sua sombra pura!
A mim basta-me só esta ventura
de ver que me consentes
olhar de longe... olhar!

ESTRELA
Estrela que me nasceste
quando a vista mal te alcança
nessa abóbada celeste,

50
onde a nossa alma descansa
a sua última esperança...
Estrela que me nasceste
quando a vista mal te alcança!

Antes nascesses mais cedo,


estrela da madrugada,
e não já noite cerrada...
Que até no céu mete medo
ver essa estrela isolada...
Antes nascesses mais cedo.
estrela da madrugada!

ATIVIDADE DE PORTFÓLIO
FORMAS DE AMOR

Proposta: Análise do comportamento apaixonado a partir da


comparação entre as histórias de Simão e Teresa, de Amor de Perdição, e
de Margarida e Daniel, de As pupilas do Senhor Reitor. Esse ensaio deve
comparar as formas de amor expressas pelas obras da segunda e terceira
fases românticas, delineando diferenças e semelhanças. Escreva esse
pequeno ensaio nos limites entre duas e três páginas. O formato de seu
texto é o mesmo dos artigos culturais publicados na imprensa. Não se
esqueça de deixar as referências consultadas, inclusive o romance que se
encontra em seu material de apoio referente a esta aula. Importante: trata-
se de tarefa individual.

OBSERVAÇÃO
Para facilitar a leitura de seu documento, salve-o preferencialmente
em pdf. Outros formatos: odt (OpenOffice), rtf e doc (Word até 2007).

REFERÊNCIAS
CASTELO BRANCO, Camilo Ferreira Botelho. OS BRILHANTES DO
BRASILEIRO. São Paulo : Saraiva, 1966.

______ . A BRASILEIRA DE PRAZINS: cenas do Minho. 2.ed. Lisboa:


Ulisseia, 1984.

______ . AMOR DE PERDIÇÃO. Pato de Minas: Vitualbooks, 2000.

______ . COISAS QUE SÓ EU SEI. Lisboa : Relógio d’Água Editores ,


1990.

______ . CORAÇÃO, CABEÇA E ESTÔMAGO. 2 ed. Lisboa:


Publicações Europa-América, LD.

______ . UMA PRAGA ROGADA NAS ESCADARIAS DA FORCA. São


Paulo : Logos, 1959.

GARRET, Almeida. FOLHAS CAÍDAS. 2 ed. Mem-Martins : Europa-


América, s.d.

51
______ . O ARCO DE SANTANA. São Paulo : W. M. Jackson, [s.d.].

______ . VIAGENS NA MINHA TERRA. Rio de Janeiro: Ediouro, s.d.

HERCULANO, Alexandre. A HARPA DO CRENTE. São Paulo:


Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro [USP], s.d.

______ . ARRAS POR FORO DE ESPANHA. Lisboa : Livraria Bertrand


e Editorial Verbo, 1971.

______ . EURICO, O PRESBÍTERO. 7ed. São Paulo: Ática, 1988.

______ . LENDAS E NARRATIVAS. Lisboa: Bertrand, 1970.

______ . O BISPO NEGRO. Lisboa : Livraria Bertrand e Editorial


Verbo, 1971.

FONTES DAS IMAGENS


1. http://tbn3.google.com/images?
q=tbn:zvLXcw3L3inLYM:http://www.historia.com.pt/APR/images5/Fidalg
os.jpg
2. http://tbn1.google.com/images?
q=tbn:Mb1dZI0PmNp4DM:http://fotos.sapo.pt/wJKl6JK24nrH2Z0Ft0H2/
3. http://purl.pt/930
4. http://purl.pt/6471
5. http://purl.pt/326/2/
6. http://purl.pt/328
7. http://mob239.photobucket.com/albums/ff107/omcf/Portugal/25pupil
as.jpg
8. http://grandesnomeseducacao.files.wordpress.com/2008/02/joao_de_
deus.jpg
9. http://purl.pt/145
10. http://aprendendo.files.wordpress.com/2008/08/campo_flores_amar
elas.jpg
11. http://www.denso-wave.com/en/

Responsável: Profª. Ana Márcia Alves Siqueira


Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual

52
LITERATURA PORTUGUESA II
AULA 03: A GERAÇÃO DE 70 E A POESIA REALISTA

TÓPICO 01: A QUESTÃO COIMBRÃ

Na década de 1860, Antônio Feliciano de Castilho passou as ser consulta


obrigatória quando a matéria em discussão fosse a poesia. Não raras vezes o
prestígio do poeta encobria autores menores, meros versejadores que já nada
acrescentavam a um Romantismo convencional e desgastado.

Fonte [1] Em 1865, o livro POEMA DA MOCIDADE, de Pinheiro Chagas, trazia o


posfácio elogioso de Castilho. Esse posfácio era uma carta com que Castilho,
dirigindo-se ao editor do livro, saudava a poesia de Pinheiro Chagas e
aproveitava sua missiva para criticar Teófilo Braga e Antero de Quental, que
na ocasião publicavam seus primeiros títulos. O curioso é que Teófilo Braga
oferecera justamente a Castilho os livros VISÃO DO TEMPO e
TEMPESTADES SONORAS, de 1864. A reação de Castilho foi até elogiosa em
relação aos versos de Teófilo Braga, mas não deixou de expressar sua
discordância para com as ideias prefaciadas pelo jovem poeta. Amigo de
Teófilo Braga, Antero de Quental publicava em 1865 suas ODES MODERNAS.

Tais produções poéticas, que se afastavam da orientação romântica,


Fonte [2] eram o saldo da vida acadêmica na Universidade de Coimbra, onde, em 1861,
Antero estabelecera a Sociedade do Raio, agremiação estudantil secreta que
agitou a centenária instituição. Entre as ações da Sociedade do Raio, a mais
ousada façanha fora o sequestro do reitor Basílio Alberto para que este se
demitisse.

REAÇÃO DE ANTERO DE QUENTAL

Antero de Quental não se calou ante a crítica daquele que era


considerado o mestre da poesia de seu tempo. O jovem poeta intitula sua
carta de “Bom senso e bom gosto” (outro nome da “Questão Coimbrã”),
fazendo-a publicar ainda em 1865. A polêmica repercutiu na intelectualidade
portuguesa e até entre brasileiros, incluindo o próprio D. Pedro II. Mas a
história daria razão ao movimento realista e à chamada Geração de 70, que
não só mudaria a cultura portuguesa do final do século XIX, mas prepararia
a República de 1910.

PARADA OBRIGATÓRIA
Leia o excerto abaixo, que traz passagens da resposta de Antero de
Quental. Observe, especialmente, os dois últimos parágrafos, em que o
jovem, num habilidoso jogo de palavras, rebate a crítica e põe em dúvida o
prestígio do velho Castilho: Clique aqui (Visite a aula online para realizar
download deste arquivo.).

AS CONFERÊNCIAS DEMOCRÁTICAS DA GERAÇÃO DE 70

53
Fonte [3]
Em 1868, organiza-se em Lisboa o Cenáculo, formados por Antero de
Quental, Eça de Queirós, Oliveira Martins, Ramalho Ortigão, dentre outros,
reunidos na casa de Jaime Batalha dos Reis. O grupo discutia os temas de
seu tempo e, sem que soubessem, preparavam o futuro da cultura de
Portugal. Em 1871, sai do Cenáculo a ideia de abrir um debate com a
sociedade. Para tanto, alugaram o Cassino Lisbonense, onde realizaram, nos
meses de maio e junho de 1871, conferências de profundo conteúdo
reformista, até sofrerem censura. Contra o policiamento do direito de
expressão pronunciaram-se solidariamente nomes de vulto, destacando-se o
de Alexandre Herculano, quebrando assim seu voluntário exílio em Val-de-
Lobos.

Eis a programação das chamadas Conferências Democráticas:

22 de maio – “O Espírito das Conferências” – Antero de Quental; 27


de maio – “Causa da Decadência dos Povos Peninsulares nos Últimos Três
Séculos” – Antero de Quental; 6 de junho – “A Literatura Nova” – Eça de
Queirós; 19 de junho – “A Questão do Ensino” – Adolfo Coelho. Estava
programada a conferência “Os Historiadores Críticos de Jesus”, de
Salomão Sáraga, a sexta na sequência, mas houve intervenção do Marquês
d'Ávila, Presidente do Conselho de Ministros. Também ficaram por
apresentar as seguintes conferências: “O Socialismo”, de Jaime Batalha
Reis, “A República”, de Antero de Quental, “A Instrução Primária”, de
Adolfo Coelho, e “A Dedução Positiva da Idéia Democrática”, de Augusto
Fuschini.

Apesar da censura, a Geração de 70 daria prosseguimento ao debate por


outros meios. Não é coincidência o fato de serem fundados:

• o Partido Republicano em 1873 e,

• o Partido Socialista em 1875.

Percebe-se, de um modo geral, que a Geração de 70 desejava maior


democratização em Portugal. Alguns pensavam na forma republicana de
organização do Estado; outros anteviam uma república socialista como
alternativa à monarquia constitucional então vigente. Era unânime o desejo
de separação entre o Estado e a Igreja, união considerada anacrônica e,
particularmente no âmbito educacional, contraproducente.
É certo que o entusiasmo da Geração de 70 passaria, com o amadurecimento
do grupo, por uma revisão histórica. O grupo Os Vencidos da Vida, que

54
reunia nomes como o de Oliveira Martins e de Guerra Junqueiro, formou-se
entre 1887 e 1888. Conforme o nome sugere, já não existe nesse contexto o
mesmo ímpeto dos primeiros debates, mas uma espécie de constatação
amadurecida de conquistas relativas, acolhidas com bom humor e
resignação. O Ultimato Britânico de 1890 e o suicídio de Antero de Quental,
ocorrido em 1891, seriam golpes sobre o espírito dos realistas. Se para uns
tudo resultou em derrotismo e humilhação, para outros o desaguadouro
desses eventos seria o fim do regime monárquico. A história deu razão aos
segundos.

LEITURA COMPLEMENTAR
Para saber mais sobre essa importante geração, veja, no Material de
Apoio, o texto A Geração de 70 – uma revolução cultural e
literária (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.), de
Álvaro Manuel Machado.

FONTES DAS IMAGENS


1. http://rlv.zcache.com.pt/o_grupo_do_leao_columbano_bordalo_pinhe
iro_cartao_postal-
rb4411a0072fe47528291a45336d26816_vgbaq_8byvr_324.jpg
2. http://www.jokerartgallery.com/fotos/pin/pinheiro/Antero_de_Quenta
l_1889.jpg
3. http://fotos.sapo.pt/rakumi/pic/0001fbf3
4. http://www.denso-wave.com/en/

Responsável: Profª. Ana Márcia Alves Siqueira


Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual

55
LITERATURA PORTUGUESA II
AULA 03: A GERAÇÃO DE 70 E A POESIA REALISTA

TÓPICO 02: A POESIA REALISTA DE RUPTURA

ANTERO DE QUENTAL

Antero Tarquínio de Quental (Ponta Delgada, Açores, 1842-1891) foi o


maior entusiasta da Geração de 70. Cursou Direito na Universidade de
Fonte [1] Coimbra, destacando-se como líder estudantil. Foi o polemista que deflagrou
a Questão Coimbrã (1865) e o mais ativo palestrante das Conferências
Democráticas (1871). Na política, militou em prol do Socialismo. Seu
suicídio, em 1891, repercutiu traumaticamente entre os que viam nele um
ícone revolucionário.

LEIA MAIS:
Na página do Instituto Camões, você pode ler uma biografia de Antero
de Quental escrita por Ana Maria Almeida Martins, que fecha seu texto
com uma significativa bibliografia sobre o poeta.

http://cvc.instituto-camoes.pt/conhecer/bases-tematicas/figuras-da-
cultura-portuguesa/1281-antero-de-quental.html [2]

Obra de Antero de Quental

OBRA DE ANTERO DE QUENTAL

Poesia: ODES MODERNAS (1865, http://purl.pt/156 [3]), PRIMAVERAS


ROMÂNTICAS (1871), SONETOS COMPLETOS (1886, http://purl.pt/122
[4] ), RAIOS DE EXTINTA LUZ (1892, http://purl.pt/3470 [5]).

Prosa: A FILOSOFHIA DA NATUREZA DOS NATURALISTAS (1894,


http://purl.pt/3424 [6]), PROSAS (1923, 1926, 1931).

ALGUNS DE ANTERO DE QUENTAL

A poesia de Antero começou com o inevitável romantismo das


produções adolescentes. Na Universidade de Coimbra, onde ele foi líder
estudantil, desenvolveu-se a poesia militante, de tendência socialista e
também a poesia metafísica e existencial, que o notabilizaria,
particularmente na forma do soneto. Uma das recorrências desse poeta-
filósofo pode ser comprovada nas ODES MODERNAS, em que a palavra
“ideia” aparece vinte e cinco vezes no texto de diversos poemas.

56
Fonte [7]

TEÓFILO BRAGA

Joaquim Teófilo Fernandes Braga (1843, Ponta Delgada, Açores - 1824 ,


Lisboa). Em 1859, editou na tipografia onde trabalhava seu primeiro livro,
intitulado FOLHAS VERDES. Cursou Direito na Universidade de Coimbra. Já
no ambiente universitário foi colaborador da Revista de Coimbra, sendo voz
discordante para com o Ultrarromantismo. Esteve ao lado de Antero de
Fonte [8]
Quental na Questão Coimbrã. Foi um ardoroso positivista e militou pela
República, chegando a assumir a presidência no início do novo regime.

Obras de Teófilo Braga

OBRAS DE TEÓFILO BRAGA

Poesia: Folhas verdes (1859), VISÃO DOS TEMPOS ((1864),


TEMPESTADES SONORAS (1864), TORRENTES (1869), MIRAGENS
SECULARES (1884).

Prosa ficcional: CONTOS FANTÁSTICOS (1865), VIRIATO (1904).

Ensaio: AS TEORIAS LITERÁRIAS: relance sobre o estado atual da


literatura portuguesa (1865), HISTÓRIA DA POESIA MODERNA EM
PORTUGAL (1869), HISTÓRIA DA LITERATURA PORTUGUESA:
introdução (1870), HISTÓRIA DO TEATRO PORTUGUÊS (1870-1871),
TEORIA DA HISTÓRIA DA LITERATURA PORTUGUESA (1872),
MANUAL DA HISTÓRIA DA LITERATURA PORTUGUESA (1875),
BOCAGE, SUA VIDA E ÉPOCA (1877), PARNASO PORTUGUÊS
MODERNO (1877), TRAÇOS GERAIS DA FILOSOFIA POSITIVA (1877),
HISTÓRIA DO ROMANTISMO EM PORTUGAL (1880), SISTEMA DE
SOCIOLOGIA (1884), CAMÕES E O SENTIMENTO NACIONAL (1891),
HISTÓRIA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA (1891-1902), HISTÓRIA
DA LITERATURA PORTUGUESA (1909-1918).

57
Antologia: CANCIONEIRO POPULAR (1867), CONTOS TRADICIONAIS
DO POVO PORTUGÊS (1883).

LEIA MAIS:
Na página do Instituto Camões, há uma biografia de Teófilo Braga
comentada em http://cvc.instituto-camoes.pt/filosofia/rep7.html [9].

UM POEMA DE TEÓFILO BRAGA

Os versos de Teófilo Braga recuperam a tradição clássica portuguesa e


também a barroca. Observe, no poema abaixo, o uso de recursos que
remontam ao Barroco, seja pela dualidade do tema religioso, seja pelo jogo
de contrastes.

A UM CRUCIFIXO
Pregado em uma cruz de ébano expira
O alvor do corpo de marfim deslumbra
A vista que divaga na penumbra
Dentro de uma cela aonde a alma suspira.

Cada pisada chaga é de safira;


Reluz na sombra que o altar obumbra!
São alforges as lágrimas... Ressumbra
Em tudo a dor que em êxtase delira.

Doce Jesus! sem conhecer a vida,


E sem saber porquê, na flor da idade,
Chora a teus pés a infância amortecida:

Ver perder-se a alegria, a mocidade,


Ou ver-te exangue nessa cruz erguida,
Qual fará, bom Jesus, mais piedade ?

(Visão dos Tempos, 1895)

ATIVIDADE DE PORTFÓLIO
Dos poemas de Antero de Quental disponíveis na aula, escolha dois
para interpretar. Você deve fazer sua interpretação em relação aos
preceitos estéticos propostos pelo poeta e sua geração, como também
justificar sua recepção destes conceitos nos poemas. (mínimo 25 linhas).

FONTES DAS IMAGENS


1. http://tbn0.google.com/images?
q=tbn:gGckdzcgoiEwEM:http://purl.pt/93/1/iconografia/imagens/l57312/l
57312p2_3.jpg
2. http://cvc.instituto-camoes.pt/conhecer/bases-tematicas/figuras-da-
cultura-portuguesa/1281-antero-de-quental.html
3. http://purl.pt/156
4. http://purl.pt/122
5. http://purl.pt/3470
6. http://purl.pt/3424
7. http://bola7inc.files.wordpress.com/2009/01/livro_aberto.jpg

58
8. http://4.bp.blogspot.com/_4qdG9wOtm7A/SOD5Rp1XFrI/AAAAAAAA
FgU/qhjVOD0d1Js/s400/Retrato_de_Teofilo_Braga_1917.jpg
9. http://cvc.instituto-camoes.pt/filosofia/rep7.html
10. http://www.denso-wave.com/en/

Responsável: Profª. Ana Márcia Alves Siqueira


Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual

59
LITERATURA PORTUGUESA II
AULA 03: A GERAÇÃO DE 70 E A POESIA REALISTA

TÓPICO 03: A POESIA MILITANTE DE GUERRA JUNQUEIRO

GUERRA JUNQUEIRO

Abílio de Guerra Junqueiro (Freixo de Espada à Cinta, 1850-1923) fez


Direito na Universidade de Coimbra. Foi funcionário público e, na política,
atuou como deputado. Usou a poesia como instrumento de combate e de
conscientização. No período republicano, foi nomeado Ministro de Portugal
em Berna.

FASES DA POESIA DE GUERRA JUNQUEIRO

Guerra Junqueiro, de início, praticou uma poesia militante, republicana


e anticlerical, como em A VELHICE DO PADRE ETERNO. Com o
amadurecimento, é tocado pela simplicidade da vida campestre, onde ele
julgava residir o verdadeiro cristianismo, a exemplo de OS SIMPLES.

A “SECA NO CEARÁ”- POESIA SOLIDÁRIA

Fonte [1]
Foto da época da Seca Grande, a pior já sofrida pelos cearenses.

Sempre solidário com o povo sofredor, Guerra Junqueiro sensibilizou-se


com os terríveis efeitos da Seca de 1877. Assim, ele escreveu este poema, que
jamais sairá da memória dos nordestinos. Leia “Fome no Ceará” no material
de apoio (fome_ceara_guerra_junqueiro.pdf) (Visite a aula online para
realizar download deste arquivo.).

Obras poéticas de Guerra Junqueiro: (Clique aqui)

OBRAS POÉTICAS DE GUERRA JUNQUEIRO

A MORTE DE D. JOÃO (1874), A MUSA EM FÉRIAS (1879), A


VELHICE DO PADRE ETERNO (1885), FINIS PATRIAE (1890), OS
SIMPLES (1892), PÁTRIA (1896), ORAÇÃO AO PÃO (1903), ORAÇÃO À
LUZ (1904), POESIAS DISPERSAS (1920).

UM ROMÂNTICO APRESENTA O POETA REALISTA

Veja, no texto abaixo, como Camilo Castelo Branco aprecia o polêmico


Guerra Junqueiro, afastando o preconceito como que então o poeta foi
atacado:

60
A Velhice do Pader Eterno

Desde que o nervoso poeta iconoclasta Guerra Junqueiro atirou às


ventanias tempestuosas da opinião pública vinte e oito sátiras com o rótulo
de Velhice do Padre Eterno, as tais ventanias, irrompendo dos odres,
começaram a rugir que o poeta é... ateu!
Que o dissesse a cleresia, não havia que estranhar à sua boa fé nem à sua
inteligência; mas que o digam, com gestos escandalizados, uns leigos - leigos
Fonte em duplicado - críticos inéditos, mas mexeriqueiros esclarecidos de leituras
teutónicas, isso é que me impele a defender, sem procuração, o poeta da
calúnia de ateísta.
Que é ser ateu? É negar a existência de Deus. E ser deísta que é? É
reconhecer um Deus, confessá-lo, senti-lo como alma do universo.
Guerra Junqueiro reconhece Deus tão explicitamente quanto Seria
necessário para impugnar os que o negam.
Na Velhice do Padre Eterno realçam os seguintes trechos de profissão de fé
racionalmente deísta: Clique aqui.

CLIQUE AQUI

Creio que Deus é eterno e que a alma é imortal.


.........................................................................
Sim, creio que depois do derradeiro sono
Há-de haver uma treva e há-de haver uma luz
Para o vicio que morre ovante sobre um trono,
Para o santo que expira inerme numa cruz.
........................................................................
O meu coração puro, imaculado e santo
Ia ao trono de Deus pedir, como inda vai,
Para toda a nudez um pano do seu manto,
Para toda a miséria o orvalho do seu pranto
E para todo o crime o seu perdão de Pai!...

A ciência devastou-lhe muitas crenças infantis; mas o seu coração ainda


se eleva suplicante ao trono de Deus: Clique aqui.

CLIQUE AQUI

Tenho uma crença firme, uma crença robusta


Num Deus que há-de guardar por sua própria mão
Numa jaula de ferro a alma de Locusta,
Num relicário d’oiro a alma de Platão.
Apostrofando o núncio Mazela, define o seu Deus:
Esse Deus imortal, único, bom, clemente,
O Deus de quem tu és o herege e eu sou o crente.

Considera Jesus Cristo uma luzentíssima e humana emanação da


Divindade: Clique aqui.

CLIQUE AQUI

61
.........................................................................
O semideus que está, como um farol de glória,
No topo da montanha escalvada da história,
Contemplando o infinito e iluminando a terra,
Essa alma que a flor da alma humana encerra.

A pág. 192 (Nota), referindo-se ao Prometeu Libertado, poema que há-


de seguir a Morte do Padre Eterno, escreve:

CLIQUE AQUI PARA LER

Terei os anos de vida necessários para escrever esse


livro? Não sei; no entanto rogo a Deus do fundo da
minha alma que me deixe terminar com um hino de
esperança e de harmonia uma batalha de cóleras e
sarcasmos.

Aqui temos, pois, um ateu que crê em Deus e na


imortalidade da alma; crê na bemaventurança para os
bons e nas penas eternas para os maus; pede a Deus a
sua divina compaixão para os que padecem e para os
que delinquiram; um ateu, finalmente, que recorre do
Fonte [2]
fundo da sua alma a Deus pedindo-lhe vicia para
concluir a sua obra. Eu, realmente, não sei que mais
podia reclamar o critério espiritualista! Quereriam
talvez que o poeta escrevesse umas glosas métricas aos
Versos de S. Gregório?

Guerra Junqueiro crê em Deus como Voltaire.

- Pois o ímpio Voltaire cria em Deus? - exclamam o


italiano Mazela e todos os mazelas indígenas, Eles
sabem, quando muito, que Voltaire não podia dispensar
uru relojoeiro no relógio da fábrica do mundo. Não
obstante, alcunham-no de ímpio. Pois o deísta Voltaire
escreveu alguma coisa mais significativa da sua
religiosidade: Parece-me absurdo - disse ele - fazer
depender a existência de Deus de A + B dividido por Z.
Que seda do género humano, se fosse preciso estudar a Fonte [3]
dinâmica e a astronomia para conhecer o Ente
supremo? Para ver o dia bastam os olhos; não se faz
mister a álgebra.» No Dicionário Filosófico, art.
Religião, escreve Voltaire:

«Meditava eu esta noite, absorto na contemplação da natureza, e admirava


a imensidade, a rotação, as relações desses globos infinitos; e assombrava-
me superiormente a inteligência que preside a esses vastos maquinismos.
Dizia eu comigo: É forçoso ser cego para não sentir o deslumbramento
deste espectáculo; é preciso ser estúpido para lhe não reconhecer um
criador; é preciso ser sandeu para o não adorar. Que preito de adoração
devo eu prestar-lhe? Esse preito não será o mesmo em toda a extensão do
espaço, visto que é o mesmo o supremo poder que igualmente impera

62
nessa imensidade? Um ser pensante que habitasse uma estrela na Via
Láctea não lhe deve homenagem idêntica à do ente pensante desta
esferazinha em que habitamos? Se a luz é uniforme para o astro de Sírio e
para nós, a moral deve ser uniforme. Se um animal sensível e pensante em
Sírio nasceu do pai e mãe que se empenharam na sua felicidade, deve-lhes
tanto amor como nós aqui devemos a nossos pais. Se alguém na Via Láctea
encontra um indigente, e, podendo valer-lhe, o não socorre, delinquiu
perante todos os globos.»

Voltaire não poderia compreender o Ente supremo que adorava; mas


teve a mais vasta compreensão da caridade. Como testemunho da sua
crença em um só Deus, mandou erigir uma igreja, com a seguinte
inscrição: A DEUS CONSAGROU VOLTAIRE.

DEO
EREXIT
VOLTAIRE

Aqui está um ateu como Guerra Junqueiro... sem


igreja.

Quanto à estesia do titulo A Velhice do Padre


Eterno, oferecem-se alguns reparos de índole caturra e
bastantemente académica. Se o Padre é eterno, a
eternidade do organismo consiste nos seus predicados
refractários à acção desorganizadora do tempo que
degenera o vitalismo da fibra. Eternidade e velhice são
incompatíveis, inconciliáveis. Esta é a doutrina que me
parece mais correntia em todas as Havanesas e em
todos os gabinetes de leitura nacionais. Ora agora, se os
Fonte [4]
preconceitos que Guerra Junqueiro satiriza
pertencessem ao passado, e estivessem actualmente
abolidos, poderia admitir-se alegoricamente que o Padre
Eterno, a cuja sombra medraram esses preconceitos,
envelhecesse; mas o eminente poeta satiriza-os porque
vigoram e subsistem: logo, o Padre Eterno está robusto
e muito vivedoiro.

A velhice é doença ou não é? Se não é, por que nos ensinaram


transcendentalmente o senectus est morbus? Se é, podemos conjecturar da
juvenil saúde de Jeová no Céu, pelas medranças salubérrimas da Estupidez
na Terra. Cá em baixo, com o óleo dos maus fígados da hipocrisia dá-se ao
espírito a robustez que o óleo dos fígados boas de bacalhau instila nos
tecidos adiposos.

O Padre Eterno, à vista de certas coisas e de certos


sujeitos que o desacreditam, talvez desejasse envelhecer
e morrer mas não pode. Há-de viver eternamente como
a Calipso de Fénelon que ne pouvait se consoler, etc.

O livro do Sr. Guerra Junqueiro tem páginas que


sobreviveriam ao Padre Eterno, se ele pudesse morrer. Fonte [5]

A Circular é a sátira mais original, mais risonha e


63
perfeita do livro. As outras sugerem reminiscências de
catapultas da antiga fábrica jogadas ao baluarte do
Vaticano. A Circular tem uma espontaneidade
humorística, genial e preeminente que não pode ser
confrontada; porque é única, estreme, e tecida de
irrisórios elementos da vida moderna. Mais adiante vem
uma página magnífica. É o exórdio da Sesta do Snr.
Abade que ressona numa povoação assolada pela peste.

Como o livro de Guerra Junqueiro tem sido para a imprensa nacional e


brasileira uma «roupa de franceses», também eu, filiado na ilustre malta
de prezadíssimos ladrões e distintos colegas, trasladarei a primorosa
página para o meu livrinho:

O meio-dia bateu já na torre da Igreja.


A aldeia é silenciosa e triste. O Sol flameja.
Entre o surdo murmúrio abrasador da luz,
Como num grande forno, os grandes montes nus
Recozem-se, espirrando as urzes d’entre as fragas.
Um mendigo demente e coberto de chagas
Dorme estirado ao sol num modorra espessa;
E o mosqueiro febril nas lepras da cabeça
Enterra-lhe zumbindo o cáustico das lanças.
Andam só pela rua os porcos e as crianças.
Fome, desolação, luto, viuvez, miséria
Na aldeia morta. A terra, esquálida e funérea,
Em lugar das canções da abundância e do amor,
Do trigo verde a rir dentro da sebe em flor,
Calcinada e cruel cospe violentamente
Só o cardo torcido, epiléptico, ardente,
Rompendo duro e hostil, como a praga blasfema
Dum assassino quando um carcereiro o algema.
Secaram-se de todo as fontes e os regatos.
As cobras na aridez crepitante dos matos
Silvam. O ar carboniza as árvores sequiosas
Numa rútila poeira intensa de ventosas.
nos montes nus além nas secas epidermes
Os rebanhos são como um pulular de vermes.
E a abóbada do céu, concha de zinco em brasa,
Onde não passa a nódoa aérea duma asa,
Implacável contempla a terra solitária,
Como um sultão fitando a carcaça dum pária!

Isto é bom de lei.

Neste livro, escrínio de pedraria preciosa, há umas jóias fulvas de


cintilações ferinas como pupilas de feras assanhadas; há outras rubras
como grumos de sangue a esvurmar de feridas insanáveis no peito dos
netos de Caim, filho de nosso avô Adão; há os reflexos glaucos
esmeraldinos que verdejam como as escoriações dos esfacelos putredíneos;
mas esses versos que trasladei e outros que o leitor sabe de cor, são

64
punhados de límpidos diamantes sem as jaças da ironia, do ódio ou do
sarcasmo. O grande artista, por vezes, esqueceu-se da sua tarefa de
demolidor.

São Miguei de Seide, 1886

Camilo Castelo Branco

Fonte [6]
DE OS SIMPLES

REGRESSO AO LAR

Fonte [7]
Ai, há quantos anos que eu parti chorando
deste meu saudoso, carinhoso lar!...
Foi há vinte?... Há trinta?... Nem eu sei já quando!...
Minha velha ama, que me estás fitando,
Canta-me cantigas para me eu lembrar!...

CLIQUE AQUI PARA LER

Ai, há quantos anos que eu parti chorando


deste meu saudoso, carinhoso lar!...
Foi há vinte?... Há trinta?... Nem eu sei já quando!...
Minha velha ama, que me estás fitando,
Canta-me cantigas para me eu lembrar!...

Dei a volta ao mundo, dei a volta à vida...


Só achei enganos, decepções, pesar...
Oh, a ingénua alma tão desiludida!...
Minha velha ama, com a voz dorida.
Canta-me cantigas de me adormentar!...

Trago de amargura o coração desfeito...


Vê que fundas mágoas no embaciado olhar!
Nunca eu saíra do meu ninho estreito!...
Minha velha ama, que me deste o peito,
Canta-me cantigas para me embalar!...

Pôs-me Deus outrora no frouxel do ninho


Pedrarias de astros, gemas de luar...
Tudo me roubaram, vê, pelo caminho!...
Minha velha ama, sou um pobrezinho...
Canta-me cantigas de fazer chorar!...

65
Como antigamente, no regaço amado
(Venho morto, morto!...), deixa-me deitar!
Ai o teu menino como está mudado!
Minha velha ama, como está mudado!
Canta-lhe cantigas de dormir, sonhar!...

Canta-me cantigas manso, muito manso...


Tristes, muito tristes, como à noite o mar...
Canta-me cantigas para ver se alcanço
Que a minha alma durma, tenha paz, descanso,
Quando a morte, em breve, ma vier buscar!

DE PÁTRIA

PORTUGAL

Fonte [8]
Maior do que nós, simples mortais, este gigante
foi da glória dum povo o semideus radiante.
Cavaleiro e pastor, lavrador e soldado,
seu torrão dilatou, inóspito montado,
numa pátria... E que pátria! A mais formosa e linda
que ondas do mar e luz do luar viram ainda!

CLIQUE AQUI PARA LER

Maior do que nós, simples mortais, este gigante


foi da glória dum povo o semideus radiante.
Cavaleiro e pastor, lavrador e soldado,
seu torrão dilatou, inóspito montado,
numa pátria... E que pátria! A mais formosa e linda
que ondas do mar e luz do luar viram ainda!

Campos claros de milho moço e trigo loiro;


hortas a rir; vergéis noivando em frutos de oiro;
trilos de rouxinóis; revoadas de andorinhas;
nos vinhedos, pombais: nos montes, ermidinhas;
gados nédios; colinas brancas olorosas;
cheiro de sol, cheiro de mel, cheiro de rosas;
selvas fundas, nevados píncaros, outeiros
de olivais; por nogais, frautas de pegureiros;
rios, noras gemendo, azenhas nas levadas;
eiras de sonho, grutas de génios e de fadas:
riso, abundância, amor, concórdia, Juventude:

66
e entre a harmonia virgiliana um povo rude,
um povo montanhês e heróico à beira-mar,
sob a graça de Deus a cantar e a lavrar!
Pátria feita lavrando e batalhando: aldeias
conchegadinhas sempre ao torreão de ameias.
Cada vila um castelo. As cidades defesas
por muralhas, bastiões, barbacãs, fortalezas;
e, a dar fé, a dar vigor, a dar o alento,
grimpas de catedrais, zimbórios de convento,
campanários de igreja humilde, erguendo à luz,
num abraço infinito, os dois braços da cruz!
E ele, o herói imortal duma empresa tamanha,
em seu tuguriozinho alegre na montanha
simples vivia – paz grandiosa, augusta e mansa! -,
sob o burel o arnês, junto do arado a lança.
Ao pálido esplendor do ocaso na arribana,
di-lo-íeis, sentado à porta da choupana,
ermitão misterioso, extático vidente,
olhos no mar, a olhar sonambolicamente...
«Águas sem fim! Ondas sem fim! Que mundos novos
de estranhas plantas e animais, de estranhos povos,
ilhas verdes além... para além dessa bruma,
diademadas de aurora, embaladas de espuma!
Oh, quem fora, através de ventos e procelas,
numa barca ligeira, ao vento abrindo as velas,
a demandar as ilhas de oiro fulgurantes,
onde sonham anões, onde vivem gigantes,
onde há topázios e esmeraldas a granel,
noites de Olimpo e beijos de âmbar e de mel!»
E cismava, e cismava... As nuvens eram frotas,
navegando em silêncio a paragens ignotas...
– «Ir com elas...Fugir...Fugir!...» Ûa manhã,
louco, machado em punho, a golpes de titã,
abateu, impiedoso, o roble familiar,
há mil anos guardando o colmo do seu lar.
Fez do tronco num dia uma barca veleira,
um anjo à proa, a cruz de Cristo na bandeira...
Manhã de heróis... levantou ferro... e, visionário,
sobre as águas de Deus foi cumprir seu fadário.
Multidões acudindo ululavam de espanto.
Velhos de barbas centenárias, rosto em pranto,
braços hirtos de dor, chamavam-no... Jamais!
Não voltaria mais! Oh! Jamais! Nunca mais!
E a barquinha, galgando a vastidão imensa,
ia como encantada e levada suspensa
para a quimera astral, a músicas de Orfeus:
o seu rumo era a luz; seu piloto era Deus!
Anos depois, volvia à mesma praia enfim
uma galera de oiro e ébano e marfim,

67
atulhando, a estoirar, o profundo porão
diamantes de Golconda e rubins de Ceilão!

DE POESIAS DISPERSAS

ADORAÇÃO

Fonte [9]
Eu não te tenho amor simplesmente. A paixão
Em mim não é amor; filha, é adoração!
Nem se fala em voz baixa à imagem que se adora.

CLIQUE AQUI PARA LER

Eu não te tenho amor simplesmente. A paixão


Em mim não é amor; filha, é adoração!
Nem se fala em voz baixa à imagem que se adora.
Quando da minha noite eu te contemplo, aurora,
E, estrela da manhã, um beijo teu perpassa
Em meus lábios, oh! quando essa infinita graça
do teu piedoso olhar me inunda, nesse instante
Eu sinto – virgem linda, inefável, radiante,
Envolta num clarão balsâmico da lua,
A minh'alma ajoelha, trémula, aos pés da tua!
Adoro-te!... Não és só graciosa, és bondosa:
Além de bela és santa; além de estrela és rosa.
Bendito seja o deus, bendita a Providência
Que deu o lírio ao monte e à tua alma a inocência,
O deus que te criou, anjo, para eu te amar,
E fez do mesmo azul o céu e o teu olhar!...

Carta A F.

És tu quem me conduz, és tu quem me alumia,


Para mim não desponta a aurora, não é dia,
Se não vejo os dois sóis azuis do teu olhar.
Deixei-te há pouco mais dum mês, – mês secular
E nessa noite imensa, ah, digo-te a verdade,
Iluminou-me sempre o luar da saudade.
E nesses montes nus por onde eu tenho andado,
Trágicos vagalhões dum mar petrificado,
Sempre adiante de mim dentre a aridez selvagem,
Vi como um lírio branco erguer-se a tua imagem.
Nunca te abandonei! Nunca me abandonaste!
És o sol e eu a sombra. És a flor e eu a haste.
Na hora em que parti meu coração deixei-o
68
Na urna virginal desse divino seio,
E o teu sinto-o eu aqui a bater de mansinho
Dentro em meu peito, como uma rola em seu ninho!
Guerra Junqueiro
VIAGEM

Fonte [10]
Desde aquela dor tamanha
Do momento em que parti
Um só prazer me acompanha,
Filha, o de pensar em ti:

Por sobre a negra paisagem


Do meu ermo coração
O luar branco da tua imagem
Veste um benigno clarão.

(Clique aqui) (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.)

LEIA MAIS:
Aprofunde sua leitura da poética de Guerra Junqueiro. No Material de
Apoio, você encontrará a versão eletrônica de A velhice do Padre Eterno
(velhice_padreeterno.pdf) (Visite a aula online para realizar download
deste arquivo.).

FONTES DAS IMAGENS


1. http://2.bp.blogspot.com/-uwxZYpnAUcA/VddutE5xWFI/AAAAAAAAN
Z8/kNHwQefcfxg/s1600/seca-nordeste.jpg
2. http://1.bp.blogspot.com/_EUk_hsxZ1Vw/SWp9Z7lJ6WI/AAAAAAAA
HLA/zgKsJUB2jPE/s320/prometeu_especial.jpg
3. http://bp2.blogger.com/_uIW_2NaSPDc/SI5qVv84TFI/AAAAAAAABr
E/9FXs4UzXiRc/S1600-R/guerra_junqueiro.jpg
4. http://2.bp.blogspot.com/_sZKlFekhQ0w/R6fXy6UJN6I/AAAAAAAAA
OY/mDXOXsdMJ_w/s400/fdfdfdfdf.JPG
5. http://farm4.static.flickr.com/3611/3510053663_29c0e7728f.jpg?v=0
6. http://www.diariodetrasosmontes.com/images/noticias/camilo_cb.jpg
7. http://2.bp.blogspot.com/_G76NFNcUugU/R8JAazSqnhI/AAAAAAAA
BnM/sjGk8GBBUxE/s320/PP-JDG0018~Back-to-Nature-Posters.jpg
8. http://farm1.static.flickr.com/110/257781235_9687097dfe.jpg?v=0
9. http://4.bp.blogspot.com/_vhd7L0sWqrM/R9h3Bt0_IWI/AAAAAAAA
AE4/zL1bPIoF2Os/s320/romantismo-8.jpg
10. http://3.bp.blogspot.com/_NnGhBcy6o04/SJnUw3GMI2I/AAAAAAA
AA8E/yXnFiWlgQ0E/s400/BXK20759_lago-e-luar800.jpg

69
11. http://www.denso-wave.com/en/

Responsável: Profª. Ana Márcia Alves Siqueira


Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual

70
LITERATURA PORTUGUESA II
AULA 03: A GERAÇÃO DE 70 E A POESIA REALISTA

TÓPICO 04: A POESIA IMPRESSIONISTA DE CESÁRIO VERDE

CESÁRIO VERDE

José Joaquim Cesário Verde (Lisboa 1855-1886) cursou Letras na


Universidade de Lisboa, mas não se formou, tendo que ajudar o pai no
comércio. Colaborou com poemas para o Diário de Notícias, o Diário da
Tarde, o Ocidente, dentre outros. Morreu de tuberculose ainda muito jovem.
Silva Pinto reuniu os poemas do amigo no volume O LIVRO DE CESÁRIO
VERDE (1887). Foi muito apreciado pelos modernistas, particularmente por
Fonte [1]
Fernando Pessoa.

O POETA-PINTOR

Cesário Verde é conhecido como poeta-pintor pelas descrições de seus


textos. A influência de Baudelaire pode ser percebida no conteúdo crítico de
sua crônica poética. Seus poemas costumam ser divididos segundo o
contexto que retratam: urbanos e rurais. Em poemas como “O sentimento
dum ocidental”, composto em decassílabos, o leitor é convidado a passear
com o narrador, que vai revelando o cotidiano de Lisboa sob um olhar
crítico. Outro dado a considerar é sua visão sobre a mulher, vista sem
idealização sob o filtro psicológico realista.

◾ De O LIVRO DE CESÁRIO VERDE

O SENTIMENTO DE UM OCIDENTAL
I AVE MARIA
Nas nossas ruas, ao anoitecer,
Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer.

O céu parece baixo e de neblina,


O gás extravasado enjoa-me, perturba-me;
E os edifícios, com as chaminés, e a turba
Toldam-se duma cor monótona e londrina.

Batem os carros de aluguer, ao fundo,


Levando à via-férrea os que se vão. Felizes!
Ocorrem-me em revista, exposições, países:
Madrid, Paris, Berlim, Sampetersburgo, o mundo!

Semelham-se a gaiolas, com viveiros,


As edificações somente emadeiradas:
Como morcegos, ao cair das badaladas,
Saltam de viga em viga, os mestres carpinteiros.

Voltam os calafates, aos magotes,


De jaquetão ao ombro, enfarruscados, secos,
Embrenho-me a cismar, por boqueirões, por becos,
Ou erro pelos cais a que se atracam botes.

71
E evoco, então, as crónicas navais:
Mouros, baixéis, heróis, tudo ressuscitado
Luta Camões no Sul, salvando um livro a nado!
Singram soberbas naus que eu não verei jamais!

E o fim da tarde inspira-me; e incomoda!


De um couraçado inglês vogam os escaleres;
E em terra num tinido de louças e talheres
Flamejam, ao jantar, alguns hotéis da moda.

Num trem de praça arengam dois dentistas;


Um trôpego arlequim braceja numas andas;
Os querubins do lar flutuam nas varandas;
Às portas, em cabelo, enfadam-se os lojistas!

Vazam-se os arsenais e as oficinas;


Reluz, viscoso, o rio, apressam-se as obreiras;
E num cardume negro, hercúleas, galhofeiras,
Correndo com firmeza, assomam as varinas.

Vêm sacudindo as ancas opulentas!


Seus troncos varonis recordam-me pilastras;
E algumas, à cabeça, embalam nas canastras
Os filhos que depois naufragam nas tormentas.

Descalças! Nas descargas de carvão,


Desde manhã à noite, a bordo das fragatas;
E apinham-se num bairro aonde miam gatas,
E o peixe podre gera os focos de infecção!

II NOITE FECHADA
Toca-se às grades, nas cadeias. Som
Que mortifica e deixa umas loucuras mansas!
O Aljube, em que hoje estão velhinhas e criancas,
Bem raramente encerra uma mulher de "dom"!

E eu desconfio, até, de um aneurisma


Tão mórbido me sinto, ao acender das luzes;
À vista das prisões, da velha Sé, das Cruzes,
Chora-me o coração que se enche e que se abisma.

A espaços, iluminam-se os andares,


E as tascas, os cafés, as tendas, os estancos
Alastram em lençol os seus reflexos brancos;
E a Lua lembra o circo e os jogos malabares.

Duas igrejas, num saudoso largo,


Lançam a nódoa negra e fúnebre do clero:
Nelas esfumo um ermo inquisidor severo,
Assim que pela História eu me aventuro e alargo.

Na parte que abateu no terremoto,


Muram-me as construções rectas, iguais, crescidas;

72
Afrontam-me, no resto, as íngremes subidas,
E os sinos dum tanger monástico e devoto.

Mas, num recinto público e vulgar,


Com bancos de namoro e exíguas pimenteiras,
Brônzeo, monumental, de proporções guerreiras,
Um épico doutrora ascende, num pilar!

E eu sonho o Cólera, imagino a Febre,


Nesta acumulação de corpos enfezados;
Sombrios e espectrais recolhem os soldados;
Inflama-se um palácio em face de um casebre.

Partem patrulhas de cavalaria


Dos arcos dos quartéis que foram já conventos;
Idade Média! A pé, outras, a passos lentos,
Derramam-se por toda a capital, que esfria.

Triste cidade! Eu temo que me avives


Uma paixão defunta! Aos lampiões distantes,
Enlutam-me, alvejando, as tuas elegantes,
Curvadas a sorrir às montras dos ourives.

E mais: as costureiras, as floristas


Descem dos magasins, causam-me sobressaltos;
Custa-lhes a elevar os seus pescoços altos
E muitas delas são comparsas ou coristas.

E eu, de luneta de uma lente só,


Eu acho sempre assunto a quadros revoltados:
Entro na brasserie; às mesas de emigrados,
Ao riso e à crua luz joga-se o dominó.

III AO GÁS
E saio. A noite pesa, esmaga. Nos
Passeios de lajedo arrastam-se as impuras.
Ó moles hospitais! Sai das embocaduras
Um sopro que arrepia os ombros quase nus.

Cercam-me as lojas, tépidas. Eu penso


Ver círios laterais, ver filas de capelas,
Com santos e fiéis, andores, ramos, velas,
Em uma catedral de um comprimento imenso.

As burguesinhas do Catolicismo
Resvalam pelo chão minado pelos canos;
E lembram-me, ao chorar doente dos pianos,
As freiras que os jejuns matavam de histerismo.

Num cutileiro, de avental, ao torno,


Um forjador maneja um malho, rubramente;
E de uma padaria exala-se, inda quente,
Um cheiro salutar e honesto a pão no forno.

73
E eu que medito um livro que exacerbe,
Quisera que o real e a análise mo dessem;
Casas de confecções e modas resplandecem;
Pelas vitrines olha um ratoneiro imberbe.

Longas descidas! Não poder pintar


Com versos magistrais, salubres e sinceros,
A esguia difusão dos vossos reverberos,
E a vossa palidez romântica e lunar!

Que grande cobra, a lúbrica pessoa,


Que espartilhada escolhe uns xales com debuxo!
Sua excelência atrai, magnética, entre luxo,
Que ao longo dos balcões de mogno se amontoa.

E aquela velha, de bandós! Por vezes,


A sua traîne imita um leque antigo, aberto,
Nas barras verticais, a duas tintas. Perto,
Escarvam, à vitória, os seus mecklemburgueses.

Desdobram-se tecidos estrangeiros;


Plantas ornamentais secam nos mostradores;
Flocos de pós-de-arroz pairam sufocadores,
E em nuvens de cetins requebram-se os caixeiros.

Mas tudo cansa! Apagam-se nas frentes


Os candelabros, como estrelas, pouco a pouco;
Da solidão regouga um cauteleiro rouco;
Tornam-se mausoléus as armações fulgentes.

"Dó da miséria!... Compaixão de mim!..."


E, nas esquinas, calvo, eterno, sem repouso,
Pede-me sempre esmola um homenzinho idoso,
Meu velho professor nas aulas de Latim!

IV HORAS MORTAS
O tecto fundo de oxigénio, de ar,
Estende-se ao comprido, ao meio das trapeiras;
Vêm lágrimas de luz dos astros com olheiras,
Enleva-me a quimera azul de transmigrar.

Por baixo, que portões! Que arruamentos!


Um parafuso cai nas lajes, às escuras:
Colocam-se taipais, rangem as fechaduras,
E os olhos dum caleche espantam-me, sangrentos.

E eu sigo, como as linhas de uma pauta


A dupla correnteza augusta das fachadas;
Pois sobem, no silêncio, infaustas e trinadas,
As notas pastoris de uma longínqua flauta.

Se eu não morresse, nunca! E eternamente


Buscasse e conseguisse a perfeição das cousas!

74
Esqueço-me a prever castíssimas esposas,
Que aninhem em mansões de vidro transparente!

Ó nossos filhos! Que de sonhos ágeis,


Pousando, vos trarão a nitidez às vidas!
Eu quero as vossas mães e irmãs estremecidas,
Numas habitações translúcidas e frágeis.
Ilustração de Bernardo Marques
Ah! Como a raça ruiva do porvir,
E as frotas dos avós, e os nómadas ardentes,
Nós vamos explorar todos os continentes
E pelas vastidões aquáticas seguir!

Mas se vivemos, os emparedados,


Sem árvores, no vale escuro das muralhas!...
Julgo avistar, na treva, as folhas das navalhas
E os gritos de socorro ouvir, estrangulados.

E nestes nebulosos corredores


Nauseiam-me, surgindo, os ventres das tabernas;
Na volta, com saudade, e aos bordos sobre as pernas,
Cantam, de braço dado, uns tristes bebedores.

Eu não receio, todavia, os roubos;


Afastam-se, a distância, os dúbios caminhantes;
E sujos, sem ladrar, ósseos, febris, errantes,
Amareladamente, os cães parecem lobos.

E os guardas que revistam as escadas,


Caminham de lanterna e servem de chaveiros;
Por cima, as imorais, nos seus roupões ligeiros,
Tossem, fumando sobre a pedra das sacadas.

E, enorme, nesta massa irregular


De prédios sepulcrais, com dimensões de montes,
A Dor humana busca os amplos horizontes,
E tem marés, de fel, como um sinistro mar!

(Em Portugal a Camões, publicação extraordinária do Jornal de Viagens


do Porto, no dia 10 de Junho de 1880)

LEITURA COMPLEMENTAR
Leia mais...

Deslumbramentos (Visite a aula online para realizar download deste


arquivo.)

À débil (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.)

De tarde (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.)

Vaidosa (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.)

75
LEIA MAIS:
No Material de Apoio, está disponível para sua leitura a edição
eletrônica de O livro de Cesário Verde (livrodecesarioverde.pdf) (Visite a
aula online para realizar download deste arquivo.).

FÓRUM
Após a leitura dos poemas de Cesário Verde disponíveis na aula, você
devem preparar um comentário para postar no fórum apontando as
características realistas e impressionistas que perceberam nesse poemas.
Aproveitem para discutir suas impressões sobre a poesia realista, tanto a
tendência filosófica revolucionário de Antero de Quental, quanto a
abordagem do cotidiano de Cesário Verde.

REFERÊNCIAS
JUNQUEIRO, Guerra. A VELHICE DO PADRE ETERNO. São Paulo:
Martim Claret,

QUENTAL, Antero. ODES MODERNAS. Porto: Porto Editora, s.d.

VERDE, Cesário. POESIAS COMPLETAS DE CESÁRIO VERDE. Rio de


Janeiro : Ediouro, 1987.

FONTES DAS IMAGENS


1. http://2.bp.blogspot.com/_9NMDiv_Ogjc/SGljm8J3IXI/AAAAAAAAAY
U/Hk5mGYLhE0c/s400/Ces%C3%A1rio+Verde.jpg
2. http://www.denso-wave.com/en/

Responsável: Profª. Ana Márcia Alves Siqueira


Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual

76
LITERATURA PORTUGUESA II
AULA 04: A PROSA REALISTA

TÓPICO 01: O COMBATE DO REALISMO AO IDEALISMO

Do ponto de vista cultural, o século XIX foi o século do cientificismo e


do materialismo. Há, no meio intelectual, um grande entusiasmo com a ideia
de que a ciência tem um papel redentor da humanidade. É comum, então, a
crença positivista na possibilidade de que o ser humano, através da
observação metódica dos fatos, pode apropriar-se da verdade. São versões
Fonte [1] filosóficas representativas desse contexto:

• o Evolucionismo,

• o Determinismo,

• o Positivismo e

• o Materialismo Histórico e Dialético

MATERIALISMO E IDEALISMO
Contra o idealismo, levanta-se o conceito de que as construções
abstratas têm como base a realidade material. Assim, o idealismo romântico
dá lugar a uma estética baseada na observação atenta da realidade. Na
pintura, foi o pintor francês Gustave Courbet que primeiro colocou em
prática a estética realista, em quadros que chocaram o público e a crítica de
arte pelo fato de não se dedicar a representação de cenas históricas ou
alegóricas. Nas telas de Courbet, o prosaísmo do trabalho do dia-a-dia é
destacado, como no quadro Os quebradores de pedra (159x259 cm), de
1849:

GUSTAVE COURBET

Fonte [2]

Fonte [3]

77
Gustave Courbet, Os quebradores de pedra, 159x259 cm, 1849.

Na literatura, representam ruptura com o idealismo romântico as obras


de Gustave Flaubert e de Émile Zola. Flaubert, em Madame Bovary (1857),
prepara um estudo psicológico sobre a personagem feminina que nada
lembra o das heroínas românticas. Zola, a partir de THÉRÈSE RAQUIN
(1867), propôs o romance experimental, também chamado romance de tese,
em que o escritor deveria empregar na ficção procedimentos análogos ao dos
cientistas.

MADAME BOVARY (1857)

Fonte [4]

ZOLA

Fonte:

EÇA DE QUEIRÓS CONTRA O IDEALISMO


Em Portugal, coube a Eça de Queirós introduzir a prosa realista. Para
ele, a estética realista não era um fato exclusivo de seu tempo. Segundo Eça,
sempre houve na história da arte – particularmente na literatura – autores
que imaginavam a realidade e autores que a pesquisavam. Aqueles criavam
obras que teriam a consistência de sua imaginação; já estes deixavam
verdadeiros documentos para a posteridade.
Observe, no trecho seguinte, como Eça de Queirós recusa a maneira
romântica de representar a realidade, entendendo-a como mera mistificação.

78
LEITURA COMPLEMENTAR
Leia mais...

IDEALISMO E REALISMO - (Eça de Queirós) (Visite a aula online


para realizar download deste arquivo.)

FONTES DAS IMAGENS


1. http://i1.wp.com/www.lamentiraestaahifuera.com/wp-
content/uploads/2014/06/creacionismo_thumb.jpg?resize=514%2C250
2. http://tbn3.google.com/images?
q=tbn:uDa_KxDhSPFeDM:http://www.jornalmudardevida.net/wp-
content/uploads/2009/03/gustave-courbet.jpg
3. http://tbn2.google.com/images?q=tbn:ViL-
FM6hcusVfM:http://witcombe.sbc.edu/modernism/images/courbet-
stonebreakers.jpg
4. http://www.librosgratis.org/files/2008/08/madame-bovary.jpg
5. http://www.denso-wave.com/en/

Responsável: Profª. Ana Márcia Alves Siqueira


Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual

79
LITERATURA PORTUGUESA II
AULA 04: A PROSA REALISTA

TÓPICO 02: A PROSA DE EÇA DE QUEIRÓS

José Maria de Eça de Queirós (Póvoa de Varzim, 1845–Neuilly-sur-


Seine, 1900) estudou Direito na Universidade de Coimbra. Amigo de Antero
de Quental, participou do Cenáculo e, em 1871, das Conferências
Democráticas do Casino Lisbonense, proferindo a palestra “A literatura
nova: o Realismo como nova expressão da arte” . Em Leiria, escreveu O
crime do Padre Amaro, publicado em 1875, romance que se passa nessa
cidade. Teve atuação intensa no jornalismo, inclusive como correspondente.
Eça de Queirós em 1882 [1] Eça entrou na carreira diplomática, tendo servido em Cuba, na Inglaterra e
na França, onde faleceu.

As primeiras experiências de Eça de Queirós, a partir de 1866, têm


influência do Romantismo; esses textos foram postumamente agrupados nas
PROSAS BÁRBARAS (1905). Em 1875, com O CRIME DO PADRE AMADO,
Eça de Queirós inaugurou o Realismo português. Este romance, somado a O
PRIMO BASÍLIO (1878), O MANDARIM (1879), A RELÍQUIA (1887) e OS
MAIAS (1888), representam a fase mais afinada do autor com o Realismo. Já
em A ILUSTRE CASA DE RAMIRES (1900), A CORRESPONDÊNCIA DE
FRADIQUE MENDES (1900) e A CIDADE E AS SERRAS (1901), Eça quebra
com a ortodoxia realista, apresentando um proposta literária mais flexível e
conciliatória, de tendência memorialista.

Fonte [2]

OBRAS

Prosa ficcional: O MISTÉRIO DA ESTRADA DE SINTRA (1871, com


Ramalho Ortigão), O CRIME DO PADRE AMARO (1875), A TRAGÉDIA DA
RUA DAS FLORES (1877-78), O PRIMO BASÍLIO (1878), O MANDARIM
(1880), AS MINAS DE SALOMÃO (1885), A RELÍQUIA (1887), OS MAIAS
(1888), UMA CAMPANHA ALEGRE (1890-91), A CORRESPONDÊNCIA DE
FRADIQUE MENDES (1900), A ILUSTRE CASA DE RAMIRES (1900), A
CIDADE E AS SERRAS(1901), CONTOS (1902), A CAPITAL (1925), O CONDE
DE ABRANHOS (1925), ALVES & COMPANHIA (1925).
Jornalismo e correspondência: PROSAS BÁRBARAS (1903), CARTAS DE
INGLATERRA (1905), ECOS DE PARIS (1905), CARTAS FAMILIARES E
BILHETES DE PARIS (1907), NOTAS CONTEMPORÂNEAS (1909), ÚLTIMAS
PÁGINAS (1912), CORRESPONDÊNCIA (1925), O EGITO (1926).

80
LEITURA COMPLEMENTAR
Eis aqui o resumo de texto acadêmico que recupera reflexões de
Antonio Candido sobre a obra de Eça de Queirós:

EÇA DE QUEIRÓS POR ANTONIO CANDIDO: “ENTRE CAMPO E


CIDADE”
Antonio Nery Augusto

RESUMO

Em 1945, na ocasião do centenário do nascimento de Eça de


Queirós, Antonio Candido escreveu um artigo intitulado “Entre Campo
e Cidade”, no qual propôs uma interpretação para a obra completa do
autor português. O texto fora publicado no Livro do centenário de Eça
de Queirós e posteriormente, em 1964, coligido no volume Tese
antítese. “Entre campo e cidade” ainda hoje é importantíssimo para a
compreensão da obra queirosiana, pois estabelece um contraponto à
crítica tradicional canônica que, quase sempre, exigiu um
posicionamento ideológico claro de Eça frente a diversos temas e
entendeu tudo aquilo que fora escrito depois de OS MAIAS (1888) como
produções desviadas da melhor inspiração crítica realista percebida em
obras anteriores como O CRIME DO PADRE AMARO (1871) e O PRIMO
BASÍLIO (1886). Candido propõe uma leitura dos escritos de Eça de
Queirós a partir da perspectiva dialética, fato que, além de superar a
concepção polarizada do Eça esquerdista das primeiras obras versus o
Eça direitista dos textos derradeiros – posições que direta ou
indiretamente a crítica tradicional sempre veiculou – supõe a liberdade
de criação autoral sem a necessária adesão a esta ou àquela vertente
ideológica. Como atualmente a produção queirosiana ainda é alvo da
polarização interpretativa, “Entre campo e cidade” torna-se, de fato,
atualíssimo, principalmente àqueles que buscam a revisão da crítica
literária canônica que, em muitos casos, fechou-se em interpretações
cristalizadas e relegou este ou aquele escritor ou, no caso de Eça, esta ou
aquela obra ao limbo da “má” literatura. O presente trabalho pretende
mostrar as particularidades do texto de Antonio Candido, bem como sua
interessante proposta ao analisar as obras de Eça de Queirós,
principalmente aquelas escritas na última década de vida do autor.

Leia o artigo completo em:

http://e-revista.unioeste.br/index.php/linguaseletras/article/view/73/49

TRECHOS DA PROSA DE EÇA DE QUEIRÓS


Nos excertos seguintes, é possível perceber alguns temas preferenciais e
o modo de narrar de Eça de Queirós. O espírito humano, na prosa realista de
Eça, é flagrado em situações que lhe denunciam a fraqueza moral. A
aparência das relações humanas é devassada no minucioso exame do
prosador, especialista no humor sarcástico.

81
O CRIME DO PADRE AMARO
PONTOS A OBSERVAR:

• humor;

• relação entre o ser humano e o animal;

• valorização social segundo o interesse pessoal;


Fonte [3]
• anticlericalismo.

O Crime do Padre Amaro (Clique aqui para ler) (Visite a aula online para
realizar download deste arquivo.)

O PRIMO BASÍLIO
PONTOS A OBSERVAR:

• hereditariedade;
Fonte [4]
• contraste de caracteres;

• análise crítica dos valores da vida burguesa;

• preparação irônica da trama (notícia de Basílio);

• oposição ao Romantismo;

• influência da cultura francesa.

O primo Basílio (Clique aqui para ler) (Visite a aula online para realizar
download deste arquivo.)

CURIOSIDADE
MACHADO DE ASSIS POLEMIZOU COM EÇA DE QUEIRÓS

O realismo de Eça de Queirós suscitou muitas críticas no seu tempo.


Uma das mais lúcidas, até porque não se baseia em preconceitos, mas na
estruturação da obra colocada em apreciação. A crítica de Machado de
Assis sobre conteúdo naturalista de O PRIMO BASÍLIO está no Material de
Apoio (machado_vs_eca.pdf). (Visite a aula online para realizar download
deste arquivo.) Não deixe de conferir essa parte de um duelo intelectual de
alto nível.

A ILUSTRE CASA DE RAMIRES


PONTOS A OBSERVAR:

• decadência hereditária;

• restauração do nacionalismo;

Fonte [5] • recuperação do romance histórico;

82
• construção de uma narrativa interna.

A ilustre casa de Ramires (Clique aqui para ler) (Visite a aula online para
realizar download deste arquivo.)

ALVES & CIA.


PONTOS A OBSERVAR:

• falência do casamento;

• adultério feminino;

• ironia.

Fonte
Alves & Cia (Clique aqui para ler) (Visite a aula online para realizar
download deste arquivo.)

LEIA MAIS:
No Material de Apoio, você encontrará as versões eletrônicas dos
seguintes trabalhos de Eça de Queirós: O crime do padre Amaro
(crime_do_padre_amaro.pdf) (Visite a aula online para realizar download
deste arquivo.), O primo Basílio (primo_basilio.pdf) (Visite a aula online
para realizar download deste arquivo.), O mandarim ( mandarim.pdf)
(Visite a aula online para realizar download deste arquivo.), A relíquia
(reliquia.pdf) (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.),
A ilustre Casa de Ramires (casa_ramires.pdf) (Visite a aula online para
realizar download deste arquivo.), Os Maias (maias.pdf) (Visite a aula
online para realizar download deste arquivo.), A cidade e as serras
(cidadeserras.pdf) (Visite a aula online para realizar download deste
arquivo.) e Alves & Cia. (alvesecia.pdf) (Visite a aula online para realizar
download deste arquivo.).

ATIVIDADE DE PORTFÓLIO
Para fazer esta atividade você deverá baixar o arquivo da obra O
primo Basílio e ler o segundo capítulo, no qual o narrador apresenta o
círculo personagens que comporão a história. Depois redija um
comentário crítico (duas páginas) em que discuta os seguintes aspectos
apontados na obra: a hereditariedade, a crítica aos valores burgueses, a
crítica ao romantismo, a ironia desmistificadora da idealização dos
personagens.

FONTES DAS IMAGENS


1. http://tbn3.google.com/images?
q=tbn:7Z3_nQTws8GkMM:http://purl.pt/93/1/iconografia/imagens/pp169
13v_1882_n108_1/pp16913v_1882_n108_1_3.jpg
2. http://images.portoeditora.pt/getresourcesservlet/image?
EBbDj3QnkSUjgBOkfaUbsI8xBp%
2F033q5Xpv56y8baM7z4MpvSrk4JKCZ615VMfm2&width=320

83
3. http://2.bp.blogspot.com/_Sr7RKXDfxU8/SPN1CTsbcUI/AAAAAAAAA
oc/I256R7DGYrQ/s400/crimeamaro.jpg
4. http://www.mensagenscomamor.com/images/livros/img/e/eca_de_qu
eiros-o_primo_basilio.jpg
5. http://mlb-s1-p.mlstatic.com/livro-a-ilustre-casa-de-ramires-eca-de-
queiros-11894-MLB20051329495_022014-O.jpg
6. http://www.denso-wave.com/en/

Responsável: Profª.Ana Márcia Alves Siqueira


Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual

84
LITERATURA PORTUGUESA II
AULA 04: A PROSA REALISTA

TÓPICO 03: OUTROS PROSADORES NO REALISMO E DO NATURALISMO

Além de Eça de Queirós, outros nomes merecem destaque na literatura


portuguesa do final do século XIX.

Com Abel Botelho, o Naturalismo avançou para temas até então


inexplorados na literatura lusitana, o que ocorreu com escândalo. Em O
BARÃO DE LAVOS (1891), o tema do homossexualismo, explorado como
índice de uma patologia social de base hereditária:
Retrato do Escritor Abel Botelho [1]

A plenitude da vida, a arrogância genital, a evolução orgânica ao


máximo, própria dos 32 anos, mantinham no barão ainda fortes e
dominantes as tendências naturais da virilidade. Ele tinha por enquanto
junto do efebo os mesmos apetites de penetração e de posse que o homem
sente de ordinário para com a mulher. Todavia, em raros momentos de
vertigem, ao contato da sua carne com aquela outra virilidade impetuosa e
fresca, percorria-lhe os músculos, fugidio, breve, um movimento efeminado;
Fonte [2]
faiscava-lhe no espírito uma pregustação de prazer que tivesse por base a
passividade, o abandono; entrava de suporar-lhe da vontade uma solicitação
em escorço de não se entregar, de ser possuído, de ser femeado, em suma. O
que era, a um tempo, corolário do seu temperamento, é sinal patognômico
do finalizar de uma raça inútil, do agonizar de uma família que vinha assim
desfazer-se, podre das últimas aberrações e das últimas baixezas, na pessoa
do seu representante derradeiro. Era como o início da formação de um
edema de natureza moral, purulento, mole, crescendo traiçoeiramente sem
dor e sem pruridos, abeberando-se farto e rápido na degradativa essência do
doente, com numa esterqueira os cogumelos.

Fialho de Almeida notabilizou-se pelo conto, a exemplo de Os gatos


(1889) (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.), em que
se destaca uma narrativa poético-alegórica, que parecem anunciar o futuro
Miguel Torga.

LEITURA COMPLEMENTAR
Leia aqui o texto Ninho das Águias. (Visite a aula online para realizar
download deste arquivo.)

FÓRUM
O conto de Fialho de Almeida - O cancro, após ler o conto Ninho de
águia, leia também o conto "O cancro", de Fialho de Almeida (...). Acesse o
link para o texto no material de apoio da disciplina (abrir o link para o
texto) (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.).

REFERÊNCIAS
JUNQUEIRO, Guerra. A VELHICE DO PADRE ETERNO. Porto: Lello,
2000.
85
______. A MORTE DE D. JOÃO. 14. ed. Porto: Lello, 19--.
______. A MUSA EM FÉRIAS: idílios e sátiras. 10. ed. Porto Alegre:
Lello & Irmão, 1949.
______. ANTOLOGIA PARA A JUVENTUDE. Porto: Lello, 1958.
______. HORAS DE LUTA. Porto: Lello & Irmão, 1965.
______. OS SIMPLES. Lisboa: Mem Martins; Europa-América, 19--.
______. PÁTRIA. 8. ed. Porto: Lello & Irmão, 1950.
______. POESIAS DISPERSAS. 5. ed. Porto: Lello & Irmão, 193--.
______. PROMETEU LIBERTADO. Porto: Chardron, 1926.
______. VIBRAÇÕES LÍRICAS. Porto: Lello & Irmão, 1945.

LOPES, Oscar. ANTERO DE QUENTAL: vida e legado de uma utopia.


Lisboa: Caminho, 1983.

MACHADO, Álvaro Manuel. A GERAÇÃO DE 70: uma revolução


cultural e literária. 2. ed. Lisboa: Instituto de Cultura e Língua
Portuguesa, 1981.

QUEIRÓS, Eça de; ORTIGÃO, Ramalho. MISTÉRIOS DA ESTRADA DE


SINTRA. Porto: Lello & Irmão, 19--.

QUEIRÓS, Eça de. A CAPITAL; O CONDE DE ABRANHOS; ALVES &


CIA. ; CORRESPONDÊNCIA; O EGITO; CARTAS INÉDITAS DE
FRADIQUE MENDES; UMA CAMPANHA ALEGRE; O MISTÉRIO DA
ESTRADA DE SINTRA; EÇA DE QUEIROZ ENTRE OS SEUS. Porto:
Lello & Irmão, 1979.

QUEIRÓS, Eça de. A CAPITAL. 8. ed. Porto: Lello & Irmão, 1957.
______. A CIDADE E AS SERRAS. Porto Alegre: L&PM, 1998.
______. A CORRESPONDÊNCIA DE FRADIQUE MENDES. Porto
Alegre: L & PM, 1997.
______. A ILUSTRE CASA DE RAMIRES. Lisboa: Livros do Brasil,
2005.
______. A RELÍQUIA. Porto: Lello & Irmão, 196?.
______. A TRAGÉDIA DA RUA DAS FLORES. Lisboa: J. Hetzel, 1980.
______. ALVES & C.A. 8. ed. Porto: Lello & Irmão, 1952.
______. CARTAS FAMILIARES E BILHETES DE PARIS: 1893-1896.
Porto: Lello & Irmão, 1945.
______. CARTAS INÉDITAS DE FRADIQUE MENDES E MAIS
PÁGINAS ESQUECIDAS. 3. ed. Porto: Lello & Irmão, 1945.
______. CONTOS. Porto: Anagrama, s.d.
______. CORRESPONDÊNCIA. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da
Moeda, 1983.
______. NOTAS CONTEMPORÂNEAS. Porto: Lello & Irmão, 1945.
______. O CONDE D'ABRANHOS. 8. ed. Porto: Lello & Irmão, 1945.
______. O CRIME DO PADRE AMARO. Lisboa: Livros do Brasil,
2005.
______. O EGITO. 5. ed. Porto: Lello & Irmão, 1946.
______. O MANDARIM. Porto: Lello & Irmão, 1945.
______. O PRIMO BASÍLIO. Lisboa: Livros do Brasil, s.d.
______. OBRAS DE EÇA DE QUEIRÓS. Porto: Lello & Irmão, s.d.
______. OS MAIAS; CARTAS DE INGLATERRA; ÚLTIMAS PÁGINAS;
86
AS MINAS DE SALOMÃO; CORRESPONDÊNCIA DE FRADIQUE
MENDES; ECOS DE PARIS; CARTAS FAMILIARES E BILHETES DE
PARIS; NOTAS CONTEMPORÂNEAS. Porto: Lello & Irmão, 19??.
______. OS MAIAS. Porto: Lello & Irmão, 1966.
______. PROSAS BÁRBARAS. Porto: Lello & Irmão, 1945.
______. SINGULARIDADES DE UMA RAPARIGA LOURA. São Paulo:
Global, 1986.
______. A CIDADE E AS SERRAS. Porto: Lello & Irmão, 1901.

QUENTAL, Antero de. ODES MODERNAS. Lisboa: Ulmeiro, 1983.


______. PÁGINAS DISPERSAS. Lisboa: Presença, 1966.
______. RAIOS DE EXTINTA LUZ E OUTRAS POESIAS. Lisboa: Couto
Martins, 1948.
______. SONETOS COMPLETOS E POEMAS ESCOLHIDOS. Rio de
Janeiro: Livros de Portugal, 1942.
______. SONETOS. Lisboa: Sá da Costa, 1976.
______. ZARA. 2. ed. Lisboa: Imprensa Nacional, 1925.

VERDE, Cesário. O LIVRO DE CESÁRIO VERDE. 11. ed. Lisboa:


Minerva, s.d.

FONTES DAS IMAGENS


1. http://farm1.static.flickr.com/229/501375393_dba311cb5d.jpg
2. http://bp2.blogger.com/_-RaUPLSop8c/SHx85SPffyI/AAAAAAAAEAI/
5UkFL8nRIfo/s400/bar%C3%A3o+de+lavos.jpg
3. http://www.denso-wave.com/en/

Responsável: Profª. Ana Márcia Alves Siqueira


Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual

87

Você também pode gostar