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11/04/23, 14:34 Acumulação primitiva do capital

Acumulação primitiva do capital


Prof. João Rafael Gualberto de Souza Morais
false

Descrição

A acumulação primitiva de capital como etapa incipiente do sistema capitalista. O processo histórico e a
transformação das estruturas produtivas e sociais europeias modernas. A ampliação dos interesses das
potências do velho continente para as demais partes do globo.

Propósito

Conhecer a origem do sistema capitalista é importante porque consiste no processo de formação das
fundações da sociedade capitalista moderna, com destaque para seus aspectos ideológicos e materiais
(econômicos). A compreensão dessas etapas auxilia na interpretação mais acurada do mundo
contemporâneo, marcado intensamente pelas contradições políticas, sociais e econômicas decorrentes
desse processo, que ainda estão em curso.

Objetivos
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Módulo 1

Mercantilismo e Grandes Navegações


Reconhecer as estruturas do sistema mercantilista e o colonialismo como produto histórico.

Módulo 2

As revoluções burguesas
Analisar as revoluções burguesas e seus impactos para o desenvolvimento e para a consolidação do
sistema capitalista.

Módulo 3

A Primeira Revolução Industrial


Relacionar a Revolução Idustrial e suas conexões com a ascensão do sistema capitalista.

Introdução
Entende-se por acumulação primitiva de capital o conjunto de processos que permitiram as primeiras
concentrações de riqueza (ou capitais) que viabilizaram o surgimento do sistema capitalista. Foi a
partir dessa acumulação inicial que alguns países europeus, sobretudo devido às práticas
mercantilistas, iniciaram o caminho que os conduziria ao patamar de grandes potências. Esses
países, como veremos no decorrer dos próximos módulos, emergiram entre os séculos XV e XVI
como Estados centralizados competindo por mercados na Europa, competição que os levou à busca
por mais oportunidades comerciais em outras partes do globo.

Os primórdios do capitalismo, assim, estão fundados na expansão política e comercial dos primeiros
Estados europeus, que levou a humanidade pela primeira vez a estreitar de modo irreversível suas
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relações em escala global. Desse processo de acumulação/centralização, surgiram os primeiros


Estados capazes de empreender as Grandes Navegações que levariam à conquista da maior parte do
globo terrestre por algumas nações europeias.

1 - Mercantilismo e Grandes Navegações


Ao final deste módulo, você deverá ser capaz de reconhecer as estruturas
do sistema mercantilista e o colonialismo como produto histórico.

Renascimento e Navegações

Renascimento e o início das Grandes Navegações


O mercantilismo e as Grandes Navegações constituem o principal marco de origem da História Moderna e
representam elementos centrais dos processos de ruptura com a ordem política, econômica e social da
Idade Média. Estudaremos, aqui, a transição de mundos que marcou profundamente os séculos XV e XVI,

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que viram a emergência dos Estados Modernos europeus e seus respectivos esforços para expandirem-se
em busca de novos mercados e novas fontes de matérias-primas e mão de obra. Dessa expansão, nasceu o
fenômeno batizado de “globalização”, ou seja, a interligação dos continentes e civilizações sob os mesmos
esteios políticos, econômicos e, consequentemente, culturais.

O século XV é considerado um marco temporal importante para a história moderna,


com o fim do Império Bizantino e a chegada de Colombo à América. Esses dois
eventos influenciaram o fim do ordenamento feudal e o início de um novo mundo.

Entre os séculos XIV e XV, transformações econômicas profundas na sociedade europeia, como a
circulação e acumulação de metais entre autoridades políticas e comerciantes, viabilizaram as expedições
por novos territórios.

O feudalismo foi corroído pelo sistema de vassalagem, pelo crescimento da economia monetária e pelo
poder centralizado nas mãos dos reis, que detinham o controle em territórios cada vez maiores.

Comentário
Estados tornaram-se poderosos por meio desses ordenamentos políticos que impactaram a cultura e a
sociedade. Porém, o imaginário e a mentalidade do europeu do século XV continuavam medievais devido à
poderosa e inabalável Igreja Católica, que pregava uma religião dominante.

Esse cenário dogmático começou a mudar ainda no século XV por toda a Europa, com a invenção da
imprensa por Gutenberg, o que aumentou a difusão de conhecimentos que ampliaram horizontes, culminou
na Reforma Protestante, propagou saberes científicos das mais diversas áreas e diversificou impressões
sobre o mundo.

Uma das características centrais desse novo conjunto de valores era o rompimento com os horizontes
medievais, sobretudo com o “dualismo” que marca a visão de mundo daquele período. Segundo essa ótica
da realidade, a existência das coisas está profundamente dominada por polaridades, tais como:

Corpo e alma;

Aparência e essência;

Bem e mal.

Foi do rompimento com esses padrões que emergiram novas formas de pensar o mundo que culminariam
no resgate à Filosofia, fora dos estertores da teologia, e na ciência moderna, caracterizada sobretudo pela
observação crítica, formulação de hipóteses e experimentação.

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O Homem Vitruviano, famoso desenho de Leonardo da Vinci, um dos artistas ícones do Renascimento. Pintura datada por volta de 1492,
mesmo ano da chegada dos espanhóis na América.

Ainda assim, os homens que invadiram e conquistaram as Américas, dando início ao colonialismo, eram
homens essencialmente medievais, dominados pelos antagonismos da visão dual da realidade. Tal forma
de ver o mundo viabilizou em primeiro lugar a conquista.

Estado Moderno

Estado Moderno e mercantilismo


Em meio a tantas transformações, os emergentes Estados europeus se lançaram ao mar em busca de
novos territórios para explorar ao longo dos séculos. Veja:

Século XV
Aqui a empresa teve seu início com Espanha e Portugal.

Século XVI
Nesse século houve a consolidação dos impérios ultramarinos espanhol e português.

Século XVII
E í d f i t i d l ã d
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Esse período foi protagonizado pela ascensão das potências protestantes, Inglaterra e
Holanda, além da católica França.

Enquanto na Idade Média a Europa era marcada política e economicamente por uma organização
descentralizada, tendo a Igreja Católica como estrutura de poder, a Idade Moderna, fruto do
desenvolvimento econômico impulsionado pelos impérios ultramarinos, foi caracterizada por um
ordenamento político centralizado: o Estado Moderno.

De milhares de unidades políticas espraiadas pelo continente, como feudos e pequenos reinos, o sistema
político europeu observou, durante os séculos finais da Idade Média, um processo de centralização que foi,
gradualmente, promovendo a ascensão de unidades políticas mais poderosas.

A primeira forma do Estado Moderno foi a mercantil: aumento do poder monetário


nas mãos de reis. O poder do Estado é um fim em si mesmo no mercantilismo,
profundamente identificado com os interesses do rei aliados aos da nobreza e da
incipiente burguesia.

Essa fase da história moderna é denominada de Antigo Regime: um momento de transição para a
contemporaneidade, marcado, por um lado, pela emergência dos valores do Humanismo do Renascimento
e, por outro, pelo lastro da autoridade régia e aristocrática que vinha das estruturas de poder feudais, agora
em direção à consolidação do Estado Moderno.

A competição entre Estados em ascensão se lançando em direção a regiões ainda novas e inexploradas
pelos europeus moldou um sistema baseado em grande centralização do poder político-militar-econômico
nas mãos da burocracia do Estado, em parceria com a atividade da burguesia mercantil, aliada ao rei e
interessada no poder do Estado como ferramenta para a expansão dos seus interesses privados. Sem essa
aliança entre público e privado, marca desse sistema, a burguesia europeia não teria sido capaz de
empreender a conquista, ato que demandou um forte aparato logístico e militar, que só foi possível graças
ao poder do Estado Moderno.

O processo de mercantilismo aconteceu primeiro na Península Ibérica. Portugal foi


pioneiro na expansão comercial, após Dinastia de Avis (1383), em buscas por rotas
alternativas às dos italianos, entre o Mediterrâneo e o Oriente, para as Índias.

Na Espanha, com a Reconquista, Aragão e Castela iniciam uma empresa mercantil que levará Colombo ao
continente americano, em 1942. Em seguida, no curso da “descoberta” da América, Cabral chega ao litoral

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da atual Bahia, em 1500. E assim o mercantilismo se consolida e enriquece a Europa, que fomenta as
Grandes Navegações sob as bases do colonialismo.

Domínio europeu

As Grandes Navegações e a conquista do mundo pelos


europeus
Como consequência do processo de centralização, os Estados europeus, financiados pela burguesia,
lançaram-se às Grandes Navegações em busca de expansão de mercados, fontes de matérias-primas e
rotas para o Oriente.

A confecção e impressão de mapas traduziam a curiosidade e ansiedade dos europeus por uma visão global que transcendia os limites de
sua própria civilização.

Atentemos agora para um resumo sistemático dos fatores centrais que motivaram e possibilitaram as
Grandes Navegações. Vamos lá!

A formação dos Estados Modernos


O poder dos Estados, em forte competição uns com os outros, os conduziu, a partir da aliança entre o poder
soberano e a burguesia mercantil, a novas fronteiras de conquista fora da Europa, sendo também
impulsionados pelos valores do Renascimento, que sublinhavam a curiosidade e a busca por novos
horizontes a explorar cientificamente.

A queda de Constantinopla
Com a perda do controle da região que liga a Europa à Ásia, em 1453, a necessidade de se buscar novas
rotas comerciais para as Índias impulsionou ainda mais a conquista de novas regiões.

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A necessidade de novos mercados


Com o avanço das manufaturas na Europa, impulsionadas pelo influxo de riquezas e pela competição entre
os Estados e suas atividades comerciais, era necessário encontrar mais mercados consumidores para os
produtos manufaturados europeus.

A falta de metais preciosos


O avanço da economia monetária causou o esgotamento das jazidas de metais europeias. A expansão do
sistema mercantil por diversos países europeus, com a consequente elevação dos gastos para financiar as
expedições, demandava novas fontes de metais preciosos.

A propagação da fé cristã
Os integrantes das Grandes Navegações e aqueles que as patrocinavam eram homens essencialmente
dotados de uma cultura medieval e, portanto, cristã, sobretudo católica (notadamente antes da Reforma
Protestante).

A busca pela ascensão material


O que motivava muitos dos homens que embarcaram nessas expedições era a expectativa de
enriquecimento rápido para a melhoria de seu status social. Além de riquezas locais, poderiam receber
comendas e títulos de nobreza.

O progresso tecnológico e científico


Os valores do Renascimento estimulavam a busca por novos horizontes para o conhecimento sobre o
mundo, o que resultava em grande impulso para as navegações. Além do impulso intelectual, o
desenvolvimento de novas tecnologias (tais como a bússola, o astrolábio, o quadrante, além da própria
caravela, inventada pelos portugueses) permitiu a realização do empreendimento das navegações por
longas distâncias. Apesar disso, muitos dos navegadores sequer imaginavam a existência de outro
continente pelo caminho, o que os levou a, por muito tempo, acreditarem ter chegado às Índias, como
pensou Cristóvão Colombo até o dia de sua morte.

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Grandes Navegações e origem do


capitalismo
Veja agora em que contexto ocorreram as chamadas Grandes Navegações, e sua relação com a origem do
capitalismo.

Colonialismo e colonialidade

A conquista do mundo pelos europeus: colonialismo e


colonialidade
“A Europa é indefensável”, afirmou Aimé Césaire em Discurso contra o colonialismo (2008). O que o autor
martinicano quis dizer com essa frase?

A crueldade da colonização espanhola está em diversas imagens da época.

Assim como tudo na História, as Grandes Navegações tiveram uma multiplicidade de causas e razões que,
combinadas, produziram a experiência fundadora do mundo moderno. Todos esses fatores levaram à
sistematização de relações internacionais baseadas na dominação de diversas regiões do mundo por
Estados europeus, desde a conquista da América entre finais do século XV e princípios do XVI. O

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colonialismo é o processo histórico correspondente a essa dominação, sua expressão não é apenas
política, militar e econômica, mas também cultural.

O conceito de colonialismo refere-se, na ótica da maioria dos autores, a uma


relação política e econômica, na qual a soberania de uma nação ou população
baseia-se no poder de outra nação, o que faz de tal nação um império.

Os europeus chegaram ao novo continente armados com inventos como canhões, armaduras, além de
levarem diversos patógenos causadores de doenças, como gripe, tifo, sarampo, dentre muitas outras. Diante
disso, as diversas civilizações ameríndias que viviam espalhadas pelas Américas, totalizando 40 milhões de
indivíduos, foram literalmente dizimadas, a maioria por doenças intencionalmente ou não disseminadas
pelos europeus.

Uma vez conscientes da ameaça dessas doenças, contra as quais os povos nativos não tinham qualquer
imunidade, era (e ainda é) comum a entrega deliberada de objetos contaminados aos nativos. E tudo
começou em 1492.

A descoberta de metais pelos espanhóis, além de outros gêneros que ofereciam uma economia
complementar à economia europeia, impulsionou a conquista, que se desenrolou com violência. Os
impérios Inca e Asteca foram destruídos por uma quantidade relativamente pequena de europeus, porém
bem armados e contaminados.

Comentário
O encontro entre o Velho e o Novo Mundo, que a descoberta de Colombo tornou possível, é de um tipo muito
particular: é uma guerra — ou a Conquista —, como se dizia então. E um mistério continua: o resultado do
combate. Por que a vitória fulgurante, se os habitantes da América eram tão superiores em número aos
adversários e lutaram no próprio solo? Se nos limitarmos à conquista do México — a mais espetacular, já
que a civilização mexicana é a mais brilhante do mundo pré-colombiano — como explicar que Cortez,
liderando centenas de homens, tenha conseguido tomar o reino de Montezuma, que dispunha de centenas
de milhares de guerreiros? (TODOROV, 2010, p. 31)

O mundo globalizado em que vivemos, politicamente conceituado como um Sistema Internacional de


Estados soberanos, possui laços e redes forjados na conquista colonial, cuja lógica tem muito a dizer sob a
superfície dessa definição normativa.

Origem do capitalismo

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O capitalismo nascente
A conquista do mundo pelos europeus foi a força motriz por trás do desenvolvimento do sistema capitalista,
tendo no sistema colonial suas fundações ideológicas e materiais. Os recursos provenientes das colônias
fortaleceram os regimes europeus que estavam na vanguarda das explorações, em um primeiro momento
as nações ibéricas e, depois, os Estados da Europa setentrional, notadamente Inglaterra, França e Holanda.

Portugal e Espanha estabeleceram, ao longo do século XVI, seu domínio nas Américas e em outras regiões
do globo, como as Filipinas, conquistadas por Fernão de Magalhães em 1521, na Ásia Pacífico. Era o
começo da conquista do mundo pelos europeus.

Após a chegada, em abril de 1500, os portugueses não deram muita atenção ao novo continente, pois
estavam determinados à conquista das Índias. Do litoral da Bahia, onde apenas estabeleceram os primeiros
contatos para a tomada de posse das terras, que se situavam dentro dos limites lusitanos estabelecidos
pelo Tratado de Tordesilhas, Cabral e seus comandados seguiram para Calicute, aonde chegaram em
setembro daquele ano.

O interesse português pela Terra de Vera Cruz, que viria a ser o Brasil, somente aumentou após as notícias
sobre a descoberta, pelos espanhóis, de imensas jazidas de metais em seus territórios. Isso estimulou a
conquista portuguesa de seus limites, resultando na expedição de Martin Afonso de Souza, em 1530.

Os portugueses, no entanto, não teriam a mesma sorte em um primeiro momento, e acabariam


estabelecendo no Brasil o cultivo da cana-de-açúcar e outros gêneros tropicais. Recorreram primeiro à mão
de obra compulsória do índio e, logo depois, do negro escravizado trazido da África.

Entre os séculos XVI e XIX, por aproximadamente 380 anos, o Brasil


seria o principal destino dos cativos africanos.

Segundo Laurentino Gomes (2019), dos 12 milhões de escravizados transportados para as Américas no
período, mais de 5,8 milhões foram para o Brasil. Alencastro (2000) afirma que, entre 1550 e 1850, a cada
100 indivíduos entrados no Brasil, 86 eram africanos escravizados.

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Na imagem a seguir, observamos a divisão de terras feita após o Tratado de Tordesilhas, que traduz a
essência do fenômeno colonial: a dominação. Os soberanos europeus dividiram os territórios descobertos
por suas expedições, assumindo a posse de seus limites geográficos e de todos os recursos contidos nele,
inclusive dos seres humanos que se tornariam mão de obra barata ou escrava, pagadores de impostos e
consumidores. Essa dominação era feita com as bênçãos da Igreja, interessada em participar da conquista
em busca de mais fiéis em um momento no qual suas doutrinas enfrentavam questionamentos na Europa.

Qual a diferença entre colonialismo e colonialidade?

Divisão do mundo entre espanhóis e portugueses segundo o Tratado de Tordesilhas.

Colonialismo é uma relação de controle de território, como ilustra o mapa do Tratado de Tordesilhas.

Já a colonialidade vai além do domínio de territórios geopolíticos e seus recursos. É um conceito


relacionado ao humano, às pessoas que habitam territórios com seus modos de vida, podendo até
transcender o próprio colonialismo como sistema de dominação.

Comentário
Em vez de ser exclusivamente relacionada à dominação de determinado território, a colonialidade refere-se
também ao domínio da cultura, do trabalho, das relações intersubjetivas, e até da produção de
conhecimento. Portanto, a colonialidade não cessaria com o fim do colonialismo.

Segundo Hayter (1974), apesar do fim do sistema colonial em praticamente todo o mundo, a colonialidade
segue operante por outras formas de dominação institucionalizadas no Sistema Internacional, tais como os
organismos e as instituições internacionais que zelam pelo status quo da ordem mundial, e que promovem
um regime de subordinação dos interesses das nações periféricas – aquelas herdeiras do legado da
exploração colonial – pelas mais poderosas (aquelas que foram suas colonizadoras).

Falta pouco para atingir seus objetivos.


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Vamos praticar alguns conceitos?


Questão 1

Para se compreender historicamente o contexto das Grandes Navegações, faz-se necessário associar
corretamente algumas situações históricas. Indique qual das alternativas abaixo está correta.

Renascimento cultural, fortalecimento dos senhores feudais e formação dos Estados


A
Nacionais.

Reavivamento comercial da Baixa Idade Média mediante o surgimento de uma


B
economia monetária, formação dos Estados Nacionais e ascensão da burguesia.

Reavivamento comercial da Baixa Idade Média, formação dos Estados Nacionais e


C
ascensão da nobreza.

Controle dos mercados marítimos pelos árabes, formação dos Estados Nacionais e
D
ascensão da burguesia.

E Renascimento cultural associado à formação dos primeiros exércitos nacionais.

Parabéns! A alternativa B está correta.

As situações históricas apontadas na opção B foram cruciais para as Grandes Navegações, já que o
reavivamento comercial do último período da Idade Média criou a necessidade de ampliação dos
mercados, o que seria possível apenas com o financiamento do Estado, única instituição capaz de
reunir forças econômicas para as expedições. A ascensão social da burguesia também foi de suma
importância, já que não era de interesse econômico da nobreza a intensificação das trocas mercantis. A
opção A está incorreta porque a Idade Moderna significou o enfraquecimento do feudalismo; a opção C
está incorreta porque a ascensão da nobreza não foi um elemento do Renascimento, e sim a ascensão

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da burguesia; a opção D está incorreta porque os mercados não estavam sob controle dos árabes; a
opção E está incorreta porque não cita os fatores determinantes.

Questão 2

A expansão dos europeus pelo mundo teve início com as Grandes Navegações, impulsionadas pelas
transformações sociais e tecnológicas do Renascimento, bem como pelas condições econômicas
proporcionadas pelo sistema mercantilista. As duas nações pioneiras na conquista dos novos
territórios foram Portugal e Espanha, e era preciso ordenar minimamente a conquista. A respeito disso,
aponte a alternativa correta:

Espanha e Portugal travaram, ao longo das primeiras décadas do século XVI, a Guerra
A
dos Trinta Anos, pela divisão dos territórios conquistados.

As duas nações dividiram o mundo, ficando os portugueses com a América do Sul e os


B
espanhóis com a América Central e do Norte.

Portugal e Espanha firmaram o Tratado e Tordesilhas em 1494, dois anos após a


“descoberta” da América por Colombo. O tratado determinava uma linha 370 léguas a
C
Oeste de Cabo Verde dividindo todas as terras eventualmente encontradas entre os dois
Estados.

O Tratado de Tordesilhas determinava a divisão das terras entre portugueses e


D
espanhóis por uma linha 100 léguas a Oeste de Cabo Verde.

Após a conquista da América pelos portugueses, os Espanhóis buscaram contornar a


E
África para alcançar Calicute.

Parabéns! A alternativa C está correta.

Após a descoberta dos territórios americanos por Colombo, a serviço do trono espanhol, portugueses e
espanhóis firmaram um tratado para ordenar a conquista e evitar confrontos armados. A opção A está

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incorreta porque a guerra dos trinta anos só acontece entre 1618 e 1648, e não é uma disputa entre os
dois países citados; a opção B está incorreta pois aquela não foi a divisão estipulada por Tordesilhas; o
erro da opção D está no número de léguas; a opção E está incorreta porque foram os portugueses que
tentaram contornar a África.

2 - As revoluções burguesas
Ao final deste módulo, você deverá ser capaz de analisar as revoluções
burguesas e seus impactos para o desenvolvimento e para a consolidação
do sistema capitalista.

Liberalismo

Os fundamentos do liberalismo
As revoluções burguesas, ou liberais, podem ser interpretadas como uma etapa do processo de
transformação social vivido pelo Ocidente a partir da ruptura com os valores e as estruturas do Antigo
Regime. O crescimento do comércio não apenas dentro da Europa como também através da expansão

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proporcionada pelas Grandes Navegações dinamizou a economia europeia e alavancou o processo de


centralização do poder que estava em curso desde fins da Idade Média.

É a partir da compreensão sobre o significado da conquista do mundo pelos


europeus que podemos entender o fenômeno da acumulação primitiva de capital,
pois é possível afirmar que sem o colonialismo ela não teria sido possível.

As riquezas produzidas nas colônias tinham por função complementar a economia metropolitana, um
negócio em que somente um lado tinha a ganhar. Além disso, a escravização de populações nativas e de
africanos deixou um legado trágico de pobreza e dependência para as nações integrantes do hoje chamado
terceiro mundo.

Procuraremos, a partir da discussão sobre a dinâmica histórica da conquista e seus impactos para a
formação dos primórdios da Modernidade, compreender as ideias políticas que sustentam as revoluções
liberais entre 1688 e 1789.

Dedicaremos a nossa atenção agora aos aspectos ideológicos que nortearam as revoluções burguesas. A
primeira dessas revoluções ocorreu na Inglaterra entre 1640 e 1689, um século antes da mais icônica de
todas, a Revolução Francesa.

Esse processo revolucionário engloba duas revoluções:

Revolução Puritana
Também conhecida como guerra civil inglesa, essa revolução marcou a década de 1640 e levou Oliver
Cromwell ao poder em 1651.

Revolução Gloriosa
Essa revolução foi decorrente do acirramento das tensões, entre a coroa e o parlamento, mal resolvidas pela
sucessão de Cromwell, após sua morte em 1658.

Esse processo revolucionário foi consequência de disputas políticas que já minavam as estruturas do poder
absolutista na Inglaterra a partir do crescente poder da burguesia mercantil que se fazia representar pelo
parlamento. Naquele momento, o que estava em disputa na Inglaterra, em termos elementares, era a
questão sobre os limites do exercício do poder, ou a função pública do poder. Esse é o debate central na
Filosofia e na Ciência Política desde, pelo menos, Platão.

Comentário

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A Inglaterra foi o primeiro “tubo de ensaio” da história do liberalismo, onde já existia um poderoso
precedente para o questionamento do absolutismo, inexistente nas demais monarquias europeias: o
parlamento. Surgido ainda no século XIII (1215), esse órgão político, originalmente uma espécie de concelho
de nobres, foi se tornando um contrapeso ao poder do rei, levando a conflitos que marcaram o século XVII.

O principal pensador desse movimento de ruptura com o Antigo Regime na Inglaterra (e de lá para o mundo)
foi John Locke. Suas ideias eram réplicas das ideias formuladas pelos cânones do absolutismo, Nicolau
Maquiavel e Thomas Hobbes, para os quais a centralização política mantida de forma absoluta era um fato
inquestionável e sobrepunha-se a quaisquer interesses, públicos ou privados.

Mais uma vez, é importante ressaltar a importância de compreender o contexto histórico de Maquiavel e
Hobbes para que possamos entender as razões por trás do absolutismo. Só assim entenderemos as
condições que deram vida ao liberalismo que levaria à decapitação (literalmente) das coroas europeias.

Logo, antes de adentrarmos o ideário Liberal e a crítica ao absolutismo, faz-se necessária uma breve
discussão acerca dos fundamentos do Antigo Regime, ou seja, das estruturas políticas que sustentavam e
legitimavam o poder durante essa etapa. Com essa finalidade, passaremos brevemente pelos aspectos
mais pertinentes das obras de dois dos teóricos fundamentais do regime absolutista: Nicolau Maquiavel e
Thomas Hobbes.

Maquiavel e Hobbes

Nicolau Maquiavel e Thomas Hobbes


Morador de Florença na virada do século XV para o XVI, Nicolau Maquiavel era o arquétipo do homem
renascentista. A Itália de sua época não era um Estado-Nação unificado e encontrava-se dividida em
Cidades-Estados independentes, muitas delas em guerras contínuas umas contra as outras. Portanto, a
característica estrutural das circunstâncias históricas de Maquiavel era a insegurança, consequência da
descentralização do poder que alimentava disputas e ambições por toda parte, levando a guerras
constantes que ameaçavam a vida e a prosperidade dos seus conterrâneos.

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Ilustração do livro La Italia - Storia di due anni 1848-1849, de Candido Augusto Vecchi, Claudio Perrin, Turim, 1851.

Partindo da situação de constante insegurança de sua época, Maquiavel constatou que somente o poder
centralizado nas mãos de um governante forte e impetuoso (virtuoso) poderia oferecer a tão desejada
ordem, sem a qual a vida não pode ser garantida, tampouco prosperar.

Dessa reflexão orientada pelo problema da segurança, Maquiavel desenvolveu em sua obra, retomando
autores clássicos da antiguidade, o conceito platônico de República, “coisa pública”, para pensar o governo
como uma esfera totalmente separada da vida privada. A religião, de acordo com o pensador, pertencia a
esta última esfera, e não deveria interferir nos negócios da cidade, aqui compreendida segundo a acepção
moderna de Estado, ainda em gestação na época de Maquiavel.

Os negócios da cidade (Estado), assim, deveriam ser conduzidos sem considerar questões morais que
pertencem à esfera privada, porque desses negócios depende a segurança do corpo coletivo, o bem
comum. A garantia desse bem seria a missão do príncipe, o governante, a mais nobre missão que um
homem poderia ter e pela qual valeriam quaisquer medidas necessárias. Daí sua famosa máxima, até hoje
mal interpretada pelo senso comum, de que “os fins justificam os meios”.

O movimento que Maquiavel operou de separação entre o público e o privado é um


dos mais importantes para a transição entre o mundo medieval e o mundo
moderno. Ele concluiu que, para garantir o bem comum, era necessário um
governante virtuoso, especialmente capaz de conduzir a “arte de governar”.

Um século após Maquiavel escrever O Príncipe, o inglês Thomas Hobbes encontrava-se em situação muito
similar. Sua obra magna, Leviatã, foi publicada no ano de 1651, escrita durante a década de guerra civil na
Inglaterra. O contexto também gerava um clamor pela ordem, e Hobbes partiu, portanto, de premissas
comuns às de Maquiavel, centradas na necessidade de centralização política (pacificação, segurança).

O poder soberano, para Hobbes, é instituído pela vontade coletiva sob a metáfora de um contrato,
inaugurando uma tradição da filosofia política com poderoso lastro até os dias de hoje, o “contratualismo”.
Essa ideia se baseia na premissa de que, antes da sociedade, os homens viviam em um estado pré-social,
batizado por Hobbes de “estado de natureza”, no qual inexistia qualquer forma de centralização política ou
lei civil. Nesse estado, no entanto, a vida comum é regida por alguns direitos considerados então como
“naturais”, o que conceituamos como “jusnaturalismo”.

Os direitos naturais — ou jusnaturismo — são um conjunto de direitos que gravitam


basicamente em torno do direito à vida em liberdade. É para efetivar a garantia
desses direitos que os homens pactuam e cedem sua liberdade a um soberano que
lhes garantirá a vida e a integridade sob um conjunto de leis respaldadas por um
aparato coercitivo centralizado em suas mãos.
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Esse processo de centralização política tem, assim como em Maquiavel, o propósito de pacificar a vida
coletiva expropriando dos homens suas armas, transferidas para o Estado (o soberano na figura do príncipe
de Maquiavel ou do leviatã de Hobbes). Essa expropriação significa, na prática, uma espécie de
“terceirização” da segurança, que antes, em estado de natureza, encontra-se sob a responsabilidade
individual (privada).

Notemos que, diferentemente de Maquiavel, o poder soberano em Hobbes se consolida em uma estrutura
abstrata, o leviatã, o Estado, ou seja, é impessoal, ao passo que em Maquiavel está associado à figura
virtuosa do príncipe. A obra de Hobbes assume um caráter mais moderno que a do pensador florentino ao
ser capaz de demarcar nitidamente a separação entre governante e governo.

O Estado existe, desse modo, como uma solução coletiva, emanada do contrato, sendo atemporal e a-
histórico, ou seja, um ideal que se legitima ontologicamente e deve possuir, em si mesmo, as condições
para o exercício da soberania, a despeito das capacidades individuais e eventuais de seus governantes. Ou
seja, em Hobbes, a noção de Estado aparece mais bem acabada, independentemente das virtudes
individuais dos homens.

John Locke

John Locke e a fundação do liberalismo


A primeira obra de conteúdo crítico ao poder absolutista a causar impacto foi a de John Locke,
contemporâneo e conterrâneo de Hobbes. Em Segundo Tratado sobre o Governo Civil (1994), Locke expõe os
princípios do individualismo liberal, reivindicando mais mediação entre o exercício do poder (e suas
necessidades notáveis, conforme já expuseram Maquiavel, Hobbes e outros) e os direitos individuais
anteriores ao Estado e, portanto, intocáveis por ele.

Locke operou uma ruptura com a visão hobbesiana do Estado, partindo de uma visão diferente sobre o
“estado de natureza”. Contrariando o pessimismo de Hobbes, ele entende o momento pré-social do homem
como em relativa harmonia. A partir daí, Locke formula um conceito de propriedade que seria a pedra
angular do liberalismo: a propriedade significa, em primeiro lugar, a vida, seguida pela liberdade e pelos
bens. É preciso estar vivo para ser livre, e é preciso ser livre para ter direito a bens, que são classificados
como o fruto de qualquer trabalho aplicado sobre uma matéria da natureza.

Comentário
Partindo das premissas sobre vida, liberdade e bens, Locke entendeu que o Estado não deve ter poder
absoluto sobre os indivíduos, e sim deve ser limitado pela defesa dos direitos naturais do homem, ou seja, é

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obrigado a fazê-lo, o que significa mais do que a proteção contra a morte violenta entendida por Hobbes.

Dessa lógica, Locke desenvolve um conceito fundamental para as revoluções liberais que gestariam a
contemporaneidade: o direito de resistência. Segundo ele, é um direito (e um dever) do cidadão resistir a
uma tirania (o exercício do poder para além do direito), ou a qualquer ameaça vinda do Estado contra
qualquer um de seus direitos naturais, pois um Estado que não protege tais direitos perde a sua
legitimidade.

Quando descamba em tirania, o Estado age em função dos interesses privados do governante, atentando
contra o interesse público, ou seja, a sociedade. Se em Hobbes o Estado pode atentar contra a propriedade,
já que é sua origem, em Locke o Estado não tem esse direito. O exercício da tirania, assim, consiste na
violação da propriedade pelo governo, o que coloca Estado e sociedade em estado de guerra.

Essas ideias se articulavam perfeitamente com o papel de um poder legislativo forte e atuante, que marca a
história inglesa desde antes e será, até os dias de hoje, o principal contrapeso ao poder executivo nos
regimes políticos contemporâneos. Essa formulação política tem sua origem moderna na obra Segundo
Tratado sobre o Governo Civil, de Locke.

Do conceito de propriedade em Locke surge a noção de uma sociedade liberal, que deverá ser conduzida
por um Estado liberal. Segundo Bobbio (2017), a obra de Locke constitui “a primeira e mais completa
formulação do Estado Liberal.”. O esquema a seguir ilustra esse conceito.

O Estado para Locke tem sua expressão mais importante no poder legislativo.

Além da importância política, suas ideias também são importantes para as bases da teoria econômica
sobre o valor do trabalho, fundamental para a compreensão da acumulação de capital. O trabalho, para
Locke, limita a propriedade. Antes da economia monetária, a economia se determinava pela capacidade de

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trabalho. Depois, o dinheiro passa a permitir a acumulação de riqueza, através do comércio, a partir da troca
de bens perecíveis por não perecíveis (moedas – ouro e prata) aceitos pelas pessoas.

Locke então formula duas dimensões para a propriedade: uma limitada (trabalho + recursos) e outra
ilimitada (trabalho + dinheiro/comércio), que leva à acumulação de riqueza na forma de capital.

As revoluções liberais

As primeiras revoluções liberais: Inglesa e Americana


As tensões se desenrolavam entre a monarquia e o parlamento, notadamente em relação a impostos, que
eram vistos pela burguesia como empecilhos ao desenvolvimento das atividades econômicas.

Essas disputas culminaram em uma guerra civil, durante a década de 1640, que terminou com a deposição
e decapitação do rei. Seguiu-se um regime republicano governado pelo parlamento e, logo depois,
controlado de modo autocrático por Oliver Cromwell, representante dos interesses da burguesia mercantil
inglesa, no que ficou conhecido como Revolução Puritana. Sob o governo de Cromwell, a burguesia inglesa
pôde implementar ações mais agressivas a partir do Ato de Navegação, elevando seus recursos e,
consequentemente, aumentando as capacidades do Estado inglês, segundo a política mercantilista.

A ascensão ao poder da burguesia marcou o começo da história da


Inglaterra como a grande potência.

Após a morte de Cromwell em 1658, o poder foi assumido por seu filho, Richard, que governou alguns
meses até ser destituído pelo parlamento, e devolveu o trono à dinastia Stuart na figura de Carlos II, filho do
rei decapitado uma década antes. Isso só foi possível após a mediação de acordos que resultaram no
compromisso, por parte do novo rei, de governar com poderes reduzidos.

O rei Carlos II, gradativamente, buscou aumentar seu poder em direção ao retorno ao absolutismo, gerando
novos atritos com o parlamento. Após sua morte, em 1685, seu irmão assumiu como Jaime II e reforçou a
tendência de concentração de poder, já em curso durante o reinado de Carlos. Além disso, o novo rei
buscava fortalecer o catolicismo na Inglaterra, o que também desagradou o parlamento, herdeiro do legado
político da ruptura com a Igreja Católica feita por Henrique VIII no século XVI, que aumentou o poder e a
independência da Inglaterra (onde a Igreja tinha muitas terras e drenava muitos recursos).

Todo esse quadro confluiu para mais uma ruptura política em 1688: a Revolução Gloriosa, quando
Guilherme de Orange (chefe de Estado da Holanda) recebe a coroa, derrubando Jaime II.

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Saiba mais
A Revolução Gloriosa marca o triunfo do liberalismo político na Inglaterra com a proclamação do Bill of
Rights, uma carta de direitos civis, em 1689, marcando o fim do absolutismo na Inglaterra, substituído por
uma monarquia constitucional, vigente até hoje.

Quase um século após a experiência inglesa, as Treze Colônias, localizadas na costa Leste da América do
Norte, proclamaram em 4 de julho de 1776 a sua independência em relação à Inglaterra. A declaração de
independência foi o resultado do amadurecimento das ideias liberais fora da Inglaterra.

A guerra da Inglaterra com a França, travada entre 1756 e 1763 (Guerra dos Sete Anos), levou os ingleses a
elevarem as cobranças de impostos dos colonos norte-americanos, tendo as seguintes leis como exemplo
de tais cobranças:

Lei do selo;

Lei do açúcar;

Lei do chá.

A reação da colônia veio no episódio da Festa do chá, em Boston, em dezembro de 1773, quando colonos
invadiram o porto e lançaram centenas de caixas do produto ao mar. A Inglaterra reagiu com o decreto das
Leis Intoleráveis, que determinaram a ocupação da região de Massachusetts pelo exército britânico, o
fechamento do porto de Boston e o pagamento dos prejuízos pelos colonos.

Em 4 de julho de 1776, o Segundo Congresso Continental da Colônia


declara a independência dos EUA.

Uma longa guerra de independência contra os ingleses teve início e terminaria após a vitória final em
Yorktown (1781). Os ingleses, desgastados pelo esforço de guerra intercontinental, abriram negociações e
aceitaram a independência dos EUA, ratificada no Tratado de Paris, em 1783.

A Revolução Americana foi o produto das ideias Liberais e da cosmovisão europeia que se alimentava da
experiência colonial. Disso se desenvolve a perspectiva do Excepcionalismo norte-americano, como uma
nação destinada a conduzir o mundo aos valores cristãos e liberais, doutrina que ficou famosa, no início do
século XIX, como Destino Manifesto.

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A Revolução Francesa foi revolucionária?


Veja agora a importância da Revolução Francesa no âmbito das revoluções liberais, e as principais
características desse movimento.

Uma década após a declaração de independência dos EUA, a França mergulhou no caos social em 14 de
julho de 1789, data até hoje celebrada quase como um marco de independência. Nesse dia, os súditos
franceses, revoltados com as péssimas condições sociais pelas quais passavam, invadiram a Bastilha,
masmorra que servia como arsenal do exército, e tomaram as armas, dando início à derrubada do Antigo
Regime na França.

A queda da Bastilha, em 14/07/1789.

Vamos analisar com mais detalhes as fases que levaram à Revolução Francesa:

Assembleia Constituinte e Assembleia Legislativa (1789-92)


Para tentar debelar a crise econômica na França, foi convocada a Assembleia dos Estados Gerais,
instituição que datava da Idade Média e cuja última convocação fora em 1614. A função dos Estados Gerais
era reunir a sociedade francesa, dividida em seus três estados para a busca por soluções compartilhadas
em momentos de crise. Os estados eram:

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1º 2º 3º
O Clero. A nobreza. A burguesia.

Mas havia um problema: a votação nessa assembleia obedecia aos estados, e não aos indivíduos, o que
resultava em vitória dos estratos dominantes. Os representantes do terceiro estado reagiram e exigiram o
voto individual, o que lhes daria facilmente a vitória. Como a proposição foi rejeitada pelos primeiro e
segundo estados, uma assembleia nacional constituinte foi convocada. A revolta popular começava a
ganhar corpo para além das ruas e sinalizava a revolução que logo tomaria forma.

A revolta popular conseguiu a abolição dos privilégios feudais em agosto de 1789, um mês após o episódio
da Bastilha. Em setembro, foi proclamada a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que
determinava que todos os homens eram iguais perante a lei, rompendo com a sociedade estamental. Em
1790, a Assembleia Nacional aprovou a Constituição Civil do Clero, que eliminava privilégios eclesiásticos e
visava subordinar a Igreja ao Estado.

No entanto, as camadas médias burguesas buscavam conter a radicalização das camadas populares. Isso
se traduziu na proclamação da França, em 1791, como uma monarquia constitucional, e não como uma
república. Assim, dois grupos se consolidaram na Assembleia Legislativa: os girondinos e os jacobinos,
sendo os primeiros mais moderados e os segundos mais radicais.

Nesse momento, a Assembleia ratifica também, em 1792, o estado de guerra contra outras monarquias
europeias. As classes poderosas francesas, destituídas de seus privilégios pela revolução, deram início a
um processo contrarrevolucionário com a ajuda de outros Estados europeus, interessados em conter o
“germe” revolucionário. O estado de guerra abriu o caminho para a radicalização da violência interna, pois,
com a ameaça da guerra batendo às portas da França, a urgência pela pacificação se impunha.

Convenção Nacional (1792-95)


O clima de violência acirrado pela guerra deu início a um período que ficaria conhecido como Terror, quando
a sociedade francesa, com medo das potências estrangeiras e de uma possível restauração, passou a
apoiar os jacobinos e a radicalização, levando à derrubada da Monarquia e à instauração da República. A
Assembleia foi renomeada de Convenção, com seus membros escolhidos por sufrágio universal masculino.
Nesse momento, abre-se o debate sobre a situação do rei, que acaba executado em 1793. À execução de
Luís XVI e Maria Antonieta, seguiu-se uma série de outras, mergulhando a França no Terror que levaria a
aproximadamente 17 mil execuções em pouco mais de um ano. A chamada Reação Termidoriana levou à
queda da convenção por meio de um golpe orquestrado pelos girondinos. Após o golpe, foi instaurado o
Diretório e as lideranças jacobinas foram guilhotinadas.

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Diretório (1795-99) e Era Napoleônica (1799-1815)


Período mais conservador a partir das reações ao Terror jacobino. A ascensão de Napoleão Bonaparte
ocorre, nesse momento, em meio ao vazio de comando na França, uma vez que os oficiais do Antigo Regime
foram executados ou haviam fugido.

Após a queda do Diretório, a França iniciaria sua fase Napoleônica, que consolidou muitas conquistas da
Revolução, ao mesmo tempo que subordinou a política francesa ao despotismo de Bonaparte, uma espécie
de déspota esclarecido.

A coroação de Napoleão Bonaparte.

Em 1804, em um gesto de ruptura simbólico entre Estado e Igreja, Bonaparte coroa a si mesmo na presença
do Papa, e governa a França como um imperador até sua queda, em 1815.

Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?


Questão 1

Sobre as ideias de John Locke, considerado o “pai” do liberalismo, indique a alternativa correta:

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Para Locke, o Estado deveria garantir os direitos naturais dos indivíduos, entendidos não
A como súditos, mas como cidadãos dotados de mais aspirações do que apenas a
garantia da segurança.

Para Locke, assim como para Thomas Hobbes, o Estado deveria ser capaz de promover
B os interesses da nação visando ao fortalecimento das colônias para promover mais
direitos e garantias aos colonos.

Se para Hobbes o Estado deveria ser soberano sobre quaisquer direitos individuais, para
C Locke ele deveria observar as garantias de sufrágio universal, garantindo o regime
democrático.

Em sua obra Segundo Tratado sobre o Governo Civil, Locke preconiza os primórdios
D ideológicos do liberalismo, defendendo o direito de propriedade e a ideia de que os fins
justificam os meios.

O contexto social vivido por Locke na Inglaterra era semelhante àquele vivido por
E Maquiavel na Itália, e os dois chegaram a reflexões parecidas a partir de seus
respectivos contextos.

Parabéns! A alternativa A está correta.

Segundo Locke, o Estado era visto não apenas como mera contenção à “guerra de todos contra todos”,
segundo a perspectiva hobbesiana, mas como o resultado de um pacto coletivo pela garantia de
direitos naturais de propriedade (vida, liberdade e bens) que estariam em ameaça no estado de
natureza. A opção B está incorreta porque Locke não apoiava os ideais citados; a C, porque Locke não
falava em sufrágio universal; a D, porque Locke não defendia que os fins justificam os meios; a E,
porque as ideias de Locke são distintas das de Maquiavel.

Questão 2

A respeito da Revolução Francesa, marque a alternativa certa:

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A fase do terror, promovido por Napoleão Bonaparte, foi marcada por excessos de
A violência que culminaram na execução de mais de 17 mil pessoas em pouco mais de
um ano.

A Revolução Francesa foi consequência de uma crise econômica e social que as


B estruturas políticas do Antigo Regime se revelaram incapazes de solucionar, e marcou a
consolidação dos ideais liberais na forma da Primeira República Francesa.

Os jacobinos lideraram a Assembleia dos Estados Gerais após a decapitação do rei e a


C
expulsão das tropas estrangeiras, derrotadas por Napoleão.

A Revolução foi decorrente da Guerra dos Sete Anos, que afundou a França em dívidas e
D
gerou insatisfação popular com a perda de prestígio internacional.

A Revolução Francesa consolidou as ideias de Jonh Locke e foi fonte de inspiração para
E
a proclamação da Declaração de Independência dos EUA.

Parabéns! A alternativa B está correta.

As condições da França pouco antes da Revolução eram de profunda crise econômica, cujos custos
sobrecarregavam o terceiro estado. As estruturas políticas e sociais estamentais, herança da Idade
Média, aprofundavam a insatisfação popular, que em busca de justiça social radicalizou e promoveu o
processo revolucionário. A opção A está errada porque a fase do terror é anterior à ascensão de
Napoleão; a C, porque a guerra com as potências estrangeiras jamais obteve uma vitória absoluta,
culminando na derrota de Napoleão em 1815; a D, porque a revolução não ocorreu pela razão citada; a
E, porque a Revolução Americana é anterior à Francesa.

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3 - A Primeira Revolução Industrial


Ao final deste módulo, você deverá ser capaz de relacionar a Revolução
Industrial e suas conexões com a ascensão do sistema capitalista.

Antecedentes da Revolução Industrial


No século XVII, a Inglaterra, assim como outras regiões da Europa, vivia um processo de ruptura com as
bases da sociedade feudal em direção a novos padrões de organização social, política e econômica. Esses
padrões levaram ao surgimento do Estado Moderno, da economia transnacional sob a cultura econômica
mercantilista e do fenômeno do colonialismo, estruturando os padrões de dominação que compõem o
transbordamento do Sistema Internacional da Europa para o restante do mundo.

A partir do século XVII, essas condições, que estruturavam um novo mundo, também criaram novas formas
de produção que vinham para atender às demandas comerciais em expansão com a conquista das novas
terras.

Quais os resultados gerados pela conquista colonial?

Resposta
A conquista colonial ampliou os poderes da burguesia, resultou na melhoria nos padrões de vida dos
europeus, o que elevou as taxas de natalidade, e aumentou as demandas comerciais por diversos tipos de
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produtos. Isso intensificou a exploração colonial e a competição entre as nações mais adiantadas no
empreendimento colonial, abrindo caminho para novas ideias e investimentos que solucionassem
problemas de produção. Em outras palavras, as formas de produção do mundo medieval começavam a
entrar em falência em face das demandas da modernidade emergente.

Como vimos, a Inglaterra foi a nação onde as ideias liberais foram gestadas e pela primeira vez decantaram.
Essas ideias impulsionaram não apenas as reformas políticas que resultam no Bill of Rights, mas também
estimularam novas concepções sobre a economia que alavancaram o poder do Estado inglês.

A partir da conquista do poder pela burguesia, no século XVII, o Ato de Navegação e outras medidas
adotadas visando aos interesses comerciais fizeram do mercantilismo inglês o mais potente do mundo,
criando as bases para a construção do Império Britânico que governaria o mundo no século XIX. Tais
medidas reforçaram a capacidade comercial dos ingleses através do fortalecimento de sua esquadra. A
chave para o poder britânico era o controle sobre a logística da construção desse mundo que se
globalizava.

De uma política naval voltada para a pirataria, através de saques aos galeões espanhóis e portugueses, a
Inglaterra passava a trilhar o caminho para se tornar a primeira grande transportadora do mundo moderno.
Seus navios gradativamente passaram a dominar o comércio mundial, até que, segundo Paul Kennedy
(1989), em meados da Era Vitoriana, o auge do Império Britânico, praticamente nenhum produto circulava no
mundo em navios que não tivessem a bandeira inglesa.

No século XVIII, a marinha britânica estava em franco desenvolvimento. Estava se


tornando crucial que a Inglaterra mantivesse o controle das rotas de comércio: toda
a estrutura em formação que levaria à industrialização, às finanças e ao comércio
do Império estavam nos mercados e fontes de matérias-primas ultramarinos. A
marinha mercante era tanto um ativo econômico quanto um elemento
indispensável de segurança. Estabelecia-se uma relação entre o poder comercial e
o militar que, juntos, formariam o poder naval britânico.

Como podemos constatar, as condições históricas da Inglaterra no século XVIII eram propícias ao
desenvolvimento da produção a partir do controle crescente sobre as rotas comerciais que envolviam o
comércio de todo tipo de mercadorias. Merece destaque o tráfico negreiro, atividade que encheu os cofres
da Inglaterra com, seguramente, a maior parte do ouro extraído pelos portugueses e espanhóis nas
Américas.

Enriquecida com o comércio, organizado administrativamente pela Companhia das Índias Orientais,
empresa ultramarina britânica fundada em 1600, a Inglaterra tinha as condições perfeitas para o aumento
dos investimentos na produção, mediante o influxo cada vez maior de matérias-primas combinado com a
crescente demanda por parte dos mercados consumidores em expansão pelas áreas colonizadas.

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Camponeses trabalhando na indústria.

Internamente, a política de cercamento dos campos, no decorrer do século XVII, contribuiu para as
condições que viabilizaram a industrialização, na medida em que expropriou muitos camponeses de suas
terras, arrendadas por grandes proprietários de lã para abastecer as crescentes demandas pelo produto.
Expropriados de suas terras, esses camponeses migraram para as cidades elevando exponencialmente a
oferta de mão de obra nas cidades e sua consequente desvalorização.

Historicamente, as circunstâncias externas se articulam às domésticas para compor uma engrenagem


orgânica. Em resumo: A Inglaterra, uma ilha protegida dos exércitos inimigos continentais, era dotada de
uma marinha cada vez mais poderosa e capaz de dominar portos e rotas sem ser molestada, passando a
impor o Livre Comércio, sobretudo, após a vitória sobre a França na Guerra dos Sete Anos (1756-1763).
Nesse contexto, a geopolítica inglesa e as transformações decorrentes da dinamização da economia e da
sociedade europeia na virada entre o universo feudal e a modernidade produziram as circunstâncias para o
desenvolvimento das primeiras indústrias.

As primeiras fábricas

Das manufaturas às primeiras fábricas


Podemos recortar em três os aspectos internos principais para a promoção da Revolução Industrial na
Inglaterra:

1. Abundância de recursos provenientes das colônias: igual abundância também de recursos internos,
como ferro, lã e carvão;
2. Ideias liberais: o desenvolvimento dessas ideiais levaram à reforma do Estado inglês, sob a direção da
burguesia, configurando o primeiro Estado burguês da história;
3. Cerceamento dos campos: Essa política reconfigurou a população inglesa na direção do campo para as
cidade, gerando condições urbanas férteis para o desenvolvimento da economia de produção industrial.

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Entre 1760 e 1850, a produção observou consideráveis mudanças na Inglaterra, que gradativamente se
expandiram para o restante do mundo. Nesse período, compreende-se a Primeira Revolução Industrial.

A marca central do processo de industrialização foi o surgimento das fábricas,


unidades de produção capazes de terceirizar a confecção de bens de consumo
elevando sua oferta em atenção às crescentes demandas.

A forma anterior de produção era o artesanato, que já havia evoluído para manufaturas, pequenas empresas
domésticas geralmente financiadas por burgueses em ascensão segundo a dinâmica de desenvolvimento
comercial e expansão da economia monetária. Esses pequenos e médios empresários passaram a
concentrar trabalhadores assalariados, semeando uma das transformações mais marcantes da
modernidade/contemporaneidade.

O trabalho assalariado resultou em uma perda do controle do artesão sobre o produto segundo as novas
regras da divisão do trabalho, voltada para otimizar a produção. As manufaturas inglesas, desse modo,
lançaram algumas das transformações que seriam alavancadas com o surgimento das indústrias.

Comentário
Para entendermos bem a profundidade dessas transformações, atentemos para a organização do trabalho
antes das manufaturas e, principalmente, do advento das fábricas. A atividade artesanal se dava pelo
controle total da produção pelo artesão, que detinha também as ferramentas necessárias ao trabalho. Isso
proporcionava um caráter independente e até artístico à produção: uma cadeira era produzida inteiramente
por um único artesão, que poderia concebê-la do início ao fim. As corporações de ofício, que reuniam
diversos artesãos, ainda garantiam o controle da produção pelos trabalhadores.

No entanto, com o crescimento da burguesia e a oferta de mão de obra nas cidades oriunda do cercamento
dos campos, algumas manufaturas passaram a dinamizar sua produção, tornando-se pequenas e médias
empresas. A partir daí, o trabalhador perdeu seu poder sobre a produção: começava a viver o processo de
alienação do trabalho.

Com o advento das primeiras máquinas e fábricas, etapa conhecida como maquinofatura, esse processo se
intensificou. As primeiras máquinas (hidráulicos e a vapor) eram desenvolvidas para solucionar problemas
de produção na indústria têxtil inglesa.

A indústria têxtil era o principal ramo no pioneirismo industrial inglês, alimentada pelo cerceamento dos
campos para a criação de ovelhas e produção de lã, depois superada pelo algodão. Aos poucos, os meios
de produção literalmente se emancipavam dos trabalhadores, que não mais seriam capazes de produzir
independentemente dentro das novas condições postas pela dinâmica comercial.

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Mulheres trabalhadoras em fábrica têxtil no século XIX.

A produção, não somente têxtil, mas também de diversos outros gêneros, rapidamente foi industrializada
em grandes construções destinadas à produção. A mão de obra se tornou abundante dando origem a uma
nova classe social, que seria uma das marcas do mundo contemporâneo: a classe trabalhadora.

Classe trabalhadora

A formação da classe trabalhadora


A formação da classe trabalhadora alterou profundamente o ordenamento social vigente. A agricultura
familiar foi o meio de subsistência da imensa maioria da humanidade pela maior parte da História. A
expropriação das pessoas no campo foi um evento de profundo significado.

A política de cercamento dos campos ocorrida na Inglaterra, que logo seria replicada em outras partes no
bojo da expansão da Revolução Industrial, tomou de milhões de pessoas o direito e as capacidades de
prover seu próprio sustento, ferindo de morte a lógica dos direitos naturais, essencial ao ideário liberal que
provia o espírito para as transformações produtivas que viriam a configurar a Revolução Industrial.

A vida no trabalho assalariado, com uma jornada específica em função da produtividade, imputou
mudanças na rotina de uma forma geral.

Curiosidade
A partir da Revolução industrial, os relógios passam a ser produzidos e usados em larga escala, inclusive os
modelos de bolso, recém-inventados para controlar o tempo do trabalho.

Essa nova rotina passa, segundo as novas rotinas da sociedade capitalista, a “empregar” as pessoas de
duas formas: no trabalho, como força produtiva, e no lazer, como força consumidora. A expansão da
produção demandava a expansão dos mercados.

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Essas circunstâncias geraram o capital que agora se converteria nos salários pagos pelo trabalho em uma
reconfiguração da ordem produtiva sem precedentes. Agora, o trabalhador estava não apenas expropriado
de suas terras e direitos naturais (propriedade materializada em bens), mas também expropriado de suas
habilidades, tendo somente sua força de trabalho que agora teria de se ajustar às demandas da produção
nas cidades.

A imensa oferta de trabalhadores contribuiu para a desvalorização do trabalho,


forçando os trabalhadores a se sujeitarem a baixos salários e péssimas condições
de trabalho e vida.

As cidades estavam, naquele momento, despreparadas para absorver o impacto populacional provocado
pela Revolução Industrial. A imensa chegada de pessoas produziu condições de vida insalubres nos
primeiros bairros fabris, onde surgiram guetos e cortiços em que viviam os trabalhadores.

A alegoria de Tempos Modernos: o trabalhador "engolido" pela máquina.

Uma das principais consequências da Revolução Industrial foi o crescimento das cidades, tendência que se
mantém em curso até hoje, após várias etapas desse processo. Esse crescimento foi, na maioria dos casos,
desordenado, acarretando a configuração de espaços marcados pela desigualdade social. Os bairros
operários se formavam apressadamente, com pouco ou nenhum planejamento, a fim de dar conta de
abrigar o grande influxo de trabalhadores vindos do campo.

Comentário
O crescimento desordenado gerava preocupações entre as elites e camadas médias, demandando ações
repressivas do Estado, o que foi implementado de diversas maneiras, até mesmo por meio de políticas de
saúde pública voltadas para controlar os corpos das populações periféricas, no que Foucault (1979) chama
de biopolítica.

Essas estratégias de controle social – a biopolítica – são respostas do poder às nova dinâmicas produzidas
pela Revolução Industrial, quando o governo das populações (seus desejos, aspirações, ideais) passa a ser
encarado como uma questão de poder. A vida privada passa a ser objeto de controle na medida em que
ameace as estruturas sociais vigentes. Portanto, as transformações sociais que alçaram a burguesia ao

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lugar de classe dominante encontraram limites nas estruturas de poder que surgiam no entorno da
acumulação de capital, em defesa dos interesses burgueses. Em outras palavras, essas transformações
visavam à ruptura com os padrões de dominação do Antigo Regime, mas não deveriam contemplar todas as
pessoas. Para os camponeses expropriados de suas formas de vida no campo e obrigados às condições
insalubres das cidades em crescimento, a vida mudava para pior.

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A luta pelos Direitos dos Trabalhadores
Veja agora como os movimentos de enfrentamento às condições de trabalho nas primeiras indústrias deu
início à consolidação dos Direitos dos Trabalhadores.

As péssimas condições de vida e trabalho experimentadas pelas primeiras gerações de trabalhadores


deixavam clara sua objetificação: nesse processo, não eram melhores do que a peça de uma máquina.

Exemplo
Nas minas era comum que trabalhadores mortos fossem deixados nas profundezas, soterrados por
entulhos da escavação. Consequentemente, a expectativa de vida média de um trabalhador era
extremamente baixa.

Essas circunstâncias logo levaram alguns trabalhadores a se rebelar contra as máquinas e as fábricas,
primeiramente em Lancaster (1769), um dos primeiros centros industriais ingleses, seguida por outras
cidades. Para proteger suas empresas, proprietários e governo escalaram os métodos de repressão. As
lutas entre capital e trabalho começavam a se intensificar dando origem à chamada história da luta de
classes.

Eram numerosos os motins provocados pela fome ou como resultado da subida dos preços do pão e outros
gêneros básicos de subsistência. Em 1811, eclodiu o movimento ludista, liderado por um operário chamado
Ned Ludd, cuja mobilização se deu em torno da destruição das máquinas pelos trabalhadores. É
sintomático que essa tenha sito a primeira grande manifestação operária, uma rebelião contra as máquinas,
o instrumento impessoal da opressão do trabalho, a razão instrumental da expropriação do trabalhador de

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sua força de trabalho, agora refém das condições impostas pelo capital. Em 1830, surgiu outro movimento,
o cartismo, que reivindicava voto universal masculino para todos os ingleses, pois nessa época os
trabalhadores não votavam.

Os movimentos de revolta da classe trabalhadora revelaram a necessidade por


maior organização para alcançar as reivindicações. Em geral, o processo de
organização dos trabalhadores começava pela arrecadação de recursos para o
enterro de algum companheiro morto. Dessa organização solidária começaram a
nascer os primeiros sindicatos (trade unions).

Progressivamente, os sindicatos conquistaram diversos direitos que hoje parecem “naturais”, mas
demandaram muita luta e sacrifício, tais como a proibição do trabalho infantil, o direito de greve, a jornada
de trabalho de oito horas (as jornadas chegavam a 16h ou 18h antes disso), dentre outros. A luta pelos
direitos trabalhistas se tornava indissociável da luta pela cidadania.

Como se pode imaginar, o começo da organização da classe trabalhadora foi repleto de desafios. Por um
lado, a noção de direito estava sendo cristalizada nas experiências liberais que oficializavam um
rompimento com a ordem estamental do antigo Regime em prol de uma noção universal de cidadania –
embora universal aqui não inclua os povos das colônias ou mulheres. Por outro lado, essa ideia ainda sujeita
às estruturas reais de poder que passavam cada vez mais ao controle da burguesia, que, através do controle
sobre o processo de acumulação, passava a instituir outra forma de ordem, também pouco flexível à
inclusão das camadas baixas.

Portanto, os conflitos entre capital e trabalho passam a ser o cerne de uma estrutura superior, uma forma de
sociedade baseada na desigualdade estrutural que permite a existência, por exemplo, do chamado “exército
de reserva”, ou seja, uma condição gerada pelo sistema capitalista que consiste em uma taxa de
desemprego estrutural que tem por finalidade a desvalorização do trabalho, garantindo mais poder ao
capital.

Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?


Questão 1

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Sobre o pioneirismo inglês na Revolução Industrial, é correto afirmar que

a Inglaterra era a nação mais poderosa do mundo entre o século XVII e XVIII, e por isso
A
foi capaz de promover a Revolução Industrial.

a Inglaterra estava envolvida na Guerra dos Trinta Anos, no século XVIII, o que estimulou
B
o desenvolvimento tecnológico que levou à Revolução Industrial.

no século XVIII, a Inglaterra tinha uma série de condições favoráveis que a fizeram
pioneira nesse processo, como mão de obra abundante nas cidades, acúmulo de
C
capitais pelo comércio ultramarino e uma mentalidade empreendedora a partir da
promoção dos valores liberais pela burguesia após a Revolução Gloriosa.

D a Inglaterra beneficiou-se do pioneirismo sobre a expansão ultramarina.

a Inglaterra promoveu a Revolução Industrial a partir da exploração das colônias


E
americanas.

Parabéns! A alternativa C está correta.

O acúmulo de capitais, a modernização da agricultura, o cercamento dos campos, e a abundância de


mão de obra e recursos materiais do comércio internacional fizeram da Inglaterra o berço propício para
a Primeira Revolução Industrial. A opção A está errada porque a Inglaterra não era a nação mais
poderosa do mundo nessa época; a letra B, porque a guerra dos trinta anos não tem relação com o
pioneirismo inglês na revolução industrial; a D, porque a Inglaterra não foi a primeira beneficiada com a
expansão ultramarina; a E, porque a revolução industrial também não foi determinada por esse fator.

Questão 2

Dentre as consequências sociais forjadas pela Revolução Industrial, pode-se mencionar

A
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o desenvolvimento de uma camada social de trabalhadores, que, destituídos dos meios


de produção, passaram a sobreviver apenas da venda de sua força de trabalho.

a melhoria das condições de habitação e sobrevivência para o operariado,


B
proporcionada pelo surto de desenvolvimento econômico.

a ascensão social dos artesãos que reuniram seus capitais e suas ferramentas em
C oficinas ou domicílios rurais dispersos, aumentando os núcleos domésticos de
produção.

a criação do Banco da Inglaterra, com o objetivo de financiar a monarquia e ser também


D
uma instituição geradora de empregos.

o desenvolvimento de indústrias petroquímicas favorecendo a organização do mercado


E
de trabalho, de maneira a assegurar emprego a todos os assalariados.

Parabéns! A alternativa A está correta.

Ao migrarem do campo para as cidades, as pessoas não tiveram escolha a não ser vender sua força de
trabalho dentro das condições impostas nas fábricas, o que promoveu uma revolução também na
ordem social. A letra B equivoca-se porque não houve essa melhoria; a C, porque não houve esse
crescimento dos núcleos domésticos, pelo contrário; a D, porque a criação do banco da Inglaterra não
tinha o objetivo citado, e sim visava financiar a expansão comercial; a E, porque assegurar o emprego
jamais foi um objetivo.

Considerações finais
Procuramos, ao longo de nosso estudo, compor um retrato da formação da Acumulação Primitiva de Capital
através de uma série de transformações que produziram o mundo moderno.

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Vimos que toda essa construção foi possível graças a algumas transformações de grande vulto no mundo
europeu, que levaram a novos valores (o Renascimento), a um novo sistema econômico (o mercantilismo), a
uma nova forma de organização política (o Estado Moderno) e a um novo sistema produtivo (Industrial).
Essas mudanças remodelaram toda a organização social, a partir da articulação entre os valores do
liberalismo, herdeiros da tradição humanista e contratualista, e as demandas políticas do exercício do poder
pelas classes dominantes, fossem monarcas ou burgueses.

Aprendemos que o sistema capitalista contemporâneo é, portanto, um fruto direto do colonialismo, sendo
seu suporte por muito tempo. A Inglaterra se tornou rica explorando o comércio ultramarino do sistema
colonial e, principalmente, o tráfico negreiro. O coração do capitalismo, assim, bate, desde o início, com o
sangue de diversos povos, “o custo da modernidade”, como alguns dos defensores do liberalismo
argumentavam no século XIX.

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Referências
ALENCASTRO, L. F. de. O Trato do Viventes. São Paulo: Cia das Letras, 2000.

ANGHIE, A. Francisco de Vitoria and the Colonial Origins of International Law. Social & Legal Studies, [S. l.],
v. 5, n. 3, p. 321-336, 1996.

BOBBIO, N. A teoria das formas de governo na história do pensamento político. São Paulo: EDIPRO, 2017.

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CÉSAIRE, A. Discourse on Colonialism. Translated by Joan Pinkham. New York University: Monthly Rewiew,
2000.

FOUCAULT, M. A Microfísica do Poder. Rio de Janeiro: Graal, 1979.

HAYTER, T. Aid as imperialism. Harmondsworth: Penguin, 1974.

GOMES, L. Escravidão: do primeiro leilão de cativos em Portugual até a morte de Zumbi dos Palmares. Rio
de Janeiro: Globo Livros, 2019.

GRESPAN, J. Revolução Francesa e Iluminismo. São Paulo: Contexto, 2003.

HOBBES, T. Leviatã. São Paulo: Abril Cultural, 1974.

KRENAK, A. O amanhã não está à venda. São Paulo: Companhia das Letras, 2020.

MAQUIAVEL, N. O Príncipe: escritos políticos. 4 ed. São Paulo: Nova Cultural, 1987.

LOCKE, J. Segundo tratado sobre o governo civil. Petrópolis: Vozes, 1994.

SAID, E. W. Cultura e imperialismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

TODOROV, T. A conquista da América: a questão do outro. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2010

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Confira a seguir mais um conteúdo indicado especialmente para você!

Filmes:

1492: a conquista do paraíso, de Ridley Scott (1992) – Obra que mostra aspectos do Renascimento e do
mundo europeu em contato com a descoberta das novas regiões.

A Missão, de Roland Joffé (1986) – Filme que discute as missões jesuíticas na América hispânica e
aspectos da relação entre Portugal e Espanha e os impactos da conquista para os nativos.

Napoleão, de Yves Simoneau (2002) – Minissérie que conta a trajetória de Napoleão e aborda aspectos das
transformações durante a Revolução Francesa.

Tempos Modernos, de Charles Chaplin (1936) – Longa que aborda aspectos do trabalho sob a Revolução
Industrial, tais como a alienação do trabalhador decorrente da divisão do trabalho.

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Germinal, de Claude Berri (1993) – Adaptação do romance de Émile Zola, que descreve as condições de
vida e de trabalho dos mineiros da França durante o século XIX.

Sete Prisioneiros, de Alexandre Moratto (2021) – Obra que retrata as duras relações de trabalho no
capitalismo periférico, compondo um quadro da atávica relação entre o trabalho compulsório e a estrutura
produtiva e social do capitalismo periférico.

Livros:

Cultura e Imperialismo, de Edward Said (1993) – Obra que discute a relação entre o colonialismo e a cultura
europeia a partir da análise da literatura ocidental do século XIX, enfatizando as formas de retratação do
Oriente segundo a perspectiva etnocêntrica europeia.

Discurso Sobre o Colonialismo, de Aimé Césaire (1950) – O autor martinicano faz uma discussão crítica e
poética sobre a violência do colonialismo, tomando como referência principal o colonialismo francês que
viveu na Martinica. Uma das principais referências para se pensar o mundo moderno fora do eurocentrismo.

A Conquista da América, de Tzvetan Todorov (1982) – O autor aborda criticamente a colonização das
Américas ressaltando a dominação a partir da construção do Outro.

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