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Em sua obra intitulada "Ascensão e queda das grandes potências", Paul Kennedy realiza uma
análise histórica sobre as potências mundiais e seus processos de crescimento e declínio ao longo do
tempo. Ele situa esses processos dentro do contexto da formação do sistema internacional e do
capitalismo, principalmente nos séculos XVI e XVIII, que o autor denomina como "Era dos Impérios".
Nesse período, o poder e a riqueza das nações foram determinados pela sua capacidade de expandir
e manter impérios coloniais, impulsionados pelas grandes navegações e pelo surgimento de um
capitalismo mercantilista emergente.
Segundo Kennedy, essa fase histórica marca o momento de ascensão econômica, científica e
cultural de potências europeias, (que antes desse ponto de virada tinham um papel coadjuvante na
história mundial) colocando em evidência nações como Portugal, Espanha, França, Holanda, e com
especial ênfase na Inglaterra. A competição entre essas nações emergentes pelo controle do
comércio global e das rotas marítimas foi intensa e moldou as estruturas do poder mundial até os
dias atuais.
O historiador apresenta uma abordagem eurocêntrica e liberal no livro, ao fazer uso de uma
linguagem teleológica, ao expressar que a Europa tinha uma espécie de predestinação à ascender no
espectro internacional e que a combinação do laissez-faire econômico, do pluralismo político e
militar e da liberdade intelectual, interagiram para produzir o “milagre europeu”, e faz um
questionamento: “Por que a Europa teve um processo incessante de desenvolvimento econômico e
revolução tecnológica, que levaria o continente a ser o líder comercial e militar do mundo?”.
Já James Morris Blaut em sua obra “The Colonizer’s Model of The World”, é crítico da visão
eurocêntrica sobre a ascensão europeia, do sistema internacional e do capitalismo. Em sua
interpretação, o período de surgimento do capitalismo na Europa e consequentemente o sistema
internacional acontece nos séculos XV-XVII com a conquista e colonização da América pelos
Europeus.
Sendo assim, Blaut inverte os fatores de Kennedy; enquanto o historiador dizia que a
colonização é uma consequência do desenvolvimento econômico, científico e bélico que já existia na
Europa, Blaut rebate esse argumento dizendo que a colonização foi o fator fundamental a ascensão
do capitalismo histórico e a formação do sistema internacional. Enquanto Kennedy coloca
protagonismo na Europa, Blaut coloca protagonismo nas colónias, explicitando sua visão anti
eurocêntrica.
Blaut apresenta três indagações: caso a Europa não se destacasse perante outras regiões,
qual razão a levou a conquistar a América em primeiro lugar? Qual a chave para o sucesso de sua
empreitada? E, quais foram os benefícios obtidos pelos europeus com a colonização das Américas?
Essa conquista trouxe ouro e prata para o poder europeu e plantations; esse acúmulo de
metais e o comércio decorrente das plantações americanas abriram as portas para um acúmulo
gigantesco de capital para a Europa. Esse momento marca a transição do proto-capitalismo para o
capitalismo histórico, solidificando sua ascensão no sistema internacional no século XVIII.
Enrique Dussel compartilha da mesma visão anti eurocêntrica de Blaut em sua obra “Europa,
modernidade e eurocentrismo”. O filósofo expõe que as ideias que sugeriam que a Europa Ocidental
durante o Renascimento fosse uma continuidade da Grécia Antiga ou do Império Romano eram
falsas e que é necessário opor a visão hegemônica (Mito da modernidade) no que se refere a história
da Europa, apresentando a teoria do Sistema-Mundo.