O capítulo discute a teoria do sistema-mundo de Wallerstein e como ela analisa as relações entre os estados soberanos no sistema capitalista moderno. Wallerstein argumenta que, apesar da soberania, os estados dependem uns dos outros e são influenciados pelas grandes potências. A prioridade do capitalismo é a acumulação de capital, não a manutenção de qualquer estrutura política ou cultural específica.
Descrição original:
WALLERSTEIN, I. World System Analysis: an introduction. Duke University Press Books,Year: 2004. Cap 3.
Título original
RESENHA - WORLD SYSTEM ANALYSIS: AN INTRODUCTION WALLERSTEIN, I.
O capítulo discute a teoria do sistema-mundo de Wallerstein e como ela analisa as relações entre os estados soberanos no sistema capitalista moderno. Wallerstein argumenta que, apesar da soberania, os estados dependem uns dos outros e são influenciados pelas grandes potências. A prioridade do capitalismo é a acumulação de capital, não a manutenção de qualquer estrutura política ou cultural específica.
O capítulo discute a teoria do sistema-mundo de Wallerstein e como ela analisa as relações entre os estados soberanos no sistema capitalista moderno. Wallerstein argumenta que, apesar da soberania, os estados dependem uns dos outros e são influenciados pelas grandes potências. A prioridade do capitalismo é a acumulação de capital, não a manutenção de qualquer estrutura política ou cultural específica.
WALLERSTEIN, I. World System Analysis: an introduction. Duke University Press Books,Year: 2004. Cap 3.
Capítulo 3
Em vez do conceito de estado-nação, até então utilizado pelas ciências
sociais, o sociólogo estadunidense Immanuel Wallerstein desenvolveu, na década de 1970, a teoria do sistema-mundo para a análise do mundo capitalista moderno. O sistema-mundo estuda as interdependências das nações, seus diferentes graus de desenvolvimento baseado na exploração de umas nações sobre as outras e na divisão do mundo em países centrais, semiperiféricos e periféricos. A mudança epistemológica desta teoria está em analisar os processos históricos de forma abrangente e não como campos distintos como política, sociologia, economia e história. Na obra “World System Analysis: an introduction”, o autor apresenta uma visão geral de sua teoria e no capítulo 3 aborda a ascensão do sistema de estados-nação, soberania e sistemas inter-estados. Wallerstein afirma que o estado moderno é um estado soberano e que soberania é um conceito que foi inventado. Ele remete a ideia de um poder estatal autônomo, mas, de fato, os estados compõem um círculo maior de estados que se inter-relacionam, portanto, é preciso investigar o grau e o conteúdo dessa autonomia presumida. O surgimento das "novas monarquias" na Inglaterra, França e Espanha no final do século XV seria o início do sistema mundial moderno. E as relações entre os estados teria começado com a diplomacia italiana e a paz na Westphalia, em 1648, assinada pela maioria dos estados europeus da época. O absolutismo e suas estruturas centralizadoras tinham o poder de cobrar impostos, criar leis, burocracias e utilizar de violência para manter sua estrutura local, mesmo assim – apesar do termo absoluto – não tinham o poder de fato, pois precisavam se relacionar com outros países e ser reconhecidos por eles. A soberania é, portanto, uma reivindicação de autoridade interna e externamente, determina que dentro daquela fronteira física nenhum outro estado tem o direito de interferir em seus assuntos domésticos. No entanto, como em toda reivindicação, a soberania só tem significado se for reconhecida pelos outros países. No sistema mundial moderno, a legitimidade da soberania requer reconhecimento recíproco e este é um fundamento do sistema inter-estado. A reciprocidade também opera internamente: as autoridades locais precisam reconhecer a autoridade central como legítima, em muitos locais isso é definido por uma Constituição ou outra lei específica que determine a divisão de poderes. Se o reconhecimento não ocorre, o colapso pode chegar a uma guerra civil. O autor destaca que, “do ponto de vista dos empresários que atuam na economia mundial capitalista, os estados soberanos afirmam autoridade em pelo menos sete arenas principais de interesse direto para eles: (1) Os Estados estabelecem as regras sobre, se e em que condições mercadorias, capital e trabalho podem cruzar suas fronteiras. (2) Eles criam as regras relativas aos direitos de propriedade dentro de seus estados. (3) Eles estabelecem regras relativas ao emprego e à pensão dos empregados. (4) Eles decidem quais custos as empresas devem internalizar. (5) Eles decidem que tipos de processos econômicos podem ser monopolizados, e a que nível. (6) Eles tributam. (7) Finalmente, quando as empresas com base em seus limites podem ser afetados, eles podem usar seu poder externamente para afetar o decisões de outros estados”. (pág. 45) Apesar de os capitalistas afirmarem que os governos não devem interferir no mercado, o que se observa é que, no movimento transfronteiriço (item1) de mercadorias, capitais e pessoas, qualquer decisão de governo favorecerá uma das partes envolvidas, não há neutralidade possível. O mesmo vale para os demais itens. Por isso, sem algumas proteções garantidas pelo estado, o sistema capitalista não pode funcionar. Na medida que bens, capital e pessoas ultrapassam fronteiras, as empresas não são afetadas apenas pela política de seus estados, mas também pela dos estados com os quais negocia. As empresas estrangeiras podem lidar com os diversos governos de forma direta como fazem em seu país de origem (ou seja, com suborno, pressão política ou troca de vantagens) ou de forma indireta, se a empresa tem origem em um país forte, ela pode pedir para que o seu governo pressione o governo do outro país. O sistema capitalista prevê um modo de dividir o excedente valor que é produzido. Quanto maior for a parcela destinada à acumulação de capital, menor será alocado como compensação para aqueles que trabalharam, criando a mais-valia. Essa divisão não será de 100 para um lado e zero para o outro. A gama possibilidades intermediárias estimulará uma luta constante sobre a alocação da mais-valia, chamada de luta de classes. O estado é um ator central na variação dessa alocação. A Revolução Francesa trouxe as duas mudanças fundamentais na geocultura do sistema-mundo: criou o conceito de progresso, bastante utilizado pelo Iluminismo, e reorientou o conceito de soberania como sendo uma legislatura voltada ao povo, definido como cidadão. Ser cidadão significa ter o direito de participar das decisões do estado, em igualdade com todos os outros cidadãos. Mas, ainda hoje, nem todas as pessoas são cidadãs plenas, há muitos excluídos. Da Revolução Francesa saíram três grupos ideológicos: Conservadores, liberais e radicais (anti-sistêmicos). Desses, foram os liberais que dominaram a cena do sistema-mundo a maior parte do tempo. A movimentação dessas tendências eram afetadas pela força do estado em que se encontrava. Wallerstein define essa força como a capacidade de fazer com que as decisões legais sejam executadas, como a capacidade de receber o imposto cobrado, ou seja, países com alta evasão fiscal seriam mais fracos, teriam menos capacidade de manter a sua burocracia, estariam mais facilmente expostos à corrupção e a perder o controle do país, por exemplo, para os militares. Não por conta de políticas erradas, mas pela fraqueza endêmica das estruturas do estado em zonas onde a grande maioria dos processos de produção são periféricos e são, portanto, fontes fracas de acumulação de capital. O autor destaca que essa fraqueza impulsiona poderes locais não-estatais, como as máfias, que monopolizam setores e atuam para acumular o capital entre o ilegal e o legal. Uma das maneiras pelas quais os estados tentam reforçar sua autoridade e diminuir o papel das máfias é transformar sua população em uma "nação". O status de estad0-nação é um desejo dos países porque o nacionalismo é uma identidade de grupo crucial para manter o sistema-mundo moderno. Todos os estados são soberanos, mas os estados fortes pressionam os estados fracos para manter os fluxos dos fatores de produção que são úteis e lucrativos para as empresas dos estados fortes, resistindo a qualquer demanda de reciprocidade. A mesma pressão ocorre na política interna, educacional e financeira, entre outras. É a relação de colônia justificada pelas potências com argumentos racistas de superioridade cultural e o papel civilizador das metrópoles. A relação entre países fortes apresenta uma contradição, segundo Wallerstein. Eles são rivais, competem entre si, mas estão unidos na manutenção do sistema-mundo e no fluxo de exploração dos países fracos. Um papel especial cabe aos países semiperiféricos que precisam fazer alianças e cuidar das oportunidades econômicas para se fazerem relevantes no jogo, tanto como produtores, acumuladores de capital ou força militar. Os semi-periféricos, de fato, competem uns com os outros. Existem duas maneiras pelas quais um país forte pode realizar deu domínio: (1) transformando a economia mundial em um império mundial, ou seja, uma única autoridade política para todo o sistema-mundo (o que nunca aconteceu) ou (2) obtendo a hegemonia, ou seja, estabelecendo as regras do jogo no sistema inter-estados para dominar a economia, a política e a cultura do sistema mundo. No livro ele cita os Estados Unidos em meados do séc. XX. Wallerstein termina o capítulo explicando por que nenhum país conseguiu chegar a ser um império mundial e por que as hegemonias duraram pouco. Para ele, isso ocorreu porque a estrutura peculiar de uma economia mundial (divisão de trabalho única; múltiplas estruturas estatais, embora dentro de um sistema inter-estados; e várias culturas, embora com uma geocultura) é peculiarmente consoante com as necessidades de um sistema capitalista. Um império mundial iria sufocar o capitalismo ao colocar a estrutura política como prioridade em vez do acumulo de capital. Já a hegemonia, apesar de ser lucrativa para as empresas ligadas ao poder hegemônico, principalmente as monopolistas, não resiste muito tempo porque é caro manter as eficiências necessárias e, ao mesmo tempo, os outros países também melhoram suas eficiências reduzindo a superioridade entre eles. Nesse momento, o hegemônico é forçado a usar o poder militar, o que é considerado um sinal de fraqueza tanto externa como internamente. A economia capitalista precisa dos estados, do sistema de relação entre eles e do aparecimento periódico de potências hegemônicas. Mas, a prioridade dos capitalistas nunca é a manutenção de qualquer uma dessas estruturas. A prioridade permanece sempre na acumulação de capital, o que é melhor alcançado por uma mudança constante no conjunto de dominações políticas e culturais dentro do qual as empresas capitalistas obtém apoio dos estados, mas procura limitar seu domínio.