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Caos e Governabilidade são, para Giovanni Arrighi, tendências intrínsecas ao sistema-mundo moderno que oscilam conforme

complexos hegemônicos se sucedem. A partir da exposição e breve análise dos elementos que distinguem uma rodada de caos
sistêmico, busca-se verificar em que medida a teoria do sistema-mundo, sob a ótica arrighiana, é capaz de explicar as transformações
estruturais do sistema internacional a partir da década de 1970. E a terceira busca estabelecer paralelos entre os períodos de caos já
encerrados ao longo da história e as transformações do sistema-mundo nos últimos quarenta anos , de modo a identificar padrões e
variações entre o que a teoria indica e o que a realidade nos apresenta.
Wallerstein define sistema-mundo como um sistema social que abrange regiões espacialmente integradas por uma divisão do
trabalho, movido por forças internas que estão em constante luta para modelar o sistema em seu proveito, e que está em constante
expansão de forma a absorver áreas antes intocadas por seu modelo produtivo e por sua organização de poder . Em sua trilogia,
Giovanni Arrighi analisa, sob diferentes aspectos, os ciclos de acumulação que se sucederam no transcorrer da expansão do sistema-
mundo europeu de fins da Idade-Média – a economia-mundo capitalista. Assim, para uma classe dominante exercer a hegemonia não
basta apenas dispor dos meios coercitivos do Estado, é necessário que seja construído um sistema de alianças entre vários grupos,
em que o grupo dominante exerce o poder graças à sua capacidade de transformar os interesses particulares em gerais ou universais.
O terceiro elemento fundamental para o exercício da hegemonia é, segundo Gramsci, a centralidade econômica, de forma a
possibilitar materialmente a existência do poder bicéfalo. A economia-mundo também apresenta uma economia complexa e integrada,
mas composta por unidades políticas autônomas, ou seja, sociedades culturalmente diferentes e politicamente autônomas tornam-se
interdependentes graças às relações econômicas que as une.
Apresentam dois conceitos que buscam mostrar os diferentes aspectos que envolvem o exercício do poder. A partir desta definição,
autores como Robert Cox e Giovanni Arrighi utilizam-se da expressão hegemonia mundial para se referir aos complexos de poder e
riqueza que, em determinados momentos da história, apoiaram-se no tripé hegemônico de Gramsci e garantiram uma época de
governabilidade. As hegemonias mundiais, como aqui entendidas, só podem emergir quando a busca do poder pelos Estados inter-
relacionados não é o único objetivo da ação estatal. Na verdade, a busca do poder no sistema interestatal é apenas um lado da
moeda que define, conjuntamente, a estratégia e a estrutura dos Estados enquanto organizações.
O outro lado é a maximização do poder perante os cidadãos. Portanto, um Estado pode tornar-se mundialmente hegemônico por estar
apto a alegar, com credibilidade, que é a força motriz de uma expansão geral do poder coletivo dos governantes perante os indivíduos.
Ou, inversamente, pode tornar-se mundialmente hegemônico por ser capaz de afirmar, com credibilidade, que a expansão de seu
poder em relação a um ou até a todos os outros Estados é do interesse geral dos cidadãos de todos eles . A perturbação tende a
reforçar a si mesma, ameaçando provocar, ou de fato provocando, um colapso completo na organização do sistema.
Portanto, a crise e o colapso de uma ordem mundial decorrem do enfraquecimento das estruturas existentes – alicerçadas no poder
hegemônico – e da ascensão de novas estruturas que buscam, através da competição econômica e/ou da contestação política e
militar, um rearranjo sistêmico, com uma nova divisão do trabalho, da riqueza e do poder. A partir da análise do gráfico I, pretende-se
expor os elementos comuns aos períodos de caos sistêmico já encerrados. Apesar de ser uma abstração teórica, portanto rígida e
pouco apegada a variáveis endógenas, a relevância da imagem está em apresentar ao leitor a idéia de oscilação entre caos e
governabilidade, permitindo uma verificação da capacidade explicativa da teoria em questão. Giovanni Arrighi afirma que o Sistema
Mundo Moderno tem sua origem nas cidades-Estado principescas da Itália renascentista.
Tanto a ascensão quanto o declínio ocorrem em momentos de caos sistêmico, representado pela área escura do gráfico I, enquanto
que a plena expansão coincide com a governabilidade, a área clara do gráfico. Para efeito de análise, os autores apontam os cinco
elementos considerados principais no caos sistêmico. Não obstante, este é um recorte particular e não tem como objetivo englobar
todas as variantes sociais, econômicas e políticas que caracterizam a teoria do sistema-mundo, nem tão pouco contrastar com outras
abordagens teóricas do Sistema-Mundo formuladas por autores como Immanuel Wallerstein e José Luís Fiori .
Através da fórmula de reprodução de capital de Marx , Arrighi identifica duas tendências na economia-mundo capitalista que coincidem
com as fases do longo século de uma hegemonia. A primeira tendência é a expansão material ou DM, que ocorre quando uma
hegemonia está em seu auge, em plena expansão. Nessa fase, a introdução de inovações no processo de acumulação e no sistema
interestatal pelos novos agentes hegemônicos faz com que as atividades produtivas e comerciais proporcionem, em relação às demais
atividades econômicas, maior lucratividade. Em poucas palavras, os agentes empresariais e governamentais da hegemonia difundem
para o resto da economia-mundo, após o fim do caos sistêmico anterior, as inovações organizacionais e tecnológicas criadas na fase
de ascensão de seu longo século.
Com isso, ocorre uma expansão material que impulsiona as esferas reais da economia – produção e comércio – ao passo que
consolida uma nova divisão internacional do trabalho, agregando mais valor às atividades econômicas centrais em detrimento das
periféricas.
Após certo tempo de expansão material, a superacumulação de capitais concretiza-se, isto é, a acumulação de capital é muito superior
à que pode ser investida com lucro, no comércio e na produção, nas estruturas vigentes do regime de acumulação mundial. Um
volume crescente de capital, na sua forma líquida e mais flexível, vai procurar sua valorização na esfera financeira. É um período de
crise hegemônica, de transformação estrutural do moderno sistema de Estados nacionais soberanos, de surgimento de novos regimes
de acumulação, de novos modos de governo, de reorganização do sistema-mundo sob nova liderança, durante o qual são lançadas as
bases para a superação da crise financeira e para o início de um novo ciclo sistêmico de acumulação, com transformações nas
estruturas de produção e nas formas de hegemonia política . Neste momento a acumulação de capital por parte da hegemonia é
tamanha que a taxa de lucros na economia real torna-se decrescente.
Na primeira, o excesso de capital decorreu do sucesso alcançado pelas companhias de comércio, verdadeiras máquinas de
acumulação de poder e capital da Holanda. O começo da expansão financeira coincide com a crise sinalizadora da hegemonia, que
baliza o início de seu declínio. Historicamente este processo é iniciado com uma crise de hiperacumulação, quando o dinheiro e o
crédito tornam-se extremamente baratos, os preços caem vertiginosamente e as empresas comerciais e produtivas da hegemonia
passam a receber menos investimentos. A Inglaterra tornara-se um imenso ‘continente’ de capital excedente – capital que se
acumulava muito além do que podia ser investido com lucro na expansão da produção e do comércio .
A concentração que se dá dentro das estruturas hegemônicas propicia um momento maravilhoso de reanimação do modelo de
acumulação. Mas a concentração que ocorre às margens do raio de ação da hegemonia é a causa determinante do declínio desta ,
pois faz brotar estruturas regionais de acumulação que desestabilizam o antigo regime e antecipam a emergência do novo , nos
levando ao segundo fenômeno característico do caos sistêmico. Para muitos especialistas a hegemonia norte-americana vive este
momento maravilhoso desde a década de 1970, sob a égide da globalização.
A facilidade para se obter crédito no grande centro financeiro possibilita o surgimento de alianças Estado-empresa inovadoras, que
reciclam o capital virtual acumulado na hegemonia e, com novas técnicas organizacionais, passam a concorrer com os agentes
empresariais tradicionais ligados à própria hegemonia. Assim, no sentido contrário à financeirização do modelo de acumulação
vigente, novos modelos iniciam suas expansões materiais . Wallerstein, um aspirante a império-mundo, que busca o controle das
fontes de poder e riqueza através da força. Em contrapartida, outro modelo inovador limita-se a concorrer com a hegemonia na esfera
econômica, evitando, sempre que possível, o acirramento das rivalidades políticas e militares.
Seja na esfera econômica, política, ou em ambas, o fato é que o surgimento destes novos modelos corrói as vantagens competitivas
tanto do Estado hegemônico quanto das empresas ligadas a ele, contestando, de uma forma ou de outra, a ordem mundial vigente. E
a centralidade econômica, vista por Arrighi e Cox como fundamental para amparar o exercício da hegemonia, deixa gradualmente de
existir. Esta tendência é verificável nas duas fases de caos sistêmico já encerrado do sistema-mundo. Quando Amsterdã iniciou sua
expansão financeira, o capital disponível obteve maior lucratividade na França e Inglaterra, cujos governos adaptaram o mercantilismo
holandês à busca por territórios ultramarinos e, em pouco tempo, passaram a contrabalancear as vantagens econômicas e o poderio
naval desta hegemonia.
Desta forma, o declínio da hegemonia holandesa esteve, de fato, vinculado à concorrência econômica da nova lógica capitalista
inglesa. No período de caos sistêmico seguinte, esta tendência se repetiu. Da mesma forma como a Inglaterra industrializou-se a partir
da abundancia de capital em Amsterdã, os EUA desenvolveram a nova lógica capitalista de grandes corporações através da
abundância de capital em Londres. Unidos se transformaram na fronteira de expansão do capital financeiro e do capitalismo inglês,
selando uma aliança estratégica e criando um ‘território econômico’ quase contínuo .
A industrialização de países europeus, bem como dos EUA e do Japão, provocou um acirramento considerável da competição
interempresarial, o que intensificou o caos sistêmico.
Alemanha do Kaiser Guilherme II foi notadamente o país mais agressivo, tanto dentro quanto fora da Europa
Questionando a ordem mundial vinculada à hegemonia britânica, a Weltpolitik foi responsável pela escalada da competição interestatal
que levou o sistema-mundo à nova guerra de trinta anos – vista por Arrighi como o período compreendido pelas duas guerras
mundiais . Portanto, com as vantagens competitivas reduzidas ou anuladas, o Estado hegemônico perde seu apelo consensual e sua
superioridade coercitiva , ambos fundamentais para o exercício da hegemonia, segundo Arrighi. Já na Alemanha predominou a
integração horizontal, em que se formaram oligopólios ou monopólios em setores estratégicos para o Estado. A Weltpolitik consistiu
numa série de discursos revisionistas e ações de expansionismo do Kaiser Guilherme II que tinham por objetivo maximizar o poder do
Estado alemão e garantir a inclusão da Alemanha no clube das grandes potências.
As normas, princípios e instituições criadas pela hegemonia quando o caos sistêmico se encerra, visam garantir nova rodada de
governabilidade para o sistema. Porém, há um momento em que os mecanismos jurídicos e os argumentos ideológicos não dão conta
de absorver as transformações infra-estruturais dos tópicos 1.1 e 1.2, pois os novos players não mais se sujeitam às regras de uma
ordem mundial regida por uma hegemonia. A face consensual da hegemonia, que se assenta sobre este discurso, está fadada a
desaparecer, sendo substituída por uma pluralidade de visões que acirram ainda mais a competição e contribuem para a
intensificação do caos sistêmico. Os princípios de equilíbrio de poder, soberania estatal e proteção do comércio, instituídos à época da
hegemonia holandesa na Paz de Westfália, foram sistematicamente violados conforme os conflitos se intensificavam.
De forma homóloga, o liberalismo econômico, o equilíbrio de poder do Concerto Europeu e a legitimidade das monarquias européias,
positivados no Congresso de Viena e atrelados à hegemonia britânica, também passaram a ser questionados e violados pelos novos
modelos políticos e econômicos.
Desta forma, conforme outros Estados se armam, a hegemonia é obrigada a aumentar seus gastos com defesa, o que agrava ainda
mais sua economia – em processo de financeirização. A perda de sua capacidade coercitiva relativa gera um vácuo de poder que
estimula os novos players a abocanhar o que outrora fora exclusividade da hegemonia, seja tecnologia bélica avançada, colônias,
mercados consumidores ou pontos estratégicos para uma possível guerra. O soft power tende a predominar quando a hegemonia está
em seu auge, ainda que seu poder bélico esteja bem acima do alcance dos demais. Porém, quando o apelo ideológico da hegemonia
começa a enfraquecer, o hard power tende a ser mais usado, como que para compensar as desvantagens econômicas e reveses
políticos.
Assim, o choque entre a hegemonia decadente e um poder em ascensão torna-se praticamente inevitável.
Confrontado com a produção de navios de guerra em larga escala da Alemanha nos primeiros anos do século XX , o governo britânico
viu-se obrigado a investir ainda mais em seu poderio marítimo para assegurar sua soberania e sua segurança .
Como resposta a este movimento, surge uma coalizão de unidades políticas ameaçadas por esta expansão, que são lideradas pela
hegemonia em declínio, mas, principalmente, por um outro modelo de acumulação que, assim como o império-mundo, surgiu da
expansão financeira centrada na hegemonia.
As estruturas existentes – o princípio do equilíbrio de poder e a soberania dos Estados – não correspondem mais aos desafios
impostos pelas novas estruturas ou novas visões de mundo, no caso, os ideais iluministas difundidos por Napoleão. Ao final dos
conflitos, o império-mundo francês é derrotado pela coalizão das demais unidades políticas e a hegemonia holandesa está em
frangalhos devido ao desgaste da guerra.
Como consequência da ameaça imperial da Alemanha nas duas guerras mundiais, os EUA aparecem como líderes da coalizão anti-
império-mundo e chegam ao final dos conflitos como o único Estado capaz de reorganizar o sistema-mundo e garantir nova rodada de
governabilidade.
A Segunda Guerra Mundial, conhecido como a idade de ouro do capitalismo – que definiu o ciclo de expansão material da potência
hegemônica –, a expansão financeira nas décadas de 1970 e 1980 parece marcar o retorno à tendência de caos sistêmico, uma vez
que muitos dos elementos que caracterizam este processo podem ser verificados na atual configuração do sistema mundo moderno .
Tal como nos ciclos anteriores, o começo da expansão financeira coincide com a crise sinalizadora da hegemonia de Arrighi, momento
também identificado como um sinal do outono por Braudel. A década de 1970 marca a crise inicial da hegemonia norte-americana, e
sua crise terminal, denominada ruptura hegemônica no esquema deste autor ainda encontra-se incógnita neste início do século XXI ,
se é que ocorrerá. Assim, estamos vivenciando um momento decisivo na história do capitalismo, que coincide com as variáveis típicas
do caos sistêmico.
O capitalismo mundial e o sistema interestatal passaram por significativas mudanças estruturais na década de 1970. Diante da
escalada da competição interempresarial, as grandes empresas transnacionais buscaram novos espaços de acumulação em locais
onde a classe trabalhadora recebesse baixa remuneração, dentre outras facilidades, como apoio de subsídios e legislações
ambientais menos restritivas. Esse processo levou à realocação geográfica de diversos segmentos produtivos, em especial, na Ásia,
cujo resultado redesenhou espacialmente o sistema capitalista mundial. Segundo Corsi , a lenta acumulação do ciclo de expansão
material da hegemonia foi a grande responsável, mas não a único, pela ampliação do excedente de capital na forma dinheiro, que
vinha crescendo desde o final da década de 1960 e que sofreu uma majoração exponencial a partir da própria valorização fictícia nos
mercados financeiros cada vez mais globalizados.
Assim, conclui o autor, a ampliação e a falta de controle dos mercados financeiros permitiram para a crescente autonomia da esfera
financeira em relação à produção de valor. O predomínio do capital financeiro passou a criar um ambiente de instabilidade crônica na
economia mundial a partir da formação de bolhas especulativas. No período pós Guerra Fria, novos arranjos de poder e riqueza
aumentaram de importância em virtude dessa nova lógica de estruturação do sistema internacional, tal como a ascensão de blocos
econômicos de geometrias variáveis e a consolidação da Ásia como um posição ocupada no início da guerra fria . Assim, entende-se
que a análise da possível crise da hegemonia norte-americana deve ser analisada diante de uma perspectiva que dê conta de verificar
as correlações de força imanentes no sistema político e econômico contemporâneo.
Diante da limitação do recorte de objeto proposto no presente trabalho, não será delineada a atual configuração de forças que servem
como formidáveis incentivos as facilidades e constrangimentos à hegemonia norte-americana. Durante as últimas duas décadas, a
dinâmica da economia-mundo passou a ficar mais complexa diante do aumento do peso do novo pólo de acumulação sistêmica
formado na Ásia. Em sua última obra, Adam Smith em Pequim , Arrighi afirma a tese de uma transição para uma hegemonia com sede
na Ásia, inaugurando assim, uma nova lógica de acumulação de capital com o prognóstico de formidáveis mudanças para as próximas
décadas. São vários os especialistas que apontam sem muita surpresa a criação nacional de acumulação de poder e de capital da
China com grande capacidade gravitacional similar à dos Estados Unidos.
Os Estados Unidos adquiriram um quase monopólio do uso legítimo da força em escala mundial. No entanto, seu endividamento
financeiro é de tais proporções que o país torna-se vulnerável diante dos países que controlam a liquidez internacional , tais como a
China, Japão e outros países asiáticos. Ela aumentou, de forma geométrica, o poder do dólar e dos títulos da dívida pública do
governo americanos e a capacidade de multiplicação do seu capital financeiro. Importante mencionar que a China é o país que mais
compra títulos do tesouro norte-americano, financiando assim a dívida pública dos Estados Unidos.
Não obstante, com a crise econômica mundial da década de 1970 e o fim da URSS em 1991 , muitas das instituições e dos princípios
que as norteavam acabaram por ser violados pela própria hegemonia. Como consequência, ocorre o fenômeno da obsolescência
destas organizações e ideias, que não acompanharam ou foram obrigadas a se adaptar a um contexto diferente daquele em que
foram criadas a Organização Internacional do Comércio, Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento e a natimorta
Organização dos Estados soberanos do mundo. O desrespeito às resoluções do Conselho de Segurança da ONU quanto às invasões
do Iraque e do Afeganistão, além de ações militares como na Somália em 1994, demonstram claramente a preponderância coercitiva
da política externa norte-americana nas últimas quatro décadas, gerando um forte desgaste da imagem do país, principalmente a
partir da política neoconservadora de Bush após o 11 de Setembro. Não obstante, afirmar que vivemos um período de caos sistêmico
similar aos homônimos já encerrados, é contar apenas parte da história. Ainda que sejam verificáveis a expansão financeira, a
ascensão de novos centros e a corrosão do poder consensual da hegemonia, a atual configuração do sistema internacional apresenta
uma série de variáveis que não são previstas pela teoria do sistema-mundo.
Em primeiro lugar, não se pode falar da perda da capacidade coercitiva relativa do poder norte-americano. Pela primeira vez na
história da humanidade, a tecnologia bélica mais avançada não pode ser usada devido à certeza de seus efeitos colaterais negativos ,
estando restrita ao plano da coerção e da ameaça. Assim, a ocorrência de uma nova guerra de trinta anos, que precipite o colapso de
uma hegemonia e impulsione outra, parece improvável. América do Sul, e obrigando a hegemonia norte-americana a despender
recursos em nome da segurança.
Inúmeras outras variáveis não relevadas pela teoria do sistema-mundo poderiam ser citadas como exclusivas do atual caos sistêmico,
tornando apenas parcialmente legítima a afirmação de que, de fato, vivemos o novo caos. Os desequilíbrios ambientais, por exemplo,
consistem numa agenda que urge não apenas Estados, mas todos os seres humanos, a pensar em conjunto, pois assim como uma
suposta guerra nuclear, geram danos que extrapolam fronteiras e não respeitam classe, cor ou religião.

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