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A abordagem da economia-mundo acomete o processo da longa duração proposto por Braudel

(1958) como referência para suas análises que tinham não só hipóteses inovadoras de
interpretação histórica, mas, sobretudo, pretensões globalizantes e estruturantes no sentido de
articular determinações de várias estruturas na explicação da história do sistema.11 Cada
estrutura tem seu próprio tempo e, se considerar que o sistema é complexo, devem-se
respeitar as continuidades de estruturas em meio a mudanças de outras estruturas. Nesse
sentido, a longa duração é a dimensão temporal adequada para análises da mudança em
sistemas históricos complexos. Se os autores da abordagem conseguem aplicar com êxito tal
método, isso é uma questão em aberto, mas o método da longa duração é uma referência.

está na forma de sintetizar o caráter heterogêneo do capitalismo histórico, ao propor analisar as


diferenças regionais com um esquema tripartido

Braudel (1985) divide a vida econômica, no capitalismo, em três conjuntos de atividades, em


três “andares”. A camada inferior dessa estrutura tripartida é denominada “vida material” e se
refere às atividades cotidianas, rotineiras, habituais e inconscientes, em que a relação do
homem com as coisas é orientada pelo seu valor de uso, não pelo seu valor de troca. O andar
subseqüente é chamado de “economia de mercado” e diz respeito à vida econômica em si, às
trocas rotineiras (e não apenas às trocas esporádicas), à produção para o mercado (e não
simplesmente à troca de excedente do auto-consumo) e à relação entre pessoas e coisas
baseada no valor de troca. Braudel (1985) distingue dois níveis da “economia de mercado”: um
inferior, composto por mercados, lojas e vendedores ambulantes; e um superior, formado por
feiras e bolsas, onde o volume transacionado e a complexidade institucional são maiores. Esse
andar é marcado pela transparência das trocas e pela concorrência entre os agentes.

Entretanto, há processos no sistema capitalista que não cabem incluir na “economia de
mercado”, pois se baseiam numa forma específica de conduzir os jogos da troca, em que
mecanismos de mercado e extramercado são utilizados para obter a maior parte do excedente.
Esses processos e essa forma de conduzi- -los dizem respeito à camada superior da estrutura
tripartida, ocupada pelo que Braudel (1995) chamou, especificamente, de capitalismo. Constitui
uma esfera de circulação diferenciada, que fica no topo da hierarquia das trocas. É onde se
encontram as trocas desiguais, em que a concorrência (característica essencial da “economia
de mercado”) tem um reduzido lugar. Nesse sentido, Braudel (1985) distingue dois tipos de
troca:

Para Braudel (1986) a economia mundial compreende-se como a economia do mundo globalizado(?), “um
mundo em si e para si”. Podendo ser definida como uma tripla realidade:
- Ocupa um determinado espaço geográfico, portanto possui limites que a explicam e a variam, podendo ocorrer
rupturas, como foi o caso da Rússia de 1689, quando Pedro, o Grande, abriu-se à economia europeia;
- Submete-se a um pólo/centro, composto por uma cidade dominante, uma grande capital econômica, Nova
Iorque nos EUA por exemplo. É possível existir dois centros em uma mesma economia-mundo, porém um dos
centros acaba sendo suprimido. Em 1929, a capital econômica passou de Londres para Nova Iorque;
- Dividem-se em zonas sucessivas, há o coração, sendo a zona em que se alonga em torno do centro, as zonas
intermédias em volta do eixo central e as zonas periféricas, as quais são subordinadas e dependentes.

Na análise de Wallerstein (1979), os sistemas sociais são sistemas históricos complexos,


pois constituem múltiplas estruturas, caracterizando uma rede integrada de processos
econômicos, políticos e culturais, com uma eficácia própria, um potencial de diferenciação,
relações entre processos e estruturas para mantê-los unidos. Os sistemas sociais são sistemas
históricos complexos.

O sistema-mundo capitalista agrupa uma economia-mundo capitalista e uma série de


Estados nacionais em um sistema interestatal com múltiplas culturas, podendo abranger uma ou
mais entidades políticas, transcendendo as suas fronteiras. De tal forma, Wallerstein (1991)
analisa o sistema-mundo como impérios-mundo e economias-mundo; os impérios-mundo
abrangem diversos grupos culturalmente distintos, existindo um único sistema político sobre a maior parte
da área. Aqueles em que o sistema político único não se encontra por toda a sua extensão – economia-mundo – a qual
é constituída por uma divisão de trabalho associada ao mercado, existindo duas ou mais regiões culturais e politicas
distintas, porém interdependentes economicamente.

Wallerstein define sistema-mundo como um sistema social com limitações, estruturas,


regras de legitimação e um certo grau de coerência.

Wallerstein propõe, em contraposição, a análise de um sistema-mundo que presume a


existência de uma única economia, com ampla divisão do trabalho e processos de
produção integrados, em grande parte, pelo mercado, e convivendo com numerosos
poderes políticos interestatais e com uma grande multiplicidade de culturas. Há duas
variedades de sistemas-mundo wallersteinianos: o império-mundo, como as grandes
civilizações pré-modernas de China, Roma ou Egito, no qual a liderança política é única
e uniforme, e a economia-mundo, como a hegemonia inglesa do século XIX e a norte-
americana do século XX, na qual uma multiplicidade de Estados interage em uma esfera
econômica global

Da luta de classes caracterizada nacionalmente por Marx nasce, na perspectiva do


sistema-mundo capitalista, uma relação hierárquica e desigual em todo o sistema,
dividido em centro, semi-periferia e periferia

A posição que cada país ocupa determina, em grande medida, as possibilidades e os


limites de desenvolvimento de suas forças produtivas e sociais. O centro, por definição,
concentra níveis muito mais elevados de riqueza, inovação tecnológica e salários, detém
formas mais complexas e avançadas de agricultura, mantém o controle do comércio
nacional e internacional nas mãos da burguesia local, e opera os Estados mais fortes do
sistema. A periferia, conseqüentemente, concentra a oferta de insumos agrícolas e
minerais, de produtos de baixo conteúdo tecnológico e de mão-de-obra barata. Do ponto
de vista comercial, essa relação implica, necessariamente, em uma troca desigual em
termos de agregação de valor
A semi-periferia, por sua vez, desenvolve características intermediárias em termos
tecnológicos e de remuneração da mão-de-obra, e destaca-se por ser o elemento que
garante o equilíbrio político desse sistema. Wallerstein pontua que um sistema que
desenvolve uma faixa intermediária entre aqueles que são exploradores e explorados
tende a garantir mais estabilidade política do que um sistema polarizado
economia-mundo capitalista demanda a existência de uma multiplicidade de Estados . A
ausência de uma única autoridade política, além de tornar difícil que se legisle
unicamente em causa própria, atende à premissa mais fundamental da reprodução do
capital: a existência de competição.

A estrutura de poder que constrói o sistema é submetida a oscilações econômicas de


curto e longo prazo; os longos ciclos originam transformações na organização da
economia-mundo, permitindo aos Estados a circulação do seu posicionamento no
sistema, passando da semi-periferia para o centro, ou ao contrário. Fato esse, que não
altera a condição do sistema.

Segundo Wallerstein, há momentos de intranquilidade estrutural nos mercados, o que


gera uma incoexistência entre a capacidade produtiva e os custos altos com a falta de
demanda e as margens de lucro elevadas. Surgindo assim, uma alteração nos
fundamentos produtivos para partes do globo em que o custo de mão-de-obra e a
geração de demanda sejam promissores, criando oportunidades para que países semi-
periféricos subissem para centrais. Possibilitando, novamente, a ampliação da
economia-mundo capitalista.

A permanência de competição é necessária para que o sistema assegure sua


autoexpansão, o que coloca em contradição os países centrais, pois o núcleo para
garantir sua expansão, reconstrói seus oponentes. Segundo Fiori, “não há possibilidade
lógica de que uma potência ganhadora possa seguir acumulando poder e riqueza sem
contar com novos competidores e adversários, econômicos e militares. Por isso, ela
própria promove, sempre que necessário, o desenvolvimento econômico dos seus
futuros concorrentes”.

Dito isso, percebe-se que do ângulo geopolítico e histórico, o crescimento chinês pode
ser visto como um convite para se desenvolver, em que os Estados Unidos contribuem
para a formação desse oponente, garantindo proveitos do antagonismo de um
reposicionamento das bases produtivas em direção à Ásia.

É sob essa ótica que podemos caracterizar, do ponto de vista da geopolítica, o


desenvolvimento chinês como um caso de “desenvolvimento a convite”, no qual a
potência expansiva, os Estados Unidos, colabora na criação de um adversário
econômico ao mesmo tempo em que se beneficia das vantagens competitivas de uma
realocação das bases produtivas em direção à Ásia.

Em certa medida, é a rigidez salarial dos países centrais que historicamente torna
possível a mudança de status de países semi-periféricos para centrais em função de sua
estrutura salarial média

“desenvolvimento a convite”

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