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1. INTRODUÇÃO
Para alguns autores, o estudo de análise de política externa que usa somente a análise
doméstica ou somente a internacional é de fato desqualificado para a compreensão por
completo dos determinantes e objetivos da política externa de um Estado. Sendo mais do que
necessário um estudo em ''dois níveis'' entre a política doméstica e a internacional, que seja
capaz de explicar o vínculo entre elas. Assim, abordagens estadocêntricas de análise de
política externa são insuficientes para demonstrar o funcionamento da luta política nacional,
que abrange partidos, classes sociais e grupos de interesses econômicos e não-econômicos, e
a sua influência na política externa dos Estados.
De tal forma, enquanto no nível nacional, os grupos domésticos pressionam o governo
a adotar política favoráveis a seus interesses, no nível internacional, os governos buscam
satisfazer as pressões domésticas ao mesmo tempo que querem tentar diminuir qualquer
consequência negativa no tabuleiro internacional (PUTNAM, 1988). Ademais, vale ressaltar
que os grandes grupos econômicos possuem grande importância na política nacional e seus
interesses também refletem na política externa.
No governo de Jair Messias Bolsonaro percebe-se que ele busca mobilizar a política
externa para favorecer-se na política doméstica, usando qualquer método político ou não,
racional ou não, legítimo ou não.
Assim como a evolução tecnológica e suas mudanças na comunicação, a política
também passou por esse processo, uma vez que as redes permitiram a propagação de ideias,
conhecimento e ampliação da visão. A disseminação de informações facilita a forma de
influenciar indivíduos quanto aos temas relacionados à política, moldando uma situação ou
perspectiva sobre ela.
Reintegrando a importância que os grupos domésticos possuem dentro do atual
governo no processo de decisões políticas, o compartilhamento de informações via redes
sociais se torna uma forma de poder e manipulação por meio dessas pessoas, já que
conseguem manejar o modo que a informação é disseminada. Alterando a forma de se agir no
jogo político e consequentemente na dinâmica das relações de poder estabelecidas
anteriormente.
Desta forma, observa-se a tendência de instrumentalização das redes sociais, que se
convertem em uma ferramenta importante no processo de dominação política - seja para
legitimar um governante no poder, fomentar a insurgência de determinada classe ou minoria
etc. (OLIVEIRA, 2010).
Percebe-se que a evolução dos meios de comunicação e a popularização das redes
sociais permitiram um maior conhecimento sobre o ambiente político e a ampliação do
acesso a informações políticas a uma parcela maior da população, culminando, de certa forma
e em certo grau, no aumento da participação política da sociedade contemporânea (BRAUN,
2012). Assim, a Internet e as redes sociais são vistas como novos mecanismos de participação
social ativa em assuntos políticos.
Neste trabalho, busca compreender como este novo espaço comunicacional
proporcionado pelas redes sociais pode impactar na formulação e tomada de decisão de
política externa, tendo em vista justamente esta maior participação da opinião pública neste
processo.
Portanto, através desse contexto social e digital, será analisado no trabalho o
fenômeno da disseminação de fake news, que surge pelo meio virtual como consequência
dessa veiculação desenfreada de informações devido à popularização das redes sociais,
resultando em uma dificuldade de verificação da autenticidade das notícias e conteúdos
compartilhados (WARDLE; DERAKHSHAN, 2017).
As notícias falsas acabam por se tornar potentes instrumentos comunicacionais,
transformando informações erradas que não condizem com a realidade em conteúdos
legítimos aos olhos de uma grande parte da população, sendo capaz de intervir no jogo
político ao influenciar os pensamentos e decisões de uma sociedade, servindo assim como um
meio para que os diversos agentes possam atingir seus objetivos políticos (ALMEIDA, 2018;
CARDOSO, 2019).
Ao analisar o avanço das novas tecnologias da comunicação e a popularização das
relações sociais, repara-se na alteração das percepções individuais para a formação da opinião
pública, de tal modo, busca-se compreender com esse artigo se o uso das redes sociais para a
disseminação de fake news políticas pode ser instrumentalizada politicamente com o intuito
de influenciar a opinião pública como uma maneira de manipulação para a formulação de
política externa, analisando o caso brasileiro no governo Bolsonaro e a pandemia da Covid-
19.
Assim, o presente trabalho está estruturado em duas principais sessões, para tanto, na
primeira sessão abordamos a Política Externa e a Opinião Pública, sendo contextualizadas,
como se dá a relação entre elas e com a fake news. Na segunda sessão e nas suas subdivisões
foi tratado a disseminação das fake news como ferramenta política, contextualização do tema,
relação política, as fake news no Brasil, durante o governo Bolsonaro e o reflexo na pandemia
do Covid-19.
É possível afirmar que a política externa nada mais é do que uma política
governamental formulada para atuação internacional, de modo a comprometer todos os
cidadãos de uma certa nação. Assim como qualquer outra política, a política externa é
elaborada de modo a colaborar com a execução dos interesses do país no âmbito
internacional, utilizando-se das ferramentas e vantagens que as dinâmicas de poder
internacional proporcionam - como uso de constrangimentos políticos e econômicos,
coalizões ou poder de barganha. Contudo, é importante ressaltar que a política externa
transborda o significado de política pública, devido ao fato de poder ser aplicada além das
fronteiras nacionais para atingir seus objetivos domésticos (SALOMÓN; PINHEIRO, 2013).
A partir desta trajetória sobre a APE através da perspectiva das teorias de Relações
Internacionais, é possível verificar que a política externa é uma conjunção de fatores
nacionais e internacionais, mas que é formada especialmente por demandas domésticas que
são refletidas no plano internacional. Assim, pode-se relacionar a política externa no que
abrange o conceito de política pública e por mais que possa não existir um consenso quanto
ao significado de política pública, ela pode ser considerada uma política governamental que
afeta todos os cidadãos de um determinado território onde ela contempla.
Salientando essa argumentação, vale citar o estudo de Robert Putnam, Diplomacy and
Domestic Politics: The Logic of the Two-Level Games, publicado originalmente em 1988,
sobre a interferência mútua das ações políticas tomadas nas esferas nacional e internacional.
Para explicar melhor como ambas se relacionam e interseccionam, o autor faz uma
analogia à dinâmica de um jogo de dois tabuleiros, no qual os representantes nacionais
estariam presentes em ambos os níveis, sendo responsáveis por representar os interesses
internos na esfera internacional e trazer propostas externas para serem avaliadas
nacionalmente. Por mais que cada um desses tabuleiros possuírem aspectos próprios, os dois
fazem parte do sistema político cada vez mais integrado e interdependente, com o avanço da
globalização e evolução dos meios de comunicação, sendo possível verificar impactos das
ações tomadas em um no outro nível e vice-versa.
Percebe-se que há certa relação dialética entre política externa e opinião pública, uma
vez que, em alguns casos, a política externa se torna uma arma eleitoral poderosa, usada e
fundamentada como ferramenta política para agradar e satisfazer as demandas das classes
domésticas mais influentes. Na mesma medida, a opinião pública é um fator condicionante ao
chefe de Estado ao elaborar as diretrizes de política externa de seu governo conforme
demandas internas.
Sendo assim, a manipulação da opinião pública deve ser vista como uma importante
ferramenta política, não só para o chefe de Estado adquirir apoio nacional para tomar ações
internacionais, mas também no sentido contrário, isto é, agir no âmbito internacional de
forma a agradar os eleitores domésticos na tentativa de manter-se no poder.
Por mais que seja um fator importante e cada vez mais presente, a opinião pública tem
dificuldades de ser levada de forma ativa no processo de formulação política, muitas vezes
sendo um agente passivo e atuando de forma indireta. Contudo, destaca-se que, com o avanço
das tecnologias da informação, está cada vez mais fácil disseminar informações, opiniões ou
notícias para uma quantidade maior de pessoas. Nesta perspectiva, a ampliação dos meios de
comunicação possui um papel fundamental no novo processo de formação da opinião
pública, que se fortalece e ganha destaque na política ao conseguir exercer pressão na tomada
de decisão - porém, também se torna cada vez mais vulnerável e manipulável (HOWLETT,
2000). Como mais bem descrito, em outras palavras,
[...] a opinião pública não é só uma variável independente; pode ser também uma
variável dependente. Isto é, embora seja evidente que a opinião constitui importante
aspecto do ambiente político que afeta as ações do governo, também essas ações
podem afetar o ambiente político. Ou seja, os governos não são apenas recipientes e
reagentes passivos da opinião pública, mas podem ter, e frequentemente têm, um
papel ativo na conformação da opinião pública (HOWLETT, 2000, p. 183).
Meneses (2018) ainda cita que as Fake News são notícias que carecem de fontes e
veracidade de informações, criadas com o objetivo e intencionalidade de manipular os
leitores. Assim, classifica um propósito particular das notícias falsas de influenciar os
leitores, possibilitando traçar um paralelo com o fenômeno político. Porém, os conteúdos
falsos podem levar a duas consequências: a disseminação de informações erradas ou a
desinformação. Sendo a primeira representada por aqueles conteúdos falsos que foram
compartilhados sem que haja algum interesse por trás. E por outro lado, a desinformação -
originária do fenômeno das fake news-, por se tratar de notícias falsas criadas com a intenção
de prejudicar algo ou alguém. Assim, o estado de desinformação pode ser visto como uma
estratégia de manipulação da opinião pública para fins políticos (DOURADO, 2020).
Ademais, outro fator que contribui para a que as redes sociais se tornem espaços
convenientes para a criação e divulgação de notícias falsas, destaca-se o processo de uma
certa individualização, que é característico do meio digital e da dinâmica das redes sociais,
em que existe a ilusão de um espaço livre, sem regras, mediadores ou punições (CASTILLO;
SANTOS; CASTRO, 2020). Ainda, vale ressaltar a facilidade em obter algo em troca - em
destaque o financeiro - na divulgação desses compartilhamentos nas redes sociais, com o
processo de monetização de publicações, likes, comentários e interações.
Para Piccinin, Castro e Castillo (2019), existem mais três pontos que podem propiciar
o fomento da disseminação de notícias falsas nas redes sociais: Sendo a primeira, a facilidade
em que o usuário pode alterar, editar e redigir informações sem compromisso com os fatos, o
segundo sendo a falta de confiança da população em relação às instituições e os meios de
comunicação tradicionais e por fim, o aumento dos meios de comunicação online como fonte
de informação, favorecendo a permeabilidade das redes sociais ao compartilhamento de fake
news. Portanto, fica claro que o fenômeno de viralização de Fake News, assume importância
ao ser capaz de influenciar e moldar a opinião pública sobre acontecimentos, inclusive os
políticos.
O uso das redes sociais está sendo cada vez mais utilizado para o ingresso de
instituições governamentais, políticos e atores nos meios, a fim de ampliar as maneiras de
influenciar e formar a opinião pública a seu favor. De acordo com Joseph Nye (2002), e sua
fundamentação de soft power, a nova forma de comunicação colabora com a noção de que as
mídias exercem papel fundamental na formação e tomada de decisão política. Ou seja, apesar
das redes sociais não serem um agente estatal, as mesmas detêm a capacidade para serem
classificadas dentro da teoria de soft power, de forma que conseguem influenciar e
condicionar circunstâncias políticas, através de mudanças na formação da opinião pública.
Sendo assim, torna-se vital para um governo o acesso a todos os meios de comunicação para
exercerem maior influência na formulação de questões.
Ainda, acredita-se que o uso das notícias falsas seja usado como uma estratégia
política para invalidar os demais canais de informação, em especial, aquelas que poderiam
criticá-los e ou de alguma forma prejudicar sua reputação política. O objetivo seria gerar
desconfiança do público com relação aos meios de comunicação tradicionais.
Vale ressaltar que os usuários que se informam somente através de redes sociais estão
mais propícios a passar por uma “segregação ideológica das informações''. Sendo assim, a
Internet acaba perdendo seu caráter de democratização de informações e cria um ambiente de
falso debate, onde as notícias e compartilhamentos são feitas conforme sua bolha de amizades
e interações. Esta segregação facilita a disseminação de notícias falsas, uma vez que a alta
quantidade de notícias direcionadas ao usuário e relacionadas aos conteúdos consumidos
passam certa credibilidade à informação, além de ser mais fácil a aceitação de notícias as
quais o usuário compartilha opiniões (FARIAS; CARDOSO; OLIVEIRA, 2020).
De forma a elucidar, pode-se citar três exemplos em que a opinião pública foi
influenciada pelas fake news disseminadas pelas redes sociais digitais: a eleição nos Estados
Unidos de 2016, as eleições na França de 2017 e o referendo do Brexit. Em todos os casos
citados, as notícias foram compartilhadas tanto pelas mídias tradicionais quanto pelas digitais
e ficou claro como a força e o impacto significativo as redes tiveram nas consequências de
cada cenário (CARDOSO, 2019)
Visto a influência das fake news, deve-se considerar a possibilidade desta relação
impactar a resolução de política externa de um país. Baseado na forte disseminação de
notícias falsas nos últimos anos, é oportuno avaliar o cenário político doméstico brasileiro.
Sendo possível analisarmos o uso das fake news durante o período que engloba desde a
campanha presidencial de 2018 até o governo de Jair Messias Bolsonaro (2018-2022), como
ferramenta para manipulação e seus impactos para a política externa. Será dissertado ao longo
desta subseção algumas das decisões e os eventos observados no âmbito da política externa
brasileira durante o período que podem evidenciar esta relação.
Tendo em vista a hipótese de que as fake news realmente podem impactar a formação
de opinião pública, será explanado na próxima subseção a relação de interferência mútua
entre opinião pública e formulação de política externa, com o objetivo de que seja
evidenciado os efeitos das fake news na política externa de um Estado. Sendo assim, será
analisado o cenário político nacional do Brasil durante o governo de Jair Bolsonaro, minado
por notícias falsas, e seus possíveis impactos na formulação de política externa brasileira.
Foi por meio das redes sociais que Bolsonaro construiu a narrativa que lhe permitiu
alcançar a vitória na eleição presidencial de 2018. Pesquisas mostram dados de 213 grupos
públicos de WhatsApp durante o período oficial de campanha estabelecido pelo TSE,
observou-se que os grupos de apoio à Bolsonaro se mostravam sendo mais ativos no
compartilhamento de informações durante o período da campanha eleitoral. Seus apoiadores
utilizaram de forma bastante espressiva o YouTube em relação ao restante dos analisados
(23.475 vezes), grupos de WhatsApp (4.448 vezes) e o “Jornal da Cidade” (346)”
(MONT’ALVERNE; MITOZO, 2019, p. 16). De acordo com Aldé et al (2019, p. 315) o
comportamento coletivo de 90 grupos de WhatsApp interconectados e de apoio aos seis
principais presidenciáveis nas eleições de 2018, concluem que “a apropriação bem- sucedida
do WhatsApp por apoiadores de Jair Bolsonaro resulta da cooperação de diversos grupos –
incluindo eleitores – e um conhecimento específico voltado para viralização sistemática de
conteúdo”.
Devemos voltar nossa atenção para outra rede social, de grande importância para a
disseminação das fake news, o Twitter, em particular pelo uso expressivo da sua
automatização - os chamados robôs - na campanha de Bolsonaro. De acordo com um
relatório da Diretoria de Análise de Política Públicas, da Fundação Getúlio Vargas,
DAPP/FGV, a instrumentalização de contas automatizadas no Twitter foi enorme na
campanha de Bolsonaro. De acordo com Ruediger (2018), das 852,3 mil publicações de robôs
identificadas no Twitter entre 10 e 16 de outubro, 602,5 mil vieram da base de apoio de
Bolsonaro.
Além dos robôs, outra característica da campanha de Bolsonaro foi o uso intensivo de
Fake News. Sendo o WhatsApp o sistema com maior facilidade para que isso aconteça, visto
que há dificuldades técnicas para o rastreamento da origem dessas notícias falsas, por ser um
sistema criptografado, o compartilhamento e criação delas avançaram com sucesso sem
qualquer controle regulatório.
Conforme já elucidado até o momento, o governo Bolsonaro foi marcado por Fake
News que circulavam os meios de comunicação com sucesso. Entre elas há também histórias
que buscam tirar a credibilidade das eleições, como a de que códigos das urnas eletrônicas
foram passados à Venezuela. Porém, foi durante o período de pandemia que as falsas notícias
relacionadas ao COVID-19 tiveram
3.2 COVID-19
Algumas falas simbólicas mostram isso, como a proferida em live no dia 13 de agosto,
a respeito da hidroxicloroquina:
O meu exemplo, tomei [hidroxicloroquina] e duas doses depois, não estava com
sintoma nenhum. Curado. Os meus ministros tomaram cloroquina, no nosso prédio
da presidência, acho que mais de 100 pessoas tomaram. Todo mundo que eu fiquei
sabendo tomou hidroxicloroquina (Bolsonaro, 2020, citado por Baptista et al.,
2020).
Assim, pode-se abordar a Política Externa Ideológica, aquela que prioriza princípios e
soluções doutrinárias pré-concebidas em detrimento de ações assertivas, podendo ser
associada e caracterizada por um planejamento de prazo relativamente curto e uma visão
personalizada das relações internacionais concernentes a um líder ou administração
específica, e não a um interesse nacional consistente (Gardini, 2011). Tal estudo ideológico
subsiste nas ações de PEB durante a pandemia do Covid-19, desempenhando alianças
ideológicas e defendendo medidas ao vírus contrárias às evidências científicas, pautadas na
disseminação de fake news, como a prescrição da cloroquina e a criação intencional do vírus
em laboratório pela China.
O plano da política externa, assim como o nacional, também foi marcado pela
ausência de coordenação política e pelo aumento do isolamento brasileiro em relação aos
principais diálogos internacionais e regionais. Juntamente com o declínio na área da saúde
global, cujo posicionamentos do governo colocaram o país na contramão da história. Tal
atitude se contrariou com anos de uma política externa desenvolvida na área da saúde, em que
o Brasil desempenhou papéis de relevância.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho tem como finalidade verificar se o uso das fake news durante o
Governo Bolsonaro é capaz de afetar as relações exteriores do país em questão, visto a
tendência de aumento da relevância da opinião pública na tomada de decisão política e ações
internacionais. Fica claro que o uso de fake news na formação de opinião pública é uma
prática antiga, que vem se intensificando com a evolução dos meios de comunicação, mais
especificamente nas redes sociais.
No decorrer do texto foi utilizado o Jogos de Dois Níveis (1988) de Robert Putnam
com o intuito de melhor elucidar e verificar a relação entre os conceitos de opinião pública e
política externa, como tentativa de comprovar a influência entre o âmbito político nacional e
internacional, nos quais as decisões e ações tomadas em determinada instância afetam a outra
e vice-versa. Este conceito é importante para comprovar a hipótese de que há consequências
na política externa de um país conforme o apoio ou não da opinião pública, ao considerar este
um fator importante na formulação da política nacional.
Seguindo esse posicionamento, o presente trabalho segue a ideia de que os indivíduos,
com o poder da opinião pública, podem exercer influência nas relações exteriores, essa ideia
acentuada pelos meios de comunicação por muitas vezes não é aceita pelas principais
correntes teóricas das Relações Internacionais. Ademais, vale ressaltar que está relacionado à
maior abrangência de acesso à informações por parte dos indivíduos e não apenas pela
concretização da racionalidade da sociedade em relação aos temas políticos. E é a partir da
internet e das redes sociais que a sociedade passa a tomar conhecimento sobre os mais
diversos assuntos e acontecimentos, o que acaba gerando um maior espaço para o
compartilhamento de opiniões e consequentemente, julgamentos que alcançam números
significativos de visualizações e disseminação de informações. Assim, nota-se a tendência de
maior participação da sociedade na formulação das relações exteriores dos países.
Como foi o caso das notícias falsas sobre a COVID-19 durante a pandemia, com um
discurso populista e personalista, Bolsonaro fortaleceu uma via de diálogo com a sua base de
apoio através do uso corriqueiro das redes sociais. Antes mesmo da pandemia, o presidente já
fazia uso de uma política comunicativa de desinformação, o que só se agravou com a crise
sanitária, através da descredibilização da pandemia, da ciência e das mídias tradicionais.
Compreendendo assim, que essa prática prejudicou a contenção do avanço do vírus no país,
bem como trouxe consequências para os mais diversos âmbitos internos.
Observando um efeito indireto das fake news na política externa brasileira, como a
constante culpabilização da China sobre a origem do vírus, acarretando tensões diplomáticas
com o maior parceiro econômico do Brasil. Nota-se também, nas esferas multilaterais e
regionais, uma carência de interesse e consequente participação do Brasil nas ações
coordenadas ao combate à pandemia, contribuindo para o isolamento brasileiro, através do
fechamento de fronteiras e nos debates para a negociação de vacinas, assim como a exclusão
dos diálogos sobre programas de recuperação econômica e de saúde, juntamente com as
denuncias em instâncias internacionais por crimes contra a humanidade e genocídio.
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