Você está na página 1de 3

Universidade Federal de Sergipe

Departamento de Relações Internacionais


Política Externa das Grandes Potências
Docente: Bárbara Motta
Discente: Aanne Cruz

RISSE-KAPPEN, Thomas. Public Opinion, Domestic Structure, and Foreign Policy in Liberal
Democracies. World Politics, Vol. 43, No. 4 (Jul., 1991), pp. 479-512

O autor coloca a questão de por que estados igualmente poderosos muitas vezes
respondem de forma diferente às mesmas condições e restrições internacionais. O estudo das
fontes domésticas da política externa e política internacional é necessário para responder a
essa pergunta. No entanto, há uma falta de discussão na literatura sobre quem está no
comando do processo de tomada de decisão da política externa em estados democráticos
liberais: elites ou massas. Assim, o autor argumenta que o impacto da opinião pública na
política externa depende da estrutura doméstica e dos processos de construção de coalizões
em cada país respectivo, em vez de questões específicas ou padrões de atitudes públicas. O
artigo analisa o impacto da opinião pública na política externa em quatro democracias liberais
com estruturas domésticas diferentes: Estados Unidos, França, Alemanha e Japão. A análise
revela que os resultados da política difere devido a variações nas estruturas domésticas, não
no status internacional dos estados.
Dessa maneira, o autor explica que os estudos que relacionam a opinião pública e as
elites em matéria de política externa, geralmente generalizam as abordagens entre bottom-up e
top-down, o primeiro, bottom-up (de baixo para cima), seria definida pela lógica do líder que
segue as massas, ou seja, o público possui uma força capaz de influenciar o processo de
elaboração da política externa. O segundo, top-down (de cima para baixo), se define pela
formação de uma elite do poder capaz de manipular o consenso popular por conta de alguns
motivos, como o da baixa importância da política externa e segurança frente às questões de
política econômica, do pouco conhecimento dos temas envolvidos ou a volatilidade da
opinião pública.
No entanto, tais tipos de abordagens apresentam um caráter simplista, divergências
quando postas a teste empírico e deficiências conceituais, além de ignorarem como a opinião
pública e os grupos sociais podem influenciar no processo de formulação política e as
próprias subdivisões das elites. Na Europa Ocidental, nos EUA e no Japão, elites e massas
apresentam apoio semelhante a objetivos e instituições básicas de política externa. As
clivagens políticas, religiosas e ideológicas predominantes estruturam a opinião tanto das
elites como da opinião pública em geral. Além da existência de muitos casos em que decisões
cruciais de política externa foram tomadas na ausência de consenso público em massa.
Exemplos disso são as decisões dos EUA em favor de um papel internacional ativo no mundo
pós-guerra e de se tornar permanentemente envolvido em questões de segurança europeia; as
decisões da Alemanha Ocidental de se rearmar e ingressar na OTAN no início dos anos 1950
e de buscar uma Ostpolitik ativa no final dos anos 1960; as decisões francesas de construir
uma força nuclear independente nos anos 1950 e de deixar as instituições militares da OTAN
no meio dos anos 1960.
O autor discute as falhas dos modelos "bottom-up" e "top-down" em explicar como a
opinião pública influencia a tomada de decisões políticas. Ambos tratam as massas e as elites
como atores unitários, enquanto na realidade, diferentes segmentos do público podem resistir
à propaganda governamental e as elites são frequentemente divididas.
Além disso, a opinião pública e os grupos sociais podem influenciar o processo de
tomada de decisão política de várias maneiras, direta ou indiretamente, o que é difícil de
rastrear. Finalmente, as atitudes públicas não necessariamente levam a políticas semelhantes
em diferentes países. O exemplo das políticas nucleares nos Estados Unidos, Europa
Ocidental, Japão e França destaca as variações nas políticas, que são resultado de diferentes
posições e capacidades no ambiente internacional e outros fatores.
O texto discute a relação entre a opinião pública e as decisões de política externa em
democracias liberais. O autor argumenta que tanto o modelo bottom-up quanto o top-down
apresentam limitações para explicar essa relação, e que é necessário olhar para as estruturas
domésticas e processos de construção de coalizões para entender o impacto da opinião pública
na política externa. As abordagens que se concentram em estruturas domésticas lidam com as
características básicas das instituições políticas e sociais e com os mecanismos que canalizam
as demandas da sociedade para o sistema político.
Dessa maneira, o autor sugere que, em vez de enfatizar as estruturas estatais, deve-se
analisar os processos de construção de coalizões entre os atores políticos. As estruturas da
sociedade e do sistema político determinam o tamanho e a força das coalizões necessárias
para criar uma base de apoio para políticas específicas. O autor argumenta que as estruturas
domésticas também parecem explicar características gerais das políticas externas, como a
estabilidade e o nível de atividade e compromisso. Além disso, ele indica que seria mais
apropriado uma abordagem mista que engloba as abordagens citadas, a exemplo do definido
por Gourevitch e Katzenstein que enfatizam três fatores: a instituição política e o grau de
centralização, a estrutura da sociedade em relação a sua polarização, organização social e
nível de mobilização social e as redes de políticas ligam o Estado e a sociedade, em que a)
países com centralização institucional a rede é dominada pelo Estado, como o caso da França
b) controle social da rede política em sociedade homogêneas e elevada mobilização social, no
entanto de estruturas estatais fracas e c) corporativismo democrático, presente em países que
possuem instituições políticas e organizações sociais de influências quase equivalentes.
O autor conclui que a opinião pública é sim relevante para a tomada de decisões na
Política Externa dos países, mas em diferentes graus, e de maneira indireta. Assim, os
modelos top-down e bottom-up são interessantes em termos de conceituação, mas simplistas
demais para entendermos essa relação. Assim, a opinião pública torna-se uma ferramenta
capaz de fortalecer a posição das elites políticas ou dos atores sociais, dependendo do nível de
organização/fragmentação dos mesmos. 3 Nesse sentido, a estrutura doméstica também é
bastante importante ao se considerar a Política externa, pois não podemos ver os atores sociais
como agentes unitários, e sim como vários grupos de interesse; no caso do Japão, sua
população é bastante coesa e conservadora, logo sua política externa pode ser desempenhada
de maneira mais estável e contínua, o que ocorre de maneira oposta nos EUA. Na Alemanha,
ocorre de forma similar aos EUA na questão social, visto que conta com uma sociedade
heterogênea, entretanto possui um sistema político que não conta com um nível elevado de
descentralização e com instituições mais fortes e ativas que as norte-americanas, o que faz
com que a sua opinião pública seja mais estável e consequentemente sua Política externa.

Você também pode gostar