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Grupo: Ana Clara Gomes da Silva, Carlos Breno de Andrade Jesus, Larissa Aguiar
Albuquerque e Victória Silva Teles.
Texto: LEIRA, Halvard. 2019. ‘The Emergence of Foreign Policy’. International Studies
Quarterly. 63(1): 187-98.
1. Qual a problemática central do texto?
A principal problemática do texto está voltada para o fato de que os estudos em
Relações Internacionais normalmente trazem a política externa como um conceito político
dado como certo. Desse modo, para o autor, esses estudos acabam por supor que todas as
histórias políticas têm política externa ou que a política externa se origina na Europa do
século XVII, com o descobrimento do estrangeiro e, consequentemente, a diferenciação entre
o “eu” e o “outro”. Ou seja, esse argumento, que o autor problematiza, sustenta a política
externa como uma política diferente das outras em aspectos essenciais, como por exemplo
carregar uma necessidade especial de sigilo.
2. Qual a tese/argumento central do autor?
Explorando a trajetória das políticas doméstica e externa da Inglaterra e França, Leira
historiciza essa última [a política externa] para além do seu conceito analítico apresentado
usualmente nas disciplinas de Relações Internacionais, entendendo-a também com uma noção
de prática, que têm suas ações empregadas na atividade cotidiana de instituições como
Ministérios de Relações Exteriores e Embaixadas, uma vez que estão associadas aos
interesses nacionais de um Estado — apesar disso, Halvard Leira sugere que os estudos da
área devem focar nas diferenças entre o Estado e a sociedade ao invés de especificar as
particulares condições estrangeiras dos países. Além disso, o autor considera em sua tese que
não se pode interpretar a política externa com o mesmo sentido em tempos e ambientes
diferentes, haja vista suas variações no modo de articulá-la e as oportunidades de
desenvolvimento do momento, que acrescidas ao sigilo, a forma individualmente. Em suma, é
argumentado que essa política surgiu quando os assuntos externos dos Estados, intimamente
relacionados à esfera pública e imprensa livre, foram questionados internamente (LEIRA,
2019, p. 188).
3. Que conceitos o autor enfatiza? Como eles são definidos?
Política Externa: Segundo o autor, nas Relações Internacionais existem duas
abordagens para explicar o que é a política externa: (1) expressão abstrata das relações entre
entidades políticas; (2) críticos a essa primeira visão, acreditam que a política externa fornece
uma das principais maneiras pelas quais o “Eu” político é diferenciado do “Outro”. Todavia,
Halvard questiona que se a política externa, como um conceito prático, surgiu em um
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momento específico, por razões específicas, e mudou de significado ao longo do tempo, não
se pode admitir que ela tenha significado a mesma coisa em lugares diferentes (LEIRA, 2019,
p. 188). Assim, para o autor, a política externa é uma resolução espaço-temporal específica do
problema da delimitação, que surgiu como consequência da democratização e a partir do
momento em que o Estado é desafiado por uma imprensa livre operando na esfera pública.
Desse modo, o Estado reconfigura os seus assuntos externos como Política Externa, pois
existe a máxima de que a imprensa livre é instável e que o povo não entenderia temas dessa
complexidade, além de que, essa discussão poderia gerar ideias conflitantes, enfraquecendo
assim a posição do país fora de suas fronteiras.
Esfera Pública: é tudo aquilo que engloba temas e políticas que não dizem respeito
apenas ao rei ou ao parlamento, mas sim também deveria ser de conhecimento do público em
geral, ou seja, da sociedade civil.
4. Como estes conceitos são relacionados?
Halvard explica que não apenas a construção do Estado moderno é importante para
compreender a política externa, mas como também o surgimento da sociedade civil, o que
traz, segundo ele, duas diferenciações adicionais: (1) uma diferenciação entre como abordar o
que era civil dentro e como abordar o que não era civil do lado de fora; (2) uma diferenciação
do estado atuante da sociedade civil. Tendo isso, a partir da necessidade de criar um meio para
lidar com o possível feedback da sociedade civil, possibilita-se e necessita-se o surgimento do
conceito de prática de política externa. Dessa forma, apesar de haver semelhanças com
relação ao tempo de descobrimento da ideia de uma política externa, ambos os países em
análise reagiram de forma totalmente distinta: A Grã-Bretanha, que tinha uma abordagem
mais reformista, não procurava questionar essa diferenciação entre o Estado e a sociedade
civil, mas buscava questionar e pressionar para que o Estado governasse para a redução do
campo demarcado como política externa, já que esse deveria ser mantido em certo sigilo na
opinião pública, porque as pessoas eram incapazes de compreender temas tão complicados.
Entretanto, a abordagem revolucionária francesa tendeu a questionar e a rejeitar essa
diferenciação entre Estado e sociedade, reivindicando um controle social sobre as questões
externas, levando em consideração que a política externa na França era uma atribuição única e
exclusiva do monarca.
5. Quais são as conclusões do autor?
O autor finaliza a obra apontando que é necessária a compreensão da política externa
como uma resolução de caráter espaço-temporal de uma determinada delimitação, isto é, ela
surge durante o processo de democratização. Portanto, Leira afirma que a política externa
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provou ser um conceito político durável e defende a lógica de não utilização dela como termo
analítico, porém, faz-se necessário reconhecer a importância do mesmo. Logo, o autor
explicita que ainda falta uma compreensão do entendimento do que hoje consideramos
internacional em épocas difusas, além da crença na moldagem contínua do conceito. Por fim,
Halvard diz que é fundamental uma exploração das estruturas da política externa, fazendo
uma análise do que é incluído e excluído quando ocorre a divisão do “estrangeiro”.

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