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UNIVERSIDADE JOAQUIM CHISSANO

LICENCIATURA EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS E DIPLOMACIA

3º Ano – Laboral

Disciplina: Estudos de Política Externa

Tema:

Noção de Interesse Nacional

Discentes: Docentes:

Kino Fernando Caetano F. Alberto Dr. Melanie de Aguiar, MA

Dr. Dionísio Missomal, MA

Maputo, aos 27 de Fevereiro de 2020


Introdução
O trabalho em alusão tem como intuito abordar as perspectivas teóricas de análise da
política externa nas relações internacionais. Para a composição do trabalho tivemos em
conta a análise da política externa em vertentes como: a natureza do sistema
internacional, assuntos da política externa e os actores que conduzem essa política
externa.

A análise aos assuntos da política externa surge pela necessidade de se entender as


discrepâncias observadas nos interesses nacionais dos diversos Estados. Mais adiante,
no que diz respeito a análise dos actores que conduzem essa política externa iremos dar
enfase a importância dos mesmos, visto que na primeira fase da condução da política
externa olha se para a existência de um único actor, o Estado. Por fim, analisamos as
teorias mais recentes que olham e reconhecem outros actores e não somente o Estado.
Noção de Interesse Nacional

Flávio Contrera

1. O caráter ambíguo do Interesse Nacional

Contrera (2015:187) refere que grande parte da dificuldade em torno do “interesse


nacional” se deve ao fato de que não há um consenso acerca da sua exata definição. Há
muita ambiguidade sobre seu significado, isto porque “a maioria dos estudiosos
preferem oferecer suas próprias definições de interesse nacional em vez de aceitaras
formulações propostas por outros, (Nuechterlein, citados por Contrera, 2015:187).

O problema é que o termo adquiriu muitos significados e os escritores nem sempre


deixam claro qual sentido empregam. As críticas ao interesse nacional, no entanto, não
se referem apenas à ambiguidade gerada em torno da variedade de definições que o
conceito recebeu ou ao caráter imutável que os teóricos das Relações Internacionais
deram ao termo.

2. O interesse nacional como ferramenta analítica e como guia de ação política

Para Nye Jr.,citado por Contrera (2015:189), interesse nacional é um conceito


escorregadio, exatamente porque pode ser usado tanto para descrever como para
prescrever política externa. Nye entende que “quando as palavras são ao mesmo tempo
descritivas e prescritivas, tornam-se termos políticos usados em lutas pelo poder”.
Assim sendo, cabe esclarecer que o conceito de interesse nacional tem sido utilizado de
dois modos distintos, isto é, como ferramenta analítica e como instrumento de ação
política. No primeiro caso, o conceito seria utilizado por policy-makers e acadêmicos
para descrever, explicar, avaliar o melhor curso de ação ou a pertinência da política
externa de uma nação. No segundo caso, o conceito seria utilizado por atores políticos
como um meio de justificar decisões tomadas, denunciar ou propor políticas,
(ROSENAU, 1968; GEORGE; KEOHANE, 1980 citados por Contrera).

Há na literatura de Relações Internacionais críticas acerca das duas utilizações do


conceito. Enquanto a utilização do conceito de interesse nacional como ferramenta
analítica recebera as críticas mais contundentes da literatura e dividiras opiniões entre
aqueles que descartam completamente – Rosenau (1968) e Hedley Bull (2002) – e
aqueles que tentaram demonstrar sua utilidade – George e Keohane (1980) e
Nuechterlein (2001) –, sua utilização como instrumento de ação política fora mais aceita
entre os autores, embora também tenha sido alvo de críticas. Porém, nesse caso, as
críticas são dirigidas ao ator, que justifica, denuncia ou propõe políticas e não ao
analista em si.

Chas Freeman
3. Interesse Nacional e Preocupações nacionais
Estados são órgãos políticos. Eles se manifestam nos governos que controlam um
território definido. Os estados são estabelecidos para proteger os interesses e realizar as
aspirações daqueles que os criam. Existem governos para sustentar a independência
soberana de um povo e promover seu bem-estar e tranquilidade. Interesses nacionais são
os relacionamentos que um governo percebe existir entre esses propósitos e a riqueza e
o poder de outros estados. Os interesses nacionais de um estado constituem uma
hierarquia de imperativos que norteiam suas decisões e acções na arena internacional.
Os estados crescem e diminuem, se fundem e se separam. À medida que a mudança
avança, os interesses nacionais de um estado entram em conflito ou coincidem em graus
variados com os de outros estados. As relações entre os estados, mesmo os mais
próximos entre si em cultura, competem ou cooperam para garantir vantagens
estratégicas, recursos, económicos, privilégios, deferência, prestígio, influência e
ascensão ideológica ao território.
Interesse supremo
A sobrevivência do estado e a política que o originou são, por definição, uma questão de
preocupações primordiais para ele. Um Estado defenderá sua existência independente e
continuada à custa de todos os demais interesses e terá todos os meios e recursos à sua
disposição. Um povo defenderá sua identidade cultural e étnica à custa de muito mais. A
sobrevivência é o supremo interesse nacional. Desafios para isso levam à guerra.
Interesse Vital
Alguns assuntos e desenvolvimentos não ameaçam a sobrevivência de um estado, mas,
no entanto, atendem imediatamente a seus interesses vitais: segurança, bem-estar e
tranquilidade doméstica. Eles são chamados de "vitais" porque tocam nos próprios
propósitos para os quais um estado é estabelecido e mantido por seu povo. Um Estado
sacrifica muitos interesses menores e corre o risco de sofrer danos pesados na guerra
para garantir seus interesses vitais, se calcula que pode fazê-lo sem comprometer
indevidamente seu interesse supremo pela sobrevivência.
Interesse estratégico
Interesses estratégicos surgem de assuntos e desenvolvimentos que não afetam
imediatamente a segurança, o bem-estar e a tranquilidade doméstica dos estados, mas
que têm o potencial, se não forem atendidos, afetar directamente esses interesses vitais
ou a capacidade de promovê-los ou defendê-los. Se um estado é para prosperar, suas
políticas e relações devem ser ajustadas para abordar essas tendências estratégicas e
dobrá-las em sua maior vantagem ou menor desvantagem. Este requisito define os
interesses estratégicos de um estado.
Tais interesses estratégicos incluem aqueles decorrentes do fortalecimento ou
enfraquecimento de adversários e aliados, mudanças nos alinhamentos e padrões
internacionais de influência, descoberta de novos recursos e tecnologias, mudanças no
sistema estadual internacional e nos regimes Regulatórios estabelecidos por ele; o
surgimento de novos padrões de desenvolvimento económico e comércio, bem como de
novas doutrinas e ideologias; e desafios ao status e tratamento dos cidadãos e de suas
propriedades no exterior. Um Estado tem um interesse estratégico, em particular, na
manutenção de uma ordem internacional e sistema estatal que favoreçam sua
independência contínua, sua capacidade de cooperar com outros Estados em questões de
interesse comum e sua capacidade de promover e defender efectivamente o amplo
espectro de seus interesses nacionais. Esta é a fonte da razão do sistema (Razão do
Estado).
A política de Estado reside no alerta às tendências de importância estratégica e na
elaboração prudente da polícia para tirar proveito de tais tendências ou para compensar
e mitigar seus efeitos adversos. Tais políticas podem envolver movimentos militares,
manifestações e operações que não sejam a guerra, mas raramente envolvem conflitos
armados. No contrato, um Estado geralmente acha que a diplomacia persuasiva, em vez
de coerção ou uso da força, é o meio menos dispendioso de exercer seu poder sobre
assuntos que envolvem seus interesses estratégicos.
Interesses tácticos
Muitas disputas surgem de maneira aparentemente desconectada para afetar interesses
particulares de instituições estatais ou de partes privadas. Essas disputas representam
um desafio tático para um estado e seu governo. Se eles não forem bem administrados, a
diminuição da capacidade de um Estado de cumprir os propósitos para os quais foi
estabelecido será prejudicada. Seu governo cairá em descrédito. O comportamento em
questão pode envolver um padrão, envolvendo interesses estratégicos e exigindo ações
mais amplas e mais caras posteriormente. Tais casos e controvérsias, embora limitados
em seu impacto imediato, podem, portanto, justificar uma ação firme de um Estado para
garantir o respeito estrangeiro apropriado por sua participação no resultado.
interesses táticos emergem de toda a gama de atividades de um estado e de seu nacional
além de sua fronteira. Isso inclui, por exemplo, instâncias de desvio de normas aceitas
internacional ou bilateralmente, aplicáveis ao comércio, finanças, etiquetas e outras
atividades de empresas ou cidadãos individuais no exterior; respeito estrangeiro pelas
leis, instituições e fronteiras nacionais, operação internacional de navios e aeronaves; o
status de diplomatas, oficiais militares e propriedades estatais, comunicação entre
governos e povos, ou devida deferência à dignidade da soberania nacional. A defesa de
tais interesses é o material a partir do qual a rotina da diplomacia é traçada.
Preocupação Nacional
As normas dos povos definem sua cultura e identidade nacionais. Eles constituem o
cânone dos valores nacionais pelos quais uma nação julga o que é certo ou errado e o
que é decente ou abominável. Os valores de uma sociedade encontram expressão em sua
ideologia nacional. Essa ideologia molda suas aspirações internacionais e inspira o
interesse nacional de seus estados serem carregados de emoção e animar a vontade
nacional. Os valores determinam, assim, o fervor com que os interesses são perseguidos.
Os estadistas devem, portanto, invocar valores para inspirar preocupações nacionais que
possam sustentar políticas direccionadas ao avanço ou defesa dos interesses de seu
estado.
As normas dos povos definem sua cultura e identidade nacionais.Os valores de uma
sociedade encontram expressão em sua ideologia nacional. Essa ideologia molda suas
aspirações internacionais e inspira o interesse nacional de seus estados serem carregados
de emoção e animar a vontade nacional. Os valores determinam, assim, o fervor com
que os interesses são perseguidos. Os estadistas devem, portanto, invocar valores para
inspirar preocupações nacionais que possam sustentar políticas direccionadas ao avanço
ou defesa dos interesses de seu estado.
Os valores permanecem distintos dos interesses. A adesão de uma nação a seus valores
através de uma conduta correta é, no entanto, essencial para sua harmonia doméstica e
importante para sua sensação de bem-estar. A manutenção da harmonia e bem-estar
doméstico é um parâmetro de interesse estratégico para qualquer estado. A consideração
de outros por seus valores também aumenta a autoestima das nações. Por isso, muitas
vezes tentam promover a disseminação de sua ideologia para outros povos, assim como
os indivíduos tentam convencer os outros a abraçar suas crenças pessoais. Os Estados o
fazem para justificar suas convicções e aumentar sua liderança moral, por razões
políticas domésticas e por outros impulsos importantes.
Os valores permanecem distintos dos interesses. A adesão de uma nação a seus valores
através de uma conduta correta é, no entanto, essencial para sua harmonia doméstica e
importante para sua sensação de bem-estar. A manutenção da harmonia e bem-estar
doméstico é um parâmetro de interesse estratégico para qualquer estado. A consideração
de outros por seus valores também aumenta a autoestima das nações. Por isso, muitas
vezes tentam promover a disseminação de sua ideologia para outros povos, assim como
os indivíduos tentam convencer os outros a abraçar suas crenças pessoais. Os Estados o
fazem para justificar suas convicções e aumentar sua liderança moral, por razões
políticas domésticas e por outros impulsos importantes.O pressuposto é que a adoção
universal de um dogma comum eliminará fontes de conflito internacional e promoverá a
cooperação desinteressada entre os estados. No entanto, a história fornece pouco suporte
para essa teoria e muita evidência do contrário.
Uma Politica Externa baseada principalmente no impulso de propagar princípios e
ideias é, de fato, mais perturbadora da ordem internacional e mais susceptível de gerar
conflitos diversos do que aquela baseada na acomodação realista dos interesses dos
antagonistas. Isso ocorre porque a convicção ideológica transforma as relações entre os
estados em um conflito entre doutrinas e reivindicações morais, no qual a busca de
compromisso é vista como injusta ou imoral.
Conclusão

O conceito de interesse nacional, apesar de ser utilizado há muito tempo como um guia
para orientar a política externa dos Estados, tem sido alvo de muitas críticas e
controvérsia. As perspectivas teóricas clássicas do interesse nacional são marcadas por
uma profunda rigidez, que dão ao conceito um caráter imutável. A partir dos anos
setenta, atualizando as teorias clássicas, pensadores vinculados às correntes realista e
liberal fizeram concessões ao paradigma concorrente, mas não foram capazes de
diminuir a rigidez em torno do conceito. Nos anos noventa, Wendt e Huntington
avançaram vinculando o interesse nacional à identidade dos Estados. No entanto, tornar
o conceito mais flexível não eliminou sua ambiguidade.

O interesse nacional tem sido usado como ferramenta analítica e como instrumento de
ação política. Ambas as funções têm sido alvo de críticas, embora a segunda função seja
mais aceita, tendo em vista a tarefa do ator político de justificar decisões. Embora
partam de perspectivas teóricas distintas, tanto George e Keohane quanto Nuechterlein
acreditam que o critério do interesse nacional é essencial na tarefa de auxiliar o policy-
maker diante das incertezas que afetam a definição de interesses nacionais e da escolha
entre políticas alternativas.

A respeito da ambiguidade associada ao conceito, entende-se que ela somente pode ser
reduzida a partir do reconhecimento e do esclarecimento da função de interesse nacional
que se deseja pesquisar. Assim, o pesquisador do interesse nacional deve sempre
salientar e diferenciar seu uso, seja como ferramenta analítica ou como instrumento de
ação política.
Referências bibliográficas

Contrera, Flávio. (2015). O conceito de interesse nacional: debate teórico e


metodológico nas relações internacionais. Revista de Estudos Internacionais, Vol. 6
(2).
Freeman, Chas. (S/A). Arts of Power.

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