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BLUMENAU | 2013

Biodiversidade Catarinense | 1
Governo do Estado de Santa Catarina

Governador João Raimundo Colombo


Secr etar ia de Estado do Desenvolvimento Sustentável
Secretário Paulo Bornhausen
Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catar ina
Presidente Sergio Luiz Gargioni
Secr etar ia de Estado da Educação
Secretário Eduardo Deschamps

UNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAU


R EITOR
João Natel Pollonio Machado
VICE-R EITOR
Griseldes Fredel Boos
PRO-R EITOR IA DE PESQUISA, PÓS-GR ADUAÇÃO, EXTENSÃO E CULTUR A
Marcos Rivail da Silva
CENTRO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO
Marilene de Lima Körting Schramm
CENTRO DE CIÊNCIAS EX ATAS E NATUR AIS
Geraldo Moretto

EDITORA DA FURB
EDITOR EXECUTIVO
C A PA S
Maicon Tenfen
Menino com lupa, foto: Edson Schroeder.
CONSELHO EDITOR IAL Vista da Serra Geral; Talha-mar (Rynchops niger);
Edson Luiz Borges Grimpeiro (Lepthastenura setaria). fotos: R enato R izzaro.
Elsa Cristine Bevian
G UA R DA S
João Francisco Noll
PR IMEIR A: Líquens. Foto: E dson Schroeder .
Jorge Gustavo Barbosa de Oliveira
Roberto Heinzle Aranha (Epicadus heterogaster); flor vermelha
Marco Antônio Wanrowsky (Sinningia macropoda); ninho de marreca-piadeira
Maristela Pereira Fritzen (Dendrocygna viduata); lagartas. Fotos: Lucia Sevegnani.
VERSO: Caeté (Heliconia farinosa). Foto: E dson Schroeder .

DISTR IBUIÇÃO ÚLTIMA: Floresta em Blumenau; mosca em caeté;


Edifurb germinação de Posoqueria latifolia. Fotos: Lucia Sevegnani.
Pernilongo-de-costas-brancas (Himantopus melanurus).
R EVISÃO Foto: R enato R izzaro.
Rafaela L. V. Otte
VERSO: Cuíca (Gracilinanus microtarsus)
DESIGN & ASSESSOR IA EDITOR IAL Foto: A rtur Stanke Sobrinho (ECOAMA) e fungos
Renato Rizzaro Fotos: R enato R izzaro.

F i c h a C at a l o g r á f i c a el a b o r a da p el a B i b l io t e c a C e n t r a l da FURB

B615b Biodiversidade catarinense : características, potencialidades, ameaças / Lucia Sevegnani, Edson Schroeder
organizadores. - Blumenau : Edifurb, 2013.
252 p. : il.
ISBN 978-85-7114-336-4
Bibliografia: p. 244-251.

1. Biodiversidade - Santa Catarina. I. Sevegnani, Lucia.


II. Schroeder, Edson. CDD 574.5

E lab o r a ç ã o Apoio

2 | Biodiversidade Catarinense
Folheada, a folha de um livro retoma o
lânguido e vegetal da folha folha,
e um livro se folheia ou se desfolha como
sob o vento a árvore que o doa;
folheada, a folha de um livro repete
fricativas e labiais de ventos antigos,
e nada finge vento em folha de árvore
melhor do que vento em folha de livro.

João Cabral de Melo Neto

Biodiversidade Catarinense | 3
A obra Biodiversidade catarinense: características, potencialidades e ameaças
vem preencher uma lacuna de informações para o Ensino Básico,
sobretudo no que diz respeito aos conhecimentos relacionados
à biodiversidade do nosso Estado. Sabemos que, na escola,
crianças e adolescentes preparam-se para a sua vida social, portanto, é um
espaço significativo para a construção do conhecimento sobre a vida.
O livro aborda as características e inter-relações entre espécies que ocorrem nos
ecossistemas, além das ameaças a que estes estão submetidos. Destaca, também, as
potencialidades de uso e os serviços ambientais decorrentes do funcionamento dos
ecossistemas. O conhecimento de tais processos é fundamental na formação de estudantes
comprometidos com a construção de um mundo mais humano, inclusivo, solidário e
biodiverso. Conhecer e respeitar nosso patrimônio natural faz parte dessa construção.
Os conhecimentos reunidos nesta obra resultam do empenho de professores
pesquisadores da Universidade Regional de Blumenau - FURB, sensivelmente estimulados
pelo compromisso com a biodiversidade social e ecológica. Através da obra, pretendem
tornar as informações acessíveis aos professores e seus estudantes de todas as redes
de ensino de Santa Catarina. O poder das ideias, conceitos e pressupostos contidos na
obra, bem como a forma como foram organizados, certamente, estimularão a reflexão e
contribuirão para a formação cidadã do nosso povo, ambientalmente sensível e responsável.
Eis aqui mais uma importante contribuição da FURB, quando comemora os seus
49 anos. Nossa universidade participa, produz conhecimento científico e forma
profissionais comprometidos e preparados, entre eles professores e pesquisadores,
por intermédio dos 40 cursos presenciais de graduação e de pós-graduação –
11 cursos de mestrado e dois de doutorado, abrangendo 12 mil estudantes. Acumulamos,
nessas quase cinco décadas, significativo conjunto de conhecimentos científicos
relacionados às realidades catarinenses, especialmente sobre a biodiversidade.

D outor J oão N atel P ollonio M achado


Reitor da Universidade Regional de Blumenau

4 | Biodiversidade Catarinense
C omo seria bom se esta obra já existisse há muitos anos e servisse
de referência fundamental a projetos pedagógicos em todas as
escolas! Ou como balizamento de decisões políticas e como
informação ao público em geral, contribuindo para evitar tantos e
tantos erros cometidos no processo de ocupação dos espaços catarinenses!
Mas, se tivesse surgido antes, os editores não disporiam do precioso acúmulo de
conhecimento sobre o ambiente natural catarinense que existe atualmente, fundamental
para todo e qualquer planejamento de uso e ocupação do solo com a obrigatória
proteção da biodiversidade, aqui apresentado de forma acessível e sintética.
Biodiversidade Catarinense: características, potencialidades, ameaças reúne num só volume o
que há de melhor nesse conhecimento acumulado no Estado, que teve no pioneirismo
do naturalista Fritz Müller seu maior expoente no século XIX. Na contribuição de
Fritz Plaumann para os insetos e na dupla dos gigantes Raulino Reitz e Roberto Miguel
Klein para a flora e vegetação catarinenses, os maiores expoentes no século XX e no
recente Inventário Florístico Florestal Estadual, as primeiras luzes do século XXI.
A biodiversidade, ou seja, a diversidade de ecossistemas, espécies e genomas só pode
ser entendida à luz da evolução geomorfológica, climática e da vida no planeta Terra.
Esta é a expressão máxima da vida no ambiente, num determinado tempo geológico,
que o ser humano, nele inserido, tem o dever e a obrigação de respeitar. Sem levar em
consideração a conservação da biodiversidade e a complexa gama de fatores físico-químicos,
ecológicos e temporais nela envolvidos, não se pode sequer pensar em sustentabilidade.
Mais que uma simples coletânea de textos afins, de diversos autores, este livro
compõe uma verdadeira “singnose”, uma espécie de sinfonia do conhecimento sobre
o tema, magistralmente regida pelos doutores Lucia Sevegnani e Edson Schroeder,
que souberam reunir e costurar, intercalar e interconectar, convergir e complementar,
formando um conjunto único, como jamais abordado em Santa Catarina.

L auro E duardo B acca


Professor, Ecólogo e ambientalista - RPPN Reserva Bugerkopf; fundador da ACAPRENA

Biodiversidade Catarinense | 5
N a presente obra, o Estado de Santa Catarina foi dividido em três
grandes regiões (Vertente Atlântica, Planalto e Oeste) para facilitar
o conhecimento das espécies e ecossistemas. Muito mais do que
fonte atualizada de informações sobre a fauna e a flora, se constitui
em uma declaração de amor por Santa Catarina. Fruto do trabalho dedicado dos
seus autores ao longo de mais de três anos, o estudo realizado apresenta com
aprofundamento científico um belíssimo painel da natureza catarinense. Desta
forma, esta obra representa uma fonte mais abrangente que as atualmente existentes
para os professores e estudantes das escolas catarinenses. Com ela, estes podem
enriquecer as aulas de Ciências, Biologia ou Geografia com conteúdo sobre espécies
e populações, cadeias alimentares entre outras informações sobre Santa Catarina.
Que este livro seja um elemento de incentivo para aulas que estimulem as novas
gerações de catarinenses a ter um olhar mais profundo sobre a nossa biodiversidade
e as leve a ultrapassar os muros das escolas e, principalmente, as paredes de suas
casas, para conhecer de perto a beleza da vida natural de Santa Catarina.
No primeiro capítulo, de autoria do professor doutor Edson Schroeder com
contribuição da professora doutora Lucia Sevegnani, estes organizadores e
também autores, registram a importância dos pais incentivarem seus filhos a
saírem de casa, visitarem parques nacionais, sítios, museus e universidades.
Num determinado trecho, professora Lucia Sevegnani afirma: "há mais perigos
dentro de uma casa com a internet que num passeio pela floresta". Sem dúvida,
a necessidade de reconectar toda uma geração fundamentalmente urbana, com
a natureza, é urgente. Precisamos reabrir os portões da escola para o mundo.
Porém, esta reabertura só será efetiva se prepararmos nossos estudantes para
esta nova realidade. Neste sentido, uma obra como a que você tem em suas
mãos se reveste de uma poderosa ferramenta para estimular os estudantes a se
encantar e conhecer in loco toda a maravilhosa biodiversidade catarinense.

D outor E duardo D eschamps


Secretário de Estado da Educação de Santa Catarina

6 | Biodiversidade Catarinense
P roduzido com recursos do governo estadual, repassados por meio da
Chamada Pública Biodiversidade, o livro Biodiversidade catarinense:
características, potencialidades e ameaças complementa o trabalho da
Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa
Catarina (Fapesc), órgão do governo estadual que repassa recursos públicos
principalmente a projetos de pesquisa selecionados por chamadas públicas.
O livro ajuda professores a disseminar informações entre estudantes matriculados a partir
do ensino fundamental, o único nível da educação brasileira não atendido diretamente por
essa instituição, dado que a Fapesc disponibiliza bolsas de pesquisa para alunos do ensino
médio até a pós-graduação e apoia financeiramente estudos conduzidos por pesquisadores.
A lacuna será preenchida com as oito mil cópias da presente obra, que serão distribuídas
gratuitamente em escolas das redes pública, privada e também para o ensino superior,
funcionando como material de referência para os docentes de todos esses diferentes níveis.
A Universidade Regional de Blumenau (FURB) – que agora apresenta este livro
impresso e em versão eletrônica, disponível para download também por meio da biblioteca
virtual criada no site da Fapesc – havia sido contemplada anteriormente com verbas
da Fapesc para efetuar o Inventário Florístico-Florestal de Santa Catarina, cujos
resultados estão publicados em quatro volumes e também disponibilizados on line.
Entretanto, faltava encontrar novos meios de difundir conhecimentos científicos
sobre os ecossistemas catarinenses e a Fapesc garantiu não só a produção do livro
Biodiversidade catarinense, mas também cursos de capacitação para os professores das
escolas que usarão a obra. Vale lembrar que ele também aborda aspectos da fauna
vertebrada, flora e ecossistema catarinense, tendo grande aplicação em aulas de
Ciências, Biologia e Geografia. Além de fotos e ilustrações, traz detalhes sobre espécies
e populações, entre outros assuntos, para despertar a curiosidade dos estudantes e
fomentar a preocupação ambiental desde cedo. Tem potencial inclusive para estimular
jovens cientistas a investigarem soluções que garantam o futuro de todos nós.

D outor S ergio L uiz G argioni


P r e s i d e n t e da Fa p e s c

Biodiversidade Catarinense | 7
A G R A D E C I M E N T O S

Esta obra é resultado de trabalho abnegado dos au- Ignês Sevegnani, Lauro E. Bacca (Acaprena), Rudi R.
tores dos capítulos, que se esmeraram em trazer à luz Laps (UFMS), bem como críticas atribuídas ao Capítu-
tantas informações contextualizadas sobre as expres- lo 2: Alexandre Uhlmann (Embrapa- Florestas), Beate
sões da vida em nosso Estado. Frank, Luis O. M. Giasson (FURB), Luis R. M. Bap-
Somo gratos pela colaboração dos diferentes espe- tista (UFRGS), Marialva T. Dreher (FURB), Rosete
cialistas que nos brindaram com seu pensar e sentir, Pescador (UFSC) e Waldir Mantovani (USP). Agrade-
resultando em boxes ilustrativos: Alanza M. Zanini, cemos, também, pela revisão gramatical feita pela pro-
Alexander C. Vibrans, André L. de Gasper, Annete fessora Rafaela L. V. Otte.
Bonnet, Cintia Gruener, Claudia Fontana, Edilaine Ao Dr. Alexander C. Vibrans (FURB) pela cessão
Dick, Juarez J. V. Müller, Julio C. Refosco, Lauro E. das informações, do banco de dados e imagens do In-
Bacca, Luís O. M. Giasson, Marcos A. Danieli, Marial- ventário Florístico Florestal de Santa Catarina os quais
va T. Dreher, Miriam Prochnow, Rosete Pescador, Rudi se constituíram em lastro para esta obra.
R. Laps, Sidney L. Stürmer, Vanilde C. Zanette, Vera À Fapesc – Fundação de Amparo à Pesquisa e Ino-
L. S. Silva, Wigold B. Schäffer e Zelinda M. B. Hirano. vação de Santa Catarina pelos importantes recursos
A beleza da obra emergiu do olhar atento dos fo- que possibilitaram a elaboração dos 8.000 volumes des-
tógrafos sobre as espécies e ecossistemas existentes no te livro, fazendo com que professores das diferentes re-
território catarinense, os quais cederam as imagens para des e níveis de ensino do Estado possam utilizar como
publicação. Alguns registros como o da onça, anta, cas- base em suas aulas, portanto tornar a biodiversidade
cavel, tamanduá-bandeira, lobo-guará, veado-campeiro mais conhecida e valorizada.
e outros foram feitos em outros Estados, mas sua pre- À FURB – Universidade Regional de Blumenau
sença é importante na obra para alertar sobre dificulda- pela cessão do tempo dos professores, de sua infraes-
de ou até mesmo a impossibilidade de registrá-los aqui trutura e, principalmente, por apoiar a pesquisa cien-
por causa da caça, da restrição de hábitats e seus hábi- tífica sobre a biodiversidade do Estado ao longo de
tos. Portanto, nosso profundo agradecimento a: Alex décadas.
Balkanski, Anita S. dos Santos, André L. de Gasper, Somos gratos à Secretaria Estadual de Educação
Antônio de A. Corrêa Jr, Artur Stanke Sobrinho, Bernd pelo apoio na distribuição nas diferentes redes de en-
Marterer, Bertholdo Bachmann, César P. L. de Oliveira, sino, a qual, juntamente, com as demais secretarias de
Charles G. Boudreault, Daniela S. Mayorca, Djeison F. educação municipais, permitiu a chegada deste livro
de Souza, ECOAMA - Consultoria Ambiental, Edilai- aos professores das escolas.
ne Dick, Edson Schroeder, Fernanda Braga, Fernando À Camila Grimes pela atenta organização das refe-
Tortato, Ignês Sevegnani, Isamar de Melo, Iumaã L. C. rências apresentadas neste livro. E aos demais abnega-
Bacca, José C. Rocha Jr., Júlio C. de Souza Jr., Juliane L. dos servidores professores e técnicos administrativos
Schmitt, Juarês J. Aumond, Kátia G. Dallabona, Laudir e bolsistas da FURB: Ana C. Guztzazky, André L. de
L. Perondi, Lauro E. Bacca, Leila Meyer, Lucia Seveg- Gasper, Daniel R. Priester, Débora V. Lingner, Elcio
nani, Luis O. M. Giasson, Luiz Schramm, Marcelo R. Schuhmacher (Coordenador do PPGECIM), Fernanda
Duarte, Márcio Verdi, Marcos A. Danieli, Marcus Zilli, Bambineti; Leila Meyer, Maicon Tenfen (Editor chefe
Miriam Prochnow, Pâmela S. Schmidt, Priscila P. A. da Edifurb), Marcio Nunes (Chefe da Divisão de Pes-
Ferreira, Rafael Pasold, Renato Rizzaro, Rita S. Furuka- quisa), Morilo J. Rigon Jr., Peter Valmorbida e Sirleni
va, Tiago J. Cadorin, Tiago Maciel, Tiana M. Custódio Schmitt (Chefe da Divisão de Administração Contábil
e Tobias S. Kunz. e Patrimonial).
Agradecemos às crianças da Escola de Educação Aos que cederam os direitos de uso de sua imagem:
Básica Governador Celso Ramos e sua professora, Da- Ana M. Q. Imhof, Caio Y. Busana, Cynthia H. Rinnert,
núbia Lorbieski, que gentilmente cederam os desenhos Celso Menezes, Cláudia Fontana, Cláudia Siebert, Clau-
para esta obra. dimara Pfiffer, Danúbia Lorbieski, Edson Schroeder,
Os mapas e diagramas apresentados no livro foram Fabiana Fachini, Ilizete G. Lenartovicz, Karin E. Qua-
resultado do trabalho abnegado de Débora V. Lingner dros, Joel de Quadros, Lauro E. Bacca, Leila Meyer,
(IFFSC – Inventário Florístico Florestal de Santa Ca- Lourenço G. Isolani, Lucia Sevegnani, Márcio Verdi,
tarina, FURB), Carolina Schäffer (Apremavi – Asso- Marilete Gasparin, Paul Comtois, Peter Valmorbida,
ciação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida), Pierre J. H. Richard e Vaneila Bertoli.
Luana Schlei (IFFSC, FURB) e Maurici Imroth. Ao designer e assessor editorial Renato Rizzaro, por
Somos gratos pelas leituras e sugestões feitas ao evidenciar a beleza da biodiversidade na presente obra.
texto efetuadas por André L. de Gasper (FURB), Arno Às pessoas e entidades que através de suas ações
Wortmeyer, Conselho Editorial da Edifurb (FURB), protegem a biodiversidade catarinense.

8 | Biodiversidade Catarinense
S U M Á R I O

APRESENTAÇÃO | 10
Capítulo 1
Educação Científica para a
Conservação da Biodiversidade | 13
Capítulo 2
Olhares sobre a Biodiversidade | 31

Capítulo 3
As Grandes Unidades da Paisagem
e a Biodiversidade de Santa Catarina | 55

Capítulo 4
A Vegetação no Contexto
Brasileiro e Catarinense: uma Síntese | 71
Capítulo 5
A Vertente Atlântica | 93

Capítulo 6
O Planalto Central | 135

Capítulo 7
O Oeste | 173

Capítulo 8
A meaças à Biodiversidade | 197

Capítulo 9
Potencialidades de
Uso da Biodiversidade | 223

REFERÊNCIAS | 244

Biodiversidade Catarinense | 9
A P R E S E N T A Ç Ã O

F ruto da preocupação com a educação científica dos jovens e visando criar


valores conservacionistas e habilidades e competência para lidar com a vida, o
livro Biodiversidade Catarinense: características, potencialidades e ameaças foi elaborado
por intermédio do trabalho abnegado de pesquisadores, professores e
mestrandos da Universidade Regional de Blumenau. Contou também com a colaboração do
pesquisador Dr. Rudi R. Laps, da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul – campus
Campo Grande e do Dr. Paul Comtois do Departamento de Geografia da Université de
Montréal.
Seus principais públicos alvo são professores e estudantes do Ensino Fundamental e
Médio de Santa Catarina, mas com certeza será de grande valia para os cursos de
Licenciaturas em Ciências Biológicas, Pedagogia, Geografia e demais cursos de graduação,
tais como: Ciências Biológicas, Geografia, Ciências do Ambiente, Ecologia; Engenharias -
Florestal, Agronomia, Ambiental; como também nos cursos de Veterinária, Direito, entre
outros. Terá também importante uso nas empresas de consultoria, nos órgãos municipais e
estadual de meio ambiente e de planejamento, de defesa civil, bem como nas organizações
não governamentais com foco na conservação ambiental. Satisfaz, também, a curiosidade
das pessoas que desejam conhecer a biodiversidade de Santa Catarina e se preocupam com
a sua conservação.
Ressaltamos que o conhecimento científico disponível sobre a biodiversidade do Estado é
maior na Vertente Atlântica e isso pode ser evidenciado no Capítulo 5. Há ainda grandes
lacunas de conhecimento no Planalto e Oeste, fato que merece atenção das universidades
existentes naquelas regiões.
Lembramos que as espécies citadas no decorrer da obra estão acompanhadas de sua
respectiva denominação científica, o que facilita a busca de imagens e mais informações a
respeito das mesmas na internet, tanto pelos professores como por seus estudantes.
Chamamos a atenção para o fato de que o presente livro, mesmo sendo direcionado aos
professores e estudantes, carece de propostas de atividades a serem desenvolvidas em sala de
aula ou na natureza. Confiamos na criatividade e esforço dos professores no sentido de
mostrar e significar a biodiversidade apresentada para seus estudantes, especialmente no
momento em que somos 85% residentes em zonas urbanas. Mas, informamos que estamos
redigindo nova obra, com foco pedagógico, a qual abordará propostas de atividades para
trabalhar com a biodiversidade de Santa Catarina.

10 | B i o d i v e rsida d e Cata rin e nse


A presente obra está dividida em nove capítulos com foco sobre a biodiversidade de
espécies de animais ‘vertebrados’, de plantas, de ecossistemas e de paisagens catarinenses.
No primeiro capítulo destaca-se a relevância de educar cientificamente os estudantes, para
formar cidadãos cientes da existência, função e valor da biodiversidade. Cidadãos capazes de
viver no interior de paisagens repletas de vida.
No capítulo dois os conceitos ecológicos relativos à biodiversidade são abordados,
enfatizando que são importantes para o entendimento dos processos descritos nos
próximos capítulos.
As dinâmicas geológicas, climáticas e biológicas passadas e a geodiversidade atual são
apresentadas no capítulo três e indicam as condições para existência de elevada
biodiversidade no Estado.
Os capítulos quatro (A vegetação no contexto brasileiro e catarinense: uma síntese), cinco
(A Vertente Atlântica), seis (O Planalto Central) e sete (O Oeste) abordam a biodiversidade
presente no bioma Mata Atlântica em Santa Catarina, como se organizam nas diferentes
regiões fitoecológicas e apresentam funções particulares, prestando inestimáveis serviços
ambientais aos catarinenses.
As ações humanas que reduzem a biodiversidade de espécies e ecossistemas são destacadas
no capítulo oito. Aquelas que geram os recursos financeiros e movem a economia, afetam
gravemente as espécies e ecossistemas. Portanto, essas merecem políticas públicas, inclusive
educacionais, para minimizar seus impactos.
A riqueza de serviços ambientais produzidos pela biodiversidade de espécies e
ecossistemas no Estado de Santa Catarina é enorme. Suas potencialidades de uso e
aproveitamento são ressaltadas no capítulo nove, e essas são, também, demandantes de
políticas públicas para sua valorização.
Por último, apresentamos o rol de autores e obras que fizeram o lastro científico do
presente livro. Essas e outras tantas devem ser pesquisadas pelos professores, estudantes e
técnicos para aprofundar seu entendimento sobre a biodiversidade catarinense.

Lucia Sevegnani
Edson Schroeder
organiz adores

B i o d i v e r s i d a d e C a t a r i n e n s e | 11
Foto: Edson Schroeder

12 | B i o d i v e r s i d a d e C ata r i n e n s e
C a p í t u l o 1

Educação Científica para a


Conservação da Biodiversidade
E dson S chroeder 1

A realidade mundial e também


a catarinense passa por com-
plexas mudanças de cunho
social, político, econômico e
ambiental. Neste contexto, a educação cien-
tífica da população assume papel preponde-
rante, na medida em que as pessoas têm in-
respeito aos impactos que os conhecimentos
e ou tecnologias têm sobre a vida de cada um
ou sobre a população como um todo. Viabi-
lizar a participação mais ativa dos diversos
setores da sociedade é um dos objetivos da
educação científica.
Evidentemente, compete à escola propi-
tegradas aos seus cotidianos conhecimentos ciar o acesso da população ao conhecimen-
da ciência e das tecnologias. Reconhecemos to científico, pelo menos na sua forma mais
a importância da educação científica para o sistematizada e aprofundada. Neste sentido,
desenvolvimento econômico, cultural e so- as aulas de Ciências ou de Biologia são es-
cial, e o ensino de Ciências e de Biologia tem paços particularmente promissores para o
função fundamental nesse processo. Este ca- desenvolvimento de educação científica das
pítulo tem por objetivo destacar a relevância crianças e jovens, de forma muito mais com-
da educação científica para a formação do ci- pleta e significativa. Entre os objetivos do
dadão. ensino de Ciências ou Biologia encontra-se
Os conhecimentos da ciência e da tecno- o de possibilitar acesso aos conhecimentos
logia podem contribuir para que a população que poderão conduzir os estudantes a novas
compreenda as complexidades associadas aos formas de perceber e se relacionar com o seu
contextos que implicam discernimento e, al- mundo objetivo. O conhecimento científico
gumas vezes, decisões. Sobretudo no que diz se transforma em instrumento do pensamen-

SCHROEDER, E. Educação científica para a conservação da biodiversidade. In: SEVEGNANI, L.; SCHROEDER, E.
Biodiversidade catarinense: características, potencialidades e ameaças. Blumenau: Edifurb, 2013, p. 12-29.

1 Doutor em Educação Científica e Tecnológica, biólogo, professor e pesquisador na Universidade Regional de Blumenau – FURB.

B i o d i v e rsi da d e C ata r i n e nse | 13


to, com vistas à resolução de problemas do nossa biodiversidade, bem como as problemá-
cotidiano, a compreensão e deliberação mais ticas ambientais a ela associadas, de forma que,
consciente sobre as inúmeras demandas que cada cidadão, esteja comprometido e respon-
o mundo moderno apresenta, muitas delas sável pela busca de mudanças ou tentativa de
complexas e associadas ou influenciadas por diminuição dos impactos causados pelas ações
conhecimentos das ciências e da tecnologia. humanas inconsequentes sobre o ambiente
Entendemos que o ensino de Ciências e de natural. Neste sentido, compreendemos que o
Biologia pode contribuir para formação de tema biodiversidade deva ser uma preocupa-
um cidadão mais consciente e comprometido ção da escola e pauta recorrente em salas de
com questões que são vitais para a socieda- aula. Sem uma educação científica adequada
de, como por exemplo, àquelas associadas ao corre-se o risco de condenar cidadãos e cida-
meio ambiente e os impactos causados pela dãs a se situarem à margem do desenvolvi-
ação antrópica. mento e das riquezas produzidas no país.
É inquestionável e urgente que as popu- As mudanças pela qual passa o nosso pla-
lações tenham acesso aos conhecimentos neta devem ser foco de estudo no contex-
científicos e suas tecnologias relacionados to educativo. Valério (2006) assevera que o
à biodiversidade, uma vez que, de modo re- processo de transformação da sociedade,
corrente, amplia-se demandas que remetem processo esse em parte conectado à relação
à participação popular, o que implica na ca- que mantemos com ciência e tecnologia, evi-
pacidade das pessoas envolvidas em reconhe- dencia o grande valor da educação científica
cer, analisar, enfim, compreender mais sobre e tecnológica para essa sociedade. Libanore
nosso patrimônio natural, seus fenômenos, (2007) argumenta a respeito da necessidade
características e fragilidades e, para que isso premente da abrangência e compreensão dos
ocorra, faz-se necessário uma sólida educação conhecimentos da ciência e da tecnologia a
científica. fim de possibilitar a leitura mais crítica dos
Urge uma percepção mais abrangente sobre acontecimentos da atualidade.

1.1 Educação científica e formação humana

Entendemos que a escola como um todo A educação científica, em todos os níveis e


tem como objetivo desenvolver uma educa- sem discriminação, é requisito fundamental
ção preocupada com a realidade, objetivan- para a democracia. Igualdade no acesso à ci-
ência não é somente uma exigência social e
do o entendimento do ambiente circundante,
ética: é uma necessidade para realização plena
tanto natural, como os artificiais. Desta ma-
do potencial intelectual do homem.
neira, como Krasilchik (1987) argumenta, o
ensino de Ciências e Biologia pode transcen-
der às suas especificidades em termos con- O que se pretende é a formação de cida-
ceituais e fazer correlações com os aspectos dãos mais participantes, sensíveis e críticos,
políticos, econômicos e culturais, ampliando em contraposição aos cidadãos apáticos, es-
sensivelmente a compreensão dos estudantes pectadores passivos em um contexto social
sobre problemas do cotidiano e, sobretudo, complexo e em constante transformação: o
os associados a nossa rica biodiversidade. acesso ao conhecimento trata-se de uma ex-
Conforme Zancan (2000, p. 6): periência salutar e direito de cada um, portan-

14 | B i o d i v e rsi da d e C ata r i n e nse


to o acesso à educação de qualidade é condi- e resultados, muito embora, ainda pouco ac-
ção inegociável. Pois, só se transforma aquilo cessíveis à maioria das pessoas escolarizadas
que se conhece. (DELIZOICOV; ANGOTTI; PERNAM-
Chassot (2001, p. 38), compreendendo a BUCO, 2002; KRASILCHIK, 1987).
alfabetização científica como processo para Uma perspectiva mais crítica da educação
formar o cidadão cientificamente educado, científica possível de ser promovida implica,
considera a alfabetização como “o conjun- sobretudo, no desenvolvimento de estudan-
to de conhecimentos que facilitariam aos tes mais sensíveis e críticos, capazes de iden-
homens e mulheres fazerem uma leitura do tificar problemas, analisar e vislumbrar possi-
mundo onde vivem.” Para Chassot (2003), bilidades, em contrapartida aceitação passiva
os conhecimentos da ciência e da tecnologia das informações que lhes são apresentadas no
auxiliam na identificação e resolução de pro- decorrer das aulas. Evidentemente, para que
blemas, bem como, contribuem para o aten- esses estudantes exercitem a criticidade sobre
dimento das necessidades cotidianas. Entre- um campo determinado, é necessário que te-
tanto, Chassot vai além: uma educação mais nham acesso aos conhecimentos da ciência e
efetiva, se levarmos em consideração o en- das tecnologias. Partimos do pressuposto de
sino de Ciências e Biologia, pode contribuir que esses conhecimentos possibilitarão em-
para que os estudantes aprendam a utilizar os basamento e ampliação das argumentações.
conhecimentos na tomada de decisões com As escolas, como instituições destinadas à
vistas à melhoria da qualidade de vida, bem disseminação do patrimônio científico e cul-
como, compreender as limitações e consequ- tural, algumas vezes acabam não logrando
ências do desenvolvimento sobre suas vidas e êxito em algumas das suas missões: os conhe-
sobre os ambientes naturais. Neste sentido, a cimentos acabam tendo um pequeno impac-
escola, como instituição formal de ensino, as- to sobre a formação dos estudantes. Este fato
sume papel essencial para a educação cientí- acaba por transformar a escola, do ponto de
fica das crianças e jovens que por ela passam. vista dos estudantes, em um lugar desinteres-
O que colocamos em evidência é a opor- sante e pouco motivador.
tunidade e capacidade de cidadãos e cidadãs Entretanto, defendemos a ideia de que a
participarem nas discussões e decisões sus- sala é um espaço privilegiado de interações
citadas pelo desenvolvimento científico e entre os estudantes e o conhecimento. O pro-
tecnológico. Poderíamos aventar a educação blema encontra-se no fato de que uma grande
científica como condição para originar uma parte dos conhecimentos ensinados nas au-
consciência social sobre a ciência e tecnologia, las de Ciências e Biologia carecem de signi-
e seus impactos sobre o planeta e sua biodi- ficados e distanciados da realidade dos estu-
versidade, notadamente sobre a vida de cada dantes e, arriscamos dizer, até mesmo para
um. Portanto, defendemos que os conheci- os professores (ver Box 1). Percebemos que
mentos não deveriam ser ensinados a partir a transformação dos conhecimentos ensina-
da lógica transmissão - recepção, mas sim, dos em instrumentos do pensamento trata-
ser desenvolvido a partir de uma perspecti- -se de um desafio a todos os envolvidos nos
va crítica e social. Evidenciamos a atividade processos de ensino. Não poderíamos deixar
científica como construção historicamente si- de mencionar a nossa preocupação, também,
tuada e conectada a diferentes setores sociais, com a formação profissional desses professo-
inclusive econômicos e políticos, e submetida res, particularmente os que ensinam Ciências
a pressões internas e externas, com processos e Biologia na educação básica. Reconhece-

Educação Científica para a Conservação da B i o d i v e r s i d a d e | 15


BOX 1

E S C O L A S - A B R A M S U A S
L ucia S evegnani

H
Doutora em Ecologia, bióloga, professora e pesquisadora na Universidade Regional de Blumenau – FURB

avia um tempo, não muito em geral, muito adensada, com tráfego


distante, que as escolas intenso ao redor de escolas e residên-
colocavam seus estu- cias. Os pais trabalham o dia todo para
dantes em ônibus ou até gerar recursos para manter a família.
mesmo iam à pé, para visitar diferentes Nos finais de semana muito cansados
locais: museus, universidades, a capital e tendo que lidar com os cuidados da
do Estado, praias, parques nacionais, casa, raramente têm energia, tempo
ou mesmo, um sítio aprazível. Os pais e recurso para sair com os filhos. E
assinavam tranquilos as autorizações, raramente, isso quando acontece, vão
e muitas vezes pagavam os custos de a um parque (quando a cidade o tem)
deslocamento e entrada, para que os ou a uma área natural como praia ou
estudantes pudessem vivenciar novos floresta. Crianças jovens e adultos
ambientes e aprender coisas diferen- estão cada vez mais trancados ... plu-
tes do contexto da escola, junto com gados em seus computadores, tarefas,
seus colegas e professores. E nesse televisores, videogames, celulares e
tempo, a grande maioria das crianças similares. Cada um com seus afazeres,
vivia em casas com quintal e tinham cada um no seu canto, cada um com
mais espaço para suas vivências. seu som, com seus amigos virtuais,
Neste tempo, não muito distante, as CADA VEZ MAIS SOLITÁRIOS. De tan-
professoras e professores tinham vonta- tas vivências virtuais, parece que ver
de e liberdade de escolher onde que- e tocar a vida lá fora ficou sem graça,
riam ir, e com auxílio da escola, dos pais parece que brincadeiras como correr e
ou mesmo do poder público, saiam em jogar sob o sol, sob as nuvens ou sob a
barulhentas experiências de observar. chuva são proibidas. Parece que tocar,
Recentemente, sem uma causa sentir, cheirar virou coisa do passado.
aparente, as escolas esquivam-se de De tão urbano perdemos a capacida-
permitir ou de incentivar a saída dos de de observar a vida em sua expres-
estudantes da escola. Alegam falta são, olhar o outro em suas emoções e
de segurança, alegam dificuldades sentir com ele tudo o que a vida tem
financeiras, alegam... Outro viés desta de belo – a natureza exuberante do
realidade é que os estudantes e pro- nosso Brasil, as pessoas maravilhosas
fessores nunca estiveram em casas que constituem a nossa população, as
e apartamentos tão pequenos como coisas que somos capazes de criar.
atualmente. E para ampliar seu esta- Voltemos à escola, no contexto social
do de confinamento, da escola tam- que acabamos de apresentar, no mo-
bém não podem sair para viagens de mento que os estudantes estão mais
campo ou passeios como diziam. confinados do toda a história da huma-
A população se tornou urbana e está, nidade, sugiro que a escola volte a abrir

16 | B i o d i v e rsi da d e C ata r i n e nse


P O R TA S P A R A A V I D A !

A B
Crianças em diferentes contextos de aprendizagem: a) ao redor da escola, observando a biodiversidade
circundante. Foto: Lucia Sevegnani e b) no Laboratório de Zoologia (FURB). Foto: Edson Schroeder

seus portões. Que leve seus estudantes Retomem o contato com o mundo
para fora em bem planejados passeios lá fora e verão quão belo e rico é.
ou experiências de observação: levem Pais permitam que seus filhos saiam,
ao museu, ao parque, à praia, à floresta, há mais perigos dentro de uma casa
aos campos e aos terrenos baldios, pois com a internet que num passeio pela
cada geração de estudantes é única. floresta. Se algo inesperado acontecer,
Façam exercícios de tocar, de cheirar, não queria processar a escola e pedir
de provar, de viver coisas simples e de indenizações absurdas. Aliás, esse
correr. Um dia sem fones de ouvido, um é um dos grandes motivos porque a
dia sem música eletrônica, somente o escola não efetua mais atividades ao
ruído das gargalhadas dos estudantes, ar livre com seu filho. Eventualidades
somente o som das falas ou da nature- podem ocorrer e ninguém, nem mesmo
za. Um dia de compartilhar lanche, de vocês, têm controle de tudo e, portanto
sentar no chão e andar descalço, um elas devem ser entendidas como tal.
dia de voltar a ser gente não confinada. Professores sintam a alegria e as
Se algum imprevisto ocorrer, ele marcas profundas que fazem no co-
é tão educativo quanto a experiên- ração dos seus estudantes, as ex-
cia de sair. Portanto, em favor da periências fora dos muros da escola
saúde mental dos professores e e quão revitalizante é para vós este
estudantes, em favor de uma vida dia. Programem-se, organizem-se e
mais ampla e repleta de significa- deixem-se levar pela vida... E boa ex-
dos, escolas abram seus portões! periência de sentir e permitir sentir.

Educação Científica para a Conservação da B i o d i v e r s i d a d e | 17


mos que a escola, como um todo, tem se educação em Ciências. Este movimento rela-
preocupado e se empenhado na educação ciona-se a mudanças nos objetivos desse en-
científica dos estudantes; no entanto, ques- sino no que diz respeito à formação geral da
tionamos a capacidade de, muitas vezes, em cidadania, assumindo, hoje, um papel impor-
pensar a sua realidade baseados em parâ- tante no panorama nacional e internacional.
metros científicos. Pode-se quase afirmar que os “analfabetos
Durante muitos anos, o cenário escolar es- formais”, que vivem num mundo sofisti-
teve voltado para um ensino que priorizava cadamente tecnológico, vivem o que pode-
a transmissão dos conhecimentos científicos ria ser chamado de analfabetismo científico
por parte dos professores enquanto os estu- (CHASSOT, 2003) e, muito provavelmente
dantes eram passivos nesse processo, igno- são, também, analfabetos políticos. O proble-
rando-se que a construção do conhecimento ma com que nos defrontamos é, paradoxal-
científico envolve uma série de fatores, tanto mente, simples e complexo. Simples, porque
os de ordem cognitiva, psicológica, quanto sabemos o que fazer: propor uma educação
os de ordem social. Pesquisas apontam para que alfabetize política e cientificamente cida-
uma necessidade de mudanças na atuação de dãos. Complexo, pois temos que sair do que
professores e professoras nos diversos níveis se está fazendo e propor maneiras novas de
de ensino. Ao contrário da prática da “ciência ensinar nestes novos tempos (CHASSOT,
morta”, novos objetivos e metas no ensino de 2008).
Ciências e Biologia começaram a ser concre- De acordo com Fourez (2003; 1994), um
tizados com o passar dos anos. Um dos ob- cidadão estaria educado cientificamente
jetivos seria o de aproximar o conhecimento quando tivesse estabelecida uma consciência
científico e tecnológico da imensa maioria da do porque, em vista de que e para que as teo-
população escolarizada, de modo que, efeti- rias e modelos científicos foram construídos.
vamente, estes se incorporassem no univer- A ciência foi, é, e está sendo construída por
so das representações e se constituísse como homens e mulheres que pensam sobre ques-
cultura. tões que envolvem o mundo natural e tecno-
lógico, para que melhor possamos entendê-
[...] a formação científica e tecnológica, [...] é -lo e agir sobre nossas próprias demandas e
também um privilégio de uns poucos. A pos- necessidades.
sibilidade de superar esse privilégio, de que Segundo Chassot (2008; 2003), a moderni-
amplos setores da população tenham conhe- dade nos trouxe colossais desafios, sobretudo
cimentos que lhes permitam tomar as deci- ambientais e, no seu entendimento, talvez, a
sões da vida diária, algumas delas tão simples maior tragédia da modernidade aponte para
como decidir de como se alimentar, como ma-
a questão educacional e assim pode ser resu-
nejar as fontes de energia em casa e economi-
zar o consumo dessa energia, ou como utilizar mida: logramos o desenvolvimento sofistica-
o recurso da água, para mencionar só algu- do da ciência e tecnologia sem uma corres-
mas questões mais comuns, significa colocar pondente evolução ético-comportamental. A
a formação científica necessária e pertinente aculturação e educação clássica têm se resu-
à disposição de todos os cidadãos e cidadãs mido a um processo de treinamento racional
(MACEDO; KATZKOWICZ, 2003, p. 69). e aquisição de um repertório comportamen-
tal adaptativo em grande escala. Nas esco-
A educação científica se constitui como las, o estudante, muitas vezes, é obrigado a
uma das grandes linhas de investigação na “gravar” informações que se tornam inúteis

18 | B i o d i v e r s i d a d e C ata r i n e n s e
em curto espaço de tempo e a repeti-las nas científicas. Neste sentido, conforme Chassot
avaliações. Aplica-se o perverso método da (2003, p. 28):
comparação, em que um desempenho padrão
é exigido, com a repressão sistemática da di- Hoje, não se pode mais conceber propostas
versidade e originalidade de um conhecimen- para um ensino de Ciências, sem incluir nos
currículos componentes que estejam orienta-
to científico/tecnológico ou escolar. Lembra- dos na busca de aspectos sociais e pessoais
mos Freire (1987), que sugeriu a expressão dos estudantes. Há ainda os que resistem a
“educação bancária”, uma educação onde o isso, especialmente, quando se ascende aos
estudante recebe o conhecimento do profes- diferentes níveis de ensino.
sor, que é depositado, pronto e acabado. Em
um segundo momento, o professor solicita Os conhecimentos derivados das ciências
que o estudante lhe devolva o que foi depo- humanas e naturais podem ampliar as ex-
sitado, acreditando, assim, estar contribuindo periências dos estudantes na construção de
para uma educação de qualidade. concepções adequadas sobre o meio natural,
Nossas realidades foram mudadas e nos- social e tecnológico. Além disto, os profes-
sos estudantes mudados também. O mundo sores precisam estar atentos às complexida-
contemporâneo do qual fazemos parte, nos des associadas aos conhecimentos sobre o
desperta para um desafio perante a neces- ambiente natural, à tecnologia e sociedade
sidade se sermos cidadãos cientificamente e, em função disto, lembrar que se trata de
educados, diante de um mundo em constan- um processo construtivo pelos estudantes,
tes mudanças, tanto sociais, culturais, eco- na medida em que vão desenvolvendo seu
nômicas, ambientais, como tecnológicas e processo cognitivo.

1.2 E ducação científica e biodiversidade

O ensino de Ciências e de Biologia tem manutenção da vida, além da compreensão


um importante papel na educação científica dos processos de produção do conhecimen-
dos estudantes e, neste sentido, defendemos to humano e da tecnologia, suas aplicações,
que uma formação científica mais adequada consequências e limitações (DELIZOICOV;
poderá despertar o interesse de muitos estu- ANGOTTI; PERNAMBUCO, 2002; CAR-
dantes pela ciência, bem como o gosto por VALHO, 1998; POZO; CRESPO, 2009).
aprendê-la. Infelizmente, os conhecimentos Neste sentido, apresentamos alguns ques-
científicos ensinados na escola, se considerar- tionamentos que julgamos pertinentes quan-
mos o seu valor e o seu sentido, muitas vezes do discutimos o papel que o ensino de Ciên-
estão afastados do cotidiano de grande parte cias e de Biologia exercem sobre a educação
dos estudantes. Estes conhecimentos pouco científica na educação básica: é possível um
têm auxiliado na reflexão e ação sobre impor- ensino que contribua para que o estudante
tantes questões, notadamente as relacionadas consiga interpretar o mundo que o rodeia e
à biodiversidade. Evidenciamos que o que se ser capaz de compreender questões circun-
ensina na escola deve auxiliar na construção dantes ao cotidiano, como as relacionadas ao
de uma cultura científica objetivando um en- ambiente e à biodiversidade? Ou devemos,
tendimento dos fenômenos do mundo físico, simplesmente, levar em consideração que
dos aspectos ambientais necessários para a aprender Ciências ou Biologia é divertido e

Educação Científica para a Conservação da B i o d i v e r s i d a d e | 19


interessante? Como compatibilizar um en- nas representações já construídas pelos estu-
sino realmente significativo, ainda centrado dantes com vistas a uma ação mental resul-
na transmissão de conteúdos que, em grande tante de ações que sejam significativas e que
parte, pouco se aproximam do cotidiano dos tenham sentido para sua vida.
estudantes? Como seria possível transformar Entendemos que o processo de alfabeti-
a prática da organização sequencial destes zação científica com objetivo de formar ci-
conteúdos, quase sempre inspirada nos livros dadãos cientificamente educados exige uma
didáticos? Como dar sentido ao conhecimen- atividade permanente e permeada pelas dife-
to científico que se ensina na escola em con- rentes linguagens e mídias e, neste sentido,
traposição à sua visão utilitarista e com um precisa ser desenvolvida nas escolas desde
objetivo bastante explícito, tal como: estudar cedo. Autores como Chassot e Fourez têm
para passar de ano? Nas argumentações de dado ênfase às questões relacionadas com o
Pozo (2002) precisamos compreender, seja ensino das Ciências Naturais e seus objetivos.
como estudantes, como professores ou como Chassot (2006, p. 38, grifos do autor), por
em ambas as condições, as dificuldades rela- exemplo, percebe desta forma esta questão:
tivas às atividades de aprendizagem - deve-
mos começar por situar essas atividades no
[...] poderíamos considerar a alfabetização
contexto social em que são geradas. Borges e científica como o conjunto de conhecimen-
Moraes (1998), por exemplo, analisam desta tos que facilitariam aos homens e mulheres
maneira o processo de construção do conhe- fazer a leitura do mundo onde vivem. Am-
cimento nos anos iniciais: plio mais a importância ou as exigências de
uma alfabetização científica. Assim como
A nossa compreensão é construída. Só po- se exige que os alfabetizados em língua ma-
demos ter acesso a um conhecimento novo a terna sejam cidadãs e cidadãos críticos, em
partir daquilo que já sabemos. Existem dife- oposição, por exemplo, àqueles que Bertolt
rentes maneiras de perceber e interpretar. O Brecht classifica como analfabetos políticos,
sonho, a imaginação e a fantasia fazem par- seria desejável que os alfabetizados cientifi-
te dessa construção principalmente para as camente não apenas tivessem facilidade de
crianças (BORGES; MORAES, 1998, p.20). leitura do mundo em que vivem, mas enten-
dessem as necessidades de transformá-lo, e
Estudantes, por natureza, são curiosos e transformá-lo para melhor”.
dinâmicos, mas, se estas importantes caracte-
rísticas forem reprimidas pelas atividades me- Quando o jovem estudante começa a ela-
cânicas e prontas em sala de aula, os proces- borar de forma significativa os conceitos
sos de construção do conhecimento podem sobre determinados objetos ou fenômenos,
tornar-se desinteressantes e sem sentido, fato como os relacionados à nossa biodiversi-
que, muitas vezes, frustram os envolvidos e dade, começam a construir um significado
comprometem muitos aspectos das suas traje- fundamental para sua aprendizagem. A ação
tórias escolares. A partir daí, faz-se necessário do professor é essencial no decorrer do pro-
que o ensino de Ciências e de Biologia, na edu- cesso de aprender, pois introduz e apoia no
cação básica, aconteçam a partir de contextos universo conceitual, os acompanha. Cabe ao
que as desafiem e possibilitem a vivência de professor conduzir de forma dinâmica, mo-
processos construtivos (ASTOLFI; PETER- tivadora e produtiva o desenvolvimento dos
FALVI; VÉRIN, 1998; CARVALHO, 1998; seus estudantes, a partir do envolvimento
COLL, 2002). Ou seja, um ensino centrado com os conhecimentos científicos e, a partir

20 | Biodiversidade Catarinense
A B

C D

E F

G H

Figura 1: Representação da biodiversidade por crianças a partir de um trabalho sobre a temática


Mata Atlântica em sala de aula. a) Caroline A. Cardoso (borboleta monarca); b) Júlio V. dos Santos
(lagartinho-do-cipó); c) Katlyn S. Gonçalves (tucano); d) Leonardo F. Tavares (coati); e) Leticia C.
Felauer (papagaio-charão); f) Samuel R. S. Passos (paisagem com araucária); g) Maria E. T. de
Oliveira (gralha-azul); h) Mariuza E. C. Pereira (ipê-amarelo).

Educação Científica para a Conservação da Biodiversidade | 21


deste processo, a abstração dos significados. os conhecimentos acerca da biodiversidade,
Entretanto, os professores necessitam ter de acordo com Frizzo e Marin (1989) o pro-
sólido conhecimento teórico/científico, para fessor, juntamente com seus estudantes, sis-
que possam conduzir os processos de ensi- tematizará e reelaborará os conceitos que vão
nar e de aprender, priorizando as experiên- sendo construídos de forma coletiva. Lem-
cias potencialmente significativas. Algumas bramos que esses conhecimentos necessitam,
vezes, a prática pedagógica dos professores também, estar relacionados com as outras
necessita ser repensada, muito embora os es- áreas do saber. Em sala, os estudantes podem
tudantes sejam responsáveis principais pela ser desafiados pelas atividades, observações,
aprendizagem. Entretanto, não podemos análises, questionamentos.
deixar de considerar o processo de ensino O professor não tem todas as respos-
como sendo um processo compartilhado, tas prontas, mas precisa ter disponibilidade
no qual recebem a assistência dos professo- intelectual para, juntamente com a classe,
res, no sentido de torná-los progressivamen- procurar as respostas possíveis. Cabe o de-
te autônomos e competentes em suas capa- senvolvimento de atividades desafiadoras
cidades na resolução de tarefas, na utilização colocando em evidência os conhecimentos
de conceitos, tanto na forma oral como es- científicos, em nosso caso, os relacionados à
crita (SOLÉ; COLL, 2004). No processo da biodiversidade, suas características, potencia-
alfabetização científica os estudantes são fa- lidades e as ameaças. Os contextos de ensino
miliarizadas com domínios de investigação, necessitam priorizar o conhecimento como
técnicas e instrumentos e, portanto, os re- resultado de um processo que é construtivo
gistros têm lugar essencial na aprendizagem em sua origem, ou seja, os estudantes já pos-
(Figuras 1 e 2). suem suas percepções sobre a biodiversidade,
Uma assistência planejada por parte dos que necessitam ser conhecidas, exploradas,
professores auxiliará positivamente na cons- problematizadas, aprimoradas. É na relação
trução de significados em torno dos conhe- entre o professor, os estudantes e os saberes
cimentos científicos. As intervenções deli- científicos que emerge novas percepções so-
beradas do professor, portanto, são muito bre o mundo, em um contínuo processo de
importantes para o desencadeamento de pro- ressignificações (Figura 2).
cessos que poderão determinar o desenvolvi- Apresentamos, aqui, dois aspectos im-
mento intelectual dos estudantes, a partir da portantes: um ensino baseado na repetição
aprendizagem dos conteúdos escolares, ou, de conceitos não conduz os estudantes na
mais especificamente, dos conhecimentos aprendizagem de Ciências e Biologia, ou
científicos. seja, os professores necessitam desafiá-los a
Evidenciamos a importância do desenvol- pensar, em contrapartida à transmissão de
vimento de um processo de ensino que permi- conhecimentos já estabelecidos como ver-
ta o estudante compreender, de maneira mais dadeiros. Outra questão diz respeito ao que
completa, os significados científicos, sociais entendemos como a construção do conheci-
e culturais implícitos nos conteúdos ensina- mento por parte dos estudantes, a partir das
dos na escola. De acordo com Pozo (2002) suas percepções intuitivas até os conceitos
e Chassot (1999) é fundamental, também, os mais elaborados: esses já carregam consigo
professores formarem concepções adequadas saberes relacionados ao ambiente natural.
sobre a ciência, à natureza do conhecimento Entendemos que este processo se dá ao lon-
científico e o seu ensino. Se considerarmos go do tempo, ou seja, um conceito não se

22 | Biodiversidade Catarinense
A B

C D

E F
Figura 2: Representação da biodiversidade por crianças a partir de um trabalho sobre a temática
Mata Atlântica em sala de aula: a) Nilvane de Lima (veado); b) William L. Pereira (onça-pintada);
c) Tamiris R. Avancini (saíra-de-sete-cores); d) Shelem L. Borgonovo (periquito-de-cara-suja);
e) Rubia A. Soares (perereca); f) Robson R. da Silva (capivara).

Educação Científica para a Conservação da Biodiversidade | 23


origina, simplesmente, do estabelecimento tribuições concretas para o processo de for-
de relações mecânicas entre uma palavra e mação dos estudantes, sobretudo nos anos
o objeto: há que se ir além. iniciais de escolarização.
A construção dos conhecimentos relacio- O ensino de Ciências e de Biologia pode-
nados ao ambiente natural e a sua biodiver- rá desenvolver, nos estudantes, a capacida-
sidade passa, necessariamente pela inserção de de articular conteúdo e pensamento, de
dos estudantes num conjunto conceitual es- tal forma, que o conteúdo se transforme em
pecífico que necessita ser conhecido. A arti- instrumento do pensamento, ampliando a
culação entre o pensamento e a linguagem, capacidade de perceber, de forma mais criti-
com consequências sobre a transformação ca, a realidade que, na maioria das vezes, de-
desse pensamento se baseia na internaliza- manda mudanças. Neste sentido, a educação
ção consciente dos conhecimentos, que se científica exerce um papel particularmente
articulará com as percepções intuitivas so- importante na inserção dos sujeitos em sua
bre ambiente e biodiversidade, presentes nos coletividade. Acrescentamos que esse ensi-
estudantes. Podemos perceber, portanto, o no deveria formar indivíduos mais críticos,
comprometimento associados a todos os comprometidos e preocupados com a reali-
níveis de ensino que necessitam trazer con- dade social e ambiental em que vivem.

1.3 P ro f essores
e estudantes
ambienta l mente sensibi l i z ados

Entre as preocupações que cercam o ensi- Ainda é possível perceber que muitos
no a respeito do ambiente natural e da biodi- professores e professoras possuem uma con-
versidade que vem acontecendo nas escolas, cepção reducionista sobre temas como a
encontra-se a discussão a respeito da forma- biodiversidade. Outro problema relaciona-
ção e capacitação dos professores, com o ne- -se, ainda, a pouca importância que se atri-
cessário aprofundamento conceitual e teórico- bui a esses conhecimentos - a ênfase geral-
-reflexivo sobre aspectos associados ao ensino mente recai sobre conhecimentos que pouco
de Ciências e de Biologia e suas contribuições contribuem para a formação dos estudantes,
para a educação científica dos estudantes. Há se atentarmos para um importante aspecto
que se problematizar e romper com o modelo dessa formação: a construção de conheci-
tradicional de ensinar (CARVALHO; GIL- mentos mais significativa sobre o ambiente
-PÉREZ, 2000; ROSA, 2004). Entendemos natural e sua biodiversidade, como patrimô-
que a educação científica compreende várias nios que precisam ser conhecidos, respeita-
dimensões, entre elas, o processo de formação dos e conservados. Portanto, para que ocor-
dos professores. Essa formação tem sido um ra o desenvolvimento das pessoas, de um
ponto de partida para importantes reflexões país e de uma nação, a educação científica
visando às estratégias de mudanças na pers- é fundamental e necessária. Torna-se uma
pectiva da construção de sistemas que mudem exigência para a compreensão das comple-
o perfil do profissional da educação, capaz de xidades do mundo atual e hoje, mais do que
localizar os desafios da sociedade contempo- nunca, faz-se necessário promover e difun-
rânea e, de certa forma, também contribuir dir os conhecimentos científicos relaciona-
para o desenvolvimento científico. dos ao ambiente natural e à biodiversidade

24 | Biodiv ersidade Catarinense


em todas as culturas e em todos os setores Fumagalli (1998) também traz contribui-
da sociedade. Entendemos que a participa- ções no que diz respeito ao direito do es-
ção dos cidadãos na tomada de decisões im- tudante de aprender Ciências e Biologia - o
plica em um domínio mínimo do conheci- dever social da escola é possibilitar o acesso
mento científico e tecnológico (FOUREZ, à cultura científica, fundamental para a parti-
1994). Chassot (2003, p. 35), referindo-se ao cipação na vida em comunidade e para a valo-
processo de alfabetização científica, assim rização do conhecimento científico. A escola
percebe esta importante questão: é uma instituição cuja organização, diferen-
te de outras instituições, tem como objetivo
Há, todavia, uma outra dimensão em termos central garantir o acesso aos conhecimentos
de exigências: proporcionar aos homens e mu- construídos e organizados historicamente. O
lheres uma alfabetização científica na pers-
pectiva da inclusão social. Há uma continuada
estudante deve ser conduzido para compre-
necessidade de fazermos com que a Ciência ender que é membro da comunidade da vida
possa ser não apenas medianamente entendi- em seu conjunto, uma vez que a alienação em
da por todos, mas, e principalmente, facilita- relação à natureza tem se mostrado uma fon-
dora do estar fazendo parte do mundo. te de grandes problemas (Figura 3).

Figura 3: A prática da observação e o desenvolvimento de atividades lúdicas são fundamentais para o


processo de educação científica dos estudantes. Foto: Charles G. Boudreault

Educação Científica para a Conservação da Biodiversidade | 25


Figura 4: Visitas orientadas ao ambiente natural, como na Reserva Particular do Patrimônio Natural
Bugerkopf (Blumenau), podem se transformar numa ótima oportunidade para a aprendizagem e
sensibilização para a biodiversidade. Foto: Edson Schroeder

26 | Biodiversidade Catarinense
Conforme Sforni (2004), aprender Ciên- ções que estabelecemos com os diferentes
cias e Biologia não significa apenas a assi- ecossistemas. Além da nossa estreita inter-
milação de novas informações, mas a pos- dependência com os demais seres que coa-
sibilidade de produção de um sistema de bitam conosco o planeta, perceber a neces-
pensamento organizado, já que este dirige o sidade de preservar e conservar os sistemas
pensamento para a própria atividade mental. naturais e seus componentes, torna-se con-
O livro “Biodiversidade catarinense: ca- dição necessária à sobrevivência.
racterísticas, potencialidades e ameaças” foi Existiria, portanto, um perfil definido
organizado com o objetivo de contribuir que caracteriza um professor mais adequado
para a construção de uma percepção mais para um ensino que estimula o conhecimen-
aprimorada da realidade catarinense em to, a conservação e a utilização sustentável
seus aspectos biodiversos, sua importância, dos nossos recursos naturais? A princípio,
beleza e as ameaças subjacentes, via educa- qualquer professor que, num primeiro mo-
ção científica de professores e estudantes. mento, consiga manter, juntamente com
Conhecer trata-se de uma etapa fundamen- seus estudantes, um vínculo mediado pelos
tal para esse processo construtivo para a conhecimentos científicos, com o objetivo
conservação dos ecossistemas, a utilização de desenvolver outros vínculos como a afe-
sustentável dos recursos, a manutenção dos tividade e o respeito pelo planeta. Neste sen-
serviços ambientais e a promoção do bem tido, evidenciamos três importantes dimen-
estar humano (Figura 4). Evidentemente, sões que fazem parte do projeto educativo
defendemos o ensino centrado na investi- do professor:
gação e na participação ativa dos estudan- a) visão: tem ideal comum com outros
tes, em detrimento daquele que evidencia professores sobre a importância de co-
a utilização da memória e da repetição do nhecer e preservar. Frustra-se ao per-
conhecimento, na grande maioria das ve- ceber sua incapacidade de fazer com
zes, destituídos de significados. Portanto o que essa visão se torne realidade;
livro se constitui numa fonte atualizada de b) formação: tem o conhecimento cientí-
informações para o professor que necessita fico fundamental e as habilidades para
saber mais sobre biodiversidade do Estado, ensiná-los;
na abordagem dessa temática junto com os c) compromisso: tem comprometimento
estudantes. com a vida em todas as suas manifes-
Inspirados em Chassot (2006; 2003) en- tações.
tendemos que o ensino acerca da biodiver- A escola, portanto, é o espaço para a dis-
sidade catarinense contribuirá para uma cussão e apropriação do conhecimento, ten-
leitura muito mais rica e estimulante, o que do em vista a construção de um mundo me-
implica em aprender a expressar os conheci- lhor. Segundo Warschauer (1993) é urgente
mentos adquiridos na interação com o am- pensar a formação humana em sua (auto)
biente e seus fenômenos naturais e sociais educação. Uma educação que lhe provê a in-
integrados. Isto envolve o conhecimento de tegridade como sujeito, respeitando a inte-
si como um organismo vivo e autoconscien- gridade do conhecimento e dos ecossistemas
te, percebendo e compreendendo as intera- (ver Box 2).

Educação Científica para a Conservação da Biodiversidade | 27


BOX 2

ECOFORMAÇÃO E A REDE I N T E R N
Vera L úcia de S ouz a e S ilva
Doutora em Engenharia de Produção, bióloga, professora e pesquisadora na Universidade Regional de Blumenau - FURB

A construção de
conhecimentos e de
estratégias inovadoras
para lidar com os
desafios advindos da sociedade
do conhecimento é objetivo da
ecoformação. Para desenvolver
A ecoformação possui algumas
características a serem consideradas:
a) vínculos interativos com o
entorno natural e social, pessoal e
transpessoal; b) desenvolvimento
humano a partir de e para a vida,
em todos os seus âmbitos de
atividades ecoformativas, maneira sustentável; c) caráter
precisamos ter uma percepção sistêmico e relacional que nos
transdisciplinar do conhecimento, permite entender a formação como
pois, para compreender a ciência redes relacionais e campos de
como um conjunto sistematizado aprendizagem; d) caráter flexível
de conhecimentos, o estudante e integrador das aprendizagens;
necessita ter a leitura muito mais e) princípios e valores de meio
abrangente, pois o conhecimento ambiente que consideram a Terra
científico não se apresenta de como um ser vivo, onde convergem
forma isolada. E nesta abordagem os elementos da natureza tanto vivos
transdisciplinar, o caráter de como inertes (TORRE, 2008, p. 21).
sustentabilidade é possível quando Nesta direção, o Programa de
se estabelecem relações entre Extensão REDE DE ESCOLAS
todos os elementos do objeto CRIATIVAS, na FURB, baseia-
estudado, com um olhar complexo da se na transdisciplinaridade,
realidade e de seus diversos níveis. complexidade e na ecoformação
A atitude transdisciplinar busca a como princípios investigativos e
transformação do ser humano na formativos e promove encontros
sua totalidade e adota como ponto de formação de professores e
de referência os valores humanos, o disseminação de experiências de
desenvolvimento da consciência, da escolas criativas. Faz parte da Red
criatividade, a defesa do meio natural, Internacional de Escuelas Creativas
a solidariedade e o desenvolvimento (RIEC), com atuação na Argentina,
sustentável e a convivência em Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia,
harmonia (D’AMBROSIO, 2002; Espanha, México, Perú e Portugal.
MORAES e TORRE, 2004; MORAES, Acesse mais informações no site
2008; SILVA, 2004; TORRE, 2011). www.escuelascreativas.com

28 | Biodiversidade Catarinense
A C I O N A L D E E S C O L A S C R I AT I VA S

Bolsista do Pibid/Ciências - FURB orienta alunos de escola pública no desenvolvimento de projeto


de iniciação científica sobre formigas, a partir da observação do ambiente natural, nos arredores
da universidade. Foto: K átia G. Dallabona

Educação Científica para a Conservação da Biodiversidade | 29


Foto: Lucia Sevegnani
C a p í t u l o 2

Olhares sobre a Biodiversidade


L ucia S evegnani 1
P aul C omtois 2

N o presente capítulo con-


duzimos os professores
do Ensi no Fu ndamenta l
e Médio a rever conceitos
relativos à biodiversidade, aos níveis de
organização ecológica, com destaque para
as espécies, ecossistemas, paisagens e bio-
espaços. Por último, apresentamos con-
ceitos de resiliência e estabilidade e qual
a importância destes para o entendimento
dos processos dinâmicos que se verificam
nos ecossistemas, inclusive para entender
os catarinenses.
Estamos cientes de que não será possí-
mas. Destacamos os números da diver- vel abordar, em profundidade, todos esses
sidade de espécies existentes no Brasil e conceitos, nem abranger a gama de con-
seu papel na formação dos ecossistemas, ceitos ecológicos relativos à biodiversida-
paisagens e biomas. É, também, abor- de. Porém, nosso intento é despertar no
dada a importância da permanência dos professor o interesse por eles e encorajá-lo
grupos funcionais de espécies dentro dos a abordar estes assuntos em sala de aula,
ecossistemas, para manter a resistência ou respeitando os diferentes níveis de ensino.
a persistência desses frente aos impactos Sugerimos, inclusive, que o professor bus-
provocados pelas ações dos seres huma- que na literatura científica, indicada e em
nos, ao longo do tempo e nos diferentes geral, maiores detalhamentos e exemplos.

SEVEGNANI, L.; COMTOIS, P. Olhares sobre a biodiversidade. In: SEVEGNANI, L.; SCHROEDER, E. Biodiversidade
catarinense: características, potencialidades e ameaças. Blumenau: Edifurb, 2013, p. 30-53.

1 Doutora em Ecologia, bióloga, professora e pesquisadora na Universidade Regional de Blumenau – FURB


2 Doutor em Agronomia, engenheiro agrônomo, professor e pesquisador da Université de Montréal - UdeM

Biodiversidade Catarinense | 31
2.1 C onceitos

Cada habitante do planeta Terra está rela- do todo e seu significado ecológico. Quando
cionado com a biodiversidade e, de alguma todos os componentes da biodiversidade são
forma, dela participa e depende. “Biodiversi- analisados em conjunto com seus meios físico
dade é a variedade da vida em todas as suas e químico, estes passam a ter a dimensão da
manifestações. Ela engloba todas as formas, ecosfera (ver conceito no item 2.3).
níveis e combinações da variação natural, e O conceito de biodiversidade adotado
assim, serve como um amplo conceito uni- nesta obra leva em consideração aquele apre-
ficador” (GASTON; SPICER, 2004, p. 4). sentado por Gaston e Spicer (2004), mas é
Esta palavra foi utilizada pela primeira vez complementada com a visão dos diferentes
em 1988, por Wilson, no âmbito da obra Bio- níveis de organização ecológica abordado por
diversity, traduzida para o português em 1997. Odum e Barret (2007), além do expresso na
A biodiversidade engloba três grupos de Convenção da Diversidade Biológica (1992),
elementos: a diversidade ecológica, a diver- apresentada neste capítulo.
sidade taxonômica e a diversidade genética Os estudos, geralmente, são focados nos
(GASTON; SPICER, 2004). Segundo estes níveis organização ecológica abaixo de bio-
autores, a diversidade ecológica compreende, ma, por causa do tamanho e intrincadas re-
entre outros, as populações, as comunidades, lações, pelas limitações metodológicas, de
os ecossistemas, as paisagens e os biomas. A tempo e recursos. No entanto, pesquisas
diversidade taxonômica abrange, entre ou- abrangendo a dimensão da ecosfera são ne-
tros, os indivíduos, as espécies, as famílias cessárias para entendimento de processos de
e os reinos dos seres vivos. E a diversidade mudança globais, como por exemplo, as cli-
genética engloba os componentes do código máticas (IPCC, 2007), e seus impactos sobre
genético, incluindo genes, cromossomos, até a vida no Planeta.
indivíduos e populações. No entanto, apesar A revolução industrial potencializou os
de apresentados de forma separada, os gru- impactos negativos sobre a biodiversidade.
pos de elementos da biodiversidade são inti- A grande preocupação da sociedade, espe-
mamente ligados e apresentam alguns deles cialmente do movimento ambientalista e da
em comum, como, por exemplo, a população. comunidade científica, a partir dos anos 70
Odum e Barret (2007) propõem outra do século XX, com os impactos das ações
classificação. Eles apresentam a hierarquia humanas sobre a biodiversidade, teve, entre
dos níveis de organização ecológica envol- seus resultados, a constituição de uma nova
vendo: célula, tecido, órgão, sistema de ór- área da Ecologia – a Biologia da Conserva-
gãos, organismo, população, comunidade, ção. Esta ciência tem foco na problemática da
ecossistema, paisagem, bioma e ecosfera. De extinção de espécies e ecossistemas, suas cau-
acordo com esses autores, cada um dos níveis sas e consequências, bem como a definição
citados, apresenta sete processos ou funções: de estratégias para a conservação.
regulação, desenvolvimento, evolução, fluxos Um grande marco internacional dessa pre-
de energia, comportamento, diversidade e in- ocupação ambiental, com pressões sobre os
tegração. Porém, cada nível de organização governos, foi a primeira Conferência das Na-
ecológica é importante e, quando analisado ções Unidas sobre o Meio Ambiente, em Es-
de forma separada, não expressa a dimensão tocolmo no ano de 1972 e, a partir desse ano,

32 | Biodiversidade Catarinense
eventos similares acontecem a cada década, Dentre os três níveis da biodiversidade
com diferentes países sede, tornando-se uma destacados pela CDB (1992) está o ecossiste-
oportunidade de fazer um balanço global da ma. Ele “é a primeira unidade na hierarquia
questão ambiental e definir rumos para o ecológica que é completa, ou seja, que tem
próximo decênio. Em duas oportunidades, todos os componentes (físicos e biológicos)
o evento ocorreu no Brasil. Na primeira, no necessários ao seu funcionamento” (ODUM;
Rio de Janeiro, em 1992, durante a qual foi BARRETT, 2007, p. 18). É composto por po-
discutida e aprovada a Convenção da Diver- pulações de diversas espécies que interagem
sidade Biológica (CDB, 1992), ratificada por entre si e com o ambiente físico no qual se
187 países. A outra conferência, em 2012, de- situam, e obtêm os meios e os recursos neces-
nominada Rio+20, as Nações Unidas (UN) sários a sua sobrevivência e reprodução.
resultou no documento “O futuro que que- Dentro dos ecossistemas, por exemplo, em
remos” (UN, 2012), o qual destaca a impor- uma floresta, podem existir muitas popula-
tância de uma economia verde. A Convenção ções de espécies de plantas, de animais e de
da Diversidade Biológica - CDB (1992) define micro-organismos interagindo entre si e com
em seu Art. 2º: o meio que habitam. Essas interações provo-
[...] Diversidade biológica como a variabilida-
cam modificações no ambiente e por ele são
de de organismos vivos de todas as origens, modificadas.
compreendendo, dentre outros, os ecossiste- As espécies são o segundo nível da biodi-
mas terrestres, marinhos e outros ecossiste- versidade destacadas pela CDB (1992). Como
mas aquáticos e os complexos ecológicos de por exemplo, a imbuia (Ocotea porosa), a onça
que fazem parte; compreendendo ainda a di- (Panthera onca) entre milhares de outras exis-
versidade dentro de espécies, entre espécies e tentes em Santa Catarina, conforme será
de ecossistemas.
abordado no item 2.2, deste capítulo.
Nessa convenção são ressaltados três ní- O terceiro nível destacado pela CDB
veis da biodiversidade, sobre os quais as na- (1992) é relativo à diversidade dentro das es-
ções se propuseram atuar: a diversidade de pécies, ou seja, a sua variabilidade genética.
ecossistemas, de espécies, e a diversidade ge- Por exemplo, todos os seres humanos perten-
nética dentro de cada espécie. Com fins de cem à mesma espécie: Homo sapiens, mas entre
definição de políticas de conservação am- as pessoas há diferenças que torna possível
biental, a convenção tem três principais ob- separar uma das outras. A razão das diferen-
jetivos, apresentados no Art. 1º: a conserva- ças está na composição genética (genótipo)
ção da biodiversidade; o uso sustentável dos existente dentro das células do corpo de cada
componentes da biodiversidade; repartição ser humano e se expressa na aparência (fenó-
justa e equitativa dos benefícios resultantes tipo), influenciada pelas respostas do organis-
da utilização comercial ou não, dos recursos mo às condições e recursos ambientais a que
genéticos (CDB, 1992). está sujeito. Assim, também todas as demais
Apesar da existência de outros níveis de espécies de seres vivos apresentam diferenças
organização ecológica (de célula à ecosfera), intraespecíficas (entre os organismos da mes-
a CDB aborda três. A presente obra restringe ma espécie) e diferenças interespecíficas (em
um pouco mais o foco (espécies e ecossiste- relação às outras espécies).
mas e de forma geral – as paisagens e bio- A variabilidade genética possibilita aos or-
mas), devido a amplitude da temática e da rica ganismos e, por consequência, às populações
biodiversidade catarinense. suportar, de formas distintas, as condições

Olhares sobre a Biodiversidade | 33


de frio ou de calor, de escassez ou de exces- distintivas podem possibilitar ao organismo
so de água, de exiguidade ou de excesso de chances maiores de sobrevivência, de vencer
nutrientes nos solos, bem como de resistir a competição por recursos escassos e, enfim,
às doenças e às pragas. Estas características reproduzir-se e deixar descendentes.

2.2 F oco nas esp é cies

A delimitação conceitual do que é uma pendente delas serem peçonhentas ou não.


espécie não é consenso entre as diferentes Por isso, as pessoas as matam indiscrimi-
ciências, tanto que são conhecidas, pelo me- nadamente e gostariam que estas não exis-
nos, 26 definições para este nível taxonômi- tissem. No entanto, as cobras peçonhentas
co e, dependendo da escolha, haverá impli- como uma jararaca (Bothrops jararaca) são
cações sobre a conservação (FRANKHAM predadoras de outras espécies de animais
et al., 2012). A espécie é uma unidade bioló- como ratos e aves, desta forma controlando
gica natural mantida por compartilhar um as suas populações destes.
estoque comum de genes (ODUM; BAR- Apesar das diferentes circunscrições con-
RET, 2007). Em síntese, os conceitos indi- ceituais do que é uma espécie, dentro dos
cam que uma espécie é formada por conjun- ecossistemas, elas constituem populações de
to de indivíduos, que em relação às outras diferentes tamanhos, com capacidades para
têm, ao menos parcialmente, diferentes vias explorar recursos e ocupar o espaço e, con-
evolutivas, representando diferentes linha- sequentemente, desempenham importantes
gens (FRANKHAM et al., 2012). funções ecológicas, ou seja compõem a mú-
O Brasil é considerado um país megadi- sica da vida (Box 1).
verso, porque contém número muito eleva- Os números da biodiversidade de espé-
do de espécies quando comparado aos paí- cies de plantas, animais e micro-organismos
ses com clima temperado, com semelhante conhecidos no Planeta, e também, no Brasil,
tamanho. O Brasil abriga cerca de 10% das aumentam todos os dias. Estudo recente efe-
espécies do Planeta (LEWINSOHN; FREI- tuado na América Central mostrou haver seis
TAS; PRADO, 2005). mil espécies de artrópodes (principalmente
Todo o esforço científico em nomear as aracnídeos e insetos) em apenas 4.800 m2 de
espécies existentes na Terra resultou em 1,7 floresta tropical no Panamá (BASSET et al.,
milhão identificado, de um total estimado 2012) e para identificá-las, foi necessário oito
em torno de 13 milhões, e para o Brasil, 170 anos de trabalho, pois a grande maioria era es-
mil identificadas de um número estimado em pécie nova para a ciência. Outro exemplo, este
1,3 milhão (LEWINSOHN; PRADO, 2005). focado nas Bactérias, foi efetuado na Floresta
Os esforços para tirá-las do anonimato são Ombrófila Densa (ver definição no Capítulo
importantes, mas devem ser suplementados 4) em São Paulo, e este estudo mostrou que na
com o trabalho de mostrar em que parte da superfície das folhas de apenas uma espécie
teia da vida (CAPRA, 1999) elas atuam, ou de árvore pode haver entre 95 a 671 espécies
seja, evidenciar suas funções dentro dos ecos- de bactérias, a maior parte delas desconhecida
sistemas em que vivem. para a ciência (LAMBAIS et al., 2006).
Por exemplo, a maior parte das pesso- A lista de espécies da flora brasileira, ou
as tem verdadeiro pavor das cobras, inde- seja, biodiversidade de espécies segundo a

34 | Biodiversidade Catarinense
A B

C D

E F

G H

Figura 1. Espécies e famílias da flora catarinense: a) Flores de Senecio brasiliensis, asterácea; b) Flores
de Sinningia macropoda, gesneriácea (Parque Municipal da Mata Atlântica, Atalanta); c) Flor de Dugue-
tia lanceolata, Anonácea; d) Flores de Myrrhinium atropurpureum, mirtácea; e) Fruto e sementes
de Aspidosperma australe, apocinácea; f) Infrutescências de Urera caracasana, urticácea; g) Fruto de
Eugenia cereja, mirtácea; h) Semente com arilo de Virola bicuhyba, miristicácea. Fotos: Lucia Sevegnani

Olhares sobre a Biodiversidade | 35


Tecelão (Cacicus chrysopterus)
BOX 1 Foto: Renato Rizzaro/Reserva Rio das Furnas

A m ú sica da vida
L ucia S evegnani

U
Doutora em Ecologia, bióloga, professora e pesquisadora na Universidade Regional de Blumenau – FURB

ma analogia com a imaginado, pois está em plena execução


música pode ajudar no nos ecossistemas e paisagens ao nosso
entendimento da função redor, e em toda a Terra. Seu efeito
das espécies dentro pode ser sentido na quantidade de vida
dos ecossistemas. As músicas que existente, na beleza, estrutura e função
conhecemos são o resultado da das florestas, dos campos, dos recifes
combinação de pequena quantidade de corais, e também na qualidade do
de notas musicais. Mas, quem pode ar, da água e do solo, que tanto bem
afirmar que uma nota musical é melhor estar proporcionam às pessoas.
ou mais importante que outra? Qual Em decorrência das ações humanas
delas é possível eliminar sem danos muitas notas (as espécies) estão sendo
à música clássica, ao rock, o samba, subtraídas da Terra, em velocidade
o tango, o hip-hop, entre milhares de cada vez maior, e a diversidade das
outros estilos? E como este número de músicas (dos ecossistemas) está
notas ainda poderá ser sequenciado sendo reduzida. Tanto que, em alguns
por diferentes compositores? lugares as músicas se extinguiram, e
Imagine quão complexa, sonora e os ruídos estridentes emergiram em
bela pode ser uma sinfonia na qual profusão nas áreas degradadas.
13 milhões de notas diferentes (uma Mas, é possível fazer silenciar os
alusão as 13 milhões de espécies ruídos, e novamente permitir que
possivelmente existentes na Terra) a orquestra se organize e passe a
estivessem cumprindo sua exata tocar, inicialmente ainda sem tanta
função? Em que cada qual, e em harmonia. Mas, com o passar do tempo
conjunto com as demais, vibrasse e das ações em prol da conservação
no palco da vida? O resultado da e recuperação, a vida pode retornar
maravilhosa sinfonia não precisa ser em profusão com novo ritmo.

36 | Biodiversidade Catarinense
CDB (1992), coordenada e apresentada por tas três características resulta em sete clas-
pesquisadores do Jardim Botânico do Rio ses, desde as mais brandas até mais restritas
de Janeiro, mostrou que são reconhecidas formas de raridade (CAIFA; MARTINS,
pela ciência, até o momento, 44.261 espé- 2010). A forma mais restritiva de raridade
cies nativas do Brasil, sendo 4.565 de Fun- é a classe que abrange espécie com limita-
gos, 4.237 de Algas, 1.531 de Briófitas, 1.250 da área de ocorrência; apresentando elevada
de samambaias e Licófitas, 24 de Pinidae especificidade por hábitat; e baixa densida-
ou Gimnospermas e 32.654 de Angiosper- de populacional (CAIFA; MARTINS, 2010;
mas (RIO DE JANEIRO, 2013). Destas es- FONTANA, 2012). O Inventário Florísti-
pécies, foram registradas 15.782 no bioma co Florestal que amostrou grande parte das
Mata Atlântica, sendo 45% endêmicas ou florestas de Santa Catarina evidenciou que
exclusivas (STEHMANN et al., 2009). Em cerca de 30% das espécies tiveram presen-
Santa Catarina, o número apontado por Reis tes, na amostra, com menos 10 indivíduos
et al. (2011) é de 6.500 espécies de plantas, no Estado (VIBRANS et al., 2012a) e esse
alguns dos exemplares destas constam na Fi- fato é muito preocupante.
gura 1a-h. A variação da composição de espécies
O número de espécies de animais regis- também pode ser analisada através da diver-
trados para o Brasil também é elevado, es- sidade alfa (α) – local; diversidade gama (γ)
tando entre 103,7 mil e 136,9 mil; sendo – ou regional; e a diversidade beta (β) – va-
que o número dos cordados encontra-se riação da composição de espécies entre áreas
entre 7.120 a 7.150 espécies: urocordados e (RICKLEFS, 2003).
cefalocordados (140 – 2 respectivamente), A identificação das espécies brasileiras tem
peixes (3.420), anfíbios (687), répteis (633), sido um trabalho árduo e efetuado ao longo
aves (1.696) e mamíferos (541); o número de séculos, por pesquisadores nas universida-
de “invertebrados” pode variar de 96.660 a des, institutos de pesquisa e herbários. Nos
128.840 espécies, predominando os artró- últimos anos, o resultado de tamanho esfor-
podes (88.790 a 118. 290 espécies) (LEWIN- ço tem começado a se tornar mais visível ao
SOHN; PRADO, 2005). A Figura 2 pode público, via internet. Por exemplo, o esforço
dar uma ideia de como é rica em espécies e abnegado dos pesquisadores brasileiros no
formas a ordem dos Insetos – Coleópteros, sentido de registrar as espécies de plantas, de
apesar de muitos dos apresentados não se- revisar coleções de algas e fungos, sob coor-
rem nativos do Brasil. denação dos pesquisadores do Jardim Botâ-
As espécies possuem tamanhos variados nico do Rio de Janeiro, está disponível on-line
de população, podendo ser raras ou comuns, a partir de 2010, no endereço: http://flora-
em determinado ecossistema, paisagem, dobrasil.jbrj.gov.br/. Esse banco de dados é
bioma ou ecosfera. O conceito de rarida- frequentemente atualizado, possibilitando
de também possui diferentes significados ao internauta consultar nomes das espécies,
(GASTON, 1994). Rabinowitz, Cairnse e de família, ver as imagens das exsicatas, sua
Dilon (1986), apresentaram metodologia que distribuição nos Estados brasileiros e o bio-
permite circunscrever classes de raridade, ma de sua ocorrência. Outra grande iniciati-
abrangendo três dimensões: o alcance geo- va é banco de dados de coleções científicas
gráfico, a amplitude ecológica (especificida- do Brasil, Species Link (http://splink.cria.org.
de por habitat) e o tamanho da população br/), o qual possibilita consultas on-line por
(número de indivíduos). O cruzamento des- espécie, por coletor e por região.

Olhares sobre a Biodiversidade | 37


Figura 2. Pequena amostra da riqueza de espécies de besouros (coleópteros) do mundo. Coleção apresen-
tada aos visitantes do Insetário de Montreal (http://espacepourlavie.ca/insectarium). Foto: Lucia Sevegnani

2.3 F oco nas popu l ações , ecossistemas e


n í v eis superiores de organi z ação

Os organismos pertencentes a uma espé- Os ecossistemas, paisagens e biomas não


cie formam conjunto denominado de popu- possuem tamanhos e limites definidos, suas
lação e esta ocupa espaço e recursos em de- delimitações, em geral, seguem critérios de-
terminado ecossistema. Entre os membros da terminados pelos pesquisadores. Estes são
população há reprodução, ou seja, fluxo gêni- sistemas abertos com contínuas trocas com
co. As populações apresentam propriedades o meio circundante (ODUM; BARRET).
tais como: densidade (número de indivíduos/ Nas paisagens com maior geodiversidade
área), natalidade (taxa de nascimento), mor- há possibilidade de propiciar instalação de
talidade (taxa de morte), distribuição etária, diferentes ecossistemas abrigando popula-
dispersão e formas de crescimento, entre ou- ções de seres vivos em seu interior (PARKS;
tras (ODUM; BARRET, 2007). Como exem- MULLIGAN, 2010) (Figura 3). Por isso, os
plos podemos citar a população de capivaras pesquisadores (KLEIN, 1978; MORELLA-
(Hydrochoerus hydrochaeris) presente às margens TO; HADDAD, 2000; METZGER, 2009)
dos rios em Santa Catarina. destacam a biodiversidade existente no bioma
As 13 milhões possíveis de espécies, cada Mata Atlântica, pois esse se distribui ao longo
qual com sua área de distribuição no plane- da costa brasileira, abrangendo relevos, cli-
ta, constituem populações com número va- mas e composição de espécies diversificados.
riável de organismos, que interagem entre si Diante de tamanha importância e com-
e com o meio físico, formando os ecossiste- plexidade estrutural, quando se estuda a
mas (Figura 4). biodiversidade de um ecossistema é possível

38 | Biodiversidade Catarinense
Figura 3. Parte de uma população de capivaras em seu ecossistema, Blumenau. Foto: Lucia Sevegnani

analisá-lo quanto à: riqueza - número de es- 2007). A multiplicidade de relações possibilita


pécies presente; equidade - distribuição dos ao ecossistema se manter, mesmo quando há
indivíduos entre as diferentes espécies; núme- ausência de determinada espécie.
ro de grupos funcionais, como, por exemplo, Um exemplo de relação especialista é o que
entre os animais: polinizadores, dispersores, ocorre na polinização das figueiras. Cada espé-
herbívoros, predadores; entre as plantas: into- cie de figueira (Ficus sp.) possui seu exclusivo
lerantes à sombra, tolerantes à sombra; núme- polinizador - uma microvespa da família Aga-
ro de níveis tróficos - produtores, diferentes onidae. No caso de desaparecimento de deter-
consumidores e decompositores; ou ainda, minada espécie de Ficus, também desaparece-
número de linhagens genéticas existentes em rá seu polinizador e vice-versa. O palmiteiro
uma área (STATZNER; MOSS, 2004). Pode- (Euterpe edulis) tem flores polinizadas e frutos
-se, também, analisar sua dinâmica no espaço dispersos por muitas espécies de animais, tor-
e no tempo. Cada análise necessita de meto- nando-se exemplo de espécie generalista.
dologias e material adequados para que esta Quando espécies estão desempenhando
avaliação leve ao conhecimento do objeto as mesmas funções que outras em um ecos-
pesquisado e se conheçam as interações entre sistema e suas ações resultam em redundância
os componentes do ecossistema. ecológica. A presença de espécies com redun-
A elevada riqueza de espécies presentes dância ecológica é importante no fortaleci-
num ecossistema possibilita ampliar as redes mento da resiliência (ver conceito no item 2.4
de interações que são constituídas entre os deste capítulo) dos ecossistemas frente aos in-
membros desse. Quando uma espécie mantém tensos distúrbios que podem ser submetidos
relação com uma única outra se diz especia- (WALKER, 2005). Espécies com mesma fun-
lista; quando com muitas espécies, se chama ção ecológica podem ser reunidas em grupos
generalista (BASCOMPTE; JORDANO, funcionais.

Olhares sobre a Biodiversidade | 39


Figura 4: Nessa amostra de paisagem situada na localidade de Rio Tavares, em Florianópolis, se pode
perceber diferentes fisionomias vegetação, mostrando a heterogeneidade interna desta: uma pequena
lagoa, brejos adjacentes, duna semifixa, e ao fundo, a partir do topo da duna, a vegetação arbustiva e
arbórea. Foto: Lucia Sevegnani

Grupos funcionais reúnem conjuntos facilidade de mensuração em campo, ou atra-


de espécies que exibem respostas similares vés de experimentos básicos de laboratório.
às condições ambientais e/ou que têm efei- As pesquisas com grupos funcionais po-
tos similares nos processos dominantes dos dem auxiliar no entendimento relações in-
ecossistemas (DÍAZ; CABIDO, 1997), in- ternas aos ecossistemas e de sua capacidade
dependente de sua filogenia (PILLAR; SO- de suportar distúrbios, bem como, embasar
SINSKI, 2003). Desta forma, a abordagem medidas de restauração ambiental de áreas
de grupos funcionais possibilita sintetizar a degradadas, além de nortear ações de con-
enorme complexidade das espécies e suas in- servação da biodiversidade. Deve-se ressaltar
terações, em conjuntos de padrões gerais re- que a pesquisa com ênfase nos grupos funcio-
correntes, relacionadas à biodiversidade e ao nais é recente no Brasil (METZGER, 2000;
funcionamento de ecossistemas. PILLAR; SOSINSKI, 2003).
Diante da dificuldade de definir e circuns- A atenção aos grupos funcionais se faz
crever os grupos funcionais, os cientistas che- necessária, pois, evidenciam que funções são
garam à conclusão que devem ser escolhidas desempenhadas em determinado ecossistema
características relevantes que indiquem o pa- e por quais espécies. Por outro lado, diante
pel da espécie no ecossistema. Díaz e Cabido da intensa fragmentação e desconexão das
(1997) consideram que os principais aspectos manchas nas paisagens, muitos dos remanes-
que devem ser levados em consideração são: centes de vegetação podem não mais abrigar
(i) resposta à disponibilidade de recursos e; as espécies necessárias ao cumprimento das
(ii) capacidade de colonização e reestabeleci- funções ecológicas características daquele
mento após distúrbio; (iii) relações com outras ecossistema. Essas interferências podem fra-
espécies (predadores, parasitas e herbívoros, gilizar os ecossistemas frente aos distúrbios
polinizadores, dispersores, mutualistas); e (iv) tão frequentemente impostos pelas ações hu-

40 | Biodiversidade Catarinense
manas. Porém, o conhecimento dessas fragi- nas regiões tropicais, as florestas e as savanas
lidades ou perdas pode apontar o rumo das (ver definições no Capítulo 4), são os biomas
ações de restauração ambiental. mais ricos em espécies em áreas continentais;
Passaremos agora ao próximo nível de or- e os recifes de corais em áreas marinhas (OS-
ganização ecológica acima de ecossistema BORNE, 2000). Na América do Sul, espe-
- a paisagem (ODUM; BARRET, 2007). Os cialmente no Brasil, encontram-se as maiores
ecossistemas compõem diferentes paisagens áreas cobertas por florestas tropicais (GUA-
– “entendida como mosaico, onde a mistura RIGUATA; KATTAN, 2002), e significa-
de ecossistemas locais, ou de usos da terra, se tivas áreas de savanas (GOTTSBERGER;
repele de forma semelhante em uma área com SILBERBAUER-GOTTSBERGER, 2006),
amplitude de quilômetros” (FORMAN, 2006, com elevada riqueza de espécies e de ecossis-
p.13). Ainda, segundo o autor, no interior de temas e paisagens.
uma paisagem muitos atributos tendem a ser Por último, o mais amplo nivel de orga-
similares e se repetem na área, tais como, a ge- nização ecológica é a ecosfera, formada pelo
omorfologia, os tipos de solos, de vegetação e conjunto de biomas continentais e marinhos
de fauna, bem como os padrões de distúrbios, do planeta (ODUM; BARRET, 2007). Esta é
de uso da terra e de ocupação humana. entendida como um amplo sistema constitu-
O conjunto das paisagens com fisionomia ído por grupos de unidades de níveis inferio-
semelhante constitui o próximo nível de or- res, interdependentes e, portanto, inclui to-
ganização ecológica - o bioma é um sistema dos os organismos vivos da Terra interagindo
regional ou subcontinental grande, caracte- com o ambiente físico (ODUM; BARRETT,
rizado por um tipo de vegetação principal e 2007). Ela abrange a biosfera, litosfera, hi-
submetidos a um clima particular (ODUM; drosfera e a atmosfera. Os ciclos de matéria e
BARRET, 2007). O conceito de bioma, no energia perpassam a biodiversidade em todos
entanto, não é consenso entre os pesquisado- os seus níveis influenciando na sua distribui-
res. Coutinho (2006) apresenta a evolução do ção em escala global. Mas as ações humanas
conceito de bioma, e dentre vários apresenta- estão alterando processos e reduzindo biodi-
dos, cita também o proposto por Whittaker, versidade da ecosfera.
em 1971: bioma é o maior tipo de comunidade Com o aumento populacional humano pla-
num dado continente, concebida em termos netário e também brasileiro, agravada pelos
de sua fisionomia, este englobando a vegeta- modos de produção e a intensidade de con-
ção e a fauna. De acordo com Fiaschi e Pirani sumo, todos os níveis da biodiversidade estão
(2009, p. 4), “bioma se refere a uma área com sendo afetados, com redução da variabilidade
homogeneidade fisionômica independente da genética, do número de espécies, do tamanho
composição florística”. De acordo com Walter populacional e da área da abrangência, a estru-
(1986) os biomas podem atingir mais de um tura e composição originais de ecossistemas,
milhão de quilômetros quadrados. São exem- paisagens, biomas e, portanto, da ecosfera.
plos de biomas continentais: o Amazônia, o O Brasil, em geral, e Santa Catarina em
Cerrado; a Caatinga; o Mata Atlântica, o Pam- especial, apresentam grandes variações geo-
pa e o Pantanal (IBGE, 2004), ver Capítulo 4. morfológicas, de clima, de solo (ver Capítulo
A distribuição dos biomas no planeta re- 3), de disponibilidade de água, bem como rica
sulta da dinâmica geológica e climática, bem biota (conjunto de seres vivos de um local),
como, do processo evolutivo da vida ao lon- conforme foi apresentado anteriormente. Mas
go do tempo (WALTER, 1986). Geralmente, com a abundância de recursos naturais, espe-

Olhares sobre a B i o d i v e rsi da d e | 41


cialmente oriundos da vegetação e dos solos também se verifica, comprometendo o futu-
propícios para atividade agropecuária, a maior ro das espécies como o pinheiro-do-paraná
parte da vegetação original foi suprimida ou (Araucaria angustifolia) (Figura 5), o palmitei-
fragmentada. No bioma Mata Atlântica (ver ro (Euterpe edulis), o sassafrás (Ocotea odorifera),
Figura 2, Capítulo 4) a cobertura florestal na- a imbuia (Ocotea porosa), entre tantas outras
tiva encontra-se em torno de 11% da existente (REIS et al., 2012a). Infelizmente a perda da
originalmente no Brasil e está extremamente biodiversidade genética também se verifica
fragmentada, apresentando 80% dos remanes-
centes com área menor que 50 hectares (RI-
BEIRO et al., 2009). Em Santa Catarina fato
semelhante foi constatado e a fragmentação
atingiu as florestas, os campos, os manguezais
e a vegetação de restinga. Atualmente, a área
coberta por florestas em Santa Catarina é de
27,8%, e deste percentual, 40,4% é de Floresta
Ombrófila Densa; 22% de Floresta Ombrófi-
la Mista, 26,3% de Floresta Estacional Deci-
dual (VIBRANS et al., 2013a).
O Inventário Florístico Florestal de San-
ta Catarina (IFFSC) avaliou os remanescen-
tes de vegetação nativa florestal no interior
de paisagens, como as bacias hidrográficas e
também nas regiões fitoecológicas (ver con-
ceitos no Capítulo 4) presentes no Estado.
Constatou que, em geral, a matriz é agrope-
cuária, entremeada por poucos remanescen-
tes de vegetação nativa, exceto na parte com
relevo mais acidentado, localizada na vertente
atlântica (VIBRANS et al., 2012a; 2012b; VI-
BRANS et al., 2013a; 2013b) e mapa de rema-
nescentes (Figura 7, Capítulo 4).
As pesquisas do IFFSC constataram que
no interior dos fragmentos florestais em San-
ta Catarina ainda são frequentes a exploração
seletiva de espécies de interesse econômico,
a roçada do sub-bosque da floresta para per-
mitir a entrada do gado, bem como o pas-
tejo e pisoteio desse, agravado pela caça de
animais silvestres e a presença de rodovias
atravessando as áreas florestais (VIBRANS
et al., 2012a). Há, também, o efeito silencioso
dos agrotóxicos que escapam dos limites dos
fragmentos de vegetação nativa com as áreas
agrícolas. A perda da biodiversidade genética

42 | Biodiversidade Catarinense
entre aquelas de grande interesse alimentar Figura 5: Pinhões com tamanhos diferentes pro-
para a humanidade (ver Box 2), comprome- duzidos em diferentes épocas do ano, perten-
centes a duas variedades de pinheiro-do-paraná
tendo a segurança alimentar do futuro. (Araucaria angustifolia); à esquerda pinhões do
Portanto, frente às ameaças à biodiversida- pinheiro-caiová; à direita do pinheiro-macaco,
de, em todos os seus níveis de organização, segundo informação de morador de Urubici. Ob-
servar sob os pinhões a mesa feita com madeira
ações de proteção e manejo sustentável preci- de pinheiro-do-paraná, sendo visíveis os anéis
sam ser tomadas. de crescimento. Foto: Lucia Sevegnani

Olhares sobre a Biodiversidade | 43


BOX 2

Biodiversidade na agricultura e na alimentação

S
R osete P escador
Doutora em Botânica, engenheira agrônoma, professora e pesquisadora da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC

ão poucas as espécies de agricultores não é mais possível, e todos


plantas que alimentam a dependem das sementes compradas.
população humana mundial, Com a perda das sementes crioulas,
brasileira e catarinense, especialmente nos últimos 40 anos, a
principalmente quando se compara agricultura e a alimentação presente
o número de plantas encontradas na mesa da população são muito
naturalmente, mais de 250 mil espécies mais pobres de diversidade genética
no planeta. Deste universo, menos de e de espécies, mas infelizmente,
30 espécies de plantas constituem enriquecida com produtos químicos,
95% da alimentação humana, sendo altamente tóxicos. Pois, a riqueza de
as sete mais utilizadas: trigo, arroz, variedades genéticas poderia garantir
milho, batata, mandioca, batata-doce alimentos mais seguros diante de
e cevada, portanto, responsáveis por
75% da contribuição vegetal para a
energia humana (WALTER et al., 2005).
Esta condição se reflete no
cotidiano dos produtores rurais em
escala mundial, brasileira e mesmo
catarinense. Até a década de 70 do
século XX, os agricultores familiares
rotineiramente trocavam sementes
de muitas espécies e variedades de
plantas agrícolas. Como exemplos, se
pode citar, as sementes de milho, feijão,
arroz, melancia, melão, abóbora, alface,
tomate, laranja, bem como de plantas
medicinais, condimentos e de plantas
ornamentais. Sendo cada propriedade
abrigo de biodiversidade de plantas
agrícolas e consequentemente, a
alimentação era também era biodiversa.
No entanto, com a tecnologia imposta
pela nova agricultura baseada na
seleção e comercialização de poucas
variedades muito produtivas, houve
redução da biodiversidade de sementes
e homogeneizou-se também o manejo
dos plantios e colheitas. As sementes
produtivas vendidas no mercado geram Variedades de milho
vendidas em uma feira-livre.
novas sementes, mas estas são inviáveis,
Fotos: Lucia Sevegnani
portanto, a troca de sementes entre

44 | Biodiversidade Catarinense
2.4 Dinâmicas
nos Ecossistemas
alimentação humana
E stabi l idade ou
2 . 4 .1
R esi l i ê ncia dos S istemas

tempos vindouros, tão inseguros. Os processos de mudanças nos ecossiste-


Felizmente, alarmados com mas são frequentes, ou seja, acontecem com
a simplificação imposta pela maior ou menor intensidade e variam quanto
economia, muitas associações de à abrangência espacial, ao longo do tempo.
produtores conservacionistas estão A velocidade de mudança no tamanho das
buscando e estimulando as trocas populações de bactérias por certo é diferente
de sementes daquelas variedades
daquela que ocorre entre as das árvores. Mas,
crioulas, que ainda não foram
perdidas no meio rural brasileiro. quando se observa um terreno baldio domi-
Mas enfrentam feroz competição com nado por plantas herbáceas, não roçado por
as variedades disponibilizadas pelo alguns meses, percebe-se mudanças no tama-
comércio de produtos agrícolas. nho da vegetação, no seu estado fenológico
(por exemplo: floração, frutificação) entre
outras tantas alterações. Quando o olhar se
volta para uma floresta presente numa área
próxima de casa, as mudanças em altura e al-
teração na composição das espécies parecem
não ser assim tão rápidas, no entanto, elas
também ocorrem.
Imagine-se sentado em um banco no in-
terior de uma floresta e ali permanecendo,
atento às mudanças, por cinco décadas, du-
rante 24 horas do dia e nas quatro estações de
cada ano. Nesse período de tempo, quantas
árvores teriam crescido; o número de vezes
que floriram e frutificaram; quais caíram sob
a força das tempestades, e foram decompos-
tas pela ação dos fungos e bactérias; e quais
novas sugiram? Quantos animais nasceram;
se reproduziram e morreram neste intervalo
de tempo de observação? E, se um espelho
estivesse em sua mão, você também poderia
verificar que as modificações seriam visíveis
no seu próprio corpo. Mas, se as mudanças
lentas acontecem, mudanças bruscas tam-
bém podem ocorrer em um ecossistema, por
exemplo, o cortador de grama vir para roçar
as ervas do terreno baldio, ou um incêndio
dizimar a floresta.

Olhares sobre a Biodiversidade | 45


Para entender um pouco sobre a dinâmica xa das comunidades biológicas, a qual apre-
de sistemas, passaremos a apresentar alguns senta dois tipos: a resistência e a resiliência.
conceitos presentes na literatura ecológica, A resiliência descreve a rapidez (e capacida-
mas que também estão em uso na Física, na de) de um sistema voltar a seu estádio inicial,
Economia, e mais recentemente, nas Ciências depois de ter sofrido um distúrbio. Enquan-
Sociais, inclusive na Educação. to que a resistência descreve a capacidade do
No âmbito da dinâmica dos sistemas eco- sistema não ser alterado por um distúrbio.
lógicos podemos perguntar: eles são estáveis? Nota-se que a estabilidade pode ser mantida
Para responder esta pergunta, precisamos co- por um dos dois componentes (ou resistência,
nhecer o conceito de estabilidade? Segundo ou resiliência), mas que é difícil um sistema
o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portu- possui-los simultaneamente.
guesa (2009) estabilidade é palavra com ori- Há ainda outro entendimento, ou seja,
gem latina stabilitate, que significa qualidade a estabilidade como oposta à resiliência
de estável, ou firmeza, solidez e segurança. (HOLLING, 1973). E afirma: “estabilida-
Na Física está relacionada com a propriedade de representa a capacidade de um sistema
dos sistemas mecânicos, elétricos e aerodinâ- em retornar a um estado de equilíbrio após
micos, pela qual o sistema retorna ao estado distúrbio temporário” (HOLLING, 1973, p.
de equilíbrio após sofrer uma perturbação. 14), portanto, quanto menos ele flutua e mais
O significado de estabilidade pode ser rapidamente ele retorna ao estado anterior,
diferente entre Ciências (Física, Ecologia, mais estável ele é. Nesta definição, estabili-
Economia). Na Ecologia podem ser contras- dade é a propriedade do sistema e o resultado
tados dois tipos de estabilidade: a estabilida- dessa propriedade é o grau de flutuação ao
de de resistência e a estabilidade de resiliên- redor de um estado específico. O conceito de
cia (ODUM; BARRET, 2007; BEGON; estabilidade apresentado por Holling (1973)
TOWNSEND; HARPER, 2007) definidos a tem o mesmo sentido de estabilidade de re-
seguir. Para Odum e Barret (2007, p. 70): sistência dos outros autores citados.
Para Holling (1973) a resiliência é a me-
A estabilidade de resistência indica a capaci- dida da persistência do sistema e sua capaci-
dade de um ecossistema resistir às perturba- dade em absorver mudanças e distúrbios; e
ções (distúrbios) e de manter sua estrutura e
função intactas. A estabilidade de resiliência
ainda manter as mesmas relações entre po-
indica a capacidade de se recuperar quando o pulações, ou estado das variáveis. Resiliência
sistema tiver sido rompido por uma perturba- é a propriedade do sistema e o resultado des-
ção. Crescentes evidências sugerem que esses sa propriedade é a persistência. (HOLLING,
dois tipos de estabilidade podem ser mutua- 1973). Ainda segundo ele, uma comunidade
mente exclusivos; em outras palavras, é difícil altamente instável apresenta grande resili-
desenvolver ambos ao mesmo tempo. [...]. Em ência (HOLLING, 1973). Frequentemente,
geral, pode-se esperar que os ecossistemas em
ambientes físicos própícios apresentem mais
a resiliência é considerada como sinônimo
estabilidade de resistência e menos estabilida- de capacidade adaptativa (DREVER et al.,
de de resiliência. 2006), pois apresenta capacidade de incorpo-
rar novidades, como por exemplo, a entrada
De modo muito semelhante ao exposto de espécies diferentes no início do processo
por Odum e Barret (2007), os ecólogos Be- de sucessão secundária.
gon, Towsend e Harper (1996) entendem a Voltemos ao Novo Dicionário Aurélio da
estabilidade como uma propriedade comple- Língua Portuguesa (2009) para buscar mais

46 | Biodiversidade Catarinense
três palavras destacadas pelos autores: resis- mas, aos poucos, pode se desenvolver e atingir
tência, persistência e resiliência. A resistência elevada complexidade. Este fato apresentado
é ato ou efeito de resistir; força que se opõe evidencia a capacidade de persistir, ou seja, ser
a outra, que não cede à outra. Persistência é destruída e novamente voltar a reconstituir,
o ato de persistir, perseverança; de continuar, portanto, apresenta resiliência, no sentido
de insistir. E, a resiliência é o ato de resilir, apresentado por Holling (1973), ou estabilida-
de saltar para trás, de voltar ou retornar ao de de resiliência segundo Begon, Townsend e
ponto de partida. Harper (1996) e Odum e Barret (2007).
Por exemplo, em um costão batido pelas Em ambientes fisicamente instáveis como
ondas do mar: a onda é resiliente – sofre o as zonas costeiras aos oceanos, margens e
impacto com a rocha, se desmancha e se re- ilhas nos rios, as dinâmicas podem ser mais
organiza, e novamente... ou seja, é persistente; frequentes que em outras áreas distantes
a rocha que recebe o impacto da onda perma- destes locais. As formações pioneiras com
nece firme, ela é resistente, é estável. influência marinha (vegetação de restinga)
A estabilidade pode ser percebida em ecos- ou fluviomarinha (manguezais) são tipos de
sistemas, como as florestas existentes em Santa vegetação submetidos a frequentes estresses
Catarina. Esta possui muitas espécies de plan- naturais e durante as marés excepcionalmen-
tas (componentes estruturais) e de animais e te altas podem ser fortemente perturbados.
micro-organismos (componentes intersticiais), Durante estes episódios, em muitas áreas esta
todos desempenhando, em conjunto, muitas vegetação pode ser totalmente dizimada. No
funções, interconectados com a atmosfera, entanto, passado o evento que as destruiu, se
com a água e com o solo. Num dado momen- instalam novamente, com semelhante fisio-
to, durante uma tempestade com ventos fortes nomia e muitas vezes com a mesma compo-
em alguns poucos pontos pode ocorrer a que- sição de espécies e funcionamento ecológico,
da de algumas árvores, abrindo clareiras. Com ou seja, são resilientes ou persistentes. Nas
o passar do tempo a floresta se restabelece dos margens de rios as inundações é que provo-
distúrbios existentes naqueles locais, as clarei- cam a destruição da vegetação, mas depois
ras são fechadas pelo crescimento de novas ár- ela novamente se reestrutura.
vores e o ecossistema se mantém como flores- Outro exemplo, a Estepe, ou campos suli-
ta. Isso evidencia a estabilidade desta floresta, nos, existente no planalto do estado de Santa
no sentido expresso por Holling (1973), ou Catarina, é vegetação resiliente. Esta ao lon-
apresenta estabilidade de resistência no senti- go do seu processo evolutivo esteve submeti-
do atribuído por Begon, Townsend e Harper da às condições limitadas de recursos, clima
(1996) e Odum e Barret (2007). estressante, pastejo pelos animais e episódios
Por outro lado, a resiliência pode ser per- esporádicos de fogo. Após uma queimada, a
cebida logo após o corte e queima de uma vegetação de campo novamente começa a se
floresta, fato esse, muito comum na história instalar ou ainda, brotar e pouco tempo de-
da vegetação de Santa Catarina. Se área após pois, apresenta fisionomia e funções muito
a queimada foi abandonada, com a chegada semelhantes a anterior ao incêndio.
de sementes provenientes das áreas vizinhas No entanto, se a frequência dos distúrbios
trazidas pela fauna ou pelo vento, em algumas como os incêndios nos campos for muito ele-
décadas, na área poderá haver uma nova flo- vada e a extensão atingida é muito ampla, as
resta. Inicialmente, não com todas as espécies condições para se restabelecer podem ser per-
presentes na floresta anteriormente existente, didas e a capacidade de persistir foi destruída.

Olhares sobre a Biodiversidade | 47


Nessas situações o sistema perde a resiliência e recuperação. A implantação dos projetos de
passa para um estado alternativo, altamente de- recuperação tem exigido tecnologias e vulto-
gradado (HOLLING; GUDERSON, 2002). sas soma de dinheiro para minimizar o efei-
Neste caso, a vegetação de campos pode desa- to poluição da mineração daquela região e os
parecer, ficando o solo desnudo, ou com raras impactos ambientais graves que causam.
manchas de vegetação, exposto aos agentes Portanto, para que os ecossistemas não per-
erosivos. Nesse estado alternativo degradado cam sua capacidade de resiliência é necessário
apresentará frágil estrutura e funcionamento. reduzir os impactos das ações humanas sobre
Para ilustrar estado alternativo de ecos- eles, bem como, manter na paisagem a biodi-
sistemas, podemos citar as áreas mineradas versidade de espécies e grupos funcionais.
e sobre as quais foram depositados os rejei- Nos projetos de restauração dos ecossis-
tos de mineração de carvão no sul do Estado temas degradados é importante estimular o
de Santa Catarina, estas abrangendo cerca de fluxo de espécies, através de plantios de espé-
4.000 hectares. A elevada acidez (baixo pH) cies produtoras de recursos alimentares para a
do substrato e da água impedem o desenvol- fauna, para que esta traga novas sementes de
vimento vegetação. Para auxiliar na recupe- variadas espécies para a área. Em geral, a ação
ração ambiental houve necessidade de, pri- humana ajuda na recuperação inicial, mas a
meiramente, cobrir os rejeitos de carvão com restauração ecológica, com o restabelecimento
espessa camada de argila. Após isolamento e da riqueza florística, dos grupos funcionais e
deposição de uma camada de solo não con- suas teias de interações, somente se desenvolve
taminado, oriundo dos morros, foi feita a ao longo do tempo, pelo efeito sinergético de
semeadura e/ ou plantios de espécies para a todos os componentes bióticos e abióticos.

2.4.2 C ic l o adaptati v o

Neste item desejamos aprofundar ainda ses: α – alfa - reorganização; r – crescimento


mais alguns aspectos da dinâmica dos siste- e exploração de recursos, K – conservação de
mas, como por exemplo, em um ecossistema recursos, Ω - ômega – liberação de recursos
e para tanto, novos conceitos são necessários. (HOLLING; GUDERSON, 2002; DRE-
Em geral, o ciclo adaptativo e a panarquia VER et al., 2006), Figura 6.
não são abordados nos livros de ecologia,
mas entendemos que o conhecimento deles
possibita enxergar melhor os processos que
ocorrem nos ecossistemas ao nosso redor.
Iniciemos com a apresentação do que con-
siste um ciclo adaptativo, entendido como
etapas pelas quais passam os sistemas durante
sua organização, desorganização e, novamen-
te, reorganização. O tempo necessário para
que o ciclo completo ocorra pode ser de anos,
décadas, séculos ou milênios dependendo de
qual tipo de ecossistema se deseja abordar. Figura 6: Ciclo adaptativo em sistemas (por ex.:
ecossistemas), baseado em Holling e Gunderson
Os ecossistemas podem estar em diferen-
(2002) Fonte: http://www.resalliance.org/570.php.
te fase do ciclo adaptativo formado pelas fa- Ilustração adaptada por Luana Schlei

48 | Biodiversidade Catarinense
Para exemplificar o ciclo adaptativo dos estabilidade ou resistência (HOLLING,
sistemas apresentado por Holling e Gunder- 1973; HOLLING; GUNDERSON, 2002;
son (2002) e Drever et al. (2006) (Figura 6), WALKER et al, 2006).
será utilizado uma floresta e as mudanças Em geral, quando na ecologia se aborda
que podem nela ocorrer. Uma floresta bem a sucessão ecológica (CLEMENTS, 1916;
conservada e bem desenvolvida, ou seja, em GLEASON, 1939; BRAUN-BLANQUET,
K (fase de conservação de recursos) contém 1979; KLEIN, 1980; SIMINSKI et al., 2011),
muitas espécies e fortes teias de interações en- se detalha os processos que ocorrem entre as
tre elas e o meio. No caso desta floresta sofrer fases r e K, deixando de levar em conta as
um grande incêndio, ocorre rápida liberação fases Ω e α do ciclo adaptativo dos ecossiste-
dos recursos armazenados, saindo via solo, mas, portanto, constituindo-se em uma visão
água ou ar; diz-se então que o sistema entrou parcial da dinâmica ecológica desses.
na fase Ω (fase de liberação de recursos). O Para lembrar, sucessão ecológica são alte-
amontoado de cinzas sobre o solo e os restos rações na estrutura e na composição de es-
de troncos parcialmente queimados, podem pécies que ocorrem em uma determinada
abrigar sementes vivas, que juntamente com área, ao longo do tempo (KLEIN, 1980).
outras que chegam via dispersores, iniciam a A sucessão pode ser primária quando se de-
colonização da área. O ecossistema passa en- senvolve sobre uma área que não havia sido
tão por intenso e rápido processo de reorga- colonizada anteriormente, por exemplo, uma
nização, a fase α. Nessa fase, a colonização duna (KLEIN, 1980). A sucessão é dita se-
por plantas, animais e micro-organismos e o cundária quando a colonização e o desenvol-
aproveitamento dos recursos disponíveis é rá- vimento de uma comunidade de seres vivos
pida e importante. Também é nesse momento se dão onde antes havia outra comunidade
que podem chegar espécies diferentes daque- instalada (KLEIN, 1980). Por exemplo, num
las que havia na floresta antes da queimada, local que havia floresta e esta foi cortada para
ou seja, está aberta a possibilidade para a en- fazer agricultura, no momento que a área for
trada de componentes novos. Em seguida, abandonada ao processo de sucessão ecoló-
ocorre outra fase, caracterizada pelo rápido gica, nova comunidade pode se instalar e de-
crescimento das espécies presentes, aprovei- senvolver. Dizemos então que se trata de uma
tando o máximo da luz, de nutrientes e do es- vegetação secundária. Estudos em sucessão
paço disponível, ou seja, a fase r. Com o pas- ecológica, em geral, abrangem as fases r e K
sar das décadas e até mesmo séculos, na área do ciclo adaptativo apresentado por Holling e
pode estar presente novo conjunto florestal, Gunderson (2002).
semelhante na estrutura e função da floresta Algumas áreas florestais de Santa Catarina
original, contendo grande diversidade de es- são remanescentes das florestas originais que
pécies e desempenhando funções ecológicas havia quando os colonizadores chegaram nes-
importantes - a fase K. As fases apresentadas te Estado. Muitas dessas sofreram exploração
são partes do ciclo adaptativo desta floresta. madeireira, mas continuaram a ser floresta.
Mas qual a fase tem maior estabilidade ou Podemos afirmar à luz dos conceitos apre-
resistência e qual tem maior resiliência ou per- sentados que estas florestas podem ser bons
sistência? No ciclo adaptativo a fase α é aque- exemplos de florestas estáveis (HOLLING,
la que apresenta maior resiliência e capacida- 1973) ou com estabilidade de resistência
de de incorporar inovação, e esta habilidade (BEGON; TOWSEND; HARPER, 1996;
decresce em direção à fase K - com maior ODUM; BARRET, 2007).

Olhares sobre a Biodiversidade | 49


Figura 7: Parte de uma paisagem em Mirim Doce, Santa Catarina, com ecossistemas em sucessão se-
cundária, abrangendo algumas das fases do ciclo adaptativo: α – podendo ser representada pela pasta-
gem; r – evidenciada na capoeirinha (inicial) e capoeirões (médio até avançado) e K - no topo da encosta
a floresta bem desenvolvida. Foto: Lucia Sevegnani

Dos quase 28% de florestas atualmente entanto, há muitas áreas em estádio inicial,
presentes em Santa Catarina, a maior parte ou seja com cobertura herbácea e arbustiva
é resultado do processo sucessional ocorrido (Figura 7). Essas áreas com florestas secun-
após o corte raso da floresta. A instalação das dárias bem desenvolvidas, contém vegetação
espécies nativas da floresta e seu desenvolvi- que passou por todas as fases do ciclo adap-
mento ocorreram após o abandono das áreas tativo (HOLLING; GUNDERSON, 2002).
que estiveram sujeitas às queimadas, seguidas, Pode-se afirmar que as florestas secundá-
muitas vezes, por décadas sucessivas de uso rias de Santa Catarina são resultado da resi-
para agricultura ou pecuária, segundo infor- liência dos ecossistemas, no sentido Holling
mações levantadas pelo IFFSC (VIBRANS (1973). Perceber que os ecossistemas têm ca-
et al., 2012a). As florestas resultantes desse pacidade de resiliência possibilita entender
processo sucessional são secundárias, e pre- que as florestas podem ser restauradas nas
dominantemente em estádio médio e avan- áreas em que foram dizimadas. Todavia, a
çado de sucessão (VIBRANS et al., 2012a, contínua redução do tamanho dos fragmen-
SEVEGNANI et al., 2012b, 2013a, b) no tos florestais na paisagem, agravados pela

50 | Biodiversidade Catarinense
simplificação interna a esses, através do cor- tar quando as pessoas reduzem a resiliência,
te seletivo de espécies de interesse; da roçada através da remoção da diversidade de respos-
do sub-bosque da floresta com o corte das tas dos grupos funcionais, dos níveis tróficos,
trepadeiras, dos arbustos e dos jovens das es- ou ainda, impactando os ecossistemas via
pécies arbóreas; da colocação do gado para emissão de poluentes, provocando mudanças
pastejar no interior da floresta; da captura e climáticas, e alterando a magnitude, a fre-
morte da fauna, e do uso de agrotóxicos no quência e a duração do regime de distúrbios
seu entorno, traz intensas e graves perturba- (FOLKE et al., 2004). Pois os efeitos combi-
ções que podem levar o ecossistema, com o nados, e frequentemente sinergéticos dessas
tempo, a não ser mais uma floresta. Assim pressões podem tornar os ecossistemas mais
reduzindo a resiliência dos ecossistemas pre- vulneráveis às mudanças, tornando-os me-
sentes na paisagem. nos capazes de absorver distúrbios, passando
Estudos efetuados em ecossistemas tem- para um estado indesejável alternativo e de-
perados e tropicais evidenciaram que a proba- gradado, no qual se restringe a capacidade de
bilidade de regime de mudança pode aumen- gerar serviços ambientais.

2.4.3 Panarquia – conjunto interativo de ciclos adaptativos

Diante da elevada frequência e intensi- tar um exemplo catarinense: a introdução


dade das perturbações impostas sobre os do gado na floresta possibilita que este se
ecossistemas catarinenses e brasileiros, ou- alimente e pisoteie as plantas jovens e de
tro conceito precisa ser introduzido, o de pequeno porte; esta situação é ainda agra-
panarquia. vada pela roçada do sub-bosque (ciclo me-
A panarquia integra resiliência e dinâmica nor) para facilitar o acesso do gado à floresta
do ecossistema em múltiplas escalas (micro (VIBRANS et al., 2012a). Com o sucessivo
e macro) estas aninhadas umas às outras.. A pastejo e corte do sub-bosque, a substituição
panarquia considera os ecossistemas como das árvores adultas do dossel (ciclo maior)
um conjunto interativo de ciclos adaptativos que morreram não ocorre, pois as jovens fo-
que ocorrem em diferentes escalas, tempo- ram eliminadas. Decorrente deste fato pode
rais e espaciais. Há dois tipos de conexões haver um colapso do ecossistema florestal
de escala cruzada, entre ciclos adaptativos como um todo, resultando, no futuro, em
que afetam a resiliência: a) a revolução e b) uma área aberta com árvores esparsas. De
a memória ou vida remanescente (Figura 6). modo simplificado, o colapso no sub-bos-
A primeira conexão em escala cruzada, que (ciclo menor), pode desencadear crise e
ou seja, entre ciclos adaptativos (Figura 8) é: colapso no restante da estrutura da floresta
a) A revolução acontece quando um ní- (ciclo maior). Este panorama, também foi
vel de hierarquia menor dentro de um observado durante o inventário, no interior
sistema entra em colapso, ou seja, entra de fragmentos muito degradados.
na fase (Ω) desse ciclo; então, desenca- A segunda conexão em escala cruzada
deia uma crise e mudanças drásticas no (Figura 8) refere-se à:
próximo ciclo, maior e mais lento; porque b) Memória ou vida remanescente. Isso
o ciclo maior em sua fase (K) tem baixa acontece quando o colapso ocorre em um
resiliência. nível hierárquico superior (ciclo maior)
Para tentar tornar mais claro, vamos ci- em fase K, e a biomassa acumulada re-

Olhares sobre a B i o d i v e r s i d a d e | 51
Figura 8: Representação de panarquia
com ciclos adaptativos aninhados,
evidenciando influências entre diferentes
escalas. Fonte: http://www.resalliance.
org/index.php/key_concepts.
Ilustração adaptada por Luana Schlei

manescente do colapso daquela fase K in- dispersão de sementes, a polinização


fluencia no desenvolvimento de um novo de flores e a translocação de nutrien-
ecossistema, fase α. tes, pois conectam áreas que podem
Nesse caso, num ecossistema que foi des- estar separadas espacialmente. São os
truído, a memória ou vida remanescente se animais que promovem a ligação entre
refere à composição de espécies e a estru- áreas mais conservadas e à degradada,
tura pré-distúrbio que restaram, evidenciada facilitando a recuperação dessas. Os
pela presença de três partes interativas: (b.1) cursos d´água no interior de áreas de-
o legado biológico, (b.2) os elos ou ligações gradadas, também podem ter função
móveis, e (b.3) as áreas suporte ou remanes- de elo móvel e possibilitar o fluxo de
centes. espécies.
b.1) Legado Biológico – são espécies, b.3) Áreas Suportes ou Remanescentes
padrões ou estruturas que persistem – se referem às manchas de vegetação
dentro de uma área submetida a dis- na paisagem que mantém populações
túrbio (por exemplo, uma floresta que viáveis de espécies de organismos-cha-
foi queimada) e agem como fonte de ve (ligações móveis), as quais podem se
recuperação do ecossistema, tais como: deslocar, ou ser deslocados, para a área
grandes árvores que permaneceram vi- perturbada.
vas ou mortas, ou grupos de plantas Juntas, essas três partes interagem entre
isoladas que fornecem sementes, bem ciclos adaptativos em escala cruzada, ou seja
como raízes ou rizomas que voltam a passando de um para outro (Figura 6), e têm
brotar; ou ainda o conjunto de nutrien- fundamental função na renovação e reorga-
tes restantes, que facilitam a restaura- nização dos sistemas que sofreram distúr-
ção da área, ou ainda manchas de vege- bios graves. As espécies que colonizam áreas
tação localizadas em áreas úmidas que degradadas, em geral, provêm dos remanes-
não foram destruídas pela queimada. centes florestais próximos, presentes na pai-
b.2) Ligações Móveis – são organismos- sagem (FORMAN, 2006).
-chave (keystone) que se movem entre Retomando o exemplo da floresta com o
ecossistemas logo após um distúrbio gado, quando este é retirado e são suspensas
grave e possibilitam o início de pro- as roçadas, a estrutura da floresta que restou
cessos essenciais, não presentes no oferece meios e recursos para que sementes
sistema degradado. Por exemplo, os vindas do dossel e também trazida de outros
elos móveis (os animais) promovem locais pela fauna (os elos móveis) auxiliam

52 | Biodiversidade Catarinense
na rápida restauração do sub-bosque e a flo- ecológicos (ver Box 2, Capítulo 7) para que
resta pode recuperar as espécies e a estrutu- funcionem como biodiversos remanescen-
ra anterior a colocação do gado. tes, ou seja, fontes de espécies para colonizar
A presença de áreas suportes ou rema- áreas degradadas e propiciar a reorganização
nescentes na paisagem abrigam as ligações de novos ecossistemas ricos em biodiversi-
móveis, que em conjunto com os legados dade.
biológicos, presentes na área degradada, têm As unidades de conservação como o Par-
implicação sobre a recuperação dessas áreas, que Nacional da Serra do Itajaí, o Parque
bem como podem diminuir o tempo neces- Estadual do Tabuleiro, o Parque Nacional
sário à reorganização e continuidade do ci- das Araucárias, Parque Nacional de São Joa-
clo adaptativo, ou seja, facilitar a restauração quim e outras precisam estar a salvo de ações
ecológica (RODRIGUES, et al. 2009). humanas que as degradem para que possam
A ampliação das áreas agrícolas, com pe- cumprir seu papel de abrigo e disseminador
cuária ou plantios de espécies exóticas como de vida. Especialmente neste Estado, con-
o Pinus e o Eucalyptus em larga escala nas tendo 72% do território com outros usos,
paisagens (SCHAADT, 2012), reduzem as pois, muito desse percentual, apresenta-se
áreas suportes ou remanescentes. Este fato é degradado.
agravado pela caça de animais (especialmen- Para finalizar, ressaltamos a necessidade
te mamíferos, aves e répteis) e o uso de agro- de manter a estabilidade dos ecossistemas
tóxicos (com forte ação sobre os insetos). especialmente aqueles na fase K do ciclo
Esses fatores diminuem a quantidade e a ri- adaptativo, ou seja, manter nas propriedades
queza de espécies da fauna (os elos móveis). as florestas bem desenvolvidas e ricas em es-
Com isso, áreas degradadas que precisam ser pécies e funções; bem como garantir a resi-
restauradas podem se tornar não resilientes liência ecológica nas paisagens para que áre-
e o sistema passar para um estado alternati- as degradadas possam se restaurar e assim
vo e, o estado degradado. E se a resiliência manter os processos ecológicos e a elevada
da área for fraca irão se formar ecossistemas biodiversidade no espaço e no tempo.
empobrecidos em sua composição e funções Destaca-se, também, a importância de
ecológicas. uma educação científica para a biodiversi-
Situações de intensa degradação e poucos dade, que precisa começar nas escolas, com
remanescentes de vegetação nativa, e esses objetivo de torná-la conhecida; propiciar
ainda subordinados às pressões humanas, entendimento de seu funcionamento, bem
se verificam em muitas áreas do oeste, pla- como de suas fragilidades frente às ações
nalto e sul de Santa Catarina (VIBRANS et humanas. Os estudantes necessitam estar
al., 2012a) e portanto, são merecedoras de cientes dos inúmeros serviços ambientais
políticas de conservação que revertam este (proteção da água, da biodiversidade, fon-
quadro. te de produtos e lazer, proteção contra os
As unidades de conservação podem au- desastres naturais) que a biodiversidade, em
xiliar na minimização deste problema, para todos os seus níveis de organização, produz.
tanto, precisam ser bem protegidas, bem Pois, é a biodiversidade, um dos grandes pi-
como distribuídas nas diferentes regiões do lares, que mantém e condiciona o bem estar
Estado e interconectadas por corredores das populações humanas.

Olhares sobre a Biodiversidade | 53


Foto: Juarês José Aumond / Parque Nacional dos Aparados da Serra (ICMBio)
C a p í t u l o 3

As Grandes Unidades da
Paisagem e a Biodiversidade
de Santa Catarina
J uarês J osé A umond 1

S e nós pudéssemos voltar ao


passado cerca de 290 mi-
lhões anos, veríamos uma
paisagem completamente
diferente da atual em Santa Catarina. O
presente capítulo visa caracterizar as con-
dicionantes geomorfológicas e climáticas
passado longínquo. Nesta fase, o super-
continente Gondwana, que incluía a Amé-
rica, África, Antártida, Índia e Austrália,
migrou desde o Pólo Sul, dirigindo-se
rumo à linha do Equador. As rochas gon-
dwânicas da Era Paleozoica, depositadas
cerca de 290 milhões de anos no período
pretéritas e atuais, determinantes na for- Carbonífero, indo até a Era Mezozóica no
mação dos ecossistemas catarinenses. Período Triássico, cerca de 190 milhões
A Era Paleozoica, também denomina- de anos, registram as mudanças climáticas
da de Era Primária, compreende a histó- daquele supercontinente. O clima deixou
ria física da Terra em que viviam plantas sua marca nas rochas durante a migração
e animais muito primitivos. Naquela Era do Gondwana, desde as latitudes mais
geológica existia, no hemisfério sul, um austrais onde predominava o frio intenso,
grande continente chamado Gondwana. passando por climas temperados das lati-
As rochas geradas a partir da sedimenta- tudes intermediárias até os calores escal-
ção do período Carbonífero deixaram im- dantes das latitudes mais baixas. Durante
pressas feições características das várias essa migração, deu-se origem ao deserto
condições climáticas reinantes naquele da Formação Botucatu, cujas rochas arení-

AUMOND, J. J.. As grandes unidades da paisagem e a biodiversidade de Santa Catarina. In: SEVEGNANI, L.; SCHROEDER, E.
Biodiversidade catarinense: características, potencialidades e ameaças. Blumenau: Edifurb, 2013, p. 54-69.

1 Doutor em Engenharia Civil, Mestre em Geografia, geólogo, professor na Universidade Regional de Blumenau – FURB

Biodiversidade Catarinense | 55
ticas constituem-se hoje no Aquífero Gua- desse supercontinente. Durante a Era Pa-
rani. Nesse sentido, esta fase da história leozoica e parte da Era Mesozóica, a flora
geológica é, em parte, também a história da e a fauna podiam migrar livremente por
evolução climática das terras gondwânicas. esse grande continente (Figura 1).
Os ecossistemas eram diferentes e neles Cerca de 170 milhões de anos atrás, no
ocorriam plantas e animais muito primiti- período Triássico, esse supercontinente co-
vos. As plantas e animais que conhecemos meçava a se fragmentar dando origem a vá-
hoje ainda não existiam. As Gimnosper- rios continentes menores que conhecemos
mas (Coníferas) apareceram apenas no pe- hoje, como a América do Sul, Austrália,
ríodo Carbonífero e dominaram durante Antártida, entre outros (Figura 2). A Amé-
toda a Era Mesozoica e as Angiospermas, rica do Sul começava a se afastar da África
as plantas com flores, só apareceram cerca (quatro centímetros por ano) dando início à
de 125 milhões de anos atrás, no Cretá- formação do Oceano Atlântico. O fenôme-
ceo médio e se expandiram na Era Ceno- no de afastamento dos continentes deno-
zoica, dominando até os dias atuais. No mina-se deriva continental. As placas tec-
início predominavam grandes e primitivas tônicas atuais que formam os continentes e
samambaias. Posteriormente, com a ame- os assoalhos oceânicos ainda se movimen-
nização da temperatura, apareceram libé- tam horizontalmente vários centímetros
lulas gigantes com mais de meio metro de por ano, fato que gerou, nesses 170 milhões
envergadura, e os primeiros vertebrados de anos, uma distância de cerca de 6.000
terrestres, os anfíbios primitivos, diferen- km entre a costa sul-americana e africana.
tes dos atuais, circulavam pelos banhados Durante o processo de afastamento entre

Linha do Equador

Linha do Equador


Polo Sul Polo Sul ★

Figura 1: No Período Carbonífero o supercon- Figura 2: Posição aproximada dos continentes


tinente Gondwana incluía a América do Sul, no Período Jurássico, cerca de 140 milhões
a África, a Antártida, a Austrália e a Índia. As de anos atrás. A deriva continental iniciada no
plantas e animais primitivos que viviam nessa Período Triássico já afastou a América cerca
Era podiam circular nesse grande continente de 6.000 km da costa africana e esse processo
livremente. ainda continua.

56 | Biodiversidade Catarinense
América do Sul e África, grandes fendas mutações genéticas e o isolamento geográfico
geológicas se abriram, permitindo o vaza- determinaram uma evolução da vida distinta
mento de lava resultando no maior derrame entre eles.
vulcânico ocorrido em área continental do Em tempos geológicos mais recentes, nas
planeta. Esses derrames de lavas vulcânicas últimas dezenas de milhões de anos, outros
formaram o planalto vulcânico catarinense. fenômenos geológicos chamados de isostasia
Passados milhões de anos, a América do e epirogênese provocaram uma pulsação ver-
Sul ficou isolada e cercada de oceanos por tical para cima e para baixo de amplas áreas
todos os lados. A fauna e a flora, agora iso- do continente. A epirogênese é um movimen-
ladas geográfica e reprodutivamente, evoluí- to vertical muito lento, de subida ou descida,
ram diferenciadamente dos ecossistemas do de grandes áreas da crosta terrestre; e a isos-
território africano. É por isso que na África tasia é a tendência na qual a crosta da Terra
os ecossistemas, como as savanas com seus tende a tomar permanentemente um equilí-
leões, leopardos, rinocerontes, elefantes e bú- brio, afundando para compensar a sobrecarga
falos, são tão diferentes dos ecossistemas e da de pressões ou elevando-se pelo alívio dessas
fauna que ocorrem na América do Sul, mais (LEINS; AMARAL, 1972). Na Era Cenozoi-
especificamente no Brasil e em Santa Catari- ca ocorreu um soerguimento da Serra Geral
na. Aqui temos a onça, a anta, os gambás, a e o basculamento (inclinação) para oeste do
ema e muitos outros animais, diferentes da planalto vulcânico, condicionando, a partir
fauna africana. daí, o estabelecimento dos sistemas de drena-
Desde a separação dos continentes, fe- gens dos rios atuais. Dois grandes sistemas de
nômenos geológicos e climáticos diferentes, drenagens se formaram com o basculamento,
barreiras ecológicas, recursos diferenciados, a vertente do interior situada no planalto vul-

Figura 3: O perfil geomorfológico leste-oeste do Estado de Santa Catarina evidencia o resultado dos
movimentos verticais (Epirogênese e Isostasia) dos últimos milhões de anos que elevaram parte da
crosta formando o planalto catarinense e a Serra Geral (Fonte: Juarês J. Aumond).

As Grandes Unidades da Paisagem e a Biodiversidade de Santa Catarina | 57


cânico e a vertente atlântica. A vertente do entre Argentina e Uruguai. Parte das águas
planalto vulcânico abrange os cursos de água do Planalto Sedimentar escoa para leste, indo
cujas nascentes estão localizadas a oeste da compor as vertentes litorâneas que existem
Serra Geral e que integram as bacias hidro- desde o norte até o sul de Santa Catarina (Fi-
gráficas do rio Uruguai e do rio Iguaçu, que, guras 3 e 4).
por sua vez, são afluentes do rio Paraná. Al- Em Santa Catarina essa pulsação vertical
guns rios do planalto sedimentar (rios Negro, criou grande diversidade de paisagens, ele-
Canoinhas e Iguaçu em Santa Catarina) esco- vando algumas áreas do planalto até mais de
am suas águas para o noroeste indo compor 1.828 metros de altitude acima do nível do
a bacia do Iguaçu, que também pertencem mar. São exemplos das paisagens formadas a
à bacia do rio Paraná. A vertente atlântica Costa Leste com as planícies litorâneas, in-
abrange as bacias hidrográficas dos rios que cluindo as restingas e os manguezais, as Ser-
nascem geralmente à leste da Serra Geral e ras Litorâneas e a Serra do Mar; o Planalto
parte da Serra do Mar, tais como os rios Ita- sedimentar no centro-norte; a Serra Geral
pocu, Itajaí, Tijucas, Cubatão e Tubarão. que se estende do norte ao sul do Estado e o
Em função da inclinação para oeste do Planalto Vulcânico que se estende do centro
Planalto Vulcânico é que as águas escoam no até o oeste de Santa Catarina (Figura 4).
sentido oeste na bacia do rio Uruguai, até a di- Essa pulsação vertical e a diversidade de
visa com a Argentina e depois seguem rumo paisagem, altitudinalmente diferenciadas, ge-
ao sul em direção ao rio da Prata, localizado raram as condições geológicas e geomorfoló-

Figura 4: A pulsação vertical do território catarinense criou uma grande diversidade de paisagens: a
Costa Leste; o Planalto Sedimentar (centro-norte), o Planalto Vulcânico (centro-oeste).
(Adaptado de PELUSO-JUNIOR, 1991)

58 | Biodiversidade Catarinense
gicas para evolução climática e paisagística râneas, a Serra Geral condicionaram uma
até as condições atuais. A Serra Geral é, na evolução diferenciada da flora e da fauna
realidade, um degrau que galga o planalto na Costa Leste, no Planalto Sedimentar e
vulcânico, e nas áreas com maiores altitu- no Planalto Vulcânico catarinense.
des são registradas, anualmente, as tempe- Até cerca de 10.000 anos atrás, o mundo
raturas mais frias do Estado. vivia uma Era do Gelo; o clima era muito
Na Costa Leste é onde ocorrem as Serras frio e seco e isso impedia a expansão das
Litorâneas e a Serra do Mar, formadas pe- florestas. Daquele tempo até os dias atuais,
las rochas ígneas e metamórficas mais anti- com o aquecimento global ainda em curso,
gas que formam o embasamento cristalino o clima ficou mais quente e úmido criando
do Estado de Santa Catarina. Trata-se de as condições ideais para que as florestas se
área com maior influência do oceano, com expandissem. Nessas condições mais quen-
a ocorrência de muitas chuvas, chamadas tes e úmidas é que se formaram os ecos-
chuvas orográficas, que se formam junto sistemas e a biodiversidade atuais de Santa
às montanhas. Essas chuvas são originárias Catarina. Na Costa Leste, no embasamento
do movimento ascendente da umidade ad- cristalino e nas Planícies Litorâneas, esta-
vinda do mar e empurrada pelos ventos em beleceu-se a Floresta Ombrófila Densa, as
direção às serras. Na parte alta dos morros restingas com seus sistemas lagunares e os
e montanhas, ao encontrar temperaturas manguezais. No Planalto Vulcânico e Se-
mais baixas, propiciam a condensação dos dimentar se estabeleceram a Floresta Om-
vapores de água e provocam as chuvas oro- brófila Mista ou Floresta com Araucárias,
gráficas. Condicionada a esta precipitação a Floresta Estacional Decidual ou Floresta
frequente e intensa, ocorre a Floresta Om- Subtropical da Bacia do Uruguai e a Estepe
brófila Densa ou Floresta Pluvial da Encos- ou Campos Sulinos, denominados de regi-
ta Atlântica, cujos termos ombrófilo e plu- ões fitoecológicas do bioma Mata Atlânti-
vial se devem a essas chuvas características. ca em Santa Catarina. Algumas espécies de
Essa diversidade da paisagem com cli- plantas e animais conseguem viver em vá-
mas diferentes, recursos diferenciados e rias dessas regiões fitoecológicas, outras são
barreiras ecológicas, como as Serras Lito- exclusivas de apenas uma dessas regiões.

3.1 Costa L este - Serras L itorâneas e Serra do M ar


Na Costa Leste, resultante dos movi- campos de dunas protegidas pelos costões
mentos geológicos do passado, se formou, e as falésias constituídas por rochas meta-
além da imponente Serra do Mar, existen- mórficas e ígneas mais resistentes.
te no norte, as Serras Litorâneas do leste. Na Costa Leste e no Vale do Itajaí, in-
Nos últimos dois milhões de anos, resul- cluindo o nordeste do Estado até o sul,
tado da dinâmica construtiva e destrutiva na região de Jaguaruna e Tubarão, é onde
dos rios, do mar, dos ventos, das correntes ocorrem as temperaturas médias anuais e
de deriva (correntes marinhas paralelas à as temperaturas médias de inverno mais
costa) e da oscilação do nível do mar, for- quentes de Santa Catarina.
maram-se inúmeras paisagens. Dentre elas As características geológicas, climáticas
se destacam as baías, os sistemas lagunares, e edáficas (solos) peculiares geraram, nes-
as praias, as restingas, os manguezais, os sas áreas, ambientes ecológicos diferencia-

As Grandes Unidades da Paisagem e a Biodiversidade de Santa Catarina | 59


dos, possibilitando o desenvolvimento de
ecossistemas com espécies de plantas, ani-
mais e micro-organismos adaptados a es-
sas condições específicas.
As restingas são ecossistemas costeiros,
arenosos e salinos, ocorrentes em áreas
praianas, paralelas à linha da costa e são
constituídas por cordões arenosos, dunas,
depressões, grandes lagoas e lagunas for-
madas nos últimos milhares de anos. Si-
tuadas entre o ambiente marinho e conti-
nental, as restingas têm condições físicas
variadas e por isso podem apresentar uma
grande diversidade biológica.
Os manguezais são ecossistemas de
transição entre os ambientes terrestres e
marinhos, formados no oceano e estão
associados às baías, enseadas, barras, de-
sembocaduras de rios, lagunas e reentrân-
cias costeiras e estão sujeitos, diariamente,
ao regime das marés (Figura 6). Os ecos- Figura 5: Restinga da Lagoinha do Leste, em Florianópolis.
sistemas costeiros, por sua variedade de
ambientes e recursos, apresentam elevada
riqueza biológica.
Em Santa Catarina existem dois gran-
des sistemas lagunares. No norte ocorre
a Baía da Babitonga ( Joinville e São Fran-
cisco) e o sistema do sul, formado por inú-
meras lagoas, entre elas a Lagoa Mirim,
do Imaruí, do Sombrio e de Garopaba do
Sul. Essas lagoas estão associadas a anti-
gos cordões arenosos e a dunas ativas re-
trabalhadas pelos ventos (Figuras 5, 7 e 8).
As lagunas são ecossistemas formados
em depressões contendo água salgada ou
salobra, localizada na borda litorânea, con-
tendo ligação com o mar através de canais,
e por isso, servem de refúgio e local de re-
produção da vida marinha. As lagoas são
depressões de formas variadas tendendo a
circulares de pequenas profundidades, con-
tendo corpos de águas paradas, geralmente
doces, eventualmente salgadas e sem liga-
ção direta com o mar (GUERRA, 2001). Figura 7: Lagoa do Mirim em Imbituba, Santa Catarina. Foto:

60 | Biodiversidade Catarinense
Foto: Charles G. Boudreault Figura 6: Manguezal no Canal do Linguado, Baía da Babitonga em
São Francisco do Sul. Foto: Edson Schroeder

Juarês J. Aumond Figura 8: Sistema de dunas de Imbituba. Foto: Juarês J. Aumond

As Grandes Unidades da Paisagem e a Biodiversidade de Santa Catarina | 61


3.2 P l ana l to S edimentar

O Planalto Sedimentar (Figuras 9 e 10) foi pelos vales dos rios. Nesses vales esculpidos
esculpido nas últimas dezenas de milhões de pelos rios, na região do Alto Vale do Itajaí,
anos, após sua elevação provocada pelos mo- devido a altitudes mais baixas e às condições
vimentos geológicos verticais positivos. Esse climáticas mais amenas dentro das vertentes,
planalto se estende pelo centro-norte do Es- a Floresta Ombrófila Densa avança planalto
tado de Santa Catarina e foi modelado pela adentro. Nos altiplanos, nas cotas mais altas,
erosão sobre rochas sedimentares deposita- ocorre a Floresta Ombrófila Mista, onde pre-
das no passado pelo mar, pelas geleiras, e em dominam Cambissolos (solos rasos) e condi-
lagos e planícies. Constitui hoje uma paisa- ções climáticas diferenciadas cuja temperatu-
gem escalonada e de superfície plana, cortada ra média anual permanece abaixo de 16° C.

62 | Biodiversidade Catarinense
Figura 9: Planalto
Sedimentar na região de
Dona Emma, no Alto Vale do
Itajaí, em Santa Catarina.
Foto: Bertholdo Bachmann

As Grandes Unidades da Paisagem e a Biodiversidade de Santa Catarina | 63


Figura 10: Borda do Planalto Vulcânico no Planalto Sedimentar próximo das cabeceiras do rio Canoas,
Município de Urubici, em Santa Catarina. Foto: Juarês J. Aumond

3.3 P l ana l to V u l c â nico


O Planalto Vulcânico também conhecido dos” da Serra que constituem a borda orien-
pelos geógrafos como Planalto das Araucá- tal da Serra Geral com seus cânions, como
rias, trata-se de uma área que, pela posição o Itaimbezinho e Fortaleza, entalhados pro-
geográfica e altitudes, sofre acentuada influ- fundamente na rocha vulcânica e que for-
ência das massas polares atlânticas, resultan- mam uma das paisagens mais espetaculares
do em fortes geadas e, ocasionalmente, até do Sul do Brasil (Figura 11).
curtos períodos de precipitação de neve. As Essa borda abrupta e imponente do Pla-
condições ambientais resultantes proporcio- nalto Vulcânico (Figura 11) forma uma es-
nam a essas áreas uma característica paisagís- carpa com desníveis de mais de 1000 metros,
tica e ecológica determinante na sua biogeo- denominada de “cuesta” constituindo uma
grafia. (Figura 10). verdadeira barreira ecológica que impede que
O planalto basáltico na região sul/sudeste muitas espécies de animais e plantas a trans-
de Santa Catarina é limitado pelos “Apara- ponham.

64 | Biodiversidade Catarinense
Figura 11: Escarpa da Serra Geral, destacando os derrames de lavas basálticas com seus cânions, no
Parque Nacional dos Aparados da Serra (ICMBio), na divisa entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Foto: Juarês J. Aumond

O ar úmido, aquecido nas partes baixas, morfológicas diferenciadas, os solos do Pla-


ascende até as bordas da Costa da Serra e nalto Vulcânico Central e do Oeste podem
pode provocar as chamadas chuvas orográfi- ser variados, incluindo Latossolos do oeste,
cas ou densos nevoeiros tão frequentes nessas os Cambissolos das regiões de São Joaquim,
áreas (Figura 12) e que determinam condi- Bom Jardim da Serra, Joaçaba, Concórdia,
ções climáticas, edáficas e ambientais muito Herval do Oeste, Coronel Freitas e a ter-
específicas e restritivas para a flora e a fauna. ra Roxa das regiões de Curitibanos e Lebon
No Planalto Vulcânico, ocorrem, também, Régis. Em função dos recursos limitados,
manchas de Estepe, ou campos sulinos, em estabeleceu-se uma biodiversidade campestre
geral, desenvolvidos sobre solos delgados característica, sendo hábitat de flora e fauna
(Figura 13) e expostos às baixas temperaturas específica, contrastando com a floresta de
médias, forte radiação solar e ventos inten- araucária existente nas proximidades. São
sos. Em função das condições climáticas e exemplos os campos de Lages, São Joaquim,

As Grandes Unidades da Paisagem e a Biodiversidade de Santa Catarina | 65


Figura 12: Costa da Serra esculpida pela erosão
nas rochas vulcânicas. Observar o nevoeiro que
se forma pela ascensão do ar úmido, que se
condensa à medida que atinge as partes mais
altas com temperaturas mais baixas. Parque
Nacional de São Joaquim (ICMBio), Urubici em
Santa Catarina. Foto: Juarês J. Aumond

66 | Biodiversidade Catarinense
As Grandes Unidades da Paisagem e a Biodiversidade de Santa Catarina | 67
Figura 13: Basalto encoberto por solo com pequena espessura, Parque Nacional de São Joaquim
(ICMBio), em Urubici, Santa Catarina. Foto: Juarês J. Aumond

Urubici (Figura 14), Campos Novos, Campo pos de rochas criaram grande diversidade de
Erê e Água Doce. Do ponto de vista da evo- paisagem incluindo as Serras e as Planícies
lução da vegetação, estes campos são mais Litorâneas, a Serra Geral e os Planaltos. As
antigos que as florestas do Estado. altitudes variadas criaram condições climáti-
Nos bordos da Serra do Mar e Geral, em cas diferenciadas em cada região, incluindo
pequenas áreas, ocorre também a denomina- insolação, temperatura, umidade, solos, entre
da Floresta Nebular adaptada às temperatu- outras características, que influenciaram o
ras mais frias e aos intensos nevoeiros e pre- estabelecimento dos ecossistemas atuais. Os
cipitações (Figura 15). ecossistemas e a sua biodiversidade atual re-
No oeste de Santa Catarina, nas altitudes sultaram de um grande número de variáveis
mais baixas dos rios Peperi-Guaçú, Antas, abióticas e bióticas que interagiram espacial e
Chapecó, Irani, Jacutinga, Peixe, Canoas e temporalmente. Como resultado desses fato-
Pelotas, bem como às margens do rio Uru- res, a vida evoluiu até se expressar na forma
guai, onde ocorrem condições climáticas di- como se conhece hoje. Portanto, a biodiver-
ferenciadas, com temperaturas médias mais sidade existente hoje no território catarinense
elevadas predomina a Floresta Estacional é consequência dos fenômenos geológicos e
Decidual. climáticos, bem como dos processos de evo-
Os movimentos geológicos de milhões lução orgânica, ocorridos ao longo de mi-
de anos passados, agindo sobre diferentes ti- lhões de anos.

68 | Biodiversidade Catarinense
Figura 14: Estepe ou campo sulino com sua vegetação herbácea e arbustiva, Parque Nacional de São
Joaquim (ICMBio), em Urubici, Santa Catarina. Foto: Juarês J. Aumond

Figura 15: Floresta Nebular no alto do Morro da Igreja, Parque Nacional de São Joaquim (ICMBio), em
Urubici, Santa Catarina. Foto: Juarês J. Aumond

As Grandes Unidades da Paisagem e a Biodiversidade de Santa Catarina | 69


Foto: Lucia Sevegnani / Parque Nacional da Serra do Itajaí (ICMBio)
C a p í t u l o 4

A Vegetação no Contexto
Brasileiro e Catarinense:
uma Síntese
L ucia S evegnani 1
E dson S chroeder 2

P ara conhecer a biodiversidade


de uma região, é possível par-
tir de diversas escalas, desde
ecossistemas, como uma flo-
resta ou um bioma como o Mata Atlântica.
Na presente obra, decidiu-se efetuar bre-
ve caracterização da vegetação brasileira
para, em seguida, focarmos no Estado de
Santa Carina e, após, subdividi-lo em três
regiões: a Vertente Litorânea, o Planalto
Central e o Oeste. Desta forma, objetiva-
-se aproximar professores e estudantes das
características da biodiversidade presente
na região em que vivem.

4.1 V egetação B rasi l eira


No intuito de contextualizar o Estado de 26 Estados e o Distrito Federal, 5.560 muni-
Santa Catarina dentro do Brasil, apresenta- cípios, com 193 milhões de habitantes, 83%
mos alguns dados geográficos. O Brasil, com urbanos, de acordo com o Instituto Brasileiro
seu território de 8.515.767 km2, atualmente de Geografia e Estatística (IBGE, 2013).
está coberto por vegetação florestal em cerca Em 2004, o IBGE propôs a divisão da ve-
de cinco milhões de quilômetros quadrados; getação do território brasileiro em seis bio-
o território está dividido politicamente em mas, quais sejam: Amazônia, Cerrado, Mata

SEVEGNANI, L.; SCHROEDER, E. A vegetação no contexto brasileiro e catarinense: uma síntese. In: SEVEGNANI, L.;
SCHROEDER, E. Biodiversidade catarinense: características, potencialidades e ameaças. Blumenau: Edifurb, 2013, p. 70-91.

1 Doutora em Ecologia, bióloga, professora e pesquisadora na Universidade Regional de Blumenau – FURB


2 Doutor em Educação Científica e Tecnológica, biólogo, professor e pesquisador na Universidade Regional de Blumenau – FURB.

Biodiversidade Catarinense | 71
Atlântica, Caatinga, Pampa e Pantanal (Fi- uma fauna e outros organismos vivos as-
gura 1), nem sempre obedecendo ao conceito sociados, e de outras condições ambien-
de bioma apresentado por Coutinho (2006). tais, como a altitude, o solo, alagamentos,
Coutinho (2006, p. 6) faz uma revisão e o fogo, a salinidade, entre outros.
apresenta as diferentes concepções do con- Como pode ser observado na Figura 1, o
ceito de bioma e sintetiza: Brasil apresenta duas grandes áreas flores-
Bioma é uma área do espaço geográfico, tais: a amazônica e a atlântica. Estas duas
com dimensões de até mais de um milhão são separadas por uma diagonal de vegeta-
de quilômetros quadrados, que tem por ção não florestal: a Caatinga, o Cerrado e
características a uniformidade de um ma- o Pantanal. No extremo sul do país, outra
croclima definido, de uma determinada área de vegetação não floresta: a Pampa.
fitofisionomia ou formação vegetal, de Na literatura científica, em geral, os bio-

Figura 1: Biomas continentais brasileiros (IBGE, 2004)

72 | Biodiversidade Catarinense
mas abrangem a vegetação com semelhan- (49,29% do Brasil) (Figura 3a); o Cerrado,
te fisionomia e subordinada a semelhante com 2.036.448 km 2 (23,92%) (Figura 3b); o
clima, independente de que continente essa Mata Atlântica, abrangendo 1.110.182 km 2
ocorra. Os biomas mundiais são: Tundra. (13,04%) (Figuras 2 e 3c); o Caatinga, com
Floresta de Coníferas, Floresta Temperada, 844.453 km 2 (9,92%) (Figura 3d); o Pam-
Floresta Tropical, Savana, Deserto e Es- pa, cobrindo 176.496 km 2 (2,07%) (Figura
tepe. No entanto, o IBGE (2004) decidiu 3e) e o Pantanal com 150.355 km 2 (1,76%)
subdividir a vegetação brasileira em seis (Figura 3f ) (IBGE, 2004). Cada bioma é
biomas (Figura 1) tendo em vista a aplica- composto por diferentes regiões fitoeco-
ção de políticas voltadas à conservação. lógicas, que no Brasil podem ser florestas,
A área territorial de cada bioma é di- campinarana, savana ou estepe (IBGE,
ferente: o Amazônia, com 4.196.943 km 2 1992; 2012).

Figura 2: Bioma Mata Atlântica no contexto brasileiro, segundo limites estabelecidos


pela LEI Nº 11.428, de 22 de dezembro de 2006. Fonte: MMA (2010)

A Vegetação no Contexto Brasileiro e Catarinense: uma Síntese | 73


A B

C D

E F
Figura 3: Biomas brasileiros: a) Amazônia - floresta e rio, Pará. Foto: Charles G. B oudreault; b) Cer-
rado em Goiás. Foto: Daniela S. M ayorca; c) Mata Atlântica - PARNA Serra do Itajaí (ICMBio), Santa
Catarina. Foto: Lucia Sevegnani; d) Caatinga - Santa Cruz, Rio Grande do Norte. Foto: Rita S. Furukava;
e) Pampa - Quaraí, Rio Grande do Sul. Foto: P riscila P. A. Ferreira; f) Pantanal - Mato Grosso do Sul.
Foto: Tiana M. C ustódio

74 | B i o d i v e rsida de Cata rine nse


Não há consenso entre os pesquisadores e Eucalyptus e até mesmo pomares de maçã
brasileiros em relação à denominação de bio- (Malus) não são considerados vegetação, pois
mas e os limites propostos por esse mapa (Fi- são plantios.
gura 1). Independente dos nomes e de suas As florestas podem ser ombrófilas - ou
circunscrições, os biomas abrigam a imensa pluviais, ou seja, submetidas a um clima com
biodiversidade brasileira. No caso do bioma frequentes e intensas precipitações de chuva,
Mata Atlântica foram registradas 15.782 es- bem distribuídas ao longo do ano; ou estacio-
pécies de plantas sendo 45% delas endêmicas, nais – ou sazonais, ou seja, submetidas a um
ou seja, exclusivas deste (STEHMANN et al., clima com uma estação chuvosa e outra seca;
2009; RIO DE JANEIRO, 2013). ou uma quente e outra fria. Nas florestas esta-
Para maiores informações sobre conceitos cionais é comum a perda de folhas (deciduida-
fitogeográficos e a classificação da vegetação de) na estação desfavorável ao desenvolvimen-
brasileira em uso, sugere-se consulta ao Ma- to da planta, que pode ser desencadeada por
nual Técnico da Vegetação Brasileira (IBGE, seca ou frio. Quando a deciduidade das folhas
2012), disponível na internet. Possivelmente, é superior a 50% das espécies que compõem o
nos próximos anos haverá novas proposições dossel da floresta, ela é chamada de Decidual.
de nomenclatura para a vegetação brasileira, Com base no IBGE (1992), as Florestas
utilizando ampla base de dados de espécies, Ombrófilas podem se subdividir em Densa,
de ecossistemas, coadjuvado pelos avanços Aberta ou Mista. Densa quando o conjunto
no sensoriamento remoto, utilizando ima- das copas é contínuo, formando dossel; Mista
gens de satélites para analisar a vegetação, quando na composição da vegetação há pre-
não somente abrangendo o Brasil, mas toda sença de grupos de plantas com origem aus-
a América do Sul. tralásicas (com Araucaria e Drimys) e elemen-
De acordo com o IBGE (2012) as classes tos florísticos afroasiáticos (com o Podocarpus),
de formação presentes no território brasileiro e; Aberta quando as árvores são afastadas e
são florestas, campinarana, savana, savana- no entremeio há conjunto de palmeiras ou de
-estépica e estepe (IBGE, 2012), destas desta- trepadeiras, esta última tipologia não ocorre
cam-se na presente obra, por sua presença em em Santa Catarina.
Santa Catarina, as florestas e a estepe. Estepe – tipo de vegetação predomi-
Florestas - conjuntos vegetacionais domi- nantemente campestre da zona temperada,
nados por árvores (com mais de 30 m de al- com precipitação pluviométrica distribuí-
tura) e compostas por quatro ou mais sinúsias da ao longo de todo o ano, e com grande
- conjuntos de formas de vida que exploram parte do ano com temperaturas médias em
recursos semelhantes (IBGE, 1992). De modo torno de 15º C. A Estepe se estende des-
simplificado, pode-se dizer que as florestas de as imediações de Ponta Grossa (PR) na
são conjuntos formados, principalmente, por latitude de 25º Sul, até o extremo sul do
árvores, arvoretas, arbustos e ervas e estas país, onde se integram aos extensos Pam-
compõem os diferentes estratos da vegetação. pas sul-americanos. Compreendem, por-
O Inventário Florístico Florestal de Santa tanto, os campos de cima serra, no Planalto
Catarina considerou como floresta a vegeta- das Araucárias no Paraná, Santa Catarina e
ção nativa que apresentou altura total a partir Rio Grande do Sul e também inclui a cam-
de dez metros e área basal igual ou superior panha e a depressão central gaúcha, IBGE
a dez metros quadrados por hectare (VI- (2012). Pillar et al. (2009) denominam esta
BRANS et al., 2012a). As plantações de Pinus vegetação de campos sulinos.

A Vegetação no Contexto Brasileiro e Catarinense: uma Síntese | 75


Figura 4: Estado de Santa Catarina com as divisões dos municípios. Elaborado por Débora V. Lingner (IFFSC)

OESTE

FED FOM E FOM FOD F

76 | Biodiversidade Catarinense
4.2 V egetação de S anta C atarina
O Estado de Santa Catarina compreen- ao longo dos Capítulos 5, 6 e 7. Reis et al.
de uma área de 95.736 km 2 , cuja capital é (2011) listam para Santa Catarina 6.500 es-
Florianópolis, sendo constituído por 293 pécies de plantas.
municípios (Figura 4), com população de Há também ecossistemas associados à
6.248.436 habitantes, 84% residindo em Floresta Ombrófila Densa, resultantes da
área urbana e 16% na área rural, segundo o ação do Oceano Atlântico sobre a costa,
censo 2010 do IBGE. Este Estado encon- denominados de Formação Pioneira com
tra-se totalmente inserido no bioma Mata Influência Fluviomarinha - manguezal (Fi-
Atlântica. gura 8e) e de Formação Pioneira com Influ-
Em Santa Catarina o bioma Mata Atlân- ência Marinha - restinga (Figura 8f ) (IBGE,
tica está representado por quatro regiões 2012). A partir do Inventário Florístico Flo-
fitoecológicas (IBGE, 1992) (Figuras 5, 6): restal de Santa Catarina, a cobertura flores-
Floresta Ombrófila Densa ou Floresta Plu- tal do Estado é de 29% (VIBRANS et al.,
vial Atlântica (Figura 8a); Floresta Ombró- 2012a) (Figura 7), predominando vegetação
fila Mista ou Floresta com Araucária (Fi- em estádio de sucessão avançado e médio.
gura 8b); Floresta Estacional Decidual ou Isso significa que a quase totalidade dos re-
Floresta Subtropical da Bacia do Uruguai manescentes florestais atuais resultam do
(Figura 8d); e Estepe (LEITE, 2002; IBGE, crescimento da vegetação após o corte raso
2012) ou Campos Sulinos (PILLAR et al., ou do intenso processo de exploração ma-
2009), (Figura 8c), as quais serão detalhadas deireira ocorrido no século XX (Figura 9).

LESTE

FED FOM E FOM FOD FP

Figura 5: Perfil ideal da distribuição da vegetação Oeste – Leste aproximadamente na latitude 27° Sul, no
Estado de Santa Catarina. FED - Floresta Estacional Decidual; FOM - Floresta Ombrófila Mista; E - Este-
pe; FOD - Floresta Ombrófila Densa e FP - Formações Pioneiras. Desenho: Lucia Sevegnani.

A Vegetação no Contexto Brasileiro e Catarinense: uma Síntese | 77


Figura 6: Localização das regiões fitoecológicas em Santa Catarina, baseado em Klein (1978).
Elaborado por Débora V. Lingner (IFFSC)

Figura 7: Distribuição dos remanescentes florestais com mais de 10 ha, tomando por base o Atlas de
Remanescentes, 2008 (SOSMA; INPE, 2009) em Santa Catarina. Elaborado por Débora V. Lingner (IFFSC)

78 | Biodiversidade Catarinense
A B

C D

E F
Figura 8: Regiões Fitoecológicas e Formações Pioneiras de Santa Catarina: a) Floresta Ombrófila Densa,
Parque Nacional Serra do Itajaí (ICMBio); b) Floresta Ombrófila Mista. Fotos: Lucia Sevegnani; c) Estepe
em Bom Jardim da Serra. Foto: Márcio Verdi; d) Floresta Estadual Decidual, no rio Pelotas. Foto: Miriam
Prochnow; e) Formação Pioneira de Influência Fluviomarinha (manguezal) em Florianópolis. Foto: Tiago J.
Cadorin; f) Formação Pioneira de Influência Marinha (restinga), Florianópolis. Foto: Lucia Sevegnani.

A Vegetação no Contexto Brasileiro e Catarinense: uma Síntese | 79


Com o intuito de tornar o conteúdo rados, importantes reservatórios de água
deste livro mais contextualizado para os subterrânea (SANTA CATARINA, 2012),
professores das diferentes partes do Es- conforme a Figura 10. Para maior entendi-
tado, este foi dividido arbitrariamente em mento do conceito e limites de uma bacia
três regiões com características marcantes, hidrográfica, ver Box 1.
usando como limite os divisores de água Santa Catarina teve ao longo da sua
das bacias hidrográficas: a Vertente Atlân- história o trabalho atento e primoroso de
tica, o Planalto Central e o Oeste (Figu- naturalistas viajantes ou residentes que
ra 6). Essa divisão, abordada no presente registraram as espécies e as tipologias de
capítulo e nos seguintes, leva em conta a vegetação aqui existentes. Dentre as inves-
posição geográfica de cada região dentro tigações efetuadas far-se-á destaque ao na-
do Estado, com limites determinados por turalista Fritz Müller (ver Box 2), conside-
conjuntos de regiões hidrográficas. rado por Charles Darwin como “príncipe
Para efeito de planejamento e definição dos observadores da natureza do Brasil”.
de políticas, as bacias do Estado foram Inicialmente a caracterização da ve-
reunidas em dez regiões hidrográficas, getação de Santa Catarina foi feita ex-
podendo agrupar grandes e pequenas ba- clusivamente através de levantamentos
cias próximas e, sob estas regiões, encon- de campo efetuados ao longo de décadas
tram-se os aquíferos porosos e os fratu- como os desenvolvidos pelos botânicos

Foto 9: Pátio de madeireira repleto de troncos de canela-preta (Ocotea catharinensis) em 1986,


em Ibirama. Foto: Lucia Sevegnani

80 | Biodiversidade Catarinense
Figura 10: Regiões hidrográficas de Santa Catarina e aquíferos subterrâneos. Fonte: Santa Catarina (2012)

Dr. Raulino Reitz e Dr. Roberto Miguel Consorciando levantamentos de campo


Klein, que resultaram no maior estudo da com tecnologias de sensoriamento remo-
f lora e vegetação até hoje empreendido to, foi desenvolvida importante pesquisa
no Brasil (ver Box 3). No entanto, o aper- científica no Estado pela Universidade
feiçoamento das tecnologias de senso- Regional de Blumenau, de 2005 a 2013 -
riamento remoto, utilizando imagens de o Inventário Florístico Florestal de Santa
satélite, tem trazido importantes contri- Catarina, conforme detalhado no Box 5.
buições no entendimento da distribuição Esse trabalho possibilitou atualizar as in-
da vegetação no Estado e no continente formações levantadas pelos pesquisadores
sul americano, porém, estas precisam ser Reitz e Klein sobre as espécies, a quanti-
suportadas por informações advindas do dade e qualidade das florestas, bem como
campo (ver Box 4). seu estado de conservação.

A Vegetação no Contexto Brasileiro e Catarinense: uma Síntese | 81


BOX 1

B A C I A S H I D R O G R Á F I C A S
B eate F rank

O
Doutora em Engenharia de Produção, física, professora aposentada da Universidade Regional de Blumenau,
especialista em Gestão de Recursos Hídricos

território catarinense fluviais. Os cursos d´água não


é repartido em 23 abrigam um único ecossistema.
bacias hidrográficas, Eles são segmentados
que são as áreas longitudinalmente em cabeceira,
de drenagem dos 23 principais curso superior, curso médio
rios que cortam o Estado, e curso inferior, sendo que
percorrendo-o das nascentes cada um destes trechos de rio
até a respectiva foz. Resultante abriga, geralmente, um conjunto
das características físicas da diferente de espécies aquáticas,
bacia hidrográfica, notadamente em decorrência das distintas
seu relevo e dinâmica da água, condições físicas e bióticas.
ela é um espaço geográfico
que reúne e articula diversos
compartimentos naturais. O que une ou articula todos os
compartimentos naturais de uma
Em uma bacia hidrográfica bacia hidrográfica é a água, ou
tipicamente catarinense podem ser melhor, o escoamento da água
distinguidos seis compartimentos: através de toda a área da bacia
campos, floresta em relevo até alcançar os rios. Ao escoar,
acentuado (cabeceiras), floresta em a água transporta nutrientes,
relevo levemente ondulado, floresta sementes, solo e poluentes até
em planície não inundável, zona os rios. Por isso, a gestão da água
ripária (áreas sujeitas à inundação) requer conhecimento amplo e
podendo ser cobertas por florestas integrado da bacia hidrográfica e
ou outros tipos de vegetação, e dos fenômenos que nela ocorrem.
os cursos d´água (vide figura).
As zonas ripárias envolvem os
rios em toda a sua extensão, Tendo em vista a disponibilidade
constituindo um ecótono entre de água em quantidade e qualidade
os ecossistemas terrestres e os para atender as necessidades das

82 | Biodiversidade Catarinense
E A B I O D I V E R S I D A D E

Cursos d’água
Zona ripária (áreas de inundação)
Floresta em planície não inundável
Floresta em relevo levemente ondulado
Floresta em relevo acentuado (cabeceiras)
Campos

Representação de uma bacia hidrográfica destacando seus compartimentos. Desenho: Mauricí Imroth

comunidades rurais ou urbanas Estas não são tarefas simples,


que vivem na bacia hidrográfica, muito menos tarefas individuais
as questões que emergem no ou setoriais. Elas ultrapassam os
processo de gestão da água limites de propriedades, de bairros
incluem: conservar, recuperar ou até de municípios. Trata-se de
ou manejar melhor (1) as áreas tarefas coletivas, pois requerem
mais frágeis do ponto de vista decidir sobre recursos naturais
ecológico ou geológico, (2) as públicos e compartilhados, dos
áreas mais importantes do ponto quais depende toda a vida.
de vista da recarga dos aquíferos Os Comitês de Bacia Hidrográfica,
ou da proteção das nascentes, como órgãos colegiados regionais,
(3) as áreas mais relevantes em são foros privilegiados para
termos de atividades poluidoras. decidir sobre essas questões.

A Vegetação no Contexto Brasileiro e Catarinense: uma Síntese | 83


BOX 2

M Ü L L E R , O I N C R Í V E L F R
L auro E duardo B acca

S
Mestre em Ecologia, biólogo, professor aposentado da Universidade Regional de Blumenau,
ex-diretor do Museu de Ecologia Fritz Müller

ólida formação como ficou conhecido nos mais


acadêmica e científica e respeitados círculos científicos de
embasamento técnico, sua época. Nosso naturalista maior
uma vida inteira nasceu na Alemanha em 31/03/1822,
dedicada ao estudo do ambiente de onde migrou para o Brasil, em
natural, com inteligência e astúcia 1852, já diplomado Doutor em
ímpares na observação da dinâmica Filosofia e concluído o curso de
da natureza são características do Medicina. Ele se fixou na Colônia
Dr. Fritz Müller. Este possuidor de Blumenau vivendo como simples
caráter franco, honesto, contundente colono. Já naturalizado brasileiro, por
até, surpreendentemente humilde, 11 anos lecionou em Desterro (atual
características estas incomuns. Florianópolis) onde desenvolveu uma
O maior estudioso da mata de suas maiores obras científicas,
atlântica, até hoje imbatível no Brasil, “Fatos e argumentos pró-Darwin”,
no dizer do paulistano Luiz Fontes; cuja tradução do alemão para o
mestre inigualável no estudo das Inglês foi iniciativa do próprio Darwin.
interações na natureza, conforme De volta à Blumenau fixou-se por
o alemão Christian Westerkamp; 30 anos às margens do rio Itajaí até
príncipe dos observadores da próximo à sua morte, tempo em
natureza do Brasil, segundo ninguém que literalmente mergulhou fundo
menos que Charles Darwin; o maior no estudo da Floresta Atlântica.
naturalista do Brasil, na opinião do Resultaram dessa profícua existência
respeitadíssimo zoólogo americano cerca de 250 trabalhos científicos.
Ernst Mayr ou, simplesmente, “um Sua vida e sua obra continuam
grande cientista, pesquisador da despertando interesse científico
natureza, que viveu em Blumenau e e histórico, mesmo depois de 115
que se correspondia com Darwin”, anos de sua morte, acontecida
segundo o tradutor de suas em 1897. É impossível tratar de
cartas com Darwin, Cezar Zillig. sua obra neste curto espaço, mas
Tudo isso tem um nome: quem a conhece pode dizer que
Johann Friedrich Theodor Müller, as opiniões acima mencionadas
ou, simplesmente, Fritz Müller, estão absolutamente corretas!

84 | Biodiversidade Catarinense
I T Z D O L E S T E

Residência e atual Museu de Ecologia Fritz Müller em Blumenau, Santa Catarina; o naturalista em
diferentes idades. Fotos: arquivo do Museu de Ecologia Fritz Müller

A Vegetação no Contexto Brasileiro e Catarinense: uma Síntese | 85


BOX 3

TRIBUTO AO Pe. R AULINO REITZ


V anilde C itadini Z anette
Doutora em Botânica, bióloga, professora da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC,

O
curadora do Herbário Dr. Pe Raulino Reitz

conhecimento da vegetação Rio de Janeiro (1971-1975) e da Funda-


do Estado de Santa Catarina ção do Meio Ambiente de Santa Catari-
deve muito aos botânicos na – FATMA (1976-1983), além de Editor
Dr. Pe. Raulino Reitz e Dr. da Revista Flora Ilustrada Catarinense.
Roberto Miguel Klein, do Herbário Bar- Entre vários prêmios recebidos pelos
bosa Rodrigues (HBR) de Itajaí, SC, que relevantes trabalhos realizados destaca-
efetuaram levantamento histórico da -se o Prêmio Global 500, concedido pelo
vegetação de Santa Catarina de 1946 a PNUMA (Programa das Nações Unidas
1990, que resultou na publicação intitula- para o Meio Ambiente), na Cidade do
da Flora Ilustrada Catarinense (FIC). O es- México, em 1990. Seu nome foi lembra-
forço para efetuar coletas botânicas em do em três gêneros e 59 espécies. O
locais, muitas vezes, de difícil acesso foi emérito botânico foi homenageado, em
compensado, pois propiciou grande avan- 1992, pela Universidade do Extremo Sul
ço no conhecimento da flora catarinense, Catarinense (UNESC), em Criciúma, que
resultando na publicação dos fascículos atribuiu seu nome ao herbário - Herbário
da FIC, cujas identificações e classifica- Pe. Dr. Raulino Reitz, acrônimo (CRI).
ções contaram com a contribuição de O Dr. Roberto Miguel Klein nasceu em
pesquisadores nacionais e internacionais. 31/10/1923, em Montenegro, Rio Gran-
Até 2011 foram descritas na FIC 3.784 es- de do Sul, casou-se com Maria Marta
pécies, pertencentes a 929 gêneros e 159 Hildebrand Klein (Dona Martinha), com
famílias, publicadas em 189 fascículos e a qual teve três filhos, vindo a falecer
envolvendo 15.008 páginas (REIS; FREI- em 13/11/1992, aos 69 anos de idade.
TAS; CURY, 2011). Trabalho hercúleo me- Doutor em Botânica (subárea Ecologia)
recedor de perene reverência e gratidão. foi um dos idealizadores e professor da
Pe. Raulino Reitz nasceu em 19/09/1919, FEPEVI (hoje UNIVALI – Itajaí/SC), FURB
em Antônio Carlos, Santa Catarina e (Universidade Regional de Blumenau
faleceu 19/11/1990, aos 71 anos de - Blumenau/SC), Universidade Fede-
idade. Doutor em Botânica Sistemá- ral de Santa Catarina (Florianópolis/
tica descobriu para a ciência cinco SC) e Universidade Federal do Paraná
gêneros e 327 espécies; publicou (Curitiba/PR). Foi Curador do Herbário
45 livros e 114 artigos científicos. Barbosa Rodrigues e Chefe da equipe
Suas ações deram origem a várias ecologia, secção Santa Catarina, do
Unidades de Conservação no Estado de Instituto de Malariologia, para a erra-
Santa Catarina. Foi fundador do Herbário dicação da malária no Sul do Brasil.
Barbosa Rodrigues – HBR, sediado em Elaborou mapas de vegetação dos três
Itajaí, SC, diretor do Jardim Botânico do estados sulinos, contribuindo decisi-

86 | Biodiversidade Catarinense
E ROBERTO MIGUEL KLEIN

B
C
A

a) Herbário Barbosa Rodrigues em Itajaí, SC. Foto: Lucia Sevegnani;


b) Dr. Pe. Raulino Reitz e Dr. Roberto Miguel Klein, nos Andes.
Foto: Autor desconhecido; c) Roberto Miguel Klein (com chapéu)
em curso de campo, em 1989. Foto: L auro E. Bacca

vamente nos levantamentos e mapea- Seus estudos ecológicos culminaram


mentos do Projeto RADAM BRASIL. com a publicação do trabalho “Ecologia
Notabilizou-se como professor de Botâ- da flora e vegetação do Vale do Itajaí”,
nica e pesquisador da ecologia das flo- que aborda descrição, estrutura e dinâmi-
restas e das espécies nativas de Santa ca das comunidades vegetais da região.
Catarina, cujas informações ecológicas Foi autor de mais de 160 trabalhos publi-
detalhadas estão publicadas nos fascícu- cados em revistas do Brasil e do exterior.
los da FIC, única flora com observações Condecorado, junto com Pe. Raulino
ecológicas de cada espécie. Grande Reitz, com o prêmio Global 500 do PNU-
conhecedor da Mata Atlântica dedicou-se MA. Teve também seu nome eternizado
a coletar plantas arbóreas do Sul do Brasil em 36 espécies botânicas novas para a
e registrar informações sobre taxonomia, ciência. Foi homenageado pela Univer-
dendrologia e ecologia das espécies e sidade Regional de Blumenau, com a
suas estratégias reprodutivas, que per- designação do Herbário Dr. Roberto Mi-
mitiram desenvolver conceitos sobre guel Klein (FURB), que conta com 40.000
o manejo das florestas catarinenses. amostras de plantas de Santa Catarina.

A Vegetação no Contexto Brasileiro e Catarinense: uma Síntese | 87


BOX 4

IMAGENS DE SATÉLITE COMO INSTRUMEN


J ulio C esar R efosco
Doutor em Ciências Humanas, engenheiro florestal, professor e pesquisador na Universidade Regional de Blumenau - FURB

D esde a invenção da
fotografia, no início do
século 19, até o lançamento
dos globos virtuais, as
técnicas de visualização da Terra,
conhecidas como sensoriamento
remoto tiveram um avanço notável,
engineering.purdue.edu/~biehl/
MultiSpec/> e SPRING <www.
inpe.br>). As imagens, elas próprias
podem ser adquiridas facilmente
através de páginas especializadas,
como por exemplo: <www.cbers.
com.br>, página do satélite brasileiro
especialmente nas últimas décadas. de sensoriamento remoto.
As imagens de satélite e as imagens Florenzano (2011) se propõe a
aéreas configuram uma ótima facilitar a iniciação na tecnologia de
ferramenta para apoiar os estudos informações sobre a Terra. Neste livro
de meio ambiente, ecologia e a autora demonstra que as técnicas
biodiversidade. Através da informação envolvidas no uso de imagens aéreas
presente nestas imagens é possível e orbitais não são simples, mas
identificar e analisar a superfície também não é um bicho-de-sete-
terrestre, a atmosfera, as águas, cabeças. Basicamente as imagens são
os oceanos. É possível identificar produzidas por câmeras a bordo de
componentes, fenômenos e estados. E aviões ou satélites, que captam a cena
também ter uma visão geral de grandes através do registro das quantidades de
áreas, como o Parque Nacional da Serra energia refletida ou absorvida pelos
do Itajaí (Figura 1) no Vale do Itajaí, SC; materiais presentes na superfície
um Estado inteiro ou mesmo, aproximar terrestre, um pouco abaixo dela (solo
para visualizar a copa de uma árvore. ou primeiras camadas de água) ou
Atualmente está à disposição grande um pouco acima dela (atmosfera).
número de produtos para usuários finais O usuário interpreta estes dados
de imagens, muitos deles gratuitos e e faz, assim, análises que geram
outros não. Os globos virtuais são os informações sobre, dentre outros,
produtos mais acessíveis (Nasa World a atmosfera e seus componentes,
Wind, Google Earth, Google maps, sobre as áreas antropizadas, sobre o
Bing Maps) tendo como principal solo e as águas, seus componentes
característica a facilidade e simplicidade e suas características e sobre os
de uso. As imagens de satélite e aéreas recursos naturais. Os estudos podem
são produtos que requerem algum abordar, por exemplo, análises de
conhecimento para sua utilização, alteração da vegetação ao longo
mas acessíveis, através de tutoriais do tempo, tanto a supressão
disponíveis (Multispec <https:// quanto a recuperação, análises de

88 | Biodiversidade Catarinense
NTO PARA REGISTRAR A BIODIVERSIDADE

Imagem do satélite SPOT4 de 2005 tendo ao centro o Parque


Nacional da Serra do Itajaí, delimitado por linha preta. Na
cor azul clara áreas de solo exposto ou áreas urbanas, como
Blumenau ao norte e Brusque a leste. Observa-se a área de
pastagem no centro do PARNA Serra do Itajaí (ICMBio) e a
ocorrência de áreas agrícolas ou reflorestamentos mais próxi-
mos dos seus limites. A área branca a noroeste é uma nuvem.

distribuição espacial de vegetação, a presença de determinadas espécies.


de ecossistemas e de biomas ou Mas, é importante destacar que,
de outras estruturas perceptíveis, as pesquisas que utilizam imagens
como o estado de conservação das normalmente são fundamentadas em
florestas, a ocorrência de queimadas. estudos realizados em campo, com
Estudo de características estruturais a presença dos pesquisadores no
da vegetação como, por exemplo, a local observado na imagem, para a
quantidade de biomassa e de carbono, coleta de informações ou a verificação
a sua distribuição horizontal e vertical, das observações realizadas.

A Vegetação no Contexto Brasileiro e Catarinense: uma Síntese | 89


BOX 5

O I N V E N TÁ R I O F L O R Í S T I C O F L O R E S
A lexander C hristian V ibrans

O
Doutor em Geografia, engenheiro florestal, professor e pesquisador na Universidade Regional de Blumenau – FURB;
coordenador do IFFSC

s resultados do Inventário a definição de ações prioritárias.


Florístico Florestal de Santa
Catarina (IFFSC) mostram
um retrato preocupante das
1 A cobertura florestal remanescente
em Santa Catarina atualmente é de
aproximadamente 29%, considerando
florestas catarinenses, ou melhor, do como florestas formações florestais com
que restou delas (disponível em: www. mais de 10m de altura e mais de 15 anos
iff.sc.gov.br). Muitas constatações não de idade. Esta cobertura varia entre 8%
são novas e já tinham sido observadas no extremo oeste catarinense e 60%
anteriormente, embora a sociedade em algumas regiões da Floresta Ombró-
disponha agora de informações atuali- fila Densa na parte oriental do Estado.
zadas, representativas e abrangentes
acerca do estado dos recursos florestais.
Medidas concretas são necessárias para
2 Considerando as três regiões fi-
toecológicas de Santa Catarina,
a Floresta Estacional Decidual apre-
enfrentar e tentar reverter algumas das senta cobertura de 16%, as florestas
tendências mais alarmantes. Essas medi- com Araucária do Planalto (Floresta
das precisam ser definidas e compor um Ombrófila Mista) 24% e a Floresta
novo escopo para uma política que, num Ombrófila Densa, também chamada
sentido amplo, garanta a sobrevivência Floresta Pluvial Atlântica, entre a Serra
das florestas, a manutenção e a recupe- Geral e Serra do Mar e a costa, 40%.
ração, onde necessária, de suas múltiplas
e benéficas funções para a sociedade.
Este projeto contou com uma equipe de
3 Apesar da grande diversidade geral
existente no Estado (2.372 espécies
de plantas vasculares foram encon-
150 pessoas entre técnicos e cientistas, tradas, representando cerca de 40%
com custo de quatro milhões de reais de todas as espécies do bioma Mata
(um dólar americano = 2 reais), sendo Atlântica), os remanescentes florestais
executado pela Universidade Regional de são empobrecidos: em média, apenas
Blumenau (FURB), Universidade Federal 30 a 50 espécies lenhosas são presen-
de Santa Catarina (UFSC) e Empresa de tes nas florestas amostradas, quando o
Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural ideal seria de 60 a 100. Na regeneração
de Santa Catarina (EPAGRI), com apoio natural ocorre uma situação mais pre-
da Fundação de Amparo à Pesquisa e ocupante: no planalto e no oeste cata-
Inovação de Santa Catarina (FAPESC) rinense foram observadas, em média,
de 2005 a 2012, e tem se tornado base apenas 15 espécies regenerantes e de
para o Inventário Florestal Nacional. sub-bosque por fragmento florestal.
A seguir são listados os principais
achados do IFFSC que formam o em-
basamento para o novo direciona-
4 Um quinto das espécies arbóreas
registradas há 50 anos pelos botâ-
nicos Raulino Reitz e Roberto Miguel
mento de uma política florestal e para Klein, publicados na Flora Ilustrada Ca-

90 | Biodiversidade Catarinense
S TA L D E S A N TA C ATA R I N A ( I F F S C )

Livros contendo os resultados do Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina, editado pela Edifurb.

tarinense (REITZ, 1965), não foram mais fragmentos florestais de Santa Catarina
observadas em 2010. Além disso, 32% terem área menor que 50 hectares.
de todas as espécies arbóreo-arbus-
tivas foram encontradas com menos
de 10 indivíduos em todo o Estado.
7 Os estudos genéticos do IFFSC mos-
tram que várias espécies importantes
sob os aspectos ecológico e/ou eco-

5 Entre as dez espécies dominantes,


encontram-se oito espécies pionei-
ras e secundárias, e apenas uma a duas
nômico apresentam baixa diversidade
genética em muitas de suas populações,
mesmo considerando fragmentos com
espécies climácicas. Desta forma, 95% populações mais densas. A situação de
das florestas são constituídas por for- fragmentação das florestas e redução
mações secundárias, florestas jovens, do tamanho populacional leva a uma
com baixo estoque de diversidade, de perspectiva de perdas ainda maiores
biomassa e de carbono. As suas árvo- de diversidade (índices de fixação de
res têm troncos finos, copas estreitas alelos elevados) para várias espécies.
e baixas, com pouco valor comercial.

6 As constantes intervenções na flores-


ta, como a exploração indiscriminada
8 O conjunto de resultados reforça as
possibilidades de perda de adap-
tabilidade e dinamismo populacional,
de madeira, roçadas e, principalmente o que traz como consequência, com
no planalto e no oeste catarinense, o o passar do tempo (gerações), grande
pastoreio de bovinos dentro da floresta, aumento no risco de extinção local.
surtiram esses efeitos. Eles são poten- Apesar de fragilizada, a floresta atu-
cializados pelo intensivo uso agrícola no almente presente em Santa Catarina
entorno dos remanescentes pequenos desempenha importantes funções
(quanto menor a área do remanescente, ecológicas e proveem serviços ambien-
mais suscetível ele fica às influências tais, como a proteção dos mananciais
dos impactos no entorno, como o uso e das áreas de recarga dos aquífe-
do fogo e de pesticidas, perda de umi- ros, a manutenção da biodiversidade,
dade devido à maior incidência do vento a amenização do clima e a proteção
e do sol). Pesa ainda o fato de 85% dos contra os desastres ambientais.

A Vegetação no Contexto Brasileiro e Catarinense: uma Síntese | 91


Foto: Júlio C. de Sousa Junior / Parque Nacional da Serra do Itajaí (ICMBio)
C a p í t u l o 5

A Vertente Atlântica
L ucia S evegnani 1
R udi R icardo L aps 2
E dson S chroeder 3

O
5 .1 L oca l i z ação
morador ou o turista que -organismos e inúmeros cursos d’água.
vive ou transita pela Vertente Neste capítulo, será abordado como as
Atlântica percebe os morros e florestas da Vertente Atlântica se estru-
vales, em geral, cobertos por turam, como as plantas interagem com os
floresta. Verde que para muitos é como um animais e com os micro-organismos, de-
imenso tecido estendido na paisagem, sem sempenhando funções ecológicas. Funções
grandes significados ou particularidades que estas essenciais para a qualidade de vida dos
lhe desperte os sentidos. Mas, ao observar ecossistemas e humana.
com atenção, se pode perceber diferentes No âmbito deste trabalho, será denomi-
tonalidades. Elas são resultantes das dife- nada Vertente Atlântica a área das bacias hi-
rentes espécies que compõem esta floresta drográficas cujos rios drenam para o litoral
e, no entremeio, vivem os animais e micro- do Estado de Santa Catarina (Figura 1).

SEVEGNANI, L.; LAPS, R. R.; SCHROEDER, E. A Vertente Atlântica. In: SEVEGNANI, L.; SCHROEDER, E. Biodiversidade
catarinense: características, potencialidades e ameaças. Blumenau: Edifurb, 2013, p. 92-133.

1 Doutora em Ecologia, bióloga, professora e pesquisadora na Universidade Regional de Blumenau – FURB


2 Doutor em Ecologia, biólogo, professor e pesquisador na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul - Campus Campo Grande
3 Doutor em Educação Científica e Tecnológica, biólogo, professor e pesquisador na Universidade Regional de Blumenau – FURB

Biodiversidade Catarinense | 93
Figura 1: Localização da Vertente Atlântica em Santa Catarina.
Elaborado por Débora Vanessa Lingner (IFFSC)

5.2 C ondicionantes ambientais

A Vertente Atlântica apresenta o relevo Na Vertente Atlântica catarinense o clima


mais acidentado do Estado de Santa Catarina, é bastante favorável ao desenvolvimento flo-
com pendente voltada para o Oceano Atlânti- restal. O tipo climático é Temperado, poden-
co, delimitada pela Serra do Mar ao norte (re- do este ser Subquente ou Mesotérmico. De
gião de Joinville) e mais ao centro e sul pela Garuva até Tubarão, ao longo da planície, é
Serra Geral, havendo, no entremeio, as serras Subquente Superúmido Sem Seca e ao longo
litorâneas (Capítulo 3). As altitudes podem ir das encostas e também nas planícies do sul
do nível do mar até próximo de 1.800 m. do Estado, abaixo de Tubarão, Mesotérmi-
Por sobre o relevo acidentado da Vertente co Brando Sem Seca (NIMER, 1990). Pelo
Atlântica, embasado por planícies, escoam nu- sistema de Köppen (1948), toda a Verten-
merosos córregos, ribeirões e rios pertencentes te Atlântica de Santa Catarina possui clima
às pequenas ou grandes bacias dentre as quais Temperado Úmido de Verão Quente (Cfa). O
se destacam a do Cubatão, Itapocu, Itajaí, Ti- fotoperíodo ou número de horas de luz do
jucas, Cubatão (do sul), Tubarão, Urussanga, dia é elevado, tendo o verão, em Blumenau,
Araranguá e Mampituba, no sentido norte-sul. 13 h e 50 min e o inverno 10 h e 27 min, nessa
Na Vertente Atlântica, as águas de superfície latitude.
pertencem às Regiões Hidrográficas (RH): Para esta região, as temperaturas médias
RH6 a RH10 (Capítulo 4, Figura 10). anuais podem variar. De Garuva até Florianó-

94 | Biodiversidade Catarinense
polis, na planície, varia de 22 a 20°C; nas altitu- SEVEGNANI, 2009), inundações rápidas
des entre 200 e 300 m as médias podem estar e inundações lentas (TACHINI, 2009; TA-
entre 20 e 18ºC; e acima de 400 m entre 18 e CHINI; KOBIYAMA; FRANK, 2009), re-
16°C (NIMER, 1990). Quanto maior a altitude sultando em centenas de mortes de pesso-
e distância do oceano, na Vertente Atlântica, o as, bilhões de reais em prejuízos materiais
número médio anual de dias com ocorrência de (FRANK; SEVEGNANI, 2009).
geada pode variar entre um e cinco. Os solos na Vertente Atlântica podem ser
A precipitação de chuva apresenta varia- muito variáveis em sua origem, estrutura e
ções importantes entre a parte sul e norte da fertilidade. EMBRAPA (2006) registrou: De-
Vertente Atlântica, sendo mais abundante no pósitos Fluviais e Marítimos ainda inconso-
norte. Os valores médios anuais de precipi- lidados, Neossolos, Cambissolos, Argissolos,
tação situam-se entre 2.000 L/m2 (extremo Gleissolos, Organossolos, estes distribuídos
norte) e 1.250 L/m2 ou milímetros (de Imbi- na paisagem, formando mosaicos, dependen-
tuba até Criciúma) (NIMER, 1990). A umi- tes do relevo, do processo de evolução, do teor
dade relativa do ar é elevada, com média anu- de água e da quantidade de matéria orgânica
al acima de 85%. presentes no solo. No entanto, predominam
No entanto, episódios de intensa preci- os Cambissolos e Argissolos nas encostas, e
pitação localizada, podem ocorrer havendo nas planícies, Gleissolos e Organossolos, es-
dias com 100 L/m2/dia, ou 100 mm, desen- tes geralmente em locais com maior concen-
cadeando os desastres ambientais como as te- tração de água e matéria orgânica em seu in-
midas inundações rápidas (enxurradas) e es- terior. Nesta região predominam solos ácidos
corregamentos de encostas. Quando os dias com fertilidade de baixa até média.
extremamente chuvosos são consecutivos, Portanto, conforme abordado anterior-
provocam as inundações lentas (enchentes) mente, a geologia, o relevo, o clima, o solo,
tão frequentes e conhecidas, especialmente a dinâmica da água e a história evolutiva da
no Vale do Itajaí. região propiciaram condições favoráveis para
Episódio extremo de chuvas ocorreu em a vida (ver Capítulo 3). Esta se expressa na
2008, no Leste de Santa Catarina, atingin- forma de ecossistemas, de espécies e na varia-
do mais de 40 municípios, com precipitação bilidade genética existente em cada espécie, e
de chuva entre 750 e 550 L/m2, em três dias isso é denominado de biodiversidade (CDB,
(SEVERO, 2009), com extensos e violen- 1992), com importância reconhecida e valor
tos escorregamentos de solo (AUMOND; inestimável.

5. 3 A biodi v ersidade

Cálculos aproximados da cobertura origi- la Densa com 28.558 km2 originais (restan-
nal e atual efetuado pelo Inventário Florísti- do 11.847 km2); Floresta Ombrófila Mista
co Florestal de Santa Catarina, tomando por com 8.804 km2 (restando 3.232 km2); a Es-
base o mapa fitogeográfico (KLEIN, 1978), tepe com 1.385 km2 (restando 257 km2); e
e imagens de satélite de 2010, estimaram que vegetação litorânea englobando a Formação
a Vertente Atlântica compreende área total de Pioneira com Influência Marinha (restinga),
40.150 km2, com remanescentes atuais de ve- e Formação Pioneira com Influência Fluvio-
getação (15.813 km2). marinha (manguezal) com área de 1.403 km2
Esta se subdivide em Floresta Ombrófi- (remanescendo 396 km2), conforme a Figura

A Vertente Atlântica | 95
1 e Figura 7 do Capítulo 4. Assim, a cober- ta apresentam grande número de espécies
tura florestal é formada predominantemente comuns entre as Florestas Ombrófila Mista
por vegetação secundária em estádio avan- e Densa, resultante do avanço das espécies
çado e médio de sucessão, instalada após da Densa por sob a Mista. Em alguns locais
longas décadas de exploração de madeiras, o pinheiro-do-paraná (Araucaria angustifolia)
corte raso, exploração de lenha e após aban- estava presente, às vezes formando grandes
donadas as terras, sendo permitindo o pro- agrupamentos de dezenas de milhares de
cesso sucessional, de acordo com o IFFSC árvores, como em Dona Ema, Trombudo
(SEVEGNANI et al., 2013b) Central, Vitor Meireles, Rio do Sul, Doutor
A Floresta Ombrófila Mista no interior Pedrinho, Ituporanga, Imbuia e Lauro Mül-
da Vertente Atlântica encontra-se, predomi- ler. Essa espécie pode também estar, como
nantemente, nas partes altas, especialmente elemento isolado, imerso em uma matriz
ao norte de Santa Catarina, incluindo o alto florestal com características mais tropicais.
Vale do Itajaí; no topo da Serra do Tabulei- Curiosamente, os núcleos com pinheiros-
ro; e em Lauro Müller, com uma pequena -do-paraná podiam tanto estar localizados
mancha na base da Serra Geral. na parte alta dos vales e chapadões como na
Esses núcleos de Floresta Ombrófila Mis- base desses (Figura 2a, b).

A B
Figura 2: Floresta Ombrófila Mista na Vertente Atlântica: a) No fundo de vale em Dona Emma;
b) No alto como na Área de Relevante Interesse Ecológico da Serra da Abelha (ICMBio).
Desenho e foto: Lucia Sevegnani

No entanto, ainda hoje podem ser en- Planalto Central catarinense.


contrados elementos típicos da Floresta A Estepe também está presente na Ver-
Ombrófila Mista no interior das florestas tente Atlântica, no alto Vale do Itajaí, nos
da Vertente Atlântica, além da araucária, municípios de Mirim Doce, Otacílio Costa;
o xaxim-mono (Dicksonia sellowiana), o pi- e parte alta da Serra do Tabuleiro (KLEIN,
nheiro-bravo (Podocarpus lambertii), a casca- 1978). Esta vegetação apresenta fisionomia
-d’anta (Drimys brasiliensis), a imbuia (Ocotea semelhante à Estepe do Planalto Central
porosa), entre outras. Para maiores infor- catarinense, mas a composição de espécies
mações sobre a Floresta Ombrófila Mista, pode variar. A Estepe também está deta-
deve-se consultar o Capítulo 6, que trata do lhada no Capítulo 6.

96 | Biodiversidade Catarinense
5.3.1 R egião F itoecológica da F loresta O mbrófil a D ensa

A partir de agora, é apresentada a Flores- o guamirim (Myrcia pubipetala), a licurana


ta Ombrófila Densa, vegetação que cobre o (Hieronyma alchorneoides), o cedro (Cedrela fis-
relevo desde as planícies até os mais altos silis) e a maria-mole (Guapira opposita), num
morros, montanhas e encostas das Serras do total de 569 espécies de árvores e arbustos
Mar e Geral voltados para o Oceano Atlân- amostrados pelo IFFSC (SEVEGNANI et
tico. Esta é condicionada por clima quente al., 2013b). Ainda segundo o IFFSC, no sub-
e úmido na maior parte do ano e a floresta -bosque destacam-se três espécies de xaxins
auxilia na manutenção dessas condições. Re- com elevada frequência e densidade (Also-
sultantes do clima e das florestas estão mi- phila setosa, Cyathea phalerata e Cyathea corcova-
lhões de nascentes de água: rios, em cujas densis), juntamente com os arbustos Psychotria
margens estão assentes as maiores cidades spp., Mollinedia spp. e canela-veado (Ouratea
( Joinville, Blumenau, Itajaí, Tubarão) e gran- parviflora).
de parte dos sistemas produtivos industriais Há, também, os epífitos apoiados nos
do Estado. ramos das árvores e arbustos e, enredando-
A complexa floresta (Figura 3) se caracte- -se por troncos e em meio às copas, estão as
riza por árvores que podem atingir até 35 m trepadeiras. Todo este conjunto exerce uma
de altura, formando uma estrutura com dos- importante cobertura para o solo, abrigan-
sel, composto por densas copas, entremea- do milhares de espécies de animais e micro-
da por arvoretas, arbustos e ervas (KLEIN, -organismos.
1980). Destacam-se entre as espécies arbóre- Servindo-se dos ramos das árvores como
as a canjerana (Cabralea canjerana), o tanheiro suportes estão os epífitos, constituindo den-
(Alchornea triplinervia), a canela-preta (Ocotea so tapete semelhante a um jardim suspenso,
catharinensis), a laranjeira-do-mato (Sloanea composto por bromélias, orquídeas, samam-
guianensis), a peroba (Aspidosperma australe), baias, musgos, liquens, entre outros grupos
de plantas (ver Box 1).

Figura 3: Perfil ideal da Floresta Ombrófila Densa em Santa Catarina, atingindo altura de até 35 m, com
elevada complexidade estrutural e rica em espécies. Desenho: Lucia Sevegnani

A Vertente Atlântica | 97
BOX 1

EPÍFITOS EM SANTA CATARINA -


SUA IMPORTÂNCIA E FR AGILIDADES
A nnete B onnet
Doutora em Engenharia Florestal, bióloga e pesquisadora da EMBRAPA - Pesca, Aquicultura e Sistemas Agrícolas

Abundância de epífitos na
superfície de uma árvore
na Vertente Atlântica em

E
Blumenau, Santa Catarina.
Foto: Lucia Sevegnani

pífitos são plantas que vivem alimentos, assim como acontece com as
sobre outras plantas, utilizando- plantas terrícolas. Então é fundamental para
-as apenas como suporte. Como os epífitos esta umidade, a água que escorre
exemplos, podemos citar as pela casca das árvores, a da chuva e a água
orquídeas, as bromélias e os cactos. Ao que acumula nos “tanques” das próprias
contrário da crença popular, epífitos não plantas, formados pela união da base das
são parasitas, ou seja, não se alimen- folhas, como por exemplo, em bromélias.
tam das plantas onde estão apoiadas. As bromélias, que vivem em grande
O que esse grupo representa para a quantidade na vegetação mais próxima ao
biodiversidade em Santa Catarina? A res- mar, são muito importantes para o bom
posta é: muito! Nesta região, foram ob- e completo “funcionamento” da floresta.
servadas aproximadamente 500 espécies Elas dão às florestas como que retribuições
de epífitos, principalmente orquídeas, por utilizarem as árvores como suporte. A
bromélias e samambaias, mas há também água acumulada nos tanques de um grande
representantes das aráceas, gesneriáceas, grupo de bromélias serve para saciar a sede
piperáceas e rubiáceas, além de musgos, de vários animais, como aves e macacos,
hepáticas e liquens. Esse número se asse- que ficariam muito vulneráveis aos preda-
melha ao de árvores na Vertente Atlântica. dores se necessitassem descer ao solo. As
Nas outras regiões do Estado elas tam- bromélias também servem de abrigo para
bém existem, só que em menor quantidade, animais que se deslocam pela copa das
pois de leste para oeste diminui a umidade árvores (ROCHA et al., 2004). Além disso,
do ar e a regularidade, ao longo do ano, com as flores dos epífitos servem de alimento
que ocorrem chuvas (REITZ, 1983). E os para os animais ao longo de todo o ano,
epífitos dependem da água disponível na at- fornecendo pólen e néctar, bem como as
mosfera e nutrientes que eles captam direta- partes tenras das folhas - os ‘palmitos’ do
mente do ar, pois não estão fixados no solo, centro da roseta de bromélias são arran-
que poderia servir como um reservatório de cadas por macacos para se alimentarem.

98 | Biodiversidade Catarinense
Enleadas aos troncos e ramos sobem, assim, frágeis no alto das árvores, oriundas de peque-
apoiadas, as trepadeiras com seus caules delga- nas sementes ali depositadas pelas aves. Essas
dos e resistentes, cobrindo parte das copas das enviam suas raízes para o solo, bem como ra-
árvores com sua folhagem densa e extensas ízes adventícias que formam um anel ao redor
ramificações. Das 213 espécies de trepadeiras do tronco que, aos poucos, levam à morte a ár-
registradas pelo IFFSC, destacam-se na Verten- vore hospedeira, pois esses anéis impedem que
te Atlântica o cipó-abuta (Abuta selloana), Cissus estas produzam novo floema e xilema (Figura
spp., o cipó-são-joão (Pyrostegia venusta), Dioclea 4b). Com a morte da árvore hospedeira, a fi-
sp., o pente-de-macaco (Amphilophium crucige- gueira-mata-pau utiliza o seu espaço na floresta
rum), a escada-de-macaco (Phanera microstachya), e seus nutrientes.
Ipomoea sp. (Figura 4a) e Stizophyllum riparium Há também as plantas parasitas, as quais
(SEVEGNANI et al., 2013b). inserem suas raízes diretamente no sistema de
Fazendo parte desse magnífico conjunto condução da planta hospedeira, retirando desta
encontram-se as figueira-gameleira (Ficus gomel- os nutrientes para sua subsistência. Conforme
leira), figueira-de-folha-miúda (Ficus organensis), Sevegnani et al. (2013b), são exemplo as ervas-
figueira (Ficus luschnathiana, F. guaranitica); mal- -de-passarinho (Figura 4d) (Struthanthus polyrhi-
vácea - mata-pau-de-espinho (Spirotheca passiflo- zus, S. vulgaris e Tripodanthus acutifolius) que reti-
roides) e urticáceas, figueira-mata-pau (Coussapoa ram seiva bruta do xilema, e as menos comuns,
microcarpa). Estas plantas constrictoras nascem os cipós-chumbo e as balanoforáceas, que não

A B C

D E F
Figura 4: Sinúsias da floresta: a) Trepadeira (Ipomoea sp.); (b) Figueira-mata-pau (Ficus gomelleira) cons-
trictando a árvore hospedeira garajuva (Buchenavia kleinii) e também um palmiteiro (Euterpe edulis).
Observar as raízes adventícias transversais, emitidas pela figueira; c) Planta holoparasita (Lophophytum
mirabile), Balanophoraceae, com sua inflorescência de cor amarela; d) Hemiparasita erva-de-passarinho
(Struthanthus sp.) sobre a árvore hospedeira (Alchornea glandulosa) que possui as folhas maiores; e)
Hepáticas epífilas. Fotos: Lucia Sevegnani; f) Cipó (Monstera adansonii). Foto: Juliane L. Schmitt

A Vertente Atlântica | 99
possuem folhas fotossintetizantes e cujas raízes estas cinco de palmeiras (sendo a mais comum
haustoriais retiram seiva elaborada diretamente o palmiteiro Euterpe edulis), arvoretas e arbustos
do floema da planta hospedeira (Figura 4c). A (SEVEGNANI, 2003; VERDI, 2008).
família balanoforácea, exclusivamente holopa- Na Floresta Ombrófila Densa na Vertente
rasita, possui sete espécies em Santa Catarina Atlântica, o Inventário Florístico Florestal de
(Helosis cayennensis, Langsdorffia heterotepala, L. hy- Santa Catarina amostrou (SEVEGNANI et al.,
pogaea, Lophophytum mirabile (Figura 4c), L. lean- 2013b, p. 127):
dri, Scybalium fungiforme e S. glaziovii) (CARDO- [...] 1.901 espécies, sendo estas: 23 licófitas,
SO; BRAGA, 2012). 265 monilófitas, três gimnospermas e 1.610
Na floresta há também plantas que nascem angiospermas, e do total, 496 espécies de
sobre as árvores como epífitos e, à medida que epífitos. As famílias mais ricas em espécies,
crescem, lançam raízes para o solo e dele reti- mas nem sempre com maior número de gê-
ram os nutrientes e água. O número de raízes neros foram: Orchidaceae (209 espécies; 87
que produzem é tão elevado que chegam a for- gêneros), Myrtaceae (141; 16), Asteraceae
mar cortinas, descendo do topo das árvores em (103; 45), Melastomataceae (87; 10), Fabace-
determinados locais na floresta. Com esta es- ae (78; 44), Bromeliaceae (71; 14), Rubiaceae
tratégia podemos citar o cipó-imbé (Philodendron (67; 33), Piperaceae (64; 3), Solanaceae (64;
spp), Monstera spp. (Figura 4f) e os Anthurium 11), Lauraceae (52; 9), Polypodiaceae (46; 16)
spp., cujas raízes são utilizadas para fazer cestos, e Pteridaceae (36; 10). A Floresta Ombrófila
vassouras e outros objetos de decoração. Densa existente atualmente em Santa Cata-
Outro grupo de seres vivos, tais como mus- rina é extremamente biodiversa, abrangendo
gos, hepáticas e liquens, se desenvolve sobre as 22,4% das espécies vasculares citadas para a
folhas das plantas, denominados de epífilos (Fi- Floresta Ombrófila Densa do Brasil.
gura 4e). Se fossem somadas às espécies de plantas,
Em pesquisas efetuadas na Floresta Ombró- todas as espécies de fungos, bactérias, proto-
fila Densa (Figura 5a), do Parque Natural Mu- zoários e de animais: os vermes, crustáceos, in-
nicipal São Francisco de Assis, com 23 ha, em setos, aranhas, moluscos, aves, répteis, peixes e
Blumenau, foram registradas em hectare (1 ha = mamíferos, o número total seria muito elevado.
10.000 m2 = um campo de futebol oficial) apro- Estima-se que possam ser encontradas milhares
ximadamente 180 espécies de árvores, dentre de espécies que residem ou usam parcialmen-

A B
Figura 5: Floresta Ombrófila Densa: a) Interior do Parque Natural Municipal São Franscisco de Assis
(FAEMA), Blumenau. Foto: Lucia Sevegnani; b) Floresta pertencente à Formação Montana entre São José
e Palhoça, no Parque Estadual da Serra do Tabuleiro (FATMA). Foto: Tiago J. Cadorin

10 0 | B i o d i v e rsida d e Cata rin e nse


te esse hectare como sua área de vida. Isso é é muito evidente. Por exemplo, no interior da
uma parte da biodiversidade que há em Santa Floresta Ombrófila Densa foram segregadas
Catarina. Os animais, plantas, fungos e demais quatro formações (Santa Catarina,
micro-organismos formam o componente bió- 1986; IBGE, 1992; 2012;), a saber: Altomonta-
tico de um ecossistema. na (acima de 1.000 m de altitude), Montana (de
Uma região fitoecológica apresenta varia- 1.000 até acima 400 m), Submontana (de 400
ções internas, dependendo da altitude ou das até acima de 30 m), Terras Baixas (após a res-
respostas da vegetação aos fatores ambientais. tinga até 30 m), além da formação Aluvial (que
Esse fato levou os fitogeográfos a segregar dife- se distribui ao longo dos rios, independente da
rentes formações, levando-se em conta critérios altitude). A seguir serão detalhadas cada uma
de altitude e fisionomia da vegetação. Ressalte- delas e apresentadas as espécies características
-se que a separação fisionômica nem sempre para o Estado.

5.3.1.1 F ormação A l tomontana


No topo de morros mais altos (Figura 5b) e mo de samambaias (Gleichenia spp.). Os cumes
muitas vezes íngremes, a vegetação tem altura de morros são, em geral, colonizados por gru-
mais baixa, se comparada às presentes na mé- pos de plantas que podem ser exclusivas e raras
dia encosta e na planície, ou também pode ser (KLEIN, 1980).
encontrada densa cobertura herbácea, formada, Os animais são numerosos e frequentes, al-
principalmente, por gramíneas, bromélias e, em guns permanecendo todo o ano no local, outros
alguns locais, musgos. migrando para áreas mais baixas durante o in-
Isto está relacionado às condicionantes cli- verno. Em geral, os mamíferos são generalistas,
máticas (mais radiação solar, umidade variável, galgando morros e descendo às planícies em
mais ventos, temperaturas que mudam muito busca de alimento ou reprodução, tais como os
durante o dia e nas estações do ano) e do solo gatos-do-mato (Leopardus spp.), os quatis (Nasua
(pouco profundo, com ou sem afloramento de nasua) e os ratos ou ainda, aproveitando os re-
rochas, bem drenado, menor umidade ou esta cursos no topo da floresta, como os morcegos.
é muito variável). São fatores que favorecem al- As aves são frequentes e compõem um gru-
gumas espécies e impedem o sucesso de outras po bastante diversificado, algumas delas muito
tantas, no momento da instalação como no de características deste ambiente: tecelão (Cacicus
desenvolvimento. chrysopterus); bico-grosso (Saltator maxillosus), tico-
Destacam-se como espécies comuns: gra- -tico-da-taquara (Poospiza cabanisi), pula-pula-
mimunhas (Weinmannia paulliniifolia, W. discolor), -assobiador (Basileuterus leucoblepharus), tucano-
carne-de-vaca (Clethra uleana), casca-de-anta -de-bico-preto (Ramphastos vitellinus) (Figura 7e).
(Drimys brasiliensis), pau-de-santa-rita (Laplacea Quanto aos répteis, podemos citar as jarara-
fruticosa), guamirim (Gomidesia sellowiana), Terns- cas (Bothrops spp.), cobras-cipó (Chironius spp.),
troemia brasiliensis, pinheiro-bravo (Podocarpus cobra-coral (Micrurus sp.) e camaleão-papa-ven-
sellowii), mangue-de-formiga (Clusia criuva), qua- to (Enyalius iheringii). Uma profusão de insetos
resmeira (Tibouchina sellowiana) e, por entremeio povoa e usa os recursos da floresta como folhas,
destas, tapete de bromélias (Vriesea platynema e flores, néctar, pólen, bem como frutos e semen-
V. altodaserrae). Nos locais com vegetação mais tes. Caçadoras implacáveis são as centenas de
baixa, grandes manchas de taquaras-lisa (Meros- espécies de aranhas e opiliões, que se deslocam
tachys multiramea) e cará (Chusquea spp.) ou mes- pela floresta.

A Ve r t e n t e At l â n t i c a | 101
A B

C D

E F
Figura 6: Vertente Atlântica: a) Floresta Ombrófila Densa Montana no PARNA Serra do Itajaí (ICMBio),
Santa Catarina; b) Floresta Ombrófila Densa Submontana e Montana, Joinville; c) Canela-preta (Ocotea
catharinensis) PARNA Serra do Itajaí (ICMBio); d) Ribeirão em floresta PARNA Serra do Itajaí (ICMBio).
Fotos: Lucia Sevegnani; e) Veado-mateiro (Mazama gouazoubira) no PARNA da Serra do Itajaí (ICMBio),
Foto: Éder Caglioni; f) Anta (Tapirus terrestris), Foto: Alex Balkanski - Iniciativa Nacional para a Conservação
da A nta Brasileira (Lowland Tapir Conservation Initiative)

10 2 | B i o d i v e rsida d e Cata rin e nse


A B C

D E F

G H I

J K L
Figura 7: Animais da Vertente Atlântica: a) Cuíca (Gracilinanus microtarsus). Foto: Artur Stanke Sobri-
nho (ECOAMA); b) Tatu-galinha (Dasypus novemcinctus) Foto: Tiago J. Cadorin; c) Rato-de-espinho (Eu-
ryzygomatomys spinosus) Foto: Artur Stanke Sobrinho (ECOAMA); d) Aracuã (Ortalis guttata); e) Tuca-
no-de-bico-preto (Ramphastos vitellinus); f) Gavião-carijó (Rupornis magnirostris); g) Surucuá-variado
(Trogon surrucura); h) Saíra-sete-cores (Tangara seledon); i) Rendeira (Manacus manacus). Fotos: Tiago
J. Cadorin; j) Caninana (Spilotes pullatus) Foto: José C. Rocha Jr. (ECOAMA); k) Jararacuçu (Bothrops
jararacussu) Foto: Tobias S. Kunz; l) Perereca (Hypsiboas poaju). Foto: Luiz M. Giasson

A Ve r t e n t e At l â n t i c a | 10 3
5.3.1.2 F ormação M ontana
Na meia encosta ou na faixa altitudinal, com- morros, havendo algumas espécies que estão
preendida entre 1.000 e 400 m, os solos são um praticamente extintas no território catarinen-
pouco mais profundos que no topo das elevações, se, como a onça-pintada (Panthera onca) e a anta
tendo melhores condições para o desenvolvi- (Tapirus terrestris) (Figura 6f). Outras, felizmente,
mento da Floresta Ombrófila Densa, Formação ainda estão presentes como, por exemplo, a sus-
Montana (Figuras 6a e 6b). Em geral, contendo suarana ou leão-baio (Puma concolor) (ver Box 2),
muitas nascentes, córregos e ribeirões (Figura a jaguatirica (Leopardus pardalis) e outros gatos-
6d). Por isso, as árvores podem ser altas, atingin- -do-mato, os porcos-do-mato ou cateto (Pecari
do de 20 a 25 m. Como espécies arbóreas mais tajacu), o queixada (Tayassu pecari), o veado (Maza-
importantes encontram-se o palmiteiro (Euterpe ma gouazoubira) (Figura 6e), o quati (Nasua nasua),
edulis), a canela-preta (Ocotea catharinensis) (Figura o tatu-galinha ou tatu-molina (Dasypus novemcinc-
6c), o tanheiro (Alchornea triplinervia), a peroba tus) (Figura 7b), o caxinguelê (Guerlinguetus ingra-
(Aspidosperma australe), a copiúva (Tapirira guianen- mi), os ratos silvestres (Akodon spp., Delomys sp.),
sis), o pau-óleo (Copaifera trapezifolia), o guamirim a paca (Cuniculus paca), a cutia (Dasyprocta azarae),
(Myrcia pubipetala) entre dezenas de outras, muitas o tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla), cuíca
delas com grande importância econômica. (Gracilinanus microtarsus) (Figura 7a) o gambá (Di-
Na copa, entremeando os ramos, numerosas delphis marsupialis), o bugio-ruivo (Alouatta clami-
e bem diversificadas comunidades de epífitos tans), o macaco-prego (Cebus nigritus), o rato-de-
(bromélias, orquídeas, samambaias e outras es- -espinho (Euryz ygomatomys spinosus) (Figura 7c).
pécies de ervas) disputam espaço e a luz que se Os morcegos também fazem parte da fauna
infiltra por entre as folhas das árvores que, ao da Vertente Atlântica: como insetívoros (Myotis
balanço dos ventos, vicejam e se reproduzem. A ruber – Figura 8a, Lasiurus ega), frugívoros (Stur-
serapilheira pode ser espessa, propiciando boa nira lilium – Figura 8c, Artibeus spp), polínívoro
proteção ao solo, havendo locais com denso ta- e nectarívoro (Glossophaga sp., Anoura sp.), onívo-
pete de bromélias ou caetés, cobrindo-o. ro (Mimon bennettii – Figura 8b, Carollia sp.) e o
A maior parte dos animais vertebrados não morcego-vampiro (Desmodus rotundus).
são exclusivos de uma formação, pois se des- Grande número de espécies de animais ma-
locam por grandes áreas. Em Santa Catarina míferos, especialmente as de maior porte, estão
foram registradas 169 espécies de mamíferos sob forte pressão de caça, comprometendo os
(CIMARDI, 1996). Estes podem ocorrer per- serviços ecológicos desenvolvidos nos ecossis-
meando tanto as planícies como as encostas dos temas por estes.

A B C
Figura 8: Morcegos da Vertente Atlântica: a) Morcego insetívoro (Myotis ruber); b) Morcego onívoro
(Mimon bennettii). Fotos: Artur Stanke Sobrinho (ECOAMA); c) Morcego insetívoro (Sturnira lilium).
Foto: Tiago João Cadorin

10 4 | B i o d i v e rsida d e Cata rin e nse


BOX 2

GRANDES CARNÍVOROS
C intia G ruener

A
Mestre em Engenharia Ambiental, bióloga, membro da equipe do Projeto Carnívoros/
Parque Nacional Serra do Itajaí, ICMBio

predação é um hábito na- Carnívoros, sendo seres do topo de


tural, fundamental para a cadeias tróficas e com alta demanda
manutenção da biodiver- energética, vivem em áreas relativamente
sidade e dos processos grandes, possuem densidades popu-
ecológicos. Os mamíferos da Ordem lacionais baixas e tendem a ser forte-
Carnívora, ou carnívoros, são o principal mente dependentes de ambientes de
grupo de predadores de vertebrados nos boa qualidade e, portanto, neste quadro
ecossistemas terrestres, por estarem no de destruição, são fortemente impac-
topo da cadeia alimentar, têm uma gran- tados MARINHO-FILHO; MACHADO, 2006).
de importância ecológica, pois podem O puma (Puma concolor), conhecido
regular a população de presas naturais e também como onça-parda, suçuarana e
influenciar toda dinâmica do ecossiste- leão-baio, é um exemplo disto, segundo
ma em que vivem Mazzolli (1993), a
(PITMAN et al., sua distribuição
2002). Na ausência em Santa Catarina
de predadores, está relacionada
suas presas natu- à existência de
rais, como mamí- ambientes com
feros herbívoros, vegetação original
roedores, aves, e remanescentes
répteis e insetos contínuos, o que
tendem a se mul- faz dele um bom
tiplicar (PITMAN; indicador ambien-
OLIVEIRA, 2002). tal. A manutenção
No Brasil, do puma requer
são conhecidas que se mante-
26 espécies de nham as florestas
mamíferos carnívoros - entre canídeos, e as espécies de que ele se alimenta. Por
mustelídeos, procionídeos e felídeos, e isso, medidas de proteção de habitats,
destas, 10 estão na Lista de Espécies da manutenção e criação de corredores
Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção ecológicos, fiscalização, educação am-
(BRASIL, 2003). Os carnívoros são vítimas biental, pesquisa e o monitoramento das
frequentes de várias formas de ameaça, espécies, devem ser ações prioritárias.
como a caça para troféu, caça para co-
mércio de peles e de animais vivos e a
caça de indivíduos que causam prejuízo
a proprietários rurais. Porém, a destrui- Puma fotografado com armadilha fotográfica.
ção de seus habitats ainda é a maior Fonte: Projeto Carnívoros do Parque Nacional da
Serra do Itajaí/CENAP (ICMBio)
ameaça (MARGARIDO; BRAGA, 2004).

A Ve r t e n t e At l â n t i c a | 10 5
As aves têm sido outro grupo rico com 337 cobra-d’água (Liophis miliaris), muçurana (Clelia
espécies registradas para a Floresta Ombrófila rustica), a caninana (Spilotes pullatus) (Figura 7j)
Densa, em Santa Catarina (ROSÁRIO, 1996), bem como o lagarto-de-papo-amarelo (Tupinam-
muito importantes por suas insubstituíveis fun- bis merianae), entre outros.
ções ecológicas, agindo como predadoras, po- Os anfíbios, como a perereca (Hypsiboas poaju)
linizadoras e dispersoras. Como seu número é (Figura 7l), são um grupo muito rico em espé-
elevado, não será possível citar todas, portanto, cies na Vertente Atlântica, com muitos estudos
serão destacadas algumas: o macuco (Tinamus evidenciando sua importância e fragilidade fren-
solitarius), o inhambu (Crypturellus obsoletus), o jaó te às mudanças ambientais. São citadas 144 es-
(Crypturellus noctivagus), o tucano-de-bico-verde pécies para Santa Catarina (17% do Brasil) (LU-
(Ramphastos dicolorus), o tucano-de-bico-preto CAS, 2008), (ver Box 3).
(Ramphastos vitellinus) (Figura 7e), o araçari (Sele- Na copa das árvores ou no solo, os anfí-
nidera maculirostris), o jacu-açu (Penelope obscura), o bios, répteis, aves e mamíferos capturam in-
jacupemba (Penelope superciliaris), a jacutinga (Pipile setos, apanham avidamente folhas ou brotos,
jacutinga) praticamente extinta, a aracuã (Ortalis frutos, pólen e néctar, bem como, ovos ou fi-
guttata) (Figura 7d), o surucuá-variado (Trogon lhotes de outras espécies, cada um conforme
surrucura) (Figura 7g), os gaviões (Amadonastur seus hábitos alimentares e necessidades. Na
lacernulatus, Pseudastur polionotus, Spizaetus tyrannus, floresta, também fazem seus ninhos e geram
Elanus leucuros), o gavião-carijó (Rupornis magniros- e alimentam suas crias.
tris) (Figura 7f) e o urubu (Corag yps atratus). Há, Insetos diurnos e noturnos coletam pólen,
também, centenas de passeriformes como os néctar, óleos essenciais, resinas das flores ou cas-
sabiás, a rendeira (Manacus manacus) (Figura 7i), ca das árvores, bem como cortam fragmentos
a saíra-sete-cores (Tangara seledon) (Figura 7h), os de folhas, flores e ramos jovens para comer dire-
gaturamos, os tiés, entre tantas. tamente, como o fazem as lagartas e gafanhotos,
Os répteis também se fazem presentes: jara- ou para alimentar as colônias de fungos, como
raca (Bothrops jararaca), jararacuçu (Bothrops jarara- o fazem as formigas (Acromyrmex spp., Atta spp.,
cussu) (Figura 7k), coral-verdadeira (Micrurus sp.), entre dezenas de outras) e deles se alimentando.

5.3.1.3 F ormação S ubmontana


Na base das encostas ou em altitudes situ- mando contínuo dossel (conjunto das copas
adas entre 400 e 30 m, com solos profundos das árvores), variando em diâmetro, forma e
e melhor estruturados, boa drenagem, mas cores.
com bom suprimento de água e boas condi- Nesta faixa de altitude, o palmiteiro (Eu-
ções climáticas, vicejam as espécies da Floresta terpe edulis) formava grandes populações che-
Ombrófila Densa, expressando seu potencial gando a ter mais de 500 plantas adultas por
genético de desenvolvimento. hectare (ver Box 4). Há na Vertente Atlântica,
Registros históricos dessa floresta, efetu- além do palmiteiro, outras palmeiras nativas
ados pelo renomado botânico e ecólogo Dr. como o coqueiro-gerivá (Syagrus romanzoffiana),
Roberto Miguel Klein, do Herbário Barbosa o coqueiro-indaiá (Attalea dubia), o coqueiro-
Rodrigues de Itajaí/SC (ver Capítulo 4, Box 3), -brejaúva (Astrocaryum aculeatissimum), este raro
contam que atingia até 35 m de altura, com e somente registrado em Garuva, o tucum
amplas e densas copas, perenifoliadas (árvores (Bactris setosa), e as palmeirinhas de sub-bosque
que mantêm as folhas ao longo do ano), for- (Geonoma gamiova, G. schottiana, G. elegans).

10 6 | B i o d i v e rsida d e Cata rin e nse


BOX 3

SAPOS, RÃS E PERERECAS CATARINENSES,


ESSAS CRIATURAS ADORÁVEIS...

R
L uís O. M. G iasson
Doutor em Zoologia, biólogo, professor e pesquisador na Universidade Regional de Blumenau - FURB

evisão recente e geral dos an- arredondadas castanhas, seus girinos também
fíbios catarinenses inventariou têm coloração e manchas muito belas. A pere-
144 espécies (LUCAS, 2008) e reca-de-pijama (Hypsiboas leptolineatus) e a rã-
o número pode ainda aumentar. -piadeira (Leptodactylus plaumanni) são belos re-
Esta pode ser considerada uma riqueza de espé- presentantes dos planaltos catarinense e gaúcho.
cies bastante elevada e reflete em grande parte Uma rã intrigante é a rã-das-cachoeiras (Hylo-
a diversidade de ecossistemas catarinenses. des perplicatus) (Figura b), também da vertente
Uma curiosidade frequente é sobre qual é a atlântica, espécies desse gênero têm a peculiari-
diferença entre sapos, rãs e pererecas. Essas dade de coaxarem durante o dia, ao contrário da
são designações populares, mas estes dão maioria das outras espécies que são noturnas.
indícios sobre hábitos dos anfíbios. Os sapos Isso porque os ambientes que usa são sempre
são anfíbios com pouca mobilidade, com pernas protegidos da radiação solar e são sempre muito
curtas, locomovendo-se por saltos curtos, com úmidos pelos respingos d´água das cachoeiras.
dorso verrucoso, os mais típicos têm glândulas Um sapinho legitimamente catarinense, mais
volumosas atrás dos olhos, as paratóides. As precisamente do oeste, em Arvoredo, Xaxim,
rãs têm pernas mais longas e fortes, geralmen- Xavantina e Seara é o Melanophryniscus spec-
te mais lisas ou escorregadias e se utilizam de tabilis (Figura c), cujo próprio nome diz ser um
saltos rápidos e longos como estratégia de fuga espetáculo, apesar das verrugas e tubérculos,
contra predadores. As pererecas são mais asse- um bem na ponta do focinho. Quando fustigado
melhadas às rãs, com pernas em geral menos por predador, arqueia as costas e vira as pal-
robustas, mas têm a particularidade de pode- mas das mãos e a sola dos pés para cima como
rem escalar superfícies verticais por possuírem um aviso sobre suas toxinas, mas isso impede
discos adesivos nas extremidades dos dedos. sua fuga rápida. Ele pertence à mesma família
Algumas espécies têm distribuição geo- do sapo cururu (Rhinella icterica) (Figura d) que
gráfica mais ampla como a rã-martelo (Hyp- apresenta glândulas de veneno como proteção,
siboas faber), que na verdade é uma perere- as paratóides. A secreção desta glândula tem
ca, seu nome popular se refere ao som que aspecto leitoso viscoso e, em geral, o sapo só ex-
produz como uma batida forte e seca. pele esse veneno em borrifo quando molestado
A distribuição geográfica é mais restrita para e suas glândulas comprimidas. Não há maiores
perereca-verde-de-olhos-vermelhos (Aplasto- problemas no contato com a pele, desde que se
discus ehrhardti) (Figura a) que está associada a lave a área. Complicações surgem se o veneno
pequenos córregos em Floresta Ombrófila Densa entrar em contato com mucosas como os olhos e
de Santa Catarina e Paraná. Outra perereca com ferimentos na pele. Frequentemente os cães aca-
ocorrência bem limitada é a Hypsiboas poaju, bam sofrendo as consequências por importunar
encontrada em poucas localidades de Rancho os sapos. Para saber mais sobre anfíbios, procu-
Queimado e entornos, além dos adultos serem re livros na biblioteca ou na internet, pois quanto
muito bonitos em tons de verde e com manchas mais se sabe, mais fascinantes se tornam.

A B C D
Espécies de Anfíbios: a) Aplastodiscus ehrhardti; b) Hylodes perplicatus;
c) Melanophriniscus spectabilis; d) Rhinella icterica. Fotos: Luis O. M. Giasson

A Ve r t e n t e At l â n t i c a | 107
BOX 4

SOBRE OS OMBROS DO GIGANTE PALMITEIRO


L ucia S evegnani

Q
Doutora em Ecologia, bióloga, professora e pesquisadora na Universidade Regional de Blumenau – FURB

uem adentra a floresta na possibilitando a produção de frutos.


Vertente Atlântica de Santa Cerca de dois mil frutos por cacho
Catarina não pode deixar (REIS, 1996) são produzidos durante
de perceber o palmiteiro os frios meses de outono e inverno e é
(Euterpe edulis da família das palmeiras) alimento especial para aves (Figura b),
(Figura a). Das enroladas bainhas tenras mamíferos, insetos, fungos de copa e
extrai-se o delicioso palmito, aprecia- do solo. Em qualquer tamanho, imatu-
do na culinária brasileira. Outrora, havia ros ou maduros, são ricos em nutrientes
cerca de 30.000 palmiteiros de todos seja na polpa ou na semente. As aves
os tamanhos em um hectare de floresta atraídas pelos frutos maduros de cor
(REIS, 1996), hoje muitas vezes não há preta-vinácea coletam-nos diretamente
adultos, por causa do corte clandestino. dos cachos, engolindo-os. Após esta-
O palmiteiro estabelece relações ecológi- rem saciadas, voam para um ramo de
cas com grande parte dos componentes árvore e ali regurgitam as sementes,
do condomínio ou ecossistema florestal. agora limpas de sua polpa escura. Es-
Nas raízes superficiais, no estipe sas sementes limpas têm mais suces-
e nas folhas, dezenas de espécies de so de germinação que aquelas com a
musgos, liquens, fungos e outros micro- polpa, pois são menos atacadas por
-organismos fazem moradia. As folhas fungos. Elas germinam na primavera.
jovens alimentam insetos, e mamíferos, A retirada extensiva e intensiva dos
como as capivaras, veados e a anta. palmiteiros tem quebrado parte des-
Durante o verão, os cachos de flores (em ta rede de relações e muitas espé-
número de um a cinco por planta por cies estão sentindo falta dos recursos
ano) suportam milhares de flores mascu- alimentares produzidos pelo gigante
linas e femininas em cada um. As flores palmiteiro. No entanto, essa espécie
fornecem néctar e pólen para abelhas é de fácil manejo sustentável, geran-
nativas, moscas, besouros e esses inse- do renda para propriedades quando
tos, atraídos pelas pequenas flores femi- sob cultivo. Infelizmente o palmiteiro é
ninas, fazem a polinização do palmiteiro, uma espécie ameaçada de extinção.

A B
Palmiteiro (Euterpe edulis): a) Na floresta. Foto: Lucia Sevegnani;
b) Araçari-poca (Selenidera maculirostris) dispersor dos seus frutos. Foto: Tiago J. Cadorin

10 8 | B i o d i v e rsida d e Cata rin e nse


Outras espécies importantes e com gran- sophila setosa (Figura 9b), Cyathea phalerata, Cyathea
de porte são a garajuva (Buchenavia kleinii), a al- corcovadensis) e o pouco frequente xaxim-bugio
mécega (Protium kleinii), a peroba (Aspidosperma (Dicksonia sellowiana), que preenchem os espaços
parvifolium), a canela-preta (Ocotea catharinensis), o entre os troncos das árvores e arvoretas, aprovei-
sangueiro (Pterocarpus rohrii), o baguaçu (Magnolia tando e gerando recursos.
ovata), a laranjeira-do-mato (Sloanea guianensis), o No solo predominam espécies herbáceas
camboatá-branco (Matayba intermedia), o tanheiro como os caetés (Calathea quadrangulares (Figura 9c)
(Alchornea triplinervia), os guamirins (Myrcia tijuscen- e Heliconia farinosa) (Figura 9d) e muitas samam-
cis, M. pubipetala, Eugenia multicostata, Psidium spp.), baias. Por entremeio aos troncos e ramos, e mui-
entre tantas outras. tas vezes no solo, mais de quinhentas espécies
No sub-bosque da floresta encontram-se as de epífitos – bromélias, orquídeas, samambaias,
grandiuva-d’anta (Psychotria suterella, P. nuda (Figu- bem como dezenas de espécies pertencentes a
ra 9a), Rudgea spp. entre outras rubiáceas), as pi- outras famílias botânicas. Com relação aos ani-
menteiras (Mollinedia schottiana, M. triflora), as pipe- mais para a Formação Montana, estes também
ráceas (Piper cernuum, P. gaudichaudianum, P. arboreo) podem ocorrer nas demais formações, pois têm
e as palmeiras: tucum (Bactris setosa), palhas-guari- grande poder de deslocamento e área de vida, tais
cana (Geonoma spp.). Há, também, os xaxins (Al- como os bugios (ver Box 5).

A B

C D
Figura 9: Arbustos e ervas de sub-bosque: a) Grandiúva-d’anta (Psychotria nuda); b) Xaxim (Alsophila
setosa); c) Caeté (Calathea quadrangularis); d) Caeté-banana (Heliconia farinosa). Fotos: Lucia Sevegnani

A Ve r t e n t e At l â n t i c a | 10 9
BOX 5

RONCADORES DAS FLORESTAS CATARINENSES


Z elinda M aria B raga H irano

O
Doutora em Biologia Comparada, biomédica, professora e pesquisadora na Universidade Regional de Blumenau - FURB

s bugios são primatas neotro- para fêmeas e machos respectivamente


picais pertencentes ao gêne- (ROWE, 1996). Podem se reproduzir em
ro Alouatta com uma das dis- qualquer época do ano e vivem aproxi-
tribuições geográficas mais madamente 20 anos. Pesam em média 7
amplas dentre os primatas das Américas, kg podendo chegar até 15 kg em Alouat-
abrangendo do Sul do México ao Norte ta caraya.
da Argentina (NEVILLE et. al., 1988). Pos- As populações de Alouatta organizam-
suem cauda preênsil, dimorfismo sexual -se em grupos compostos por adultos de
pelo osso hióide, pelo tamanho corporal ambos os sexos e imaturos de diferentes
e pela coloração (GREGORIN, 2006). As faixas etárias. Os bugios, também conhe-
espécies Alouatta clamitans (bugio-ruivo) cidos como guaribas são animais folívo-
e Alouatta caraya (bugio-preto) existem ros-frugívoros, com uma dieta altamente
em Santa Catarina, e ambos apresentam rica em fibras (CROCKETT; EISENBERG,
dicromatismo (cores diferentes) sexual. 1987; BICCA-MARQUES, 2009), podendo
Em Alouatta clamitans a coloração dos comer frutos em épocas em que es-
machos adultos deve-se à liberação, tes se encontram com maior facilidade
por glândulas apócrinas modificadas, (BICCA-MARQUES, 2003). São animais
de um pigmento que torna a pelagem de comportamento discreto, com movi-
avermelhada, diferente das fêmeas que mentos lentos, geralmente repousando
são marrons (HIRANO et al., 2003). Estas cerca de 70% de seu período diurno, em
espécies possuem comprimento total consequência de sua dieta (QUEIROZ,
da cabeça e corpo variando entre 42 a 1995; HIRANO et al., 1997; BICCA-MAR-
63 cm e o da cauda de 48,5 a 69 cm QUES, 2009). Em Santa Catarina existe
o Projeto Bugio desen-
volvido em um Centro de
Pesquisas do município
de Indaial (CEPESBI), em
colaboração com a FURB
– Universidade Regio-
nal de Blumenau criado
através da Lei Municipal
n° 2.099, de março de
1992. Tem realizado ati-
vidades de pesquisa,
educação ambiental e
integração da comunida-
de local com estudantes
universitários e pesqui-
sadores. O Projeto Bugio
realiza estudos científicos
visando à conservação da
espécie Alouatta clami-
tans.

Grupo de bugios (Alouatta clamitans), vocalizando em Indaial. Foto: Pâmela S. Schmidt

110 | B i o d i v e r s i d a d e C a t a r i n e n s e
5.3.1.4 F ormação T erras B ai x as
Estendendo-se sobre as planícies dos de Araranguá é muito pequena – 65 km.
rios e ribeirões, e na base das encostas e nas Esta serra apresenta altitudes próximas de
proximidades do Oceano Atlântico em al- 1.000 m (Figura 10a). Portanto a Formação
titudes inferiores a 30 m, encontra-se a ve- Terras Baixas divide a planície com a For-
getação desenvolvida sobre terrenos nivela- mação Pioneira de Influência Marinha com
dos pelos avanços e recuos da água do mar a presença de lagoas, lagunas, cordões are-
nos últimos cinco milhões de anos (Período nosos e praias. E em poucos pontos abai-
Geológico Quaternário). xo do município de Laguna, o manguezal
No sul do Estado, a distância entre o herbáceo.
Oceano Atlântico e a Serra Geral na região Quando presente, esta floresta pode ter al-

A B C
Figura 10: a) Perfil ideal da vegetação entre o Oceano Atlântico e a Serra Geral na altura de 29°20’’ no
sul do Estado de Santa Catarina. Desenho: Lucia Sevegnani; b) Baixada do Maciambu, Parque Estadual do
Tabuleiro (FATMA). Foto: Charles G. Boudreault; c) Coqueiro-gerivá (Syagrus romanzoffiana). Foto: Lucia
Sevegnani; d) Olandi (Calophyllum brasiliensis). Foto: Tomaz Longhi

A V e r t e n t e A t l â n t i c a | 111
tura de 20 m, apresentar-se estruturada por bimucronata), arvoreta com suas característi-
árvores que formam o dossel, entremeadas cas flores brancas e acúleos no caule.
por centenas de muitos palmiteiros, além Em ambientes brejosos, no âmbito das
de arvoretas e arbustos, e extenso agrupa- formações Terras Baixas e Aluvial, como
mento de bromélias no solo. também, nas Formações Pioneiras de In-
Destacam-se na Floresta Ombrófila fluência Marinha (restingas) e de Influên-
Densa de Terras Baixas (Figura 10b), árvo- cia Fluviomarinha (os manguezais) ocor-
res como a copiúva (Tapirira guianensis), os rem espécies de animais, algumas delas
olandis ou guanandis (Calophyllum brasilien- características, tais como: a garça-morena
se) (Figura 10d), a figueira-de-folha-miúda (Egretta caerulea), o tachã (Chauna torquata), a
(Ficus organensis), o tapiá-guaçu ou tanhei- saracura-matraca (Rallus longirostris), a ma-
ro (Alchornea triplinervia), guamirim-araçá ria-catarinense (Hemitriccus kaempferi), o bi-
(Myrcia brasiliensis) e o ipê-da-várzea (Han- cudinho-do-brejo (Stymphalornis acutirostris)
droanthus umbellatus), o seca-ligeiro (Pera gla- e o garrinchão-de-bico-grande (Cantorchilus
brata) e o coqueiro-gerivá (Syagrus romanzo- longirostris).
ffiana) (Figura 10c). Ao longo da costa catarinense, a vegeta-
Nas depressões do terreno podem ter re- ção pertencente à Formação Terras Baixas
manescido pequenas lagoas ou brejos, com entra em contato com a Formação Pioneira
solos saturados pela água. Nestes locais de Influência Marinha (restinga), ou com
forma-se cobertura herbácea densa, domi- a Formação Pioneira de Influência Fluvio-
nada por tiriricas (Cyperus spp.), juncos ( Jun- marinha (manguezais), muitas vezes fican-
cus spp.) e taboas (Typha dominguensis), inter- do difícil discernir onde estão os seus li-
caladas por esporádicos arbustos e árvores mites. Essas Formações serão tratadas em
em pontos um pouco melhor drenados. Em subcapítulos independentes por causa de
alguns locais, podem se formar grandes suas características diferenciadas e grande
agrupamentos de silva ou maricá (Mimosa importância ecológica e social.

5.3.1.5 F ormação A l u v ia l

A vegetação da Formação Aluvial se de- Nas áreas mais altas e declivosas há pre-
senvolve ao longo das margens dos rios, in- sença de milhões de nascentes formadoras
dependente da altitude, podendo, portanto, de pequenos córregos, em geral com águas
estar presente em todas as formações desde rápidas e com fundo pedregoso. Essas
a Altomontana até a de Terras Baixas, colo- águas são claras, com alta taxa de oxigê-
nizando sedimentos recentes ou antigos e nio dissolvido, com baixa concentração de
sendo afetada diretamente pelas oscilações nutrientes e plâncton. Nesses córregos são
do aquífero freático. encontradas espécies de cascudinhos (Hy-
Nas encostas dos morros, montanhas e postomus spp.) podendo ser exclusivos de de-
serras e nas planícies da Vertente Atlânti- terminado rio, ou mesmo de uma bacia hi-
ca há densa rede hidrográfica formada por drográfica, e piavas (Astianax spp.), larvas
nascentes, córregos, ribeirões e rios (Figura de insetos tricópteros, dípteros ou libélulas,
11), nos quais as águas escoam em direção além de outras formas de vida fazendo par-
ao Oceano Atlântico. te do ecossistema aquático.

112 | B i o d i v e r s i d a d e C a t a r i n e n s e
A B C

D E F

G H I

Figura 11: Formação Aluvial: a) Ilhas fluviais do Itajaí-açu, Indaial; b) rio Itajaí-açu em Blumenau; c) Sal-
gueiros (Salix humboldtiana) às margens do rio Itajaí-açu, Blumenau; Fotos: Lucia Sevegnani; d) Capivaras
(Hydrochoerus hydrochaeris); e) Cágado (Phrynops hilarii). Fotos: L auro E. Bacca; f) Frango d´água co-
mum (Gallinula galeata); g) Savacu-de-coroa (Nyctanassa violacea). Fotos: Tiago J. Cadorin; h) Trepadeira
(Stizophyllum riparium) em Ibirama; i) Cutia-de-espinho (Raulinoa echinata) gênero e espécie endêmi-
cas das corredeiras do rio Itajaí-açu. Fotos: Lucia Sevegnani.

A V e r t e n t e A t l â n t i c a | 113
Na base das encostas ou áreas com rele- linoa echinata) (Figura 11i), a bromélia (Dickya
vo mais suave estão os ribeirões que provêm ibiramensis) e a trepadeira (Daleschampia riparia)
da parte alta. Estes, agora com maior volume (KLEIN, 1980). Pelo tamanho pequeno de
de água, podem apresentar trechos com cor- suas populações e pela restrita área de ocor-
redeiras (Figura 12), em outros, com águas rência, essas espécies são muito vulneráveis
mais lentas, formando remansos. ao processo de extinção. Mas, pode haver ou-
Em certos ambientes especiais, como nas tras ao longo dos grandes e pequenos rios da
ilhas intercalares às corredeiras (Figura 11a) Vertente Atlântica, ainda desconhecidas para
e margens do rio Itajaí-açu (Figura 11b) e rio a ciência e já em perigo, pois em muitos cur-
Itajaí do Norte, entre Ibirama e Blumenau, há sos d’água estão sendo implantadas centrais
três espécies de plantas endêmicas ou exclusi- produtoras de energia elétrica e, em suas mar-
vas do Vale do Itajaí: a cotia-de-espinho (Rau- gens, agricultura, pecuária e cidades.

Figura 12: Corredeiras do rio Itajaí-Açu em Apiúna local da endêmica Raulinoa echinata – Rutaceae.
Desenho: Lucia Sevegnani

Nos locais com águas um pouco mais cal- 13a), o acará (Geophagus brasiliensis) (Figura 13b),
mas há acúmulo de matéria orgânica e valores a piava-de-rabo-amarelo (Astyanax cabripinnis),
ainda elevados de oxigênio, no entanto, estes a piava-de-rabo-vermelho (Astyanax aff. fas-
inferiores aos trechos de corredeiras. Com ciatus), piava (Foto 13d), o tijabicu (Oligosarcus
maior disponibilidade de nutrientes, prolife- aff. jensii), o jundiá (Rhamdia quelen) e o sagua-
ram o fito e zooplancton, aumentando a quan- ru (Cyphocharox santacatarinae) e os cascudos
tidade de espécies e indivíduos presentes. (Figura 13c). Esses peixes atraem predadores
Nestas águas, os insetos depositam seus como as lontras (Lontra longicaudis). No fundo
ovos, gerando profusão de larvas, que se ali- dos rios, muitos invertebrados permeiam o
mentam da matéria orgânica e servem de ali- lodo, compondo as cadeias tróficas, cada vez
mento para peixes e crustáceos. Podem estar mais complexas, ao longo dos rios da Vertente
presentes a traíra (Hoplias malabaricus) (Figura Atlântica.

114 | B i o d i v e r s i d a d e C a t a r i n e n s e
A B C D
Figura 13: Peixes coletados no ribeirão Naufrágio, Presidente Nereu: a) Traíra (Hoplias malabaricus); b)
Acará (Geophagus brasiliensis); c) Cascudo. Fotos: Isamar de Melo; d) Piava no rio Neisse, em Apiúna.
Foto Lucia Sevegnani

Quando os cursos d’água formados nas en- (Gallinula galeata) (Figura 11f), o savacu-de-coroa
costas atingem a planície, suas águas perdem (Nyctanassa violacea) (Figura 11g), as saracuras, os
velocidade e o poder de transportar os sedi- biguás, a jaçanã, as garças, os martim-pescadores.
mentos. Nesses locais a água escoa lentamen- Há, também, cágados (Phrynops hilarii) (Figura 11e),
te em direção ao Oceano Atlântico. A taxa de as rãs-de-corredeiras (Hylodes spp.), as rãs-manteiga
oxigênio dissolvido é menor, há grande con- (Leptodactylus ocellatus), além de pacas, cutias e lon-
centração de nutrientes advindos da parte alta tras.
que se deposita no fundo ou fica em suspensão, Originalmente, no âmbito da Floresta Ombró-
também propiciando abundância de vida. fila Densa, a Formação Aluvial tinha continuida-
Quando os solos concentram muita água de com as demais formações (Terras Baixas, Sub-
no aquífero freático e este se encontra a menos montana, Montana e Altomontana), formando um
de um metro de profundidade na maior parte grande manto de floresta desde a margem dos rios
do tempo, diz-se que os solos são hidromórfi- até o topo dos morros, podendo estar ausente em
cos. Essa condição limita o desenvolvimento e alguns trechos.
o bom funcionamento do sistema radical das No momento atual, muito da continuidade en-
plantas, podendo levá-las à morte. No entanto, tre a margem do rio e a encosta foi interrompida
existem espécies que suportam bem essas con- pelos usos do solo pelas pessoas, com muitos im-
dições, como por exemplo, o salgueiro (Salix pactos ao solo, ao ecossistema rio, ver com mais
humboldtiana) (Figura 11c), o branquilho (Sebas- detalhes no Capítulo 8.
tiania commersoniana), os sarandis (Calliandra sp. A região Sul do Brasil passou por intensas mu-
e Phyllanthus sp.), o ingá-feijão (Inga marginata), danças climáticas, especialmente nos últimos 100
o ipê-amarelo (Handroanthus umbellatus), a silva mil anos, com períodos glaciais (frios e secos) e in-
(Mimosa bimucronata), o olandi (Calophyllum bra- terglaciais (quentes e úmidos), conforme apresenta-
siliensis), a figueira-de-folhas-miúdas (Ficus orga- do no Capítulo 3. Em cada evento geoclimático, a
nensis) entre outras, podendo inclusive resistir vegetação se restringiu ou se expandiu por diferen-
às inundações, por longos períodos. Nas mar- tes lugares, por vezes, cobrindo toda a paisagem,
gens do rio Itajaí do Norte, encontra-se a rara ora deixando áreas sem cobertura florestal ora sem
trepadeira (Stizophyllum riparium) (Figura 11h), cobertura herbácea. Portanto, a rede formada por
da família Bignoniaceae. rios, ribeirões e nascentes foi e é importante corre-
Nas planícies com rios contendo águas mais dor, por onde as espécies de plantas, animais e mi-
calmas, vivem os haréns de capivaras (Hydrochoerus cro-organismos podem se deslocar ou se abrigar.
hydrochaeris) (Figura 11d), maior roedor do mundo, Finalizada a apresentação da Floresta Ombró-
nativo de grande parte da América do Sul. Esta fila Densa serão, a seguir, abordadas duas outras
espécie se alimenta de plantas herbáceas que cres- formações associadas a esta: a Formação Pioneira
cem às margens dos rios. Por entre esta vegetação de Influência Marinha – a restinga e a Formação
também fazem tocas e ninhos os frangos-d´água Pioneira de Influência Fluviomarinha - manguezal.

A V e r t e n t e A t l â n t i c a | 115
5.3.2 F ormação
P ioneira com I n f lu ê ncia M arin h a -
V egetação de R estinga

M arilete G asparin 1
L ucia S evegnani 2

A
E dson S chroeder 3

Formação Pioneira de Influência importante mencionar os fatores determinan-


Marinha não pertence a Floresta tes desta vegetação para os quais os seres vivos
Ombrófila Densa, mas está as- apresentam adaptações que possibilitam a sobre-
sociada a esta. Por isso, é tratada vivência neste ambiente: alta salinidade, escassa
independente em tópico próprio. A vegetação de matéria orgânica, mobilidade do substrato, rápida
restinga é classificada pelo IBGE (1992) como drenagem das águas pluviais e superaquecimento
Formação Pioneira de Influência Marinha (Figu- das camadas superficiais, causado pela insolação
ras 15 e 16), distribui-se ao longo de 561 quilô- direta e ação dessecante dos ventos (CORDA-
metros de extensão do litoral catarinense e aden- ZZO; PAIVA; SEELIGER, 2006). Esses fatores
tra de poucos metros até sete quilômetros para o dificultam o estabelecimento de organismos não
interior do continente (REITZ, 1961; KLEIN, adaptados a essas condições. Assim, na restinga,
1978). Caracteriza-se por apresentar ecossistemas a vegetação arbustiva, em geral, apresenta ramos
variados, conhecidos como praias, dunas, cor- rígidos, numerosos e tortuosos, com folhas co-
dões arenosos, lagunas, lagoas, pântanos (banha- riáceas e resistentes à dilaceração causada pelo
dos) que ocorrem em solos predominantemente vento. Há, também, espécies que formam densos
arenosos (BRASIL, 2009), que se formaram no agrupamentos para resistir à ação desses fatores.
período geológico Quaternário (últimos cinco Muitas plantas apresentam mecanismos espe-
milhões de anos). ciais nas raízes que são responsáveis por diminuir
Os costões rochosos estão inclusos neste sub- a perda de água por osmose para o substrato al-
capítulo, no entanto, não têm a mesma origem tamente salino; apresentam também um sistema
geológica, nem a idade da restinga, sendo esses, radicular numeroso capaz de reter a areia móvel
em geral, mais antigos na constituição geológica, e também extenso para absorver água e sais mi-
dos solos e da vegetação que os recobre. nerais das camadas mais profundas, como é o
Os municípios litorâneos possuem áreas maio- caso das gramíneas (Spartina sp.) que crescem nas
res ou menores de restinga e estas podem cobrir dunas e chegam a apresentar o crescimento em
9.094 km² de área continental e se localizam en- andares, deixando de fora as estruturas reprodu-
tre as latitudes de 25°58’’ e 28°37’’ S (MORAES, tivas (Bresolin, 1979).
1995 apud SCHERER et al., 2006). As espécies de plantas encontradas nesses
Ao caracterizar a vegetação da restinga, é ambientes, em geral, não são endêmicas, mas

GASPARIN, M.; SEVEGNANI, L.; SCHROEDER, E. Formação pioneira com influência marinha - vegetação de restinga. In:
SEVEGNANI, L.; SCHROEDER, E. Biodiversidade catarinense: características, potencialidades e ameaças. Blumenau: Edifurb,
2013, p. 116-127.

1 Mestre em Ensino de Ciências Naturais e Matemática, bióloga e professora da Rede Pública Estadual de Ensino. Apoio FAPESC
2 Doutora em Ecologia, bióloga, professora e pesquisadora na Universidade Regional de Blumenau – FURB
3 Doutor em Educação Científica e Tecnológica, biólogo, professor e pesquisador na Universidade Regional de Blumenau – FURB

116 | B i o d i v e r s i d a d e C a t a r i n e n s e
provém de ambientes vizinhos que são geolo- (Androtrichum trig ynum), orvalhinha ou drósera
gicamente mais antigos como a Floresta Om- (Drosera brevifolia), junco ( Juncus acutus), bata-
brófila Densa, porém, aparecem ainda espécies teira-da-praia (Ipomoea pes-caprae) (Figura 14c),
de origem andina, do sul da América do Sul e feijão-da-praia (Canavalia rosea), capim-das-du-
Antártida (CORDAZZO et al., 2006). nas (Panicum racemosum), cipó-da-praia (Ipomoea
É grande a riqueza de espécies de plantas en- imperati), carrapicho-da-praia ou rosetão (Aci-
contradas na restinga (KORTE et al., 2013b). carpha spathulata), pinheirinho-da-praia (Remirea
Dentre elas destacam-se, segundo Klein (1978), maritima), grama-da-praia (Sporobolus virginicus)
Falkenberg (1999) e Cordazzo et al. (2006): e mangue-da-praia (Scaevola plumieri), palmeira
capotiragua (Blutaparon portulacoides), salsa-da- (Butia catharinensis) (Figura 14a mangue-formiga
-praia (Hydrocotyle bonariensis), marcela (Achyro- (Clusia criuva), caraguatá (Bromelia antiacantha)
cline satureioides), margarida-das-dunas ou mar- (Figura 14b), cipó-leiteiro (Mandevilla funiformis)
cela-graúda (Senecio crassiflorus), junco-da-praia (Figura 14d), entre tantas outras.

A B

C D
Figura 14: Biodiversidade na Formação Pioneira de Influência Marinha: a) Butiá-da-praia (Butia cathari-
nensis) em Imbituba; b) Caraguatá (Bromelia antiacantha). Foto: Charles G. Boudreault; c) Batateira-da-
-praia (Ipomoea pes-caprae); d) Cipó-leiteiro (Mandevilla funiformis). Demais fotos: Lucia Sevegnani

A V e r t e n t e A t l â n t i c a | 117
Há também espécies endêmicas de restin- da biodiversidade local, inclusive afetando as
ga como unha-de-gato (Mimosa catharinensis), espécies endêmicas de plantas e animais.
que se encontra na lista das ameaçadas de ex- Destacam-se entre os répteis o lagartinho-
tinção. Plantas como o butiá-da-praia (Butia -da-praia (Liolaemus occipitalis) (Figura 18d) -
catharinensis) (Figura 14a) são característica espécie rara, encontrada somente em Santa
das restingas catarinenses e fornecem ali- Catarina e no Rio Grande do Sul, além de ou-
mento para vários animais frugívoros, além tros répteis como cágado-preto (Acanthochelys
de ser utilizada pela população litorânea na spixii), jararaca-pintada (Bothrops pubescens),
confecção de artefatos e de bebidas, venda e cobra-cega-de-crista (Amphisbaena kingii), na-
consumo de frutos. riguda (Xenodon dorbigny), falsa-coral (Oxyrho-
Entre a vegetação, encontramos intera- pus rhombifer), coral-verdadeira (Micrurus alti-
ções ecológicas importantes como a simbiose rostris); corredeira-listrada (Liophis flavifrenatus)
existente entre plantas e fungos micorrízicos e anfíbios como rã-manteiga (Leptodactylus
(para mais detalhes, ver Box 4, Capítulo 7). latrans). Dentre os mamíferos há o gambá-de-
Os fungos se alojam nas raízes das plantas -orelha-preta (Didelphis aurita), cuica-d’água
permitindo melhor absorção de nutrientes, (Chironectes minimus), catita (Monodelphis sorex),
especialmente em ambiente limitado de re- bugio-ruivo (Alouatta clamitans), lontra (Lontra
cursos (CORDAZZO et al., 2006). longicaudis), gato-do-mato (Leopardus tigrinus),
As plantas acabam por influenciar na di- gato-maracajá (Leopardus wiedii), cateto (Pecari
nâmica local, inclusive no aparecimento e ins- tajacu), capivara (Hydrochaerus hydrochaeris). São
talação dos animais, em geral, não exclusivos encontradas, ainda, várias espécies de mor-
deste ambiente, entre eles, os insetos, aves e cegos. Entre os peixes encontrados nas lagu-
mamíferos. Muitas aves preferem a restinga nas, lagoas ou pescados no mar registram-se:
e, algumas vezes, as espécies diferem de um o robalo (Centropomus paralellus), o linguado
ambiente para outro. Dentre as espécies que (Citharichthys spilopterus) e a sardinha (Sardi-
ocorrem na restinga destacam-se, nas planí- nella brasiliensis) (SCHIEFLER; SOARES,
cies arenosas com vegetação rasteira ou au- 1994; VILLANUEVA; SILVA, 1995; GUA-
sente, o chimango (Milvago chimango), quero- DAGNIN; LAIDNER, 1999; NAKA; RO-
-quero (Vanellus chilensis), sábia-do-campo DRIGUES, 2000; GRAIPEL; CHEREM;
(Mimus saturninus), coruja-buraqueira (Athene XIMENEZ, 2001; BARBOSA, 2003; CHE-
cunicularia) (Figura 28f), curriqueiro (Geosit- REM et al., 2004; PIANENTINI; CAMP-
ta cunicularia), caminheiro-zumbidor (Anthus BELL-THOMPSON, 2006; CARVALHO;
lutescens). Aves como pomba-galega (Patagioe- ZOCCHE; MENDONÇA, 2009; GHIZO-
nas cayennensis), pica-pau-anão-de-coleira (Pi- NI-JÚNIOR et al.,2009); KUNZ; GHIZO-
cumnus cirratus), rendeira (Manacus manacus), NI-JÚNIOR; GIASSON (2011).
cambacica (Coereba flaveola), saíra-de-costas- Falkenberg (1999, p.8), após longo estudo
-pretas (Tangara peruviana) e saí-azul (Dacnis das espécies e ecossistemas que compõem a
cayana) são encontradas na restinga arbórea. restinga e ampla revisão da literatura, decidiu:
Há, também, caranguejos que fazem suas to-
[...] adotar para a restinga catarinense uma
cas na areia, como a maria-farinha (Ocypode
classificação fitofisionômica bastante mais
quadrata). Neste ambiente frágil e dinâmico, a simples, reconhecendo três tipos básicos (I a
vegetação tem um papel fundamental na sua III) [...] e subdividindo o primeiro em três ti-
fixação e conservação, fazendo com que sua pos de ambientes:
destruição acabe por implicar na diminuição I Restinga herbácea

118 | B i o d i v e r s i d a d e C a t a r i n e n s e
1.1. Restinga herbácea/subarbustiva de praias O presente trabalho reconhece as dife-
e dunas frontais renças fisionômicas existentes na Formação
1.2. Restinga herbácea/subarbustiva de dunas Pioneira de Influência Marinha (Figura 15),
internas e planícies
mas para fins didáticos decide descrever os
1.3. Restinga herbácea/subarbustiva de lagu-
nas, banhados e baixadas diferentes ecossistemas pertencentes à restin-
II. Restinga arbustiva ga como popularmente são chamados.
III. Restinga arbórea (ou mata de restinga).

Figura 15: Perfil ideal da Formação Pioneira de Influência Marinha com os ecossistemas de praia, duna,
lagoa, banhado. Desenho: Lucia Sevegnani

5.3.2.1 P raias

As praias (Figura 16a) são formadas por de exposição ao sol, intensidade e frequên-
depósitos de materiais erodidos e inconsoli- cia dos ventos, taxa de oxigênio presente no
dados como areia e cascalho, transportados substrato arenoso, variação na granulometria
e depositados por processos sedimentares do sedimento e na declividade do terreno e
associados às ondas e correntes costeiras ge- intensidade do hidrodinamismo das ondas e
radas por ventos e variação de maré (SOU- das correntes oceânicas. São classificadas em
ZA et al., 2008). Correspondem ao primeiro calmas ou protegidas e expostas ou batidas
ecossistema terrestre que faz encontro com (CORREIA; SOVIERZOSKI, 2009).
o mar e apresentam base geológica arenosa, São ambientes ricos em vida, embora a ve-
rochosa ou areno-lodosa, com diferentes ân- getação seja ausente ou muito rara. As espé-
gulos de inclinação (CORREIA; SOVIER- cies de plantas comuns nas praias catarinen-
ZOSKI, 2009). ses foram citadas por Falkenberg (1999) e são
As praias arenosas, muito comuns em apresentadas no ecossistema dunas, neste sub-
Santa Catarina, são constituídas por areias -capítulo. Os animais encontrados nesses lo-
claras de origem carbonática ou escuras, de cais são invertebrados e normalmente vivem
origem vulcânica. As praias podem também parcial ou totalmente enterrados no substrato
ser rochosas ou areno-lodosas (CORREIA; como é o caso do caranguejo maria-farinha
SOVIERZOSKI, 2009). Esses ecossistemas (Ocypode quadrata), corrupto (Callichirus major)
recebem influência da variação da tempera- (Figura 18e), da pulga-da-praia (crustáceo an-
tura da água e do ar, duração dos períodos fípode), das tatuíras (Emerita brasiliensis), dos

A V e r t e n t e A t l â n t i c a | 119
A B

C D

E F
Figura 16: Ecossistemas presentes na Formação Pioneira de Influência Marinha. a) Complexo da Lagoinha
do Leste, Florianópolis; b) Lagoa do Peri, Florianópolis. Fotos: Charles G. Boudreault; c) Duna fixa, praia
do Campeche, Florianópolis. Foto: Lucia Sevegnani; d) Duna móvel no Parque Estadual do Acaraí (FATMA).
Foto: Edson Schroeder; e) Costão da Praia da Conceição, Bombinhas. Foto: Lucia Sevegnani; f) Curso d’água
na Baixada do Maciambu, Parque Estadual do Tabuleiro (FATMA), Palhoça. Foto: Charles G. Boudreault.

12 0 | B i o d i v e r s i d a d e C ata r i n e n s e
equinodermos - bolachas-da-praia e das es- de Santa Catarina e Rio Grande do Sul que
trelas-do-mar, dos moluscos bivalves. ocorre em dunas costeiras.
Dentre os vertebrados encontrados nas Os cordões arenosos (Figura 16a) são
praias ou próximo delas, estão o atobá-mar- formados por depósitos de areia trazidos
rom (Sula leucogaster), o tesourão (Fregata mag- pelas ondas do mar que se acumulam em
nificens), o gaivotão (Larus dominicanus) (Figu- um determinado local, formando línguas de
ra 18a) e o trinta-réis-de-bico-amarelo (Sterna areia. Frequentemente, nessas regiões, não
hirundinacea). Das aves que forrageiam na se verifica o estabelecimento de comunida-
areia, lista-se o piru-piru (Haematopus pallia- des de plantas ou sua instalação é muito di-
tus) e a batuíra-de-coleira (Charadrius colla- fícil. Porém, são áreas que apresentam um
ris); o talha-mar (Rynchops niger), entre outros grande número de nutrientes trazidos pelas
(NAKA; RODRIGUES, 2000). Destaca-se ondas do mar e que servem de alimento
como réptil o lagartinho-da-praia (Liolaemus para diversos animais, como por exemplo,
occipitalis) (Figura 18d), espécie endêmica para as aves.

5.3.2.2 L agoas e l agunas

As lagoas costeiras (Figura 16b) são cor- xinal, a Lagoa dos Freitas, a Lagoa Urus-
pos d’água dos mais variados tamanhos. sanga Velha, a Lagoa Arroio Corrente e a
Alguns são ecossistemas formados por Lagoa Jaguaruna.
pequenas depressões com preenchimento Embora no Brasil o termo lagoa costeira
temporário com água da chuva e/ou do mar popularmente se refira aos corpos d’água iso-
como é o caso dos espelhos d’água tempo- lados ou conectados com o mar, cientifica-
rários que ocorrem nas dunas da Joaquina, mente há definições mais precisas. A maioria
Santinho e Ingleses. Outros são corpos das lagoas é na verdade laguna, pois estas são
d’água de grandes extensões e se consti- formadas quando o corpo d’água permanece
tuem em regiões de interface entre zonas ligado ao mar por fluxo e refluxo de marés.
costeiras, águas interiores e águas costeiras As lagoas costeiras são isoladas do mar, sem
marinhas (ESTEVES, 1998). Esses corpos refluxo (ESTEVES, 1998).
d’água grandes são as lagoas e lagunas. Em A Lagoa do Peri (Figura 16b) tem sua ori-
Santa Catarina, encontramos vários corpos gem através do isolamento de enseadas e pe-
d’água denominados popularmente de lago- quenas baías por cordões de areia, não sofre
as, tais como: Lagoa da Conceição, Lagoa influência das marés e é um reservatório de
do Peri e o maior complexo lagunar do Es- água doce responsável por abastecer o sul da
tado, formado pela Lagoa do Imaruí, La- Ilha de Santa Catarina (SILVA, 2000).
goa de Santo Antônio e Lagoa Mirim, que Nas lagoas, encontra-se um pequeno nú-
estão interligadas por canais entre si e por mero de espécies de plantas aquáticas, com
um único canal (o Canal da Barra de Lagu- raízes que normalmente se fixam no lodo
na) através da Lagoa de Santo Antônio ao existente no fundo ou são flutuantes quando
Oceano Atlântico. Além dessas lagoas, en- são encontradas em locais mais profundos, ou
contramos ainda outras, como a Lagoa do ainda, anfíbias quando podem vicejar em ter-
Sombrio, a Lagoa do Caverá, a Lagoa Mãe ra firme e em ambiente aquático (IRGANG;
Luzia, a Lagoa dos Esteves, a Lagoa do Fa- PEDRALLI; WAECHTER, 1984). A espé-

A V e r t e n t e At l â n t i c a | 121
cie exótica mais comum é soldanela-d’água (Callinectes danae), camarões e moluscos conhe-
(Nymphoides indica) que se encontra presa ao cidos como marisquinho e berbigão. As aves
fundo da lagoa e nos locais mais rasos está características desse ambiente são: biguá (Pha-
associada ao junco (Scirpus californicus), tiririca lacrocorax brasilianus), pernilongo-de-costas-
(Heliocharis geniculata), aguapé (Eichhornia spp.) -brancas (Himantopus melanurus), garça-bran-
e pinheirinho-d’água (Myriophyllum brasiliense), ca-grande (Ardea alba), garça-branca-pequena
além do Peri (Fuirena robusta), que deu nome à (Egretta thula), frango-d’água (Gallinula galeata),
lagoa devido a sua abundância (BRESOLIN, maçarico-de-perna-amarela (Tringa flavipes) e
1979). o martim-pescador-grande (Megaceryle torqua-
A Lagoa da Conceição, na Ilha de Santa ta) (NAKA; RODRIGUES, 2000; PIACEN-
Catarina é, na realidade, uma laguna que está TINI; CAMPBELL-THOMPSON, 2006).
ligada ao mar pelo canal da Barra da Lagoa. A Lagoa de Santa Marta, que de fato é
Sua formação ocorreu através de sedimen- uma laguna, liga-se ao norte com o sistema
tos trazidos pelos ventos e ondas formando lagunar Santo Antônio-Imaruí e Mirim e, ao
barreiras que acabaram isolando parcial- sul, com o sistema lagunar Camacho-Laran-
mente o corpo lagunar do oceano, durante jal-Garopaba do Sul (SCHERER et al., 2006)
o período Holoceno (BARBOSA, 2003). As (Figura 17).
águas vindas dos morros e das chuvas fi- As lagoas do Sombrio e do Caverá estão
cavam aprisionadas na lagoa. Nas margens descritas nos trabalhos realizados por Ale-
do canal, a vegetação encontrada é consti- xandre e Aguiar (2000). A lagoa do Sombrio
tuída, principalmente, de gramíneas como está localizada nos municípios de Sombrio e
capim-da-praia (Spartina densiflora) e juncos, São João do Sul e liga-se à Lagoa do Caverá
que impedem a erosão das margens e prote- pelo rio Caverá e à Lagoa de Fora, através do
gem pequenos peixes e crustáceos marinhos rio Novo. A lagoa do Sombrio apresenta uma
(BARBOSA, 2003). salinidade menor que 0,5%, comportando-se
A fauna da Lagoa da Conceição é abundan- como uma lagoa com água doce. Essas lagoas
te e diversificada, compreendendo espécies são usadas para a pesca artesanal de espécies
de peixes como sardinha, peixe-rei, corvina, como robalo, traíra, cará, corvina, bagre, tai-
tainha. Aparecem ainda crustáceos como siris nha, linguado e siri.

Figura 17: Laguna Santo Antônio em Laguna. Foto: L auro E. Bacca

12 2 | B i o d i v e r s i d a d e C ata r i n e n s e
A B

C D

E F
Figura 18: Animais da Formação Pioneira de Influência Marinha. a) Gaivotão (Larus dominicanus). Foto:
Tiago J. Cadorin; b) Tapicuru-de-cara-pelada (Phimosus infuscatus). Foto: Charles G. Boudreault; c) Lagar-
to-teiú (Tupinambis teguxim). Foto: Tiago J. Cadorin; d) Lagartinho-da-praia (Liolaemus occipitalis). Foto:
César P. L. de Oliveira; e) Corrupto (Callichirus major). Foto: Lucia Sevegnani; f) Coruja-buraqueira (Athene
cunicularia). Foto: César P. L. de Oliveira

A V e r t e n t e At l â n t i c a | 12 3
5.3.2.3 Os ban h ados ou p â ntanos

Os banhados (Figura 16f) são ecossiste- asper), Paspalum spp., Panicum spp., Potamogeton
mas existentes em áreas baixas entre dunas, spp., gravatá ou caraguatá (Eryngium pandanifo-
entremeando a vegetação de restinga, onde se lium, E. burneum), alface-d’água (Pistia stratiotes),
acumulam as águas das chuvas, bem como às pinheirinho-d’água (Myriophyllum aquaticum),
margens de lagoas que durante as épocas de chapéu-de-couro (Echinodorus grandiflorus, E.
chuvas estão parcialmente ou totalmente co- longiscapus), entre tantas outras.
bertas pelas águas (Bresolin, 1979). Exis- Algumas aves encontradas nos banhados
tem banhados em vários locais da Ilha de San- ocorrem em função da vegetação paludíco-
ta Catarina tais como Jurerê e Rio Tavares, e la (de banhado) como garça-branca-pequena
também no Pântano do Sul e na localidade de (Egretta thula), garça-branca-grande (Ardea
Morro das Pedras. alba), socozinho (Butorides striata), marreca-de-
Nas áreas úmidas, podendo ser brejos, ba- -pé-vermelho (Amazonetta brasiliensis), saracura-
nhados ou pântanos, margens de lagoas e la- -do-banhado (Pardirallus sanguinolentus), saracu-
gunas, e nas depressões intercordões arenosos ra-anã (Pardirallus nigricans), sana-carijó (Porzana
com substrato orgânico, com lâmina d’água albicollis), pinto-d’água-comum (Laterallus me-
sub-superficial, aflorante rasa, às vezes até pro- lanophaius), tapicuru-de-cara-pelada (Phimosus
funda, grande e rico conjunto de espécies de infuscatus) (Figura 18b), jaçanã (Jacana jacana),
plantas podem se instalar, em alguns momen- narceja (Gallinago paraguaiae), canário-do-brejo
tos formando comunidades quase que mono- (Emberizoides ypiranganus), polícia-inglesa (Stur-
específicas. nella supercilliaris), chopim-do-brejo (Pseudoleistes
Falkenberg (1999) cita as espécies mais fre- virescens) e cardeal-do-banhado (Amblyrhamphus
quentes nesses ambientes: papa-mosca (Drosera holosericeus) (NAKA; RODRIGUES, 2000).
brevifolia, D. capillaris), Utricularia spp., Paepalan- As lagoas, lagunas e banhados, com sua rica
thus polyanthus, Paepalanthus spp.), sempre-viva biodiversidade não são ambientes estáveis, po-
(Eriocaulon magnificum, Eriocaulon spp.), junco ou dendo sofrer mudanças, com o passar dos anos,
gunco (Juncus acutus, Juncus spp.), Cyperus spp., através do preenchimento progressivo das ex-
Rhynchospora spp., junco ou piri (Scirpus mariti- tensões de água por motivo do desenvolvimen-
mus, Scirpus spp.), botão-de-ouro, sempre-viva to da vegetação e da sedimentação. O assore-
(Xyris spp.), erva-de-bicho (Polygonum spp.), amento é gradativo, provocado por aluviões,
cruz-de-malta (Ludwigia spp.), taboa (Typha pela deposição de detritos animais e plantas no
domingensis); quaresmeira (Tibouchina asperior, T. fundo e pelo avanço e desenvolvimento da ve-
trichopoda e Acisanthera alsinifolia), musgo (Sphag- getação. Desta forma, o contínuo assoreamento
num spp., soldanela-d’água (Nymphoides indica), transforma lagunas e lagoas em pântanos, po-
aguapé (Pontederia lanceolata, Eichhornia crassipes, dendo, com o avanço da sedimentação no local,
E. azurea); samambaia-do-mangue (Acrosti- permitir o desenvolvimento de uma floresta.
chum danaeifolium), Fimbristylis spadicea, Cladium Nesse caso, a sucessão ecológica em laguna e la-
mariscus, Salicornia sp., guaicuru (Limonium goas, processo de mudança nas comunidades de
brasiliense), Sporobolus virginicus; lentilha-d’água plantas e animais, bem como nas características
(Lemna spp.); Salvinia spp., margarida-do-ba- físicas do ambiente ao longo do tempo, pode
nhado (Senecio bonariensis); capim-do-mangue ser de milênios (BEHLING et al., 2009), partir
(Spartina alterniflora, S. densiflora); capim-treme- de ambiente úmido até a condição de solo bem
-treme (Briza uniolae), capim-pluma (Erianthus drenado (OSBORNE, 2000).

124 | B i o d i v e r s i d a d e C ata r i n e n s e
5.3.2.4 A s dunas

As dunas (Figura 16c e d) têm sua cons- é uma grande barreira para o deslocamento
tituição predominantemente arenosa com da areia pelos ventos.
aparência de uma pequena elevação produ- As dunas têm sua importância, fun-
zida pela ação dos ventos que amontoam cionando como barreira natural da invasão da
a areia, situada no litoral ou no interior do água do mar e da areia em áreas interiores e
continente, podendo estar recobertas, ou balneários, protegendo o lençol de água doce,
não, por vegetação. As dunas recobertas evitando a entrada de água salgada, protegen-
pela vegetação são denominadas de dunas do também as costas das ressacas.
fixas (Figura 16c), enquanto as dunas sem Nas dunas fixas (Figura 16c), caracteriza-
esta cobertura são conhecidas como móveis das por apresentar um substrato mais estável,
e as parcialmente cobertas como semimó- há maior biodiversidade, maior quantidade
veis, pelo fato de se deslocarem com a ação de matéria orgânica e menor pH. A influência
dos ventos (BRASIL, 2002). maior da vegetação nesses locais está relacio-
As dunas podem ser frontais, quando de nada com a distância até o aquífero freático.
frente para o mar, tendo uma parte diaria- Falkenberg (1999) arrola as dezenas de es-
mente tocada pelas ondas. Na sua parte pos- pécies em dunas e planícies de Santa Catari-
terior, inicia-se a colonização por espécies na, nem todas com nome popular conhecido
herbáceo-arbustivas, desencadeando proces- ou usado: Alternanthera brasiliana, A. moquinii;
so de fixação do substrato arenoso. aroeira-vermelha (Schinus terebinthifolius) (Fi-
De acordo com CORDAZZO et al. gura 19a); carquejinha (Baccharis articulata); B.
(2006), a formação das dunas ocorre a par- radicans; Senecio platensis; erva-de-santa-maria
tir da deposição de areia levada pelas ondas (Chenopodium spp.); cipó-lixa (Davilla rugosa);
que, ao secar nas marés baixas, é transpor- camarinha (Gaylussacia brasiliensis); Cenirosema
tada pelo vento até a energia se dissipar ou virginianum; tansagem (Plantago catharinea); An-
até encontrar uma barreira, onde se acumula. drotrichum trig ynum; Andropogon arenarius, capim-
Quanto maior a velocidade do vento, maior é -rabo-de-burro (Andropogon bicornis), capim-tre-
o tamanho dos grãos transportados e maior é me-treme (Briza spp.), Eragrostis spp., Imperata
a distância que estes podem ser levados. brasiliensis, Paspalum arenarium, Schizachyrium
A vegetação que aparece nas dunas cos- spp., Chloris retusa, Ambrosia elatior, Conyza
teiras não se distribui homogeneamente, spp., Gamochaeta spp., Pterocaulon spp., Tibou-
apresentando-se disposta em faixas ou man- china versicolor, (pega-pega Desmodium spp.), ba-
chas, podendo ir de cobertura herbácea até leeira (Cordia monosperma).
arbustiva e na posição oposta à direção pre- Como trepadeiras, Falkenberg (1999) cita:
dominante dos ventos pode ter inclusive o esporão-de-galo (Strychnos trinervis), orquídea-
desenvolvimento de cobertura formada por -baunilha (Vanilla chamissonis), Norantea bra-
arvoretas. Essa disposição ocorre por causa siliensis, Marcgravia polyantha, cará (Dioscorea
das variações nas feições topográficas, além spp.), maracujás (Passiflora spp.), salsaparrilha
de fatores ambientais como a salinidade, (Smilax spp.), Paullinia spp. (cipó-timbó), além
profundidade do lençol freático, movimen- de outras.
tação da areia e disponibilidade de nutrien- Quando as dunas estão fixas pela vegeta-
tes, temperatura e o vento, fatores que au- ção e também em áreas mais abrigadas dos
mentam a taxa de transpiração. A vegetação ventos, com o passar do tempo e com a me-

A V e r t e n t e At l â n t i c a | 12 5
lhora nas condições do substrato, há forma- maria-mole (Guapira opposita); guamirim (Myr-
ção de emaranhada cobertura arbustiva e cia brasiliensis), Eugenia spp.; Myrcia rostrata, M.
herbácea podendo atingir, em alguns locais, multiflora, M. selloi), ipê-amarelo (Handroanthus
porte de arvoretas. A mesma espécie pode es- pulcherrimus, Handroanthus spp.); pau-ripa (Or-
tar sobre as dunas com um tamanho inferior mosia arborea), tucaneira (Citharexylum myrian-
a um metro de altura e na floresta atingir 30 thum), guapeba (Pouteria lasiocarpa), carobi-
m, por exemplo, a maria-mole (Guapira oppo- nha ( Jacaranda puberula), camboatá-vermelho
sita). Muitas das espécies que se encontram (Cupania vernalis), camboatá-branco (Matayba
na restinga arbórea são oriundas da Floresta intermedia), Ternstroemia brasiliensis; pau-ange-
Ombrófila Densa, que ocorre na vizinhan- lim (Andira sp.). Nos solos úmidos, são fre-
ça. Falkenberg (1999) cita as espécies nessas quentes: ipê amarelo (Handroanthus umbellatus),
condições: mangue-formiga (Clusia criuva); olandi ou guanandi (Calophyllum brasiliense),
tanheiro ou tapiá-guaçu (Alchornea tripliner- esta especialmente na metade norte de Santa
via), jerivá ou coquinho-de-cachorro (Syagrus Catarina, algodão-da-praia ou uvira (Hibiscus
romanzoffiana), figueiras-mata-pau (Ficus or- tiliaceus), cortiça (Annona glabra), jacatirão-do-
ganensis, Coussapoa microcarpa), ingá (Inga lus- -brejo (Huberia semiserrata), guamirim (Myrcia
chnathiana); pau-gambá (Abarema langsdorffii), multiflora, M. dichrophylla).
canela-amarela (Nectandra oppositifolia), canela- Permeando as arvoretas da restinga, po-
-merda (N. megapotamica), canela-da-praia, dem ser encontrados arbustos e ervas, às ve-
canela-do-brejo (Ocotea pulchella) (Figura 19b), zes formando agrupamentos mais ralos, e em
cupiúva (Tapirira guianensis), araçazeiro (Psi- outras, muito densos, tais como guaricana ou
dium cattleyanum), baga-de-pomba (Byrsonima gamiova (Geonoma schottiana), tucum (Bactris seto-
ligustrifolia); caúna (Ilex theezans, Ilex spp.); se- sa), chal-chal (Allophylus edulis), cutia (Esenbeckia
ca-ligeiro (Pera glabrata), baga-de-macaco (Po- grandiflora), laranjeira-do-mato (Actinostemon con-
soqueria latifolia); pau-leiteiro (Sapium glandula- color), caúna (Ilex pseudobuxus, Ilex spp.), cocão
tum); embaúba (Cecropia glaziovii); capororoca (Erythroxylum amplifolium, E. argentinum, Erythro-
(Myrsine spp.); baguaçu (Eugenia umbelliflora), xylum spp); pimenteira-do-mato (Mollinedia

A B
Figura 19: Espécies sobre dunas fixas: a) Aroeira-vermelha (Schinus terebinthifolius);
b) Canela-do-brejo (Ocotea pulchella). Fotos: Lucia Sevegnani

12 6 | B i o d i v e r s i d a d e C ata r i n e n s e
spp.), xaxim (Alsophila spp.), baga-de-morcego melia antiacantha) (FALKENBERG, 1999).
(Guarea macrophylla), cacto, tuna ou mandacaru Quanto à fauna vivendo nas dunas, mere-
(Cereus hildmannianus), caeté Heliconia farinosa), cem destaque o lagarto-teiú (Tupinambis tegu-
grandiúva-d’anta (Psychotria spp.), Alibertia conco- xim) (Figura 18c) e, entre as aves ocorrem a
lor, Rudgea spp., Piper spp., Peperomia spp., Coc- coruja-buraqueira (Athene cunicularia) (Figura
cocypselum spp., as samambaias (Blechnum spp., 18f), o caminheiro-zumbidor (Anthus lutescens)
Rumohra adiantiformis, Polypodium robustum, Polypo- e o curriqueiro (Geositta cunicularia), que nor-
dium spp.), as bromélias terrícolas que formam malmente são encontradas entre as dunas e a
densos tapetes sobre o solo e, algumas vezes, restinga arbórea, além de marrecas, socós e
podem estar como epífitos (Aechmea spp., Vrie- garças que se alimentam nas lagoas entre as
sea spp., Nidularium innocentii) e caraguatá (Bro- dunas (Figura 16a).

5.3.2.5 Os cost õ es roc h osos

Os costões rochosos (Figura 16e) são am- com relação aos demais ambientes arenosos,
bientes litorâneos formados por afloramentos sendo caracterizada por Clusia criuva (mangue-
de rochas, ou seja, substrato consolidado, situ- -formiga), associada às cactáceas dos gêneros
ados no limite entre o oceano e o continente Cereus e Opuntia, além das muitas bromeliáceas
(BDT, 2006 apud SANTOS; GOMES, 2006). dos gêneros Vriesia, Bromelia, Canistrum, Aech-
Sua origem é muito mais antiga que as restin- mea (IBGE, 2003). A variação nas espécies é
gas vizinhas. Em geral, estes não são englo- resultante dos fatores como os níveis de maré e
bados sob a denominação geomorfológica de exposição ao ar, sombreamento, inclinação do
restinga. costão e grau de exposição à ação das ondas.
Os costões rochosos são importantes ecos- Os costões podem ser divididos em três zo-
sistemas da região entre marés por apresentar nas que são: supralitoral, mediolitoral e infrali-
uma alta riqueza de espécies que são valiosos toral adotada por ALMEIDA (2008). Em San-
ecológica e economicamente, como mexilhões, ta Catarina, há inúmeros costões distribuídos
ostras, crustáceos, algas micro e macroscópicas ao longo do litoral, que propiciam a formação
e uma variedade de peixes que utilizam esses de pequenas baías e praias que fazem a zona
locais para se alimentar, crescer e se reproduzir costeira tão atrativa aos visitantes.
(COUTINHO, 2002). Portanto, como foi evidenciado, a Forma-
Nesses locais, o limite de substrato faz com ção Pioneira de Influência Marinha ou restin-
que ocorram fortes interações biológicas (her- ga e os costões podem ser ricos em espécies
bivoria, predação e competição) entre a grande de plantas que se organizam no espaço, propi-
diversidade de espécies ali encontradas. ciando a formação de ecossistemas que cum-
Os costões expostos são ambientes que prem funções de proteção da costa, da biodi-
apresentam uma biodiversidade limitada pela versidade, bem como fornecem recursos para
escassa quantidade de nutrientes disponíveis, o consumo humano. Quando a vegetação de
a salinidade e a intensa radiação (ALMEIDA, restinga e dos costões é destruída ou se encon-
2008). tra sob contínuos distúrbios provocados pelas
No pontal rochoso, cuja degradação da ro- ações humanas (ver Capítulo 8 sobre ameaças
cha origina grande parte dos sedimentos que à biodiversidade), esta pode se recuperar atra-
formam as praias e dunas, a vegetação varia vés do processo de sucessão secundária.

A V e r t e n t e At l â n t i c a | 12 7
5.3.3 F ormação P ioneira com I n f l u ê ncia
F l u v iomarin h a – M angue z a l
R egina A parecida da R osa 1
L ucia S evegnani 2
E dson S chroeder 3

A
pico próprio.
Formação Pioneira de Influ-
ência Fluviomarinha não per-
tence a Floresta Ombrófila
Densa, mas está associada a
esta. Por isso, é tratada independente em tó-

O manguezal (Figura 20a) é um ecossiste-


consomem grande quantidade de oxigênio
contido no lodo, tornando esse solo anó-
xico, ou seja, praticamente sem oxigênio.
Em um ambiente anóxico, as bactérias pas-
sam a usar o sulfato - uma substância que
está presente nas águas salobras, ricas em
matéria orgânica - passando a produzir o
ma encontrado em locais com água salobra, gás sulfídrico, que confere cheiro desagra-
comum na desembocadura dos rios no oce- dável em áreas de manguezal. O resultado
ano. A água, com cor negra (Figura 20b), é da decomposição torna o ambiente lodoso
salobra, pois apresenta quantidade de sais dis- (Figura 20a) rico em nutrientes, portanto,
solvidos menor do que o teor da água mari- atrativo para muitas espécies de animais,
nha e maior que os contidos na água doce. O plantas e micro-organismos que encontram
IBGE (2012) classificou os manguezais como no manguezal local ideal para nutrir-se e
Formação Pioneira de Influência Fluvioma- reproduzir-se (VANUCCI, 2002)
rinha. Ainda de acordo com Vanucci (2002),
Nos manguezais a velocidade da água é um dos fatores que influenciam na forma-
baixa, pois se situam praticamente ao nível ção dos manguezais é a variação do nível
do mar. Nessas águas calmas, os nutrien- e da frequência das marés; algumas áreas
tes e sedimentos contidos em seu interior podem estar submetidas a inundações mais
se precipitam e acumulam-se ao fundo. Por frequentes e mais elevadas que outras, o
isso, o lodo dos manguezais é rico em ma- que vai influenciar na quantidade de sais
téria orgânica transportada pelos rios ou presentes nesse ambiente. As plantas do
oriunda do próprio manguezal, não decom- manguezal são adaptadas a viver nessas
posta ou em processo de decomposição condições de salinidade. No entanto, a sali-
lenta, em estado especial denominado hú- nidade presente impede o estabelecimento
mus. Durante a decomposição, as bactérias e o crescimento de várias outras espécies.

ROSA, R. A. da; SEVEGNANI, L.; SCHROEDER, E. Formação pioneira com influência fluviomarinha - manguezal. In:
SEVEGNANI, L.; SCHROEDER, E. Biodiversidade catarinense: características, potencialidades e ameaças. Blumenau:
Edifurb, 2013, p. 128-133.

1 Mestre em Ensino de Ciências Naturais e Matemática, bióloga e professora da Rede Pública Estadual de Ensino. Apoio FAPESC
2 Doutora em Ecologia, bióloga, professora e pesquisadora na Universidade Regional de Blumenau – FURB
3 Doutor em Educação Científica e Tecnológica, biólogo, professor e pesquisador na Universidade Regional de Blumenau –
FURB

12 8 | B i o d i v e r s i d a d e C ata r i n e n s e
A

Figura 20: Formação Pioneira de Influência Fluviomarinha: a) Fisionomia. Foto: Edson Schroeder;
b) Água com coloração negra resultante da presença de compostos fúlvicos e húmicos em manguezais,
São Francisco do Sul. Foto: Lucia Sevegnani

A V e r t e n t e At l â n t i c a | 12 9
As adaptações que as plantas do mangue- - Diferentes de outras espécies de plantas,
zal podem apresentar foram destacadas por as sementes do mangue (Rhizophora mangle)
Cordazzo e Seeliger (1995): germinam ainda presas à planta-mãe, só se
- As folhas apresentam características de separando desta ao atingir um determinado
espécies que vivem em regiões com clima tamanho. Durante a queda, estando a maré
seco, dotadas de cutícula espessa, possibili- baixa, a plântula pode afundar no lodo e de-
tando maior resistência ao ataque de micro- senvolver um novo adulto, ou ainda cair na
-organismos e às agressões dos sais aos teci- água durante a maré cheia e ser levada pela
dos da planta; correnteza para outras regiões, às vezes muito
- As plantas possuem estruturas para eli- distantes do local de origem. Esta estratégia
minar o excesso de sal; da semente germinar fixa à planta é vantajo-
- Presença de raízes pneumatóforas, ou sa, pois o lodo, além de ser anóxico, é inunda-
seja, que se desenvolvem para fora do subs- do periodicamente, o que dificulta a fixação
trato e apresentam-se ricas em lenticelas – pe- dos diásporos (fruto e semente) no substrato.
quenas aberturas que facilitam as trocas ga- Os animais do mangue também desenvol-
sosas, como no caso de Avicennia schaueriana e veram características especiais para resistir
Laguncularia racemosa; à dessecação durante a maré baixa e às va-
- Presença de raízes-escora (raízes adven- riações na salinidade decorrente da variação
tícias) que partem da extremidade dos ramos da maré. Durante a maré cheia há entrada de
curvos em direção ao lodo, auxiliando e ofe- água do mar (alta salinidade), porém, quando
recendo sustentação da planta no substrato a maré baixa, a água do rio (baixa salinidade)
(Rhizophora mangle) (Figura 20a); domina o ambiente.

Figura 21: Perfil ideal da Formação Pioneira de Influência Fluviomarinha, também denominada de man-
guezal. Desenho: Lucia Sevegnani

13 0 | B i o d i v e rsi da d e C ata r i n e nse


5.3.3.1 I mport â ncia dos mangue z ais

Como ecossistemas (Figuras 21 e 22a, diversas espécies de peixes, aves e inver-


b, c), os manguezais são de grande impor- tebrados utilizam as águas do manguezal
tância ecológica isso por que a adaptação para a desova, pois nesse ambiente encon-
das árvores do manguezal, formando um tram condições ideais para a reprodução
ecossistema que serve de abrigo e proteção e abrigo, o que faz com que o manguezal
para diversas espécies de animais, algas, seja considerado “berçário do mar” (NEI-
plantas e micro-organismos; e manutenção MAN, 1989). Esta vegetação protege e es-
da vida nas águas litorâneas através do for- tabiliza a linha da costa, além de proteger
necimento de matéria orgânica e nutrientes contra os ventos e os efeitos das marés
(RAVAZZANI; FAGNANI; KOCH, 1999. altas, minimizando a erosão (Panitz;
Inúmeras pesquisas evidenciaram que Porto Filho, 1995).

5.3.3.2 As esp é cies dos mangue z ais

As plantas que podem ser encontradas como os chama-marés (Uca spp.), mariscos
nesse ecossistema são constituídas por um (como o Pholas campechianus) e outros ani-
pequeno número de espécies exclusivas e mais que vivem enterrados na lama e areia.
associadas, algumas delas podendo ocorrer, Entre esses animais destaca-se uma espé-
também, em outras formações litorâneas. cie de balanoglosso (Balanoglossus gigas), um
Entre as espécies restritas aos manguezais animal vermiforme descoberto pelo natu-
estão o mangue-vermelho ou mangue-ver- ralista Fritz Muller nas praias do litoral
dadeiro (Rhizophora mangle), mangue-preto catarinense no século XIX. A fauna dos
ou siriúba (Avicennia schaueriana), mangue- manguezais é bastante variada: podemos
-branco ou mangue-de-sapateiro (Laguncu- encontrar peixes, aves, répteis e mamífe-
laria racemosa). O desenvolvimento e o ta- ros além dos organismos microscópicos.
manho de cada árvore irão depender das Esses animais podem ser provenientes de
condições do ambiente, como o tipo de ambientes terrestres, marinhos ou de água
solo, quantidade de chuva e variação das doce e podem permanecer no manguezal
marés. durante toda a sua vida ou apenas parte
Como espécies associadas há: algodo- dela (NANNI; NANNI, 2005).
eiro-da-praia (Hibiscus tiliaceus), avencão- Dentre a rica fauna vertebrada, po-
-do-mangue ou samambaia-do-mangue dem-se citar aves como biguá (Phalacro-
(Acrostichum danaefolium) (Figura 22d), ca- corax brasilianus) (Figura 22e), garça-azul
pim-praturá ou capim-paraturá (Spartina (Egretta caerulea), garça-branca-pequena
alterniflora, S. densiflora) (VANUCCI, 2002). (Egretta thula), garça-moura (Ardea cocoi ),
Outras espécies podem ocorrer próximas trinta-réis-de-bico-vermelho (Sterna hirun-
dos manguezais, dependendo da salinidade dinacea), maçarico-branco (Calidris alba),
e da drenagem do solo. figuinha-do-mangue (Conirostrum bicolor),
Com relação aos animais, o caranguejo- pernilongo-de-costas-brancas (Himantopus
-uçá (Ucides cordatus) é muito conhecido, melanurus) (Figura 22f ); mamíferos como
mas há outras espécies de caranguejos, gambá (Didelphis aurita), cuíca (Lutreolina

A Ve r t e n t e At l â n t i c a | 131
crassicaudata), lontra (Lontra longicaudis), pa- rostris); peixes como a tainha (Mugil plata-
cão ou ratão-do-banhado (Myocastor coypus), nus), corvina (Micropogonias furnieri ), robalo
mão-pelada (Procyon cancrivorus); répteis (Centropomus parallelus), linguado (Cithari-
como o jacaré-papo-amarelo (Caiman lati- chthys spilopterus), entre tantos outros.

5.3.3.3 D istribuição dos mangue z ais no E stado

Os manguezais cobrem áreas significati- flete os efeitos da exploração no passado.


vas do litoral catarinense. Em Florianópo- Nos locais alcançados pelas marés mais al-
lis cobria cerca de 4% da Ilha. Uma descri- tas, ocorre o mangue-branco (Laguncularia
ção bem detalhada dos manguezais da Ilha racemosa), entremeado com o algodoeiro-da-
de Santa Catarina foi efetuada por Souza -praia (Hibiscus tiliaceus), mangue-vermelho
Sobrinho, Bressolin e Klein (1979). (Acrostichum aureum), cortiça (Annona glabra),
Duas áreas com manguezais se desta- junco ( Juncus acutus), capororoca (Rapanea
cam em extensão, diversidade e densida- parviflora) e Dalbergia ecastaphyllum. Na faixa
de de espécies: a Baía da Babitonga (São herbácea, encontram-se as gramíneas como
Francisco do Sul, Araquari, Joinville, e capim-praturá ou capim-paraturá (Spartina
Barra do Sul) e os manguezais da Ilha de densiflora e S. alterniflora).
Santa Catarina (Florianópolis). Essas áreas Os manguezais do rio Caveiras, Palhoça,
foram e continuam sendo afetadas de di- Tapera e o da Baía da Babitonga apresen-
ferentes formas, principalmente com re- tam basicamente as mesmas espécies das
lação à expansão das cidades próximas a áreas descritas anteriormente. Em Balneá-
esses ambientes. É possível observar desde rio Camboriú, há uma pequena extensão de
pequenos aglomerados de árvores até bos- mangue situada ao longo do rio Camboriú,
ques mais expressivos, onde ocorre uma mas cada vez mais limitado pelo avanço
única espécie vegetal ou uma composição da urbanização exacerbada desse balneá-
entre duas ou mais espécies (TOGNELLA rio. Em outros numerosos pontos do lito-
DE ROSA et al., 2006). ral catarinense, formam-se manguezais de
Na Ilha de Santa Catarina, é possível ob- pequena extensão, mas importantes para
servar quatro áreas de manguezais, confor- a manutenção e estabilização dos rios no
me descrito por Souza Sobrinho, Bressolin oceano.
e Klein (1979): Ratones, Saco Grande, Três Abaixo de Laguna em direção ao Rio
Pontes e Rio Tavares, os quais apresentam Grande do Sul, o mangue arbóreo não
um aspecto fisionômico bastante similar. ocorre mais, limitado pela temperatura das
A espécie dominante é o mangue-preto ou águas vindas do sul. A partir desse municí-
siriúba (Avicennia schaueriana), que apresen- pio, apenas espécies herbáceas de mangue
ta nas suas raízes superficiais um grande são encontradas.
número de pneumatóforos. O mangue- Os impactos das ações humanas sobre
-vermelho (Rhizophora mangle) (Figura 20b) os manguezais de Santa Catarina (ver Capí-
não é abundante, pois o clima subtropical tulo 8) e sua biodiversidade, bem como as
da região não favorece o estabelecimento potencialidades de uso, serão abordados no
dessa espécie, bem como sua escassez re- Capítulo 9.

132 | B i o d i v e rsi da d e C ata r i n e nse


A B

C D

E F
Figura 22: Formação Pioneira de Influência Fluviomarinha. a) Vista geral da vegetação, Canal do Lingua-
do, São Francisco do Sul. Foto: Lucia Sevegnani; b) Manguezal herbáceo e arbóreo, São Francisco do Sul;
c) Manguezal com substrato lodoso. Fotos: Edson Schroeder; d) Samambaia-do-mangue (Acrosticum da-
naefolium). Foto: Lucia Sevegnani; e) Biguá (Phalacrocorax brasilianus); f) Pernilongo-de-costas-brancas
(Himantopus melanurus). Fotos: Tiago J. Cadorin

A Ve r t e n t e At l â n t i c a | 13 3
Foto: Márcio Verdi
C ap
a p í tulo
t u l o 6

O P lanalto Central
L ucia S evegnani 1
R udi R icardo L aps 2
E dson S chroeder 3

A o ouvir a palavra Planalto


Central, o catarinense logo se
lembra do pinheiro-do-para-
ná, do pinhão, bem como do
inverno frio com geadas e neve, e mais recen-
temente, da Festa do Pinhão, atributos estes
tão divulgados pelos meios de comunicação.
objetivo deste capítulo é a caracterização das
regiões fitoecológicas presentes no Planalto
Central catarinense, destacando a relevância
ecológica da biodiversidade.
No âmbito deste livro, denominaremos de
Planalto Central Catarinense, ou simplesmen-
te Planalto Catarinense, as áreas pertencen-
Municípios polos como Lages, Curitibanos, tes às bacias hidrográficas dos rios Pelotas,
Urubici, São Joaquim, Bom Jardim da Ser- Canoas e Peixe no planalto centro-sul, que
ra, São Bento do Sul, Canoinhas e Caçador vão formar e compor o rio Uruguai, além das
concentram a maior parte da população, mas bacias do norte, cujas águas deságuam no rio
juntamente com os demais, transformam o Iguaçu, na divisa com o Paraná, estas perten-
planalto num espaço onde as culturas se ex- centes à bacia do rio Paraná. As principais
pressam e as belezas naturais encantam. O bacias do norte do Estado são tributárias do

SEVEGNANI, L.; LAPS, R. R.; SCHROEDER, E. O planalto central. In: SEVEGNANI, L.; SCHROEDER, E. Biodiversidade
catarinense: características, potencialidades e ameaças. Blumenau: Edifurb, 2013, p. 134-171.

1 Doutora em Ecologia, bióloga, professora e pesquisadora na Universidade Regional de Blumenau – FURB


2 Doutor em Ecologia, biólogo, professor e pesquisador na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul - Campus Campo Grande
3 Doutor em Educação Científica e Tecnológica, biólogo, professor e pesquisador na Universidade Regional de Blumenau – FURB

B i o d i v e rsi da d e C ata r i n e nse | 13 5


Iguaçu no âmbito do território catarinense, Negro, que em seguida incorpora-se ao Igua-
subdivididas em: a) afluentes da margem es- çu. b) os rios que deságuam diretamente no
querda do rio Negro, compreendendo os rios Iguaçu (Paciência, Timbó e Jangada) (Figura
Preto, Negrinho, São João, Lança, Lourenço, 1). Ver, também, as regiões hidrográficas (Fi-
Butiá e Canoinhas, estes desaguando no rio gura 10, do Capítulo 4).

Figura 1: Localização do Planalto Central em Santa Catarina. Elaborado por Débora V. Lingner (IFFSC)

Excetuando-se as áreas das bacias tributá- bém, o Morro da Igreja – Urubici, com 1.822
rias do Iguaçu – cujas águas vão compor o m, nos bordos da Serra Geral. No interior
rio Paraná, a maior parte da área do Planalto do Planalto Central, estão presentes as serras
Central tem pendente voltada para sudoeste, da Taquara Verde, da Moema, do Jaraguá, na
desaguando no rio Uruguai (SANTA CATA- parte nordeste e norte do Estado e nas outras
RINA, 1986). partes central e sul deste, as serras do Espi-
Essa região apresenta relevo extremamen- gão, da Anta Gorda, da Pedra Branca e da
te variável expresso em extensos planaltos, Farofa (Santa Catarina, 1986). Estas separam
vales encaixados, bordos de serras, com al- sub-bacias hidrográficas e propiciam condi-
titudes entre 400 e 1.823 m, predominando ções diferenciadas de clima para o desenvol-
aquelas entre 800 e 1.200 m. São destaques vimento da vegetação. (Ver Capítulo 3).
como pontos elevados: o Morro Bela Vista do Recobrindo a maior parte do relevo do
Guizoni – Bom Retiro, com altitude de até Planalto há uma tênue e fértil camada, o
1.823 m, ponto culminante do Estado e, tam- solo, que suporta a vida. Há pequenas áre-

13 6 | B i o d i v e rsi da d e C ata r i n e nse


as em que a rocha ainda está exposta, ou com a altitude: 10ºC (no Morro da Igreja),
seja, sem a presença de camada de solo inferiores a 14ºC nas áreas acima de 1.000 m;
para lhes revestir, especialmente nos pa- em torno de 16ºC (em altitudes entre 1.000
redões e raros afloramentos entremeio à e 750 m), ou seja, na maior parte do Pla-
vegetação. Dependendo das caracterís- nalto Central, e nas partes com altitudes
ticas dos solos, eles foram classificados mais baixas (500 e 400 m) podem atingir
pela EMBRAPA (2006) como: Neossolos 18º C. A presença do planalto no Paraná,
Litólicos, Cambissolos, Argissolos, Orga- Santa Catarina e Rio Grande do Sul faz
nossolos, Gleissolos e Latossolos, sendo com que as temperaturas de verão não se-
os mais frequentes os Cambissolos, to- jam tão elevadas na Região Sul do Brasil
dos com aptidões diferenciadas para uso (NIMER, 1990). A ocorrência de geadas
agrícola, silvicultural ou para preservação. brancas (quando a temperatura ao nível do
Relativo às condições climáticas, o Pla- solo chega a zero grau) e negras (quando a
nalto Central Catarinense apresenta cli- temperatura do ar e da superfície do solo
mas peculiares, compreendendo as áreas encontra-se abaixo de zero grau) pode va-
mais frias do Brasil. O clima é Tempera- riar de três a mais de 30 episódios por ano.
do Mesotérmico Brando Úmido Sem Seca A precipitação de neve (Figura 2) pode
(pelo menos um mês com temperaturas ser considerada normal em áreas acima de
médias inferiores a 15ºC), até pontos com 300 m no Estado, ela é mais frequente nas
clima Temperado Mesotérmico Médio áreas mais elevadas do Planalto. No entan-
Superúmido Sem Seca, (com pelo menos to, sua média anual fica em torno de um
um mês com temperaturas médias infe- episódio por ano, havendo aqueles com
riores a 10ºC), localizado especialmen- maior número e intensidade. Em geral, as
te nos bordos de serras (NIMER, 1990). geadas são ocasionadas pela presença de
As temperaturas anuais médias variam anticiclone polar, deixando o tempo cla-

Figura 2: Ocorrência de neve em Urubici, 2010. Foto: Marcus Zilli

O P l a n a lt o C e n t r a l | 137
ro e com ventos fortes, e a neve está rela- definição dos termos no Capítulo 4.
cionada com a entrada de uma frente po- Ressalte-se que não há concordância
lar, causando a queda brusca das tempera- entre os pesquisadores sobre a melhor no-
turas, com presença de neblina ou chuva menclatura para os campos. Iganci et al.
fina e ventos fortes (NIMER, 1990; BA- (2011) denominaram de Campos de Cima
CKES, 2009). da Serra (Brazilian Subtropical Highland
A precipitação é intensa e bem distri- Grasslands) e constataram que são ricos
buída ao longo do ano no Planalto Catari- em espécies endêmicas. Pillar et al. (2009)
nense ficando entre 1500 a 1750 L/m 2 ou os chamam de campos sulinos, incluindo
milímetros (NIMER, 1990). Nas bordas nesta dominação o bioma Pampa (presen-
das serras, a umidade presente no ar, em te no Rio Grande do Sul, Uruguai, Argen-
geral, oriunda do Oceano Atlântico, en- tina). A presente obra segue a denomina-
contra barreiras, ascende para as partes ção dada pelo IBGE (2012), embora se
mais altas e se condensa, formando densa considere que melhor interpretação possa
neblina ou nuvens que se precipitam em surgir com o aumento do conhecimento
forma de chuvas intensas e frequentes. A científico sobre esta vegetação e análises
presença de neblina é uma forte caracte- biogeográficas, incluindo o Cone Sul da
rística do Planalto, deixando na superfície América do Sul.
das plantas e do solo pequena quantidade A espécie que marca a fisionomia do
de água, relevante para o suprimento das Planalto é a Araucaria angustifolia (Figura
necessidades hídricas de plantas, animais 3), conhecida como pinho-brasileiro, pi-
e micro-organismos nos intervalos entre nheiro, pinheiro-do-paraná, pertencente à
as chuvas. família botânica Araucariaceae, uma coní-
As paisagens do Planalto Central, de- fera exclusiva da América do Sul, ocorren-
terminadas pelo relevo, hidrografia, tipos do somente no Sul e Sudeste do Brasil e
de solo e climas, abrigam característica em pequena parte do território da Argen-
biodiversidade, constituindo três regiões tina e do Paraguai, nos limites com nosso
fitoecológicas, com rico conjunto de es- país (REITZ; KLEIN; REIS, 1979).
pécies e importante variabilidade genética O Inventário Florístico Florestal de San-
contida nelas, adaptadas e resistentes às ta Catarina (IFFSC), baseado no mapea-
condições ecológicas. mento da vegetação feita por Klein (1978),
As três regiões fitoecológicas existentes efetuou cálculo da cobertura original de
no Planalto Central Catarinense são: a Flo- Floresta Ombrófila Mista (FOM) no Pla-
resta Ombrófila Mista, também conhecida nalto Central Catarinense chegando-se a
como floresta com araucária ou mata de 21.650 km 2 de Floresta Estacional, Deci-
araucária; a Floresta Estacional Decidual, dual (FED) 1.997 km 2 e de Estepe 10.301
chamada também de floresta subtropical km 2 , totalizando 33.942 km 2 . A partir dos
do rio Uruguai (KLEIN, 1978; IBGE, levantamentos de campo, cruzados com da-
1992; 2012; LEITE; KLEIN, 1990); e a dos de imagens de Satélite, o IFFSC obteve
Estepe (LEITE, 2002; IBGE, 2012), de- valores atualizados para 2010 da vegetação
nominada de campos naturais, campos de da região agora em foco o Planalto Cen-
altitude (KLEIN, 1978) ou campos su- tral: Floresta Ombrófila Mista com 3.426
linos (PILLAR et al., 2009), Campos de km 2 , Floresta Estacional Decidual com 322
Cima da Serra (IGANCI et al., 2011). Ver km 2 e Estepe com 1.114 km 2 , totalizando

13 8 | B i o d i v e rsi da d e C ata r i n e nse


4.873 km 2 . Estes valores representam uma getação, dar-se-á a caracterização das três
redução das áreas de cobertura florestal e regiões fitoecológicas encontradas no Pla-
de campos originais, estes convertidos em nalto Central Catarinense, abordando a
áreas agrícolas, em pastagens ou plantações fisionomia da vegetação e a fauna. As po-
com espécies arbóreas, tais como: Pinus, tencialidades econômicas e ameaças que
Eucalyptus e Malus (macieiras). pairam sobre elas serão abordadas nos Ca-
Visando melhor entendimento da ve- pítulos 8 e 9.

6.1 R egião Fitoecológica da Floresta Ombrófila M ista


Este tipo de vegetação é a mais caracte- (Blechnum, Alsophila), gramíneas, ciperáceas,
rística do Planalto e, sem dúvida, marcada adaptadas à condição de sombreamento.
pela presença da Araucaria angustifolia (ver Recobrindo os troncos, encontram-se
Box 1) que imprime dominância fisionômi- tufos de bromélias (Tillandsia spp.) (Figura
ca (Figuras 3), mas apresentando variações 4a, c), orquídeas (Sophronithes coccinea) e sa-
na composição das espécies e na altura da mambaias (Hymenophyllum spp., Leucotrichum
floresta dentro deste espaço. Floresta im- spp.,  Elaphoglossum spp.) rainha-do-abismo
ponente, com altura entre 30 e 35 m de- (Sinningia sp.) e piperáceas, bem como mus-
terminada pela Araucaria angustifolia, a qual gos e liquens (Usnea spp.) (Figura 4b, c), apro-
forma o primeiro dossel, com suas copas veitando-se da luz e umidade existentes no
largas de cor verde-negro, dando à floresta interior das copas, tanto da Araucaria, como
um aspecto escuro, recebendo o nome de das demais espécies arbóreas e arbustivas,
mata preta. sem sugar nutrientes de sua hospedeira. Há
Abaixo das copas da Araucaria angustifolia também as hemiparasitas, conhecidas como
se forma o segundo dossel composto por ervas-de-passarinho (Struthanthus spp.), que
árvores de copa densa e larga como a im- germinam sobre ramos e com suas raízes
buia (Ocotea porosa) e demais canelas (Oco- haustoriais retiram do xilema da hospedeira
tea pulchella, O. odorifera, Nectandra lanceolata seus nutrientes e água.
e Cryptocaria aschersoniana), o cedro (Cedrela Também frequentes são as trepadeiras,
fissilis), o miguel-pintado (Matayba elaeag- que fixas ao solo ascendem seu caule apoia-
noides), o pinho-bravo (Podocarpus lambertii), das ao tronco das árvores rumo ao topo
dentre dezenas de outras, com alturas entre dessas, para ali expandir seus ramos e cap-
15 e 20 m (Figura 3). turar luz e reproduzir. Em determinados
No sub-bosque, com altura inferior a pontos da floresta, ocorrem maciços eretos
cinco metros, forma-se o terceiro estrato, de taquaras (Merostachys spp.) e apoiados na
com as arvoretas e arbustos como o chao- vegetação, os carás ou catanduvas (Chusquea
-chao (Allophylus edulis), o pau-rainha (Gym- spp.), gramíneas longevas tão características
nanthes concolor), as Psychotria spp., a Cordyline das florestas de Santa Catarina. Como se
spectabilis (guarantã ou varaneira) e o famo- pode perceber, esta floresta está composta
so xaxim-mono (Dicksonia sellowiana). por numerosas formas de vida, agrupadas
O quarto estrato situa-se próximo ao em sinúsias, que para melhor explorar os
solo, local em que se encontram inúme- meios e os recursos necessários a sua sobre-
ras plantas herbáceas com alturas em tor- vivência preenchem a estrutura da floresta,
no de um metro, dentre elas samambaias tornando-a densa e rica em espécies.

O P l a n a lt o C e n t r a l | 139
BOX 1

P I N H E I R O E P I N H ÃO – T E S
L ucia S evegnani

O
Doutora em Ecologia, bióloga, professora e pesquisadora na Universidade Regional de Blumenau – FURB

pinheiro-do-paraná dependendo se estão isolados ou


(Araucaria angustifolia) marca em agrupamentos muito densos.
a fisionomia do Planalto Cada pinha demora até 2,5 anos
do Sul do Brasil e, por sua para estar madura, contando desde o
imponência e fonte de recursos (como início de sua formação, e pode conter
madeira e pinhão), é considerado o entre 10 e 150 pinhões, iniciando a
tesouro dessa região. Esta espécie é liberação das sementes (debulha)
dioica, ou seja, tem uma planta para a partir do mês de fevereiro até
produzir megastróbilo ou pinha, que dezembro, dependendo da variedade
contém as sementes ou pinhões, e (11 identificadas). A maior parte da
outra planta para originar o microstróbilo liberação das sementes ocorre entre
ou pinheco, mingote, que vai gerar o abril e maio. No Planalto pode haver
pólen. Essas duas plantas são chamadas desde um até 200 pinheiros por
popularmente de pinheiro-fêmea e hectare (REITZ; KLEIN, REIS, 1979), o
pinheiro-macho. Em geral, o número Inventário Florístico Florestal de Santa
de plantas produtoras de pinha e de Catarina, em 2009, encontrou uma
pinheco está em proporção de um 1:1 média de 24,2 indiv./ha (MEYER et al.,
nas populações naturais. Nos locais que 2013a). Com produção de pinhões,
sofreram corte seletivo, este balanço medida em Caçador, SC, em 2004
pode estar alterado. No entanto, para e 2005, de 24 a 44 kg por hectare,
que haja pinhão é necessário ter os esses anos foram considerados
dois tipos de pinheiros. Por volta como os de baixa produção,
de 16 anos de idade, os pinheiros pois segundo conhecimento
começam a produção das pinhas, regional há variação interanual na
quantidade (SILVA; REIS, 2009).

14 0 | B i o d i v e rsi da d e C ata r i n e nse


O U R O S D O P L A N A LTO

A colheita dos pinhões tem sido


fonte de alimento e renda importante
para milhares de pessoas e espécies
de animais no Planalto. A exploração
madeireira e o corte da Floresta
Ombrófila Mista para avanço da
agricultura, pecuária e dos plantios
de Pinus e Eucalyptus reduziram em
muito a área de ocupação da floresta
com Araucaria angustifolia. A coleta
excessiva de pinhões também afeta
a conservação desta espécie. B

C D

E F G
Pinheiro-do-paraná (Araucaria angustifolia): a) Formando a Floresta Ombrófila Mista; b) O pinheiro-do-
-paraná; c) Ramo com microstróbilo. Fotos: Lucia Sevegnani; d) Ramo com megastróbilo. Foto: Tiago J.
C adorin; e) Planta jovem; f) Pinha (megastróbilo) com pinhão (semente). F otos: L ucia S evegnani; g)
Caxinguelê ou serelepe (Guerlinguetus ingrami) principal dispersor do pinhão. Foto: Tiago J. Cadorin

O P l a n a lt o C e n t r a l | 141
Figura 3: Perfil ideal da Floresta Ombrófila Mista no Planalto Central de Santa Catarina. Desenho: Lucia Sevegnani

Muito comum no Planalto são as barbas- Klein (1960, p. 22) em seu trabalho “O as-
-de-velho, pendentes dos ramos dos pinhei- pecto dinâmico do pinheiro-brasileiro” res-
ros e demais árvores, imprimindo aspecto saltou: “No Estado Santa Catarina as matas
rendado aos ramos destas. Há espécies com o de araucária se distribuem por quase todo o
mesmo nome popular, mas sem relação taxo- planalto, sendo, porém interrompidas a cada
nômica: os líquens (Usnea spp.) (Figura 4a) e passo pelos campos naturais, que formam
uma bromélia (Tillandsia usneoides) (Figura 4b). como que ilhas, umas maiores e outras me-
Ambos os grupos de espécies aproveitam a nores, quase todas atravessadas pelas ma-
água da chuva ou da neblina, bem como o tas de pinheiros’’. Essa floresta apresentava
gás carbônico e a luz para fazer a fotossíntese. maior exuberância na parte oeste do Estado.

A B C
Figura 4: Barbas-de-velho: a) Usnea sp.; b) Tillandsia usneoides; c) Comparação entre as duas.
Fotos: Lucia Sevegnani

142 | B i o d i v e rsi da d e C ata r i n e nse


Em seu entendimento, a Floresta Ombrófi- a forte teia de interações, tais como: predado-
la Mista avançava sobre os campos, e uma res, parasitas, simbiontes, comensais e mutu-
das primeiras espécies arbóreas pioneiras a alistas. Apesar de que todas as espécies e suas
se instalar era a Araucaria angustifolia, gerando funções serem relevantes, vamos destacar al-
condições ecológicas para as demais espécies gumas delas.
arbóreas, arbustivas e herbáceas de floresta. De acordo com Cherem e colaboradores
Trabalhos recentes de paleoecologia, rea- (2004), 53 espécies de mamíferos foram re-
lizados no planalto da Região Sul do Brasil, gistrados nas áreas de planalto de Santa Ca-
incluindo o Morro da Igreja, em Urubici, ana- tarina, dentre elas o porco-do-mato ou quei-
lisaram amostras de pólen contido no solo, xada (Tayassu pecari) (Figura 5c), o tatu-molita
comprovando que a expansão da floresta por (Dasypus hybridus) (Figura 5d) e o tatu-de-ra-
sobre o campo e que a floresta no planalto bo-mole (Cabassous tatouay). Os carnívoros
é relativamente recente, não chegando a dois também são frequentes, entre os quais pode-
mil anos de idade (BEHLING et al., 2009) mos citar o puma ou leão-baio (Puma conco-
(Figura 5a, b). lor), a jaguatirica (Leopardus pardalis), o gato-
O avanço da floresta com Araucaria, em -maracajá (Leopardus tigrinus), o quati (Nasua
geral, iniciou-se às margens dos cursos d’água nasua) (Figura 5e), o graxaim-do-campo ou
e locais com solo mais profundos e férteis, raposa-do-campo (Lycalopex g ymnocercus), (Fi-
formando manchas (Figura 5b). Sob um cli- gura 5f), o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus,
ma favorável, essas manchas se expandiam raro na região), a irara (Eira barbara), o zorri-
centrifugamente em direção às partes mais lho (Conepatus chinga), o furão (Galictis cuja) e o
altas e distantes dos rios, inclusive unindo- mão-pelada (Procyon cancrivorous) – sem esque-
-se umas as outras, cobrindo de floresta quase cer a onça-pintada (Panthera onca), hoje extinta
toda a paisagem de campos. Essa expansão na região. Há poucas espécies de morcegos
florestal contou com os animais dispersores (apenas duas espécies), mas isso provavel-
das sementes de espécies florestais, favore- mente reflete a falta de estudos desse grupo,
cendo, portanto, a ampliação da riqueza. que é muito abundante e desempenha papel
Estudos recentes evidenciam que os povos importantíssimo como comedor de insetos,
indígenas nativos do planalto, os Kaingang, polinizador e dispersor de sementes. Ocor-
tinham o pinhão, semente do pinheiro-do- rem também os veados mateiro (Mazama
-paraná, como importante componente de gouazoubira) e campeiro (Ozotocerus bezoarticus),
sua dieta, aproveitando-se da expansão na- o tapiti (Sylvilagus brasiliensis), o único coelho
tural da floresta com araucária por sobre os nativo do Brasil, o caxinguelê (Guerlinguetus
campos (SCHMITZ, 2009). Ainda segundo ingrami), a cotia (Dasiprocta azarae), e cerca de
esse autor, na defesa do pinhão, os Kaingang 12 espécies de outros roedores (como ratos-
empreenderam disputas sangrentas internas -do-mato, ouriço-cacheiro, preás).
ao seu grupo e com os Xokleng, povo nôma- As aves se encontram entre os grupos de
de do Planalto. Para este pesquisador, não foi animais mais conhecidos. Fontana e cola-
possível confirmar ou descartar se esses po- boradores (2008) encontraram 326 espécies
vos nativos tiveram papel como dispersores de aves para a região dos Campos de Cima
da araucária. da Serra (SC/RS). Já o Planalto Norte é me-
Por entremeio às florestas e aos campos, nos conhecido, mas Rupp e colaboradores
animais nativos de todos os grupos desem- (2008) encontraram 188 espécies, algumas
penham suas funções ecológicas, compondo delas raras e/ou desconhecidas no Estado.

O P l a n a lt o C e n t r a l | 14 3
A B

C D

E F
Figura 5: Vegetação e mastofauna do Planalto Central: a) Expansão da floresta a partir da margem
dos cursos d´água por sobre os campos, Bom Jardim da Serra; b) Fisionomia marcada pela Arauca-
ria angustifolia, Urubici. Fotos: M árcio V erdi ; c) Porco-do-mato ou queixada (Tayassu pecari). Foto :
P rojeto C arnívoros do Parque Nacional da Serra do I tajaí/CENAP-ICMB io ; d) Tatu-mulita (Dasypus hy-
bridus); e) Quati (Nasua nasua). Fotos: T iago J. Cadorin; f) Graxaim-do-campo ou raposa-do-campo
(Lycalopex gymnocercus). Foto : L ucia Sevegnani

14 4 | B i o d i v e rsi da d e C ata r i n e nse


É necessário destaque para as espécies com sas plantas dependem dos polinizadores, pois
forte ligação à araucária: o papagaio-charão eles são os mensageiros que levam o pólen
(Amazona pretrei), o papagaio-de-peito-roxo de uma planta para outra, mesmo distantes
(Amazona vinacea) (Figura 6a) que se alimen- na paisagem. A grande maioria das plantas
tam dos pinhões e são espécies consideradas da Floresta Ombrófila Mista oferece recursos
vulneráveis à extinção; o grimpeiro (Leptas- aos polinizadores, embalados em lindos e/ou
thenura setaria), pequena ave que se alimenta cheirosos pacotes, denominados flores, com
de insetos presentes entre as grimpas (folhas abertura diurna ou noturna, geralmente em
pontiagudas). Também existem aves ligadas intensas floradas: ipês (Handroanthus catarinen-
aos campos naturais, como a curicaca (como sis, H. albus), guabirobas (Campomanesia xan-
Theristicus caudatus é chamada regionalmente), thocarpa, C. guazumifolia), cedro (Cedrela fissilis),
a codorna (Nothura maculosa), a perdiz (Rhyn- aroeira-brava (Lithrea brasiliensis), ingás (Inga
chotus rufescens), a noivinha-de-rabo-preto vera, I. marginata), guaçatonga (Casearia decan-
(Xolmis dominicanus – vulnerável à extinção) dra), a erva-mate (Ilex paraguariensis), casca-
e várias espécies de caboclinhos e patativas -d’anta (Drimys brasiliensis) (Figura 7i), camba-
(Sporophila spp.), algumas delas ameaçadas de rá (Gognatia polymorpha) (Figura 7d), guarantã
extinção. O pedreiro (Cinclodes pabsti) é uma ou varaneira (Cordyline spectabilis) (Figura 7e),
espécie endêmica da Estepe do Rio Grande bracatinga (Mimosa scabrella) (Figura 7h), ou
do Sul e Santa Catarina e ocorre frequente- esparsas como em baga-de-macaco (Posoque-
mente associada às rochas e cercas de taipas ria latifolia), saciando os polinizadores e con-
construídas com pedras pelo homem. seguindo com isso que seus pólens possam se
Os polinizadores se alimentam de néctar deslocar, favorecendo as trocas gênicas à dis-
e/ou pólen retirados de plantas zoófilas. Es- tância e resultando em variabilidade genética.

A B

C D

Figura 6: Aves do Planalto Central: a) Papagaio-de-peito-roxo (Amazona vinacea). Foto: Tiago J. Cadorin;
b) Gralha-picaça (Cyanocorax chrysops); c) Tucano-de-bico-verde (Ramphastos dicolorus).
Fotos: Tiago T. Maciel; d) Urubu-de-cabeça-preta (Coragyps atratus). Foto: Tiago J. Cadorin

O P l a n a lt o C e n t r a l | 14 5
A B C

D E F

G H I

Figura 7: Espécies características algumas com frutos dispersos por animais: a) Cinnamomum
amoenum; b) Myrcianthes myrcioides; c) Casearia decandra; d) Cambará (Gognatia polymorpha);
Fotos: Lucia Sevegnani; e) Guarantã ou varaneira (Cordyline spectabilis). Foto: Márcio Verdi; f) Manacá-da-
-serra (Tibouchina sellowiana); g) Pinheiro-bravo (Podocarpus lambertii). Fotos: Lucia Sevegnani; h) Bra-
catinga (Mimosa scabrella). Foto: Márcio Verdi; i) Casca-d’anta (Drimys brasiliensis). Foto: Lucia Sevegnani.

14 6 | B i o d i v e rsi da d e C ata r i n e nse


Nem todas as espécies são polinizadas por No caso da A. angustifolia, o principal dis-
animais. A Araucaria angustifolia (ver Box 1) e o persor é o caxinguelê ou serelepe (Guerlinguetus
pinheiro-bravo (Podocarpus lambertii) (Figura 7g) ingrami) (CHRISTOFF; LIMA; JUNE, 2009),
por serem Pinidae ou Gimnosperma, têm no mas outras espécies podem auxiliar como as
vento seu agente polinizador, são espécies ane- gralhas (Cyanocorax caeruleus e Cyanocorax chrysops)
mófilas. Nestas, o pólen sai do microstróbilo (Figura 6b), o papagaio-de-peito-roxo (Amazo-
de uma planta e é levado até o megastróbilo na vinacea) (Figura 6a), os ratos da floresta, a
noutra planta da mesma espécie, no qual es- cutia (Dasiprocta azarae) e a paca (Cuniculus paca)
tão contidos os óvulos, por isso são chamadas removem as sementes podendo transportá-
de plantas dióicas. No caso da A. angustifolia, a -las para longe da planta mãe. A paca e a cutia
polinização pode acontecer até seis meses an- podem agir como predadores das sementes de
tes da fecundação. Nesse tempo o pólen fica araucária, o que ajuda no controle da população
armazenado em câmara na entrada do óvulo. desta espécie. A cutia, porém, armazena semen-
As plantas dióicas anemófilas, em geral, produ- tes para épocas menos propícias de alimento,
zem anualmente imensa quantidade de pólen enterrando-as no solo, sendo que as sementes
que é liberado massivamente em curto espaço não utilizadas podem germinar e gerar novas
de tempo, transportado através do Planalto nas plantas. Quando os animais morrem, uma im-
correntes de vento. Muitas espécies de plantas portante espécie entra em ação – o urubu-de-
herbáceas, como as taquaras, os carazais, capins -cabeça-preta (Corag yps atratus) (Figura 6d).
e tiriricas também são polinizadas pelo vento. Nem todas as plantas dependem dos ani-
Com a maturação dos frutos ainda fixos na mais para sua dispersão, pois têm seus frutos
planta ou caídos ao solo, outro grande grupo ou sementes levadas pelo vento como acontece
de animais entra em ação, os dispersores como com o alecrim-do-campo (Senecio brasiliensis), a
sabiás (Turdus spp.), jacus (Penelope spp.), macu- bracatinga (Mimosa scabrella) (Figura 7h), o ipê,
cos (Tinamus solitarius), bem-te-vis (Pitangus sul- o cedro, o manacá-da-serra (Tibouchina sellowia-
phuratus), tucano-de-bico-verde (Ramphastos dico- na) (Figura 7f), a farinha-seca (Machaerium sp.),
lorus) (Figura 6c), arapongas (Procnias nudicollis), a peroba (Aspidosperma spp.) e algumas bromé-
porcos-do-mato, veados, anta, quatis, lagartos, lias como a barba-de-velho (Tillandsia spp.) e as
cutias, pacas - os quais engolem inteiros ou, aos orquídeas.
pedaços, na busca dos recursos como açúcares, Nos ecossistemas fluviais do Planalto Cen-
proteínas, óleos essenciais, vitaminas e sais mi- tral, inúmeras espécies de peixes habitam (Fi-
nerais. gura 8). Estes desempenham funções de preda-
A grande maioria das espécies de plan- dores de larvas de insetos ou mesmo de peixes
tas das florestas do Planalto apresenta frutos de menor tamanho, mantendo a estrutura das
ou sementes dispersos por animais, como as populações das espécies que lhes servem de ali-
lauráceas - canelas Ocotea spp., Nectandra spp., mento, bem como são alimentos para aves, an-
Cryptocarya spp., Cinnamomum sp. (Figura 7a) e fíbios, répteis e mamíferos. Dentre as espécies
Persea spp.; mirtáceas (guamirins - Eugenia spp., encontradas, pode-se citar o lambari (Astyanax
Myrcia spp., Myrcianthes spp. (Figura 7b); araçás gr. scabripinnis; Steindachnerina biornata e Leporinus
- Psidium spp., guabirobas - Campomanesia spp.); amae) (Figura 8a, b, c), o cascudos (Hemiancistrus
rubiáceas - Psychotria spp., solanáceas - Solanum fuliginosus e Hypostomus isbrueckeri) (Figura 8d, e),
spp., primuláceas - capororocas (Myrsine spp.); a joana (Crenicichla jurubi) (Figura 8f), o mandi
salicáceas (Casearia spp.) (Figura 7c), entre cen- (Rhamdella longiuscula), (Figura 8g) e o jundiá
tenas de outras. (Rhamdia quelen) (Figura 8h).

O P l a n a lt o C e n t r a l | 147
A B

C D

E F

G H
Figuras 8: Peixes do município de São Joaquim: a) Lambari (Astyanax gr. scabripinnis); b) Lambari
(Steindachnerina biornata); c) Lambari (Leporinus amae); d) Cascudo (Hemiancistrus fuliginosus);
e) Cascudo (Hypostomus isbrueckeri); f) Joana (Crenicichla jurubi); g) Mandi (Rhamdella longiuscula);
h) Jundiá (Rhamdia quelen). Fotos: Bernd Marterer

6.1.1 C a r ac t er ístic a s at ua is da Fl or e s ta Om bróf i l a M is ta

Após ter sofrido com intensa exploração angustifolia, imbuia (Ocotea porosa) (Figura
no século XX, que reduziu a Floresta Om- 9b) e xaxim-mono (Dicksonia sellowiana) (Fi-
brófila Mista a percentuais críticos, o mo- gura 9a), pois as três foram incluídas na lis-
mento é de recuperação. Essa recuperação ta das espécies ameaçadas de extinção pelo
se evidencia pelo avanço nos estádios su- Ministério do Meio Ambiente.
cessionais e passando a dominar o avança- O Inventário Florístico Florestal de
do. A melhoria foi motivada, principalmen- Santa Catarina efetuou estudos em 2008 e
te, pelo advento das leis que restringiram o 2009 na Floresta Ombrófila Mista do Pla-
corte da floresta e das espécies: Araucaria nalto Central catarinense, cobrindo 112

14 8 | B i o d i v e rsi da d e C ata r i n e nse


unidades amostrais com 4.000 m 2 cada, xaxim-mono (Dicksonia sellowiana) (Figura
mediu 25.127 plantas com diâmetro igual 9a), o pinheiro-do-paraná (A. angustifolia),
ou maior que dez centímetros, pertencen- camboatá (Matayba elaeagnoides) (Figura
tes a 295 espécies, sendo uma de Moni- 10a), a imbuia (Ocotea porosa) (Figura 9b), a
lophyta ou samambaias e xaxins, duas de canela-lageana (Ocotea pulchella) (Figuras 9c
Pinidae ou gimnospermas, e 292 de an- e 10c), a erva-mate (Ilex paraguariensis) (Fi-
giospermas (VIBRANS et al., 2013a). gura 10b) e a bracatinga (Mimosa scabrella),
Dentre as 20 espécies com maior valor que se destacam por seu valor econômico-
de importância para esta floresta (resul- -ecológico-histórico, entre outras 14 com
tante da soma entre a frequência, densida- elevado valor ecológico dentro desta tipo-
de e dominância relativas) encontram-se: o logia florestal (Tabela 1).

Tabela 1. Espécies mais importantes na estrutura da Floresta Ombrófila Mista, no Planalto Central,
baseado no Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina (VIBRANS et al., 2013a).

Nome Científico Família Nome Vulgar N. U DA


Dicksonia sellowiana Dicksoniaceae xaxim-mono 4364 70 100,0
Araucaria angustifolia Araucariaceae pinheiro-do-paraná 1491 82 34,2
Clethra scabra Clethraceae caujuva 929 72 21,3
Lithrea brasiliensis Anacardiaceae aroeira-braba, bugreiro 928 52 21,3
Matayba elaeagnoides Sapindaceae camboatá 799 70 18,3
Ocotea porosa Lauraceae imbuia 453 35 10,4
Ocotea pulchella Lauraceae canela-lageana 453 63 10,4
Ocotea puberula Lauraceae canela-guaica 426 69 9,8
Prunus myrtifolia Rosaceae pessegueiro-do-mato 464 84 10,6
Cinnamomum amoenum Lauraceae canela 357 52 8,2
Lamanonia ternata Cunoniaceae guaperê, guaraperê 311 45 7,1
Ilex paraguariensis Aquifoliaceae erva-mate 510 60 11,7
Nectandra megapotamica Lauraceae canela fedorenta 407 51 9,3
Vernonanthura discolor Asteraceae vassourão-preto 338 71 7,7
Cinnamodendron dinisii Cannelaceae pimenteira 503 49 11,5
Cupania vernalis Sapindaceae cubantã 519 42 11,9
Sebastiania commersoniana Euphorbiaceae branquilho 437 48 10,0
Mimosa scabrella Fabaceae bracatinga 349 41 8,0
Sapium glandulosum Euphorbiaceae leiteiro , pela-cavalo 320 61 7,3
Myrsine coriacea Primulaceae capororoca 316 63 7,2
Styrax leprosus Styracaceae carne-de-vaca 365 54 8,4
Mais outras 274 espécies 25127 112 575,7

O P l a n a lt o C e n t r a l | 14 9
A B C
Figura 9: Espécies características do Planalto Central: a) Xaxim-mono (Dicksonia sellowiana);
b) Imbuia (Ocotea porosa); c) Canela-lageana (Ocotea pulchella). Fotos: Lucia Sevegnani

A B C
Figura 10: Espécies de árvores da Floresta Ombrófila Mista: a) Camboatá (Matayba elaeagnoides);
b) Erva-mate (Ilex paraguariensis); c) Canela-lageana (Ocotea pulchella). Fotos: Lucia Sevegnani

15 0 | B i o d i v e r s i d a d e C ata r i n e n s e
A Floresta Ombrófila Mista apresenta dos- portantes registrado é muito semelhante en-
sel em torno de 15 m e altura total média infe- tre os estádios avançado e médio e, em geral,
rior a 10 m de altura (VIBRANS et al., 2013a). as diferenças estão entre as espécies raras, a
Esses valores diferem daqueles referenciados quantidade e o tamanho dos indivíduos das
à época das pesquisas da flora de Santa Ca- espécies estudadas. Em muitos fragmentos,
tarina, informados por Klein (1960), quando foi constatada a presença de taquarais e cara-
afirmava que o primeiro estrato era composto zais (ver Box 3).
por pinheiros-do-paraná, alcançando até 35 m O estádio inicial de sucessão ecológica não
de altura. Atualmente, essa espécie está com compôs o referido estudo e, possivelmente, a
altura total média de 13 m. Portanto, os valo- vegetação nesse estádio apresenta médias de
res obtidos pelo Inventário Florístico Florestal diâmetros e alturas abaixo dos valores do es-
indicam uma floresta jovem, em processo de tádio médio e sejam diferentes na composição
desenvolvimento, com diâmetros ainda pe- e no número de espécies.
quenos e com restrito estoque de madeiras de Na Floresta Ombrófila Mista, muitas fisio-
interesse comercial. O número médio de espé- nomias da vegetação podem ser observadas
cies para todos os 112 fragmentos estudados e estas podem estar em diferentes estados de
foi de 36, quando o valor esperado situa-se em conservação (Figura 11a-d).
torno de 60, estes baseados em levantamentos Outra importante constatação advinda do
históricos. Inventário é que a floresta existente acima de
O Inventário Florístico Florestal de Santa 1.200 m de altitude é diferente daquela presen-
Catarina registrou na Floresta Ombrófila Mis- te na parte inferior a essa cota. Essa diferença
ta do Planalto 1.107 espécies de árvores, arbus- se reflete na fisionomia da vegetação, a qual
tos, ervas, trepadeiras, epífitos e, entre estas, é mais baixa e as espécies são resistentes às
181 espécies de samambaias (ver Box 2) e duas condições de temperaturas baixas, pois é fre-
Pinidae ou gimnospermas. Esses números são quente a ocorrência anual de geadas e neve,
muito significativos e representam 40% das além de elevada radiação, ventos intensos e
espécies citadas por Stehmann (2009) para com variação na umidade do ar, do solo e na
esta região fitoecológica no Brasil, fato que espessura deste.
merece destaque e ações responsáveis. As espécies mais importantes nessas flo-
Os fragmentos de Floresta Ombrófila Mis- restas de acordo com o Inventário Florístico
ta amostrados pelo Inventário Florístico Flo- Florestal são: Dicksonia sellowiana, Araucaria
restal de Santa Catarina são secundários, ou angustifolia, cascas-d’anta (Drimys angustifolia, D.
seja, vegetação que se desenvolveu após corte brasiliensis), Ocotea pulchella, Clethra scabra, Mimosa
raso da floresta original; e raros remanescentes scabrella, repetindo espécies abaixo dessa alti-
com floresta primária (SEVEGNANI et al., tude, mas também tendo especificidades. Foi
2013a). Ainda, segundo este estudo, trata-se também observado que determinado grupo
de fragmentos em estádio sucessional avan- de espécies está mais abundante em altitudes
çado, caracterizados por apresentar diâmetro acima 1.200 m: Drimys angustifolia, Weinmannia
médio de 23 cm, número médio de espécies humillis, Clethra uleana, Myrceugenia myrcioides,
40 e densidade absoluta de 610 indivíduos por Acca sellowiana e Myrceugenia euosma. Cabe o re-
hectare; em estádio médio (diâmetro médio de gistro de 29% das espécies amostradas perten-
19 cm, número médio de espécies 35 e densi- cerem à família Myrtaceae, sendo os gêneros
dade absoluta de 484 indivíduos por hectare). Myrceugenia, Myrcia e Eugenia os mais ricos em
No entanto, o conjunto de espécies mais im- espécies (SEVEGNANI et al., 2013a).

O P l a n a lt o C e n t r a l | 151
BOX 2

SAMAMBAIAS – RIQUEZA DE ESPÉCIES E ESTRATÉGIAS


A ndré L uis de G asper

O
Mestre em Botânica, biólogo, professor e pesquisador na Universidade Regional de Blumenau - FURB

que os livros tratam como de exploração levou ao declínio popu-


divisão das pteridófitas (ter- lacional em muitos locais. Este grupo
mo não mais válido) envol- de plantas ocupam áreas degradadas,
vem dois grandes grupos servem de suporte para outras espé-
de plantas vasculares, um denominado cies ou são usadas como ornamentais.
de licófitas e outra de samambaias (SMI- Em Santa Catarina, pelo menos 438
TH et al., 2006). São grupos diversos em espécies estão registradas (GASPER,
formas e tamanhos e estão incluídos os 2012; GASPER; SEVEGNANI, 2010).
pinheirinhos-de-barranco, as cavalinhas, Grande parte da diversidade de espécies
os xaxins, as avencas e as samambaias. está nas florestas, e mais precisamente,
As pteridófitas são representadas por na Floresta Ombrófila Densa a qual com-
aproximadamente 13 mil espécies (MO- porta quase 90% de todas as espécies
RAN, 2008). No Brasil são 1.205 espé- do Estado (GASPER, 2012). É comum ver
cies (PRADO; áreas degra-
SYLVESTRE, dadas, como
2012). Na Mata roças abando-
Atlântica, elas nadas, beiras
têm grande de estrada, ou
importância, locais onde
inclusive sendo houve queima-
representadas, das, densamen-
em média, por te cobertas por
45% de epífi- espécies dos
tos. Uma das gêneros Glei-
espécies mais chenella, Stiche-
conhecidas é rus e Pteridium.
o xaxim-mono Nas florestas
(Dicksonia sellowiana Hook.) considerada são mais frequentes espécies das fa-
ameaçada de extinção, e do seu cáudi- mílias Polypodiaceae (maioria epifítica),
ce pode ser extraído o xaxim, utilizado Dryopteridaceae e Pteridaceae que po-
para confecção de vasos. Contudo, o dem também ser terrícolas. Na Floresta
lento crescimento em altura em até cinco Ombrófila Mista, entre tantas outras, há a
centímetros anuais (SCHMITT; SCHNEI- samambaia (Blechnum cordatum) e o raro
DER; WINDISCH, 2009) e a elevada taxa xaxim-prateado (Lophosoria quadripinata).

Samambaia (Blechnum cordatum). Foto: Lucia Sevegnani

152 | B i o d i v e r s i d a d e C ata r i n e n s e
A B

C D

Figura 11: Fisionomias da Floresta


Ombrófila Mista: a) Floresta da base
dos paredões de arenito; b) Margens
e ilha no rio Canoas; c) Pequenas
lagoas, ladeadas por floresta;
d) Turfeiras ou brejos.
Fotos: Lucia Sevegnani

O P l a n a lt o C e n t r a l | 15 3
BOX 3

TAQ UA R A I S E CA R A Z A I S –
A V I DA P O R E N T R E M E I O ÀS TOU C E I R AS
L ucia S evegnani

C
Doutora em Ecologia, bióloga, professora e pesquisadora na Universidade Regional de Blumenau – FURB

abe destaque a presença dos de 20 a 60 anos, dependendo da espécie.


taquarais (Merostachys skvort- Após a maturação dos frutos, ocorre mor-
zovii e Merostachys multiramea) te de todas as colônias daquela espécie.
e carazais (Chusquea spp.) nas Durante a frutificação, milhões de semen-
florestas do Planalto de Santa Catarina. tes são produzidas, servindo de alimentos
Estes muitas vezes dominavam os fragmen- para os ratos silvestres (Akodon, Oryzomys,
tos, cobrindo árvores e bloqueando parte Oligoryzomys e Delomys), para aves (como
da entrada de luz no sub-bosque, alteran- o pixoxó - Sporophila frontalis), a cigarra-
do por longo período a composição das -verdadeira (S. falcirostris), e cigarra-bambu
espécies. Durante o Inventário Florístico (Haplospiza unicolor), além de grandes
Florestal de Santa Catarina (SEVEGNANI herbívoros como anta, veados, porcos-do-
et al., 2013a), foram constatadas a presen- -mato. Com a fartura de alimento os pre-
ça de densos dos taquarais e dos carazais dadores dos ratos também proliferam tais
em diferentes fases do ciclo de vida. como cobras, gaviões e corujas. O rato-da-
Como a Floresta Ombrófila Mista passou -taquara (Kannabateomys amblyonyx) é um
por intenso processo de fragmentação e roedor que se alimenta somente de taquaras.
exploração no século XX (Koch; Corrêa, Os taquarais se reproduzem sexua-
2002; Medeiros et al., 2002), possivel- damente uma única vez e, em seguida,
mente foram criadas condições para essas morrem, abrindo grandes clareiras após
plantas pioneiras heliófitas (demandantes esses eventos, tornando-se então impor-
de muita luz). Elas colonizam o ambiente, tantes oportunidades para as espécies
exploram os recursos, reproduzem-se as- de árvores e arbustos ocuparem os locais
sexuadamente por brotamento, formando e os recursos liberados por aquelas e
densas e rizomatosas colônias de cente- adensar a comunidade arbórea (PALU-
nas e até milhares de metros quadrados. DO; MANTOVANI; REIS, 2011). São de
Reproduzem-se sexuadamente uma grande importância ecológica, pois pro-
única vez durante seu ciclo de vida, de piciam melhoria dos solos ao fornecerem
forma abundante e explosiva, e estudos no matéria orgânica e protegem os solos
mundo mostraram intervalos reprodutivos do processo erosivo e da lixiviação.

Carazal (Chusquea sp.). Foto: Márcio Verdi - IFFSC Taquaral (Merostachys sp.). Foto: André L. de Gasper - IFFSC

15 4 | B i o d i v e r s i d a d e C ata r i n e n s e
6.1.2 M atas nebulares , um enigma a ser decifr ado

Quem conhece os bordos da Serra Ge- da ou em densos agrupamentos, nos pare-


ral percebeu uma vegetação mais baixa, dões rochosos retos ou escalonados, com
com fisionomia arbóreo-arbustiva (Fi- origem basáltica ou de arenitos no Sul do
guras 12 e 13a, b), em geral, sem a pre- Brasil, em altitudes inferiores a 1.800 m.
sença de Araucaria angustifolia, denomina- Falkenberg (2003) registrou nas matas
da de mata nebular ou matinha nebular nebulares e nos paredões rochosos 871 es-
(KLEIN, 1978; FALKENBERG, 2003). pécies de plantas vasculares de todos os ta-
Esta é uma vegetação muito particular, manhos e grupos taxonômicos, sendo 36%
ocupa posição também peculiar, em geral exclusivas desses tipos de vegetação. Estas
nos bordos, nas nascentes dos rios ou em pertencentes a 119 famílias botânicas, sen-
cânions. Pode ser observada no interior do do as mais ricas em espécies: Asteraceae
Parque Nacional de São Joaquim, quando (86 espécies e 21 exclusivas destes ambien-
se visita o Morro da Igreja, em Urubici, ou tes), Melastomataceae (26 e 6), Myrtaceae
ainda em Bom Jardim da Serra, nas pro- (22 e 15, Poaceae (19 e 5), Solanaceae (18 e
ximidades da Serra do Rio do Rastro, em 8), e entre as samambaias - Polypodiaceae
Santa Catarina, mas há também, no nor- (17 e 7). Portanto, uma vegetação rica em
deste do Rio Grande do Sul, em altitudes espécies e estratégias de sobrevivência em
superiores a 1.000 m. Outro tipo é a vege- ambiente tão inóspito.
tação rupícola, que se encontra fixa, isola- Este pesquisador constatou que há par-

matinha nebular

Figura 12: Perfil ideal da Floresta Ombrófila Mista no Planalto Central de Santa Catarina,
destacando a “matinha nebular”. Desenho de Lucia Sevegnani

O P l a n a lt o C e n t r a l | 15 5
A B

Figura 13: Floresta Ombrófila Mista acima de


1.200 m de altitude: a) Neblina cobrindo parte
da Mata Nebular nos bordos da Serra Geral, Rio
Rufino. Foto: Márcio Verdi; b) Vegetação rupíco-
la nos paredões areníticos e topo basáltico na
Serra do Corvo Branco. Foto: Lucia Sevegnani

15 6 | B i o d i v e r s i d a d e C ata r i n e n s e
ticularidades na composição das espécies, sultados das histórias evolutivas e proces-
principalmente entre aquelas com maior sos ecológicos diversos que favoreceram a
valor de importância na comunidade, ocorrência e dominância de umas em de-
como por exemplo: Myrceugenia regnelliana, trimento de outras espécies.
Drimys angustifolia, Crinodendron brasiliense Entremeio aos ramos e troncos das es-
e Maytenus boaria (no Morro da Igreja, em pécies arbóreas desenvolvem-se delicadas
Urubici); Siphoneugena reitzii, Ilex microdon- samambaias (Hymenophyllum polyanthos, Hy-
ta, Ocotea pulchella, Myrceugenia alpigena e M. menophyllum rufum) e orquídeas, destacan-
glaucescens (em Bom Jardim da Serra); Ilex do-se (Sophronitis coccinea) com flores ver-
microdonta, Siphoneugena reitzii, O. pulchella, melhas de rara beleza. Há também espécies
Myrceugenia alpigena e Weinmannia paulliniifo- raras: Aechmea recurvata e Vriesea rastrensis
lia (em Bom Jesus da Serra, na Serra do (bromeliáceas), Rhipsalis houlletiana (cactá-
Rio do Rastro). Essas diferenças são re- cea), Oncidium ottonis, Rodrigueziella gomesio-

A B

Figura 14: Espécies da matinha nebular:


a) Urtigão (Gunnera manicata);
b) Orquídea (Hadrolaelia coccinea).
Fotos: Tiago J. Cadorin

O P l a n a lt o C e n t r a l | 157
ides (orquidáceas), Peperomia trineura (pipe- Para tentar explicar os fatores que afe-
rácea) entre musgos, hepáticas e liquens. tam o desenvolvimento dessa vegetação,
Como hemiparasitas, as ervas-de-passari- Falkenberg (2003) fez importante revi-
nho Struthanthus polyrhizus e S. uraguensis (lo- são de trabalhos científicos, bem como
rantáceas) (FALKENBERG, 2003). analisou algumas das variáveis de solo.
A riqueza de espécies endêmicas das Concluiu que o conhecimento das vari-
matas nebulares (Figura 13a) e vegetação áveis ambientais (precipitação, neblinas
rupícola (VR) na Serra do Corvo Branco frequentes, temperaturas baixas, radiação,
(Figura 13b), Morro da Igreja, Bom Jardim teores de alumínio e nutrientes do solo,
da Serra, em SC e na Serra da Rocinha, no temperatura do solo no inverno, ventos
Rio Grande do Sul, com distribuição res- frequentes e fortes) das áreas estudadas
trita a determinados pontos, foi registrada e o entendimento da sinergia entre estas
por Falkenberg (2003, p. 144): ainda são incipientes para explicar a fisio-
nomia observada.
Das 58 espécies, cerca de ¼ é praticamen- Entretanto, a frequente presença de
te exclusivo da vegetação rupícola; 24 es- água na superfície das folhas, influencian-
pécies (41%) ocorreram na VR em apenas
uma das áreas, 15 (26%) ocorreram em
do nas trocas gasosas, as altas concentra-
duas, 14 (24%) ocorreram em 3 áreas e só ções de alumínio no solo e a presença de
5 ocorreram em todas as áreas: Eryngium ventos fortes podem ter efeitos sobre o
smithii, Mimosa taimbensis, Gunnera manicata, desenvolvimento das plantas, mas esses
Glechon discolor e Tibouchina ramboi, conside- fatores e outros precisam ser amplamen-
radas geralmente abundantes e comuns. Há te avaliados, especialmente nas condições
uma maior riqueza de endemismos nas 3 dessa vegetação do Sul do Brasil.
áreas mais ao norte, 36 na Serra do Corvo
Branco, 28 no Morro da Igreja e 31 na Ser-
A riqueza, raridade, exclusividade e fra-
ra do Rio do Rastro, e apenas 18 na Serra gilidade da vegetação rupícola, das matas
da Rocinha (RS). nebulares e das espécies que as compõem,
existentes no Planalto de Santa Catarina e
Essas matinhas se caracterizam por do Rio Grande do Sul, colocam-nas em ris-
plantas arborescentes com baixa estatu- co de extinção. Portanto, demandam polí-
ra, com altura entre seis e sete metros de ticas de preservação efetivas, como a rápida
altura e oito a 27 cm de diâmetro médio consolidação dos três parques nacionais (de
(Falkenberg, 2003), troncos curtos e São Joaquim, da Serra Geral e dos Apara-
com denso esgalhamento, folhas diminu- dos da Serra); a suspensão do fogo como
tas pilosas ou sem pelos, em geral, com cor prática de manejo dos campos e a retirada
acastanhada. Essas plantas, como o urti- do gado que permeia as matas nebulares
gão (Gunnera manicata) (Figura 14a), muitas (FALKENBERG, 2003). Chama a atenção
vezes, se desenvolvem sobre solos rasos e no Planalto, a orquídea (Hadrolaelia coccinea)
orgânicos resultantes do processo de lenta (Figura 14b) que por sua beleza é altamente
decomposição da matéria orgânica, prove- cobiçada e arrancada dos ramos das árvores
niente da vegetação situada no dossel. onde se encontra.

Figura 15 (página ao lado): Floresta Estacional Decidual no rio Pelotas. Foto: Miriam Prochnow

15 8 | B i o d i v e r s i d a d e C ata r i n e n s e
6.2 R e g i ã o f i t o e co l ó g i c a d a
Fl or e s ta E s tac ion a l D ec i dua l
Com área pequena no Planalto Central ca- gundo Klein (1972), essa floresta continha ár-
tarinense, encontra-se a Floresta Estacional vores atingindo até 40 m de altura, apresentan-
Decidual, especialmente ao longo da calha do marcada deciduidade de folhas durante os
do rio Pelotas, na parte mais baixa dos rios meses desfavoráveis ao desenvolvimento (par-
Canoas e do Peixe e ao longo do rio Uruguai, te do outono, inverno e início da primavera).
em direção ao oeste do Estado (Figura 1). Os fatores que levam à deciduidade das
Abrangia originalmente 1.997 km2 original- folhas nessa região são principalmente de ori-
mente, mas os remanescentes atuais nesta re- gem climática (fotoperíodo curto, temperatu-
gião aqui delimitada ficaram reduzidos a 322 ras mais baixas, precipitação um pouco menos
km2, baseado nos dados do Inventário Florís- intensa) (ALBERTI; LONGHI; MORELAT-
tico Florestal de Santa Catarina (ver Figura 7, TO, 2011), mas também pode estar relaciona-
no Capítulo 4). do à genética da espécie. Por exemplo, o ce-
Pesquisas realizadas nessa tipologia flores- dro (Cedrela fissilis) (Figura 16a) perde as folhas,
tal e área aqui circunscrita em Santa Catarina independentemente de estar nas florestas de
são poucas (KLEIN, 1978; SCHUMACHER Santa Catarina ou do Mato Grosso, ou ainda
et al., 2011; SEVEGNANI et al., 2012). Se- na Floresta Ombrófila Densa, no litoral de

O P l a n a lt o C e n t r a l | 15 9
São Paulo. A maior parte das espécies de- Como pode ser evidenciado, o rio Uru-
cíduas provém da rota seca na parte central guai e seus afluentes são importantes cor-
da América do Sul, via bacia do rio Para- redores ecológicos para as espécies que so-
ná, onde a sazonalidade na precipitação é bem ou descem os rios dessa bacia, sejam
presente; essas espécies chegam ao planalto de plantas, animais, fungos ou micro-orga-
catarinense via calha do rio Uruguai e se ex- nismos. E para que esse corredor continue
pandem para as laterais nos fundos de vales a ter sua grande função, as florestas ciliares
e planícies dos seus afluentes (rio do Peixe) ou Áreas de Preservação Permanentes pre-
e confluentes (rios Pelotas e Canoas), pois é cisam ser mantidas. As espécies estacionais,
a partir da junção destes dois, que se forma na verdade, encontram-se nos locais onde as
o rio Uruguai (KLEIN, 1978) (Figura 15). temperaturas de inverno não atinjam valores

A B

Figura 16: Espécies da Floresta Estacional Decidual: a) Cedro (Cedrela fissilis);


b) Peroba (Aspidosperma australe); c) canela-guaica (Ocotea puberula) com uma trepadeira em
flor sobre a copa. F otos: L ucia S evegnani

16 0 | B i o d i v e rsi da d e C ata r i n e nse


muito baixos, como na parte alta do Planal- se inicia na primavera e o pico de floração, em
to; e a frequência de geadas é menor e os geral, é em meados de outubro e novembro.
episódios de neve são raríssimos ou ausentes Pela proximidade da Floresta Estacional
(NIMER, 1990). com a Floresta Ombrófila Mista, elas apresen-
A marcada presença de espécies das famí- tam muitas espécies em comum, mas em ge-
lias Fabaceae, Boraginaceae, Rutaceae e Mal- ral, naquela vegetação, a Araucaria angustifolia
vaceae, a maior parte das espécies com deci- é rara ou ausente. As lauráceas (Ocotea spp. e
duidade plena das folhas no final de outono, Nectandra spp.) e parte das sapindáceas (Matay-
inverno e início de primavera nessa tipologia ba, Cupania e Allophylus) e palmeiras (Syagrus)
florestal, imprime o caráter decidual a essa re- não são decíduas.
gião fitoecológica (KLEIN, 1978). A brotação O inventário Florístico Florestal de Santa
Catarina efetuou levantamento em 23 unida-
des amostrais com 4.000 m2 cada, na Flores-
ta Estacional Decidual nas bacias do Pelotas,
Canoas e do Peixe, ora em foco (Vibrans
et al., 2012b). Foram medidas 4.590 árvores
ou arbustos com diâmetro na altura do peito
maior ou igual a 10 cm. Esta análise eviden-
ciou a presença de 153 espécies, sendo que a
árvore mais frequente esteve em 22 das uni-
dades analisadas. A altura total média ficou
em 10,2 m e o diâmetro médio foi de 19,2 cm;
e área basal média de 20 m2/ha e densidade
absoluta de 561 indivíduos/ha (Tabela 2), ou
seja, tamanhos ainda pequenos para este tipo
florestal.
Ainda segundo esse Inventário, os re-
manescentes florestais são secundários, ou
seja, resultantes do processo de exploração
da floresta original ou desenvolvimento das
comunidades de plantas após o corte raso.
Em geral, se encontram em estádio avança-
do e médio de regeneração (SEVEGNANI
et al., 2012b). Os pontos de amostragem sis-
temática não abrangeram a floresta primária,
embora esta possa existir nos locais de mais
difícil acesso nessas bacias, no entanto, pode-
-se dizer que é rara. Pelos diâmetros e alturas
apresentados acima, constata-se que se trata
C de uma floresta jovem, em pleno processo
de desenvolvimento, muito fragmentada, ou
seja, em manchas isoladas, imersa em uma
matriz agropecuária e com plantios de Pinus
e Eucalyptus.

O P l a n a lt o C e n t r a l | 161
Dentre as vinte espécies que mais se des- ceas, efetuada predominantemente por aves e
tacam na atualidade, nesta Floresta, encon- morcegos, mas também pelo vento (anemó-
tram-se: Ocotea puberula (Figura 16c), Luehea filas) nas leguminosas, meliáceas e malváceas
divaricata, Nectandra megapotamica, N. lanceolata, citadas. No conjunto das espécies existentes
Cupania vernalis e Machaerium stipitatum, Cedre- na área, os polinizadores e dispersores são
la fissilis (Figura 16a) e Aspidosperma australe mantidos com recursos (pólen, néctar, frutos)
(Figura 16b). Essas espécies, juntamente com e esses animais servem de alimento para ou-
outras citadas na Tabela 2, são predominan- tros animais e micro-organismos, compondo
temente Lauraceae, Fabaceae ou Legumino- ampla teia de interações, nas quais todas as es-
sae, Sapindaceae e Malvaceae. São espécies pécies são importantes.
polinizadas por insetos (entomófilas) de di- A Floresta Estacional Decidual encontra-se
ferentes tamanhos como abelhas, moscas, muito fragmentada e os poucos remanescen-
borboletas, fornecendo a elas recursos como tes em bom estado de conservação preservam
néctar e pólen. importantes espécies do ponto de vista econô-
A dispersão é zoocórica nas espécies de lau- mico e ecológico, mas predominam as flores-
ráceas, sapindáceas, rutáceas, rosáceas e arecá- tas secundárias (SEVEGNANI et al., 2012).

Tabela 2. Espécies mais importantes na estrutura da Floresta Estacional Decidual na bacia do Pelotas,
Canoas e do Peixe, no Planalto Central Catarinense, baseado no Inventário Florístico Florestal de Santa
Catarina (VIBRANS et al., 2013a).

Nome Científico Família Nome Vulgar N U DA


Ocotea puberula Lauraceae canela-guaica 562 21 68,7
Luehea divaricata Malvaceae açoita-cavalo 437 22 53,4
Nectandra megapotamica Lauraceae canela-fedorenta 372 22 45,5
Nectandra lanceolata Lauraceae canela amarela, canela louro 214 20 26,2
Cupania vernalis Sapindaceae cubantã, arco-de-peneira 299 22 36,6
Machaerium stipitatum Fabaceae farinha-seca 131 18 16,0
Matayba elaeagnoides Sapindaceae camboatá, pau-de-pombo 137 14 16,8
Parapiptadenia rigida Fabaceae angico, paricá 82 13 10,0
Cedrela fissilis Meliaceae cedro, cedro-batata, cedro-rosa 97 17 11,9
Prunus myrtifolia Rosaceae pessegueiro-do-mato 74 16 9,0
Ateleia glazioveana Fabaceae timbó 124 3 15,2
Allophylus edulis Sapindaceae vacum, chao-chao, fruta-de-pavó 92 19 11,2
Syagrus romanzoffiana Arecaceae coqueiro-gerivá, coco-de-cachorro 59 16 7,2
Annona sylvatica Annonaceae araticum, cortiça 87 12 10,6
Lonchocarpus campestris Fabaceae rabo-de-mico 64 15 7,8
Helietta apiculata Rutaceae cun-cun, canela-de-veado, 73 6 8,9
Albizia edwallii Fabaceae pau-gambá 55 15 6,7
Ocotea pulchella Lauraceae canela-lageana 47 9 5,7
Machaerium paraguariense Fabaceae farinha-seca 69 11 8,4
Aspidosperma australe Apocynaceae peroba-branca, tambu-verde 58 13 7,1
Mais outras 133 espécies 4590 23 561,2

162 | B i o d i v e rsi da d e C ata r i n e nse


6.3 A região fitoecológica da Estepe ou C ampos Sulinos
T atiana de O liveira 1
L ucia S evegnani 2
E dson S chroeder 3

A Estepe, em Santa Catarina, é uma região A Estepe desenvolve-se sobre solos ra-
fitoecológica campestre, rica em biodiversi- sos, e em geral, nos mais profundos e bem
dade (IBGE, 2012), de grande beleza natu- estruturados, que se encontram nas depres-
ral, com importância econômica e cultural sões do terreno, ocorre a Floresta Ombró-
(PILLAR et al., 2009). fila Mista. Esse conjunto é denominado o
Em Santa Catarina, esta vegetação ocorre mosaico campo-floresta, característico do
em quatro grandes manchas (Capítulo 4, Fi- Planalto Central catarinense, como mostra a
gura 6), sendo a maior delas o Planalto Cen- Figuras 17 e 18.
tral Catarinense, especialmente nas bacias do Em alguns locais o solo é bem drenado
Pelotas e Canoas, que tem como principais e em outros pode formar grandes depósitos
municípios Bom Jardim da Serra, Bom Reti- de sedimentos e matéria orgânica com aquí-
ro, Campos Novos, Curitibanos, Lages, São fero freático aflorante ou subsuperficial, de-
Joaquim e Urubici (Figura 1). nominados de brejos ou turfeiras.

Figura 17: Perfil ideal da Estepe em Santa Catarina. Desenho: Lucia Sevegnani

OLIVEIRA, T., SEVEGNANI, L.; SCHROEDER, E.. A região fitoecológica da Estepe ou Campos Sulinos. In: SEVEGNANI, L.;
SCHROEDER, E. Biodiversidade catarinense: características, potencialidades e ameaças. Blumenau: Edifurb, 2013, p. 163-171.

1 Mestre em Ensino de Ciências Naturais e Matemática, bióloga e professora no SESI/EJA e no Instituto Blumenauense de
Ensino Superior - IBES. Apoio FAPESC
2 Doutora em Ecologia, bióloga, professora e pesquisadora na Universidade Regional de Blumenau – FURB
3 Doutor em Educação Científica e Tecnológica, biólogo, professor e pesquisador na Universidade Regional de Blumenau – FURB

O P l a n a lt o C e n t r a l | 16 3
Por meio de evidências paleoecológicas, para a conservação de recursos hídricos, no
foi constatado que a expansão da Floresta armazenamento de carbono no solo; oferece
Ombrófila Mista sobre a Estepe é um proces- alimento para a fauna e abriga espécies endê-
so relativamente recente, tendo início há me- micas e ameaçadas de extinção (BOLDRINI,
nos de 4.000 anos, no Holoceno (BEHLING 2009; BENCKE, 2009). As queimadas e o
et al., 2009), portanto, os campos são mais pastejo do gado têm sido considerados pelos
antigos, se comparados às florestas. pesquisadores como fatores mantenedores
A Estepe apresenta uma vegetação tipi- da Estepe no Planalto (OVERBECK et al.,
camente herbácea, entremeada por arbustos 2009). Ainda segundo eles, o fogo tem sido
e poucas árvores (Figura 18b), abrangendo frequente desde o Holoceno (nos últimos 10
em Santa Catarina uma área aproximada de mil anos), aumentando sua intensidade a par-
13.537 km2 e, segundo Boldrini (2009), pos- tir do final do século XVIII.
sui grande biodiversidade em seu interior. A região fitoecológica Estepe pode apre-
Esta região fitoecológica contribui, ainda, sentar diferentes fisionomias de acordo com

16 4 | B i o d i v e rsi da d e C ata r i n e nse


as características do solo e do hábito (herbá- -se uma espécie de ave endêmica, o pedreiro
ceo, arbustivo ou arbóreo) das espécies que (Cinclodes pabsti). Para maiores informações
formam as comunidades (Figuras 18a, b; 19a, sugere-se consultar as obras: “Campos suli-
b, c). Por exemplo, onde o solo é raso, bem nos” (PILLAR et al., 2009) e “Biodiversidade
drenado e com rochas aflorantes, a vegetação dos campos de cima da serra” (BOND-BU-
é do tipo campestre, com predomínio de her- CKUP, 2010), esta última preparada exclusi-
báceas, com grande variedade de gramíneas, vamente para professores e contendo livro de
como o capim-caninha (Andropogon lateralis) atividade para os estudantes também.
e a grama-baixa (Paspalum pumilum), Piptocha- Os banhados ou turfeiras (Figura 20a)
etium spp., Stipa spp., Aristida spp.), as Astera- compõem outra fisionomia da Estepe e de
ceae como as vassouras e carquejas (Baccharis grande importância ecológica, sendo comum
spp.) e Vernonia spp., e as Leguminosae ou Fa- encontrar o musgo (Sphagnum sp.) e as samam-
baceae, entre centenas de outras (OVERBE- baias (Blechnum schomburgkii), além de abrigar
CK et al., 2009; BOLDRINI, 2009). Destaca- animais como jaçanã ( Jacana jacana), marrecas

A B

Figura 18: Fisionomias da Estepe: a) Campos pastejados, Bom Jardim da Serra. Foto: Márcio Verdi;
b) Estepe em altitude de 900 m com densa cobertura do solo por gramíneas, entremeadas por
arbustos da espécie vassoura-do-campo (Baccharis uncinella). Foto: Lucia Sevegnani

O P l a n a lt o C e n t r a l | 16 5
A

B C

Figura 19: Estepe ou Campos Sulinos no Planalto Central: a) Campos pastejados, Bom Jardim da
Serra, Parque Nacional de São Joaquim (ICMBio); b) Curso d´água no mosaico campo-floresta; c)
Campo com presença de arbustos em meio a nevoeiro (Baccharis uncinella). Fotos Márcio Verdi

16 6 | B i o d i v e rsi da d e C ata r i n e nse


(Amazonetta brasiliensis), saracuras (Aramides A Estepe pode ocupar áreas com altitu-
saracura), além de peixes e moluscos. des superiores a 1.200 m, podendo chegar a
Nos campos com solos mais profundos e 1.823 m, caracterizando os campos de altitu-
férteis, a diversidade de espécies é maior, do- de (KLEIN, 1978). Esses campos estão pre-
minado por arbustos (Baccharis spp.) e herbáce- sentes, principalmente, no Morro da Igreja
as. Nos núcleos de Floresta Ombrófila Mista Urubici (no interior do Parque Nacional de
presentes no interior desses campos, a diversi- São Joaquim); o Campo dos Padres em Bom
dade de espécies de plantas de grande, médio e Retiro e o Alto Quiriri, Joinville (áreas que
pequeno porte é abundante de acordo com es- deveriam ser protegidas por unidades de con-
tudos realizados pelo IFFSC. As espécies mais servação, tipo parque nacional), mas também
encontradas nestes núcleos, denominados de ocorrem em outros municípios, como em
capões, são o pinheiro-do-paraná (Araucaria Água Doce no Oeste.
angustifolia), o xaxim-mono (Dicksonia sellowia- Pesquisa efetuada nos Campos dos Padres,
na), o vacum (Allophylus guaraniticus), a carne- Bom Retiro, evidenciou elevada riqueza de
-de-vaca (Clethra scabra) e o pinheiro-bravo (Po- plantas vasculares, sendo 328 espécies regis-
docarpus lambertii) (MEYER, 2013a). tradas, apresentando diferentes fisionomias

A B

Figura 20: Paisagens e espécies da Estepe: a) Turfeira ou brejo de altitude com musgo Sphagnum, e
a samambaia (Blechnum schomburgkii), Bom Jardim da Serra. Foto: Márcio Verdi; b) Curicaca (The-
risticus caudatus) caçadora de insetos, moluscos e pequenos vertebrados. Foto: Tiago J. Cadorin

O P l a n a lt o C e n t r a l | 167
de vegetação, dependentes do grau de hidro- 20b) e espécies de mamíferos como ratos,
morfia, profundidade dos solos e da estação cutias e pacas (Cuniculus paca), além do ve-
do ano (ZANIN et al., 2009). Ainda segundo ado (Mazama guazoubira), lobo-guará (Chry-
esses autores, há predominância de Asterace- socyon brachyurus), leão-baio (Puma concolor),
ae e Poaceae, e em alguns locais as melasto- graxaim-do-campo ou raposa-do-campo
matáceas Rhynchanthera e Tibouchina imprimem (Lycalolopex g ymnocercus) (Figura 21a), ta-
sua marca na fisionomia da vegetação duran- manduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla)
te a primavera e o verão. Pelas características (Figura 21b).
da vegetação e biodiversidade, este estudo Os répteis: jararaca cruzeira (Bothrops
concluiu que essa área é bem conservada. neuwiedi ), jararaca (B. jararaca), cascavel
A rica diversidade de espécies de plantas (Crotalus durissus) (Figura 21d), além de an-
presentes na Estepe ou Campos Sulinos no fíbios como perereca (Hypsiboas leptolinea-
bioma Mata Atlântica, em geral, está distri- tus) (Figura 21e), perereca (Scinax squaliros-
buída nas famílias Asteraceae ou Compositae tris) (Figura 21f ), encontram nessa região
(24%), Poaceae ou Graminae (20%), Fabace- fitoecológica abrigo e local de reprodução
ae ou Leguminosae (7%), Cyperaceae (7%) que permeiam as demais fisionomias dos
e Apiaceae (3%) e as demais famílias (39%) campos, bem como áreas florestais adja-
(BOLDRINI, 2009). Ainda segundo essa au- centes.
tora, na família das compostas destacam-se, Os peixes são o grupo de cordados com
principalmente, a arnica-do-campo (Acmella maior diversidade de espécies e maior ín-
bellidioides), a carqueja (Baccharis milleflora), a dice de endemismo. O lambari (Astyanax
vassoura-do-campo (Baccharis uncinella), o al- bimaculatus), o acará-diadema (Geophagus
meirão (Hypochaeris lutea), a margarida-melada brasiliensis) e o cascudo (Hemiancistrus chlo-
(Senecio conyzaefolius), o alecrim-do-campo (Se- rostictus) são os principais representantes
necio brasiliensis) e o cravo-do-campo (Tricho- da ictiofauna dos campos. Jenynsia eirmos-
cline catharinensis). Já na família com menor tigma (GHEDOTTI; WEITZMAN, 1995)
diversidade nos campos, a Apiaceae, as prin- é uma espécie endêmica do planalto das
cipais espécies pertencem ao gênero Eryn- araucárias.
gium, sendo a caraguatá (E. pandanifolium) e Neste ambiente está presente também
o gravatá-do-banhado (E. horridum) as mais uma grande variedade de anfíbios, cerca
representativas. de 60 espécies, destas 17 são endêmicas
A fauna de maior porte permeia os cam- nos Estados do Rio Grande do Sul e Santa
pos e as florestas, havendo espécies com Catarina. No sudeste de SC, encontramos
preferências por ambientes mais abertos. A o sapinho-verde-de-barriga-vermelha (Me-
fauna é o grande agente dispersor de se- lanophryniscus cambaraensis), o sapo-cururu
mentes, juntamente com o vento. Algumas (Rhinella icterica) que é um dos maiores sa-
espécies são endêmicas e muitas daquelas pos do Sul do Brasil e a perereca-marmo-
de maior porte encontram-se na lista das reada (Dendropsophus nahdereri), espécie esta
espécies ameaçadas de extinção. Uma das endêmica dos Estados de RS, PR e SC.
aves que permeiam os campos é o quero- E nesse belo ambiente foram encontra-
-quero (Vanellus chilensis) (Figura 21c), com das 54 espécies de répteis, sendo como as
seu canto estridente anuncia a chegada de mais representativas o lagartinho-pintado
forasteiros. Destaca-se a presença frequen- (Cnemidophorus vacariensis) que tem a sua dis-
te de curicaca (Theristicus caudatus) (Figura tribuição limitada e está ameaçado de ex-

16 8 | B i o d i v e rsi da d e C ata r i n e nse


A B

C D

E F
Figura 21: Animais do Planalto Central: a) Raposa-do-campo (Lycalopex gymnocercus) importante
predador de pequenos mamíferos e aves tanto na Estepe quanto em fragmentos da Floresta Ombrófila
Mista. Foto: Tiago J. Cadorin; b) Tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla). Foto: Fernanda Braga;
c) Quero-quero (Vanellus chilensis). Foto: Tiago J. Cadorin; d) Cascavel (Crotalus durissus). Foto: Marcelo
R. Duarte; e) Perereca (Hypsiboas leptolineatus); f) Perereca (Scinax squalirostris). Fotos: Luís M. Giasson

O P l a n a lt o C e n t r a l | 16 9
tinção; o lagarto-de-uvas (Anisolepis grilli) phila, que são migratórios de verão e ame-
ocorrendo em áreas de afloramentos ro- açados de extinção pela captura ilegal e
chosos dos campos; a jararaca-cotiara (Bo- destruição dos ambientes. O caboclinho-
thropoides cotiara) que é uma espécie endêmi- -de-barriga-preta (Sporophila melanogaster),
ca dos campos sulinos; e a falsa muçurana a noivinha-de-rabo-preto (Xolmis domini-
(Pseudoboa haasi), espécie de serpente que ha- canus), o veste-amarela (Xanthopsar flavus),
bita a Floresta Ombrófila Densa e o Planalto o junqueiro-de-bico-reto (Limonoctites rec-
Central e se encontra ameaçada de extinção. tirostris) são espécies que dependem dire-
A Estepe, por sua heterogeneidade am- tamente de campos naturais e banhados.
biental, contribui para que ocorra uma A gralha-azul (Cyanocorax caeruleus) é a ave
rica diversidade de aves na Região Sul, símbolo da floresta de araucária e o papa-
especificamente em Santa Catarina. Essa gaio-charão (Amazona pretrei ), juntamente
região abriga aves raras e pouco conheci- com o papagaio-do-peito-roxo (Amazona
das como o narcejão (Gallinago undulata), vinacea), são espécies que se alimentam do
o bacurau-tesoura-gigante (Macropsalis for- pinhão e estão ameaçadas de extinção. A
cipata) e os caboclinhos do gênero Sporo- curicaca (Theristicus caudatus) e a siriema

Figura 22: Restauração ecológica em área original de floresta nebular, transformada em pastagem,
e assim mantida com o uso de fogo e pastejo pelo gado: a) Em 2009 o gado foi retirado e o fogo foi

17 0 | B i o d i v e r s i d a d e C ata r i n e n s e
(Cariama cristata) são aves típicas e facil- Mesmo tendo uma fauna tão rica e di-
mente encontradas nos campos abertos de versa, a Estepe sofre com a ação do ho-
Santa Catarina. mem que interfere nesse ambiente nega-
Para concluirmos sobre esta fantástica bio- tivamente, através do fogo periódico, dos
diversidade faunística da Estepe, falaremos agrotóxicos e com a caça. Os impactos im-
sobre os mamíferos, grupo este que apresenta pingidos (Capítulo 8) e as potencialidades
53 espécies. O maior mamífero do planalto da Estepe estão detalhados no Capítulo 9.
das araucárias é o puma, leão-baio ou suçu- Nos locais onde a matinha nebular foi
arana (Puma concolor) que vive nas áreas com retirada houve instalação da Estepe. Nes-
floresta com araucária e entre capões e cam- tas áreas agora com Estepe e sob frequen-
pos. Outras espécies de mamíferos que ocor- te queimada e pastejo pelo gado, esta se
rem nesta região são o cachorro-do-campo mantém. Porém, após a retirada dos fato-
ou graxaim (Lycalopex g ymnocercus), o zorrilho res de degradação a vegetação florestal,
(Conepatus chinga), a irara (Eira barbara), o vea- retorna paulatinamente, como está ocor-
do-campeiro (Ozotocerus bezoarticus) e o tatu- rendo no interior do Parque Nacional de
-de-rabo-mole (Cabassous tatouay). São Joaquim (Figura 22 a, b).

suspenso; b) em 2011 evidencia-se adensamento de arbustos, no acesso ao Morro da Igreja, no Parque


Nacional de São Joaquim (ICMBio), Urubici. Fotos: Lucia Sevegnani

O P l a n a lt o C e n t r a l | 171
Foto: Marcos A. Danieli - Parque Nacional da Araucárias (ICMBio)
C a p í t u l o 7

O Oeste
L ucia S evegnani 1
R udi R icardo L aps 2
E dson S chroeder 3

P alco de inúmeras disputas pela


terra, grandes movimentos so-
ciais em favor dos pequenos
agricultores contra os grandes
poderes políticos e econômicos nacionais e
internacionais (THOMÉ, 1992; 2010), a re-
gião oeste de Santa Catarina construiu, por
nentes da biodiversidade que estão presentes
hoje, entremeando a matriz agropecuária re-
gional? O presente capítulo tem por objetivo
caracterizar a biodiversidade presente no oes-
te de Santa Catarina.
A região Oeste de Santa Catarina abran-
ge a área localizada a partir da bacia do rio
meio do trabalho, braços fortes, armas e mui- Rancho Grande (municípios de Jaborá e Pre-
ta determinação do povo, sua cultura e eco- sidente Castelo Branco) e do rio Jacutinga até
nomia. Distante dos centros de poder, esta o rio Peperi-guaçu (na fronteira oeste com a
gente laboriosa colonizou e suas lutas possi- Argentina). Os rios componentes da Bacia
bilitaram ampliar para oeste as fronteiras do Hidrográfica do Uruguai erodiram por mi-
Brasil e incorporar grandes áreas de terra ao lhões de anos as rochas e os solos, formando
Estado de Santa Catarina. Mas, qual foi o ce- paisagens por vezes fortemente onduladas, e
nário natural encontrado pelos colonizadores outras mais suaves, com bacias entremeadas
e seus descendentes? Quais são os compo- por estreitas planícies (Figura 1).

SEVEGNANI, L.; LAPS, R. R.; SCHROEDER, E. O Oeste. In: SEVEGNANI, L.; SCHROEDER, E. Biodiversidade catarinense:
características, potencialidades e ameaças. Blumenau: Edifurb, 2013, p. 172-195.

1 Doutora em Ecologia, bióloga, professora e pesquisadora na Universidade Regional de Blumenau – FURB


2 Doutor em Ecologia, biólogo, professor e pesquisador na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul - Campus Campo Grande
3 Doutor em Educação Científica e Tecnológica, biólogo, professor e pesquisador na Universidade Regional de Blumenau – FURB

B i o d i v e r s i d a d e C ata r i n e n s e | 17 3
Figura 1: Localização das regiões fitoecológicas no Oeste catarinense.
Elaborado por Débora V. Lingner (IFFSC)

Esta região apresenta altitudes maiores dias em janeiro de 22 a 24º C (valores mais
ao norte, na Serra do Chapecó (com pico de elevados nas partes baixas da Bacia do Uru-
1.340 m) e ao extremo noroeste na Serra do guai e afluentes). Em Itapiranga e São João
Capanema (altitudes acima de 800 m), sendo o do Sul, os valores podem se situar entre 24 e
ponto mais baixo às margens do rio Uruguai 26º C; os valores menores de verão ocorrem
em Itapiranga (150 m). O oeste encontra-se, em Água Doce e Passos Maia, com 20º C
em uma pendente direcionada para o sul, a (NIMER, 1990).
partir dos limites com o Estado do Paraná Em relação à precipitação, esta é a região
até a divisa com o Rio Grande do Sul, no rio que mais chove no Estado de Santa Catarina,
Uruguai, propiciando fluxos em direção aos com chuvas abundantes e bem distribuídas
pequenos, médios e grandes rios. As altitudes em todos os meses do ano e totais anuais mé-
predominantes nesta região situam-se entre dios superiores a 1.750 mm, chegando a va-
400 e 800m. O oeste abrange as Regiões Hi- lores maiores que 2.000 mm próximos ao rio
drográficas - RH1, RH2 e pequena porção da Uruguai, ou seja, em torno de 2.000 L/m2/
RH3 (Figura 10, Capítulo 4). ano ou milímetros (SANTA CATARINA,
As temperaturas médias anuais situam- 1986; NIMER, 1990).
-se entre 16 ºC (nas partes mais altas) e 18º C O número anual médio de geadas é de cin-
(próximo ao rio Uruguai); as mínimas médias co (próximo do rio Uruguai) e 30 na divisa
de julho entre 13° e 15º C; e as máximas mé- com o Paraná. Diante desses valores de pre-

174 | B i o d i v e r s i d a d e C ata r i n e n s e
Figura 2: Remanescentes florestais com mais de 10 hectares presentes no oeste.
Elaborado por Débora V. Lingner (IFFSC)

cipitação e temperatura, desencadeados pelo de faxinais ou catanduvas; Floresta Estacio-


fotoperíodo, o clima da região oeste de Santa nal Decidual com 6.136,04 km²; e Estepe
Catarina é predominantemente Temperado, (Campos Sulinos) com 1.695,63 km².
podendo ser Mesotérmico Médio Superú- A partir de cálculo dos remanescentes flo-
mido, Sem Seca, e nas partes altas, em Água restais e campestres, efetuados pelo IFFSC,
Doce e Passos Maia, Mesotérmico Brando atualmente, na região oeste, há 2.205 km²
Superúmido, Sem Seca (NIMER, 1990). de Floresta Ombrófila Mista, incluindo os
Revestindo o relevo ondulado, encontrava- faxinais ou catanduvas (11,8% do original),
-se exuberante vegetação. Estimativas feitas 1.125 km² de Floresta Estacional Decidual
pelo Inventário Florístico Florestal de Santa (18,31%), e 1.198,54 km² de Estepe (Campos
Catarina (IFFSC), a partir do mapa fitoge- Sulinos) (70,7%) (Figura 2). É evidente que
ográfico de Santa Catarina (KLEIN, 1978), ocorreu redução drástica da cobertura flo-
evidenciam que a região Oeste, circunscrita restal, fato que afeta a manutenção das fun-
nesta obra, abrange 19.537 km2, sendo cober- ções ecológicas dos ecossistemas, tais como a
ta por vegetação pertencente 100% ao bioma proteção da água superficial e dos aquíferos,
Mata Atlântica (IBGE, 2004), subdividida a proteção da biodiversidade, a amenização
em três regiões fitoecológicas (IBGE, 2012): climática (fortes ondas de calor, vendavais,
Floresta Ombrófila Mista, com  11.705 km², frios intensos) e a proteção contra desastres
incluindo o que foi denominado de floresta naturais (estiagens, tempestades, vendavais).

O O e s t e | 17 5
7.1 R egião Fitoecológica da Floresta
Estacional Decidual

As imponentes margens do rio Uru- mas árvores podem atingir 40 m de altura


guai (Figura 4b) são rotas preferenciais e diâmetros superiores a 1,5 m, nas flores-
de entrada das espécies de plantas e ani- tas primárias e compor o estrato emergen-
mais que provêm do centro da América te, enquanto outras irão compor o dossel
do Sul, via bacia do rio Paraná e, dali, se logo abaixo. Em geral, as espécies são ca-
expandem pelas laterais e também rumo ducifólias (Figuras 3a, b), ou seja, perdem
às cabeceiras dos afluentes do rio Uru- as folhas durante parte do outono, inverno
guai como o Jacutinga, o Irani, o Cha- e início da primavera, quando o fotoperío-
pecó, o das Antas, o Peperi-Guaçu. Este do – horas de luz do dia, é curto e as tem-
contingente de espécies forma a tipologia peraturas são baixas. Denomina-se Flores-
vegetacional denominada de região fitoe- ta Estacional Decidual (Figura 4a) quando
cológica da Floresta Estacional Decidual mais de 50% das espécies que compõem o
(IBGE, 1992; 2012). dossel e as emergentes perdem as folhas na
Na Floresta Estacional Decidual, algu- estação do ano desfavorável ao desenvolvi-

A B

Figura 3: Perfil ideal da Floresta Estacional Decidual: a) Durante o inverno, com algumas árvores sem
folhas; b) Durante o verão. Desenhos: Lucia Sevegnani

mento. Durante a primavera e verão, a ve- rapiptadenia rigida), canafístula (Peltopho-


getação está repleta de folhas (Figura 3b). rum dubium), timbó (Ateleia glazioveana),
Quanto mais a oeste e próximo do rio cabreúva (Myrocarpus frondosus), o ipê-rosa
Uruguai, maior é a quantidade de espécies (Handroanthus impetiginosus), rabo-de-mico
provenientes desta rota na vegetação. As (Lonchocarpus campestris), maria-preta (Dia-
espécies mais características deste grupo tenopteryx sorbifolia), louro-pardo (Cordia
são: grápia (Apuleia leiocarpa), angico (Pa- trichotoma), umbu (Phytolacca dioica), cedro

17 6 | B i o d i v e r s i d a d e C ata r i n e n s e
(Cedrela fissilis), guatambu (Balfourodendron Pujante floresta de caráter subtropical e
riedelianum), açoita-cavalo (Luehea divarica- continental. As árvores maiores atingin-
ta), Bastardiopsis densiflora, Machaerium nyc- do de 30 a 40 m de altura dão a esta flo-
resta um cunho imponente, sem, contudo
titans, jaborandi (Pilocarpus pennatifolius),
formar uma cobertura superior contínua.
marmeleiro (Ruprechtia laxiflora), entre de- Os troncos destas árvores são grossos, de
zenas de outras. fuste longo e seu esgalhamento, de modo
Outra característica desta floresta que geral, mais largo do que apresentado pelas
pode ser destacada é a grande quantidade árvores da mata pluvial de encosta atlânti-
de espécies do dossel que possui dispersão ca, imprimindo assim facie próprio e muito
de sementes e frutos feita pelo vento (es- característico.[...]. Durante a época hiber-
nal, quando a quase totalidade das árvo-
pécies anemocóricas), como por exemplo:
res do componente do estrato superior se
grápia, angico, cabreúva, canafístula, ce- encontram destituídas de folhas, a floresta
dro, os ipês, o louro-pardo, entre outras. apresenta aspecto de verdadeira mata deci-
A descrição feita por Klein (1972) sobre a dual. [...]. Apresenta elevada percentagem
Floresta Estacional de Santa Catarina evi- de espécies exclusivas, bem como um nú-
dencia suas características: mero relativamente pequeno de espécies

A B

C D

Figura 4: Fisionomias da vegetação do Oeste: a) Floresta Estacional Decidual Parque Estadual Fritz
Plaumann (FATMA), Concórdia. Foto: Lucia Sevegnani; b) Floresta Estacional Decidual às margens
do rio Uruguai e nas ilhas vegetação reófila. Foto: M árcio Verdi; c) Floresta Ombrófila Mista. Foto:
Lucia Sevegnani; d) Estepe ou campos sulinos. Foto: A nita S. dos Santos

O O e s t e | 17 7
arbóreas altas e sobretudo pela quase ab- pungens), pessegueiro-bravo (Prunus myrtifo-
soluta ausência de epífitos. [...]. Constitui lia), entre outras (KLEIN, 1978; STEH-
um prolongamento da pujante floresta do MANN et al., 2009). Menos frequente é
rio Paraná, vinda através da província de
o pinheiro-do-paraná (Araucaria angustifo-
Misiones, Argentina, uma vez que é sepa-
rada das matas do vale do rio Iguaçu, pelos lia) (KLEIN, 1978). A maior parte dessas
bosques de pinhais (KLEIN, 1972, p.12). espécies possui dispersão dos frutos e se-
mentes por animais, ou seja, são zoocóri-
cas.
No interior da Floresta Estacional De- A mistura de espécies – ora dominan-
cidual outro conjunto, o das espécies ca- do um grupo maior das estacionais e ora
racterísticas da Floresta Ombrófila Mista, da mista (Figura 5) – evidencia como são
se faz presente. Sua quantidade varia den- variáveis as condições ambientais no oes-
tro da vegetação, algumas com pequeno e te de Santa Catarina. Essas variações na
outras com maior número. composição das florestas também são per-
Dentre as espécies da Floresta Mista cebidas na fisionomia da vegetação, quan-
(Figura 4c), presentes na Estacional se do há, maior ou menor, deciduidade do
podem destacar: canela-fedida (Nectandra dossel das comunidades florestais.
megapotamica), canela-amarela (Nectandra O IFFSC registrou semelhante situa-
lanceolata), canela-guaica (Ocotea puberu- ção (Vibrans et al., 2013a). Verificou-
la), sassafrás (Ocotea odorifera), canela-fogo -se que, apesar do estado de degradação
(Cryptocarya aschersoniana), aroeira-brava em que se encontravam os fragmentos flo-
(Lithrea brasiliensis), guabiroba (Campo- restais, muitas vezes ficava difícil afirmar
manesia xanthocarpa), guabiju (Myrcianthes se a área amostrada estava no âmbito da

Figura 5: Perfil ideal da Floresta Estacional Decidual, situada na parte baixa dos vales do rio
Peperi-guaçu e rio Chapecó, intercalada com a Floreta Ombrófila Mista, na parte alta, no Oeste de
Santa Catarina. Desenho: Lucia Sevegnani

17 8 | B i o d i v e r s i d a d e C ata r i n e n s e
Floresta Ombrófila Mista ou da Flores- dários jovens, ou seja, que se desenvolve-
ta Estacional Decidual. Posterior análise ram após o corte raso ou a exploração in-
mostrou em quais unidades dominavam tensiva da floresta primária pré-existente.
os elementos da Floresta Estacional e em Estas florestas têm metade da altura e di-
quais outras unidades as espécies da Flo- âmetros encontrados em florestas primá-
resta Ombrófila Mista (GASPER et al., rias originais nesta região.
2012b). Este estudo evidenciou, também, Foram encontradas, no Oeste, florestas
haver diferença significativa entre a Flo- em estágio avançado ou médio de regene-
resta Estacional Decidual do oeste e aque- ração, e nelas faltam as grandes árvores,
la do leste, esta última compreendendo a com alturas superiores a 20 m (que pode-
floresta a partir da Bacia do rio do Peixe riam atingir até 40 m) como a grápia (Apu-
em direção aos rios Pelotas e Canoas. leia leiocarpa) (Figura 6a); essas contêm
Importante perceber que a mistura de menor riqueza de espécies no seu interior
espécies da Floresta Estacional, muitas de- quando comparada com a floresta pri-
las anemocóricas (dispersadas pelo vento) mária original da região (KLEIN, 1972,
e da Floresta Ombrófila Mista, predomi- GASPER et al., 2012b, VIBRANS et al.,
nantemente zoocóricas (dispersadas pelos 2012b).
animais), possibilita que muitos animais É possível com auxílio das ferramentas
(tucanos, jacus, cutias, bugios, anta, vea- de mapas disponíveis na internet, consta-
dos, caxinguelê, entre outros), além de mi- tar como a paisagem do Oeste possui raros
lhares de espécies de insetos, possam vi- fragmentos florestais grandes e numero-
ver no interior da Floresta Estacional. Os sos de pequeno tamanho, imersos em uma
animais de maior porte podem, inclusive, matriz agrícola e pecuária. Esses fragmen-
se deslocar por longas distâncias transpor- tos são florestas secundárias em estádio
tando muitas sementes, aumentando a taxa avançado ou médio de regeneração. Em
de troca entre os fragmentos florestais. O um forte contraste, na margem oeste do
naturalista Fritz Plaumann registrou a en- rio Peperi-Guaçu existe uma vasta e exu-
tomofauna do Oeste de Santa Catarina e a berante floresta da Província de Misiones,
partir do seu trabalho pode-se ver quanto na Argentina, onde a legislação ambiental
foi e é rica a biodiversidade dessa região adequada restringiu o corte.
do Estado (ver Box 1). O IFFSC avaliou a composição das es-
O estado de conservação da Floresta pécies e estrutura (alturas e diâmetros)
Estacional tem sido há muito tempo mo- destes fragmentos florestais secundários.
tivo de preocupação, pois estudos indi- Constatou que as espécies, presentes no
cavam que a cobertura de floresta nesta estádio sucessional avançado, com maio-
região era inferior a 16% e em contínua re- res valores de importância fitossociológica
dução (SOSMA; INPE, 2004; 2008; 2010), (o valor de importância é obtido pela soma
tornando-se a área mais degradada e com entre a densidade, frequência e dominân-
poucas florestas de Santa Catarina. cia relativas) são: canela-fedida (Nectandra
Esta situação foi confirmada pelo megapotamica), açoita-cavalo (Luehea divari-
IFFSC, quando não foi encontrada Flores- cata), canela-amarela (Nectandra lanceolata),
ta Estacional Decidual primária. A vegeta- canela-guaica (Ocotea puberula), aguaí-ver-
ção existente, atualmente, na paisagem, se melho (Chrysophyllum marginatum), farinha-
constitui de fragmentos florestais secun- -seca (Machaerium stipitatum), cedro (Cedre-

O O e s t e | 17 9
A B C
Figura 6: Espécies da Floresta Estacional Decidual: a) Grápia (Apuleia leiocarpa). Foto: Leila Meyer;
b) Coqueiro-gerivá (Syagrus romanzoffiana). Foto: Tiago j. Cadorin; c) Cedro (Cedrela fissilis).
Foto: J uliane Schmitt

la fissilis) (Figura 6c), canjerana (Cabralea colonização e dispersão das espécies). Esta
canjerana), coqueiro-gerivá (Syagrus roman- repetição pode acontecer quando há per-
zoffiana) (Figura 6b) e camboatá-vermelho turbações frequentes na floresta, como a
(Cupania vernalis). Para o estádio médio, abertura para retirada de madeira ou roçada
embora as dez primeiras espécies não este- do sub-bosque desta para introduzir gado,
jam na mesma ordem deste valor, somente fatos estes que mantêm as condições favo-
cafezeiro-do-mato (Casearia sylvestris) e cam- ráveis para espécies pioneiras e secundárias
bará (Aloysia virgata) não estavam entre as iniciais, exigentes de muita luz, mesmo com
dez primeiras do avançado (SEVEGNANI o passar do tempo.
et al., 2012b). Outro fator pode estar influenciando na
O número de espécies de árvores e arvore- manutenção do mesmo conjunto florístico:
tas (diâmetro igual ou maior que 10 cm) por a falta ou a pequena quantidade de animais
unidade amostral de 4.000 m2 esteve entre capazes de dispersar sementes de espécies de
14 e 60. Esses números foram obtidos em árvores que estão em fragmentos florestais
55 fragmentos florestais estudados na região distantes uns dos outros. Os animais pre-
oeste dentro da Floresta Estacional, baseado cisam atravessar amplas áreas abertas, nas
no Inventário. No estádio avançado houve quais há agricultura e pastagem e, portanto,
tendência de ocorrer maior número de espé- estão suscetíveis à captura por predadores ou
cies, ou seja, mais que 39 por área amostrada. caçadores humanos, e até mesmo aos agro-
A semelhança entre as principais espécies tóxicos utilizados nos cultivos. Para um ani-
do estádio avançado e médio pode indicar mal de floresta atravessar uma grande área
que a comunidade está continuamente sen- sem florestas pode significar grande risco
do alterada e, portanto, repetindo o con- de morte. A falta de dispersores, bem como
junto florístico já existente (com algumas de corredores ecológicos têm sido documen-
alterações dependendo da capacidade de tada em vários estados brasileiros como no

18 0 | B i o d i v e r s i d a d e C ata r i n e n s e
BOX 1

PL AUMANN, O INCRÍVEL FRITZ DO OESTE!


L auro E duardo B acca
Mestre em Ecologia, biólogo, professor aposentado da Universidade Regional de Blumenau,

A
ex-diretor do Museu de Ecologia Fritz Müller

s dificuldades após a
Primeira Grande Guerra
fizeram os pais de Fritz
Plaumann (Alemanha,
02/05/1902 – Nova Teotônia, Seara, SC,
22/09/1994) a migrar para o Brasil. Os
reveses iniciais no lote colonial, onde
chegaram em 15/11/1924, foram de fazer
qualquer um desistir: o sufocante calor
do verão num lugar distante e isolado,
sem médico, farmácia, nem sequer
caminhos transitáveis. Infestação de
pulgas e diarréias prostrantes castigaram
a família nas primeiras semanas.
Em 1925, Fritz Plaumann decidiu
iniciar a coleção e catalogação da
entomofauna, que o deixou famoso no
Brasil e no mundo. Com a mudança para
a vila próxima de Nova Teotônia, em Residência e
1928, lugar em que passou o resto da Fritz Plaumann
vida, intensificaram-se os contatos com em Seara, SC, 1989.
especialistas de mais de 12 países. Fotos: Lucia Sevegnani
A dedicação de Plaumann ao trabalho
era surpreendente. Duplicava, já em
1938, o número de espécies de Dípteros
então conhecidas para toda a América
Latina. Além das coletas, Plaumann desabafou: “o tempo perdido nem uma
criava insetos, para conhecer e registrar eternidade seria capaz de trazer de volta”.
todo seu ciclo de vida. Coletou em várias Mesmo assim, foram cerca de 80.000
partes do Sul do Brasil. A Segunda exemplares coletados, preparados e
Grande Guerra prejudicou por cinco etiquetados um a um, resultando em
anos os contatos com especialistas no cerca de 17.000 espécies diferentes,
exterior, mas as coletas e a incessante vários gêneros e 1.500 espécies novas
catalogação continuavam. Já na velhice, para a ciência e 150 denominadas
sofreu com a patética burocracia em homenagem ao coletor. Uma
brasileira, que insistia em controlar nova família de ácaros aquáticos
os poucos milhares de insetos que foi denominada Plaumaniidae, tipo
coletava, enquanto bilhões de outros de homenagem recebida por raros
desapareciam com o desmatamento cientistas. Que bom que as florestas
galopante e o surgimento do veneno da região conheceram este incrível
agrícola DDT, logo aplicado largamente Fritz do Oeste catarinense a tempo,
na agricultura. Quase aos 80 anos, antes do avassalador desmatamento!

O O e s t e | 181
BOX 2

CO R R E DO R ES ECO LÓG I COS


R udi R icardo L aps

A
Doutor em Ecologia, biólogo, professor e pesquisador na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul - Campus Campo Grande

pós muitas pesquisas, os de corredores de vegetação florestal,


cientistas chegaram à con- os animais poderiam passar de um frag-
clusão de que as popula- mento ao outro. Também foram dese-
ções de animais e plantas nhados corredores para que os animais
em fragmentos pequenos e/ou isolados atravessem estradas, como passarelas
tendem a se extinguir. Isso ocorre por vá- suspensas e túneis subterrâneos. Dife-
rios fatores, tais como populações peque- rentes corredores são necessários para
nas (que sofrem com endogamia - isto é, se adequar à necessidade de cada grupo.
cruzamento entre parentes próximos) e Porém, são necessários certos cuidados,
flutuações na disponibilidade de alimento pois, ao conectar populações isoladas,
(o isolamento impediria muitas espécies pode haver a passagem de animais de-
de se deslocar à procura de alimento em bilitados ou portadores de patógenos.
áreas mais distantes). Desta maneira, a Além disso, algumas espécies estão
conectividade entre áreas fragmentadas adaptadas a viver em ambientes com
pelo homem é fundamental para a manu- manchas de hábitats adequados a elas,
tenção das populações que nelas vivem. e podem funcionar nesta dinâmica: o
Em um ambiente alterado pelo homem conjunto de suas diversas subpopula-
é necessário gerar essa conectividade. ções (cujos indivíduos têm maiores inte-
Uma das ferramentas para isso é a cria- rações) é chamado de metapopulação.
ção de corredores ecológicos que conec- O conceito de corredores ecológicos
tam fragmentos. Por exemplo, através também tem sido aplicado em uma esca-
la maior: preocupados com o isolamento
das unidades de conservação (parques
nacionais, reservas biológicas, reservas
extrativistas), os conservacionistas têm
proposto e implantado corredores am-
plos, ligando-as. Para esses corredores
são usadas áreas que necessitam ser
preservadas por lei (Áreas de Preserva-
ção Permanente, Reserva Legal) bem
como, unidades de conservação de uso
sustentável (como Áreas de Preservação
Ambiental – APAs). Já existem corredores
sendo implementados na Mata Atlânti-
ca, Cerrado e Pantanal, conforme Brito
Fragmentos florestais interligados, Agronômica.
(2006), em sua obra “Corredores Ecoló-
Foto: Wigold Schäffer gicos”. Editora da UFSC, Florianópolis).

18 2 | B i o d i v e r s i d a d e C ata r i n e n s e
oeste de São Paulo, Paraná e também no Rio As florestas remanescentes também de-
Grande do Sul (ver Box 2). sempenham importantes serviços ambientais,
Diante do exposto, constata-se que tem tais como a proteção da água, minimização
havido recuperação das florestas nas últimas da erosão, amenização climática especial-
décadas na região Oeste, mas ainda estão sub- mente nesta região tão suscetível à estiagem,
metidas a constantes perturbações. Portanto, tempestades, vendavais, granizo e calor acen-
a presença de floresta é um ótimo indicativo tuado (HERRMANN, 2006).
da qualidade de um ambiente, mas, além da Apesar da fragmentação e das perturba-
quantidade de área, deve-se analisar sua biodi- ções a que está submetida a Floresta Esta-
versidade e sua complexidade estrutural, pois cional Decidual de Santa Catarina, esta é um
esses três indicadores podem evidenciar como importante reservatório da biodiversidade do
as pessoas conservam sua vegetação e prote- Estado (Vibrans et al., 2012b) e abriga es-
gem os animais que lhe são característicos. pécies raras e comuns (ver Box 3).

7. 2 A F l or e s ta O m bróf i l a M i s ta no Oeste
Apesar de ser subdividida em seções resta, dominado por imbuia (Ocotea porosa)
com fins didáticos, os diferentes tipos de – árvore de copa larga, com altura até 20
vegetação - Floresta Estacional Decidual m, tronco tortuoso e muito grosso, em al-
(Figuras 4a, b) e Ombrófila Mista (Figu- guns casos atingindo quase dois metros de
ra 4c) e Estepe (Figura 4d) - estão interco- diâmetro, formado por madeira resistente
nectados na paisagem (Capítulo 4, Figura e escura. Além desta espécie, também há
6), ora ficando mais evidente um tipo, ora outras árvores de grande porte, como sa-
outro, conforme explicitado anteriormente. popema (Sloanea hirsuta), camboatá (Matayba
De acordo com Klein (1978), todo o pla- elaeagnoides), canela (Ocotea diospyrifolia), gua-
nalto de Santa Catarina estava coberto por raperê (Lamanonia ternata), carne-de-vaca
florestas onde o pinheiro-do-paraná (Arau- (Clethra scabra), canela-fedida (Nectandra me-
caria angustifolia) imprimia fisionomia à ve- gapotamica), guabiju (Myrcianthes pungens), ca-
getação e predominando de modo absoluto nela-amarela (Nectandra lanceolata), canela-
no estrato superior em quase toda a área -lageana (Ocotea pulchella), pessegueiro-bravo
de sua ocorrência. Esta floresta ocupava os (Prunus myrtifolia), guabiroba (Campomanesia
divisores de água das bacias dos afluentes xanthocarpa), pimenteira (Cinnamodendron di-
do rio Uruguai (rios Rancho Grande, Jacu- nisii), e arvoretas: erva-mate (Ilex paragua-
tinga, Irani, Chapecó, das Antas e Peperi- riensis), caúnas (Ilex microdonta, I. dumosa),
-Guaçu), em geral em altitudes acima de congonha (Ilex theezans), guaçatunga (Case-
500 m. O pinheiro-do-paraná é árvore im- aria decandra), vacunzeiro (Allophylus edulis)
ponente, atingindo 35 a 40 m de altura e e leiteiro (Sapium glandulosum). Por entre as
mais de um metro de diâmetro, adaptado às arvoretas e árvores despontavam milhares
condições de frio e precipitações abundan- de colmos de taquara-mansa (Merostachys
tes, estas bem distribuídas durante o ano. multiramea), aglomerados muito característi-
Embaixo da ampla copa dos pinheiros, cos na floresta com pinheiro-do-paraná e
desenvolve-se o segundo estrato da flo- imbuias.

O O e s t e | 18 3
BOX 3

A RARIDADE DAS ESPÉCIES ARBÓREAS DA


FLORESTA ESTACIONAL DECIDUAL

R
C láudia F ontana
Mestre em Engenharia Ambiental, bióloga, consultora ambiental

abinowitz, Cairns e Dilon (1986) tando pelo menos uma população de


propuseram que a raridade grande porte, sendo, dessa forma, muito
é resultante de diferentes abundantes nesta região fitoecológica.
combinações entre três As espécies da floresta com população
variáveis comuns a todas as espécies: localmente escassa representam 25,96%
distribuição geográfica, especificidade e ocorrem com poucos indivíduos nesta
por habitat e número de indivíduos. Ao floresta. Dentre as espécies conside-
aplicar esta metodologia para a Floresta radas mais raras destacam-se Aralia
Estacional Decidual em Santa Catarina warmingiana da família Araliaceae e
foi possível constatar que 54,33% das Leptolobium elegans das Leguminosae.
espécies desta floresta são de alguma O entendimento das variáveis que
forma rara e 45,67% são muito comuns, compõe a raridade e a identificação das
ou seja, estão amplamente distribuídas formas dela pode subsidiar ações de
nesta floresta, ocupando diversos ha- proteção distintas para cada espécie,
bitats e com população abundante. considerando o nível de ameaça (ou
As espécies raras têm como caracte- raridade) encontrado para cada uma,
rística principal estarem amplamente dis- pois fornece avaliação preliminar útil
tribuídas, com 57,21% das plantas assim da importância relativa de cada tipo de
alocadas. Essas espécies podem ser con- raridade (BROENNIMANN et al., 2005).
sideradas euritópicas (DAJOZ, 1983), uma
vez que são capazes de resistir a uma
ampla gama de variações nas condições
ambientais. Porém, a porção das espé-
cies endêmicas localmente, que ocorrem
em áreas restritas desta floresta, é tam-
bém representativa (42,79%) e são con-
sideradas estenotópicas (DAJOZ,1983).
Outra característica das espécies da
Floresta Estacional Decidual catarinense
é que elas são, em sua maioria (51,45%),
seletivas quanto ao habitat em que vi-
vem e denominadas estenóicas (DAJOZ,
1983). As espécies que não possuem
restrições a habitats correspondem a
48,55% e são consideradas espécies
eurióicas (DAJOZ, 1983), ou seja, capa-
zes de se adaptar a variados ambientes e
têm considerável potencial de expansão.
Observou-se que as espécies desta Mamoeiro-do-mato (Jacaratia spinosa), uma es-
floresta possuem elevada diversidade pécie que se apresenta muito rara na Floresta Es-
alfa, com 74,04% das espécies apresen- tacional Decidual. Foto: Márcio Verdi

18 4 | B i o d i v e r s i d a d e C ata r i n e n s e
A B

C D

Figura 7: Floresta Ombrófila Mista no Oeste: a) Parque Nacional das Araucárias (ICMBio).
Foto: Marcos A. Danieli; b) Floresta Ombrófila Mista e Floresta Estacional no Parque Nacional das
Araucárias (ICMBio); c) Rio Chapecó; Fotos: Edilaine Dick. d) Zona de amortecimento do Parque
Nacional das Araucárias (ICMBio). Fotos: Marcos A. Danieli

Observadas de cima, as florestas com arau- Persea). Nos faxinais, os pinheiros são espar-
cária parecem muito homogêneas (Figura sos e pequenos, entremeados de sub-bosque
7a-d), mas, quando analisadas a composição baixo, contendo aquifoliáceas (Ilex paraguarien-
florística e a fisionomia da comunidade, apre- se e I. dumosa) e mirtáceas (Myrceugenia, Myrcia,
sentam diferenças, e Klein (1978) separou-as Eugenia), além de densos taquarais (Merostachys
em duas formações: a Floresta de Araucária spp.) e carazais (Chusquea spp.). No sistema de
ou Pinhal e a Floresta de Faxinal. De acordo classificação atual do IBGE (1992, 2012) e
com esse autor, na primeira formação, os pi- aplicado à Santa Catarina (SANTA CATA-
nheiros são de grande porte com sub-bosque RINA, 1986) estas duas formações apresen-
de lauráceas (Ocotea, Nectandra, Cryptocarya e tadas por Klein (1978) foram incorporadas

O O e s t e | 18 5
dentro da região fitoecológica da Floresta mannia paulliniaefolia), canela-lageana (Ocotea
Ombrófila Mista. A vegetação denominada pulchella) e pessegueiro-bravo (Prunus myrtifo-
de faxinais possivelmente se desenvolveu em lia). Há densos conjuntos de taquaras (Meros-
áreas com restrição edáfica, ou seja, com so- tachys multiramea) e, nos locais de solos mais
los ácidos, com alta quantidade de alumínio úmidos, emaranhados de catanduvas (Rhyn-
e rasos, como o caso do Faxinal dos Guedes. chospora hieronymi) com as bordas do caule
Klein (1978) fez uma bela descrição do Fa- muito cortantes.
xinal dos Guedes (Figura 8a, b), situado no Os faxinais de Campos Erê foram des-
alto da Serra do Tigre, com extensão de 16 critos por Klein (1978) como uma floresta
a 20 km e largura de quatro a sete quilôme- em que predominavam pinheiro-do-paraná,
tros. Segundo ele, este faxinal cresce sobre carne-de-vaca, guamirim (Myrcia obtecta), ca-
solos pouco profundos, úmidos e compac- nela-lageana, caúnas, erva-mate e, com maior
tos. Os pinheiros-do-paraná são esparsos e frequência, pessegueiro-bravo, cambuí (Sipho-
baixos, contendo sub-bosque de guaraperê neugena reitzii), guamirim (Myrceugenia euosma),
(Lamanonia ternata), guamirim (Myrcia obtecta), canela-louro (Nectandra grandiflora), pasto-de-
carne-de-vaca (Clethra scabra), congonha (Ilex -anta (Coussarea contracta), pitanga (Eugenia
theezans), caúna (I. dumosa) e erva-mate (I. para- uniflora) e xaxim-bugio (Dicksonia sellowiana)
guariense) (Figura 8c). São também frequentes: (Figura 7), muitas espécies com relações com
cambuí (Myrciaria tenella), gramimunha (Wein- micorrizas (ver Box 4).

A B

Figura 8: Fisionomia da vegetação: a; b) Faxinal


dos Guedes. Foto: Anita S. Dos Santos;
c) Erva-mate (Ilex paraguariensis) manejada na
floresta. Foto: André L. de Gasper

18 6 | B i o d i v e r s i d a d e C ata r i n e n s e
BOX 4

MICORRIZAS - FUNDAMENTAL RELAÇÃO


COM AS PLANTAS
S idney L uiz S türmer

A
Doutor em Genética e Biologia do Desenvolvimento, biólogo, professor e pesquisador
na Universidade Regional de Blumenau

s micorrizas são asso- e arbúsculos. Externamente à raiz, os


ciações simbióticas es- fungos formam uma rede de micélio e os
tabelecidas entre alguns esporos assexuados, estes últimos utili-
fungos do solo e as raízes zados para a identificação das espécies.
das plantas. Esta associação é uma das As ectomicorrizas são formadas prin-
mais comuns encontradas na natureza cipalmente por fungos pertencentes ao
e estima-se que aproximadamente 95% Filo Basidiomycota e estão associadas,
das espécies de plantas estabeleçam principalmente, às espécies arbóreas
algum tipo de associação micorrízica. em florestas temperadas. Esses fungos
Esta associação pode ser encontrada em provocam alterações morfológicas nas
todos os ecossistemas terrestres, sejam raízes e formam estruturas como a rede
eles naturais ou agrícolas. As micorrizas de Hartig, manto, micélio externo e ba-
possuem importante papel na absorção sidiomas em forma de cogumelos onde
de nutrientes pelas plantas, principal- são produzidos os esporos. Um terceiro
mente o fósforo, e contribuem para a tipo de micorriza é aquela formada por
agregação do solo. A associação mi- fungos do Filo Ascomycota e plantas da
corrízica tem sido considerada uma das Família Orchidaceae, em que os fungos
principais associações que influenciam possuem um importante papel na nu-
a produtividade de um ecossistema e a trição do embrião no momento da ger-
diversidade da comunidade de plantas. minação das sementes das orquídeas.
As micorrizas arbuscula-
res (MA) e as ectomicorrizas
são os tipos mais comuns de
associações micorrízicas. As
MA são formadas pelos fun-
gos micorrízicos arbusculares
(FMAs) e representam o tipo
de micorriza mais comum na
natureza, se associando com
plantas herbáceas, arbusti-
vas e arbóreas em florestas,
dunas, desertos, pradarias A B
e campos agrícolas. Esses
fungos pertencem ao Filo Glomeromyco-
ta e estão distribuídos em nove famílias Micorrizas: a) Esporo de Glomus, um fungo mor-
rízico arbuscular; b) Fração de raiz de gramínea
e 16 gêneros. Os fungos penetram a
observada em microscópio em que se observa
raiz da planta e formam estruturas no a colonização por fungos micorrízicos arbuscula-
córtex radicular como as hifas, vesículas res. Fotos: Sidney L. Stürmer

O O e s t e | 187
A vegetação atual foi levantada pelo In- mirim-branco, pessegueiro-bravo, guaperê
ventário Florístico Florestal de Santa Cata- e canela-lageana, além de outras (Tabela 1).
rina, baseada numa amostra de 13 unidades Do total de espécies amostradas, 92 es-
amostrais de 4.000 m 2 cada, na Floresta tavam somente em uma unidade amostral
Ombrófila Mista somente na região oeste e 54 espécies com apenas um indivíduo,
do Estado. Nelas foram encontradas 138 ou seja, muito raras como: Myrcia laruot-
espécies de árvores e arbustos, com diâ- teana, Agonandra excelsa, Maytenus aquifolia,
metro igual ou maior que dez centímetros. Seguieria aculeata, Myrceugenia glaucescens,
Como espécies mais comuns nessa flores- entre outras. Isso evidencia a fragilidade
ta destacam-se xaxim-bugio, camboatã, da biodiversidade diante da fragmentação
pinheiro-do-paraná, vassourão-preto, gua- florestal atual.

Tabela 1: Espécies com maiores valores de importância para a Floresta Ombrófila Mista na região oeste
de Santa Catarina, de acordo com o Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina. N = número
de indivíduos amostrados; U = número de unidades amostrais que a espécie ocorreu no inventário,
AB = área basal média (m2), DA = Densidade Absoluta média (número de indivíduos/hectare), FA = Fre­
quência Absoluta, DoA = Dominância absoluta (m2/hectare), VI= Valor de Importância (em %).

Nome Científico Nome Vulgar N U AB DA FA VI


DoA (%)
Dicksonia sellowiana xaxim-bugio, xaxim 399 9 16,54 79,99 69,23 3,32 9,88
Matayba elaeagnoides camboatá, craguatã 228 10 10,81 45,71 76,92 2,17 6,36
Araucaria angustifolia pinheiro-do-paraná 70 7 12,00 14,03 53,85 2,41 4,45
Vernonanthura discolor vassourão-preto 119 11 5,20 23,86 84,62 1,04 3,65
Myrcia guianensis guamirim-branco 138 6 5,14 27,67 46,15 1,03 3,49
Prunus myrtifolia pessegueiro-bravo 84 13 4,85 16,84 100,00 0,97 3,27
Lamanonia ternata guaperê, guaraperê 70 10 5,99 14,03 76,92 1,20 3,15
Ocotea pulchella canela-lageana 42 12 5,93 8,42 92,31 1,19 2,94
Nectandra grandiflora canela 96 7 4,38 19,25 53,85 0,88 2,84
Sebastiania commersoniana branquilho 95 6 2,90 19,05 46,15 0,58 2,38
Ilex paraguariensis erva-mate 63 11 1,87 12,63 84,62 0,38 2,10
Ocotea puberula canela-guaica 42 8 3,25 8,42 61,54 0,65 1,96
Clethra scabra carne-de-vaca 52 8 2,25 10,43 61,54 0,45 1,83
Myrsine coriacea capororoca 51 7 2,25 10,23 53,85 0,45 1,74
Sapium glandulosum leiteiro-de-folha-graúda 33 10 1,47 6,62 76,92 0,30 1,55
Cupania vernalis cubantã 40 8 1,30 8,02 61,54 0,26 1,44
Cinnamodendron dinisii pimenteira 51 3 2,05 10,23 23,08 0,41 1,39
Ocotea porosa imbuia, canela-imbuia 14 6 2,65 2,81 46,15 0,53 1,30
Campomanesia xanthocarpa guabiroba 36 5 1,66 7,22 38,46 0,33 1,25
Nectandra megapotamica Canela-fedida 39 5 1,37 7,82 38,46 0,28 1,22

Em geral, as espécies de plantas arbó- em 2008 e 2009 (Vibrans et al., 2012b),


reas e arbustivas encontradas na década de exceto para cerca de 50 delas. No entanto,
50 e 60 do século XX foram amostradas no quando se analisa o tamanho das florestas,
conjunto das florestas do oeste pelo Inven- a quantidade de indivíduos e de espécies em
tário Florístico Florestal de Santa Catarina cada fragmento florestal em particular, bem

18 8 | B i o d i v e r s i d a d e C ata r i n e n s e
como o diâmetro e altura das árvores, nota- com as espécies de animais, especialmen-
-se valores em torno de metade daqueles re- te as de maior porte, como a onça-pintada
gistrados pelos estudos do século passado. (Panthera onca) (Figura 9a), o tamanduá-mi-
Atualmente, as florestas estão esvaziadas de rim (Tamandua tetradactyla) (Figura 9b) e o
espécies e com plantas com menor tamanho, veado-mateiro (Mazama guazoubira) (Figura
com menor quantidade daquelas de valor 9c), outrora abundantes e atualmente amea-
econômico madeirável. O mesmo acontece çadas de extinção.

A B

Figura 9: Mamíferos que também ocorrem no Oeste de Santa Catarina: a) Onça-pintada (Panthera onca).
Extinta em Santa Catarina, mas era nativa em todo o território. Foto: Fernando Tortato; b) Tamanduá-
-mirim (Tamandua tetradactyla). Foto: I umaã L. C. Bacca; c) Veado-mateiro (Mazama guazoubira).
Foto: R afael Pasold

O O e s t e | 18 9
7. 3 A Estepe ou C a m po s S u l i n o s
Nas regiões mais altas do oeste de Santa de conservação, merecendo das instituições
Catarina, ocorre um tipo especial de vege- de pesquisa do Oeste maiores esforços de
tação, com certeza ainda mais antiga que as caracterização e pressões para sua conserva-
florestas, denominada de Estepe Ombrófila ção. Durante a elaboração dos planos de ma-
(Leite, 2002), também conhecida como nejo das unidades de conservação do Oeste,
Campos Sulinos (PILLAR et al., 2009) e foi possível também amostrar importantes
campos do planalto (Klein, 1978), não ha- aspectos da biodiversidade presente, confor-
vendo um consenso entre os pesquisadores me pode ser evidenciado no Box 5.
sobre qual a melhor denominação para esta Baseando-se nas descrições feitas por
importante e característica região fitoecoló- Klein (1978) e em recente e magnífica sínte-
gica (IBGE, 1992; 2012). se do conhecimento sobre os Campos Suli-
Todavia, mais relevante que sua deno- nos publicado por Pillar et al. (2009), serão
minação é sua importância como ecossiste- apresentadas as características gerais desses
ma, cobrindo as terras altas em três grandes campos.
manchas, sendo o maior abrangendo as ca- Os campos do planalto ocorrem em áre-
beceiras do rio Chapecó (Água Doce, Passos as com solos pouco profundos (Figura 10a),
Maia e Abelardo Luz), a segunda em Irani, muitas vezes contendo afloramentos rocho-
Ponte Serrada e Catanduvas e um núcleo sos, os denominados neossolos litólicos. Nas
menor em Campo Erê, totalizando 1.695 depressões dos terrenos, podem se formar
km². São campos ainda pouco conhecidos brejos de pequena até grandes extensões,
cientificamente quanto à sua flora e estado acumulando grandes depósitos de matéria

A B

Figura 10: Estepe ou Campos Sulinos em Água Doce: a) Campos alterados pelo pastejo e fogo;
b) Manchas de floresta entremeiam o campo. Fotos: Anita S. dos Santos

19 0 | B i o d i v e r s i d a d e C ata r i n e n s e
orgânica em forma de húmus, com caracte- cio conyzifolius, S. juergensii, S. oleosus, S. pulcher,
rística coloração negra. Trichocline catharinensis,Vernonia catharinensis e
Ao longo dos cursos d’água, podem de- V. tweedieana. Dentre as gramíneas mais fre-
quentes e dominantes nestes campos está
senvolver-se núcleos de vegetação arbórea
o capim-caninha (Andropogon lateralis), mas
(Figura 10b), variando na estrutura (altura, outras, também importantes Axonopus siccus,
diâmetros, densidades) e na composição de Paspalum maculosum, Schizachyrium tenerum e S.
espécies, pertencentes à Floresta Ombrófi- spicatum. Nos campos mal drenados, salienta-
la Mista, podendo ter presença de Araucaria -se Andropogon macrothrix e Paspalum pumilum,
angustifolia. embora A. lateralis também ocorra nestes am-
As famílias de plantas mais comuns que bientes.
permeiam os campos no âmbito do bioma
Mata Atlântica, segundo Boldrini (2009), A frequência do fogo nos campos como
são: Asteraceae ou Compostas (24%), Poa- forma de manejo das pastagens nos últimos
ceae ou Gramíneas (20%), Fabaceae ou Le- 150 anos (BEHLING et al., 2009; Bol-
guminosas (7%), Cyperaceae (7%), Apiace- drini, 2009), tem provocado a extinção
ae ou Umbelíferas (3%) e demais famílias local de espécies não resistentes a ele. Por
(39%). Boldrini (2009) registrou 1.700 es- exemplo, as espécies hibernais prostradas
pécies pertencentes somente as dez famílias e com gemas muito superficiais – com ca-
mais importantes nos campos sulinos (Pam- pacidade de suportar condições climáticas
pa e campos do planalto) do Rio Grande do muito variáveis ao longo do ano – foram
Sul e Santa Catarina. Embora Santa Catarina lentamente suprimidas pelo fogo. Estas fo-
não tenha em seu espaço territorial o bioma ram substituídas por espécies estivais, que
Pampa, nossos campos são ricos em espé- melhor vegetam em uma estação, as quais,
cies pela diversidade de altitudes (de 800 a em geral, formam touceiras eretas, ou ces-
1.827 m) em que podem ocorrer diferentes pes, dentro das quais as gemas ficam prote-
tipos de solo e variação na umidade deste, gidas do fogo. Portanto, a alta percentagem
bem como histórico de uso pelas pessoas. de solo descoberto associada à dominância
Segundo Boldrini (2009, p. 66): de espécies cespitosas eretas e de ciclo esti-
val é característica nos campos do planalto
A família Asteraceae se caracteriza pela ex- de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul
pressiva diversidade florística, bem como (BOLDRINI, 1997; 2009).
populacional. Seus táxons (gêneros ou es- Uma importante estratégia de sobrevi-
pécies) apresentam variados hábitos, em vência das espécies do campo é capacidade
suas diversas formas biológicas e, devido ao
de rebrota após distúrbio provocado por ge-
seu extraordinário potencial ornamental, os
campos são cobertos por um colorido exube- ada, neve e até mesmo o fogo. Muitas espé-
rante durante o período de florescimento das cies apresentam xilopódios e rizomas abai-
múltiplas espécies que os compõem. Entre xo do nível do solo, ou mesmo bulbos, que
as espécies que se destacam nos ambientes protegem as gemas da ação dos fatores de
desta região, citam-se: Acmella bellidioides, Bac- perturbação, permitindo a rebrota (FIDE-
charis milleflora (carqueja), B. trimera (carqueja), LIS; APPEZZATO-DA-GLÓRIA; PFA-
B. uncinella (vassoura-do-campo), Calea phyllo-
DENHAUER, 2009).
lepis, Eupatorium bupleurifolium, Eupatorium ta-
nacetifolium, Hieracium commersonii, Hypochaeris Grande parte das espécies do campo, es-
lutea, Holocheilus monocephalus, Mikania decum- pecialmente gramíneas e ciperáceas, possui
bens, Perezia squarrosa subsp. cubataensis, Sene- polinização pelo vento, havendo sincronia

O O e s t e | 191
na época de floração de uma mesma espécie, pelo e também são ingeridos).
numa determinada área. Alguns frutos des- As demais famílias de angiospermas pos-
sas espécies são dispersos pelo vento, outros suem flores com atrativos como o néctar,
por animais, especialmente as aves (no caso pólen ou óleos, para animais, tais como os
de frutos a serem ingeridos) e mamíferos (no insetos (abelhas, moscas, borboletas e be-
caso de frutos/sementes que se aderem ao souros), aves (beija-flores, cambacicas e saí-
ras), ou mamíferos (morcegos). Essas plantas
são denominadas de zoófilas.
Muitas espécies de angiospermas pos-
suem frutos ou sementes atrativas e forne-
cedoras de recursos para os animais. Quan-
do os frutos são dispersos por animais eles
são chamados de zoocóricos. Esses frutos e
sementes, após serem engolidos, permane-
cem no trato digestório até serem defecados,
ou ser rapidamente regurgitados, após cur-
A to período de permanência no interior do
corpo do animal. Desta forma, os animais
espalham as sementes por curta, média ou
longa distância da planta matriz, possibili-
tando às espécies de plantas colonizar novos
ambientes.
Muitas espécies de animais habitam esses
campos. Algumas são migratórias (marre-
cas, andorinhas, papa-capins, certas espécies
de borboletas e libélulas), outras residentes.
Permeiam o mosaico campo floresta bus-
B cando em ambos os ecossistemas alimento
e abrigo. Algumas são predadoras de outros
animais como raposa-do-campo (Lycalopex
g ymnocercus), lobo-guará (Chrysocyon brachyu-
rus) (Figura 11a), tamanduá-bandeira (Myr-
mecophaga tridactyla), puma (Puma concolor),
curicacas (Theristicus caudatus) (Figura 11c),
gralha-azul (Cyanocorax caeruleus), gralha-pi-
caça (Cyanocorax chrysops), tucano (Ramphas-
tos dicolorus), quati (Nasua nasua), mão-pelada
(Procyon cancrivorus), lontra (Lontra longicaudis),
C irara (Eira barbara), martim-pescador (Me-
Figura 11: Animais da Estepe: a) Lobo-guará gaceryle torquata) dentre outros. Há também
(Chrysocyon brachyurus). Foto: L auro E. Bacca; os herbívoros e frugívoros como veado-ma-
b) Pica-pau-do-campo (Colaptes campestris) na teiro (Mazama guazoubira), porcos-do-mato
Estação Ecológica da Mata Preta (ICMBio).
Foto: Antônio de A. Correia Junior; c) Curicaca (Tayassu pecari), bugio-preto (Alouatta caraya),
(Theristicus caudatus). Foto: Lucia Sevegnani caxinguelê ou serelepe (Guerlinguetus ingrami),

19 2 | B i o d i v e r s i d a d e C ata r i n e n s e
ratos-do-campo, sabiás (Turdus sp.) entre ou- campos também é armazenada grande quan-
tros. Há, também, os comedores de insetos e tidade de carbono no solo, nos denominados
suas larvas, como o pica-pau-do-campo (Co- Organossolos (solos orgânicos, com colora-
laptes campestris) (Figura 11b). ção negra), pois as condições de baixa tem-
Os animais, através da dispersão de se- peratura em grande parte do ano dificultam
mentes, são vetores que levam espécies a ação decompositora de bactérias e fungos e
existentes em capões de florestas para colo- por isso formam-se grandes depósitos de hú-
nizar os campos, muitas vezes expandindo mus no solo. Parte dos nutrientes ali retidos
a floresta centrifugamente. Se não fossem é absorvida pelas plantas, mantendo a fertili-
a ação do fogo e das roçadas dos campos dade e a cobertura efetuada pela vegetação, e
para propiciar o pastejo pelo gado (além esta protege os solos contra a erosão. Se de-
da própria ação do gado se alimentando de gradados ou drenados, passam a liberar para
brotos), muitas áreas atualmente cobertas a atmosfera toneladas de gás carbônico, que é
por campos seriam florestas. um dos gases responsáveis pelo efeito estufa.
Os Campos de Água Doce e Palmas No interior dos campos em depressões
(SC/PR) são também importantes áreas se formam banhados ou brejos, com solos
para a conservação de algumas espécies de hidromórficos, com afloramento de água à
aves. Espécies associadas a campos nativos, superfície temporária ou permanente. Nas
como a noivinha-de-rabo-preto (Xolmis do- áreas um pouco mais baixas dentro deles
micanus), o caminheiro-grande (Anthus natte- pode haver acúmulo de água em poças ou
reri) e o caboclinho-de-barriga-preta (Sporo- ainda formando pequenos córregos. São
phila melanogaster) estão presentes na região. grandes reservatórios de água, de carbono e
Outras espécies associadas a campos úmi- abrigam conjuntos de espécies adaptadas à
dos, como o curiango-do-banhado (Ele- condição de encharcamento variável. Muitas
othreptus anomalus); à floresta de araucária, espécies herbáceas ou arbustivas de ciperáce-
tais como o grimpeiro (Leptasthenura setaria) as, samambaias, asteráceas e leguminosas se
e o cisqueiro (Clibanornis dendrocolaptoides) desenvolvem formando tufos de tamanho e
ou a grandes áreas (como a águia-cinzenta composição específica variável.
Urubitinga coronata) também estão presentes Conforme abordado neste capítulo, as
na área, ressaltando sua importância à bio- três regiões fitoecológicas presentes no oes-
diversidade (BENCKE et al., 2006). te (Floresta Ombrófila Mista, Floresta Esta-
Nestes riachos ocorrem espécies de ani- cional Decidual e Estepe) entremeiam a ma-
mais ameaçados ou raros. A esponja-de- triz agropecuária com intenso uso do solo.
-água-doce (Houssayella iguazuensis) ocorre Diante do pequeno percentual de cobertura
apenas nos rios turbulentos ao longo do rio florestal do oeste e a intensidade da fragmen-
Uruguai entre o Rio Grande do Sul e San- tação e a necessidade de garantir a manuten-
ta Catarina, estando ameaçada pelo repre- ção dos serviços ambientais, as Unidades de
samento dos rios da região (VOLKMER- Conservação, entendidas como espaços onde
-RIBEIRO; ROSA-BARBOSA, 2008). a vida nativa pode se expressar, são impres-
Os campos são locais importantes como cindíveis e valiosas (ver Box 5). Por isso, a
armazenadores e disponibilizadores de água, região oeste necessita ampliar o número e a
em geral, por estarem em áreas altas abrigam área abrangidas por Unidades de Conserva-
as nascentes dos principais rios regionais, ção e proteção integral, sob pena de perda
como o Chapecó, o Irani e o Jacutinga. Nos irreversível de sua biodiversidade.

O O e s t e | 19 3
BOX 5

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DO OEST


E A BIODIVERSIDADE QUE PROTEGEM
E dilaine D ick
Especialista em Educação, bióloga, coordenadora de projetos -
Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida - APREMAVI

M arcos A lexandre D anieli


Mestrando em Ciências Ambientais, biólogo, coordenador de projeto -
Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida - APREMAVI

A lanza M ara Z anini

P
Mestranda em ecologia e bióloga

ara auxiliar na manutenção inúmeras espécies de invertebrados


dessa rica diversidade biológica aquáticos, anfíbios, peixes e répteis.
do Oeste, a região conta com Essas UCs abrigam espécies de aves
Unidades de Conservação bioindicadoras de qualidade ambiental, como
(UCs), criadas com o objetivo de conservar o papagaio-de-peito-roxo (Ama­zona vinacea),
importantes áreas naturais, auxiliar na sendo que, no PARNA das Araucárias
manutenção dos recursos hídricos, está em andamento um importante
proteger espécies da fauna e da flora, projeto de reintrodução da espécie.
e permitir a realização de atividades de Além da Floresta Ombrófila Mista,
educação ambiental, pesquisa científica parte de outra importante e ameaçada
e atividades de recreação e lazer. região fitoecológica, a Floresta Estacional
Dentre estas UCs, destacam-se o Parque Decidual (Floresta Subtropical do rio
Nacional (PARNA) das Araucárias, localizado Uruguai), está no interior pela Floresta
em Ponte Serrada e Passos Maia, com Nacional (FLONA) de Chapecó. A FLONA
12.841 hectares, criado em 2005, a Estação de Chapecó, criada em 1968, está
Ecológica (ESEC) da Mata Preta, localizada localizada nos municípios de Chapecó e
em Abelardo Luz, com área de 6.536 ha e Guatambu situa-se em área de transição
criada no mesmo ano e o Parque Estadual entre essas duas regiões fitoecológicas,
(PE) das Araucárias, localizado em Galvão compreendendo aproximadamente 1.590 ha.
e São Domingos, com 625,11 ha e criado O Parque Estadual (PE) Fritz Plaumann,
em 2003. Essas UCs de Proteção Integral, em Concórdia, UC de proteção integral,
juntas, preservam aproximadamente criada em 2003, possui 741 ha e abriga
20.000 hectares do Bioma Mata Atlântica, remanescentes da Floresta Estacional
em especial da Floresta Ombrófila Mista Decidual e vegetação secundária em estádio
(Floresta com Araucárias), em diferentes avançado e médio desta região fitoecológica.
estágios de sucessão ecológica. No parque são encontradas árvores com
As UCs constituem-se em importantes até 30 m de altura e mais de um metro
refúgios para a flora e fauna ameaçados, de diâmetro, em que se destacam: grápia
como o puma (Puma concolor), bugio (Apuleia leiocarpa), canafístula (Peltophorum
(Alouatta guariba clamitans), jaguatirica dubium), angico (Parapiptadenia rigida),
(Leopardus pardalis), veado-mateiro (Mazama entre outras. Ocorrem também diversas
guazoubira), ca­teto (Pecari tajacu), pica- espécies de animais como o macaco-prego
pau-de-cara-canela (Dryocopus galeatus), (Cebus nigritus), jacu (Penelope obscura),
macuco (Tinamus solitarius), entre outras perereca-de-vidro (Vitreorana uranoscopa)

19 4 | B i o d i v e r s i d a d e C ata r i n e n s e
E DE SANTA CATARINA

Mapa das Unidades de Conservação existentes na região oeste de Santa Catarina.


Elaborado por: Carolina Schaffer

e jararaca-pintada (Bothrops diporus). do ecoturismo, fator que pode se tornar


Permeando a vegetação de todas as uma fonte de renda para a região.
UCs, camuflados ou não, estão os insetos Depreende-se pelas informações
e demais invertebrados polinizando, apresentadas, a importância dessas áreas
minando, triturando, sugando, predando para a conservação dos recursos naturais, da
ou parasitando, muitos deles amostrados biodiversidade, para formação de corredores
pelo naturalista Fritz Plaumann. ecológicos, bem como para desenvolver
Essas UCs também atraem os amantes educação ambiental da população.

O O e s t e | 19 5
Foto: Luiz Schramm
C a p í t u l o 8

A meaças à Biodiversidade
L ucia S evegnani 1
R udi R icardo L aps 2
E dson S chroeder 3
M arilete G asparin 4
R egina A parecida da R osa 5
T atiana de O liveira 6

A o longo dos capítulos prece-


dentes, empenhamo-nos em
descrever a biodiversidade
que está presente na Verten-
te Atlântica, no Planalto Central e no Oeste
de Santa Catarina. Deliberadamente não fo-
ram abordadas as ações humanas que levam à
Apesar de todos os benefícios produzidos
aos humanos e demais seres vivos da Ter-
ra, a biodiversidade sofre, diariamente, com
intensa e extensa exploração e redução, tan-
to dos ecossistemas, das espécies e de sua
variabilidade genética. Quando a biodiversi-
dade de uma área é destruída, há um lapso
redução da biodiversidade. Este capítulo tem de tempo antes que sua falta seja percebida
por objetivo alertar para atitudes que redu- (LOVEJOY et al., 1986; RAUDSEPP-HE-
zem e impactam negativamente a vida exis- ARNE et al., 2010). Em geral, a geração que
tente em nosso Estado. destrói não sofre com os impactos origina-

SEVEGNANI, L.; LAPS, R. R.; SCHROEDER, E.; GASPARIN, M.; ROSA, R. A. da; OLIVEIRA, T. de. Ameaças à biodiversidade.
In: SEVEGNANI, L.; SCHROEDER, E. Biodiversidade catarinense: características, potencialidades e ameaças. Blumenau:
Edifurb, 2013, p. 196-221.

1 Doutora em Ecologia, bióloga, professora e pesquisadora na Universidade Regional de Blumenau – FURB


2 Doutor em Ecologia, biólogo, professor e pesquisador na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul - Campus Campo Grande
3 Doutor em Educação Científica e Tecnológica, biólogo, professor e pesquisador na Universidade Regional de Blumenau – FURB
4 Mestre em Ensino de Ciências Naturais e Matemática, bióloga e professora da Rede Pública Estadual de Ensino.
Apoio FAPESC
5 Mestre em Ensino de Ciências Naturais e Matemática, bióloga e professora da Rede Pública Estadual de Ensino.
Apoio FAPESC
6 Mestre em Ensino de Ciências Naturais e Matemática, bióloga e professora no SESI/EJA e no IBES – Instituto Blumenauense
de Ensino Superior. Apoio FAPESC

B i o d i v e r s i d a d e C ata r i n e n s e | 19 7
dos pela destruição da biodiversidade, por população humana passa por sérias dificulda-
isso a percepção momentânea de que sua des- des de acesso aos alimentos, energia e combus-
truição é economicamente lucrativa. tível, mas a outra parte (a menor delas) conso-
Os 7.000.000.000 (sete bilhões) de habitan- me exageradamente os recursos naturais e bens
tes humanos em 2010, e ainda em processo de tecnológicos, gerando muito resíduo e poluição,
crescimento, demandam mais quantidades de bem como injustiça social. Este consumo acaba
alimentos, combustíveis, terras para cultivo, fer- exigindo a destruição da biodiversidade, porque
tilizantes, agrotóxicos, matéria-prima mineral 40% de tudo o que a Terra consegue produzir é
e produtos industrializados. A maior parte da utilizado pelas pessoas (WILSON, 1997).

8.1 A meaças à biodi v ersida de

As maiores ameaças que pairam sobre a com espécies nativas, alterando as teias
biodiversidade em todos os continentes, se- alimentares e o ambiente físico.
gundo a CBD (2010), são: 5. A acumulação da poluição por fósfo-
1. Perda de hábitat provocada pela mu- ro ou nitrogênio, devido à lixiviação
dança de uso do solo, em particular oriunda das áreas agrícolas, esgotos e
através da conversão dos ecossistemas efluentes industriais, causam prolifera-
naturais em áreas de cultivo agrícolas. ção de algas nos ambientes aquáticos,
Mais da metade dos 14 biomas da Ter- produzindo componentes tóxicos e
ra têm tido entre 20 e 50% de sua área consumindo o oxigênio da água. Este
total convertida em áreas agrícolas. fato pode levar à morte os peixes e de-
2. Uso insustentável uso dos ecossistemas mais espécies dos rios, lagos e mares,
e sobre-exploração da biodiversidade. criando as chamadas ‘zonas mortas’.
Muitas espécies são usadas pelas pes- Isso pode acontecer em maior núme-
soas para satisfazer suas necessidades ro de áreas devido ao adensamento
básicas (alimentação, combustível, mo- urbano litorâneo e aumento das áreas
radia), mas o desperdício e o consumo agrícolas, de acordo com informações
exagerado ameaçam muito mais. obtidas no site da Comissão da Biodi-
3. As mudanças climáticas em curso tor- versidade Biológica (http://www.cbd.
nar-se-ão progressivamente mais ame- int/2010).
açadoras nas próximas décadas. Isso É importante ressaltar que, subjacente a
afetará as cadeias alimentares (animais todas ameaças listadas, há um motor que
e plantas disponíveis para servir de ali- leva à degradação – o sistema de produção
mento), a fenologia das plantas (época insustentável. Este explora os recursos na-
de frutificação, floração e crescimento) turais até a exaustão, explora a mão de obra
e sua sincronização com os ritmos bio- dos trabalhadores e estimula o consumo, ge-
lógicos dos animais. rando muitos resíduos poluentes.
4. As plantas e animais invasores, pro- Todas essas ameaças também estão pre-
vindos de outras regiões ou países, po- sentes no território catarinense em maior
dem causar grandes danos às espécies ou menor escala, dependendo das atividades
nativas, por competir por alimento, econômicas, da concentração populacional
transmitir novas doenças, causar mu- humana e do histórico de uso dos recursos
danças genéticas, quando se cruzam naturais. Como as ações humanas no ter-

19 8 | B i o d i v e r s i d a d e C ata r i n e n s e
ritório catarinense são diversas, relativas à detalhados alguns dos fatores de impacto,
agricultura, pecuária, indústria, comércio, mas não devem ser vistos como indepen-
transportes, geração de energia, turismo e dentes, mesmo que seja fácil compreendê-
moradia, estas impactam negativamente a -los isoladamente. Esses precisam ser ana-
vida natural dos ecossistemas, beneficiando lisados em conjunto, agindo em sinergia, ou
alguns grupos de seres vivos e prejudicando seja, onde o efeito de um se amplia com o
a maior parte do que existe. A seguir serão efeito do outro fator.

8.1.1 Sistema d e p r o d u ç ã o e p a d r õ e s d e co n s u m o

A economia como opera tradicionalmen- Com relação ao consumo, este beneficia


te, explora os recursos naturais (minérios, uma parcela da população humana, subjuga
madeiras, água, solo, espécies) levando-os outra grande parte e rouba das e extingue
ao esgotamento e extinção. Para que haja as demais espécies. Esta frase parece dura
demanda para os produtos produzidos, há demais, mas é a pura realidade que a biodi-
intensa propaganda, via meios de comuni- versidade não pode suportar. Realidade que
cação, estimulando o consumo. Para que o não está estampada nos outdoors, nem nos
consumo seja mais rápido e intenso, insti- maravilhosos comerciais de carros, roupas,
tuiu-se às modas e a obsolescência progra- casas e eletrônicos.
mada (de carros, roupas, eletrodomésticos, Precisamos estar cientes e conscientizar
computadores, celulares, maquinários em os estudantes sobre as reais causas da perda
geral) gerando demandas, explorando so- da biodiversidade. Os recursos naturais e a
nhos e não somente necessidades, produ- vida têm capacidade de resiliência (ver Ca-
zindo insuportáveis quantidades de resíduos pítulo 2), mas não suportam elevadas taxas
sólidos, líquidos e gasosos. de exploração, além do seu limite de restaura-
Os resíduos, em sua grande parte, com ção. Os ecossistemas, as espécies de interesse
possibilidades de minimização de geração, econômico e as espécies frágeis estão sobre
reutilização, reciclagem e destinação corre- exploradas, ou super impactadas, em todos os
ta, mas são destinados aos lixões, aos cursos locais de ocorrência, seja em Santa Catarina,
d’água e oceanos e ao ar. no Brasil e/ou no mundo.

8.1.2 Explor ação Madeireir a


Em todas as regiões fitoecológicas de San- nômico e cultural, pois propiciou a constru-
ta Catarina, a exploração seletiva e o corte da ção das benfeitorias rurais e urbanas e gerou
vegetação foram práticas primeiras e recor- muito dinheiro, primeira mola propulsora da
rentes. Inicialmente, as derrubadas abriram economia estadual (REITZ; KLEIN; REIS,
frentes para os colonizadores utilizarem o es- 1979), atividade econômica que teve seu apo-
paço territorial e desenvolverem as atividades geu no século XX. Nos anos 90 daquele sé-
agropecuárias ou formar núcleos urbanos. culo, o ciclo da madeira nativa entrou em co-
Esta ação ainda está presente no estado tanto lapso pelo esgotamento do recurso natural.
em áreas urbanas, como nas rurais. Naquela época a economia foi movida pelo
O corte da vegetação florestal resultou em abate das árvores cujas espécies variavam de
muita madeira, produto de grande valor eco- região fitoecológica para outra.

Ameaças à B i o d i v e r s i d a d e | 19 9
Na Floresta Ombrófila Mista em toda A exploração indiscriminada das es-
sua área de ocorrência no Estado, as árvo- pécies produtoras de madeira comercial
res que mais produziram madeira foram o levou ao esgotamento desse recurso na-
pinheiro-do-paraná (Araucaria angustifolia) tural, bem como à recessão econômica do
(Figura 1a) e, desta, também se colhia o pi- setor, no final da década de 80 do sécu-
nhão (semente) para servir de alimento; a lo XX. A retirada das melhores árvores
imbuia (Ocotea porosa) – árvore símbolo de afetou a variabilidade genética das popu-
Santa Catarina (Figura 1b), a canela-fogo lações, e esse efeito se propagará pelas
(Cryptocarya aschersoniana), a canela-lageana futuras gerações (REIS et al., 2012a), ou
(Ocotea pulchella), a canela-amarela (Nectan- reduziu o tamanho populacional a núme-
dra lanceolata), o sassafrás (Ocotea odorifera), ros muito críticos em todo o estado, com
o cedro (Cedrela fissilis), a peroba (Aspidos- cerca de 30% das espécies amostradas
perma australis) e, mais tarde, também o xa- nas f lorestas pelo IFFSC com menos de
xim-mono (Dicksonia sellowiana) (Figura 1c) dez indivíduos no território catarinense
– usado na confecção de vasos para plantas (VIBRANS et al., 2012a). (Ver Box 5, no
ornamentais. O pinheiro-do-paraná, a im- Capítulo 4).
buia, o sassafrás e o xaxim-mono estão na A abertura de estradas para a explora-
lista das espécies ameaçadas de extinção. ção de madeira e trânsito por entremeio
No Oeste, onde ocorria a Floresta Es- à f loresta gerou milhões de clareiras,
tacional Decidual, as espécies foco eram permitindo que grande quantidade de
o angico (Parapiptadenia rigida), a grápia luz atingisse o solo. Dessa forma, pro-
(Apuleia leiocarpa) (Figura 1f ), a cabreúva piciando crescimento rápido de espécies
(Myrocarpus frondosus), os ipês (Handroan- cicatrizadoras de clareiras (Figura 2)
thus spp.), o louro-pardo (Cordia trichoto- como taquaras (Merostachys spp.) e carás
ma), a maria-preta (Diatenopterix sorbifolia), (Chusquea spp.) e, dependendo da região,
a canafístula(Peltophorum dubium) (Figura 1e), proliferaram espécies como embaúba (Ce-
além do cedro (Cedrela fissilis) (Figura 1d) e cropia glaziovii ), grandiúva (Trema micran-
das canelas (REITZ; KLEIN; REIS, 1979). ta), tucaneira (Citharexylum myrianthum) na
Na Vertente Atlântica, a canela-preta Vertente Atlântica; no Planalto Central
(Ocotea catharinensis) (Figura 1g) e demais na Floresta Ombrófila Mista a bracatin-
canelas (Ocotea spp., Nectandra spp. e Crypto- ga (Mimosa scabrella) e o vassourão-bran-
carya spp.), o cedro, a peroba (Aspidosperma co (Piptocarpha angustifolia); no Oeste, na
australis) (Figura 1i), a pindabuna (Duguet- Floresta Estacional baga-de-pomba (Alo-
tia lanceolata), garajuva (Buchenavia kleinii), o phyllus edulis), timbó (Ateleia glazioveana),
sassafrás (Ocotea odorifera) (Figura 1h) – do canela-imbuia ou canela-burra (Nectandra
qual se extraía o óleo de sassafrás, valio- megapotamica), bem como o emaranhado
so no mercado internacional de essências de plantas trepadeiras, entre tantas ou-
e o palmiteiro (Euterpe edulis) – do qual se tras. Como evidenciado, as perturbações
extraía o palmito para alimentação huma- na f loresta propiciam a entrada de espé-
na (REITZ; KLEIN; REIS, 1979). Destas, cies secundárias, cujas comunidades são
a canela-preta, o sassafrás e o palmiteiro denominadas de capoeiras e capoeirões,
também estão na lista das espécies ameaça- com menor número de espécies e comple-
das de extinção. xidade estrutural.

200 | Biodiversidade Catarinense


A B C

D E F

G H I
Figura 1: Espécies madeireiras valiosas e sobre-exploradas em Santa Catarina: a) Pinheiro-do-paraná (Arau-
caria angustifolia); b) imbuia (Ocotea porosa); c) xaxim-mono (Dicksonia sellowiana); d) cedro (Cedrela fissilis);
e) canafístula (Peltophorum dubium). Foto: Márcio Verdi; f) grápia (Apuleia leiocarpa); g) canela-preta (Ocotea ca-
tharinensis); h) sassafrás (Ocotea odorifera); i) peroba (Aspidosperma australis). Demais fotos: Lucia Sevegnani

Ameaças à Biodiversidade | 201


Figura 2: Espécie que auxilia no fechamento de clareiras (Chusquea sp.). Foto: Lucia Sevegnani

Em áreas com relevo acidentado como ecológica (ver Capítulo 2), ou seja, recupe-
os vales, estas estradas favorecem os es- ram-se após perturbação. No entanto, a in-
corregamentos de terra, mesmo décadas tensa ou contínua supressão de espécies de
após a sua abertura, como ocorrido no interesse, como aconteceu e ainda acontece
Vale do Itajaí em 2008 (FRANK; SE- em Santa Catarina (VIBRANS et al., 2012a),
VEGNANI, 2009). reduz a disponibilidade de alimento para as
As florestas têm capacidade de resiliência espécies de animais.

8.1.3 Corte r aso da flor esta e queima das

No rastro da exploração madeireira, se- da carbonizada nos fornos para produção de


guiu-se a queima das áreas, retirada da lenha carvão vegetal, utilizado na siderurgia e nas
quando de interesse, seguida do uso da terra residências. Até a década de 80 do século XX,
para fins agrícolas e pecuários (Figuras 3a, b a matriz energética rural e urbana dependia
e c). A lenha nativa, em geral, com bom teor da lenha, assim como o grande parque indus-
calorífico, foi queimada nos fogões e fornos trial metalúrgico, têxtil e agroindustrial do
domésticos e também nas caldeiras das in- Estado. Essa matriz energética, mais tarde,
dústrias como principal combustível ou ain- foi substituída pelos derivados de petróleo

202 | Biodiversidade Catarinense


(gás de cozinha, óleo diesel e gasolina); por catarinense, houve, então, uma grande re-
energia elétrica, e posteriormente por lenha dução das populações de todas as espécies
provinda de plantios de Eucalyptus. Somen- de animais, plantas e micro-organismos
te no início do século XXI, o gás natural abrigados pelas florestas. Dados de 2000
tornou-se uma opção energética para a in- evidenciaram uma cobertura florestal de
dústria. Nas regiões produtoras de tabaco, a 22% em Santa Catarina (SOSMA; INPE,
secagem dependia exclusivamente de lenha 2008). Algumas das espécies retornando
nativa, mudando no final do século XX. quando do abandono dos terrenos, ao pro-
O corte raso seguido de queima dizimou cesso de sucessão ecológica; outras desapa-
e dizima a maior parte das espécies, exceto receram da região. Com o advento das leis
aquelas que têm possibilidades de se des- ambientais e sua aplicação, especialmente a
locarem rapidamente (como as aves). Ou partir de 1990, o corte raso de floresta e
seja, provocam extinção local. Como essas as queimadas em grandes extensões foram
ações cobriram a maior parte do território reduzidos drasticamente.

A B

C D

Figura 3: Ameaças à Biodiversidade: a) Desmatamento; b) Exploração de lenha nativa; c) Queimada.


Fotos: Lucia Sevegnani; d) Gado na floresta. Foto: André L. de Gasper (IFFSC)

Ameaças à Biodiversidade | 203


8.1.4 A agr icultur a e a pecuá r ia

Santa Catarina tem como importantes A extensa matriz agropecuária (Figura


atividades econômicas a agricultura ex- 4) e os povoamentos de Pinus e Eucalyptus é
tensiva e intensiva, a pecuária (Figura 3d) entremeada predominantemente (85%) por
e os plantios de Pinus e Eucalyptus disse- pequenos fragmentos florestais, ou seja, com
minados por todo o território, atividades menos de 50 ha e poucos de médio e gran-
de extrema importância para as pessoas. de tamanho (15%) (VIBRANS et al., 2013c),
A divisão territorial de Santa Catarina e além de rodovias e cidades. Esse contexto
o uso da terra são diferentes, dependen- exige que as espécies de animais que habitam,
do das condições do relevo, da fertilidade se deslocam e agem como transportadores de
e do clima, mas também dependentes das sementes e pólen entre fragmentos passem
socioeconomias. por situações graves de risco à vida.

Figura 4: Agricultura extensiva e intensiva. Foto: Lucia Sevegnani

204 | Biodiversidade Catarinense


Figura 5: Uso intensivo de agrotóxico em plantio de cebola. Foto: Lucia Sevegnani

A agricultura familiar deve ser mantida e aspergidos com o uso de tratores, de pessoas
apoiada por políticas públicas, no entanto, a ou de aviões. Seus impactos negativos afetam
agricultura cobrindo dezenas de hectares com as populações de insetos e demais grupos de
um mesmo cultivo e uso constante de agrotó- animais, incluindo os vertebrados; de micro-
xicos, tem sérios impactos sobre a biodiversi- -organismos como fungos, bactérias e algas;
dade e provocam degradação grave dos solos. bem como as plantas sensíveis ao seu efeito.
Os riscos advêm, principalmente, do uso Os agrotóxicos induzem à seleção de es-
dos agrotóxicos (Figura 5) e fertilizantes que pécies resistentes, nativas do Brasil ou exó-
se disseminam silenciosamente pelo ar, pela ticas, podendo estas se tornarem pragas ou
água ou nas plantas cultivadas, matando, in- patógenos, afetando cultivos ou ecossistemas;
toxicando, provocando males de curto ou limitam, também, as redes de interações entre
longo prazo sobre a biota. Segundo a ANVI- espécies como a polinização, a herbivoria, a
SA – Agência Nacional de Vigilância Sanitá- predação e a dispersão de sementes. O des-
ria, em 2009, foram vendidos mais de 780 mil matamento e o uso de agrotóxicos causaram
toneladas de agrotóxicos no país. o desaparecimento de muitas espécies de in-
Denominados de herbicidas, fungicidas, setos em todo o Estado, registrados por Fritz
acaricidas, nematicidas ou inseticidas, entre Plaumann no Oeste. Felizmente, as embala-
outros, os agrotóxicos são pulverizados ou gens vazias de agrotóxicos estão sendo reco-

Ameaças à Biodiversidade | 205


lhidas e destinadas à destruição. No entan- nos. O fogo natural é raro em Santa Catarina,
to, muito mais preocupante é o destino do mas o ateado por pessoas é muito frequente,
conteúdo das embalagens cheias, perfazendo especialmente após o inverno. Este controla
milhares de toneladas por ano no Estado, que as comunidades de plantas, eliminando as
são espalhados por sobre os alimentos e ecos- mais sensíveis e deixando as resistentes.
sistemas. O pastejo da Estepe ou Campos Sulinos
Os fragmentos de pequeno tamanho pelo gado tem provocado pressão seleti-
também são impactados pela mudança dos va sobre algumas espécies mais palatáveis,
fatores ecológicos externos, que repercu- reduzindo sua densidade ou tamanho. O
tem internamente, denominados de efeito gado e o fogo controlam o avanço da flores-
de borda, mais intenso nos primeiros 100 m ta, portanto, muitas das áreas cobertas por
da margem dos fragmentos. A fragmentação campos, atualmente, poderiam se tornar ou
possibilita o aumento da luminosidade, da retornar a ser coberto por floresta, caso o
velocidade dos ventos, redução da umidade gado fosse removido (OVERBECK et al.,
interna às florestas. Com isso, os remanes- 2009).
centes se tornam mais vulneráveis à que- Quando o gado sai das pastagens e aden-
bra de árvores grandes, à entrada do fogo tra as florestas, geram-se grandes impactos.
e seu alastramento, bem como facilitam o O pastejo e pisoteio das plantas jovens na
encontro das espécies pelos caçadores. No floresta, aliado às roçadas feitas pelos pecu-
conjunto, esses fatores criam as condições aristas para facilitar o acesso do gado, têm
para espécies pioneiras e secundárias em se tornado importantes fatores de degrada-
detrimento daquelas exigentes de condições ção, comprometendo o futuro da floresta,
ambientais melhores, como as climácicas. conforme constatado pelo IFFSC no Planal-
O fogo é usado no manejo das pastagens, to Central e Oeste de Santa Catarina (VI-
pertencentes à Estepe ou aos Campos Suli- BRANS et al., 2012b; 2013a).

8.1.5 E s p é c i e s E xó t ic a s I n va s or a s
Outra ação humana na zona rural e ur- e campos do Sul do Brasil, originário da
bana é a introdução de espécies exóticas Europa, está invadindo milhares de hecta-
(intencional ou não) nas propriedades. As res de florestas e agricultura, causando per-
espécies exóticas invasoras no Brasil são das enormes aos ecossistemas e às lavouras;
consideradas ameaças à biodiversidade, há também o caramujo africano (Achatina
abarcando dezenas de espécies de animais fulica) (Figura 6); o lírio-do-brejo (Hedichium
e plantas que invadem ecossistemas, ocu- coronarium) (Figura 5), Pinus spp., Casuarina
pando os lugares e os recursos das espécies equisetifolia, a uva-do-japão (Hovenia dulcis),
nativas. São exóticas por não serem nativas champaca (Magnolia champaca), o ligustro ou
do Brasil e consideradas invasoras porque alfeneiro (Ligustrum lucidum) e o espinhento
aparecem como espontâneas em áreas em urze ou maleza (Ulex europaeus) nos campos
que não são cultivadas têm alta taxa repro- do planalto. Das 102 espécies de plantas
dutiva, sendo de difícil controle. exóticas registradas pelo IFFSC nas flores-
Alguns exemplos famosos de espécies tas e sua proximidade, a mais frequente foi
exóticas invasoras são o javali (Sus scrofa), a uva-do-japão.
introduzido com fins de caça, nas florestas No entanto, o inventário das florestas

206 | Biodiversidade Catarinense


evidenciou que as invasoras não conseguem áreas perturbadas, ou ainda, naturalmente
proliferar no interior de florestas bem con- frágeis, como a restinga e os campos suli-
servadas, mas podem ser abundantes em nos (MEYER et al., 2012a).

Figura 6: Lírio-do-brejo (Hedichium coronarium) com caramujo africano (Achatina fulica).


Foto: Edson Schroeder

8.1.6 As pl a ntações de Pinus e Euc aly ptus


Com a exaustão dos recursos madeirei- Santa Catarina possui 5.254 km2 de área
ros e de lenha nativa no Sul do Brasil, o au- plantada com Pinus, correspondendo a 32%
mento da demanda de matéria-prima para a do plantado no Brasil, no entanto, não se des-
fabricação de papel e celulose, bem como o taca em relação ao Eucalyptus (ABRAF, 2012).
fortalecimento da consciência e da legislação Ainda, segundo essa Associação, os plantios
ambiental, teve início a expansão das planta- florestais de Eucalyptus e Pinus no Brasil totali-
ções de Pinus spp. e Eucalyptus spp. em Santa zaram, em 2011, 6.515.844 ha, ou 65.158 km2
Catarina (Figura 7). O clima (precipitação e (sendo 74,8% da área com Eucalyptus, e 25,2%
temperaturas) favorável ao desenvolvimento com Pinus).
dessas árvores e a tradição madeireira do es- Cabe também destacar que o plantio do
tado propiciaram a instalação do complexo Pinus em área de campos sulinos elimina a
industrial de papel e celulose hoje existente, maior parte das espécies de herbáceas nati-
o qual abastece parte do mercado interno e vas, pois estas são altamente demandantes de
externo. luz e, incapazes de sobreviver sombreadas. O

Ameaças à Biodiversidade | 207


butiá-do-campo (Butia eriospatha) encontra- rior da Estepe e da Floresta Ombrófila Mista
-se muito ameaçado de extinção com o pas- estão sendo drenadas para que sejam feitos
tejo dos indivíduos jovens pelo gado e pelo plantios de Pinus, pastagem ou agricultura.
plantio de Pinus que sombreia os adultos, Dessa forma, reduzindo a recarga dos aquífe-
levando-os à morte. ros superficiais e subterrâneos, comprometen-
Muitas áreas de turfeiras presentes no inte- do a vazão dos rios nos períodos de estiagem.

Figura 7: Plantação de Pinus sp. no planalto de Santa Catarina. Foto: Márcio Verdi

8.1.7 A caça

A caça de animais como mamíferos, aves, mortos, para alimentação, tráfico, e outros.
répteis e, inclusive, insetos como as borboletas Espécies comuns ou raras, endêmicas ou
coloridas, são outro grande e impactante fator de não, estão com populações muito reduzidas, o
degradação. A caça está proibida no Brasil desde que significa que têm poucos indivíduos para
1967 pela LEI N° 5.197, há 46 anos, e é catego- se cruzar e produzir filhotes. Os animais que
rizada como crime ambiental, conforme previs- conseguem escapar dos desmatamentos, das
to na LEI No 9.605, de 1998. No entanto, essa queimadas, dos agrotóxicos, dos atropelamen-
atividade humana tem sido constatada em toda tos em rodovias são insistentemente persegui-
Santa Catarina, desde a colonização, reduzindo dos e mortos por caçadores dotados de armas
ou eliminando espécies dos ecossistemas. possantes e armadilhas (Figura 8).
As espécies de maior tamanho são os maio- Sem a fauna de grande porte e restrito núme-
res alvos: veados, onça, puma, gatos-do-mato, ro das de pequeno porte, as teias alimentares são
jaguatirica, porcos-do-mato, raposa-do-campo, empobrecidas e os serviços ambientais como a
graxaim, tatus, macacos, cutias, pacas, capiva- dispersão de sementes, polinização, controle na-
ras, gambás, jacus, ema, marrecas, perdizes, tural de população de outros animais e plantas
gaviões, macucos, rolas, jacarés, jararacuçu, ja- são reduzidos, com grande impacto negativo
raracas, cascavéis, lagartos e até beija-flores são para os ecossistemas. A existência de florestas

208 | Biodiversidade Catarinense


vazias de animais tem sido constatada nas flo- Para algumas espécies, a retirada de filho-
restas neotropicais - do México até o sul da Ar- tes para o tráfico é a principal causa de amea-
gentina e Chile, incluindo o Brasil (REDFORD, ça à extinção – como é o caso dos papagaios.
1997; DIRZO; MENDOZA; ORTÍZ, 2007). Além disso, estima-se que para cada indivíduo
Além disso, podem ocorrer efeitos negativos em que chega vivo para a venda ilegal, cerca de 20
cascata, com consequências imprevisíveis para outros morrem no processo do tráfico, desde a
todos os componentes do ecossistema (LO- retirada do ninho e a viagem em péssimas con-
PEZ; TERBORGH, 2007) e também para as dições por causa da necessidade de esconder os
pessoas e suas atividades produtivas. animais traficados.
Além de o homem caçar os animais pela car- Em Santa Catarina, principalmente no litoral,
ne (veados, porcos-do-mato, etc.) ou porque são é prática cultural manter aves em gaiolas como
tidos como nocivos (gaviões, serpentes), a extra- animais de estimação, o que causa diminuição
ção de animais para domesticação é uma séria e extinção local das espécies mais visadas. É
ameaça para muitas populações. Os psitacídeos necessário uma forte inibição desta prática atra-
(papagaios, araras, periquitos) e os passeriformes vés da Educação Ambiental – principalmente
(curiós, patativas, papa-capins, entre muitos ou- através do estímulo da prática de observação de
tros) formam os grupos mais visados pelos trafi- animais soltos na natureza, a exemplo do que
cantes de animais – crime inafiançável no Brasil. ocorre em outras partes do Brasil.

Figura 8: Os animais não podem viver sem a sua pele, mas, com certeza, as pessoas podem viver sem a
pele deles. Da esquerda para a direita: quati, jaguatirica, ovelha e raposa-do-campo. Foto: Lucia Sevegnani

Ameaças à Biodiversidade | 209


8.1.8 A miner ação

Santa Catarina é rica em minérios, sen- a água e o solo com os rejeitos piritosos,
do os mais importantes: o carvão mineral, liberadores de compostos de enxofre que
o caulim, as argilas vermelhas, o calcário, acidificam a água subterrânea e superficial
as rochas (basalto, granito, gnaisse, sei- (Figuras 9a, b).
xos), areias e ouro. A mineração que cobre As demais atividades de mineração estão
maior área de exploração contínua é a de dispersas pelo Estado gerando divisas eco-
carvão mineral efetuada na bacia do rio nômicas e muitos impactos ambientais nas
Tubarão e Araranguá no sul do Estado, áreas de exploração. A retirada de seixos e
abrangendo 5.700 ha de áreas degradadas areia do leito dos rios tem provocado es-
e, destes, 1.700 ha estão em processo de corregamentos das margens afetando áreas
recuperação ambiental. Esta contamina rurais e urbanas.

A B
Figura 9: Poluição resultante da mineração do carvão: a) Rejeitos piritosos e seu efeito na água, em Cri-
ciúma, 1998; b) Recuperação parcial, mas ainda com poluição dos cursos d’água, em Urussanga, 2012.
Fotos: Lucia Sevegnani

8.1.9 Hidrelétricas e P a r q u e s E ó l i co s

Num mundo e país cada vez mais de- Os barramentos de rios (Figura 4a), ou ca-
pendente de megaquantidades de energia nalização da água para tubulações, necessá-
e com muito desperdício, grande parte das rios ao funcionamento de centrais hidrelétri-
fontes potenciais de geração de energia está cas modificam a dinâmica dos rios, gerando
sendo, ou serão, exploradas. O Brasil é um impactos negativos importantes, perenes e
líder mundial em produção e uso da ener- temporários, sobre a biodiversidade dos rios
gia originada da água, através das Usinas e zona ripária. Ou seja, extinguem-se os rios
Hidrelétricas (UHE), Aproveitamento Hi- naturais. Os movimentos migratórios dos
droelétrico (AHE) e Pequenas Centrais Hi- animais aquáticos, especialmente os peixes,
drelétricas (PCH). são também barrados. Espécies que fazem pi-

210 | B i o d i v e rsida d e Cata rin e nse


racema (migração para as cabeceiras dos rios espécies, denominada de resgate de fauna e
para reprodução) encontram nos vertedouros flora, tem mais efeito emocional que ecológi-
barreiras intransponíveis, nem sempre total- co, pois a maior parte dos indivíduos morre
mente sanadas com a construção de escadas ou é destinada para outra área onde têm que
para peixes. ocupar e competir por espaço e recursos. O
A criação dos lagos das hidrelétricas inunda resgate, em geral, se concentra sobre animais
grandes áreas de terras contendo comunida- vertebrados, sementes e mudas de plantas.
des humanas, agricultura, pastagens, florestas Dos animais resgatados, muitos são manti-
e campos. Entre eles se destacam AHE Barra dos em cativeiro e aqueles que são soltos nem
Grande (Figura 10a), no rio Pelotas, o UHE sempre sobrevivem ou formam novas popu-
Itá no rio Uruguai, a UHE Campos Novos lações viáveis. Isso pode ter implicações, in-
no rio Canoas, entre outras já construídas e clusive para a fauna em locais não atingidos
em projetos. Esses grandes reservatórios mu- pelo represamento (RODRIGUES, 2006).
dam a dinâmica da água do rio, passando de Como estes empreendimentos têm gran-
ambientes lóticos (rios com água corrente e des impactos ecológicos e sociais, medidas de
em corredeiras) para lênticos (trechos de rios compensação são exigidas pela legislação am-
com água represada com baixa velocidade). biental, em geral 0,5 a 2% do valor da obra.
Esta mudança afeta toda a biodiversidade dos Como resultado das compensações, algumas
rios dos ecossistemas limítrofes. A captura de unidades de conservação foram e podem ser

Figura 10a: Usina Hidrelétrica de Barra Grande, em Anita Garibaldi. Foto: Marcio Verdi

Ameaças à B i o d i v e r s i d a d e | 2 11
criadas. As populações humanas são muito Embora não utilizem a água, destaca-se
afetadas e sofrem com os empreendimentos outro tipo de empreendimento de geração de
pela necessidade de deixar o local, pelo atraso energia, os parques eólicos. Essa é uma tec-
no processo indenizatório das terras e, tam- nologia recentemente utilizada no Brasil, mas
bém, pela dificuldade de construir novos la- está em franco processo de expansão, inclusi-
ços no novo espaço, fato que gerou o justo ve no planalto de Santa Catarina. Inicialmen-
movimento social dos “Atingidos por Barra- te considerada de baixo impacto, constatou-se
gens”. no Brasil que as torres com suas pás gigantes e
Após a entrada em funcionamento da hi- giratórias emitem vibrações na atmosfera cir-
drelétrica, os ecossistemas aquáticos e ter- cundante, fazendo com que morcegos e aves
restres se reorganizam, contando com as se desorientem, batendo mortalmente nas pás.
espécies que restaram e as que chegam, aos Os morcegos são as vítimas mais frequen-
poucos, através dos processos de dispersão e tes e abundantes, e sua falta no ecossistema
migração. No entorno dos reservatórios, deve gera perda de serviços ambientais. Como as
ser mantida área de proteção permanente para linhas de torres podem atingir até 10 km de
amortizar os fatores de degradação sobre a extensão ou formar agrupamentos dessas e
água, bem como possibilitar a instalação e o ter até 100 m de altura, os impactos são pre-
fluxo de espécies ao longo das margens. ocupantes.

8 .1 .1 0 Poluiç ão d o a r , da água e d o s ol o ru r a l ou u r ba no

A poluição está distribuída em todos os floresta vizinha. Toda essa poluição afeta a
meios e em todas as regiões de Santa Ca- biodiversidade próxima e distante.
tarina. Apresenta características e inten- A poluição da água, determinada pelos
sidades variáveis, dependendo do tipo, da efluentes industriais e esgoto urbano, cada
quantidade e da frequência da emissão dos vez mais rico em produtos químicos, am-
poluentes. pliados pela carga de resíduos sólidos depo-
No ambiente urbano há a poluição at- sitados no leito dos rios, causam a morte da
mosférica, através do lançamento contínuo biodiversidade dos rios e oceano. Há, tam-
de gases tóxicos provindos das indústrias bém, a alteração do tamanho, da largura e da
e do trânsito; a sonora (sons de diferentes dinâmica dos cursos d´água, resultantes das
fontes); a luminosa (as luzes noturnas per- obras de engenharia, tais como dragagens,
manentemente acesas provocam mortalida- retificações, aterramentos e tubulação. Essas
de de milhões de insetos todas as noites, obras afetam o ecossistema rio e a zona ripá-
bem como, reduzem a população dos mais ria. Com isso, espécies são postas em risco,
sensíveis, além de impedir que se observe o especialmente as restritas a esses ambientes.
maravilhoso universo estrelado exposto na A contaminação do solo, provocada por
tela do céu noturno); a térmica (gases aque- resíduos sólidos (lixo), líquidos de toxidade
cidos liberados na atmosfera). Há, ainda, a variada e demandantes de longo tempo de
formação de ilhas de calor, resultante da degradação, está por toda a parte. Quando
concentração de área construída e redução os resíduos são destinados para os aterros
da cobertura florestal no entorno de casas e controlados, o seu volume é imenso pela fal-
cursos d´água - o aumento da temperatura ta de ações de redução, reciclagem, reutiliza-
pode ser de até dois graus em relação a uma ção e boa destinação dos resíduos.

212 | B i o d i v e r s i d a d e C ata r i n e n s e
Figura 10b: Nascente do rio Itajaí na Reserva Rio das Furnas, município de Alfredo Wagner:
categoria um e ótima qualidade, antes de passar por áreas agrícolas. Foto: Renato Rizzaro

Há, também, a impermeabilização do solo as rodovias pelos veículos e transportados


por concreto, asfalto e telhados, deixando de pela água das chuvas, conduzidos para o
ser solo para ser apenas um substrato inerte. solo e para os rios.
A biodiversidade que permeia as cidades é Todos esses poluentes têm impactos
restrita, frequentemente composta por es- sobre a biota existente nas bacias hidro-
pécies adaptadas aos ambientes degradados, gráficas, afetando as cadeias alimentares,
sujeitas aos perigos da poluição e do tráfego. reduzindo seus componentes e as inter-re-
Na zona rural, em geral, os rios que saem lações. Portanto, o aumento populacional,
das florestas (Figura 10b) se enquadram na o uso do território e a ampliação do con-
categoria um, ou seja, são de ótima quali- sumo têm gerado impactos negativos sobre
dade, mas ao entrar em contato com áreas a biodiversidade, reduzindo espécies e po-
agrícolas e pecuárias recebem grande carga pulações destas, alterando ecossistemas –
poluidora, passando para a categoria três. simplificando-os e alterando sua qualidade
Os poluentes provêm dos sedimentos física, química e biológica.
(solo erodido), de nutrientes (lixiviação dos Felizmente, existe legislação relativa à
solos fertilizados ou de excrementos pro- proteção da qualidade do ar, da água e do
vindos dos animais nas pastagens, currais solo, bem como normas para controle da
e granjas) e de agrotóxicos (herbicidas, fun- poluição estão sendo aplicadas pelos ór-
gicidas, inseticidas, entre outros). Há, tam- gãos ambientais. Muitas cidades e indús-
bém, os efluentes das agroindústrias (abate trias possuem sistemas de tratamento de
de suínos, aves e bovinos), tão abundantes poluição e a população está cada vez mais
em Santa Catarina. Outra fonte poluidora consciente da necessidade e urgência do seu
provém dos combustíveis dispersos sobre controle.
8.1.11 Rodovias
Ameaças à B i o d i v e rsi da d e | 213
8.1.11 Rodovias x Vi da
A vida parece ter pouca chance nas movi- ou muitas rodas. Com a velocidade empre-
mentadas, violentas e mal cuidadas e pouco endida pelos carros e caminhões e a estrutu-
estruturadas rodovias brasileiras. Os aciden- ra das rodovias fica muito difícil um animal
tes com vítimas fatais, com lesões perma- ter chance de escapar.
nentes e temporárias afetam milhares de A equação rodovia + pessoas + animais
pessoas todos os anos e os números não é complexa e de difícil solução (Figura 11).
param de crescer. Bebidas alcoólicas, dro- No entanto, merecedora de estudos que pro-
gas legais e ilegais, bem como o cansaço são piciem a construção de passagens de nível
causas e também agravantes dessa realidade. (túneis para a fauna), cercas nas áreas com
Se, são grandes os números de aciden- maior frequência de acidentes e educação
tes envolvendo pessoas, maiores seriam se dos motoristas. Os novos traçados de rodo-
incluíssemos nas listas de vítimas todos os vias devem evitar cruzar unidades de con-
mamíferos, aves, répteis, anfíbios, moluscos, servação. Em relação aos animais domésti-
insetos, aranhas, vermes que, em suas tenta- cos, devem ser controlados através de cercas
tivas, geralmente mal sucedidas, encontram e guias para evitar que sejam atropelados em
a morte vestida de metal e montada em duas acidentes.

Figura 11: Quati atropelado em rodovia (Nasua nasua). Foto: Djeison F. de Souza

214 | B i o d i v e rsi da d e C ata r i n e nse


Figura 12: Complexo portuário Itajaí, compreendendo os portos de Itajaí e de Navegantes que alteram
profundamente a foz do rio Itajaí. Foto: Luiz Schramm

8.1.12 Portos
Os complexos portuários de São Fran- ras, afetando a biota das águas litorâneas,
cisco, de Itajaí, de Imbituba recebem, anu- das restingas e manguezais e das cidades.
almente, centenas de navios provindos dos Os derrames de combustíveis, esgotos e
mais diferentes países (Figura 13). Eles demais poluentes são frequentes e de alto
transportam nossa produção agrícola, pe- impacto. Responsáveis pelos grandes flu-
cuária, papel e celulose e demais produtos xos de exportação e importação, os portos
industriais, trazendo manufaturados de provocam destruição dos ecossistemas es-
outros países. Mas também trazem consi- tuarinos, na desembocadura dos principais
go espécies que podem se tornar invaso- rios e baías catarinenses.

8.1.13 Ba l n e á r ios l itor â n eos – e x pa n s ã o e a d e n s a m e n t o

Os balneários, tão comuns na faixa litorâ- seus arranha-céus, está tornando alguns bal-
nea de Santa Catarina, são locais de lazer de neários selvas-de-pedra, como em Balneário
da maior parte da população estadual e dos Camboriú (Figura 13), Meia Praia e parte de
milhões de turistas que nos visitam. Todos Florianópolis (Figura 14a).
buscam belas paisagens, atividades culturais A urbanização das grandes e pequenas
e de lazer nas cidades polo. No entanto, a cidades litorâneas, em geral, se dá pela ocu-
densidade das construções urbanas, com pação das restingas e dos manguezais, re-

Ameaças à B i o d i v e r s i d a d e | 215
movendo a vegetação nativa, impermeabili- ainda capaz de assegurar a manutenção da
zando e poluindo o solo e a água, gerando vida para o futuro. Cada prefeitura deseja
muitos resíduos (Figuras 14a, b). A biodiver- urbanizar o mais lindo recanto natural de
sidade perde espaço para as pessoas e suas seu município e as perdas de ecossistemas
atividades e não há zoneamento costeiro vão se acumulando.

Figura 13: Adensamento urbano em Balneário Camboriú ocupa toda a orla marítima. Foto: Luiz Schramm

216 | B i o d i v e rsi da d e C ata r i n e nse


A

Figura 14: Ameaças à biodiversi-


dade e à qualidade de vida huma-
na: a) expansão da cidade sobre
os manguezais e demais tipos de
vegetação; b) geração de resíduos
urbanos e grande desperdício de
material, problemática não
exclusiva dos balneários.
Fotos: Lucia Sevegnani B

Ameaças à B i o d i v e r s i d a d e | 217
8.1.14 Erosão gen étic a - a b i o d i v e r s i d a d e s e va i s i l e n c i o s a

A variabilidade genética é o terceiro nível do dois irmãos naturais são cruzados entre si.
da biodiversidade, sendo o segundo, o nú- Para os animais chamamos isso de consan-
mero de espécies e o primeiro, os diferentes guinidade, mas a palavra certa é alta endo-
ecossistemas formados por elas, de acordo gamia, ou seja, sucessivos cruzamentos entre
com a Convenção para a Diversidade Bioló- aparentados, resultando em baixa variabili-
gica (CDB, 1992). A expressão “erosão gené- dade genética. Espécies de plantas e animais
tica” traz consigo o sentido de perda lenta, como a anta, a onça, os veados, entre cente-
progressiva e silenciosa. nas de outras, estão na mesma situação que a
No mundo existem sete bilhões de pessoas Araucaria. Somente a conservação dos ecos-
diferentes. Se considerada somente a espécie, sistemas pode minimizar a perda genética.
poderia ser deixado somente um casal para As ameaças apresentadas até aqui são nu-
representar os humanos, pois esses são todos merosas e, quando ocorrem em conjunto,
Homo sapiens. Com certeza, com essa ação, a seus efeitos se ampliam, causando danos aos
humanidade ficaria muito empobrecida gené- três níveis da biodiversidade (genética, de es-
tica e culturalmente, além de muito fragili- pécies e de ecossistemas). Portanto, a valio-
zada frente às doenças provocadas por vírus, sa vida nativa do Estado de Santa Catarina
bactérias e aos fatores climáticos. precisa de proteção e conservação. A prote-
Mas, se consideramos absurdo tomar essa ção exige manter a biodiversidade intocada
decisão em relação às pessoas, esquecemos e ela deve ocorrer no interior das Unidades
que é exatamente isso que estamos fazendo de Conservação. A conservação significa o
com as populações de milhares de espécies uso criterioso, racional e sustentável, man-
de animais, plantas ou micro-organismos, co- tendo saudáveis os ecossistemas bem como
nhecidos ou não, presentes em nosso planeta. as populações viáveis em seu interior. Uma
Vamos dar alguns exemplos: o pinheiro-do- tarefa vultosa e árdua, mas com benefícios
-paraná (Araucaria angustifolia) teve suas popu- para todos, todos. A educação tem um papel
lações tão exploradas que, a análise genética fundamental nesse processo de conservação
feita por Reis et al. (2012a), evidenciou que a e preservação das espécies, pois contribui de
variabilidade genética dessa espécie está se- forma significativa para a educação científica
melhante àquela encontrada nos filhos, quan- do cidadão.

8.1.15 Educação dista ncia da da biodiversida de

Por certo, causa estranheza a afirmação dam a rica biodiversidade circundante.


de que a falta do processo educativo volta- No momento em que 85% da popula-
do à educação científica para a biodiversi- ção do Estado reside em áreas urbanas e o
dade catarinense é uma ameaça à vida. Mas dia a dia está cada vez mais distanciado dos
é pungente que a ignorância e os interesses ambientes naturais conservados, torna-se
econômicos dificultam a conservação dos imprescindível ter nas escolas a abordagem
ecossistemas, das espécies e da variabilidade sobre a temática biodiversidade e ir ao seu
genética contida nestas. Constata-se, muitas encontro durante atividades em campo, com-
vezes, que o cotidiano nas escolas distanciou- plementadas com outras atividades em sala
-se da realidade dos estudantes e não abor- de aula. A escola é o espaço das ideias e das

218 | B i o d i v e r s i d a d e C ata r i n e n s e
vivências dos estudantes, estimuladas pelos deve propiciar aprofundamento teórico e prá-
professores. Portanto, é necessário que haja tico sobre a biodiversidade. Pois, somente é
docentes que possam desenvolver ações em possível formar um cidadão ciente e defensor
prol da educação científica e da valorização da conservação da vida se isso for estimulado
da vida junto aos estudantes (ver Capítulo 1). desde a mais tenra idade e ampliado ao longo
A formação dos professores é tarefa das de toda sua trajetória escolar.
universidades e centros educacionais e esta

8.2 Espécies a m e aç a da s de ex ti nç ão

Chamamos de espécies ameaçadas aquelas estar ameaçadas em determinadas áreas de


que possuem uma ou mais populações apre- sua distribuição, porém, podem estar sofren-
sentando declínio no número de indivíduos. do diminuição populacional em outras. Além
Entre essas espécies figuram (i) aquelas que da alteração ambiental, a caça também foi res-
são exploradas pelo homem acima de sua ca- ponsável pelo declínio de várias espécies no
pacidade de reposição (seja por caça ou extra- Estado.
tivismo vegetal); (ii) aquelas que possuem seu Entre as espécies ameaçadas pelo extrati-
hábitat alterado pela ação humana, de modo vismo acima da capacidade suporte das po-
que alguma fase do seu desenvolvimento seja pulações figuram a araucária, o xaxim-mono
comprometida; e (iii) aquelas que são amea- (Dicksonia sellowiana), várias espécies de cane-
çadas pela presença de espécies exóticas no la-preta (Ocotea catharinensis), canela-sassafrás
seu hábitat. (Ocotea odorifera), imbuia (Ocotea porosa, árvore
As listas de espécies ameaçadas são ferra- símbolo de Santa Catarina), palmiteiro (Eu-
mentas utilizadas para a gestão de estratégias terpe edulis) (Figura 15a) e bromélias (extraídas
de conservação, colocando essas espécies como plantas ornamentais).
como prioridades em políticas públicas. As- Entre os animais com populações severa-
sim, o governo brasileiro edita a Lista Nacio- mente diminuídas pela caça figuram o vea-
nal de Espécies Ameaçadas da Fauna e Flora do-bororó (Mazama nana), o veado-campeiro
do Brasil e, para Santa Catarina, são indica- (Ozotoceros bezoarticus) (Figura 15b), a onça-
dos 32 mamíferos, 96 aves (Figura 15e), 12 -pintada (Panthera onca) (Figura 15c), a jacutin-
répteis, 14 anfíbios, 45 peixes ósseos, sete pei- ga (Aburria jacutinga) e a anta (Tapirus terrestres)
xes cartilaginosos, 16 equinodermos, quatro (Figura 15d) (essas três últimas, provavel-
crustáceos, sete aracnídeos (aranhas), 25 in- mente extintas no Estado). Outros animais
setos (em sua maioria, borboletas e abelhas), caçados são: a onça-pintada (provavelmente
um poliqueta, quatro moluscos (marinhos), extinta, as ocorrências na região se referem
seis cnidários (maioria corais), somando um a indivíduos baseados em Misiones que atra-
total de 269 animais. Ao todo são 34 espécies vessam o Peperiguaçu), o puma, a jaguatirica
de plantas arroladas para nosso Estado. e os gatos-do-mato.
Resultante do elevado grau de alteração A poluição das águas e o represamento
do ambiente que ocorreu em Santa Catarina, de rios, especialmente na Bacia do Uruguai,
associado à atividade madeireira e agropecu- impactam fortemente as espécies de animais
ária, existem muitas espécies que são amea- aquáticos. Como exemplos, a esponja de água
çadas não só no nível nacional, mas também doce Houssayella iguazuensis, várias espécies
regionalmente. Algumas espécies podem não de mariscos de água doce (gêneros Diplodon

Ameaças à B i o d i v e r s i d a d e | 219
A B

D
Figura 15: Espécies ameaçadas de extinção: a) Palmiteiro (Euterpe edulis). Foto: Lucia Sevegnani;
b) Veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus). Foto: Fernanda Braga; c) Onça-pintada (Panthera onca).
Foto: Fernando Tortato; d) Anta (Tapirus terrestris). Foto: Danilo Kluyber (Iniciativa Nacional para a
Conservação da Anta Brasileira / Lowland Tapir Conservation Initiative)

220 | Biodiversidade Catarinense


e Anodontites), crustáceos (pitus e camarões- sas e amplamente distribuídas no território
-de-água-doce) e muitas espécies de peixes catarinense. Essas são resultantes das ações
(também afetados pela pesca predatória nos humanas motivadas pelo sistema de produ-
grandes rios, como o surubim e a piracanju- ção, padrões de consumo e modos de vida.
ba). Entre estes últimos se destacam os peixes Cabe ressaltar que a esperança está perdida
anuais (família Rivuliidae), cujo ciclo de vida somente para as espécies extintas. Para as ain-
se realiza totalmente no período de um ano, e da existentes, políticas e medidas focadas na
vivem em lagoas e poças de água temporárias. conservação e na restauração ambiental pos-
Para o conhecimento das espécies amea- sibilitam reverter o quadro de vulnerabilida-
çadas ou não, nativas de Santa Catarina há, de. É possível aumentar o tamanho popula-
atualmente disponíveis na internet, muitas cional de espécies ameaçadas, a exemplo do
imagens, artigos científicos e sites com infor- mico-leão-dourado, bem como melhorar sig-
mações confiáveis, os quais sugerimos que nificativamente as condições ecológicas dos
sejam consultados pelos professores e estu- ecossistemas degradados, sejam rios, mares,
dantes. Destacamos os sites Reflora (http:// florestas, campos ou mesmo áreas agrícolas.
floradobrasil.jbrj.gov.br/jabot/listaBrasil/ A biodiversidade que ainda existe em San-
ConsultaPublicaUC/ConsultaPublicaUC.do) ta Catarina propicia resiliências ecológica e a
e Wikiaves (http://www.wikiaves.com.br/), restauração dos serviços ambientais. O mo-
Flora Digital (http://www.ufrgs.br/fitoeco- mento de agir é agora, portanto, torna-se im-
logia/florars/index.php), entre tantos outros. prescindível conhecer, valorizar e defender a
Conforme abordado neste capítulo, as biodiversidade e, neste contexto, as escolas
ameaças à biodiversidade são muitas, inten- têm fundamental participação.

Figura 15e: A adaptação ecológica


do grimpeiro (Leptasthenura setaria)
a um único vegetal é caso quase
único no Brasil. Ave ameaçada de
extinção assim como a araucária
da qual é inteiramente ligada.
Foto: Renato Rizzaro/Reserva Rio das Furnas

Ameaças à Biodiversidade | 221


Foto: Lucia Sevegnani
C a p í t u l o 9

Potencialidades de uso
da Biodiversidade
L ucia S evegnani 1
R udi R icardo L aps 2
E dson S chroeder 3

Fu nções

A
9.1 e co l ó g i c a s e s e r v i ç o s a m b i e n ta i s

multiplicidade cultural huma- Nas florestas e campos, milhares de seres


na, de ecossistemas, de milha- vivos se abrigam e se alimentam e, com isso,
res de espécies e de indivíduos propiciam proteção dos solos e dos cursos
de plantas, animais e micro- d´água, promovem decomposição e ciclagem
-organismos presentes em Santa Catarina é de nutrientes, controlam populações, efe-
nosso maior patrimônio. As riquezas econô- tuam polinização e dispersão de sementes,
micas e ecológicas propiciam bem-estar hu- purificam o ar, melhoram o clima e liberam
mano. Tanto é verdade, que o Estado é tido compostos que favorecem a condensação das
como possuidor de uma das melhores condi- gotículas de água, facilitando a ocorrência
ções ambientais e sociais do Brasil. de chuvas. Naeem (1998) entende como

SEVEGNANI, L.; LAPS, R. R.; SCHROEDER, E. Potencialidades de uso da biodiversidade. In: SEVEGNANI, L.; SCHROEDER, E.
Biodiversidade catarinense: características, potencialidades e ameaças. Blumenau: Edifurb, 2013, p. 222-243.

1 Doutora em Ecologia, bióloga, professora e pesquisadora na Universidade Regional de Blumenau – FURB


2 Doutor em Ecologia, biólogo, professor e pesquisador na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul - campus Campo Grande
3 Doutor em Educação Científica e Tecnológica, biólogo, professor e pesquisador na Universidade Regional de Blumenau – FURB

Biodiversidade Catarinense | 223


funcionamento dos ecossistemas as ativi- políticas de pagamento por serviços am-
dades biogeoquímicas executadas por estes bientais (GUEDES; SEEHUSEN, 2011),
e seus fluxos de matéria (nutrientes, água, com vários exemplos no Brasil e também
gases atmosféricos) e o processamento da em Santa Catarina. O pagamento é efetu-
energia. ado ao proprietário para a manutenção da
As taxas em que os processos ocorrem, as cobertura florestal protetora de nascentes,
propriedades dos ecossistemas, bem como mantenedora de biodiversidade ou armaze-
os bens e serviços derivados têm sido no- nadora de carbono.
minados de funções dos ecossistemas (GA- Os bens e serviços fornecidos pela bio-
MFELDT; HILLEBRAND; JONSSON, diversidade, de acordo com a Comissão de
2008). Quando uma função ecológica passa Biodiversidade, da ONU – Organização
a ter valor econômico, por exemplo, pro- das Nações Unidas, em 2010, são:
teção da água, dizemos que é um serviço a) Fornecimento de combustível, ali-
ambiental (GUEDES; SEEHUSEN, 2011). mentos e fibras;
A biodiversidade é essencial para o forne- b) Fornecimento de materiais para abri-
cimento de bens e serviços às pessoas. A go e construção;
estimativa do valor monetário desses ser- c) Purificação do ar e da água;
viços tem sido efetuada, situando-se entre d) Desintoxicação e decomposição de re-
16 e 54 trilhões de dólares americanos (1 síduos;
dólar = 1,8 reais) por ano (COSTANZA et e) Estabilização e moderação do clima
al., 1997). Por exemplo, os serviços da po- da Terra;
linização na América do Sul podem valer f) M inimização de inundações, secas,
11 bilhões de euros por ano (POTTS et al., temperaturas extremas e da força dos
2010) sendo (1 euro= 2,5 reais). ventos;
Um dos principais grupos de poliniza- g) Geração e renovação da fertilidade do
dores, inclusive das plantas cultivadas, são solo, incluindo ciclagem de nutrien-
as abelhas, e é necessária a manutenção das tes;
florestas para que as espécies e populações h) Polinização das plantas e dispersão
delas sejam mantidas (IMPERATRIZ- das sementes, incluindo aquelas sob
-FONSECA; NUNES-SILVA, 2010). No cultivos;
Planalto Catarinense, as plantações de ma- i) Controle de pragas e doenças;
çãs necessitam das abelhas para polinização j) Manutenção dos recursos genéticos
das flores. Para efetuar a polinização, col- como fatores chave para o cultivo de
meias de abelhas, em caixas, são deslocadas variedades e raças de animais, produ-
em caminhões e abertas durante o dia, com ção de medicamentos e outros produ-
custo para os agricultores. Sem as abelhas tos;
e demais insetos polinizadores, a produção k) Benefícios culturais e estéticos, entre
de maçã, soja, feijão, tomate, abóbora, ma- eles o turismo e lazer (ver Box 1);
racujá, laranja, uva, mamão, pimentão, en- l) Habilidade para se adaptar às mudan-
tre centenas de outros cultivos, certamente ças.
seria muito reduzida ou inexistente. Esses bens e serviços movem as econo-
Atualmente estão sendo implantadas mias e promovem o bem-estar humano.

224 | Biodiversidade Catarinense


9. 2 Proteç ão da água

Todos já sabem que as florestas mantêm ba de liberação de água na atmosfera, através


conservadas as nascentes e cursos d´água, da transpiração e, junto com esta vão tam-
bem como sua qualidade e quantidade. O bém compostos químicos. Por outro lado,
que poucos sabem é que as florestas auxi- por formar empecilhos pelos quais a água
liam na formação de nuvens de chuva, atra- deve cruzar, a vegetação reduz a velocidade
vés da liberação de compostos químicos do fluxo da água, favorecendo a infiltração
voláteis na atmosfera. A vegetação florestal, e, consequente, formação dos aquíferos, e a
mas também a herbáceo-arbustiva, tem efei- regulação da vazão dos cursos d’água (Figu-
to tampão, pois protege a água, minimizan- ra 1b).
do a ação dos ventos, da radiação, dos po- A vegetação aquática retira da água os nu-
luentes, da elevação ou abaixamento brusco trientes, reduz a poluição, desse modo, me-
da temperatura (Figura 1a). lhorando ou mantendo boas as condições
A floresta funciona, também, como bom- físicas, químicas e biológicas da rede fluvial.

A B

Figura 1: a) Rio Canoas com mata ciliar


serpenteando na planície agrícola em
2011, Urubici; b) Margem do rio Itajaí-açu
com mata ciliar em 2013, Blumenau.
Fotos: Lucia Sevegnani

Potencialidades de uso da Biodiversidade | 225


BOX 1

T U R I S M O E M Á R E A S N AT U R A I S:
M arialva T omio D reher

O
Doutora em Engenharia de Produção, administradora, professora e pesquisadora na Universidade Regional de Blumenau - FURB

turismo é uma atividade fomento ao desenvolvimento das regiões,


socioeconômica que uma vez que promove a geração de
promove a movimentação emprego, de renda e de impostos.
de pessoas que se No entanto, quando se discute o
deslocam para usufruir, em sua turismo em áreas naturais frente à
permanência na área visitada, diferentes fragilidade desses espaços, o apelo
experiências, especialmente voltadas ao econômico que o turismo oferece é
lazer e à cultura, ofertados pelos serviços importante, todavia restrito. Neste
e empreendimentos turísticos de um caso, é fundamental considerar as
determinado destino turístico. Gera preocupações relativas à conservação
bilhões em recursos financeiros e ajuda dessas áreas e sua biodiversidade.
a mover a economia de Santa Catarina. Por isso, a relação do turista com a
Para compreender esta movimentação, natureza e os impactos ocasionados
segundo o Ministério do Turismo (Brasil, por essa relação devem ser observados
2012), considerando o desembarque, com cautela. O desenvolvimento do
em 2011, nos aeroportos brasileiros, 5,4 turismo em áreas naturais necessita
milhões de turistas internacionais e 79 ser ordenado com responsabilidade.
milhões de turistas nacionais visitaram É essencial compreender, analisar
o Brasil. Essa expressiva demanda se e administrar estratégias voltadas
fundamenta em múltiplas motivações, ao equilíbrio entre a conservação
dentre elas, o desejo de contato com ambiental e a satisfação do turista e
a natureza, que é promovido pelas dos organizadores do turismo. Isso
atividades turísticas realizadas em áreas representa um desafio na intenção
naturais. No caso brasileiro, esse fato de oferecer serviços turísticos com
é expresso no incremento da demanda qualidade e segurança. O primeiro
de turistas em 7,6%, de 2004 para 2010, passo para atingir esse objetivo se
que buscam o turismo de natureza, o constitui no conhecimento profundo
ecoturismo e o turismo de aventura. da área a ser visitada, como meio de
Essa demanda representou, em 2011, o definir a viabilidade e factibilidade
segundo lugar (26,9%) das preferências do turismo, a partir das demandas e
e motivações dos turistas. Assim, da conservação ambiental. Porém,
numa leitura econômica, o turismo aliar necessidades econômicas
representa “mais uma” possibilidade com a conservação ambiental,
para ampliar o leque de ofertas que os historicamente, nunca foi tarefa fácil.
empreendedores e os profissionais de Diante dessa complexidade, nas
um destino oferecem. Dessa maneira, reflexões sobre o desenvolvimento
muitas vezes, ele é visto como um do turismo em áreas naturais,

226 | Biodiversidade Catarinense


OPORTUNIDADES E DESAFIOS

surge a necessidade de uma visão


multidisciplinar que possa envolver
os organizadores do turismo, os
gestores públicos, a comunidade e
os profissionais das ciências naturais
(conhecedores das fragilidades
do ambiente natural). A intenção é
provocar um diálogo amplo sobre as
problemáticas e as oportunidades A
que envolvem o turismo em áreas
naturais. A leitura multidisciplinar pode
contribuir com a construção de um
processo de desenvolvimento com
mais responsabilidade, no qual as
iniciativas, tanto do ponto de vista dos
organizadores como dos visitantes,
considere a sobrevivência do turismo e
da biodiversidade das regiões turísticas.
Nesse sentido, abrem-se muitas
possibilidades, entre elas: conservação
da natureza; vivências em locais
conservados; compartilhamento B
de recursos e investimentos para a
manutenção da natureza e do turismo;
promoção da educação ambiental;
práticas turísticas educativas;
inserção social no uso das atividades
e serviços turísticos; promoção do
respeito entre os visitantes com a
natureza como meio para conhecer
e valorizar a biodiversidade.

Turismo em áreas naturais:


a) acolhida na colônia, em Urubici;
b) lazer em área natural. Fotos: Lucia Sevegnani;
c) turismo pedagógico (ICMBio),
Foto: Daniela S. Mayorca C

Potencialidades de uso da Biodiversidade | 227


9. 3 P rot eç ãod a s co m u n i d a d e s co n t r a
os desa str es nat ur a is
Os desastres ambientais resultam da ação sidade dos desastres, possibilitando redução
humana sobre ecossistemas frágeis e suscep- de perdas. Somente em 2008, o município de
tíveis a fenômenos naturais intensos (tempes- Blumenau somou em prejuízos públicos cer-
tades, vendavais, inundações, entre outros) ca de dois bilhões de reais (1 dólar americano
(Figuras 2a - f). Santa Catarina soma, a cada = 1,8 reais) com perdas de rodovias, pontes,
ano, bilhões de reais em prejuízos pelos de- estradas, escolas, somada a toda a estrutura
sastres ambientais. Eles provocam perdas de de apoio à população afetada (FRANK; SE-
vidas humanas, de animais, de plantas, além VEGNANI, 2009). A presença de florestas
dos cultivos, do patrimônio público e priva- ao longo dos rios (área de preservação per-
do (Figuras 2b, c, d). Em geral, os ambientes manente), nas encostas íngremes e topos de
mais degradados são mais sujeitos aos desas- morros reduz a velocidade da água que escoa,
tres. bem como mantém mais estáveis as encostas
Ecossistemas biodiversos e bem conser- dos morros, diminuindo as chances de escor-
vados como as florestas, minimizam a inten- regamentos (Figura 2b). Todas as perdas evi-

A B

C D

Figura 2: Desastres frequentes em Santa Catarina que a biodiversidade pode amenizar. a) Tem-
pestades ameaçadoras; b) Escorregamento de encosta em 2008, Ilhota; c) Escorregamento de en-
costa após corte para construção de residência em 2008, Blumenau; d) Toneladas de escombros

228 | Biodiversidade Catarinense


tadas representam recursos mantidos, e isso sos d’água com florestas, cobertura verde ou
é um dos grandes serviços da biodiversidade. seca do solo agrícola e com o manejo conser-
Se as florestas são importantes durante as vacionista das pastagens.
chuvas intensas, também o são durante os O oeste do Estado é a região que mais
períodos de estiagem (Figura 2e), eventos co- chove no território catarinense, mas atual-
muns no Estado. Estiagens são frequentes na mente a que tem menor cobertura florestal. A
região oeste de Santa Catarina, mas não so- água que cai evapora ou escorre rapidamente,
mente lá. Muito das perdas com as estiagens não permanecendo no sistema geoecológico
na agricultura, pecuária e setor energético para ser liberada lentamente; ela se vai célere.
poderiam ser evitadas ou minimizadas com Possivelmente, muitas das estiagens são mais
manejo e conservação das bacias hidrográfi- ecológicas que climáticas. Portanto, a restau-
cas, abrangendo proteção de nascentes e cur- ração ecológica é imperativa onde os desas-
tres são frequentes.
Muitas vezes só se valoriza o que gera di-
nheiro. A biodiversidade movimentou e ain-
da movimenta a economia do estado com
madeiras, com erva-mate, palmiteiro, pinhão
e, recentemente, com o turismo em áreas
conservadas, só para destacar alguns dos fa-
mosos produtos. A população catarinense
percebe as florestas como grande produtora
de serviços ambientais (ver Box 2).

formadas por mobiliário doméstico, comercial ou industrial, em Rio do Sul, inundação de ago/11.
F otos: L ucia S evegnani; e) Estiagem no Oeste. Foto:L audir L. P erondi; f) Inundação lenta, ou enchen-
te em Blumenau, 2011. F oto: L ucia S evegnani

Potencialidades de uso da Biodiversidade | 229


BOX 2

C O M O O S M O R A D O R E S DA Z O N A R U
J uarez J osé V anni M üller
Mestre em Fitotecnia, engenheiro agrônomo e pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural
de Santa Catarina, coordenado do IFFSC - socioambiental)

A EPAGRI realizou
o levantamento
socioambiental dos
recursos florestais de
Santa Catarina financiado pela FAPESC,
que buscou identificar as espécies
de plantas nativas mais utilizadas,
água são os serviços das florestas
naturais mais usados e valorizados
pelos moradores de seu entorno.
Para que as pequenas propriedades
se mantenham viáveis economicamente
e fornecendo condições adequadas
para a manutenção dos agricultores
seus usos atuais e potenciais, sua no campo, são necessárias políticas
importância para a população do ponto públicas voltadas à agricultura familiar.
de vista econômico, social e cultural e Dessa forma, pode-se evitar a tendência
as percepções dos moradores sobre as atual de êxodo rural, envelhecimento
matas nativas. A pesquisa foi realizada da população residente e predomínio
por intermédio da aplicação de um de pessoas do sexo masculino nas
questionário junto aos moradores propriedades, como foi observado
do entorno de 123 remanescentes nesta pesquisa. Consegue-se também
florestais, totalizando 777 entrevistas a preservação do meio ambiente e o
nas diferentes regiões do Estado. fornecimento dos serviços ambientais
Dos resultados, destacamos indispensáveis aos catarinenses.
que os recursos florestais nativos Sugerem-se algumas ações como
pouco contribuem para a renda das a melhoria das condições de vida
populações do entorno das áreas dos habitantes do meio rural (saúde
florestais; apenas a erva-mate e pública, saneamento, telefonia,
araucária contribuem para formação acesso à internet, estradas, coleta
da renda familiar. As matas são de lixo, educação, entre outros); e a
percebidas como mais importantes na realização de campanha permanente de
prestação de serviços ambientais do educação ambiental e esclarecimento
que para o fornecimento de produtos. sobre a legislação ambiental.
A proteção e a regularização de fontes Certamente essas ações serão
de água e rios é a função ambiental muito efetivas na manutenção do ser
das florestas mais valorizada. humano no meio rural, recuperando
Os entrevistados citaram 176 espécies a sua dignidade e interrompendo
madeiráveis e 274 espécies não a erosão de seus conhecimentos
madeiráveis, todas nativas de Santa centenários, e tendo a participação
Catarina. A proteção de nascentes deles como parceiros na manutenção
juntamente com a produção de e preservação dos ecossistemas.

230 | Biodiversidade Catarinense


R A L U S A M E P E R C E B E M A F L O R E S TA

Propriedade rural no Alto Vale do Itajaí. Foto: Lucia Sevegnani

Potencialidades de uso da Biodiversidade | 231


9.4 Espécies para o Futuro

Nos ecossistemas catarinenses existem


centenas de plantas e animais dos quais se
conhece pouco ou parcialmente suas possi-
bilidades de uso. O livro “Plantas do Futuro
- Região Sul”, editado por Coradin, Siminski
e Reis (2011), lista e descreve as características
de 149 espécies de plantas com potencial de
uso com fins alimentar, medicinal, repelente,
conservante, aromatizante, combustível, fi-
bras, plantas ornamentais, entre tantas outras.
Quando se faz referência às plantas e ani-
mais nativos com potencial significa que, com
processos de domesticação, seleção e melho-
ramento genético de determinadas caracte-
rísticas, pode-se obter produtos em maior e
melhor quantidade e qualidade. Poder-se-ia
produzir Araucaria angustifolia que iniciasse
a produção de pinhões com menos idade,
com maior quantidade de pinhões, em maior
número de meses. Palmiteiro (Euterpe edulis)
produzindo frutos com maior quantidade de
polpa para a produção de açaí (Figura 3).
Sob o aspecto químico, a importância
da diversidade biológica, principalmente de
plantas e micro-organismos, reside na diver-
sidade de substâncias que deles possam ser Figura 3: Retirada dos frutos do palmiteiro para a produção
isoladas. Essas substâncias se diferenciam
por suas estruturas moleculares e proprieda- originalmente extraído da canela de sassafrás
des biológicas. Embora o uso de substâncias (Ocotea odorifera). Este pode ser encontrado
puras seja desejável em muitas situações, os também em concentrações significativas em
extratos naturais ganham importância co- espécies de Piperaceae, de ocorrência na Mata
mercial crescente, em especial no âmbito da Atlântica (DOGNINI et al., 2012). Por sua
fitoterapia, cosméticos e nutrição humana e vez, óleos essenciais de espécies do gênero
animal, segundo o Dr. Ricardo A. Rebelo, Baccharis, conhecidas como vassouras (VAN-
pesquisador do Departamento de Química, NINI et al., 2012) atraem interesse por suas
da FURB. propriedades odoríferas, com uso potencial
Alguns exemplos catarinenses relativos aos na indústria de fragrâncias e alimentos.
produtos químicos são conhecidos. O safrol, O Brasil possui conhecimento, pesqui-
que possui grande aplicação na preparação de sadores e indústria que podem desenvolver
fixador de fragrância e de defensivo agríco- produtos a partir de plantas nativas. Como
la biodegradável (FRANZ, 2010), composto exemplos, há a Empresa Brasileira de Pesquisa

232 | Biodiversidade Catarinense


de açaí e coleta de sementes para a produção de mudas. Foto: Ignês Sevegnani

Agropecuária (EMBRAPA) e, em Santa Ca- pivaras, antas, porcos-do-mato, macucos e


tarina, a Empresa de Pesquisa Agropecuária e peixes, bem como mel originado de abelhas
Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI); nativas, atendendo à procura, sem pressionar
bem como centenas de universidades com os ecossistemas e espécies.
pesquisadores capazes de aplicar as técnicas de É evidente que o cultivo e a venda dessas
biotecnologia e melhoramento genético sobre espécies nativas têm que seguir regras e ter
as plantas nativas, para que estas deixem de autorização do IBAMA (Instituto Brasileiro
ser vistas como potenciais, para se tornarem de Meio Ambiente). Mas o cultivo, a certi-
presentes no dia-a-dia das pessoas e mercados, ficação e a venda de espécies são previstos
abandonando práticas extrativistas, passando e estimulados por lei, mesmo para espécies
para o cultivo de novas espécies. ameaçadas de extinção.
Em relação à fauna, como há demanda de Sugestões para uma política florestal sur-
carne de origem silvestre, pode-se construir giram a partir do Inventário Florístico Flo-
fazendas para criar cutias, pacas, veados, ca- restal de Santa Catarina, constantes do Box 3.

Potencialidades de uso da Biodiversidade | 233


BOX 3

P R O P O S TA S P A R A U M A N O VA P O L Í
A lexander C hristian V ibrans
Doutor em Geografia, engenheiro florestal, professor e pesquisador na Universidade Regional de Blumenau,
Coordenador do IFFSC

O 2
inventário das florestas ca- Programa de silvicultura de espécies
tarinenses veio preencher arbóreas nativas visando, além da
uma lacuna no conhecimento salvaguarda do material genético ainda
sobre o “terço florestal” do existente, mediante sua reprodução,
território do Estado de Santa Catarina e tanto plantios de recuperação em
permite aos gestores deste território, a áreas protegidas, como em áreas de
partir de sua abrangente base de dados, preservação permanente e de Reserva
elaborar medidas para desenvolver o Legal nas propriedades particulares,
potencial social, econômico e ambiental bem como a expansão da cobertura
dos seus recursos florestais (ver Figu- florestal nativa, mediante plantio de
ra). Permite ainda saber quais as bacias florestas destinadas à produção;
hidrográficas que demandam maior prote-
ção de suas florestas, visando garantir a
proteção dos mananciais e dos aquíferos;
para minimização dos desastres ambien-
3 Programa de incentivo ao manejo
de produtos madeireiros e não
madeireiros de florestas secundárias,
tais; bem como saber o município ou baseadas em formas tradicionais
região do Estado que enfrenta problemas de utilização, como em formas
na conservação dos recursos florestais. inovadoras de colheita seletiva de
árvores maduras em remanescentes
Ao mesmo tempo, possibilita à so- de florestas secundárias;
ciedade catarinense acesso aos dados
coletados e às informações geradas,
permitindo-lhe cobrar do poder público
agilidade na implantação de uma nova
4 Programa de defesa florestal,
envolvendo prevenção e controle
de incêndios, defesa fitossanitária
política florestal, verdadeiramente orien- e controle de espécies invasoras;
tada para os interesses coletivos. Esta
deve ser composta por uma série de pro-
gramas considerados prioritários, como: 5 Programa de integração das ações
de licenciamento, fiscalização e
regularização ambiental das propriedades

1 Programa de reestruturação das


unidades de conservação estadu-
ais, incluídas sua regularização fundi-
rurais, atualmente realizadas por
diversos órgãos e de forma isolada;

ária e propostas para a priorização de


regiões para sua ampliação, interco-
nexão e criação de novas unidades,
6 Instituição de um serviço de
extensão florestal para assessorar
e capacitar os proprietários dos
abrangendo todos os ecossistemas remanescentes florestais, visando
e toda a biodiversidade do Estado; sua conservação, uso e valoração.

234 | Biodiversidade Catarinense


T I C A F L O R E S TA L C A TA R I N E N S E

Propriedade rural com floresta e uso do solo diversificado na Valada Mosquitinho, em Agronômica.
Foto: Lucia Sevegnani

Potencialidades de uso da Biodiversidade | 235


9. 5 Qui n ta is - a v ida ao r edor da c a sa

Embora geralmente abrigando mais es- mado por jardim (cultivo de flores), horta
pécies exóticas que nativas, os quintais são (de hortaliças) e pomar (de frutíferas) para
ricas fontes de recursos. Todo aquele que colher um ramalhete de flores, uma bacia
teve a oportunidade de ir ao quintal – for- de crocantes hortaliças ou para subir no

A B

Figura 4: Biodiversidade nos quintais: a) Casa rodeada pela biodiversidade de espécies cultivadas;
b) Casa deserto. Fotos: Lucia Sevegnani

236 | Biodiversidade Catarinense


pé e apanhar frutas, sabe o valor dessa ri- água da chuva infiltra, o verde que circun-
queza inestimável que circundava a maior da a casa absorve a radiação, diminuindo
parte das residências (Figura 4a) no cam- o calor nos dias de verão. Nos quintais se
po e nas cidades. cultiva espécies e variedades não utiliza-
Estavam nos quintais as espécies va- das na agricultura de larga escala e por
lorizadas por séculos como chás, flores, isso são abrigos da diversidade genética de
verduras, frutas – as quais tiveram testada plantas cultivadas, ou seja, mini-bancos de
sua resistência e utilidade. Ali se cultivava germoplasma. Mesmo nos apartamentos
a muda vinda da avó, da tia, da vizinha, e pequenas casas é possível ter um mini-
da comadre. Cada uma com sua história, -quintal, misturando espécies em um vaso
cada uma com sua importância – plantas ou canteiro. Com mais diversidade, há me-
com valores culturais. Quase ninguém nor incidência de pragas.
comprava muda de plantas nos mercados, Infelizmente, com os adensamentos ur-
elas eram trocadas durante as visitas, pas- banos e o avanço das monoculturas rurais,
sadas de mão em mão, envoltas em regras a supervalorização dos carros, a desin-
de cultivo, tudo isso no trocar de expe- formação de que quintal dá só trabalho,
riências e vivências, às vezes regadas por milhares de quintais foram e estão sendo
um saboroso café. destruídos na zona rural e urbana. Em seu
O cuidado com os quintais favorece a lugar surgem lonas pretas, pedras, lajotas,
saúde de quem o cuida e de sua família. telhados, gerando deserto ao redor das
No quintal o exercício físico é pleno e o casas (Figura 4b) e as infernais ilhas de
tempo passa rapidamente, o apetite é des- calor habitadas, em geral, por pessoas es-
pertado; a luz e o ar fresco, bem como o tressadas e sedentárias, imbuídas da estéril
encantamento que produz, trazem bem- percepção de higiene. Precisamos manter
-estar e valorização pessoal. Os idosos e a cultura dos quintais em nossa cidade e
as crianças têm o que fazer, tocar e contar. campo, por todo o bem que eles nos pro-
Nos quintais o solo fica permeável, a porcionam.

9. 6 U n i d a d e s
d e co n s e r va ç ã o :
fo n t e s d e b i o d i v e r s i d a d e

Com o aumento da população e suas processo, transbordam centrifugamente a


demandas de consumo insaciáveis, a biodi- vida, as nascentes e rios, libera-se ar puro,
versidade é pressionada, reduzida e impac- afugentam-se os estresses, silencia-se o hu-
tada em todo o tempo e lugar. Por isso, as mano, expressam-se as demais espécies.
unidades de conservação são espaços pri- As áreas protegidas representam parte
vilegiados para a vida se manifestar, onde da poupança ecológica que a humanidade
os processos ecológicos podem acontecer deve conservar para sua segurança e bem-
livremente, com mínima interferência hu- -estar, no presente e futuro. Isso porque,
mana. Mas nas unidades de conservação é com as unidades de conservação, regozi-
preciso adequado gerenciamento, indeni- jam-se esporos, sementes, embriões de to-
zação das terras, fiscalização, educação e das as espécies, pois é dada uma chance de
pesquisa científica. Como resultado desse perpetuidade à vida (ver Box 4).

Potencialidades de uso da Biodiversidade | 237


BOX 4

U N I D A D E S D E C O N S E R VA Ç Ã O - P R E
L auro E duardo B acca

D
Mestre em Ecologia, biólogo, professor aposentado da Universidade Regional de Blumenau,
ex-diretor do Museu de Ecologia Fritz Müller

” esejo [...] o máximo de su- de Conservação (UC) no Estado, idealiza-


cesso na preservação destes do pelo renomado botânico catarinense,
Parques, para que sobre- Dr. Cônego Raulino Reitz, em 1975.
vivam às atuais loucuras, Felizmente os esforços dos que lutam
às devastações da sociedade de con- pela preservação também dão resul-
sumo, até quando uma nova civilização tados. Novas UC federais, estaduais,
os torne desnecessários.” José Antônio municipais e particulares foram criadas
Lutzenberger (1926 - 2002), inscrita no nos últimos anos no estado, como os
livro de visitas da RPPN Reserva Bu- Parques Nacionais da Serra do Itajaí
gerkopf, em Blumenau, em 21/08/1998. (570 km2) e das Araucárias e os Parques
O atual estágio “civilizatório” da hu- Estaduais Acaraí e Rio Canoas, alguns
manidade transformou-se numa ameaça parques naturais municipais e dezenas
sem precedentes à vida no planeta. O pe- de Reservas Particulares do Patrimô-
rigo de extinção em massa de espécies é nio Natural (RPPN). Curiosidade: essas
uma verdade inconveniente. Por isso mui- reservas particulares, em número acima
tos países se esforçam para estancar a de 50, somam área expressivamente
perda da biodiversidade. O Brasil avançou maior que a soma de todas as UC mu-
bastante nesse aspecto, depois de sécu- nicipais no Estado (Figura do Parque
los de destruição. No entanto, as pres- Nacional da Serra do Itajaí - ICMBio).
sões contrárias persistem, como no caso Todas as regiões fitoecológicas e
da recente flexibilização do ordenamento demais ecossistemas de Santa Catarina,
jurídico ambiental no estado e no país. incluindo o marinho, contemplam UC de
O retrocesso dos avanços ambien- proteção integral, as mais efetivas na
tais é um perigo real, considerando a proteção da biodiversidade (ver mapa
frágil Educação Ambiental do brasileiro. das UCs de Santa Catarina). A repre-
Todos aprendem que é muito impor- sentatividade, porém, deixa a desejar.
tante proteger a flora e a fauna, mas Essas UC estão mais concentradas em
poucos, de professores a gestores ambientes de Floresta Ombrófila Densa,
públicos, estão realmente cientes de com relevo acidentado e onde restaram
que, sem ambiente natural protegido os maiores e mais importantes fragmen-
em forma de Unidades de Conservação tos da vegetação nativa. Atenção es-
(UC), salvo raras exceções, as espécies pecial deve ser dada aos ecossistemas
nativas não têm como sobreviver. costeiros e marinhos e à Floresta Om-
Em Santa Catarina, fortes pressões re- brófila Mista e Floresta Estacional Deci-
sultaram, há poucos anos, na redução de dual, onde apenas algumas e diminutas
90 mil para 84.130 hectares (841 km2) de UCs preservam um pouco do pouco que
proteção integral do Parque Estadual da restou desses esfacelados ambientes.
Serra do Tabuleiro, a maior das Unidades Um bom sistema de áreas protegidas

238 | Biodiversidade Catarinense


C I O S O S E S PA Ç O S PA R A A V I D A

Mapa da localização das Unidades de Conservação de Santa Catarina.


Elaborado por: Débora Vanessa Lingner

é tão ou mais importante que pavimenta- ecossistemas do estado. Não se deve


ção de rodovias. Se o asfalto não chega esquecer, evidentemente, dos corredo-
hoje, pode chegar amanhã. Já a riqueza res ecológicos que os unam, além de
da biodiversidade perdida jamais voltará. inúmeras outras medidas, se quisermos
Santa Catarina possui menos de três por de fato entregar um mundo ainda belo
cento de seu território protegido em UC e equilibrado para as futuras gerações.
de proteção integral. Um esforço hercú- Até que surja uma nova civilização
leo precisa ser feito para que se atinja o que saiba de fato viver em harmonia
mínimo de 17 % de seu território efeti- com o ambiente natural, nada subs-
vamente protegido com UC de proteção titui o papel fundamental das Unida-
integral para atender recentes recomen- des de Conservação, esses preciosos
dações adotadas pela ONU, de formas a espaços, como depositórios da bio-
garantir um mínimo de proteção da bio- diversidade e da paisagem natural.
diversidade em longo prazo. Novas UC Somente com conservação da biodi-
de Proteção Integral necessitam ser cria- versidade pode-se falar em susten-
das e distribuídas por todo o território e tabilidade e em futuro promissor!

Potencialidades de uso da Biodiversidade | 239


9.7 L egislação A mbiental

O arcabouço legal brasileiro, no que


tange ao meio ambiente, teve a partir da
década de 60 do século XX significativo
avanço e ampliação, disciplinando a prote-
ção e o uso do patrimônio natural. Como
exemplos, o Código Florestal Brasileiro
(Lei Nº 4.771 de 1965), Proteção à fauna
(Lei Nº 5.197, de 1967), Parcelamento do
solo urbano (Lei N. 6.766 de 1979), Políti-
ca Nacional de Recursos Hídricos (Lei Nº
9.433 de 1997), Crimes Ambientais (Lei
Nº 9.605 de 1998), Sistema de Unidades
de Conservação (Lei Nº 9.985 de 2000)
(Figura 5) Lei da Mata Atlântica (Lei Nº
11.428 de 2006), novo código florestal -
Lei de proteção à vegetação nativa (Lei
Nº 12.651 de 2012), somente para citar as
principais leis. Há também os decretos e
as Resoluções do CONAMA – Conselho
Nacional de Meio Ambiente, na esfera fe-
deral, além de leis e portarias do Estado
(ex.: Código Ambiental de Santa Catarina
- Lei Nº 14.675 de 2009) e leis criadas pe-
los municípios. Estas devem ser conheci-
das e respeitadas pelos cidadãos.
O aumento da consciência da sociedade,
as pressões do movimento ambientalista (ver
Box 5), o avanço no conhecimento científi-
co advindo das universidades, bem como os
tratados e convenções internacionais, como
a CDB – Convenção para a Diversidade Bio-
lógica (1992) possibilitaram avanços signifi-
cativos na proteção e conservação do meio
ambiente e sua biodiversidade.
No entanto, muitos desses avanços so-
freram e sofrem ameaças, e até mesmo Diante das pressões, é preciso vigilância
retrocessos, com as pressões dos sistemas constante para que se mantenha o arca-
econômicos, como o que ocorreu com o bouço legal e este seja fortalecido pelo
Código Florestal nos anos de 2009 a 2012. uso, coibindo as ações de degradação am-

24 0 | Biodiversidade Catarinense
Figura 5: Vista aérea do Parque Nacional da Serra do Itajaí (ICMBio), no Vale do Itajaí - o hostspot de
biodiversidade do Estado de Santa Catarina. Foto: Lucia Sevegnani

biental e redução da biodiversidade. nifestação de biodiversidade, seja cultural


O sistema educacional, em todos os ou natural, e sua legislação protetora. O
níveis, deve formar estudantes críticos e bem-estar humano e a saúde dos ecossiste-
dispostos a defender o respeito a toda ma- mas dependem da biodiversidade.

Potencialidades de uso da B i o d i v e rsi da d e | 241


BOX 5

AS ONGs NA DEFESA DA BIODIVERSIDADE


M iriam P rochnow
Pedagoga, especialista em Ecologia Aplicada e Coordenadora de Políticas Públicas
da APREMAVI - Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida

W igold B. S chäffer

M
Administrador de Empresas, ambientalista e sócio fundador da APREMAVI
e ex-coordenador do Núcleo Mata Atlântica e Pampa do Ministério do Meio Ambiente

uitas Organizações Uma ONG muito atuante é a


Não Governamentais – Associação de Preservação do Meio
ONGs ambientalistas Ambiente e da Vida (APREMAVI - www.
desenvolvem trabalhos apremavi.org.br), com sede em Rio
na área ambiental e ajudam a discutir do Sul, SC. Desde sua criação em
temas importantes como a criação 1987, produz materiais educativos
de Unidades de Conservação e (livros, vídeos) que fazem a conexão
o impacto causado por grandes do global com o local, abordando
obras, como as hidrelétricas. Elas temas de interesse das comunidades
também ajudam no monitoramento e mostrando que a Mata Atlântica
do desmatamento e da poluição, bem e sua rica biodiversidade estão
como, em programas de educação naquela “matinha que tem atrás de
ambiental no Brasil e no mundo. O casa”. Atua também na produção de
trabalho das ONGs ambientalistas mudas de espécies nativas, levando-
tem sido fundamental para a inclusão as ao campo para restaurar áreas
da temática ambiental nas políticas degradadas. A APREMAVI juntamente
públicas e para o aprimoramento da com a Associação Catarinense de
legislação, como o capítulo de meio Preservação da Natureza (ACAPRENA),
ambiente da Constituição, a Lei da criada em 1972, com sede em
Mata Atlântica e o Código Florestal Blumenau, são mobilizadoras da
Brasileiro, bem como a conservação criação de Unidades de Conservação.
de espécies ameaçadas de extinção. Destacam-se como frutos desta
ação, o Parque Nacional da Serra do
Itajaí, o Parque Nacional das Araucárias,
a Estação Ecológica Mata Preta, a
Área de Relevante Interesse Ecológico
da Serra da Abelha e outros parques
e reservas estaduais e municipais. E
também as entidades contribuem com
a implantação e consolidação das UCs.
Outras ONGs, citando apenas algumas,
como o Vianei de Lages, a Ameca de
São Francisco do Sul e o Pau Campeche
de Florianópolis têm trabalhos muito
importantes em prol do meio ambiente.
O importante é cada um fazer a sua
parte e também unir esforços para
realizar ações que possam efetivamente
Viveiro de espécies nativas da APREMAVI. contribuir com o bem-estar de todos,
Foto: Miriam Prochnow através da conservação da natureza.

242 | Biodiversidade Catarinense


9.8 O sis t e m a de e nsi no for m a n do o ci da dão

Ao concluirmos o capítulo sobre as po- bravamente pela sobrevivência. Mas, estes


tencialidades, precisamos ressaltar que so- precisam ter interiorizada que a perda da
mente as potencialidades de uso, a conserva- biodiversidade pode resultar em lucros ime-
ção e a preservação podem se tornar viáveis diatos para alguns, mas que causará intensas
se a sociedade catarinense se tornar ciente e sucessivas perdas de qualidade de vida e
da riqueza que possui: a biodiversidade de fragilização frente aos fenômenos naturais
ecossistemas, de espécies e sua variabilidade que desencadeiam desastres.
genética. As escolas e universidades têm papel re-
Precisamos formar cidadãos educados levante e insubstituível na formação dos
cientificamente para que protejam e usem cidadãos e na educação científica dos estu-
com critérios e exijam dos poderes consti- dantes, considerando diferentes realidades
tuídos a implantação das políticas direciona- da Ecosfera (Figuras 6a, b), para que este-
das nesse sentido. jam preparados para agir em prol da conser-
Os habitantes das diversas regiões catari- vação da biodiversidade, contexto que esta
nenses apresentam demandas justas e lutam obra se propôs a contribuir.

A B

Figura 6: Estudantes e professores durante


expedição científica ao Quebec (Canadá), para
conhecer a biodiversidade daquela
província do Quebec, com orientação do
Dr. Paul Comtois - de barba longa (a), tendo a
colaboração de Dr. Pierre J. H. Richard (b).
A expedição é parte das atividades previstas
no convênio entre a Universidade Regional de
Blumenau – FURB e o Departamento de
Geografia da Universidade de Montreal – UdeM.
Fotos: Edson Schroeder

Potencialidades de uso da Biodiversidade | 24 3


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Livro finalizado no Outono de 2013
Renato Rizzaro/Reserva Rio das Furnas
Impresso nas Oficinas Gráficas da Impressul
Jaraguá do Sul - Santa Catarina

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