Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo: A pesquisa tem como tema a política externa brasileira no governo de Michel
Temer e será realizada por meio de análise das publicações constantes do documento
“Resenhas de Política Exterior do Brasil”, do Ministério das Relações Exteriores. Questiona-
se como foi formulada a política externa no primeiro ano (2016-2017) de Michel Temer como
presidente do Brasil. Justifica-se essa proposta de estudo pela necessidade de discussões
acadêmicas acerca do momento histórico em que Temer chega ao poder, após o processo de
Impeachment de Dilma Rousseff, e de aprofundamento, em documentos oficiais do Ministério
das Relações Exteriores, da condução da política externa brasileira. Para isso, utiliza-se a
pesquisa qualitativa, documental e bibliográfica. Para realizar o levantamento dos dados,
objetiva-se averiguar as edições dos anos de 2016 (1º e 2º semestres, nº 118 e nº119) e 2017
(1º e 2º semestres, nº120 e nº121) da publicação “Resenhas de Política Exterior do Brasil” e
verificar as abordagens e a formulação da política externa nos atos oficiais. A “Resenha de
Política Exterior do Brasil” é uma publicação do Ministério das Relações Exteriores,
disponível na página eletrônica do Itamaraty, editada inicialmente com periodicidade
trimestral (a partir da década de 1990, passou a ser semestral) e de caráter documental,
reunindo discursos, pronunciamentos, notícias e textos de atos oficiais relacionados com a
temática da política externa. Na presente pesquisa, de forma introdutória, pretende-se realizar
um levantamento histórico da política externa brasileira e do governo de Temer para, na
sequência, e de forma mais aprofundada, apresentar a análise empírica da política externa no
primeiro ano de Michel Temer na presidência do Brasil.
1 INTRODUÇÃO
O presente artigo analisa a condução da política externa brasileira no mandato de
Michel Temer. Questiona-se como foi formulada a política externa no primeiro ano (2016-
2017) de Temer como presidente do Brasil. Justifica-se a proposta de estudo pela necessidade
de discussões acadêmicas acerca do momento histórico de sua chegada à presidência (após o
processo de impeachment de Dilma Rousseff) e de aprofundamento, em documentos oficiais
do Ministério das Relações Exteriores, da condução da política externa brasileira. Utiliza-se a
pesquisa qualitativa, documental e bibliográfica.
A pesquisa documental será desenvolvida por meio da análise da publicação “Resenha
de Política Exterior do Brasil”, do Ministério das Relações Exteriores. Utilizam-se as edições
1
Doutoranda em Ciências Sociais na PUCRS. Mestre em Direitos Humanos pelo UniRitter. Advogada. Bolsista
Capes. E-mail de contato: barbarabsimoes@gmail.
37
dos anos de 2016 (1º e 2º semestres, nº 118 e nº119) e 2017 (1º e 2º semestres, nº120 e nº121).
O estudo não pretende ser exaustivo, pois é um levantamento inicial acerca da política externa
brasileira. Na sequência, objetiva-se continuar a pesquisa na edição do ano de 2018, para
realizar um panorama geral acerca da política externa de Michel Temer para futuras
publicações acadêmicas. Ainda, para complementar a pesquisa documental, serão utilizadas
bibliografias de política externa, em especial, de Henrique Altemani Oliveira, Celso Lafer,
Amado Luiz Cervo, Antônio Carlos Lessa, e das relações internacionais, como Cristina
Soreanu Pecequilo.
O artigo está dividido em quatro tópicos. No primeiro, realiza-se uma breve introdução
das características principais da política externa brasileira. No segundo, rememora-se a
chegada de Michel Temer ao poder e os dados de sua política externa. No terceiro tópico,
apresenta-se a publicação “Resenha de Política Exterior do Brasil”, fonte documental da
pesquisa. Por fim, o quarto tópico expõe os resultados e a análise da publicação “Resenha de
Política Exterior do Brasil”.
2
O objetivo desse tópico não é apresentar um panorama profundo da política externa brasileira, diante da
delimitação do estudo ao governo de Michel Temer, mas se pretende abordar alguns tópicos tidos como centrais
na bibliografia sobre a temática, razão pela qual não será feita uma divisão por governos.
3
Art.84. Compete privativamente ao Presidente da República: [...] VII - manter relações com Estados
estrangeiros e acreditar seus representantes diplomáticos; VIII - celebrar tratados, convenções e atos
internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional;
38
p.231), o projeto externo brasileiro está condicionado à política e à economia domésticas. O
questionamento que se pode levantar é se a política externa é uma política de Estado ou se ela
é uma política de governo. Filia-se à posição apresentada por Oliveira (2005, p.12), de que:
Barreto (2010, p.324) entende que o eixo fundamental da ação externa brasileira,
desde a primeira metade do século passado, foi a busca pelo desenvolvimento nacional.
Assim, o Brasil possui um padrão no comportamento internacional, que é ser pautado pela
superação de limitações ao desenvolvimento, adequando-se às condições e conjunturas
apresentadas pelo sistema internacional em cada momento específico da história.
Pode-se entender que “[...] o desenvolvimento continua sendo, à luz da identidade do
Brasil como ‘outro ocidente’, o objetivo por excelência da nossa política externa, como uma
política pública voltada para traduzir necessidades internas em possibilidades externas.”
(LAFER, 2004, p.108). Ainda, pode-se citar o universalismo como o parâmetro de ação
externa brasileira desde os anos 1950 e a insistência nas relações Sul-Sul, no século 21, é a
tradução desse universalismo, conforme observam Cervo e Lessa (2014, p.139). Levando em
consideração as relações Sul-Sul, no tocante à América Latina, Lafer (2004, p.62) entende que
o componente sul-americano da identidade brasileira é uma força profunda e positiva para a
política externa.
Para Pecequilo (2004, p.224-226), o Brasil já passou por diversas fases na sua política
externa. Quanto ao século XX, especificamente, pode-se dividir as relações internacionais
brasileiras em dois momentos: de 1902 a 1961, início da gestão de Rio Branco no Ministério
das Relações Exteriores até Juscelino Kubitschek (eixo bilateral hemisférico), e de 1961 até a
atualidade (processo de multilateralização e globalização). O processo de globalização das
relações internacionais visa minimizar a condição tradicional do Brasil, de periferia, na
diplomacia. Essa ideia de posicionamento periférico, baseia-se em uma subordinação do país
à potência hegemônica de cada época.
Lafer (2004, p.20) aponta como traços importantes da identidade internacional do
Brasil: o dado geográfico da América Latina; a escala continental; o relacionamento com os
39
muitos países vizinhos; a unidade linguística; a menor proximidade, desde a Independência
em 1822, dos focos de tensão presentes no centro do cenário internacional; o tema da
estratificação mundial e o desafio do desenvolvimento. Já Pecequilo (2004, p.227) aponta
quatro itens tradicionais do país:
Pela análise de Cervo e Lessa (2014, p.134), até o ano de 2010, o Brasil possuía a
autopercepção e exibia a imagem de país emergente e dinâmico. Tal imagem fundamentava-
se na estabilidade econômica e política, na inclusão de pobres à sociedade de bem-estar
mínimo e em uma política exterior assertiva e dinâmica internacionalização de empresas
brasileiras. Todavia, após essa fase de ascensão como uma potência emergente, Cervo e Lessa
(2014, p.149) entendem que a inserção internacional do Brasil entra em declínio entre 2011 e
2014, por diversas causas, dentre elas, o enfraquecimento do diálogo entre Estado e
segmentos dinâmicos da sociedade e a quebra da confiança de investidores e empresários
nacionais e estrangeiros no governo.
Embora o Brasil tenha apresentado, ao longo dos últimos anos, uma atuação periférica
na política exterior, sua imagem é de uma nação que ainda pode crescer no cenário
internacional, se bem direcionada interna e externamente. Por meio do multilateralismo, da
presença e da iniciativa brasileira em grupos como, por exemplo, o G20, e do posicionamento
em demandas externas, o Brasil mostra a sua importância, cabendo a tarefa de manter-se no
caminho de suas prioridades par que possa ganhar o seu espaço.
40
impeachment.4 Em 31 de agosto de 2016, finalizado o processo, com a determinação de
afastamento definitivo de Dilma Rousseff da presidência, Temer tornou-se presidente do
Brasil, permanecendo no cargo até 31 de dezembro de 2018.
O documento intitulado “Uma ponte para o futuro”, lançado em outubro de 2015 pelo
PMDB, ficou conhecido como a diretriz econômica do governo de Temer. Nele, apresenta-se
uma leitura dos problemas econômicos vivenciados pelo Brasil e propostas de resolução,
adotando um viés ortodoxo para a economia brasileira. Ao substituir Dilma Rousseff na
presidência, Temer adotou algumas reformas que, anteriormente, não estavam na agenda do
governo, como, por exemplo, a reforma trabalhista. Ainda, foi aprovada a Proposta de
Emenda Constitucional (PEC) nº 241/2016, instituindo o chamado “Novo Regime Fiscal”,
para uma limitação nos gastos do Estado por um período de 20 anos. Silva (2019, p.32)
ressalta dois pontos que chamam a atenção no governo de Michel Temer:
Durante o período à frente da presidência do Brasil, Temer foi denunciado duas vezes
pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por envolvimento nos desvios de recursos da
Petrobras e obstrução de justiça.5 Segundo dados do Ibope (2018), Temer encerrou seu
mandato com baixo nível de aprovação. O percentual das pessoas que avaliam o governo
como ótimo ou bom ficou praticamente inalterado desde julho de 2017. Entre setembro e
dezembro de 2018, o percentual oscila de 4% para 5%, dentro da margem de erro da pesquisa
de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. O percentual dos que avaliam o governo
como ruim ou péssimo, reverteu a tendência de crescimento e caiu de 82%, em setembro, para
74%, em dezembro.
4
O processo de impeachment de Dilma Rousseff é ainda questionado por vários setores da sociedade, contudo,
embora de extrema importância para a compreensão do andamento da política brasileira, não é o foco desta
pesquisa, razão pela qual não será aprofundado neste estudo.
5
A Câmara dos Deputados não autorizou a investigação pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
41
A análise da política externa no governo de Michel Temer será feita por meio de
pesquisa bibliográfica e documental, em específico, na publicação “Resenha de Política
Exterior do Brasil”. Todavia, de forma introdutória, cabe realizar uma breve apresentação
nesta seção. Para Silva (2019, p.28), no momento da chegada de Temer ao poder, o cenário
internacional tornava-se mais instável, com, por exemplo, a eleição de Donald Trump para a
presidência dos Estados Unidos da América e o Brexit, no Reino Unido. Na América Latina,
começam a surgir governos de centro-direita, como o de Mauricio Macri, na Argentina.
Diante de tais acontecimentos, a política externa brasileira também viria a sofrer mudanças.
Internamente, o país passava por uma crise institucional e econômica. Casarões (2016,
p.81) aponta que “Mais do que qualquer tentativa de construção de unidade, contudo, o que se
observou foi uma súbita ruptura com as linhas do governo anterior, uma mudança de rumos
que conduziu praticamente todos os partidos de oposição a ministérios-chave.” Enquanto a
política externa de Dilma Rousseff foi caracterizada como multilateralista, seguindo, também
uma crença na importância das relações com a América do Sul, a ideia da ruptura viria, então
com Temer, ainda que não tão bem sucedida, segundo observa Silva (2019, p.30).
Neste ponto acerca da ruptura de política externa, cabe destacar o discurso de posse de
José Serra como Ministro das Relações Exteriores, que será melhor analisados nos próximos
tópicos, em que se evidencia uma crítica às políticas dos governos anteriores. Apesar das
promessas de mudanças, elas não foram implementadas profundamente, sendo a política
externa relegada a segundo plano. (SILVA, 2019, p.30). Como mencionado acima, este artigo
objetiva realizar uma análise da política externa do governo de Michel Temer por meio da
publicação “Resenha de Política Exterior do Brasil”. Assim, na próxima seção, será feita a
apresentação da publicação para que, no último tópico, possam ser apresentados os resultados
da pesquisa documental.
6
Essas edições mais antigas foram digitalizadas e disponibilizadas online no endereço eletrônico do CHDD pela
Revista Mundorama.
43
política interna e externa do Brasil. No Ministério das Relações Exteriores não foi diferente.
Três ministros passaram pelo MRE durante o mandato de Temer. O primeiro deles foi José
Serra.7 Já no seu discurso de posse no MRE (18/05/2016), observa-se a ruptura buscada pelo
novo governo:
Casarões (2016, p.83) analisa que o tom crítico empregado no discurso de posse de
Serra possui uma forte carga política e destoa das manifestações de chanceleres anteriores,
mesmo daqueles que eram políticos, como Fernando Henrique Cardoso, ficando, assim
evidente a chamada desideologização. “Ao apregoar o fim das ideologias, portanto, Serra não
faz nada mais que suas próprias escolhas ideológicas [...]”. O discurso de posse ainda cita o
aumento de negociações comerciais, aproximação com a Argentina e trocas entre Mercosul e
União Europeia. (MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES, 2016a, p.62-63). No
mesmo sentido, quando do discurso de posse de Aloysio Nunes, em substituição a José Serra,
reafirmou-se que “[...] a política externa tem que estar a serviço do País e não dos objetivos de
um partido, qualquer que seja ele.” (MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES, 2017a,
p.30).
Ainda, no discurso referente à sessão "Todos a bordo para 2030" da reunião do
Conselho Ministerial da OCDE, ocorrida em Paris (02/06/2016), importante observar a
atuação brasileira na OCDE, pois, conforme Silva (2019, p.34), a política externa no governo
Temer buscou investimentos e apoiou-se na construção de uma imagem do Brasil como
defensor da ordem internacional vigente. A ideia era apresentar-se como um país responsável
política e economicamente, com a intenção de entrar como país-membro da OCDE.
7
José Serra permaneceu como Ministro das Relações Exteriores de 12 de maio de 2016 a 22 de fevereiro de
2017. Deixou o cargo sob a alegação de problemas de saúde. De 22 de fevereiro de 2017 a 07 de março de 2017,
Marcos Bezerra Abbott Galvão assumiu o MRE interinamente. Em 07 de março de 2017, Aloysio Nunes
Ferreira assume como Ministro das Relações Exteriores, ficando no cargo até o final do governo de Michel
Temer, em 31 de dezembro de 2018.
44
florestas, nossos compromissos em reduzir as emissões de gases de efeito estufa,
bem como as várias ações visando à erradicação da pobreza e à criação de
oportunidades para todos, são metas nacionais permanentes, iniciativas em que o
Governo do Presidente em exercício Michel Temer tem-se empenhado, melhorando
o que pode ser melhorado e corrigindo o que precisa ser corrigido.
[...]
A OCDE está bem posicionada para ajudar os países - ricos e pobres - na
implementação da Agenda 2030, respeitando o contexto democrático em que a
Agenda foi construída, ao mesmo tempo em que assegura abordagem integrada para
as três dimensões do desenvolvimento sustentável: ambiental, econômica e social.
Tanto em suas atividades técnicas de coleta e análise de dados, quanto por meio de
seu papel como foro de aprendizagem entre pares, a OCDE pode, e deve, contribuir
decisivamente para a implementação da Agenda por seus membros, além de prestar
assistência aos não-membros. O Brasil está pronto para intensificar a cooperação
com a OCDE e os seus membros nessas áreas. (MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES
EXTERIORES, 2016a, p.66-67).
Casarões (2016, p.82) frisa o tom de José Serra ao tratar com os países latino-
americanos que se manifestaram acerca do processo de impeachment de Dilma Rousseff. “A
primeira decisão de José Serra à frente do MRE foi atacar países que, por razões variadas,
pronunciaram-se a favor da presidente Dilma Rousseff no contexto do impeachment.”. Vê-se
a manifestação sobre a situação interna do Brasil de 13/05/2016:
Silva (2019, p.31) expõe que “Inicialmente, uma linguagem mais ríspida foi verificada
em notas de resposta do MRE aos países de governos mais à esquerda, quando estes
levantaram suspeitas sobre o rito do impeachment contra Rousseff.”. Ou seja, em relação aos
demais países, o Brasil buscou novas alianças, cita-se o Programa Executivo Cultural entre a
República Federativa do Brasil e a República Argentina para o Período 2016- 2018, no âmbito
do Convênio de Integração Cultural entre o Governo da República Federativa do Brasil e o
8
Observa-se a resposta de Serra ao Secretário Geral da UNASUL, em 13/05/2016 (MINISTÉRIO DAS
RELAÇÕES EXTERIORES, 2016a, p.135-136), a resposta à declaração do governo de El Salvador sobre a
situação interna do Brasil, em 16/05/2016 (MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES, 2016a, p.136), a
resposta ao comunicado do governo da Venezuela, em 31/08/2016 (MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES
EXTERIORES, 2016b, p.74) e a resposta aos governos de Bolívia, Equador e Cuba, em 31/08/2016.
(MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES, 2016b, p.74).
45
Governo da República Argentina, assinado em 10 de novembro de 1997.9 (MINISTÉRIO
DAS RELAÇÕES EXTERIORES, 2016b, p.114).
O Brasil também realizou alguns acordos com países latino-americanos fronteiriços,
justamente pela temática das fronteiras. Lafer (2004, p.54-55), expõe que, diante da
simultânea regionalização e globalização, convém realizar uma linha de ação voltada para
transformar as fronteiras brasileiras de clássicas fronteiras-separação em modernas fronteiras-
cooperação. Assinala-se, nesse sentido, a Declaração de Brasília, na Reunião Ministerial do
CONE SUL sobre a segurança nas fronteiras, em 16/11/2016:
9
Nesse sentido: Visita de estado do presidente da República Argentina, Mauricio Macri, ao Brasil – Brasília, 7
de fevereiro de 2017. (MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES, 2017a, p.56).
10
Nesse sentido: Ajuste complementar ao acordo entre a República Federativa do Brasil e a República Argentina
sobre localidades fronteiriças vinculadas, para a prestação de serviços de assistência de emergência e cooperação
em defesa civil, de 7/02/2017 (MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES, 2017a, p.67). Comitê de
fronteira Brasil – Guiana, Lethem, 5 e 6 de junho de 2017. (MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES,
2017a, p.156).
11
Com o agravamento da situação venezuelana, o governo brasileiro manifesta-se, em 09/07/2016, condenando
os ataques a sedes da polícia (MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES, 2016b, p.59). Em um
comunicado conjunto sobre os acontecimentos na Venezuela, em 11/08/2016, os estados-membros da OEA
fazem um chamado às autoridades venezuelanas a garantir o exercício dos direitos constitucionais do povo
venezuelano. (MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES, 2016b, p.68). Venezuela: o Mercosul rejeita o
uso da força para restabelecer a ordem democrática 12/08/2017. (MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES
EXTERIORES, 2017b, p.130).
46
A questão dos fluxos migratórios da Venezuela para o Brasil não recebe muito foco
nas publicações desses dois anos analisados, talvez pelo fato de que, somente em 2018, teve
início a interiorização de migrantes, chamada de Operação Acolhida, com uma maior atenção
do governo federal. Contudo, há algumas passagens acerca do tema:
O governo brasileiro tomou conhecimento, com pesar, dos fortes abalos sísmicos
ocorridos no último dia 18 de janeiro, na região central da Itália, que provocaram,
47
além de danos materiais, avalanche que atingiu hotel próximo a Farindola, região de
Abbruzzo, causando dezenas de vítimas.
A Embaixada e o Consulado-Geral do Brasil em Roma estão acompanhando a
situação. Não há registro, neste momento, de cidadãos brasileiros entre as vítimas.
O governo brasileiro manifesta sua solidariedade aos familiares das vítimas, ao povo
e ao governo da Itália.12 (MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES, 2017a,
p.53).
A análise das quadro publicações, dos anos de 2016 e 2017, como já mencionado nos
tópicos anteriores, não foi exaustiva, já que a proposta do presente artigo não comportaria
uma análise completa. Contudo, observam-se algumas temáticas comuns durante esses dois
primeiros anos de Michel Temer como presidente do Brasil. Malamud (2019, p.19) aponta
algumas faltas sentidas no governo de Temer, citando duas ocasiões em que o presidente
deveria fazer-se presente: o Brasil não foi visto na Colômbia para testemunhar a assinatura do
acordo de paz entre o governo e as FARC. Ainda, alguns meses depois, Temer declarou que
não participaria da cúpula do G20, na Alemanha, em 2017, devido a questões domésticas.
Resta a dúvida se o Brasil realmente conseguiu marcar o seu espaço na esfera internacional.
6 CONCLUSÃO
O presente artigo abordou a política externa brasileira durante os dois primeiros anos
de Michel Temer como presidente do Brasil (2016 e 2017). Para isso, realizou-se uma
pesquisa bibliográfica e documental, em especial, na publicação intitulada “Resenhas de
Política Exterior do Brasil”, editada pelo Ministério das Relações Exteriores. Foram
analisados os números 118, 119, 120 e 121 da publicação, referentes aos 4 semestres de 2016
e 2017. Como já mencionado, o levantamento aqui realizado é inicial, apresentando os
primeiros resultados de uma pesquisa que ainda será desenvolvida nos próximos anos. Não se
pretendeu realizar uma análise exaustiva acerca da política externa brasileira, até porque não
haveria possibilidades para a publicação deste artigo. Objetiva-se, com essa primeira
compilação, continuar as pesquisas sobre política externa brasileira em meios documentais,
especialmente, em materiais do Ministério das Relações Exteriores.
12
Nesse sentido: Memorando de entendimento sobre cooperação consular e políticas para comunidades
emigradas entre a República Federativa do Brasil e a República Argentina (MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES
EXTERIORES, 2014a, p.71). Lançamento do "Título Net" no exterior e renovação de grupo de trabalho para
aperfeiçoamento das eleições brasileiras no exterior 22/02/2017. (MINISTÉRIO DAS RELAÇOES
EXTERIORES, 2017a, p.92). Furacão Irma – Assistência consular a nacionais brasileiros 10/09/2017.
(MINISTÉRIO DAS RELAÇOES EXTERIORES, 2017b, p.174). I Conferência sobre o micro e pequeno
empreendedorismo brasileiro no exterior 12/09/2017. (MINISTÉRIO DAS RELAÇOES EXTERIORES, 2017b,
p.175).
48
Em que pese o caráter inicial deste estudo, alguns resultados puderam ser levantados.
Observa-se, a busca por um redirecionamento da política externa do Brasil, um tom mais
ríspido quanto às críticas internacionais ao processo de impeachment e a promessa de colocar
o Brasil no centro das discussões internacionais, retirando a sua imagem de país emergente.
Eram esperadas muitas mudanças na condução da política externa brasileira, mas, como se
pode observar ao longo dos resultados apresentados no último tópico, permaneceram-se as
mesmas regras e ações dos governos anteriores. Tanto os documentos oficiais, quanto os
estudos bibliográficos já realizados sobre o período, revelam que a política externa foi
deixada em segundo plano e o Brasil permaneceu com as mesmas políticas de país emergente
no cenário internacional.
REFERÊNCIAS
BARRETO, Vicente Costa Pithon. Um breve panorama da política externa brasileira nos
últimos vinte anos: princípios, alterações e continuidades. Revista de Informação
Legislativa, Brasília, a.47, n.187, jul./set. 2010, p.321-329. Disponível em: <
https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/198653/000847487.pdf?sequence=1&is
Allowed=y>. Acesso em 25 out. 2019.
CERVO, Amado Luiz; LESSA, Antônio Carlos. O declínio: inserção internacional do Brasil
(2011–2014). Revista Brasileira de Política Internacional, Rio de Janeiro, v.57, n.2, 2014,
p.133-151. Disponível em:< http://www.scielo.br/pdf/rbpi/v57n2/0034-7329-rbpi-57-02-
00133.pdf>. Acesso em 25 out. 2019.
IBOPE. Presidente Michel Temer encerra governo com baixa popularidade. IBOPE
inteligência, 13 dez. 2018. Disponível em: < http://www.ibopeinteligencia.com/noticias-e-
pesquisas/presidente-michel-temer-encerra-governo-com-baixa-popularidade/>. Acesso em
26 out. 2019.
OLIVEIRA, Henrique Altemani. Política externa brasileira. São Paulo: Saraiva, 2005.
SILVA, Álvaro Vicente Costa. A política externa do governo Michel Temer (20162018):
mudanças para a legitimidade? Um teste da teoria de Charles Hermann. Conjuntura Austral,
Porto Alegre, v.10, n.49, jan./mar. 2019, p.23-41. Disponível em:
<https://seer.ufrgs.br/ConjunturaAustral/article/view/86954/52474>. Acesso em 26 out. 2019.
50