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Universidade Federal de Sergipe

Departamento de Relações Internacionais


Política Externa Das Grandes Potências
Docente: Bárbara Vasconcelos de Carvalho Motta
Discentes: Aanne Karolinne Santos da Cruz

Leira, Halvard. 2019. ‘The Emergence of Foreign Policy.’ International Studies Quarterly
63(1): 187-98

Do ponto de vista de Relações Internacionais, existe um debate recorrente sobre a


relação adequada entre democracia e sigilo em política externa. Alguns ativistas e intelectuais
liberais argumentam que o sigilo enfraquece a democracia e que mais abertura e debate
produzirão políticas melhores. Por outro lado, muitos diplomatas e intelectuais realistas
afirmam que o sigilo é vital para a salvaguarda dos interesses nacionais. Ambos os lados
assumem que a política externa sempre foi essencialmente diferente de outros tipos de
política.
Neste artigo, o autor desafia essa suposição e examina como a política externa se
tornou diferente e como surgiu como conceito. Ele argumenta que a política externa é um
conceito prático e histórico, e não um conceito analítico. O autor afirma que, quando
engajados em análise histórica, os estudiosos devem ter cuidado para não confundir conceitos
analíticos e práticos. Isso pode levar a uma interpretação inadequada do passado, em que
termos modernos são aplicados a períodos em que eles não existiam e os eventos são
interpretados em termos que faziam pouco sentido para os atores da época.
Dessa maneira, a problemática do texto está voltada para o fato de que os estudos em
Relações Internacionais normalmente trazem a política externa como um conceito político
dado como certo. Dessa forma, para o autor, esses estudos acabam por supor que todas as
histórias políticas têm política externa ou que a política externa se origina na Europa do
século XVII, com o descobrimento do estrangeiro e, consequentemente, a diferenciação entre
o “eu” e o “outro”. Ou seja, esse argumento, que o autor problematiza, sustenta a política
externa como uma política diferente das outras em aspectos essenciais, como por exemplo
carregar uma necessidade especial de sigilo.
Explorando a trajetória das políticas doméstica e externa da Inglaterra e França, Leira
fala sobre essa última [a política externa] para além do seu conceito analítico apresentado
usualmente nas disciplinas de Relações Internacionais, entendendo-a também com uma noção
de prática, que têm suas ações empregadas na atividade cotidiana de instituições como
Ministérios de Relações Exteriores e Embaixadas, uma vez que estão associadas aos
interesses nacionais de um Estado — apesar disso, Halvard Leira sugere que os estudos da
área devem focar nas diferenças entre o Estado e a sociedade ao invés de especificar as
particulares condições estrangeiras dos países.
Além disso, o autor considera em sua tese que não se pode interpretar a política
externa com o mesmo sentido em tempos e ambientes diferentes, haja vista suas variações no
modo de articulá-la e as oportunidades de desenvolvimento do momento, que acrescidas ao
sigilo, a forma individualmente. Em suma, é argumentado que essa política surgiu quando os
assuntos externos dos Estados, intimamente relacionados à esfera pública e imprensa livre,
foram questionados internamente (LEIRA, 2019, p. 188).
O primeiro conceito apresentado é o da Política Externa: Segundo o autor, nas
Relações Internacionais existem duas abordagens para explicar o que é a política externa: (1)
expressão abstrata das relações entre entidades políticas; (2) críticos a essa primeira visão,
acreditam que a política externa fornece uma das principais maneiras pelas quais o “Eu”
político é diferenciado do “Outro”. Todavia, Halvard questiona que se a política externa,
como um conceito prático, surgiu em um 2 momento específico, por razões específicas, e
mudou de significado ao longo do tempo, não se pode admitir que ela tenha significado a
mesma coisa em lugares diferentes (LEIRA, 2019, p. 188).
Assim, para o autor, a política externa é uma resolução espaço-temporal específica do
problema da delimitação, que surgiu como consequência da democratização e a partir do
momento em que o Estado é desafiado por uma imprensa livre operando na esfera pública.
Desse modo, o Estado reconfigura os seus assuntos externos como Política Externa, pois
existe a máxima de que a imprensa livre é instável e que o povo não entenderia temas dessa
complexidade, além de que, essa discussão poderia gerar ideias conflitantes, enfraquecendo
assim a posição do país fora de suas fronteiras.
Outro conceito é o da Esfera Pública: é tudo aquilo que engloba temas e políticas que
não dizem respeito apenas ao rei ou ao parlamento, mas sim também deveria ser de
conhecimento do público em geral, ou seja, da sociedade civil. Halvard explica que não
apenas a construção do Estado moderno é importante para compreender a política externa,
mas como também o surgimento da sociedade civil, o que traz, segundo ele, duas
diferenciações adicionais: (1) uma diferenciação entre como abordar o que era civil dentro e
como abordar o que não era civil do lado de fora; (2) uma diferenciação do estado atuante da
sociedade civil. Tendo isso, a partir da necessidade de criar um meio para lidar com o possível
feedback da sociedade civil, possibilita-se e necessita-se o surgimento do conceito de prática
de política externa.
Por fim, Leira conclui que é necessária a compreensão da política externa como uma
resolução de caráter espaço-temporal de uma determinada delimitação, isto é, ela surge
durante o processo de democratização. Portanto, Leira afirma que a política externa 3 provou
ser um conceito político durável e defende a lógica de não utilização dela como termo
analítico, porém, faz-se necessário reconhecer a importância do mesmo. Logo, o autor
explicita que ainda falta uma compreensão do entendimento do que hoje consideramos
internacional em épocas difusas, além da crença na moldagem contínua do conceito. Por fim,
Halvard diz que é fundamental uma exploração das estruturas da política externa, fazendo
uma análise do que é incluído e excluído quando ocorre a divisão do “estrangeiro”

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